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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

CIRLEI DA APARECIDA BRANDÃO

CYBERBULLING NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA


INTERPRETAÇÃO DO FENÔMENO NO ÂMBITO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA

CUIABÁ-MT
2014
01

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

CYBERBULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR:


UMA INTERPRETAÇÃO DOS FENÔMENOS NO ÂMBITO
DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Cirlei da Aparecida Brandão

Cuiabá, MT
2014
0 2

CYBERBULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR:


UMA INTERPRETAÇÃO DOS FENÔMENOS NO ÂMBITO
DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Cirlei da Aparecida Brandão

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Educação Física da
Universidade Federal de Mato Grosso como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Educação Física.
Área de Concentração: Saúde
Desempenho Físico e Corporeidade.
Linha de Pesquisa: Fundamentos
Pedagógicos e Sócio-antropológicos do Corpo.
Orientador: Prof. Dr. Evando Carlos Moreira.

Cuiabá, MT
2014
3

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

B817c Brandão, Cirlei da Aparecida.


Cyberbullyng no espaço escolar: uma interpretação do fenômeno no âmbito
da educação física / Cirlei da Aparecida Brandão. – Cuiabá, 2014.
xiv, 188 f. ; 30 cm (incluem figuras e gráficos, alguns color.)

Orientador: Evando Carlos Moreira


Dissertação (mestrado) -- Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade
de Educação Física, Programa de Pós-graduação em Educação Física, Cuiabá,
2014.

Bibliografia: f. 167 - 173

1.Educação Física. 2. Bullyng. 3. Cyberbullyng. I.Título.

CDU 796.01:178.9

Catalogação na fonte: Maurício S.de Oliveira CRB/1-1860.


4
5

Dedico este trabalho aos meus filhos:


Camila e Lucas.
6

AGRADECIMENTOS

Nesta caminhada precisei de inspirações:


Do meu pai, eu trouxe um pouco de vivacidade e dinamismo e da minha mãe, a resignação e
paciência.
Dos meus irmãos, veio da Terezinha a crença, do Eloy a sabedoria, da Maria de Lourdes a
estética, do Ari a precisão, da Cleuse a alegria e rebeldia e do Altenir o sonho.
Da minha filha Camila, a vastidão do olhar e do meu filho Lucas a liberdade.
Da tia Helena o cuidado e do Ney Fernando a cumplicidade.
Da Clara e do Miguel Ângelo, Daniela e Isabela, o acolhimento.
Dos meus cunhados Dante e Jorge o carinho.
Das minhas cunhadas Ana Lúcia a retidão e da Amália a delicadeza.
Dos meus sobrinhos, Fabricio e Luciano, Dante e Leonardo, Mayra, Matheus, Gabriel e
Mariana, Luisa e Julia, trouxe a irreverência e juventude.
Dos meus sobrinhos netos Maria Fernanda, Theodora, e Max, a luz.
Dos diretores da Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde, Ir. Nelso Antonio Bordignon, o
exemplo; do Prof. Esp. Paulo Renato Foletto a emoção e do Prof. Ms. Fernando Cezar
Orlandi a solidariedade.
Do colega de mestrado Wirisley, o companheirismo diário. Dos meus professores: Prof. Dr.
Cleomar Ferreira Gomes a desconstrução e do
Prof. Dr. José Tarcísio Grunennvaldt, a provocação intelectual.
Do meu orientador Prof. Dr. Evando Carlos Moreira o apoio, compromisso e direção.
Do avaliador externo Prof. Dr. Fabiano Bossle, o olhar de lapidador.
Da Coordenadora do Programa de Mestrado em Educação Física, Profª Drª Christianne de
Faria Coelho Ravagnani, apoio e atenção.
Da escola pesquisada (Equipe diretiva, Professores e Alunos) a confiança.
Da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso – FAPEMAT, o financiamento,
Dos meus colegas de trabalho a pressa do retorno.
Dos meus amigos a ternura.
Com vocês, e por vocês eu consegui!

Obrigada sempre!
7

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo interpretar as situações de violência entre alunos do 6º
ao 9º ano do Ensino Fundamental na forma de bullying e cyberbullying no âmbito da
Educação Física Escolar, com vistas a produzir dados que possam orientar futuros projetos de
intervenção educativa na área. Para tanto, realizou-se um levantamento bibliográfico que
apresentou aspectos conceituais, origem, causas da violência e da violência escolar. Discutiu-
se ainda, o bullying e a variante cyberbullying na ambiência da Educação Física escolar,
incidência, causas, modos de manifestação, distinções, perfil dos protagonistas, bem como
suas consequências. Como metodologia adotou-se o estudo de caso, a pesquisa quali-quanti,
numa perspectiva fenomenológica, tendo como universo de pesquisa uma escola particular de
Mato Grosso, sendo sujeitos 119 alunos do Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, cujas idades
estão compreendidas entre 10 a 15 anos; professores de Educação Física e das demais
disciplinas; equipe diretiva e equipe técnica. Utilizou-se como instrumento de pesquisa a
aplicação de inquérito online, na plataforma SurveyMonkey, respondido pelos alunos. Outro
instrumento de pesquisa adotado foi a técnica de grupos focais com os alunos, professores e
equipe diretiva, cuja modelagem foi uma análise interpretativa. Constatou-se que na
ambiência da Educação Física, quando as aulas priorizam a competição, torna-se um ambiente
facilitador de ocorrência bullying, que pode se desencadear em cyberbullying, e que na
maioria dos casos, nem a escola e nem os professores ficam sabendo, portanto não são
tomadas medidas adequadas.

Palavras-chave: Educação Física, bullying, cyberbullying.


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ABSTRACT

This study aimed to construe the situations of violence among students from 6th to 9th grade
of Elementary School in form of bullying and cyberbullying as part of physical education, in
order to produce data as guidelines for future educational intervention programs in the area.
With this goal, we performed a bibliographic survey that showed conceptual aspects, origin,
causes of violence and school violence. We also discussed bullying and cyberbullying variant
in the ambience of Physical Education, incidence, causes, manifestations, distinctions, profile
of protagonists as well as their consequences. The methodology adopted was the case study,
qualitative and quantitative research with a phenomenological perspective, with the universe
for a particular school in Mato Grosso, being subject 119 elementary school students, from
6th to 9th grade, whose ages were between 10 through 15 years, physical education teachers
and other disciplines, management and technical staff. Survey on SurveyMonkey platform
was used as on line research tool, answered by the students. Another survey instrument used
was the technique of focus groups with students, teachers and management team, whose
model was an interpretive analysis. It was found in the ambience of physical education when
classes prioritize competition, it is a facilitator of bullying occurrence, which can be
unleashed on cyberbullying, environment, and that in most cases, neither the school nor the
teachers are told, so appropriate attitudes are not taken.

Keywords: Physical Education, bullying, cyberbullying.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 - Atos de Bullying............................................................................................. 44
Gráfico 1 – Distribuição por Sexo..................................................................................... 98
Gráfico 2 – Distribuição por Idade.................................................................................... 99
Gráfico 3 – Distribuição por Série e Ano.......................................................................... 100
Gráfico 4 – Distribuição por Cor/Etnia............................................................................. 100
Gráfico 5 – Percentual de Retenção................................................................................... 101
Gráfico 6 – Organização Familiar..................................................................................... 102
Gráfico 7 – Frequência de Acesso à Internet..................................................................... 103
Gráfico 8 – Local de Acesso à Internet............................................................................. 104
Gráfico 9 – Horas diárias de uso da Internet..................................................................... 105
Gráfico 10 – Usos da Internet............................................................................................ 106
Gráfico 11 – Posse de Aparelho Celular............................................................................ 107
Gráfico 12 – Representação do Celular............................................................................. 108
Gráfico 13 – Tipo de Utilização do Celular....................................................................... 109
Gráfico 14 – Gosto pela Aula de Educação Física............................................................ 110
Gráfico 15 – Sentimentos pela aula de Educação Física................................................... 111
Gráfico 16 – Motivação para o Bullying nas Aulas de Educação Física........................... 113
Gráfico 17 – Ocorrência do Bullying na aula de Educação Física.................................... 120
Gráfico 18 – Tipologia de Bullying Observado na Aula de Educação Física................... 123
Gráfico 19 – Prática de Bullying com Colega nas Aulas de Educação Física................... 124
Gráfico 20 – Tipologia do Bullying Praticados nas Aulas de Educação Física............... 126
Gráfico 21 – Sofrimento por Bullying nas Aulas de Educação Física............................... 127
Gráfico 22 – Tipologia de Bullying com as Vítimas nas Aulas de Educação Física......... 131
Gráfico 23 – Espaço de Ocorrência do Bullying na Escola............................................... 132
Quadro 2 – Comparativo dos espaços de Ocorrência do Bullying nas Escolas................. 132
Gráfico 24 – Quantificação da Manifestação de Bullying nas Aulas de Educação........... 134
Gráfico 25 – Sentimentos Causados pelo bullying na aula de Educação Física................ 135
Gráfico 26 – Reação ao Bullying Sofrido na Aula de Educação Física............................. 137
Gráfico 27 – Consequências Sofridas por Bullying na Aula de Educação Física............. 138
Gráfico 28 – Predominância de Prática de Bullying por Sexo na Aula de Educação
Física.................................................................................................................................. 139
Gráfico 29 – Sentimentos dos Autores do Bullying na Aula de Educação Física............. 140
10

Gráfico 30 – Reação dos Agressores após a prática de Bullying na Aula de Educação


Física.................................................................................................................................. 141
Gráfico 31 – Consequências dos Agressores Praticar Bullying na Aula de Educação
Física.................................................................................................................................. 142
Gráfico 32 – Sentimento dos Espectadores de Bullying nas Aulas de Educação
Física.................................................................................................................................. 144
Gráfico 33 – Medidas Tomadas pelo Professor em Caso de Bullying nas Aulas de
Educação Física................................................................................................................. 136
Gráfico 34 – Medidas Tomadas pela Escola..................................................................... 147
Gráfico 35 – Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física............................ 150
Gráfico 36 – Duração do Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física........ 151
Gráfico 37 – Frequência e Duração do Cyberbullying em Decorrência das Aulas de
Educação Física................................................................................................................. 152
Gráfico 38 – Reação por Vitimização de Cyberbullying em Decorrência das Aulas de
Educação Física................................................................................................................. 154
Gráfico 39 – Sentimentos em Decorrência de Sofrer Cyberbullying nas Aulas de
Educação Física................................................................................................................. 155
Gráfico 40 – Sentimentos ao Praticar Cyberbullying em Decorrência das Aulas de
Educação Física................................................................................................................. 156
Gráfico 41 – Sentimentos dos Espectadores do Cyberbullying em Decorrência das
aulas de Educação Física................................................................................................... 157
Gráfico 42 – Medidas Tomadas pelo Professor de Educação Física no Caso de
Cyberbullying nas Aulas de Educação Física.................................................................... 158
Gráfico 43 – Medidas Tomadas pela Escola no Caso de Cyberbullying em Decorrência
das Aulas de Educação Física........................................................................................... 159
11

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 15
2. VIOLÊNCIA....................................................................................................... 19
2.1. Aspectos Conceituais........................................................................................... 20
2.2. Origens da Violência............................................................................................ 21
2.2.1 Roger Dadoun...................................................................................................... 22
2.2.2 René Girard.......................................................................................................... 23
2.2.3 Michel Maffesoli.................................................................................................. 24
2.2.4 Georges Balandier................................................................................................ 26
2.2.5 Norbert Elias........................................................................................................ 28
2.2.6 Adair Caetano Peruzzolo...................................................................................... 29
2.2.7 Sigmund Freud..................................................................................................... 31
2.2.8 David Le Breton................................................................................................... 31
2.3 Violência no Contexto Escolar............................................................................. 32
2.3.1 Apresentando Conceitos....................................................................................... 34
3 BULLYING.......................................................................................................... 41
3.1 Bullying, Brincadeira e suas Distinções............................................................... 47
3.2 Bullying, Indisciplina e suas Distinções............................................................... 51
3.3 Bullying, e Circunstâncias de Ocorrência............................................................ 55
3.4 Bullying e Protagonistas....................................................................................... 56
3.4.1 Agressores............................................................................................................ 56
3.4.2 Espectadores........................................................................................................ 57
3.4.3 Vítimas................................................................................................................. 58
3.5 Variante Cyberbullying........................................................................................ 61
3.5.1 Adolescentes e a Tecnologia................................................................................ 63
3.5.2 Diferença entre Bullying e Cyberbullying............................................................ 65
3.5.3 Comportamentos de Cyberbullying...................................................................... 67
3.6 Cyberbullying na Educação Física....................................................................... 71
3.7 Consequências Sociais e Acadêmicas do Bullying e do Cyberbullying............... 79
4 METODOLOGIA.............................................................................................. 88
4.1 Abordagem Quantitativa...................................................................................... 88
4.2 Abordagem Quanlitativa..................................................................................... 89
4.3 Estudo de caso..................................................................................................... 90
4.4 Grupo Focal......................................................................................................... 91
12

4.4 Análise Interpretativa......................................................................................... 92


4.5 Lócus da Pesquisa................................................................................................ 93
4.5.1 O Município......................................................................................................... 93
4.5.2 O Colégio............................................................................................................. 93
4.6 Público Alvo e Amostragem................................................................................ 94
4.7 Procedimentos Éticos........................................................................................... 95
4.8 Instrumento de Pesquisa....................................................................................... 95
4.9 Aplicação do Estudo Piloto.................................................................................. 95
5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS............................................ 97
5.1 Inquérito online................................................................................................... 97
5.1.1 Distribuição por sexo........................................................................................... 98
5.1.2 Distribuição por Idade.......................................................................................... 98
5.1.3 Distribuição por Série e Ano................................................................................ 99
5.1.4 Distribuição por Cor/Etnia................................................................................... 100
5.1.5 Distribuição por Retenção.................................................................................... 100
5.1.6 Organização Familiar........................................................................................... 101
5.1.7 Frequência de Acesso à Internet.......................................................................... 102
5.1.8 Local de Acesso à Internet................................................................................... 103
5.1.9 Horas diárias de uso da Internet........................................................................... 104
5.1.10 Usos da Internet.................................................................................................... 106
5.1.11 Posse de Aparelho Celular................................................................................... 106
5.1.12 Representação do Celular..................................................................................... 107
5.1.13 Tipo de Utilização do Celular.............................................................................. 108
5.1.14 Gosto pela Aula de Educação Física.................................................................... 109
5.1.15 Sentimentos pela aula de Educação Física........................................................... 110
5.1.16 Motivação para o Bullying nas Aulas de Educação Física................................... 111
5.1.17 Ocorrência do Bullying na aula de Educação Física............................................ 118
5.1.18 Tipologia de Bullying Observado na Aula de Educação Física........................... 120
5.1.19 Prática de Bullying com Colega nas Aulas de Educação Física........................... 123
5.1.20 Tipologia do Bullying Praticados nas Aulas de Educação Física...................... 124
5.1.21 Sofrimento por Bullying nas Aulas de Educação Física...................................... 127
5.1.22 Tipologia de Bullying com as Vítimas nas Aulas de Educação Física................ 127
5.1.23 Espaço de Ocorrência do Bullying na Escola...................................................... 131
13

5.1.24 Quantificação da Manifestação de Bullying nas Aulas de Educação Física........ 133


5.1.25 Sentimentos Causados pelo Bullying na aula de Educação Física....................... 134
5.1.26 Reação ao Bullying Sofrido na Aula de Educação Física.................................... 135
5.1.27 Consequências Sofridas por Bullying na Aula de Educação Física..................... 137
5.1.28 Predominância de Prática de Bullying por Sexo na Aula de Educação Física..... 138
5.1.29 Sentimentos dos Autores do Bullying na Aula de Educação Física..................... 139
5.1.30 Reação dos Agressores após a prática de Bullying na Aula de Educação Física. 140
5.1.31 Consequências dos Agressores Praticar Bullying na Aula de Educação Física... 141
5.1.32 Sentimento dos Espectadores de Bullying nas Aulas de Educação Física........... 142
5.1.33 Medidas Tomadas pelo Professor em Caso de Bullying nas Aulas de Educação
Física.................................................................................................................... 144
5.1.34 Medidas Tomadas pela Escola............................................................................. 146
5.1.35 Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física.................................... 147
5.1.36 Duração do Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física................ 150
5.1.37 Frequência e Duração do Cyberbullying em Decorrência das Aulas de
Educação Física.................................................................................................... 151
5.1.38 Reação por Vitimização de Cyberbullying em Decorrência das Aulas de
Educação Física.................................................................................................... 152
5.1.39 Sentimentos em Decorrência de Sofrer Cyberbullying nas Aulas de Educação
Física.................................................................................................................... 153
5.1.40 Sentimentos ao Praticar Cyberbullying em Decorrência das Aulas de Educação
Física.................................................................................................................... 155
5.1.41 Sentimentos dos Espectadores do Cyberbullying em Decorrência das aulas de
Educação Física.................................................................................................... 156
5.1.42 Medidas Tomadas pelo Professor de Educação Física no Caso de
Cyberbullying nas Aulas de Educação Física...................................................... 157
5.1.43 Medidas Tomadas pela Escola no Caso de Cyberbullying em Decorrência das
Aulas de Educação Física..................................................................................... 158
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 161
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 167
ANEXO A - Aprovação Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos.................... 174
APÊNCICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO -
TCLE................................................................................................................................. 176
14

