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RESUMO: Os grandes blocos de fundação dos edifícios e das pontes podem apresentar fissuras
superficiais já nas primeiras horas após a concretagem. Em virtude do grande volume de concreto, a
temperatura no interior do bloco pode atingir valores muito elevados, como consequência do calor de
hidratação do cimento. Devido aos fortes gradientes de temperatura, a superfície do bloco fica tracionada,
podendo fissurar. O objetivo desse trabalho é abordar esse tema, analisando as principais variáveis
envolvidas, e sugerir uma metodologia de projeto para o cálculo das armaduras de pele dos blocos de
concreto armado.
ABSTRACT: The large pile caps of buildings and bridges may have superficial cracks already in the early
hours after concreting. Due to the large volume of concrete, the temperature inside the pile cap can reach
very high values, as a result of the heat of hydration of cement. Due to the strong temperature gradients,
the surface of the pile cap is tensioned, and can crack. The object of this work is to address this issue by
analyzing the main variables involved and suggest a design methodology for the calculation of skin
reinforcement of concrete pile caps.
procedimento apresentado em [7,8], obtém-se a como no caso 2 da figura 1. Para a face inferior,
fórmula de recorrência do método adota-se um coeficiente de transferência de calor
por convecção h3 reduzido, para levar em conta a
A * ΔT = C* (3) resistência térmica da rocha ou do solo. Essa
onde: segunda alternativa é empregada nesse trabalho.
1 O coeficiente de transferência de calor por
A* = A +θ B (4)
Δt convecção pode variar dentro de uma faixa
relativamente larga, sendo muito dependente da
velocidade do vento. Para a face de topo,
C* = C − B Ti (5)
considera-se h1 = 13,5 W/m2 oC, como sendo o
valor médio do coeficiente de transferência de
Ti +1 = Ti + ΔT (6) calor para o ar.
Para as faces laterais, o coeficiente de
Nessas equações, ΔT representa o vetor de transferência equivalente, h2 , leva em conta o
variações de temperaturas nodais no intervalo de efeito isolante das formas. Esse coeficiente
tempo Δt . As matrizes A e B dependem do calor equivalente é obtido da relação
específico e das condutividades térmicas,
respectivamente. O vetor C depende da taxa de
1 1 t
geração de calor e do fluxo de calor no contorno. = + m (7)
A escolha do parâmetro θ (entre 0 e 1) dá h2 h1 k m
origem a diferentes métodos de integração. Se
θ ≥1 2, o algoritmo é implícito e onde t m é a espessura das formas e k m é a
incondicionalmente estável [9]. Nesse trabalho, condutividade térmica do material empregado
adota-se θ = 1 , conforme recomendado em [7,8]. como forma [10].
As condições de contorno do problema são Considerando, por exemplo, formas de madeira
definidas na figura 1. com t m = 18 mm e k m = 0,14 W/moC, resulta
h2 = 4,93 W/m2 oC para as faces laterais da peça.
A relação δ = h2 h1 vale δ = 0,365 .
Após a retirada das formas, tem-se h2 = 13,5
W/m2 oC para as faces laterais.
Neste trabalho, adota-se h3 = h2 durante toda a
análise. Além disso, não se considera a retirada das
formas, para se obter os maiores gradientes de
temperatura em direção ao topo do bloco.
3 PROPRIEDADES TÉRMICAS DO
Figura 1 – Condições de contorno do problema de CONCRETO
transferência de calor
De acordo com o EC2 [6], para temperatura de
o
Se o bloco de concreto tiver contato com solo 20 C, a condutividade térmica do concreto varia
ou rocha, como no caso 1, o MEF pode ser entre k inf = 1,33 W/moC e k sup = 1,95 W/moC. O
utilizado para discretizar o domínio espacial valor médio é aproximadamente k = 1,65 W/moC.
formado pelo bloco e pela rocha. Nesse caso, deve- O calor específico do concreto pode ser
se especificar uma distribuição de temperaturas considerado igual a c = 900 J/kgoC, para
iniciais Tr ( y ) para a rocha [7,8]. As condições de temperaturas entre 20oC e 100oC. O valor médio
contorno são especificadas no topo e nas faces da massa específica dos concretos usuais é
laterais do bloco, através dos coeficientes de ρ = 2400 kg/m3.
transferência de calor por convecção h1 e h2 . O calor de hidratação Qh é a quantidade total
Para reduzir o número de graus de liberdade, de calor gerado pela completa hidratação do
pode-se discretizar apenas o bloco de concreto,
4 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.22, p.1-14, Outubro, 2013
Ta (t ) = C R M c ⎛⎜1 − e −0,5 t ⎞⎟
0, 7
(10)
0.8 ⎝ ⎠
Relação Ta(t)/Ta,max
0.6
Para um concreto com Qh∞ = 350 kJ/kg, tem-se
Ta (t ) = Ta,max ⎡1 − e −0,5 t 0, 7 ⎤ C R = 0,16 oC/(kg/m3). Para um concreto com
⎢⎣ ⎥⎦ Qh∞ = 400 kJ/kg, tem-se C R = 0,19 oC/(kg/m3).
0.4
O calor de hidratação gerado até uma idade t
dias é dado por
0.2
Qh (t ) = c ρ Ta (t ) (11)
Temperatura oC
Os coeficientes de transferência de calor valem 30 No topo
h1 = 13,5 W/m2 oC e h2 = h3 = 4,93 W/m2 oC,
25
com δ = h2 h1 = 0,365 .
