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ARTIGO

O TRATAMENTO PSICOPEDAGÓGICO: UMA CAIXA PRETA?


A ARTE DA INTERVENÇÃO, POSTURA E RECURSOS
- com uma saudação de Sara Pain -

Maria Luiza Oliveira Castro de Leão


O TRATAMENTO PSICOPEDAGÓGICO: UMA CAIXA PRETA?
A ARTE DA INTERVENÇÃO, POSTURA E RECURSOS

Maria Luiza Oliveira Castro de Leão

Fonte: O texto, extraído da palestra de abertura do ciclo de debates do Tekoa “Aprendendo


com seus pares” realizado em 01 de outubro de 2008, aborda uma reflexão, que não se
encontra frequentemente na bibliografia disponível, sobre o que é o tratamento
psicopedagógico, trazendo a luz detalhes teórico-práticos da especificidade dessa intervenção
psicopedagógica.

Através de uma série de questionamentos, o texto desdobra-se num viés investigativo que
provoca curiosidade e uma visão reflexiva que pode ajudar o leitor a desvendar mistérios ao
mesmo tempo que pode conduzi-lo a novos.

Depois de situar o surgimento e a evolução da psicopedagogia em seu objetivo e campos de


atuação, a autora trata do seu estudo sobre um campo teórico próprio para a psicopedagogia,
a “Noologia estruturalista”, e procura fazer dialogar com a teoria e prática clínica. Leão tece
ainda uma relação entre teoria e prática; ciências e arte no campo da psicopedagogia,
esmiuçando a arte da intervenção.

Defendendo uma postura interacionista, dialética, construtivista e estruturalista, o discurso


se apoia em pressupostos teóricos psicanalíticos (lacanianos, winnicottianos e freudianos),
piagetianos e pós-piagetianos, e considera a leitura da dimensão desiderativo-dramática e a
dimensão lógico-conceitual, em suas articulações.

Dentre os elementos de intervenção abordados, quanto a postura do psicopedagogo,


destacam-se: a não atuação sobre o sintoma ou epifenômeno, a realização do trabalho
apoiado na tarefa e a forma como a tarefa se instala a partir do outro, o cliente. A autora
evidencia a frequente análise clínica que deve ser realizada pelo psicopedagogo em relação as
variáveis do enquadramento, temática, tarefas escolhidas e produtos realizados, no sentido
de proporcionar ao cliente ganho de autonomia e resgate do prazer de aprender.

Parece bastante pertinente a produção de narrativas que abordem mais profundamente as


questões sobre o tratamento psicopedagógico. Apesar de ser um tema muito solicitado por
alunos e profissionais, ainda hoje não existe uma quantidade relevante de estudos científicos
publicados. Além disso, a maioria dos trabalhos situam-se no âmbito do diagnóstico. O
tratamento psicopedagógico, então, se mantem numa esfera superficial, quanto a
apresentação de seus fenômeno, intervenções e processos. Maria Luiza usa o termo da “caixa
preta” como uma analogia. A autora sente que há uma espécie de véu sobre o assunto, que o
coloca em uma posição de inacessibilidade para se conhecer, desvendar.

Publicação: fevereiro de 2018


O TRATAMENTO PSICOPEDAGÓGICO: UMA CAIXA PRETA?
A ARTE DA INTERVENÇÃO, POSTURA E RECURSOS1
Com uma saudação de Sara Pain

Maria Luiza Oliveira Castro de Leão

“Estamos hoje dando o pontapé inicial no ciclo de debates do Tekoa "Chá de debates. Aprendendo
com seus pares". Na verdade, trata-se de uma re-edição do evento. Quando o Tekoa foi inaugurado,
fizemos muitos Chás de debate de 1996 a 1998. Estamos estreando agora essa nova edição: o
"Aprendendo com seus pares". Esse nome foi assim cunhado, inspirado em um comentário de Sara
Pain que constata que os brasileiros têm o hábito de aprenderem mais com “os de fora” do que com
os seus pares, fenômeno que não acontece tanto na Argentina, segundo Pain. Daí a ideia de criar um
evento para fazer circular conhecimentos mais internamente entre nós, cariocas e brasileiros.
Visamos, com esses debates, abrir um espaço para nos ad-mirarmos, nos vermos, nos valorizarmos.
O que não significa, de modo nenhum, um nacionalismo exacerbado nem que não possamos ad-
mirar “os de fora”... Na verdade, a proposta é de garimpar e colocar em evidência os valores que
estão ao nosso lado.