APÊNDICE B - INQUÉRITO ONLINE.......................................................................... 177


APÊNDICE C - GRUPO FOCAL - ROTEIRO............................................................... 188
15

1. INTRODUÇÃO

Diariamente nos deparamos com a espetacularização de atos de violência pelos


diferentes meios de comunicação e a escola não tem sido poupada desses diagnósticos, sendo,
muitas vezes, apresentada como única responsável por esse fenômeno. Parece até que ela não
é parte integrante de uma sociedade, como se a educação só ocorresse no interior da escola, à
margem da sociedade da qual é parte integrante.
Cada vez mais as fronteiras da violência no tempo e no espaço apresentam grande
complexidade para defini-las de forma clara e objetiva, pois trazem muitas expressões, muitos
sujeitos envolvidos e deixam graves consequências. Faz-se necessário observá-las por
diferentes perspectivas, que possibilitaram uma infinidade de compreensões, que não sejam
estáticas, mas que acompanham as mudanças através dos tempos e dos lugares e, a partir deste
olhar ampliado, analisou-se a violência escolar.
No meu percurso profissional, obtive a graduação em Educação Física e atuei
diretamente na Educação Básica durante oito anos. Em seguida, migrei para a gestão de
Instituição de Ensino, por 18 anos, continuando com o interesse na Educação Física, embora
olhando de outro ângulo. Um dos focos de minha gestão foi a formação de professores e com
um gosto pessoal, o docente de Educação Física.
Com o mestrado elegi o estudo sobre o bullying e o cyberbullying na Educação
Física, no sentido de trazer luzes para esta grave problemática contemporânea, que tem
deixado sérias consequências para nossos jovens e adolescentes. Dessa forma, minha
contribuição foi produzir dados para subsidiar ações dos profissionais da área.
Com isso, aparecem novas indagações: precisa-se de tanta competição? Por que
alguns alunos não gostam da aula de Educação Física? Por que pedem dispensa média para
não participar da aula? Por que desistem? Por que saem da aula com sentimentos negativos
com irritados, tristes, com baixa autoestima? Como está a formação inicial e continuada dos
professores de educação Física em relação ao trato com as situações de bullyig e na vertente
cyberbullying?
Esta problemática, tem grande visibilidade na sociedade contemporânea, tem
muitas implicações do ponto de vista da prática educativa. Suas diferentes manifestações têm
preocupado de forma especial a escola, que necessita de aportes para seu enfrentamento.
Observou-se o fenômeno da violência no ambiente escolar e, olhando
particularmente, para os ambientes da Educação Física, percebe-se sua evolução, suas
16

diferentes manifestações e os aparatos disponíveis para seu aperfeiçoamento, como a rede


virtual de comunicação,
Chamou a atenção a acentuada ocorrência do bullying e da variante cyberbullying
pelos alunos do Ensino Fundamental, na faixa etária entre 10 e 15 anos, idade em que o
bullying e a variante cyberbullying tem mais impacto, apresentando consequências que podem
ser devastadoras.
A falta de controle destes atos, os fracos mecanismos de enfrentamento; a
exposição cada vez maior dos adolescentes à informação que contém violência gratuita; a
disponibilidade de acesso à rede mundial de comunicação sem a devida noção de seus riscos;
e a formação docente para saber agir nas questões práticas do dia-a-dia, como a violência em
suas variadas manifestações, são elementos que potencializam a existência do bullying.
Portanto, foi pertinente investigar esta acentuada forma de violência,
potencializada pelas tecnologias e que atinge profundamente crianças e adolescentes.
Sua principal indagação, foi identificar até que ponto as aulas de Educação Física,
por suas características particulares de considerar a cultura corporal, têm sido uma ambiência
que contribui para a manifestação do bullying e do cyberbullying.
A Educação Física, como parte integrante do universo escolar e,
consequentemente parte do contexto onde ocorre a violência escolar, necessita desvendar este
fenômeno em seu espaço, bem como nas relações com os demais, para que desta forma
ofereça sua contribuição para a superação da violência em forma de bullying e cyberbullying,
que deixam sérias consequências, sejam elas acadêmicas, sociais e emocionais para crianças e
adolescentes, que podem ser irreversíveis.
A contribuição da Educação Física pode ocorrer uma vez que é parte do contexto
da violência na escola, porém é necessária a ação conjunta de uma equipe multidisciplinar
para ter uma visão do todo, para o enfrentamento deste fenômeno tão complexo, para que se
obtenham resultados mais efetivos.
Dessa forma, surgiu a seguinte questão: como fazer para que a ambiência da
Educação Física Escolar, pela sua dinâmica própria, não facilite a manifestação de violência
na forma de bullying e na sua derivação cyberbullying, evitando que crianças e adolescentes
sejam expostos nas redes de comunicação em condições vexatórias e humilhantes?
Teve-se como objetivo geral do presente trabalho constatar e descrever as
situações de violência entre alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental na forma de
bullying e cyberbullying no âmbito da Educação Física Escolar, com vistas a produzir dados
que possam orientar futuros projetos de intervenção educativa na área. Especificamente,
17

conhecer as situações de violência entre esses alunos no formato bullying e na vertente


cyberbullying, no âmbito da Educação física escolar, levando em conta o contexto em que tais
situações acontecem, o perfil dos protagonistas, as consequências dessas situações para os
envolvidos, bem como as ações da escola.
Com este propósito a presente investigação apresentou no Capítulo 2 os aspectos
conceituais, a origem e as causas da violência e da violência escolar, enquanto o Capítulo 3
discutiu o bullying e a variante cyberbullying na ambiência da Educação Física escolar,
buscando a incidência, as causas, os modos de manifestação, suas distinções, o perfil dos
protagonistas, bem como suas consequências. Nestes dois primeiros capítulos as bases
bibliográficas sobre a questão da violência, foram Roger Dadoun, René Girard, Michel
Maffesoli, Georges Balandier, Norbert Elias, Eric Dunning, Adair Caetano Peruzzolo,
Sigmund Freud e David Le Breton. Em se tratando diretamente do bullying e cyberbullying,
as principais referências utilizadas foram: Cleo Fante, Pedro Miguel de Barros Ventura,
Miriam Abramovay, Bernard Charlot, Nilo Odália, Beatriz Oliveira Pereira e Aramis Antonio
Lopes Neto. E mais diretamente ligado a Educação Física, recorreu-se a Eleonor Kunz,
Evando Carlos Moreira, Weyboll Rocha Weimer, Fabiano Bossle, Vicente Molina Neto,
Elisandro Schultz Witizorecki, dentre outros.
O quarto Capítulo indicou o caminho metodológico utilizado para este estudo, que
adotou como universo de pesquisa uma escola particular do município de Lucas do Rio
Verde, sendo os sujeitos 119 alunos do Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, cujas idades
estão compreendidas entre 10 a 15 anos, professores de Educação Física e das demais
disciplinas, equipe diretiva e equipe técnica.
No quinto Capítulo apresentam-se a análise e a discussão dos dados coletados,
onde optou-se por uma abordagem quali-quanti, numa perspectiva fenomenológica. Para a
análise quantitativa elegeu-se a aplicação de inquérito online, na plataforma SurveyMonkey,
onde os alunos responderam diretamente do laboratório de informática, na presença da
pesquisadora e os dados foram tratados mediante a frequência, traduzidos em percentuais.
Para a análise qualitativa utilizou-se da técnica de grupos focais com os alunos, professores e
equipe diretiva, cuja modelagem foi uma análise interpretativa.
A partir das informações obtidas pelo questionário online, e pelos grupos focais,
foi possível identificar que a ambiência da Educação Física escolar, pela sua dinâmica
específica, é o espaço da escola onde se desencadeia um número significativo de
manifestações de bullying e cyberbulying, e que as condições contribuem para estas
manifestações, sendo elas, a diversidade cultural, aliada a metodologia de ensino docente, que
18

estabelece a ênfase das práticas pedagógicas na competição, não havendo mecanismos de


escuta eficazes, dificultando as ações de prevenção. As crianças e adolescentes expostas a
rede mundial de comunicação em condições vexatórias, sofrem sérios prejuízos emocionais,
sociais e acadêmicos.
Entende-se com os resultados do presente estudo que a violência é uma estrutura
sempre presente no fenômeno da vivência humana, é um “movimento” dialético da ordem e
da desordem, estando na escola e na Educação Física, por isso, é preciso admiti-la, saber onde
se esconde, conhecer os mecanismos e aparatos tecnológicos à sua disposição, para
desnaturalizá-la, enfrentá-la e extirpá-la dos meios escolares.
19

2. VIOLÊNCIA

A natureza humana está configurada nas relações dos indivíduos entre si, estes
necessitam do encontro com o outro para sobreviver, tanto para a conquista de território
necessário para manter a sobrevivência, quanto pela constituição da individualidade. Esse
processo não é completamente harmônico, ao contrário, pode ocorrer através de conflitos,
destruição, agressividade e violência. Não há aspecto da realidade humana onde a violência
não esteja presente.
O termo violência possui origem latina, visto que a palavra violentia é oriunda do
verbo volare, que significa violentar, transgredir e faz referência ao termo vis: empregar força
física em intensidade, potência, qualidade, essência. Já para os greco-romanos, violência
significa violar o equilíbrio natural pelo uso da potência.
No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1999, p. 1779),
a violência está ligada ao uso da força física ou mesmo moral e também à coação. “Violência
significa qualidade de violento; ato violento, ato de violentar; constrangimento físico ou
moral; uso da força; coação”.
Por sua vez, judicialmente, o termo violência está diretamente relacionado à
coação.
Percebe-se que o fenômeno social da violência se apresenta das mais variadas
formas, implicando em atores diversos, ocorrendo de diferentes formas, tanto física,
psicológica, emocional e simbólica, como na expressão de Schilling (2007, p. 3):

De que tipo de violência falamos quando falamos em violência? Da


violência das paixões? Da violência que acontece na família – contra a
mulher, a criança, o idoso, o portador de “necessidades especiais”, aquele
que tem uma orientação sexual diferente? Da violência do desemprego, da
fome, da falta de acesso de oportunidades, da falta de justiça? Da violência
das instituições? Da violência da escola, das pressões, da polícia? Da
violência da corrupção? Da violência do preconceito, do racismo, da
discriminação – dos crimes de ódio, entre tribos, entre aqueles que se juntam
e consideram o outro como inimigo a ser aniquilado? Da violência da
criminalidade?

A violência é um fenômeno intrincado e multifacetado que permeia o caminhar da


civilização, por isso conceitua-la é muito complicado. Pelo caráter plural que apresenta, não é
possível analisá-la por um só prisma, como afirma Maffesoli (1987, p. 13):
20

A violência [...] tem como característica o fato de que pretender propor uma
nova análise teórica sobre ela é muito complicado. Pode-se, no máximo,
atualizar o que as diversas ciências do homem disseram e redisseram de
várias maneiras.

2.1. Aspectos Conceituais

Pesquisadores de diversas áreas do conhecimento têm se debruçado na busca de


uma aproximação do conceito de violência, cada um com uma ótica particularizada, de acordo
com sua visão social.
Michaud (1989, p. 11) contribui incorporando ao conceito de violência, as suas
modalidades, sua distribuição no tempo, bem como os diferentes danos causados:

Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem


de maneira, direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos há uma ou
várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua
integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e
culturais.

Da Matta (1982, p. 14), sobre a violência, faz associações com múltiplos aspectos
e contornos, ressalta suas facetas positivas e negativas numa gradação de equilíbrio:

[...] o discurso sobre violência é, em geral, um discurso escandaloso. Se não


é denúncia, é elogio. Não pode ser um discurso interrogativo e relativizador,
pois que se toma como perversão.
Qualquer tentativa de ver a violência como um fenômeno social. Seu poder
de mobilização é tão grande, que só se admite um posicionamento contra ou
a favor.

Por sua vez, Odalia (1983, p. 35) traz a tona a ideia da violência
institucionalizada, quando esta é admitida implícita ou explicitamente, que uma relação de
força é uma relação natural:

A institucionalização da miséria, do sofrimento, da dor, da indiferença pelos


outros, da ignorância, do não saber sobre si e sobre sua sociedade, não
ocorre porque o homem é mau, mas pelo simples fato de que uma sociedade
estruturada para permitir que a competição, o sucesso pessoal
individualizado, sejam os parâmetros de aferição do que o homem é, não
pode, evidentemente, preparar o homem para ver no seu semelhante outra
coisa que não um concorrente ou uma presa a ser devorada.
21

Existe ainda, uma intrincada rede de violência que ocorre em todas as regiões do
país, em que ao mesmo tempo todos são vítimas e autores.

Tal como uma epidemia, todos são afetados pela fonte comum de uma
estrutura social desigual e injusta, que alimenta e mantém ativos os focos
específicos de violência, os quais se expressam nas relações domésticas, de
gênero, de classes e no interior das instituições (MINAYO, 1993, p. 75).

Abramoway (2009) em sua conceituação de violência apresenta duas linhas de


pensamento. Uma mais limitada que chama de núcleo duro, associada à violência física
(assaltos, homicídios, estupro, danos físicos). Outra de caráter mais amplo, considera os
envolvidos, ou melhor, é uma violência caracterizada pelo não reconhecimento do sujeito, são
as incivilidades, agressões verbais, humilhações, violência simbólica.
A classificação das as ações violentas, segundo Abramoway (2009), se dividem
em 3 categorias:
a) Violência dura – atos presentes nos códigos penais como ameaça, roubo, furto,
dentre outros;
b) Microviolências ou incivilidades – vão de encontro às regras de convivência –
desordens, grosserias, dentre outros
c) Violência simbólica – que é o meio de exercício do poder simbólico.

A violência é um fenômeno complexo e polissêmico, isto é, apresenta diferentes


sentidos, e o seu significado se define a partir do seu contexto sócio-econômico-cultural.
Também está relacionada com o sistema de valores de cada cultura e sua escala de tolerância
diante de sua ocorrência.
Arendt (1994) aborda a violência e as relações de poder, sendo que onde uma está
a outra está ausente, quanto mais poder, menos violência e vice-versa.

Poder e violência são opostos, onde um domina absolutamente outro está


ausente. A violência aparece onde o poder está em risco. Mas deixa o seu
próprio curso, conduz à desaparição do poder. Isto implica ser incorreto
pensar o oposto da violência como a não violência, falar de um poder não
violento é de fato redundante. A violência pode destruir o poder; ela é
absolutamente incapaz de criá-lo (ARENDT, 1994, p. 73-74).

2.2. Origem da Violência


22

Para entender a violência em sua complexidade é necessário remeter-se as suas


origens, reconhecendo seus elementos constitutivos e conceituais, apresentam-se assim, a
contribuição de diferentes autores sobre esta temática polissêmica, convidando ao diálogo:

2.2.1. Roger Dadoun (1998)

Considera a violência como característica primordial, essencial, constitutiva do


ser do homem, o homo violens. O autor formula a hipótese de uma função estruturante
essencial da violência, entende que não há aspecto da realidade humana em que ela não esteja
associada. O homem é estruturado como fundamental, primordial e essencialmente um ser de
violência.
Geralmente só se leva em conta os aspectos externos da violência [...] sobre
os quais o homem parece não ter qualquer domínio, fatores que lhe seriam
impostos, a contragosto, violentamente [...] Privilegia-se desta maneira, uma
concepção eruptiva da violência [...] enquanto que são rechaçadas a
“violência cega” e as origens da violência de onde quer que elas venham
(DADOUN, 1998, p. 8, grifos do autor).

O autor ainda destaca, que a violência é uma característica essencial do homem,


constitui o seu ser, é autodestrutiva por vocação, levando a pensar a violência como
originária, primordial e fundamentalmente construída com sangue, desde os primórdios da
humanidade, não sendo possível eliminá-la das relações humanas, visto a natureza violenta do
homem, o homo violens.
Onipresente, a violência acompanha a história da humanidade com suas
explosões, manifestadas em formato de crimes, guerras, massacres, extermínios. Para o autor,
a violência que se encontra na raiz do ser humano se traduz em perturbantes expressões
quotidianas.

À flor da pele e ao fundo da alma - assim é a violência no cotidiano, uma


violência que corre e ricocheteia sobre todas as superfícies de nossa
existência e que uma palavra, um gesto, uma imagem, um grito, uma sombra
que seja capta, sustenta e relança indefinidamente, e que, no entanto, desta
espuma dos dias, abre à alma vertiginosos abismos em mergulhos de
angústia que nos fazem dizer: “Sou eu mesmo toda essa violência?”
(DADOUN, 1998, p. 43, grifo do autor).

