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Se tal fato passou a ser visto pelos seus leitores e amigos como uma prova de
amor do escritor pela cidade, a sua volta foi sentida com pesar por muitos de seus
amigos de Recife. Em carta
cidade em que viveu quase uma década e à qual seus amigos paraibanos creditam à sua
vida na capital pernambucana um momento de ensaio da sua boemia.
A verdade é que as histórias contadas sobre esse período da vida de Virgínius da
Gama e Melo mostram que a boemia em Recife não fora ensaiada, mas vivida em toda a
1
DUARTE, Waldemar. Mini bibliografia crítica: Virgínius da Gama e Melo. In: Correio das Artes. João
Pessoa, 10 de agosto de 1983, p. 4.
sua intensidade. Aliás, praticamente toda narrativa dessa fase de sua vida está atrelada
às memórias da boemia. Assim como foi um momento de estruturação de sua formação
intelectual e a constituição de importantes redes com personagens do campo de
produção de Pernambuco.
- carta de epaminondas
Virgínius: você riscou Recife de sua geografia. Fincou-se na heroica Paraíba e só dá
sinal de vida através dos seus lúcidos artigos no Jornal do Comércio. Nada mais
sabemos de você, a não ser que continua sendo mesmo homem estudioso, escrevendo
coisas sérias, sem a presunção de ser agradável aos escritores.
Aqui, no “Leão do Norte”, tudo continua como dantes. Apenas um novo sistema
de governo, ou com novos homens mandando. No fundo, esta é a verdade, nada mudou.
Os mesmos vícios e as mesmas burradas. Uma psicose de “industrialização” dominando
tudo, inclusive a burrice. Quero crer que dentro de pouco tempo estaremos exportando
essa matéria prima enriquecida pelos Sampaio. O que nos está faltando é um Eça para
escrever sobre o “enriquecimento da burrice”, feito em Palácio, após longos estudos na
CODEPE, pelo Zito de Souza Leão, e devidamente ensilada pelo Poo Gerra, na
CAGEP.
(...)
Qualquer dia organizaremos uma caravana. “Embaixada Virgínius da Gama Y Melo”.
(...)
Sem mais, um forte abraço do amigo
Epaminondas.
Em 23/12/59
BAR SAVOY
“Em Recife, por exemplo, o Bar Savoy, que ainda hoje existe, possui ao longo de sua
história exemplos de frequentadores da mais alta estirpe intelectual. Gilberto Freyre,
Jorge Amado, e muitas outras personalidades, dentre as quais alguns paraibanos,
notórias presenças da Bambu, tais como Virgínius da Gama e Melo, Sérgio de Castro
Pinto, Wellington Aguiar, entre outros.
Seu acervo fotográfico já flagrou os principais homens públicos sentados em
suas mesas. O jornalista Selênio Homem, em artigo comemorativo ao aniversário de
cinquenta anos do bar, em 1995, falou que Savoy parecia, “nos tempos de curtição
literária exacerbada, uma espécie de Academia de Letras ao ar livre”. (HOMEM apud
COUTINHO, 1995 p 73)
Dentre todos os renomados visitantes do Bar Savoy, o mais enaltecido e
lembrado é o poeta Carlos Pena Filho. (...)
Uma placa de bronze afixada nas paredes do Savoy eterniza os versos de Pena
Filho acerca do que ele achava daquele bar:
‘Por isso no Bar Savoy
O refrão é sempre assim:
São trinta copos de chope,
São trinta homens sentados.
Trezentos desejos presos,
Trinta mil sonhos frustrados”
(p 29)
Em outra placa de bronze, também afixada no Savoy, um poema de Mauro Mota
homenageia Carlos Pena:
“São agora
vinte e nove
Os homens do
Bar Savoy.
Vinte e nove que
Se contam,
Falta um, para
Onde foi?
Vinte e nove
Homens tristes
Dentro deles
Como dói
A ausência do poeta Calos
Na mesa do Bar Savoy”.
CALDAS
RECIFE
BONAFÉ “Nada disso, obviamente, é mera coincidência. Gilberto Freyre foi um dos
mais destacados inventores do Nordeste — e do Recife como pólo regional de formação
do “representante do Nordeste”, do “intelectual regional”, a exemplo do próprio
sociólogo. De acordo com Albuquerque Jr., a Faculdade de Direito do Recife e o
Seminário de Olinda eram, desde o século XIX, “lugares privilegiados para a produção
de um discurso regionalista e para a sedimentação de uma visão de mundo comum”.
Recife era também “o centro jornalístico de uma vasta área que ia de Alagoas até o
Maranhão”. O principal periódico da cidade, o Diário de Pernambuco, tornar-se-ia, aos
poucos, “o principal veículo de disseminação das reivindicações dos estados do Norte,
bem como vai se constituir num divulgador das formulações em defesa de um novo
recorte regional: o Nordeste”.” (38)
[mas em que medida vgm teria vivido essa atmosfera na década de 1940, quando
estudou em recife?]