O formato inclui também um lanche de confraternização, acontecimento recorrente nas atividades


do Tekoa. Achamos que trabalhar, pensar, é muito bom, mas é preciso ainda, confraternizar, fazer
circular afeto e celebrar a vida, juntos. ” 2

“Para não fugir a regra, lerei um texto enviado para o evento por uma das "de fora", Sara Pain,
colaboradora científica do Tekoa”. (O texto encontra-se inserido no final do documento.)

“O tema do debate de hoje é então: “O tratamento psicopedagógico: uma caixa preta? A arte da
intervenção, postura e recursos”

Por que esse tema?

O tratamento psicopedagógico é um assunto que tem sido bastante solicitado pelos alunos e
profissionais em supervisão. Notamos que se fala e se escreve bem mais sobre o diagnóstico
psicopedagógico (etapas, testes, técnicas) que sobre o tratamento em si. Os profissionais,
especialmente os iniciantes, parecem sentir mais conforto com o processo diagnóstico porque,
mesmo sendo uma construção complexa para muitos psicopedagogos, é possível apoiar-se numa
diretriz para realizá-lo, a tal matriz do pensamento diagnóstico proposta pelo Visca, ou nas “trilhas”
indicadas pelo Tekoa (para coleta, organização e interpretação dos dados), por exemplo.

1
Palestra apresentada no evento " Chá de debates do Tekoa-Aprendendo com seus pares”. Nº 1.
Realizado em 01 de outubro 2008. Revisada em dezembro de 2017
2
Dados sobre os Chá de debates. Aprendendo com seus pares: foram totalizados seis debates entre outubro de
2008 a abril de 2010. Cada evento era realizado em duas horas e quinze minutos. Iniciava-se com uma palestra
sobre o tema do debate (45 minutos), fazia-se uma interlocução (um membro da equipe do Tekoa- 15 minutos)
e em seguida abria-se para a discussão (1h e 15 min), culminando num lanche de confraternização. O presente
artigo mostra o primeiro chá de debate ocorrido e na sequência os debates com os temas e colegas
palestrantes: “Subjetividade, Modernidade e Psicopedagogia”. Luiz Alberto Moreira Martins / “Linguagem e
Psicopedagogia. O sujeito leitor e escritor”. Roberta Peregrino/ “Crônicas Familiares: laços culturais com fios
sistêmicos”. Márcia Regina Ribeiro / “A construção do espaço e o desenho infantil”. Heloisa Padilha. /
“Hiperativas, opositivas e bipolares: ainda há crianças normais?". Rossano Cabral Lima / “Brinquedo
informativo, matemática e psicopedagogia”. Celso Wilmer.

1
Esses “nortes” apontam para recursos técnicos (testes e técnicas psicopedagógicas) mais ou menos
estabelecidos, fundados, sobretudo numa vasta prática clínica. Quanto ao tratamento
psicopedagógico, observam-se poucas palestras e discussões sobre o tema e uma literatura que, em
geral, trata o assunto apenas superficialmente. Por que será?

É no momento do tratamento que falamos na “arte da intervenção”, da "cura"... Como isso se dá? O
que caracteriza a clínica psicopedagógica, especificando-a, diferenciando-a ou aproximando-a da
psicanálise, da psiquiatria (da medicina), da fonoaudiologia, da docência...?
Será que é fácil para cada um expor sua arte aos demais, seus pares? Quais são os nossos medos,
angústias e fantasias relativas a essa apresentação?
Quanto ao tratamento em si, como é ficar cara a cara com o paciente intermediado por uma tarefa?
Daí a questão: O tratamento psicopedagógico é uma caixa preta?
Sentimos que há uma espécie de véu que encobre esse domínio e que o assunto encerra mistérios...

Não temos a pretensão de desvendá-los todos porque a intervenção clinica sempre solicitará
perguntas, reflexões e aportará novos mistérios; mas tentaremos abordar pontos importantes para
reflexão e debate.

A arte da intervenção:

O que é arte?

Arte (Aurélio):
1. Capacidade que tem o homem de por em prática uma ideia, valendo-se da faculdade de dominar a
matéria.
No nosso caso, a matéria de base seria o conhecimento sobre as estruturas do pensamento no ato da
aprendizagem. O pensamento no ato de aprender, eis a nossa matéria a ser dominada.