20
Admite-se que a temperatura de lançamento do
concreto seja igual a 25 oC e que a temperatura 15
média do ar seja igual a 20 oC. Diferença
Na figura 3, apresentam-se as variações de 10
temperatura no centro, no topo, e a diferença de 5
temperatura entre essas duas localizações, para um
bloco com largura L = 0,9 m e altura H = 0,3 m. O 0
consumo de cimento é de 350 kg/m3. 0 2 4 6 8 10 12 14
Idade t (dias)
35
L=0,9 m ; H=0,3 m Figura 4 – Variação de temperatura no concreto
30 (altura H=0,7 m)
No centro
Observa-se que o equilíbrio térmico é alcançado
Temperatura oC
25
No topo cerca de duas semanas após a concretagem. O pico
20 de temperatura ocorre numa idade t = 1,3 dia. A
temperatura máxima alcançada no interior do
15 bloco é Tmax = 42,8 oC. A máxima diferença de
temperatura verificada entre o núcleo e o topo é
10 ΔT = 13,8 oC.
Diferença As temperaturas máximas dependem das
5
dimensões do bloco de concreto, além dos demais
fatores envolvidos na análise térmica. Do ponto de
0
vista do projeto estrutural, é conveniente
0 1 2 3 4 5 6 7
estabelecer uma relação entre a diferença máxima
Idade t (dias) de temperatura ΔT entre o núcleo e a superfície do
Figura 3 – Variação de temperatura no concreto
bloco. Para isso, procura-se correlacionar ΔT com
(altura H=0,3 m)
uma espessura equivalente do bloco.
A espessura equivalente H e pode ser definida
Observa-se que o equilíbrio térmico é alcançado
cerca de uma semana após a concretagem. O pico como a relação entre a área do bloco e o perímetro
de temperatura ocorre numa idade t = 0,5 dia, ou por onde o calor é perdido. Para levar em conta o
efeito isolante das formas e a resistência térmica
6 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.22, p.1-14, Outubro, 2013
LH
He = (14) 25
(1 + δ 3 )L + 2δ 2 H
20
200
10 20 30 40 50 60 70
Resistência média fcm (MPa)
Figura 8 – Variação da resistência com o consumo
de cimento
11
ho=10 cm Assim, a tensão máxima, σ ct ,max , pode ser
10 escrita na forma
σ ct ,max = R Ec (t )α ΔT
9
(25)
8
onde R é o fator de restrição às deformações
7 impostas.
6 No momento da fissuração, t = tr ,
Mc=300 kg/m3 σ ct ,max = f ctm (t r ) e ΔT = ΔTcr . Substituindo na
5 Mc=400 kg/m3
Mc=350 kg/m3 equação (25), obtém-se
4
f ctm (t r )
0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 R= (26)
Espessura equivalente He (m) E c (t r )α ΔTcr
Figura 13 – Espessura da camada superficial para
cálculo da armadura mínima a qual permite determinar o fator de restrição.
Os valores de R obtidos com o MEF são
18 apresentados na figura 15. Observa-se que não há
correlação direta entre R e a espessura equivalente
Espessura da camada ho (cm)
6
0.3
4
35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
Temperatura máxima Ta,max (oC)
Figura 14 – Variação de ho com Ta,max
0.2
Conforme se observa na figura 14, há uma
correlação direta entre a espessura da camada
superficial ho e a máxima elevação de temperatura
adiabática. A equação de ajuste é apresentada na
0.1
figura 14. De todo modo, recomenda-se considerar
um valor mínimo de 10cm, por prudência. 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
Espessura equivalente He (m)
Para o cálculo das aberturas das fissuras, é
Figura 15 - Fator de restrição obtido com o MEF
conveniente correlacionar a tensão máxima de
tração no concreto com a diferença máxima de
temperatura, ΔT , entre o núcleo e o topo do bloco. Na figura 16, apresenta-se a variação de ΔTcr
Conforme foi visto, essa diferença de temperatura com a espessura equivalente H e . A equação de
pode ser correlacionada com a espessura ajuste é apresentada na figura.
Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.22, p.1-14, Outubro, 2013 11
LH [ ]
ho = exp 7,75 − 1,35 ln (Ta,max ) ≥ 10 cm
Espessura equivalente (m): H e = ,
(1 + δ )L + 2δH
Armadura mínima:
onde se pode adotar δ = 0,365 .
100ho f ctm 28
As ,min = , cm2/m
f yd
12 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.22, p.1-14, Outubro, 2013
LH
He = = 0,42 m • Armadura necessária para limitação das
(1 + δ )L + 2δH aberturas das fissuras:
Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.22, p.1-14, Outubro, 2013 13
Deformação imposta: ε cn = αΔT = 33,1x10 −5 resfriamento muito rápido das superfícies, cura
prolongada para retardar a retração, dentre outras.
O emprego das armaduras de pele, por si só, não
Abertura limite das fissuras: wk ,lim = 0,2 mm elimina a necessidade desses cuidados adicionais.
Diâmetro das barras: φ = 10 mm Os resultados da análise térmica são muito
Cobrimento das barras: c = 5 cm dependentes das propriedades do concreto e das
condições de contorno. Assim deve ficar claro que
φ Rε cn 10 x0,5 x33,1x10 −5 os resultados obtidos, bem como a metodologia de
ρ se = = = 0,23% projeto proposta, se limitam às condições que
3,6 wk ,lim 3,6 x0,2 foram adotadas.
Em geral, o método para verificação do risco de
he = 2,5(c + 0,5φ ) = 2,5(5,0 + 0,5 x1,0) = 13,75 cm fissuração térmica e para o cálculo das armaduras
de pele pode ser utilizado para blocos com altura
0,23 equivalente até 2,0 m, aproximadamente. Para
As = ρ se 100he = x100 x13,75 = 3,16 cm2/m blocos maiores, deve-se realizar estudo específico,
100
considerando as propriedades térmicas e as
condições de contorno correspondentes à situação
Como As < As ,min , adota-se As = 5,93 cm2/m.
real.