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Centro de História Religiosa é melhor e a FCT propõe-se excluí-lo – ... https://observador.pt/opiniao/centro-de-historia-religiosa-e-melhor-e-a-...

O Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica


Portuguesa conseguiu cinco referências em inglês no Google Scholar por cada
investigador doutorado e, no mesmo período, um outro organismo também
respeitado, o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de
Lisboa, obteve três. A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) avaliou o
Centro como «fraco» e o Instituto como «muito bom» Em consequência, e a
consumar-se a avaliação, o Centro e a História Religiosa não receberão
dinheiro dos contribuintes no período 2020-2023.

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Parece um argumento dos apanhados mas é apenas a realidade administrativa


no nosso país, pois a FCT não segue nenhum critério objetivo pelo menos no
relativo à investigação histórica. A concretizar-se será uma incompetência e
uma prepotência.

Queira o leitor gastar uns minutos do seu tempo a ver como se pratica hoje
num Estado de Direito Democrático esta injustiça que é também uma
ilegalidade.

O muito bom e o fraco referem-se ao valor científico de cada uma das


instituições. De fraco para baixo, o contribuinte, via FCT, não subsidia
organismos de investigação. Como age a FCT para alcançar esta classificação?
Contrata peritos estrangeiros, agrupa-os em painéis por áreas científicas e
incumbe-os dessa avaliação das unidades de investigação e remunera-os
depois de a receber.

O grupo de peritos da área de história classificou o Centro como fraco e o


Instituto como muito bom. Avaliou mais treze centros na área disciplinar da
história mas não os referiremos no presente artigo.

A nota das unidades de investigação devia ser dada de acordo com os critérios
constantes de um regulamento oficial. São eles a qualidade, o mérito, a
relevância, o nível de internacionalização, o mérito científico da equipa
investigadora e a adequação entre meios e objetivos. Os peritos e a FCT
esqueceram alguns destes critérios e inventaram outros. Esqueceram a
qualidade, a relevância e apenas referiram o mérito a propósito dos
investigadores integrados. Inventaram a dimensão do Centro e a proporção
em que a FCT contribui para os seus recursos. Estes esquecimentos e estas
invenções são injustas e ilegais.

O painel dos peritos excluiu o Centro por o considerar fraco na


«internacionalização» e por os seus investigadores integrados serem
«relativamente fracos». Nenhum destes critérios é justificado. A
internacionalização parece ser apenas medida pelos artigos e livros publicados
em inglês por revistas e editores científicos. Escrevemos «parece» pois o
painel não invoca nenhum critério uniforme. A ser usado o critério das

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publicações pessoais, devemos reconhecer que ele talvez se justifique para


julgar a internacionalização de investigadores individuais mas é totalmente
inadequado a avaliar um Centro de investigação, pois um Centro não escreve
textos, antes organiza colóquios científicos, seminários, formação de pessoas,
publica revistas como a excelente Lusitania Sacra. É por causa deste erro do
painel da FCT que elaborámos ao indicador a partir do Google Scholar. Este
indicador, sim, mede a relevância internacional das unidades de pesquisa. O
Centro de História Religiosa é o terceiro melhor na sua área. Talvez o nosso
índice não seja o único que concretiza o critério regulamentar, mas terá que
ser um dos que o aplicam. Para o período de 2015 à atualidade, comparável
com aquele a que se refere a avaliação, calculámos o número de referências
por investigador integrado e doutorado, para não confundirmos a eficácia dos
centros com a sua dimensão, erro ou manha dos painelistas a propósito do
Centro de História Religiosa. Excluímos as patentes.

Se o leitor quiser, fiscaliza o nosso critério. Mas ninguém tem condições para
fiscalizar os critérios do painel da FCT. Porque o painel não construiu um
índice quantitativo e público para cada um dos critérios regulamentares. Por
isso as unidades são classificadas de modo discricionário. A nota é por isso
ilegal e atrabiliária devido a uma tripla discricionariedade:

Não há índices para os critérios regulamentares;


Não há ponderação para os diferentes critérios regulamentares;
Não há uniformidade na aplicação dos critérios aos diferentes centros.

A arbitrariedade do painel é mais evidente quando aplica o critério da


obtenção de fundos. Critica o Centro de História por depender demais do
dinheiro da FCT e, a propósito de outro centro, louva-o por ter elevada
proporção da FCT «é uma grande força» porque «dá-lhe resiliência». É o
melhor exemplo do «dois pesos duas medidas» da FCT, peelo meno a respeito
do Centro de História Religiosa.

Mais inquietante é que os relatórios dos painéis referem «registos» a que o


leitor não tem acesso, o que sugere a existência de uma avaliação secreta, por
trás daquela que é divulgada. Este assunto deve ser esclarecido.

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Outras prepotências e ilegalidades dos senhores painelistas haveria a


comentar, mas já demos ao leitor a informação essencial.

A FCT não depende porém desses peritos e neste momento tem ainda poderes
para cumprir o regulamento. Se não o cumprir, para lá de eventuais
consequências em termos de contencioso, submeter-se-á a crítica impiedosa
da opinião pública que ainda se preocupa com a justiça na política e na
administração pública.

Os documentos da FCT acima citados estão disponíveis em Relatórios dos


painéis e Relatório preliminar.

Cientista social e investigador integrado do Centro de Estudos de


História Religiosa da UCP

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