2. A utilização de tal capacidade, com vista a um resultado que pode ser obtido por meios diferentes.
Fala-se de meios, técnicas para chegar-se a resultados... Ex: a medicina é uma arte. Do mesmo
modo, consideramos a intervenção psicopedagógica uma arte.

3. Atividade que pressupõe a criação de sensações ou de estados de espírito, em geral de caráter


estético, mas carregada de vivência íntima e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de
prolongar ou renovar. Ex: a arte da poesia

A aprendizagem e, especialmente terapia da aprendizagem, suscita transformações intimas e


profundas. A arte da intervenção visa proporcionar as transformações clinicas que permitam a
autonomia e o prazer de aprender.

4. Os preceitos necessários à execução de qualquer arte.


Quais os pressupostos da intervenção clínica, quer no consultório (individualmente, em grupo, com
famílias...) ou numa instituição, ou numa comunidade?
Aqui cabe esclarecer que não se trata de fazer clinica psicopedagógica numa instituição escolar ou
em outra qualquer e sim falamos de instituição dedicada a terapia da aprendizagem.

5.Capacidade natural ou adquirida de por em prática os meios necessários para se obter um


resultado.
No caso da psicopedagogia não apontamos aqui os recursos ou as técnicas em si, mas como se coloca
isso tudo no ato da intervenção em cada caso particular. Daí a arte.... Daí a modalidade artística de
cada terapeuta; modalidade essa que, contudo, não se desenvolve de modo aleatório. A atuação tem
“lastro”, isto é, ela é pautada em pressupostos teórico-práticos definidos e, muitas vezes, pode ser

2
inspirada em alguns recursos pré-definidos, cuja “listagem” nunca se esgota num tratamento clinico.
Há muitas possibilidades para além dos recursos e técnicas que foram já definidos.
6. Domínio, habilidade, jeito.
De que? Para dominar a arte da intervenção. Como se adquire esse domínio, essa habilidade?
Através de uma práxis construída em estudos e experiências voltados para essa aprendizagem.

7. Ofício, profissão; A arte do entalhador, por ex.


Então, dizemos também, “a arte do psicopedagogo” em seu oficio.

Teoria e prática; ciências e arte no campo da psicopedagogia.

A psicopedagogia, apoiada em seus primórdios na medicina, psicologia (psicanálise) e na pedagogia,


surgiu para dar conta de diferentes dificuldades de aprendizagem escolares. Começando por uma
prática individual, veio caminhando para atendimento a grupos e depois para sistemas mais
abrangentes como instituições escolares, empresas, hospitais e comunidades. Historicamente, a
prática psicopedagógica parte da terapia rumo a prevenção, iniciando-se com crianças, indo aos
adolescentes, aos adultos, à terceira idade... Para se dar conta dessas práticas foi-se investigando
multidisciplinarmente de modo a ampliar a compreensão do complexo fenômeno da aprendizagem
humana. De algum tempo para cá, surgem pesquisas teóricas que visam fundar um campo teórico
mais próprio, especifico dos processos de aprendizagem - da dita psicopedagogia. Como exemplo, o
estudo apresentado no 2º Simpósio do Rio de Janeiro e 1º Encontro Internacional de Investigação no
Campo da Psicopedagogia, em abril, na PUC-Rio quando apresentei, em mesa com Sara Pain, a
"Noologia Estruturalista", um postulado teórico para o domínio da aprendizagem humana. A teoria e
a prática interagem, uma instância calçando e fomentando o crescimento da outra. A prática produz
fenômenos, a teoria procura entendê-los, trazendo luzes para essa prática que continua
eternamente a produzir novos fenômenos. Ao abordarmos então de intervenção clínica, ou o
tratamento (termo vindo da origem médica da psicopedagogia), estaremos falando da arte, da
prática, do ato, do conhecimento no ato, que se respalda em teorias, que por sua vez, não dão, nem
nunca darão, conta da totalidade dos fenômenos produzidos na prática clínica. A arte da intervenção
é então sempre maior e estará constantemente ultrapassando a teoria que a sustenta; mas a teoria é
que permite que possamos nos tornar cada vez mais artistas, podendo ir mais e mais além...