Na tentativa de explicar a violência como inerente à condição humana,


enfatizando seus aspectos originários e inaugurais, o autor formula a hipótese de uma função
23

estruturante essencial da violência, entende que não há aspecto da realidade humana onde ela
não esteja associada.
Recorre aos textos bíblicos que narram a disputa dos irmãos pelo prestígio de
Deus, os filhos do casal primordial, Adão e Eva e o fatricídio original de seus filhos Caim e
Abel, sendo esta considerada a matriz de outras violências que ocorreram na história, onde
uma sempre desencadeia outra. Para o autor, esta arbitrariedade origina-se no agir do próprio
Deus ao aceitar a oferenda de um filho e recusar a do outro, lançando a maldição que atinge o
casal originário e, assim, a humanidade inteira.
Ainda em Gênesis a violência está no princípio do mundo, tais como a expulsão
do paraíso, o castigo para a mulher, o dilúvio, a Torre de Babel, dentre outros acontecimentos.
Essa imagem primordial tem valor de arquétipos e funcionam como valores de referência aos
quais são feitas alusões continuamente, que influenciam o agir da humanidade. Corroborando
esses argumentos, a bíblia apresenta o limite absoluto da violência, Jesus, o filho de Deus,
sendo crucificado.
A teoria do autor expressa a ideia de que o homem civilizado escondeu, mascarou
seus anseios e necessidades, reprimindo a essência de sua violência, tornando-se um ser da
racionalidade, porém sua natureza violenta nunca deixou de existir. A partir da racionalização,
o homem calcula, controla, projeta, justifica e elabora até mesmo a própria violência. Mas
nem o uso intenso da razão solucionou o problema da violência humana. Concluindo, afirma
que “as vias e as luzes” que conduzem à violência continuam obscuras.

2.2.2. René Girard (2008)

Para este autor a violência é “intestina”, interna, íntima ao ser humano, o que se
revela através de desavenças, rivalidades, ciúmes e disputa entre próximos. Afirma que o
sagrado é tudo que domina o homem, que as condutas religiosas e morais visam a não
violência cotidiana, que são freadas pelas instituições que dominam a vida social. Entende que
existe a possibilidade de desviar a violência da vítima humana.
A teoria antropológica e sociológica de Girard tem dois pilares que são os
conceitos de sacrifício de vítimas expiatórias e desejo mimético:

1. Vítima expiatória – assim como Dadoun (1998), estabelece um elo entre as


escrituras sagradas e a violência ao afirmar que parece existir uma violência interna de irmão
para irmão, desde os primórdios da humanidade eles lutam entre si. No caso de Caim e Abel,
24

ele faz uma ligação com o rito sacrificial onde a violência intestina poderia ser ludibriada pelo
sacrifício, pois somente através de uma vítima sacrificial é possível desviar o desejo de
violência que Abel também sentia por Caim.
Demonstra o duplo aspecto das vítimas expiatórias, que a um só tempo são
tratadas como seres sagrados e criminosos. Representa nas sociedades antigas o papel de
válvula de escape dos impulsos violentos acumulados em seu interior. Ela é vítima
substitutiva: sobre ela seus verdugos despejam todo ódio e sede de violência que carregam,
aliviando-se e livrando a sociedade de possíveis conflitos.
Os sacrifícios e os rituais presentes em todas as culturas primitivas e antigas,
contra vítimas humanas ou animais, têm uma significação real e não meramente simbólica e
ainda, têm a finalidade de apaziguar as violências intestinas e impedir a explosão de conflitos.
Os ritos sacrificiais, bem como os mitos que os narram, simbolicamente representam a forma
de uma sociedade reviver o seu acontecimento fundador, o sacrifício não mais ritual, mas real
e espontâneo de uma vítima expiatória:

Demonstra também uma profunda reflexão sobre o sacrifício, que para as


sociedades primitivas desempenha o papel essencial de mitigar as violências
internas, uma vez que a violência não saciada procura e sempre acaba
encontrando uma vítima alternativa (GIRARD, 2008, p.13).

2. Desejo Mimético - o desejo de ter o bem do outro é inerente à natureza humana.


Os homens desejam o bem e o ser do próximo invariavelmente, o que terminará por gerar a
rivalidade mimética. O detentor do bem quererá defendê-lo, mas, ao mesmo tempo,
estimulará o desejo do outro, pois o fato de o seu bem ser também desejado por outrem
potencializa o valor do mesmo. Quando um irromper com um gesto violento o outro
imediatamente revidará também por impulso mimético e assim se iniciará o bloodfeud, uma
sequência interminável de represálias que somente terminará com o sacrifício de uma vítima
expiatória que trará de volta a paz à sociedade.
As contribuições de Girard permitem compreender os inúmeros conflitos sociais e
humanos da contemporaneidade como o racismo, o antissemitismo ou o aborto. Esse velho
mecanismo sacrifical elege novas vítimas expiatórias para nossos ódios intestinos.

2.2.3. Michel Maffesoli (1987)


25

Em sua análise sobre a violência e seu dinamismo interior, considera-a como uma
herança comum a todo e qualquer agrupamento humano, tendo uma função estruturante em
sua constituição. A violência fundadora e arcaica, à qual o homem está submetido desde
tempos primitivos, é força e potência, motor principal do dinamismo social, que remete ao
confronto e ao conflito.
Toda a relação social é fundamentada na violência, que se manifesta em
instabilidade, espontaneidade, multiplicidade, desacordos, recusas. Portanto, o ser humano é
violento pela sua natureza.
Mafessoli (1987) afirma que em vez de tentar eliminar a desordem é preciso saber
lidar com ela:

[...] é necessário constatar antes de tudo que as carnificinas, os massacres, os


genocídios, o barulho e a fúria, ou seja, a violência em suas diversas
modulações é a herança comum a todo e qualquer conjunto civilizacional. É
uma estrutura sempre presente no fenômeno da vivência humana e, dessa
forma, o sociólogo constata que a violência faz parte da existência humana e
que é necessário aprender a conviver com a sua presença. MAFESSOLI
(1987, p. 13).

A violência social, como símbolo da força vivida de forma coletiva e ritualizada,


assegura a coesão e o consenso; a violência sanguinária se manifesta na impossibilidade de
simbolização, quando esta é imperfeita e significa o retorno do reprimido. O poder se
constitui a partir do enfraquecimento da força coletiva, sempre presente no corpo social, na
dinâmica social, com desejo de submissão, não se manifestando de forma espontânea. Existe
no poder uma aprovação da ordem, Isso se caracteriza como a arte de governar, de impor um
sistema de força ao outro. Nesse sentido, une poder-potência, pois, entende que desse
confronto nasce a socialidade. Refere-se à potência ou violência social como um conjunto de
elementos que funcionam bem em sua articulação. O poder bloqueia o jogo da ambivalência
social, enquanto a potência remete ao pluralismo, à diversidade do real.
O autor faz uma distinção entre três modalidades de violência:
- Violência totalitária - é consequência do monopólio da estrutura dominante:
Estado, partido, organização.
- Violência anômica - é uma resposta à violência, à dominação dos poderes
instituídos, revoltas latentes que ocorrem ocasionalmente, inscreve-se entre a destruição e a
reconstrução, entre ordem e desordem, que ao ser reprimida pode explodir em crueldade. Há
sempre negociação, adaptação e passividade ativa.
26

- Violência banal - não se integra ao instituído, mas se opõe a ele. Subverte o


poder por meio da submissão aparente, não recusa, porém não arrebata. Apresenta-se
escondida, mascarada, no silêncio, na fachada, na zombaria, nos grafites e pichações.
O pensamento do autor nos remete a pensar que é necessário lidar com a
violência, uma vez que ela faz parte da natureza humana.

[...] a violência sempre está presente; antes de condená-la de uma maneira


rápida demais, ou ainda, negar sua existência, é melhor ver de que maneira
pode-se negociar com ela. É a partir de um princípio de realidade desse que é
possível apreciar a qualidade de equilíbrio maior e menor que caracteriza cada
sociedade [...] Consciente da onipresença da violência, da sua conformidade
com o fato social, é preciso negociar, ser astuto, “amansá-la”, socializá-la.
(MAFFESOLI, 1987, p. 14, grifo do autor).

2.2.4. Georges Balandier (1997)

Este autor procura elucidar como, no caminhar da humanidade, as sociedades


buscavam controlar a violência. Enfatiza que a violência sempre esteve presente nas
sociedades tradicionais, porém sob controle: do homicídio (não reprovado, quando
sancionado) aos confrontos internos entre grupos e à guerra (orientada para o estrangeiro,
inimigo real ou potencial); da violência formadora (meio de educação e socialização de
adolescentes) à violência oculta, insidiosa, que tomava a forma de feitiçaria, ou aberta, jamais
inteiramente contida. A violência era domesticada, tratada ritualmente como forma de
prevenir-se contra a sua subversão ou perturbação.
Enfoca que o par opositivo ordem/desordem se estabelece a partir de outro par
opositivo: tradição/novidade, na modernidade este novo, procura se inscrever na tradição. A
entrada do novo abala, desordena instala o caos, que se tornou um enigma de tempos remotos,
onde os mitos pretendiam mostrar suas origens e gêneses.

Nenhuma sociedade pode ser purgada de toda desordem; é preciso saber


lidar com ela em vez de tentar eliminá-la. Este é o principal papel do mito e
do rito: tratam a desordem no sentido de lhe dar uma forma dominável, de
convertê-la em fator de ordem, ou de deportá-la para os espaços do
imaginário. Por meio de procedimentos, onde operam principalmente a
transgressão e a inversão, o mito e o rito, se tornam os instrumentos que
permitem juntar a ordem e a desordem [...]. (BALANDIER, 1997, p. 36).
27

Para o autor, a desordem, a turbulência, a desorganização e o inesperado exercem


um fascínio.

É tempo de desordem e de violência, de suspensão da norma, de agressão e


de confusão; quando a força geradora da ordem perdeu seu apoio, o corpo
real se torna inoperante, e o caos se estabelece por meio de ações miméticas
e de múltiplas transgressões. (BALANDIER, 1997, p. 36).

Segundo Balandier, a caoslogia, surge como uma nova disciplina, que ocupa-se
das curiosidades e dos desvios da fantasia em benefício de uma ciência estranha. A banalidade
é elevada à categoria de grande mistério e o paradigma do caos que aceita a presença tanto da
ordem quanto da desordem como elementos mantenedores da tradição viva e ativa, e sai da
categoria de simplicidade para uma reflexão erudita.
Para o autor a natureza não é linear e simples. A ordem e a desordem não são
apenas um par opositor, mas integrantes um do outro, a ordem encontra abrigo na desordem,
numa relação complexa e misteriosa, onde o aleatório está constantemente a refazer-se, o
imprevisível deve ser compreensível.

A ordem e a desordem são como as duas faces de uma mesma moeda:


indissociáveis. São dois aspectos ligados ao real, sendo que um, baseado no
senso comum, parece ser o inverso do outro [...] Todas as sociedades
reservam um lugar para a violência, mesmo temendo-a; por não terem a
capacidade de elimina-la – o que os levaria a matar o movimento em seu
interior e a se degradar até o estado das formas mortas – é preciso de alguma
forma compor-se com ela. Na medida em que é irredutível, e mais que isso,
necessária, a única saída é transforma-la em instrumento de um trabalho com
efeitos positivos, de utiliza-la no sentido de sua própria e parcial
neutralização, ou de converte-la em fator de ordem. (BALANDIER, 1997. p.
1).

A desordem em algum momento ou de alguma maneira, aparece em todas as


sociedades, variando de acordo com os diferentes contextos históricos.
O passado e o arcaico estão relacionados à ordem, revelando o que está
solidamente demarcado.
Já a desordem é um elemento fermentador, que rompe a ordem estabelecida, para
o ingresso do novo. Portanto, esta desordem é criadora! Os períodos de transição exercem
então uma verdadeira fascinação e são vistos como os tempos, que fazem recuar as fronteiras
do impossível, ao longo dos quais situam-se as ignorâncias.
28

O autor traz o pensamento do movimento, como fomentador da desordem para


chegar a uma nova ordem e, por isso, deve observá-la de maneira positiva.
Ao descrever a violência como exploradora da desordem afirma:

A violência também pode tomar forma de epidemia, de uma desordem


contagiosa e dificilmente controlável, de uma doença da sociedade que
aprisiona o indivíduo, e, por extensão, a coletividade em um estado de
insegurança. Nunca foi expulsa do horizonte humano. A violência está no
começo, energia selvagem cujos fluxos repartem e hierarquizam os homens
segundo as relações de força. (BALANDIER, 1997, p. 207).

Segundo o autor a violência não é de pronto identificável como causa mortal. É


vista como inerente a toda a existência coletiva, resulta dos movimentos das forças pelas quais
esta se compõe e se cria, realça a dinâmica do ser vivo pela qual a ordem e a desordem são
indissociáveis.
Nas sociedades modernas, embora com toda a racionalidade que ela traz em seu
bojo, a cada dia tem aumentado a criminalidade e a insegurança, isto prova que a
modernidade tem fracassado na tentativa de domesticar a violência. Na compreensão do
pensamento do Balandier, a violência nunca será exterminada, pois acompanha o movimento
da ordem e da desordem, e trazendo sempre novos movimentos, novas ordens, novas
desordens e novas violências.

2.2.5. Norbert Elias e Eric Dunning (1992)

Estes autores levantam os aspectos sociológicos referentes ao lazer e ao desporto e


sua capacidade de controlar a violência. Destaca o caminho percorrido pelo desporto desde a
“caça da raposa” até o futebol, enfatizando a capacidade de substituição ou sublimação destes
instintos agressivos pela excitação, o prazer, de sensações agradáveis, a êxtase e a catarse
propiciados pelo desporto.
A configuração da caça à raposa, transformada em desporto, mostram vias de
obtenção do prazer numa perseguição de violência e morte, e num estádio com pessoas
poderosas que estavam cada vez mais limitadas no uso da força sem autorização da lei.
Quando a violência era imposta a animais e não a seres humanos, era mais fácil de ser
resolvida.

O aumento das restrições quanto à aplicação da força física e, em particular,


sobre o acto de matar, e, como expressão dessas restrições, o deslocamento
29

do prazer experimentado ao praticar a violência para o prazer de ver a


violência cumprir-se, pode ser observado como um impulso de civilização
em muitas outras esferas da actividade humana. [sic] (ELIAS; DUNNING,
1992, p. 241).

O desporto representa a simulação de um confronto que resulta sempre em tensões


controladas e, no final, a catarse, a liberação de tensão. O desporto mostra que as tensões de
um grupo equilibrado são os ingredientes centrais das atividades de lazer.
O problema era habilitar os seres humanos, na sua necessidade elementar de
buscar a excitação, o desporto preenche esta lacuna social. O ethos do desporto não é a
vitória, mas o próprio jogo que interessa.
A configuração da caça à raposa, transformada em desporto, mostra vias de
obtenção do prazer numa perseguição de violência e morte, e num estádio com pessoas
poderosas que estavam cada vez mais limitadas no uso da força sem autorização da lei.
Quando a violência era imposta a animais e não a seres humanos, era mais fácil de ser
resolvida.

2.2.6. Adair Caetano Peruzzolo (1990)

Outro autor que trouxe contribuições para os estudos da violência foi Peruzzolo
(1990, p. 85):
As lendas e a mitologia mostram que a violência é tão antiga quanto o
próprio homem. Todavia ela aparece como problema, como questionamento,
como algo a ser regido e conhecido pelo homem só muito recentemente, no
século XIX.

Ele defende a ideia que a violência é da ordem interior do mundo humano, não
quer dizer que a violência é algo externo ao homem. Entende a violência como um fenômeno
absolutamente cultural, tendo em vista que ela tem as suas bases também na animalidade, a
qual faz surgir a agressividade. O referido estudioso argumenta que a violência do homem não
está na natureza, está no ajustamento cultural que se dá na ordem da cultura, de certas
relações de ordem conflitual. A violência implica uma força e sempre foi objeto de desejo,
mas também de barreiras. Apesar de se organizarem de maneiras culturais diferentes, as
sociedades humanas sempre tiveram como objetivo controlar o eu interno, a sua força e as
condições geradoras de desvios.
30

Para Peruzzolo (1990, p. 100): “parece ser, não o que nos resta, porque nada
tivemos antes, mas a entrada que se insinua na complexidade humana. Tudo o que precisamos
é de entradas: a violência está no interior do humano”.
No animal, a violência faz parte do biológico, do código genético, enquanto que
no homem, ela está na esfera cultural do indivíduo e da sociedade. Para aprender a conviver
com a violência é preciso agarrar-se na força da comunidade, da solidariedade e da
organização natural da sociedade.
Outra importante contribuição do autor no que se refere a vida coletiva, pressupõe
a necessidade de direitos e de deveres iguais, como forma de garantir a segurança numa
determinada sociedade. As consequências da liberdade exagerada, do uso inadequado dos
deveres e direitos, são o pano de fundo para as violências sociais.

