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O Imposto Super Regressivo

Prof. Olinto de Oliveira Santos

E-mail:profolinto13@gmail.com

Centro Territorial De Educação Profissional

Da Costa Do Descobrimento

Resumo:

Este imposto ocorre quando a Inflação não é repassada para a tabela do


Imposto de Renda, neste caso à medida que os salários são reajustados e a
classe trabalhadora luta contra a inflação, o Imposto de Renda recai sobre
pessoas cada vez mais pobres, e esta foi uma pratica comum no Brasil desde
que o país adotou o Real como moeda.

Para demonstrar esta ideia vamos utilizar um modelo ideal, um país imaginário
chamado Tália, onde a moeda é o Tal, simbolizado por “T$”, em 1995, um tal
valia um dólar.

Introdução

Os impostos regressivos já são conhecidos dos economistas, eles ocorrem em


dois casos, quando o governo cobra taxas fixas ou quando ele cobra tributos
no consumo de bens e serviços utilizados por toda população na definição de
SEVEGNANI(2011): “Um sistema tributário é considerado regressivo quando a
participação dos tributos sobre a renda e a riqueza dos indivíduos acresce na
relação inversa.”

Quando o cidadão da classe C e outro da classe A, pagam o mesmo valor por


um pedágio, este valor faz mais falta ao cidadão mais pobre, é o primeiro caso
de Regressividade Tributária.
Outra situação regressiva ocorre quando o governo taxa produtos ou serviços
utilizados por toda população: como remédios ou gêneros da cesta básica
como o arroz. Estes impostos fazem pouca diferença na vida dos mais ricos,
mas afeta pesadamente a vida dos mais pobres, que racionam comida ou tem
dificuldades de comprar remédios. O cidadão pobre poderia comprar mais
alimentos se o imposto fosse menor ou fosse isento, temos então que os
impostos são mais pesados para os mais pobres nesta situação.

Através de uma simulação, este trabalho propõe um novo tipo de


Regressividade Tributária, em que o governo utiliza a inflação e o Imposto de
Renda para cobrar impostos de pessoas cada vez mais pobres e aumentar a
tributação dos assalariados, é a Super Regressividade.

Simulação

Em nossa historia teremos três personagens que ganhavam em 1995 os


seguintes salários: o faxineiro Sergio T$ 1000,00 a secretária Vania T$ 3000,00
e Marcos o Diretor geral que ganhava T$ 10.000,00. Sendo que Sergio é
solteiro, Vania tem dois filhos e Marcos além de dois filhos é casado com uma
mulher que não trabalha e também é sua dependente. O Salário Mínimo em
Tália era T$ 400,00.

A tabela do imposto de renda em Tália era seguinte:

I- Renda até T$ 1000,00 isento


II- Entre T$ 1000,00 e T$ 3000,00; Alíquota de 20% sobre o valor
excedente.
III- Acima de T$ 3000,00; alíquota de 30% sobre o valor excedente.
IV- Desconto por dependente de T$ 50,00

Através desta tabela é possível calcular o imposto de cada funcionário da


seguinte forma:

Sergio: isento

Vania: 2000x20% - 2x50 = T$ 300,00


Marcos: 2000x20% +7000x30% - 3x50 = T$ 2.350,00

Sergio e Marcos tomam um remédio de uso continuo que custa T$ 100,00 por
mês, este remédio tem 30% do seu valor em impostos, logo eles pagam T$
30,00 para usar o remédio, mas temos uma diferença entre estes pacientes,
enquanto Sergio usa 3% da sua renda para pagar os impostos sobre a
medicação, Marcos gasta 0,3% de seu salario bruto, logo o imposto é mais
pesado no orçamento de Sergio do que no orçamento de Marcos, é o chamado
Imposto Regressivo, que ocorre com impostos que incidem no preço de
produtos consumidos por todos, neste caso quanto mais pobre o consumidor
mais pesado o Imposto, daí o nome de Imposto Regressivo.

Em 1995 houve uma inflação de 20% em todo país, e os sindicatos


conseguiram após muita negociação aumentos salariais de 20% ao final do
ano, mas o governo espertamente não reajustou a tabela do imposto de renda,
então o desconto deste imposto no salario dos funcionários passou a ser o
seguinte:

Sergio: 200x20%= T$ 40,00

Vania: 2000x20%+400x30% - 2x50 = T$ 420,00

Marcos: 2000x20% +9000x30% - 3x50 = T$ 2.950,00

Em 1996 um dólar passou a valer 1,20 Tal, devido a inflação. Comparando a


renda bruta subtraída do Imposto é possível ver claramente o empobrecimento
dos trabalhadores, convertendo os salários liquido em dólar:

1995

Sergio: 1000,00

Vania: 3000 - 300,00 = $ 2700,00

Marcos: 10.000 - 2.350,00 = $ 7.650,00


1996

Sergio: 1000,00 – 33,33 = $ 966,67

Vania: 3000 - 350,00 = $ 2650,00

Marcos: 10.000 - 2.458,33 = $ 7541,66

Note que usando o dólar como indexador, é possível verificar que a renda de
todos os trabalhadores foi reduzida pelo não reajuste da tabela, e vemos dois
efeitos da esperteza do governo:

Sergio, embora tenha uma renda baixa passou a pagar Imposto de Renda, este
é principal efeito da não correção da tabela, ou de correções abaixo da
inflação, estender o Imposto de Renda a pessoas cada vez mais pobres.

Outro efeito pode ser visto no caso de Vania que mudou de alíquota, este é o
efeito mais comum na renda dos profissionais da classe média, ao atingir
alíquotas maiores o imposto passa a pesar muito no orçamento, empobrecendo
estas categorias.

No caso de Marcos um trabalhador da classe A, o imposto simplesmente fica


mais pesado, e ele óbvio se sente roubado pelo Estado.

No caso do imposto regressivo existem opções para pagar menos, como


aproveitar promoções, pesquisar preços, comprar um produto substituto,
atravessar a fronteira e comprar no país vizinho. Mas no caso do Imposto de
Renda não há esta opção, pois o valor já vem descontado no salario, por isso
ele é mais perverso que o imposto regressivo, pode portanto ser denominado
de imposto Super Regressivo.

Imposto Super Regressivo depois do Plano Real

Como foi demonstrado pela simulação, quando a tabela do Imposto de Renda


é corrigida abaixo da inflação, os contribuintes habituais, passam a pagar mais
impostos e pessoas cada vez mais pobres se tornam contribuintes,
empobrecendo a classe trabalhadora como um todo.
Após o plano Real a Super Regressividade foi uma estratégia silenciosa de
aumento de Impostos, denunciada pelo SINDIFISCO, por economistas,
jornalista e outros intelectuais que fizeram artigos, pesquisas e reportagens,
mas não obtiveram a devida atenção da sociedade, que não reagiu com a
gravidade que o problema exigia.

Com a Super Regressividade o governo conseguiu manobras quase “mágicas”,


aumentou a carga tributária de forma discreta, sem grandes pacotes, e ainda
fez propaganda que a renda do trabalhador estava aumentando, porem ela
estava crescendo menos do que aparecia nos índices oficiais, pois o governo
ficou com uma fatia deste crescimento.

Segundo o SINDIFISCO: Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita


Federal do Brasil, de 1996 até 2018 a tabela do Imposto de Renda, acumula
uma defasagem de 95,46%, na pagina deste sindicato
(http://www.sindifisconacional.org.br/)

Conclusão

Corrigir a tabela do Imposto de Renda abaixo da Inflação ou Super


Regressividade, é uma estratégia que permite ao governo camuflar um
aumento de impostos para as classes trabalhadoras, principalmente as mais
pobres que passam a pagar este imposto e a classe média que atinge
alíquotas mais altas.

A Super Regressividade permite também inflar ganhos salariais, pois o governo


acaba ficando com uma boa parte dos ganhos obtidos por categoriais
profissionais que conseguem aumentos salariais acima da inflação, ao mesmo
tempo que faz propaganda sobre estes ganhos, como obra de sua política
econômica.

A Super Regressividade não é um fenômeno Brasileiro, nem recente, qualquer


governo, em um país com inflação pode utilizar este instrumento para explorar
sua população.
O pior do ponto de vista ético, é que a Super Regressividade torna o governo
sócio da Inflação, que prejudica a população, e juntos governo e Inflação
conseguem empobrecer seu povo.

Bibliografia

BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília 1988.

BRASIL. Código Tributário Nacional. Brasília1966.

CRESPO, A. A.: Matemática Comercial e Financeira. Editora Saraiva. São


Paulo.2009.

SEVEGNANI, J. O Modelo Regressivo de Tributação no Brasil, 2011:


Disponível: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-modelo-regressivo-de-
tributa%C3%A7%C3%A3o-no-brasil> acesso 25/07/2015.

SINDIFISCO. A Defasagem na Correção da Tabela do Imposto de Renda


Pessoa Física. Disponível: <file:///D:/BKP%20-%20Olinto%20-
%2019%2007%2019/Users/Olinto/Downloads/Defasagem_IR_1996_2018_VF.pdf>
acesso em 01/08/2019

<http://www.investimentosenoticias.com.br/noticias/imposto-de-renda/tabela-
imposto-de-renda-2019-nao-possui-alteracoes-gera-divergencias> Acesso
25/07/2019

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