A postura do psicopedagogo

A postura do Tekoa diante do fenômeno de aprendizagem humana é de cunho estruturalista,


construtivista, interaccionista e dialética. Nos apoiamos numa leitura dos fenômenos de
aprendizagem que articula psicologia genética e psicanálise. Apesar de longa experiência prática
fundamentada em muitas investigações, a teoria da psicopedagogia está apenas em seu início. A
despeito da psicanálise estruturalista (lacaniana) ser a linha de base teórica da noologia
estruturalista, utilizamos uma postura mais cética, não “muito religiosa” quando se trata da prática,
da arte da intervenção clínica, de modo que, em relação ao domínio desiderativo subjacente às
aprendizagens, podemos utilizar pressupostos lacanianos, winnicottianos, freudianos, no sentido
mais dinâmico, dependendo do cenário em que estejamos envolvidos, da dramática que se
apresenta, uma vez que não somos psicanalistas e podemos ter essa liberdade com mais
tranqüilidade. Também nos apoiamos em princípios teóricos piagetianos e pós-piagetianos para
darmos conta da leitura e da escuta da dimensão lógico-conceitual, estrutura e funcionamento
operatórios, competências cognitivas, também subjacentes ao ato de aprender...

Em termos práticos, podemos esmiuçar alguns elementos da nossa intervenção (minha e da equipe
do Tekoa), relativamente à nossa postura. Tais como:

3
Não atuamos sobre o sintoma ou epifenômeno (diferentemente da escola ou da maioria dos
fonoaudiólogos e psicomotricistas). Atuamos, nesse sentido, mais próximos dos psicanalistas Nossa
intervenção recai sobre as estruturas subjacentes ao pensamento no ato de aprender, sobre o
pensamento lógico-conceitual ou sobre o pensamento simbólico-desiderativo-dramático,
alternadamente ou até, eventualmente, de modo simultâneo.

Trabalhamos apoiados na tarefa (ou projeto). O que é uma tarefa ou um projeto? Constitui uma
atividade, qualquer uma, inclusive o discurso oral, que se desenvolva na clínica – quer intra, quer
extra-consultório, mas no espaço-tempo clínicos. O projeto advém quando a tarefa se relaciona mais
profundamente com do sujeito, isto é, com seu desejo e com suas questões mais estruturantes,
constituintes...

Como se instala a tarefa. Procuramos que a tarefa clínica de estabeleça a partir do cliente. Como isso
ocorre? Num primeiro momento, acontece a aprendizagem do enquadramento clínico. Devemos
deixar o outro se apresentar em seus movimentos (e não-movimentos), em suas escolhas, em sua
temática, em sua dinâmica, etc. Pretendemos que o cliente possa se mostrar clinicamente como
processo que se instala num marco clínico (do enquadramento). Daí os ataques às variáveis do
enquadramento serem, em geral, uma resistência a instalação do processo clínico, que normalmente
todos queremos e não queremos que aconteça (ambigüidade em relação ao crescer - não crescer, se
tratar - não se tratar, mudar e não mudar). Depois de uma posição mais feminina de acolhimento,
podemos ter uma posição também um pouco mais fálica, de propor, mas já dentro do fluxo clínico,
do processo instaurado pelo outro.

Fazemos uma freqüente análise clínica dos processos a partir da análise das sessões individualmente
e sequencialmente, com relação às variáveis do enquadramento como tempo espaço, faltas, etc.
Observamos também as dinâmicas, temáticas, tarefas escolhidas e produtos realizados.

Jorge Visca fala em etapas do tratamento que podem nos ajudar nessa análise clínica:

* Etapa I, Aprendizagem lúdica - Momento em que se dá aprendizagem do enquadre, se estabelecem


os vínculos e surgem as tarefas, atividades calcadas sobretudo nos jogos, para as crianças e
adolescentes
* Etapa II, Aprendizagem semi-real / posição esquizo-paranóide (Melanie Klein). Quando o paciente
traz o que sabe. Aquilo que não sabe o persegue e ele mostra então, tendência a evitar as questões
mais "nevrálgicas" e conflituosas que lhe ferem, não trazendo o assunto para o consultório.
* Etapa III, Aprendizagem real / posição depressiva (Melanie Klein). Quando o paciente entra no
projeto, num sentido mais profundo, e integra o que sabe com aquilo que não sabe, entrando então
em contato com a “coisa”, com a questão de fundo de suas dificuldades.

Essas etapas constituem-se apenas uma referência de análise.