2.2.7. Sigmund Freud (1996b)

De acordo com o pensamento freudiano, os homens estão fadados a serem


infelizes ou, ao menos, a não gozar de uma felicidade plena, visto que a infelicidade é inerente
à condição humana.
Na sua obra “O mal-estar na civilização”, discute o fato da cultura, termo que o
autor iguala à civilização, produzir um mal-estar nos seres humanos, visto a existência de uma
dicotomia entre os impulsos pulsionais e a civilização, entende que a mesma é fundada no
recalque pulsional, sendo o mal-estar e sofrimento humano consequências das interdições
excessivas dos desejos de ordem sexual. Assim, afirma: “[...] não posso mais entender como
foi que pudemos ter desprezado à ubiquidade da agressividade e da destrutividade não
eróticas e falhado em conceder-lhe o devido lugar em nossa interpretação da vida”. (FREUD,
1996b, p. 142).
Como se percebe, o elemento primeiro e decisivo para a organização cultural
estão referidos à regulação e ajustamento dos relacionamentos sociais mediante a
transformação das tendências pulsionais através do mecanismo de repressão. Portanto, para o
bem da civilização, o indivíduo é oprimido em suas pulsões e vive em mal-estar. A civilização
“[...] descreve a soma integral de realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas de
nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber: o de proteger os homens
contra a natureza e o de ajustar seus relacionamentos mútuos”. (FREUD, 1996b, p. 109).
Entende que a constituição da cultura tem como condição certo nível de repressão
de dois impulsos naturais do homem: a sexualidade e a agressividade.
31

Estas não podem executar as imposições que compõem o princípio que o rege
psiquicamente, seja ele, o princípio do prazer. Ora, tal princípio busca ao mesmo tempo a
ausência de sofrimento e desprazer e a experienciação de sentimentos intensos de prazer,
propondo uma programação totalmente desconexa aos ditames culturais, que impõem de
modo coercitivo leis e costumes visando inibir a liberdade sexual do sujeito.
A limitação das possibilidades de satisfação dessas duas pulsões não se faz sem a
produção de certo mal-estar, maior ou menor, dependendo da capacidade de cada ser humano
de suportar a renúncia pulsional que lhe é exigida. Assim, na cultura, os vínculos entre os
homens acabam se tornando fontes inevitáveis de sofrimento, devido ao seu caráter artificial,
tendo em vista a disposição natural dos seres humanos, que ao se inscrever na civilização,
deparam-se com situações constantes de conflito.
Entretanto, o autor, mesmo delegando a infelicidade humana à vida em
civilização, definida pela imposição de limites e ajustamento das relações humanas, sustenta
que o afrouxamento dos laços seria sinônimo de violência, uma vez que o homem tem uma
inclinação inerente à agressividade ao que lhe é externo. Ao mesmo tempo em que a entrada
do homem na cultura funciona como impeditivo a realização do princípio do prazer, age
também como controladora da integridade humana, visto a sua disposição original e auto
subsistente à agressão.

2.2.8. David Le Breton (1997)

Le Breton traz em sua obra “Do Silêncio” importantes contribuições para o estudo
da violência no âmbito escolar, visto que analisa o silêncio também como violência.
Afirma que quando um homem se cala não deixa de se comunicar. Destaca ainda,
que não é suficiente dizer, se o outro não tiver tempo para ouvir, para assimilar, para
responder. Quando a palavra é sem presença, não há preocupação com a resposta ou com a
escuta da mensagem.
O autor entende que quando alguém está intimidado pelo seu interlocutor,
desequilibrado por uma situação que não domina, este com medo de errar, sofre com as
consequências de uma revelação desacertada, ou então, não sabe o que dizer, ficando aflito
para descobrir o que o outro espera de si. Ficar calado, reservado passa então a ser um sistema
de defesa, que muitas vezes pode ser confundido com falta de capacidade pessoal.
32

O silêncio do desprezo é muitas vezes acompanhado por um olhar que diz


muito, que deixa entender um juízo sem remissão, ostensivo. A sua intenção
é de magoar, de marcar uma altura de posição, um afastamento sem
equívocos em relação com os acontecimentos de que se supõe que o outro
está a par. Declara as hostilidades, expulsando do círculo de relações, sem
conceder à vítima a possibilidade de se defender, dando-lhe a entender que, a
partir de agora, a sua palavra deixa de ter peso, devido a sua conduta passada
ou ao boato que a sujeita à reprovação coletiva. No extremo este silêncio
equivale a um banimento da sociedade, uma recusa em reconhecer a
existência do outro. (LE BRETON, 1997, p. 87).

O autor enfatiza também sobre a violência do silêncio:

O silêncio está também ligado à falta de conversa de um indivíduo que não


arranja interlocutor, desacreditado desde o início e que, no fim, não tem
outra escolha a não ser se calar, devido a indiferença de que é tratado Forma
sonora do silêncio por recusa da escuta. (LE BRETON, 1997, p. 101).

Em suma, de acordo com os autores referenciados, a violência acompanha a


história da civilização, é inerente e faz parte da condição humana, está no interior do humano;
utiliza-se de bodes expiatórios; desloca-se do prazer à busca da excitação; podendo ser
consequência das interdições excessivas dos impulsos e desejos de ordem sexual reprimidos.
Ainda, pode ser controlada mas não eliminada, manifesta-se como doença contagiosa que
aprisiona os indivíduos, a ordem e a desordem são como as duas faces da mesma moeda:
indissociáveis; há no poder uma orientação da ordem, é um artífice da cultura e funciona
também como artefato da cultura.
Para tentar elucidar o fenômeno da violência no espaço escolar, é necessário
desvendar e compreender as premissas citadas anteriormente, sob o jugo de fazer uma análise
superficial deste fenômeno tão complexo.

2.3. Violência no Contexto Escolar

A violência escolar está intrinsecamente relacionada com a violência social, pois


sendo a escola um microcosmo social, reproduz a cultura, a tradição e os costumes, recebe
interferência, bem como também interfere no meio social. Usa de todo seu mecanismo de
reprodução das desigualdades sociais. Portanto, a escola é violenta porque a sociedade é
violenta.
33

Pensar a escola como local repleto de contradições, é pensar na relação que


ela estabelece com o global. É estar atento às questões de relação universal-
particular, nós-eles, eu-outro, dentro-fora, presença-ausência, tão
características deste tempo histórico. É pensar no currículo e nas identidades
que produz, reproduz e divulga. (NEIRA, 2009, p. 152).

A escola nada mais é que um espaço de reprodução da sociedade é o reflexo do


que se vive fora do âmbito escolar, portanto, espaço com uma heterogeneidade das práticas
agrupadas sob a denominação de violência, que ocorre em suas múltiplas dimensões.
Adentra os portões da escola, uma enorme diversidade cultural, manifestada pela
etnia, religião, sexo, idade, classe social, dentre outras. Essa diversidade traz consigo
profundas disparidades sociais, econômicas e culturais, constituindo um espaço apropriado
para a existência de relações de abuso de poder, intimidação e prepotência, utilizadas como
estratégia de autoridade para manter vítimas sob domínio e, consequentemente, estabelecendo
a violência.
Dadoun (1998, p. 99) ao se referir à violência como um dos maiores desafios do
cotidiano afirma:

Violência de um sistema educativo fundado sobre a competição, a seleção, a


discriminação, a exclusão – com a violência dramática do fracasso, que
tende quase sempre a conduzir a desvalorização de si, aos vícios de álcool e
droga, à delinquência, ao suicídio.

Os adolescentes se deparam com um contexto diversificado na escola que está


permeado de atividades, regras e valores, um ambiente onde deve ocorrer a construção de
laços afetivos e o preparo para a inserção dos indivíduos na sociedade. No entanto, a violência
dificulta esse propósito.
A adolescência é uma fase da vida que tem características próprias, delimitada
pela infância e a idade adulta, com mudanças físicas e emocionais, ampliação no campo da
socialização, evolução não linear de experiências e autonomia, inclusive no campo da
sexualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, os limites etários que
definem esta fase são 10 e 19 anos (IBGE, 2013). Embora a adolescência tenha características
específicas e marcas que a distinguem, ela é vivenciada de forma diferenciada por cada
sujeito, em cada sociedade, num determinado tempo histórico, em cada grupo social e
cultural. Portanto, a adolescência exige um olhar específico para as suas particularidades
(CAMPOS, 2011).
34

Os adolescentes, ao mesmo tempo em que experimentam mudanças biológicas,


cognitivas, emocionais e sociais, estão expostos a riscos em relação a saúde.
A exposição a diversos fatores de risco como a violência em todas as suas
nuances, acompanha a adolescência, tanto fora como dentro dos espaços escolares.
Nogueira (2005) indica como responsáveis pela violência escolar diversos
aspectos, tais como, os problemas socioeconômicos, psicanalíticos, a perda de valores na
sociedade contemporânea, má influência dos meios tecnológicos e midiáticos (televisão,
internet, videogame), ausência de referências e ideais da atual geração de crianças e
adolescentes, desestruturação familiar e moral, acelerada industrialização, impacto das
políticas neoliberais, cultura do consumo, a enorme concentração de renda, a crise ética, a
expansão das telecomunicações, o aumento da exclusão e do desemprego, além de outros.
Pressupõe-se que todos estes fatores e muitos outros ainda não detectados, tenham
relação direta com a prática de violência na sociedade e, sobretudo, na escola. Contudo, são
insuficientes para explicar e resolver este problema, aumentando os sentimentos de
insegurança, medo e incerteza que envolve toda a comunidade escolar. O que fica claro é que
toda a comunidade escolar pode ser percebida como sujeito e objeto dessa violência que se
processa no interior da escola.
Adorno (1995, p. 159-160) analisa a educação a partir dos conceitos de barbárie e
emancipação, tendo como preocupação fundamental a barbárie:

Suspeito que a barbárie existe em toda a parte em que há uma regressão à


violência física primitiva, sem que haja uma vinculação transparente com
objetivos racionais na sociedade, onde exista, portanto, a identificação com a
erupção da violência física. Por outro lado, em circunstâncias em que a
violência conduz inclusive a situações bem constrangedoras em contextos
transparentes para a geração de condições humanas mais dignas, a violência
não pode sem mais nem menos ser condenada como barbárie.

2.3.1. Apresentando Conceitos

O tema da agressividade e da violência escolar não são recentes. No entanto,


pesquisas recentes apontam para um fenômeno crescente tanto quantitativamente como
qualitativamente.
A violência sempre esteve presente na pauta da história de humanidade, tendo
como suas maiores vítimas as crianças e os jovens.
Lopes Neto (2011, p. 12-13), afirma:
35

O conceito de violência, quando relacionados às crianças e adolescentes


varia de acordo com as visões culturais e históricas, com base nos direitos e
no cumprimento de regras sociais vigentes. Portanto, a ideia de que a
violência seja uma manifestação social recente, não é real, ela é tão antiga
quanto os primeiros núcleos civilizatórios. Apesar desta constatação
histórica, não significa que devemos entendê-la e aceita-la como parte da
condição humana.

Dessa forma, trata-se de um tema de alta complexidade e polissemia, com


diversos agentes sociais envolvidos e originadores. Para desvendar o fenômeno da violência e
da agressividade nos espaços escolares faz-se necessário também considerar os aspectos
sociais, econômicos e culturais, suas implicações e impasses.
Assim, o autor conceitua violência na escola como:

[...] em seu sentido amplo, diz respeito a todos os comportamentos


agressivos e antissociais que ocorrem em ambientes relacionados à escola,
incluindo os conflitos interpessoais (estudante/estudante,
professor/estudantes etc.), danos ao patrimônio, atos criminosos (porte de
armas, tráfico de drogas, violência social etc..), entre outras práticas. A
solução para muitas destas situações depende de fatores externos, cuja
intervenção está além da competência e capacidade das entidades de ensino.
(LOPES NETO, 2011, p. 14).

É pertinente adotar a distinção feita da violência na escola, a violência à escola e a


violência da escola. Para tanto, traz-se à luz o que Charlot (2002, 432-435, grifos do autor)
afirma.

Violência na Escola - é aquela que se produz dentro do espaço escolar, sem


estar ligada à natureza e as atividades da instituição escolar, isto ocorre
quando, por exemplo, ela é invadida para decidir disputas entre grupos do
bairro ou de outros territórios.
Violência à Escola – representa um conjunto de ações ligadas à natureza e às
atividades da instituição escolar, ações de provocação, de desrespeito, de
agressão, de insulto, envolvendo alunos e/ou funcionários.
Violência da Escola – deve ser analisada como uma violência institucional,
simbólica, que as crianças e os jovens suportam por meio da forma, da
maneira como a instituição e seus membros o tratam, ou seja, mediante
manifestações muitas vezes carregadas de sutilezas, mas presentes em
palavras, formas de avaliação, regras desnecessárias, atitudes
preconceituosas. CHARLOT (2002, p. 432-435).

A violência na escola não deve ser explicada somente nos atos entre os alunos,
requer um olhar cuidadoso para os gestores, sua forma de lidar com a cultura e a maneira que
36

utilizam a violência institucional e simbólica para lidar com os conflitos. Compreender o


contexto cultural da escola é condição necessária para tratar do fenômeno da sua violência.
Sobre cultura escolar nos esclarece Schilling (2010, p. 16) que:

Os jovens também apontam que é violência “passar de ano sem aprender”. É


preciso analisar porque acontece essa desistência do professor em ensinar e a
desistência do jovem em aprender. Quando há ambas as desistências, qual
seria o objetivo da existência da escola? O acesso à escola é apenas o
começo da realização do direito humano a educação: o acesso aos bens
culturais e tecnológicos, ciência e arte, linguagens, é a forma como a escola
a realiza.

Para Bourdieu (2001), a violência não é apenas um ato praticado no sentido de


agressão física, mas a violência simbólica, sendo a ação pedagógica objetivamente
estruturada, impondo arbitrariedade cultural de um grupo de classe a outro grupo de classe.
Pressupõe-se que isso é fortemente identificado na escola brasileira.
Bourdieu e Passeron (1992, p. 140) afirmam que até em suas omissões a ação
escolar do tipo tradicional “[...] serve automaticamente os interesses pedagógicos das classes
que necessitam da Escola para legitimar escolarmente o monopólio de uma relação com a
cultura que elas não lhe devem jamais completamente”.
Para os autores, toda ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica
enquanto imposição, por um poder arbitrário, de um arbitrário cultural. “A ação pedagógica
inicial deriva seu principal recurso, sobretudo quando tenciona desenvolver a sensibilidade a
uma forma particular de capital simbólico, dessa relação originária de dependência simbólica”
(BOURDIEU; PASSERON, 2001, p. 202).
A violência simbólica parte do princípio de que a cultura simbólica ou sistema
simbólico é arbitrário, uma vez que não se assenta numa realidade dada como natural. O
sistema simbólico de uma determinada cultura é uma concessão social e sua manutenção é
fundamental para a perpetuação de uma determinada sociedade, através de interiorização da
cultura por todos os membros da mesma.
A escola, além de proporcionar a transmissão de conhecimentos de forma
sistematizada, busca criar hábitos e comportamentos de sua classe social de origem, isto
porque é necessária para a manutenção da ordem social. Nela naturalizam-se o poder com
imposições ou tentativas de conformação, predispondo os alunos a aceitarem as mesmas
relações de poder na sociedade.
Bourdieu e Passeron (1992, p. 213, grifo do autor) consideraram que:
37

Se, no caso particular das relações entre a Escola e as classes sociais, a


harmonia parece perfeita, é que as estruturas objetivas produzem os habitus
de classe, e em particular as disposições e as predisposições que, gerando as
práticas adaptadas a essas estruturas, permitem o funcionamento e a
perpetuação dessas estruturas.

Outro conceito fundamental e que nos ajuda a elucidar o locus da violência é o


conceito de campo:

Se particulariza, pois, como um espaço onde se manifestam relações de


poder, o que implica afirmar que ele se estrutura a partir da distribuição
desigual de um quantum social que determina a posição que um agente
específico ocupa em seu seio. Bourdieu denomina quantum de capital social
(BOURDIEU, 1983, p. 21, grifo do autor).

O campo traduz os valores ou formas de capital que lhe dão sustentação; a


dinâmica social no interior de cada campo é regida pelas lutas em que os agentes procuram
manter ou alterar as relações de força e a distribuição das formas de capital específico. Nesta
visão, a escola por meio de códigos comportamentais, linguísticos e intelectuais, reproduz as
ilusões necessárias ao funcionamento e manutenção do sistema, num determinado campo.
Este processo de dominação, segundo Bourdieu (2001, p. 205), oriundo da classe
dominante, faz com que o dominado aceite tacitamente esta condição:

Tal reconhecimento prático assume, muitas vezes, a forma da emoção


corporal (vergonha, timidez, ansiedade, culpabilidade), em geral associada à
impressão de uma regressão a relações arcaicas, aquelas características da
infância e do universo familiar. Tal emoção se revela por manifestações
visíveis, como enrubescer, o embaraço verbal, o desajeitamento, o tremor,
diversas maneiras de se submeter, mesmo contra a vontade e a contragosto,
ao juízo dominante, ou de sentir, por vezes em pleno conflito interior e na
“fratura do eu”, a cumplicidade subterrânea mantida entre um corpo capaz
de desguiar das diretrizes da consciência e da vontade e a violência das
censuras inerentes às estruturas sociais.

Para Oliveira e Martins (2007, p. 97, grifo do autor) as relações sociais


estabelecidas no espaço escolar trazem no seu bojo, manifestações de violência:

A violência que se configura dentro do espaço escolar, manifestada através


do comportamento dos alunos, lança professores diante da confusão da
possibilidade de um ensino libertador (caso seja esta a sua proposta) e de
uma realidade insuportável, na qual os educadores recorrem a expedientes
autoritários e até mesmo violentadores, a fim de manter a “ordem geral”. São
38

estabelecidas regras, controles, punições e dominações para disciplinar os


alunos em estados de rebeldia.

A escola impõe o arbitrário cultural, pois os conteúdos, métodos de trabalho,


avaliação, são impostos pelos agentes como importantes e merecedores de serem ensinados.
Portanto, a violência simbólica é alimentada pela ação pedagógica. Neste sentido apresenta-se
também a contribuição de Stoer (2008) que afirma:

A ação pedagógica reproduz o arbitrário cultural das classes dominantes ou


dominadas. A ação pedagógica (institucionalizada) da escola reproduz a
cultura dominante e, através desta, a estrutura de relações de força dentro de
uma formação social, possuindo o sistema educativo dominante o monopólio
da violência simbólica legítima. Todas as ações pedagógicas praticadas por
diferentes classes ou grupos sociais apoiam objetiva e indiretamente a ação
pedagógica dominante, porque esta última define a estrutura e o
funcionamento do mercado econômico e simbólico.

Para Adorno (1995, p. 104):

A imagem do professor sendo aquele que é fisicamente mais forte e que


castiga o mais fraco também afeta a vantagem do saber do professor frente
ao saber de seus alunos, que ele utiliza sem ter direito para tanto, uma vez
que a vantagem é indissociável de sua função, ao mesmo tempo em que
sempre lhe confere uma autoridade de que dificilmente consegue abrir mão.

Neste caso, o dominado não percebe a dominação, nem que é vítima desse
processo. Opostamente, acha isso natural e legitima o processo.
As escolas, ao ignorarem a origem dos seus alunos, transmitindo o ensino padrão
numa ação pedagógica, que perpetua a violência simbólica, agem arbitrariamente. O conteúdo
da mensagem transmitida e o poder que instaura a relação pedagógica é exercido com
autoritarismo. Segundo Durkheim (1972, p. 53-54) exige-se na prática que o professor tenha
autoridade:
A educação deve ser um trabalho de autoridade. Para aprender a conter o
egoísmo natural, subordiná-lo a fins mais altos, submeter os desejos ao
império da vontade, conformá-los em justos limites, será preciso que o
educando exerça sobre si mesmo um grande trabalho de contenção. Ora, não
nos constrangemos e não nos submetemos senão por uma destas razões: ou
por força da necessidade física, ou porque o devamos moralmente. Isso
significa que a autoridade moral é a qualidade essencial do educador.

Abramovay (2002) afirma que são manifestações de violência simbólica: abuso do


poder, baseado no consentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de
39

autoridade, verbal e institucional como a marginalização, discriminação e práticas de


assujeitamento utilizadas por instituições diversas que instrumentalizam estratégias de poder.
Também ressalta a realidade do cotidiano das escolas públicas brasileiras em exemplos de
violência institucional, como alunos que relatam que há professores que têm dificuldade de
dialogar com eles, humilhando-os e ignorando completamente seus problemas, não querendo
nem sequer escutá-los. Outros tratam mal os alunos, recorrem a agressões verbais e os
expõem ao ridículo quando estes não entendem algo ou quando não conseguem responder a
uma pergunta.
Para um melhor entendimento da violência simbólica no meio escolar pretende-se
explicitar o conceito de capital cultural apresentado por Nogueira e Nogueira (2004, p. 39):
“[...] os indivíduos normalmente não perceberiam que os bens culturais tidos como superiores
ou legítimos ocupam essa posição apenas por terem sido impostos historicamente pelos
grupos dominantes”.
O estado capitalista é o detentor de força no controle das relações ocorridas na
escola, fundamentado na divisão de classes sociais e na divisão social do trabalho, bem como
nos meios de produção, representa uma forte relação de poder em relação à escola.
Supostamente, para o Estado, a escola trata a todos igualitariamente, com as mesmas
condições e do mesmo modo, obedecem às mesmas regras e, supostamente, tem as mesmas
chances. Todavia, chances iguais, para desiguais é um tratamento desigual, que perpetua a
desigualdade, conforme Mendonça (1996, p. 2, grifo do autor):

A escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência


de capitais. “A mais profunda e estrutural modalidade de violência
perpetrada pelo Estado é a violência simbólica, cujo modus operandi se dá à
sombra da permanente naturalização de seus objetos e/ou alvos,
configurando o que se poderia chamar de um permanente “estado de
violência”, onde o que está em jogo não é a integridade física de indivíduos
e/ou grupos, mas sim a integridade de sua participação cultural”.

O Estado como detentor do monopólio, coloca em dúvida a igualdade de


oportunidade e no sistema escolar. Sobre o equilíbrio das relações entre o Estado e o
indivíduo afirma Durkheim (2002, p. 88):

O indivíduo é produto da sociedade como um todo e sua existência só se


torna real mediante a atuação do Estado. Entretanto, é somente com um
equilíbrio de forças entre os grupos secundários e o Estado que o indivíduo
pode existir de fato, afinal, é desse conflito de forças sociais que nascem as
liberdades individuais.
40

A violência simbólica dentro da escola é sofrida multilateralmente,


cotidianamente, sendo parte integrante das preocupações dos envolvidos com o do processo
educacional.
A escola como reprodutora da cultura e, consequentemente de suas contradições,
não tem sido poupada das manifestações de violência, principalmente as ocorridas entre pares
na forma de bullying. O avanço das novas tecnologias de comunicação e a massificação de
seu acesso, inclusive nos espaços escolares, propiciou um formato de violência ainda mais
perverso o cyberbullying. Este fenômeno ataca principalmente crianças e adolescentes.
41

3. BULLYING

Bullying é uma palavra inglesa, não havendo termo equivalente na língua


portuguesa. Bully é traduzido como brigão, valentão, tirano: como verbo significa tiranizar,
oprimir, amedrontar, ameaçar, intimidar, maltratar. O termo é utilizado para identificar a
forma mais frequente de violência utilizada entre crianças e adolescentes, por elas próprias.
Segundo Silva (2010, p. 21):

[...] atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem


motivação evidente, adotadas por um ou por mais estudantes contra outro
(s), causando dor e angústia, e executada dentro de uma relação desigual de
poder, tornando possível a intimidação da vítima.

Por sua vez, Fante (2005, p. 28-29) afirma que:

Bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que


ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra
outro (s), causando dor, angústia e sofrimento, gozações que magoam
profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam,
ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os a exclusão,
além de danos físicos e morais e materiais, são algumas das manifestações
do comportamento bullying.

Percebem-se nos ambientes escolares diversas formas de violência, entretanto, a


que vem ganhando destaque nos últimos anos é o bullying, considerado um fenômeno
violento que se dá em todas as escolas, uma crueldade deliberadamente voltada aos outros,
com a intenção de ganhar poder ao infringir sofrimento psicológico e/ ou físico. Pela sua
dimensão e gravidade tornou-se um problema endêmico nas escolas de todo o mundo.
Atualmente, reconhece-se que o bullying, como fenômeno social, pode surgir em
diversos contextos, como parte de problemas de relações pessoais entre adultos, jovens e
crianças em diferentes locais, como: escola, ambiente familiar, trabalho, prisões, asilos de
idosos, clubes e parques, dentre outros.
Assim, o bullying não é fenômeno exclusivo da escola, apenas existem condições
que favorecem sua ocorrência dentro do espaço escolar. Igualmente, é um fenômeno social
que acaba sendo visto inicialmente na escola por ser o segundo ambiente de socialização em
nossa cultura, excetuando-se a família que a ela é concedida a primeira e mais importante
geratriz dos valores e princípios do ser humano.
42

A socialização das crianças e adolescentes é acentuada nos espaços escolares,


sendo estes um “laboratório experimental” das atitudes sociais e psicológicas dos alunos. Na
maioria dos casos, a violência que é protagonizada no espaço escolar é transportada para a
realidade social e vice-versa.
O bullying ocorre em todos os estabelecimentos educacionais conforme
explicitam Middelton-Moz e Zawadski (2008, p. 78):

[...] escolas privadas, públicas, religiosas, internatos, escolas técnicas,


faculdades e universidades. O bullying acontece nas escolas onde os alunos
tem alto desempenho em testes nacionais e em comunidades que têm
famílias educadas, com ambos os pais presentes, baixas taxas de divórcio,
excelente participação dos pais e situação econômica privilegiada. O
fenômeno acontece também em escolas em que os alunos têm baixo
desempenho em provas nacionais e em comunidades com alto índice de
divórcios, com famílias com apenas um dos pais presentes e com situação
econômica difícil.

É um equívoco acreditar que o bullying está no extremo inferior do espectro


econômico. Ele está presente também nas classes sociais mais abastadas, como afirmam os
autores:
Muitas vezes fazemos vistas grossas para os casos de agressão em bairros
das classes médias e altas. Às vezes estas crianças são cuidadas por babás
nessas comunidades. Ali, todo mundo parece perfeito, com modos perfeitos
e roupas de grifes. Mas também há depressão e ansiedade, violência por traz
das portas fechadas, medo do fracasso, forte concorrência, jovens bulímicos
e anoréxicos, alta taxa de uso de drogas, abuso de álcool e suicídio.
(MIDDELTON-MOZ; ZAWADSKI, 2007, p. 78-79).

Algumas comunidades trazem o sofrimento do lado de fora, outras escondem. Os


recentes casos de assassinatos nas escolas de classe média e alta ajudam a quebrar este mito e
comprovam que o bullying pode estar em todas as camadas sociais.
O ambiente escolar proporciona relacionamentos duradouros, convivência
cotidiana, muitas vezes os alunos estudam na mesma turma anos a fio, isso propicia os atos
agressivos repetitivos estabelecidos num espaço de tempo e com uma frequência definida.
Esse é um dos fatores que faz o bullying se manifestar principalmente na escola.
No sentido de uma melhor compreensão do bullying, parte-se do conceito de
desrespeito. Alencar e La Taille (2007) conceituam respeito como o reconhecimento do outro
como sujeito de direitos e dotado de intrínseca dignidade, acrescentando que não há nada mais
inverso ao respeito do que a humilhação, nas suas mais variadas formas ou maneiras. A
humilhação ou o desrespeito, no dizer dos autores,
43

[...] pode destruir o auto respeito e, portanto, acabar tornando inviável a


construção do respeito entre as pessoas, consequências igualmente
prejudiciais tanto ao desenvolvimento de crianças e adolescentes quando aos
relacionamentos interindividuais e sociais (ALENCAR; LA TAILLE, 2007,
p. 4).

Middelton-Moz e Zawadski (2007, p. 21) conceituam o bullying como:

[...] atos, palavras ou comportamentos prejudiciais intencionais e repetidos.


Os comportamentos envolvidos no bullying são variados: palavras ofensivas,
humilhação, difusão de boatos, fofoca, exposição ao ridículo, transformação
em bode expiatório e acusações, isolamento, atribuição de tarefas pouco
profissionais ou áreas indesejáveis no local de trabalho, ameaças, insultos,
sexualização, ofensas raciais, étnicas ou de gênero.

De acordo com Silva (2006), um dos pioneiros na utilização desse termo foi Dan
Olweus, professor e pesquisador da Universidade de Bergen, na Noruega, ao estudar
tendências suicidas em adolescentes. Já no início dos anos 1970, ele investigava o problema
dos agressores e suas vítimas na escola, embora somente na década de 1980, após três
adolescentes entre 10 e 14 anos cometeram suicídio, aparentemente provocados por situações
de bullying, as instituições passaram a demonstrar interesse pelo tema.
A expressão define a violência e sua articulação com a escola, decorrente dos
efeitos nocivos sobre o cotidiano escolar das crianças e adolescentes que se tornam vítimas
dele, do comprometimento demonstrado por alguns alunos no processo ensino aprendizagem
e das consequências desestruturantes sobre todo o espaço educativo. O bullying não se
caracteriza como uma violência que atinge o patrimônio, mas as pessoas; também não se trata
somente de violência física, trata-se de um modo velado de exercê-la, nem sempre deixando
vestígios para criminalizá-las.
A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência
– ABRAPIA enfatiza no conceito do bullying as relações de poder que estão em jogo. As
atitudes agressivas, intencionais, deliberadas e conscientes que visam causar dor, sofrimento,
perseguição e exclusão são adotadas por um indivíduo ou um grupo, na sua maioria composta
de pessoas com força física, mais idade e alto poder de persuasão, contra outros indivíduos ou
grupos mais “fracos”.
Silva (2006) ressalta o caráter temporal do bullying, afirmando que ele tem
continuidade no tempo e não acontece de forma esporádica. As vítimas estão marcadas,
44

visadas e vigiadas pelos agressores, os quais, quando agridem, sabem exatamente o que estão
fazendo e como farão.
Nas palavras de Pereira (2002, p. 18, grifo do autor):

[...] é a intencionalidade de fazer mal e a persistência de uma prática a que a


vítima é sujeita o que diferencia o “bullying” de outras situações ou
comportamentos agressivos, sendo três os fatores fundamentais que
normalmente o identificam:
1) o mal causado a outrem não resultou de uma provocação, pelo menos
por ações que possam ser identificadas como provocações;
2) as intimidações e a vitimização de outros têm caráter regular, não
acontecendo apenas ocasionalmente; e
3) geralmente os agressores são mais fortes (fisicamente), recorrem ao uso
de arma branca, ou tem um perfil violento e ameaçador. As vítimas
frequentemente não estão em posição de se defenderem ou de procurar
auxílio.

Lopes Neto (2011) relaciona diversas ações que podem ser entendidas como atos
de bullying, desde que executadas de forma repetida:

Apelidar Ofender Zoar Encarnar Gozar


Sacanear Humilhar Intimidar Debochar Encarnar
Aterrorizar Amedrontar Tiranizar Dominar Subjugar
Ignorar Ser indiferente Excluir Discriminar Isolar
Dar um gelo Fazer sofrer Perseguir Ridicularizar Assediar
Ameaçar Agredir Bater Injuriar Chutar
Empurrar Derrubar Ferir Constranger Vexar
Oprimir Quebrar Violentar Roubar Furtar
pertences
Quadro 1: Atos de bullying
Fonte: Lopes Neto (2011, p. 21)

Acrescenta-se ainda Lopes Neto (2011) que se deve levar em consideração os


sentimentos negativos mobilizados e as sequelas emocionais vivenciadas pelas vítimas do
bullying, por isso é considerado um problema de saúde pública e atinge de 20% a 40% da
população de estudantes e exige demandas crescentes de atenção e intervenção.
O autor afirma ainda que em suas pesquisas:

40,5% dos estudantes entrevistados admitiram estar diretamente envolvidos


em ato de bullying, seja como autores, seja como alvo;
57,5% testemunharam atos de bullying entre seus colegas;
71,6% dos alvos admitem sofrer bullying o ano todo ou há muitos anos;
O local de maior incidência do bullying é a sala de aulas. (LOPES NETO,
2011, p. 25).
45

Lopes Neto (2011) indica que recentes pesquisas constatam que a maior
incidência de bullying se encontra na faixa de 10 a 13 anos, momento em que os adolescentes
têm maior necessidade de aceitação de seu grupo. Os meninos mais novos utilizam mais a
modalidade física do bullying, se comparado aos mais velhos. Os apelidos correspondem a
50% dos atos de bullying. Meninas adotam mais a forma indireta de bullying. Os autores do
bullying são mais cruéis com os alvos do mesmo sexo do que com o sexo oposto.
A atual formatação de estrutura social nos coloca diante de um quadro de
violência como os assassinatos em massa ocorridos nas instituições escolares, primeiramente
nos Estados Unidos, depois na Europa e agora também como fenômeno brasileiro.

Em casos extremos, algumas vítimas preferem suicidar-se a continuar


aguentando tal perseguição. É o caso que vem sendo divulgado pela mídia de
suicídio de alunos nas escolas, e até mesmo massacre em massa, como foi o
caso da Escola Colombine, em Littleton, Colorado em 1999, onde dois
adolescentes mataram 12 colegas, um professor e deixaram dezenas de
feridos. [sic.]. (FANTE, 2005, p. 80).

A mídia nacional e internacional tem noticiado à reação de jovens e adolescentes,


que adentram as escolas com armas atirando contra colegas e professores, como se quisessem
reagir aos que nada fizeram quando estes foram submetidos a situações humilhantes no
espaço escolar. Segundo investigação do serviço secreto norte-americano 75% destes jovens
eram vítimas de violência. Parece que o real desejo deles era “matar a escola”, esta instituição
que não os protegeu do calvário cotidiano. Os casos mais notórios são apresentados por Lopes
Neto (2011, p. 27-28):

1977 – WEST PA DUCAH, KENTUCKY, USA


Autor - 14 anos (3 mortos e 5 feridos)

1998 – JONESBORO, Arkansas, USA


Autores – 11 a 13 anos (5 mortos)

1998 – SPRINGFIELD, OREGON, USA


Autor – 17 anos (2 mortos)

1999 – ESCOLA COLUMBINE, LITTLRTON, COLORADO, USA


Autores – 17 e 18 anos (13 mortes e dezenas de feridos). Suicidaram-se em
seguida.

1999 – TABER, CANADÁ


Autor – 14 anos (1 morto)
46

2003 – TAIUVA, SÃO PAULO, BRASIL


Autor – 18 anos (8 feridos). Suicidou-se em seguida.

2004 – REMANSO, BAHIA, BRASIL


Autor – 17 anos (2 mortos e 3 feridos). Tentativa de suicídio.

2004 – CARMEN DE PATAGONES, ARGENTINA


Autor – 15 anos (4 mortos e 5 feridos)

2007 – UNIVERSIDADE DE VIRGINEA, TECH, USA


Autor – 19 anos (32 mortos). Suicidou-se em seguida.

2011 – REALENGO, RIO DE JANEIRO, BRASIL


Autor – 23 anos – (13 mortos). Morreram 10 meninas e 3 meninos, todos
com idade entre 12 e 14 anos. Após ser baleado por um policial, suicidou-se
em seguida.