Objeto de avaliação e análise clínicas. Visca pede para se analisar a dinâmica, a temática e os
produtos das sessões ao longo do tratamento, o que já deve ter ocorrido também no diagnóstico.
Não nos esqueçamos que além do paciente, da tarefa, da observação dos processos, faz parte
integrante da nossa análise psicopedagógica clínica o próprio psicopedagogo em suas vicissitudes,
conflitos, dificuldades, curiosidades, pensamentos, conhecimentos e prazeres.

Lembramos que o objetivo do tratamento, num sentido mais amplo, é que o cliente (indivíduo,
grupo, família, escola, empresa, comunidade) possa ganhar autonomia em aprender e resgatar o
prazer de aprender (aprender para si); uma vez que a aprendizagem é um processo que se inscreve
na ordem do prazer, não do gozo, e é necessária para a sobrevivência humana e para a reprodução
(função de sexualidade) dos indivíduos e da cultura, não precisando, então, ser resignificada.

4
Aprender, em princípio, assim como comer, deveria proporcionar prazer, se não proporciona, temos
que ver o que está acontecendo...

Recursos e técnicas:

O corpo do psicopegagogo é um recurso. Numa posição diferente daquela do psicanalista, cujo corpo
deve ser "um cabide para as roupas do cliente", quando propiciamos o surgimento da tarefa sobre a
qual se apoia o processo clínico psicopedagógico, o corpo do psicopedagogo se coloca disponível na
atuação com a tarefa. Nós olhamos olho no olho, estamos juntos, participamos das atividades,
jogamos com o cliente, vamos ao chão.... Desse modo, ocorrem em nosso processo clínico,
transferências e contratransferências como em qualquer relação humana e trabalhamos
clinicamente com esses fenômenos.

O consultório deve ter, à disposição do cliente objetos reatores de aprendizagem e precisamos nos
preocupar em eliminar os elementos "distratores". Daí a privacidade e a escolha dos objetos do
consultório, de modo a possibilitar a "alquimia" da transformação.

Os recursos e as técnicas são infinitos e devem e podem se criados no cotidiano do consultório. O


professor Visca pesquisou alguns, como o modelo de alternativa múltipla, a demonstração, a
ampliação do modelo, o assinalamento, a interpretação, a informação, o role-playing, entre outros...
A psicopedagogia se ocupa do sujeito, dos processos e dos produtos da aprendizagem. E ainda, dos
contextos tais como família, escola comunidade, outras instituições onde se dá a interação dialética
dos processos do aprender e que promova ou dificulte o desenvolvimento das aprendizagens.
No consultório analisamos basicamente os fenômenos intra-psíquicos, damos um foco aí, mas sem
perder a dimensão complementar inter-psíquica. “

Questões propostas para abrir o debate:

O contexto escolar e o contexto familiar no processo clínico:


- Como se trabalha com a família e a escola? Lembramos que o cliente é a criança, o adolescente, o
grupo, a família e não a escola...
- Quando e como o psicopedagogo vai à escola? Quando não vai?
- Como se dá a questão do encaminhamento e do acompanhamento do processo clínico pela escola?
- Como se dá a orientação familiar?

Formas de atendimento:
- Como é atender um grupo? Qual a diferença de um atendimento individual para um atendimento
grupal?
- O que é psicopedagogia familiar? Quando se instala?
- Olhar clínico na instituição e na comunidade, o que é isso? Como atender uma instituição? Como é
atender uma comunidade?
- O que diferencia nosso atendimento particular dos atendimentos sociais (projeto social e
atendimento popular-do Tekoa)?
- Como é nosso atendimento no projeto social "Prazeres de aprender": equipe clínica e equipe
institucional

Formação:
- Como aprendemos a arte da intervenção psicopedagógica? Cursos, terapias e supervisões (a
psicopedagogia didática) ...

5
A SAUDAÇÃO DE SARA PAIN PARA A ABERTURA DOS EVENTOS “CHÁS DE DEBATE- APRENDENDO
COM SEUS PARES”

Umas palavras para desejar-lhes muito êxito na intenção de vocês de conversar e aprender com os
seus pares.
Classicamente o professor fala do tablado, o conferencista do púlpito. Desses lugares, na altura e
ilhados, eles falam em nome da linguagem e os outros, o público, está ali participando efetivamente
pela sua qualidade de escuta, provocando a palavra pelo simples fato de esperá-la. Não se pode
negar essa dinâmica que se chama prestigio e que ajuda na criação e na circulação de ideias.