No final do ano de 2012, mais um caso típico de bullying invade o noticiário


internacional:

Uma notícia trágica chocou o Canadá no início de outubro. Uma jovem


chamada Amanda Todd, de apenas 15 anos de idade, se suicidou após ter
sido vítima, durante anos, de agressões feitas por colegas. O motivo dos
ataques: aos 12 anos, ela mostrou os seios pela câmera do computador a um
desconhecido com quem conversava em uma sala de bate-papo da internet.
O homem gravou a cena e a enviou para colegas da estudante, que passaram
a maltratá-la.
Acuada, Amanda foi transferida de escola por mais de uma vez e chegou a
mudar de cidade. A história, entretanto, repetia-se: as imagens circulavam
pela rede e entre os colegas, que perseguiam a adolescente e a atacavam
psicológica e até fisicamente. Sem apoio e em depressão, a menina tentou
suicídio no início deste ano. Pouco depois, publicou um desabafo final no
youtube. Em um vídeo com placas escritas à mão, ela contou em detalhes sua
história e tornou público o sofrimento e a solidão que sentia. Cinco semanas
depois, a garota foi encontrada morta em seu quarto. (REVISTA ESCOLA,
2012).

A falta de consciência faz com que se fique surdo e cego em relação à dor
vivenciada pelos alunos que sofrem bullying, como consequência:

[...] nossos jovens muitas vezes se tornam prisioneiros de sua tristeza e


expressão, enxergando poucas possibilidades de mudanças e nenhuma saída.
Os que tentaram suicídio frequentemente nos dizem que não tentaram se
matar porque queriam estar mortos, e sim porque não queriam continuar a
viver como estavam vivendo (MIDDELTON-MOZ; ZAWADSKI, 2007, p.
19).
47

Percebe-se que a condição apresentada por jovens que chegam ao extremo de


atentar contra a própria vida dificilmente permitirá, com certeza, identificar o tamanho da dor
sentida. Assim, um segredo se instaura, sem que se saiba ao certo como se constituiu.
Diferentemente da violência física, que salta aos olhos, chocam menos, por não
terem consequências tão aparentes quanto um braço quebrado ou um olho roxo. Contudo, a
violência muda, implícita, camuflada, velada, pode ser tão ou mais cruel do que a física, pois
se manifesta por meio da repressão e da privação do direito de ser e de pensar. Na
compreensão de Camacho (2001, p. 128, grifos do autor):

[...] a violência, na sua forma explícita de manifestação nas escolas, é


combatida, criticada e controlada por meio de punições. Entretanto, a
violência mascarada passa impune, ou porque não é percebida como tal e é
confundida com a indisciplina, ou porque é considerada pouco grave, isenta
de consequências relevantes, ou, finalmente, porque não é vista. Essa
violência pode se tornar perigosa porque não é controlada por ninguém, não
possui regras ou freios e porque passa a ocorrer constantemente no cotidiano
escolar. De tanto acontecer, ela passa a ser banalizada e termina por ser
considerada “naturalizada”, como se fosse algo “normal”, próprio da
adolescência. A banalização da violência provoca a insensibilidade ao
sofrimento, o desrespeito e a invasão do campo do outro.

O bullying apresenta diferentes formas de agressão e diferentes tipos de danos


podem ocorrer. Segundo Lopes Neto (2011, p. 23) as formas e tipos são as seguintes:

Bullying verbal: apelidar, falar mal e insultar;


Bullying moral: difamar, disseminar rumores e caluniar;
Bullying sexual: assediar, induzir ou abusar;
Bullying psicológico: ignorar, excluir, perseguir, amedrontar, aterrorizar,
intimidar, dominar, tiranizar, chantagear e manipular;
Bullying material: destroçar, estragar, furtar, roubar;
Bullying físico: empurrar, socar, chutar, beliscar, bater; e
Bullying virtual ou cyberbullying: divulgar imagens, criar comunidades,
enviar mensagens e invadir privacidade, com o intuito de assediar a vítima e
expô-la a situações vexatórias.

Todos estes gêneros e tipos de bullying podem ou não ser executados


singularmente ou de maneira estanque. Normalmente são utilizados vários tipos para a (s)
mesma (s) vítimas (s). Outro fator que influencia o tipo de bullying a ser utilizado são as
idades e os contextos escolares e a capacidade psicomotora e social do agressor.

3.1. Bullying, Brincadeiras e Suas Distinções


48

O fenômeno bullying com frequência é confundido com as brincadeiras infantis


pelos diversos atores do ambiente escolar, porém, estas diferenças são enormes, já que o
mesmo tornou-se um problema endêmico nas escolas de todo o mundo. Contudo, passa
despercebida pela comunidade escolar, seja por desconhecimento, por descaso ou medo do
enfrentamento, como explicita Fante (2005, p. 29) “[...] um comportamento cruel intrínseco
nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de
diversão e prazer, através de “brincadeiras” que disfarçam o propósito de maltratar e
intimidar”.
Ocorre uma confusão entre a compreensão do que é o bullying e do que é uma
brincadeira infantil. Quando uma criança se queixa de ser humilhada ou perseguida, os
responsáveis tendem a interpretar como brincadeira, dizendo que é um comportamento
passageiro, recomendando que a vítima não ligue. O bullying não pode ser considerado
brincadeira, visto que, como afirma Robles (2007, p. 10):

[...] a brincadeira é uma atividade ou ação própria da criança, voluntária,


espontânea, delimitada no tempo e no espaço, prazerosa, constituída por
reforçadores positivos intrínsecos, com um fim em si mesma e tendo uma
relação íntima com a criança. É importante ressaltar que o brincar faz parte
da infância, porém, em várias ocasiões, os adultos (pais ou professores)
propõem determinadas atividades para as crianças que parecem não cumprir
os critérios acima discutidos, mas que são chamadas de brincadeiras pelos
próprios adultos. Se a atividade é imposta ou se parece desagradável para a
criança, tudo indica que não se trata de uma brincadeira, mas de qualquer
outra atividade.

“O bullying é soma de comportamentos intencionais e repetitivos, ou seja, são


premeditados, não são passageiros” (MIDDDELTON-MOZ; ZAWADSKI, 2007, p. 78).
No entendimento de Costa, Pedrini e Kunz (2013, p. 519):

O brincar é cultural para alguns, social para outros ou ainda psicológico para
um grande grupo de pesquisadores. Somente aqueles que pesquisam e
convivem com crianças descobrem que o brincar é individual, cultural,
universal, social, natural, corporal, emocional, enfim total.

As brincadeiras estão incorporadas nas teias culturais da infância, com elas as


crianças aderem aos costumes e as tradições, contribuindo para o despertar da criatividade, da
coordenação motora, das percepções dos sentidos, da concentração, da imaginação. Por meio
delas a criança aprende a compreender o mundo ao seu redor, de maneira lúdica e prazerosa e,
se desenvolver emocional, cognitiva e socialmente. A socialização deve se dar num ambiente
49

ético e humanizado, onde impere o respeito à diversidade cultural, propiciando que a criança
crie identidade com a cultura da escola.
Garanhani (2002, p. 109) afirma que “[...] o corpo em movimento constitui a
matriz básica da aprendizagem pelo fato de gestar as significações do aprender, ou seja, a
criança transforma em símbolo aquilo que pode experimentar corporalmente, e seu
pensamento se constrói”.
Com base nessa afirmação, pode-se concluir que a criança submetida ao bullying,
se recolhe, se retrai, desperdiçando sua capacidade de experiências corporais, seu pensamento,
o livre brincar, portanto, diminui sua capacidade de se desenvolver integralmente.
Tanto os adultos como as crianças, a partir do brincar espontâneo e do movimento
livre, dialogam, interagem e percebem o mundo, a si e aos outros, permitindo viver o presente
de forma mais criativa, intensa e plena. Brincar é uma necessidade natural da criança, nela
exerce sua liberdade de decidir sobre suas realizações, criando sentidos e significados no que
realiza. É uma necessidade básica da infância e também da adolescência.

Para algumas crianças o simples fato de poder brincar em um espaço seguro,


permissivo, acolhedor e confirmador com aquilo que ela queira escolher, da
forma como ela escolher, já é o suficiente para promover as reconfigurações
necessárias ao bem estar e ao resgate de um funcionamento saudável na sua
interação com o mundo. (AGUIAR, 2005 apud COSTA; PEDRINI; KUNZ,
2013, p. 518).

Este espaço seguro, saudável, acolhedor e criativo, deve ser garantido na escola
para todos, independentemente de cor, etnia, sexo, classe social, dentre outras diferenças
culturais. As ações de bullying se diferenciam da brincadeira, quando não o fazem de objeto
de brincar, impedem uma relação saudável, necessária para a aprendizagem.
O brincar é o ato mais espontâneo, livre e criativo e, por isso, é para a criança uma
realização plena para o desenvolvimento integral de seu ser. Deveria ser entendido pelos
adultos como algo sagrado para a criança. Impedir esta possibilidade é, segundo Kunz (2010),
uma “Lebensentzug” (com base em Zur Lippe, 1987), extração de vida sem morrer.
Esta “extração da vida sem morrer” pode levar ao desejo real de morrer, como tem
sido alardeado pela mídia nos constantes casos de jovens que se suicidam ao sofrer bullying.
Neste caso, o suicídio é o encontro entre a “intenção e gesto”.
As brincadeiras acontecem de forma natural e espontânea entre os alunos. Eles
brincam, “zoam”, colocam apelidos uns nos outros, tiram “sarro” dos demais e de si mesmos,
50

dão muitas risadas e se divertem. As brincadeiras normais e sadias são aquelas em que todos
se divertem (SILVA, 2010).
Brincando é que a criança se relaciona com o mundo, com os outros e consigo
mesma, é essencialmente sem intencionalidade, o que vale é o prazer e o significado da ação
do brincar.
Maturana e Verden-Zöller (2004) consideram que:

A brincadeira é uma atitude fundamental e facilmente perdível, pois requer


total inocência. Chamamos de brincadeira qualquer atividade humana
praticada em inocência, isto é, qualquer atividade realizada no presente e
com atenção voltada para ela própria e não para seus resultados.
(MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004, p. 231).

Na classificação do brincar, Costa, Pedrini e Kunz (2013, p. 520) consideram-na


“[...] como uma atividade simbólica onde se desenvolve um tipo de percepção, abstração e
internalização de relações especialmente cognitivas e que pode influenciar o relacionamento
da criança com o mundo, com o outro e consigo mesmo”.
A criança que sofre bullying, em geral, perde a espontaneidade e a alegria de
participar de uma brincadeira criativa, ela precisa se encontrar na brincadeira, achar seu lugar,
como uma participante ativa, com força e prazer de decidir, de mudar, enfim, de inventar e
criar. O brincar, em suma, não pode ser um movimento de humilhação e submissão dos mais
fracos pelos mais fortes.
Para Kunz (2009), o que torna um ser humano criativo certamente é sua
capacidade de diálogo com o mundo, com os outros e consigo mesmo. O momento em que
este diálogo se inicia é na infância, com o seu “brincar e se-movimentar”. A criança se
expressa pelo movimento e o movimento possibilita que ela questione a realidade de vida e,
assim, dando liberdade a essa importante expressividade e diálogo da criança que ela se forma
como um ser de autonomia e criatividade.
O bullying é uma “brincadeira” repleta de segundas intenções e de perversidades,
que se tornam verdadeiros atos de violência que ultrapassam os limites da suportabilidade.
Quando apenas uns se divertem à custa dos outros que sofrem, isto ganha outra conotação,
bem diferente de um simples divertimento. Nesta conotação específica usa-se o termo
bullying escolar, que atinge todos os atos de violência (física ou não) que ocorrem de forma
intencional e repetitiva contra um ou mais alunos, impossibilitando de fazer frente às
agressões sofridas.
51

Ser alvo de bullying provoca sentimentos intensos de medo e vergonha,


aumenta a vulnerabilidade, abaixa a autoestima e leva à ansiedade, à
depressão e a sensações de impotência que costumam aumentar a
vitimização. Infelizmente, as vítimas se culpam pelo comportamento do
bullye, muitas vezes, outros também culpam a vítima (MIDDELTON-MOZ;
ZAWADKI, 2007, p. 19, grifo do autor).

O resultado é um sentimento de inferioridade diante dos demais colegas, muito


diferente da sensação de prazer possibilitada pela brincadeira. É a perda da possibilidade do
desenvolvimento da autonomia necessária para circular no mundo.
Ainda na compreensão de Midddelton-Moz e Zawadski (2007, p. 79, grifos do
autor):

Algumas pessoas têm a impressão que o bullying é um comportamento


normal e aceitável, que as crianças aprenderão quando crescerem. Elas
dizem coisas como “depois passa”, “é coisa de criança”, “ele é só
esquentando”, “é só não dar bola que passa”. Não passa.

Quando as brincadeiras não são praticadas de maneira adequada podem trazer


impactos irreparáveis ao psiquismo e a vida social das vítimas. O bullying deixa marcas
traumáticas a todos seus protagonistas (vítimas, agressores e espectadores), causando
consequências sociais, emocionais e psicológicas. Moreira (2010) argumenta a diferença da
dor moral e da dor física:

A dor moral está espalhada por todo o corpo, porque sua sede é o corpo
emocional, então a dor moral é a dor da alma. Quem sofre qualquer tipo de
constrangimento, humilhação, injustiça, agressão moral e acusações falsas,
traz no olhar e na expressão corporal o reflexo da dor sentida na alma.
(MOREIRA, 2010, p. 138).

O brincar de maneira expressiva e intencional, proporciona à criança condições de


se desenvolver e se apropriar de elementos da realidade através da compreensão dos seus
significados, no entanto, o bullying alija o sujeito do seu direito de brincar e conviver,
eliminando o sentimento de pertencimento.

3.2 Bullying, Indisciplina e Suas Distinções

O bullying e a indisciplina na escola são fenômenos distintos, porém sua diferença


não é tão simples, em função das violências se tornarem maleáveis, frágeis e difíceis de serem
52

definidas. Muitas vezes, tais fenômenos se inter-relacionam e se confundem, com agressão e


indisciplina, colaborando para que a violência entre pares acabe se naturalizando.
Percebe-se que grande parte dos profissionais de educação não sabe distinguir
alunos agressivos, de indisciplinados e de violentos, arriscando “pseudodiagnósticos” e isso,
em si, contribui para a dissimulação do próprio fenômeno, dificultando sua delimitação e
estudo. Os tênues limites entre o que se julga indisciplina e o que caracteriza a violência são
cada vez mais invisíveis.
Diante disso, torna-se necessário elucidar os conceitos para que os mesmos sejam
reconhecidos e abordados de acordo com os aspectos constitutivos.
O termo indisciplina se modificou com o caminhar da história. Apresenta
diferentes expressões atualmente, tornou-se mais complexa e “criativa”. “Para os professores,
parece ficar cada vez mais difícil de equacionar e resolver o problema de um modo efetivo”
(GARCIA, 1999, p.103).
Para os professores, em alguns momentos, a indisciplina é entendida como um
conjunto de determinadas contrariedades no cotidiano de suas práticas pedagógicas,
resultantes de rupturas efetuadas por alunos, tanto em relação aos acordos formais da escola,
quanto no que diz respeito às expectativas sobre a conduta na escola. Por exemplo, desordens,
ofensas verbais, atitudes de grosseria, enfim, aquilo que se caracteriza de forma geral, como
“falta de respeito”.
Charlot (2002) denomina esse tipo de “indisciplina”, como incivilidade. Tais
incivilidades se referem a condutas que se contrapõem às regras da boa convivência.
Garcia (2006, p. 4) também aborda o conceito de incivilidades, afirmando que
estas:

[...] englobam comportamentos desafiantes que rompem regras e esquemas


da vida social, sejam tácitos ou explicitados contratos sociais. Mas as
chamadas incivilidades não rompem, necessariamente, com acordos, regras e
esquemas pedagógicos. Antes, rompem com expectativas do que pode estar
tacitamente esperado como boa conduta social. Destaca-se entre as
incivilidades reportadas nas queixas usuais dos professores, a falta de
respeito”. Essa alegação, em particular, sugere a ocorrência em sala de aula,
de práticas de incivilidade na forma de insensibilidade aos direitos de cada
um de ser respeitado como pessoa.

Na tentativa de elucidação dos conceitos de indisciplina e violência é necessário


conhecer em que categoria se insere. Tem-se citado, juntamente com a indisciplina, o
vocábulo incivilidade. Este é um termo pouco conhecido, mas que precisa ser compreendido.
53

Garcia (2006, p. 4, grifos do autor) afirma que:

As incivilidades são rupturas das regras e expectativas tácitas de


convivência, dos pactos sociais que perpassam as relações humanas e cujo
sentido muitas vezes supomos seja de domínio público desde a infância.
Assim, a conduta incivilizada é criticada pelos professores como ausência da
influência educativa da família, por suposta responsável pela socialização
primária dos seus filhos e pela sua formação nos esquemas básicos de
civilidade. Assim, a queixa comum entre muitos professores sobre alunos
que vêm à escola “sem limites” trazidos de casa, poderia ser traduzida como
uma queixa sobre a ausência de padrões culturais básicos de civilidade
derivados de alguma lacuna formativa devido à família.

Contudo, o desafio é estabelecer o limiar entre indisciplina e violência. Nota-se


que por muito tempo havia pudor na utilização do termo “violência” escolar. Soava pesado
demais, além do mais, questões de violência estavam sempre relacionadas aos casos de
indisciplina que se faziam presentes na escola.
Este panorama tem se modificado a partir da década de 90 com o grande aumento
nos estudos sobre violência, principalmente na vertente bullying e na ramificação para o
cyberbullying no contexto escolar, em virtude da gravidade e proporção que vem tomando.
Chauí (2002) descreve a violência como o uso da força física e do
constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao
seu ser. A violência é violação da integridade física e psíquica, da dignidade humana de
alguém.
Segundo Ferreira (1999) o termo indisciplina está intimamente relacionado ao
conceito de disciplina e tende a ser definido pela negação ou privação desta, ou pela desordem
proveniente da quebra de regras estabelecidas. Indisciplina refere-se, portanto, ao
procedimento, ato ou dito, contrário à disciplina. Sendo assim, indisciplinado é aquele que se
insurge contra a disciplina; rebelde; que não tem disciplina.
Latterman (2000, p. 37) salienta que quando se procura conhecer um pouco sobre
incivilidade, termo tão pouco utilizado, encontra-se que:

Por incivilidade se entende uma grande gama de fatos indo de indelicadeza,


má criação das crianças ao vandalismo, passando pela presença de
vagabundos, grupos juvenis. As incivilidades mais inofensivas parecem
ameaças contra a ordem estabelecida transgredindo códigos elementares da
vida em sociedade, o de código de boas maneiras. Elas podem ser do
barulho, sujeira, impolidez, tudo que causa desordem.
54

Em se tratando de bullying, retoma-se o conceito de Fante (2005, p. 27-29)


adotado para o presente estudo:

Por definição universal, bullying é um conjunto de atitudes agressivas,


intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por
um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento.
Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam
profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam,
ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão,
além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do
comportamento bullying.

Apoiados nos conceitos anteriores, percebe-se, facilmente, que os mesmos estão


interligados, embora despercebidos nas rotinas da escola. Entendê-los e delimitá-los é
fundamental para superar os conflitos do cotidiano, conforme Ortega (2002, p. 27), pois:

[...] entendemos o fenômeno do conflito como um processo reversível, ou


seja, como um problema complexo, que nos mostra até onde as más relações
interpessoais podem nos levar quando não se está consciente da natureza
social, cultural e psicológica das relações interpessoais. Porém, por sua vez,
é um fenômeno suscetível de sofrer intervenção com estratégias educativas
não alheias à própria cultura escolar.

Entender a escola como espaço de conflito, muitas vezes no formato de


indisciplina, violência, bullying e cyberbullying, com suas tênues delimitações, é o primeiro
passo para a intervenção. Portanto, abuso e maus tratos são violências, que podem se
manifestar em forma de bullying, já a indisciplina está caracterizada por atos que atentam
diretamente contra a liberdade, o desenvolvimento pessoal e social de cada indivíduo.
Definir a gênese do bullying não é uma tarefa fácil, pois envolve uma gama de
fatores e associações de modo que cada indivíduo apresenta um histórico único de fatores e
correlações entre estes, que desencadeiam seu comportamento. Contudo, pode-se dividir os
fatores influenciadores em 5 grupos, conforme Ventura (2011, p. 68-69):

Fatores individuais: depressão, ansiedade, impulsividade, falta de capacidade


de resolução de problemas e problemas mal resolvidos.
Fatores familiares: pouca/nenhuma supervisão parental, abuso (familiares),
agressão em família, falta de envolvimento parental.
Fatores de amizade: o bullying é aceitável ou não, o bullying é executado
pelo coletivo de amigos, o bullying é praticado pelo grupo de atletas (ligados
mais ao desporto) da escola, o bullying é um ato individual.
Fatores escolares: os adultos são bullyes, o adulto não intervém no bullying,
os bullyes são castigados ou ajudados, o clima na escola é negativo.
55

Fatores Comunitários ou de sociedade que envolvem: elevados índices de


agressão na comunidade, comunidade com poucos recursos, existe
entreajuda entre a escola e a comunidade, a escola é parte integrante da
comunidade.

Nem todas as agressões podem ser classificadas como bullying, mas todos os atos
de bullying são agressões derivadas de comportamentos hostis e prepotentes, independente da
forma praticada.

3.3. Bullying e Circunstâncias da Ocorrência

De acordo com as circunstâncias em que as vítimas são agredidas e o tipo de


agressão sofrida, classifica-se bullying como:

[...] identifica o bullying em três grandes tipos. Segundo a autora, baseando-


se no estudo teórico de produções na área, o que se chama por bullying é
dividido da seguinte maneira: diretos e físicos, que inclui agressões físicas,
roubar ou estragar objetos dos colegas, extorsão de dinheiro, forçar
comportamentos sexuais, obrigar a realização de atividades servis, ou a
ameaça desses itens; diretos e verbais, que incluem insultar, apelidar, "tirar
sarro", fazer comentários racistas ou que digam respeito a qualquer diferença
no outro; e indiretos que incluem a exclusão sistemática de uma pessoa,
realização de fofocas e boatos, ameaçar de exclusão do grupo com o objetivo
de obter algum favorecimento, ou, de forma geral, manipular a vida social do
colega (MARTINS, 2005, p. 17).

A repetição de condutas agressivas e intencionais de uma criança e/ ou


adolescente para outros sem condições de se defenderem que caracterizam o bullying, podem
ocorrer de três formas:

(a) direta e física, que consistem em agressões físicas com atos de bater ou
ameaçar bater, agredir com socos e pontapés, roubos ou estragos de objetos
de colegas, extorsão financeira, forçar condutas sexuais e a realização de
atividades servis, ou a simples ameaça desses itens;
(b) direta e verbal, que envolvem insultos, apelidos, comentários racistas ou
que mirem qualquer diferença no outro; e
(c) indireta, ou seja, a exclusão sistemática de uma pessoa ou grupo pela
obtenção de algum favorecimento, a realização de intrigas e boatos e
manipulação da vida social de um colega (SENRA, 2009, p. 53).

O bullying como se percebe é um ato de agressão entre agressor (s) e vítima (s).
Entende-se que este não é limitado a um estilo de agressor, nem a um estereótipo de vítima. O
56

bullying pode transformar-se e, por vezes acontece, num “jogo” de quem caça quem, onde os
papéis de agressor e vítima algumas vezes se invertem.

3.4. Bullying e Protagonismo

Existem papéis ocupados no fenômeno bullying, dentre eles destacam-se os


seguintes: vítimas (que podem ser classificadas como típicas, agressoras e provocadoras),
agressores e espectadores (passivos, ativos e neutros). Não existe consenso entre os autores
quanto a esta nomenclatura, alguns denominam alvos e autores para vítimas e agressores. Para
os estudiosos deste fenômeno esta nomenclatura escolhida é para evitar o rótulo dos
estudantes na escola. Na presente pesquisa foram utilizados os termos tradicionais, pois
entende-se que isto não afetará a abordagem, mas ajudará a não mascarar o problema.

3.4.1 Agressores

Os agressores, em geral, gozam de um perigoso poder de liderança que, em geral,


é obtido ou legitimado por meio da força física ou do intenso assédio psicológico, apresentam
pouca empatia, são caracterizados como pessoas arrogantes e desagradáveis. De acordo com
Gomes e colaboradores (2007, p. 4), são muitos os fatores que influenciam as atitudes do
autor do bullying.
Por sua vez, Leme (2006, p.12, grifos do autor) afirma que das vítimas:

[...] aproximadamente 12% delas podem reagir agressivamente. A vítima


reativa é, em geral, hiperativa, hipervigilante, inquieta e dispersiva, mas
apesar de reagir aos maus-tratos com agressividade, não deixa, também de
sofrer com o medo e o isolamento social causado pelos agressores.

Silva (2010, p. 43) indica a deficiência dos vínculos afetivos alicerçados no seio
familiar como causadores de bullying, destacando que:

O que lhes falta, de forma explicita, é o afeto pelos outros. Essa afetividade
deficitária (total ou parcial), pode ter origem em lares desestruturados ou no
próprio comportamento do jovem. Nesse caso as manifestações de
desrespeito, ausência de culpa ou remorso pelos atos cometidos contra os
outros podem ser observados desde muito cedo (por volta de 5 a 6 anos).
Essas ações envolvem mal trato a animais de estimação, empregados
domésticos e ou funcionários da escola.
57

Ballone (2005) afirma que alguns estudos indicam que o agressor provém de
famílias pouco estruturadas, com baixo relacionamento afetivo entre seus membros, é
fracamente supervisionado pelos pais e vive em ambientes onde o modelo para solucionar
problemas é o comportamento agressivo ou explosivo. É alta a probabilidade de que as
crianças ou jovens que praticam o bullying se tornem adultos com comportamentos violentos.
No entendimento de Nogueira (2007, p. 99):

[...] os agressores, geralmente, acham que todos devem fazer suas vontades,
e que foram acostumados, por uma educação equivocada, a ser o centro das
atenções. São crianças inseguras, que sofrem ou sofreram algum tipo de
agressão por parte de adultos. Na realidade, eles repetem um comportamento
aprendido de autoridade e de pressão.

Nesta perspectiva, aponta Silva (2010, p. 43-44) que:

Os agressores apresentam desde muito cedo aversão às normas, não aceitam


ser contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em pequenos
delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição do patrimônio
público ou privado. O desempenho escolar destes jovens costuma ser regular
ou deficitários; no entanto em hipótese alguma, isso significa uma
deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte deles. Muitos
apresentam, nos estágios iniciais, rendimentos normais e acima da média.

Também em relação ao agressor, Leme (2006) diz que este, busca reconhecimento
e admiração dos colegas, é intolerante àquele que é diferente dele, seja física ou
comportamental. Indica ainda, a partir de seus estudos, que há maior propensão de indivíduos
do sexo masculino se envolver nas agressões, embora registre que, nos últimos anos, houve
um crescimento da violência entre meninas.

3.4.2 Espectadores

Os espectadores são alunos que presenciam a ação dos agressores contra as


vítimas, mas não tomam qualquer atitude. Eles não saem em defesa do agredido nem se unem
aos agressores.
Silva (2010, p. 45-46, grifos do autor) divide os espectadores do bullying em 3
grupos distintos:

Espectadores passivos: Em geral os espectadores passivos assumem essa


postura por medo absoluto de se tornarem a próxima vítima. Recebem
58

ameaças explícitas ou veladas do tipo: “Fique na sua, caso contrário a gente


vai atrás de você”. Eles repelem e até condenam as atitudes dos bullies; no
entanto, ficam de mãos atadas para tomar qualquer atitude em defesa das
vítimas.
Espectadores ativos: Estão inclusos neste grupo aqueles alunos que, apesar
de não participar ativamente dos ataques contra às vítimas, manifestam
“apoio moral” aos agressores, com risadas e palavras de incentivo. Não se
envolvem diretamente, mas isso não significa em absoluto, que deixem de se
divertir com o que veem.
Espectadores neutros: Dentre eles poderemos perceber os alunos que, por
uma questão sócio cultural (advindo de lares desestruturados ou de
comunidades onde a violência faz parte do cotidiano), não demonstram
sensibilidade do bullying que presenciam. Eles estão acometidos de uma
“anestesia emocional”, num contexto social próximo no qual estão inseridos.

No primeiro grupo – espectadores passivos – são os indivíduos que, ao


presenciarem a violência ou que trazem embaraços para os colegas, podem sofrer as
consequências psíquicas, visto que a estrutura psicológica apresenta-se frágil
Por sua vez, o segundo grupo – espectadores ativos – são articuladores dos
ataques, ficando camuflados e na condição de “bom moço”, no entanto, desejando que a
violência ocorra.
O terceiro grupo – espectadores neutros – estes cometem uma ação criminosa,
visto que deixam de prestar socorro aos que sofrem violência. A omissão contribui para que a
impunidade se instale, perpetuando esta violência.

3.4.3 Vítimas

Diversos autores apresentam uma tipologia sobre as vítimas do bullying estando


estas classificadas em: vítima típica, vítima provocadora e vítima agressora, a saber:

a) Vítimas típicas:

São aqueles alunos que sentem dificuldade em se relacionar com os demais,


apresentando como característica um “ar” de fragilidade, sentem-se desiguais e prejudicados
e, dificilmente, solicitam ajuda. Não apresentam esperança de adaptar-se ao grupo, sentem
dificuldade e mesmo impossibilidade de reagir aos atos violentos dos quais são vítimas, ou
mesmo de conversar com alguém sobre o problema. Em geral, tem poucos amigos,
desempenho escolar baixo, medo ou falta de vontade de ir à escola, por vezes simulam
doenças para não se dirigirem à escola. Além disso, trocam de escola com frequência ou
59

abandonam os estudos. Muitos desenvolvem extrema depressão e/ ou incapacidade para


aprender. Normalmente, recebem apelidos, ofensas, humilhações, discriminação, exclusão,
perseguição, agressões, tendo seus pertences roubados ou quebrados (GOMES ET AL., 2007;
NOGUEIRA, 2007).
As vítimas costumam demonstrar fragilidades, com algum traço que destoa do
modelo culturalmente imposto ao grupo etário em que estão situadas, que pode ser físico ou
emocional, como é o caso da timidez. Silva (2010, p. 38, grifos do autor) especifica estas
características:

Normalmente apresentam alguma “marca” que as destacam da maioria dos


alunos: são as gordinhas ou magras demais, altas ou baixas demais; usam
óculos; são caxias; deficientes físicos, apresentam sardas ou manchas na
pele; orelhas e nariz um pouco mais destacados; usam roupa fora de moda;
são de raça, credo, condição socioeconômica ou orientação sexual
diferente... Enfim, qualquer coisa que fuja do padrão imposto por um
determinado grupo pode deflagrar o processo de escolha da vítima do
bullying.

Vítimas com essas características apresentam medo de comunicar a violência


sofrida. Contudo, há sinais que facilitam a identificação de uma pessoa que esteja sofrendo
maus-tratos, tais como agressividade, mal-estar na hora de ir às aulas, melancolia e notas
baixas. As vítimas assumem a culpa imposta pelos agressores, como exemplifica Middelton-
Moz e Zawadski (2007, p. 20, grifos do autor),

“Se ele simplesmente deixasse de ser tão frágil”.


“Ele só precisa ser mais esperto”.
“Ela é atraente, não espera que os caras prestem atenção nela?”.
“Se ele emagrecesse, não seria tão visado”.
“Ela fez a própria fama, agora só tem que deitar na cama”.
“Se ela não desse bola, eles parariam”.
“Concentre-se no seu trabalho, não deixe que eles lhe afetem”.

As vítimas típicas do bullying, por apresentarem dificuldades significativas de se


imporem ao grupo, tanto física como verbalmente, tornam-se alvos fáceis e comuns dos
agressores. Além disso, apresentam características e condutas que fogem dos “padrões de
normalidade” ao grupo em que estão inseridas e, consequentemente, “servem” como alvos
fáceis para os ataques.

b) Vítimas Provocadoras:
60

Entende-se por vítimas provocadoras aquelas que atraem para si reações


agressivas, sendo incapazes de resolvê-las e, segundo Silva (2010, p. 40-41, grifos do autor):

As vítimas provocadoras são aquelas capazes de insuflar em seus colegas


reações agressivas contra si mesmas. No entanto não conseguem reagir aos
revides de forma satisfatória. Elas, em geral, discutem ou brigam quando são
atacadas ou insultadas. Neste grupo, geralmente, encontramos as crianças ou
adolescentes hiperativos e impulsivos e/ou imaturos, que criam sem
impressão explicita, um ambiente tenso na escola. Sem perceber as vítimas
provocadoras acabam “dando um tiro nos próprios pés”, chamando a atenção
dos agressores genuínos. Estes por sua vez aproveitam para desviarem toda a
atenção para a vítima provocadora. Assim os verdadeiros agressores
continuam incógnitos em suas práticas de perseguição.

Os estudos de Leme (2006, p. 12) indicam que aproximadamente 12% das vítimas
podem reagir agressivamente. De acordo com a autora, a vítima reativa é, em geral,
“hiperativa, hipervigilante, inquieta e dispersiva”, mas, apesar de reagir aos maus-tratos com
agressividade, não deixa, também, de sofrer com o medo e o isolamento social causados pelos
agressores.
As vítimas provocadoras, na maioria das vezes, são responsáveis por conflitos e
tumultos. Contudo, não são capazes de lidar com as repercussões e consequências de seus
atos. Por isso, causam mal estar e tumulto, sendo muitas vezes rotuladas.

c) Vítimas agressoras

As vítimas agressoras, ao sofrerem perseguições de seus colegas, acabam


revidando os maus tratos sofridos. No entanto, isso ocorre em colegas considerados mais
frágeis do que elas. Neste contexto, amplia-se o problema, pois contribuem para uma maior
ocorrência de violência.
Para Silva (2010, p. 42, grifos do autor):

A vítima agressora faz valer os velhos ditados populares “bateu, levou” ou


“tudo que vem tem volta”. Ela reproduz a forma de maus tratos sofridos
como uma forma de compensação, ou seja, ela procura outra vítima ainda
mais frágil e vulnerável, e comete contra esta todas as agressividades
sofridas. Isso aciona o efeito “cascata” ou de círculo vicioso, que transforma
o bullying em um problema de difícil controle e que ganha proporções de
epidemia mundial de ameaça à saúde pública.
61

Esta tendência tem sido evidenciada entre as vítimas, fazendo com que o bullying
se expanda, cujos resultados incidem no aumento do número de vítimas (FANTE, 2005).