Mas essa modalidade se monarquiza quando asfixia a comunicação entre os pares. De qual lugar
pode falar “qualquer um”? Em francês, qualquer um se diz “n’importe qui”, alguém que não importa,
a priori, que não é julgado importante. Parafraseando Lacan, podemos caracterizá-lo com o sujeito
suposto “não saber”. Para democratizar a comunicação não basta considerar e denunciar a situação
fictícia do “sujeito-suposto-saber”. O problema é que esse sujeito é nosso semelhante, nosso irmão, o
que facilita a projeção nele da nossa própria ignorância. Tiramos assim dele, todo o direito de ter
uma ideia interessante. O anônimo que intervém, se acerta, fica sob suspeita de “fazer-se de
interessante” e, senão acerta, indigna pelo seu atrevimento. De todas as maneiras, poucas de suas
intervenções são retidas pelo público.

No entanto, não há intervenções que não sejam significativas porque cada “qualquer um” tem sua
parte de questionamentos e de ideias aproveitáveis. A questão é poder trabalhar sobre elas,
aprofundá-las no diálogo, analisando-se cada proposta. Para isso, é necessário começar com uma
boa recepção e o esforço pessoal da cada um para encontrar na proposta uma questão mais
profunda ou mais ampla que possa aprofundá-la sem afogá-la. Desse modo, procura-se conservar o
problema colocado agregando elaborações enriquecedoras até se conseguir dar à opinião de origem
uma completude que a transforme em conhecimento. Evita-se assim, a dispersão do pensamento
coletivo e se estimula sua disciplina construtiva. Não há nada mais árido que a indiferença e a
acumulação de frases que não se incluem mutuamente, frases que, por mais inteligentes que sejam,
não mencionam os aportes anteriores. ”

Um ótimo dia construtivo, Sara

O TEXTO ORIGINAL:

Queridos bebedores de cha, un saludo afectuoso

Unas palabras para desearles mucho éxito en vuestra intencón de conversar y aprender de los pares:

Clasicamente, el profesor habla desde la tarima, el conferencista desde el púlpito. Desde esos lugares
en altura y aislados, ellos hablan en nombre del lenguaje y los otros, el público, está allí participando
efectivamente por su calidad de escucha, provocando la palabra del solo hecho de esperarla. No se
puede negar esa dinámica que se llama prestigio y que ayuda a la creación y a la circulación de ideas.

Pero esa modalidad se monarquiza cuando afixia la comunicación entre los pares. Le problema es :
desde qué lugar puede hablar « cualquiera » ? en francés cualquiera se dice « n’importe qui », es decir
alguien que no importa a priori, que no es juzgado importante. Parafraseando a Lacan, podemos
caracterizarlo como el sujeto supuesto « no saber ». Para democratizar la comunicación no basta

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considerar y denunciar la situación ficticia del « sujeto supuesto-saber » sino revisar la situación del
« sujeto supuesto no-saber ». El problema es que este sujeto es nuestro semejante, nuestro hermano,
lo que facilita la proyección en él de nuestra propia ignorancia. Le quitamos así todo derecho a tener
una idea interesante. El anónimo que interviene es sospechado, si acierta, de « hacerse el
interesante », y si no acierta, indigna por su atrevimiento. De todas maneras, pocas de sus
intervenciones son retenidas por el público.

Sin embargo, no hay intervención que no sea significativa porque cada « cualquiera » tiene su parte
de cuestionamiento y de ideas aprovechables, la cuestión es poder trabajar sobre ellas, profundizarlas
en el diálogo, analizando cada propuesta. Para ello es necesario por empezar, una buena recepción,
el esfuerzo personal de cada uno para encontrar en la propuesta una cuestión mas profunda o mas
amplia que la profundise sin ahogarla. Luego el aporte de propuestas que conserven el problema
planteado agregando elaboraciones enriquecedoras hasta lograr dar a la opinión de origen una
completud que la transforme en conocimiento. Se evita así la dispersión del pensamiento colectivo y
se estimula su disciplina constructiva. No hay nada mas árido que la indiferencia y la acumulación de
frases que no se incluyen mutuamente, frases que por mas inteligentes que sean, no mencionan los
aportes anteriores.

Un muy buen día constructivo, Sara

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