3.5. Bullying e a Variante Cyberbullying

A era da informação ocasiona rápidas mudanças nas estruturas sociais e em suas


relações. A formação das identidades, oriundas deste choque entre diferentes razões, trazem
novos paradigmas relativos à fluidez de comportamento dos indivíduos. Azevedo, Miranda e
Sousa (2012, p. 249) esclarecem:

Consequentemente, as identidades oriundas destes choques entre concepções


proporcionam novos paradigmas relativos à fluidez de comportamento e ao
referencial para a estruturação psíquica. Vivemos na era da informação, de
rápidas mudanças nas estruturas sociais e em suas relações. Não é, portanto,
uma simples questão de ponto de vista, é uma ressignificação dos papéis, ou
melhor, a reconstrução dos parâmetros exercidos pela apropriação da
convivência diária, não mais fechados e inertes. Poder acessar em tempo real
toda sorte de informações de qualquer lugar do mundo, bem como suas
principais fontes, representa uma forte mudança de paradigma social e
proporciona um futuro cheio de possibilidades e fluidez, onde a informação
do hoje pode ser a ultrapassada de amanhã, num curto espaço de tempo.

Os papéis sociais não são mais fechados e inertes, são líquidos, fluídos. A fluidez
da informação permite que se possa acessá-la em tempo real de qualquer lugar do mundo. O
cyberespaço também possibilitou a virtualização das relações sociais. Azevedo, Miranda e
Sousa (2012, p. 251) trazem o pensamento de Mason (2008):

[...] ciberespaço ganhou notoriedade e tornou-se também lugar de violência.


No entanto, a popularidade da Internet e de outras tecnologias, sobretudo as
de Comunicação, apoiadas na repercussão das redes sociais inclusive dentro
das salas de aula, fez surgir uma nova forma de agressão e ameaça entre
alunos: o CyberBullying. O uso dos aparelhos eletrônicos para ameaçar
outros estudantes torna-se a cada dia problema mais sério nas escolas.

O cyberbullying é uma variante do bullying tradicional, potencializado pela


tecnologia da informação, e tem sido objeto de investigação de pesquisadores das áreas da
psicologia, sociologia, ciências da educação e do sistema judicial. Encarado como fenômeno
problemático, tem causado mais problemas do que bullying tradicional, suas consequências
são mais danosas.
62

O cyberbullying apresenta particularidades que o diferem de agressões


presenciais e diretas e o tornam um fenômeno que nos parece ainda mais
cruel, pois, diferentemente do assédio presencial, não há necessidade das
agressões se repetirem. O assédio se abre a mais pessoas rapidamente devido
à velocidade de propagação de informações nos meios virtuais, invadindo os
âmbitos de privacidade e segurança. (AZEVEDO; MIRANDA; SOUSA,
2012, p. 258)

Mais uma recente notícia sobre as consequências do cyberbullying circula no


cenário internacional, ocorrida no Reino Unido, com uma menina de 14 anos, que teria
recebido mensagens de internautas que diziam para ela morrer. O pai afirma que a filha se
matou por bullying na Internet:
A adolescente, Hannah Smith, era usuária de uma rede social denominada ask.fm:

LONDRES - Uma menina britânica, de 14 anos, se matou depois de ter sido


vítima de bullying na internet, de acordo com relatos do pai. Hannah Smith,
de Lutterworth, foi encontrada enforcada na sexta-feira. Seu pai, Dave
Smith, escreveu no Facebook que encontrou mensagens de bullying na
página de sua filha no site ask.fm, de pessoas que diziam para a garota
morrer. O site permite aos usuários postar anonimamente. Um inquérito
sobre a morte de Hannah foi aberto em Leicester, no Reino Unido. Smith
pediu controles mais rígidos a serem aplicados em redes sociais como o
ask.fm, um fórum de perguntas e respostas. “Acabo de ver o abuso que a
minha filha sofreu de pessoas no ask.fm e o fato de que essas pessoas podem
ser anônimas está errado”, postou no Facebook. Em sua página, ele pediu
que as pessoas assinem um abaixo-assinado para introduzir medidas de
proteção em sites utilizados por crianças. (GLOBO, 2013).

A utilização da internet, na maioria das vezes sem o monitoramento dos adultos,


desperta nos adolescentes a ideia de que não existem normas, regras e moralidade, uma vez
que ninguém regula a vida na rede, podendo usá-la à revelia. O adolescente exerce uma
autonomia para o qual não está preparado, podendo utilizar a internet tanto para praticar o
bem como para o mal, sem analisar e, até mesmo, por desconhecer as consequências de seus
atos. Neste sentido manifestam-se Azevedo, Miranda e Sousa (2012, p.65):

Na virtualização das relações, implicitamente podemos observar o Poder da


Visibilidade, a busca pela visibilidade dentro das redes pode trazer consigo
comportamentos que não são admitidos no mundo “Real”, onde as relações
são marcadas por normas e regras. Tais normas e regras não são
estabelecidas nas redes e são, assim, subjetivas, apresentando pouca
capacidade ou força de gerar senso crítico. Neste âmbito, podemos
presenciar a utilização de artifícios para conseguir a visibilidade passando
por cima da Ética e da Moralidade.
63

Azevedo, Miranda e Sousa (2012), concluem que o uso dessas Redes Sociais
digitais impõe, muitas vezes, a atemporalidade e uma propagação extremamente rápida da
violência virtual que também traz impactos irreparáveis ao psiquismo e à vida social das
vítimas de Cyberbullying.

3.5.1 O Adolescente e a Tecnologia

Em entrevista publicada recentemente na internet, o sociólogo polonês Zygmunt


Bauman explica as relações sociais na contemporaneidade, especialmente com o uso do
facebook:

Um viciado em facebook me confessou – não confessou, mas de fato gabou-


se – que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi: eu tenho 86
anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso! Então,
provavelmente, quando ele diz ‘amigo’, e eu digo ‘amigo’, não queremos
dizer a mesma coisa, são coisas diferentes. Quando eu era jovem, eu não
tinha o conceito de redes, eu tinha o conceito de laços humanos,
comunidades... esse tipo de coisa, mas não de redes.

Bauman (2013) explica ainda a diferença entre comunidades e redes, sendo que a
comunidade nos precede, nascemos em uma comunidade ao contrário da rede que é feita e
mantida viva por duas atividades diferentes: conectar e desconectar.

Eu penso que a atratividade desse novo tipo de amizade, o tipo de amizade


de facebook, como eu a chamo, está exatamente aí: que é tão fácil de
desconectar. É fácil conectar e fazer amigos, mas o maior atrativo é a
facilidade de se desconectar. Imagine que o que você tem não são amigos
online, conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line,
conexões reais, frente a frente, corpo a corpo, olho no olho. Assim, romper
relações é sempre um evento muito traumático, você tem que encontrar
desculpas, tem que se explicar, tem que mentir com frequência, e, mesmo
assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não tem
direitos, que você é sujo etc., é difícil. Na internet é tão fácil, você só
pressiona “delete” e pronto, em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso
será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso mina os
laços humanos. (BAUMAN, 2013)

A atração pela tecnologia é um sintoma comum na adolescência, manifesta-se no


comportamento irreverente, no desejo de novas experiências, na concepção de uma mente
“aberta”. Caracteriza-se como uma etapa da vida em que se está mais propenso a utilizar a
64

inovação, visto o estágio de aprendizagem em que se encontra, tudo é novo e existe o desejo
de experimentar tudo.

A capacidade de adaptação é maior dos jovens, e as novas tecnologias


exigem uma adaptação rápida. Mas não é só esta capacidade que
desencadeia este fascínio pela tecnologia. A diversão, a facilidade de tarefas,
o ser mais rápido, mais forte, mais sofisticado, são argumentos e atitudes
inatas dos jovens, é algo que procuram incessantemente. (VENTURA, 2011,
p. 32).

Portanto, as novas tecnologias atendem as necessidades e anseios próprios da


natureza do adolescente. O ingresso no mundo virtual acrescenta novos papéis sociais, novas
maneiras de estar e de ser. De acordo com Ventura (2011, p. 33, grifos do autor):

O Eu passou a ser o “eu” passou a ser o “nós” ou o “ninguém”. Os diferentes


“mundos” que as TIC possibilitam, fazem-nos acrescentar mais alguns
papéis sociais aos que, normalmente, desempenhamos: filho, namorado, etc.
Construímos novas identidades do nosso Eu para podermos desempenhar
esses papéis virtuais, criando assim multifacetas para “multimundos”.

Ainda neste sentido, para Azevedo, Miranda e Sousa (2012) o processo de


formação de identidades na rede perpassa vários aspectos interessantes e ao mesmo tempo
trágicos, pois a formação da personalidade se dá através e pelo outro. Entretanto, quem é este
outro dentro do mundo virtual onde as relações são efêmeras e transitórias? As redes sociais
funcionam como um grande grupo que exerce influência sobre os comportamentos dos
componentes e subjuga a identidade individual. Os dotes individuais se apagam num grupo e
sua particularidade desaparece.
Discorrendo a esse respeito Freud (1969a, p. 36) afirma:

O primeiro é que o indivíduo que faz parte de um grupo adquire, unicamente


por considerações numéricas, um sentimento de poder invencível que lhe
permite render-se a instintos que, estivesse ele sozinho, teria
compulsoriamente mantido sob coerção. Ficará ele ainda menos disposto a
controlar-se pela consideração de que, sendo um grupo anônimo e, por
consequência, irresponsável, o sentimento de responsabilidade, que sempre
controla os indivíduos, desaparece inteiramente.

Ventura (2011) afirma que uma importante característica das relações virtuais é o
desapego existente, visto o distanciamento físico, que não proporciona relações sentimentais,
pois muitas vezes não se conhece o interlocutor, podendo este ser falso.
65

Segundo o autor, a forma de se relacionar com o grupo que se pertence na internet


é semelhante a física/ pessoal, porém, sob a égide do anonimato, ou de um perfil “falso”,
pode-se interagir em grupos cujas temáticas, por vergonha, timidez ou medo, nunca fariam
parte da nossa realidade. Na maioria das vezes estas relações só continuam no plano virtual,
apenas saciam a fome de lidar com uma falsa identidade.
A vida social “online” pode ser necessária para a vida real. A quantidade de
amigos na rede confere o mesmo status que na vida real. Os adolescentes vendem uma
imagem virtual. Independente dos papéis desempenhados na internet, reais ou virtuais, essa
socialização é prazerosa. Amplia possibilidades de desenvolvimento pessoal, de reencontrar
amigos reais, de nos sentirmos perto de quem está distante, de não nos sentirmos sós, e de
sermos apoiados. Por outro lado, é inegável que transporta e potencializa as agressões
psicológicas e sociais inerentes à sociedade real: o cyberbullying como extensão e
amplificação do bullying, afirma Ventura (2011).
As relações na internet podem ser anônimas, propiciando atos de covardia, tanto a
verdade como a mentira podem ser transmitidas, sem as reais consequências desta
perversidade.

[...] as formas de maus-tratos eram diversas; no entanto, todas, sem exceção,


ocorriam no mundo real. Dessa forma, quase sempre era possível às vítimas
conhecer e especialmente reconhecer seus agressores. No caso do
cyberbullying, a natureza vil de seus idealizadores e/ou executores ganha
uma “blindagem” poderosa pela garantia de anonimato que eles adquirem
(SILVA, 2006, p.126)

A vítima pode se sentir ninguém e todos ao mesmo tempo. Suspeitar de todos,


isolar-se socialmente, tanto dos inimigos como dos amigos. Psicologicamente é algo muito
prejudicial, um ser humano ser repetidamente atacado e desconhecer quem é seu inimigo. O
medo do desconhecido ainda é um dos maiores medos humanos.
Criar personagens, para os diferentes papéis que se deseja desempenhar é criar
vários “eu”, com o objetivo de esconder a própria identidade, ou fazer-se passar por alguém
diferente. No cyberbullying surge como a imagem de terror que se quer transmitir,
personalizando e personificando uma personagem aterradora para a vítima, diferente da
imagem real do agressor. (VENTURA, 2011).

3.5.2. Diferença entre bullying e cyberbullying


66

Esta modalidade de violência tem duas variações: o bullying tradicional e o


cyberbullying, que nada mais é que o bullying potencializado pela tecnologia da informação.
Atualmente, é possível identificar dois métodos da prática do cyberbullying: uma como
extensão do bullying convencional; outra como extensão dos novos métodos, potencializados
pela tecnologia da comunicação, com novas características.
Tanto o bullying como o cyberbullying podem trazer graves consequências na
vida dos indivíduos, no entanto, no cyberbullying, muitas vezes, não se consegue identificar
nem localizar os agressores no tempo e no espaço. Ventura (2011), apresenta algumas
classificações que permitem entender melhor o fenômeno:

a) Não identificação do agressor:

A grande diferença entre o bullying e o cyberbullying é que no primeiro o agressor


é identificável. No segundo, se desconhece a identidade do agressor, ele fica anônimo,
impossibilitando a vítima de identificá-lo. Pode ser o vizinho ao lado, alguém da família, um
amigo próximo ou distante ou até mesmo um desconhecido. Os danos sofridos pelas vítimas
do cyberbullying são ainda maiores porque a internet garante o anonimato daquele que agride,
o que dificulta os mecanismos de resposta e proteção a esta modalidade de humilhação.

b) Limites dos Espaços e dos Tempos:

O cyberbullying acontece a qualquer hora e em qualquer lugar, enquanto no


bullying tradicional identifica-se o espaço físico, num contexto real e identificável, sendo
possível reagir.
Outra capacidade mais perversa do cyberbullying é a sua capacidade de difusão
poderosa e rápida, pois as testemunhas e observadores podem ser aos milhões, o ato pode ser
gravado e revisto, podendo ser utilizado durante toda a vida da vítima. Enquanto no bullying a
ocorrência é momentânea e não ultrapassa, no máximo, a população ao redor.
O cyberbullying acompanha a vítima, que tem a sensação de estar constantemente
observada, e só se sente livre da agressão, isolando-se.

c) Punição da Vítima:
67

A vítima do bullying pode ser protegida, sendo afastada de quem agride. No caso
do cyberbullying não é assim. Normalmente os pais ou responsáveis pelas vítimas retiram o
veículo de agressão (celular, computador com internet e outros). Este ato culpabiliza a vítima
que se arrepende de ter contado.

d) Observadores de cyberbullying:

No cyberbullying o observador pode decidir sobre sua participação conforme


destaca Ventura (2011, p.91):

É muitas vezes também um bully, dependendo da plataforma em que a ação


decorre. Pode intervir se for um chat, pode reencaminhar o e-mail
difamatório ampliando a quantidade de observadores, em suma, o
observador inicial pode transformar-se num agressor de segunda linha,
ampliando e perpetuando o ataque inicial. No bullying, o observador tem um
papel mais passivo. Fazendo de público um acto, aumento a vergonha e a
humilhação da vítima (quanto mais observadores maior a humilhação) e
amplia a glória do agressor, servindo-lhe de audiência.

Diante desta gravidade, o cyberbullying deixou de ser considerado um problema


individual, passando a ser de ordem social, devido às trágicas consequências para a saúde
mental das vítimas, prejudicando relacionamentos, reputação social, sanidade mental e do
mesmo modo, a qualidade de vida e saúde.
Assim, conclui Ventura (2011, p. 92):

[...] o cyberbullying é uma vertente do bullying em franca expansão, com


contornos sociais diferentes, implicações sociais e psicológicas devastadoras,
e por último, com um impacto direto no ambiente escolar onde os
protagonistas co-habitam.

3.5.3 Comportamentos de cyberbullying

Ventura (2011), em seus estudos apresenta uma minunciosa classificação dos


principais comportamentos de cyberbullying, destacados a seguir:

a) Discussão direta: flaming


68

É um tipo de discussão breve. É acessível a partir da utilização de tecnologias de


comunicação, entre duas ou mais pessoas, seja fórum ou grupo de discussão, ou ainda num
chat público. Aparentemente, tem-se a ideia de que os participantes estão em situação de
igualdade na discussão, porém ao existir um ato ou discurso agressivo e violento, e repetido
pelos protagonistas, com desequilibrio de força, incorre-se em bullying. Os observadores
destes atos podem aderir ao agressor, tornando o ataque em grupo contra uma vítima.
Normalmente é um ato de curta duração, não ultrapassando a discussão.

b) Molestar ou assédio – cyberbullying e harassment

De acordo com a idade dos participantes utiliza-se um termo específico, sendo


cyberbullying para os jovens e harassment para os adultos. Tal ato consiste numa conduta ou
ação repetida e persistente, diretamente contra uma pessoa, a quem irrita, alarma ou perturba
emocionalmente, provocando stress. Tem um tempo de duração maior que o flaming,
podendo existir mais que um agressor e os insultos serem unilaterais. São os provocadores de
tristezas, que se preocupam mais em perturbar do que jogar. Podem ultrapassar as fronteiras
do jogo e continuar a agressão por outras vias e noutro contexto.

c) Roubo de identidade digital – impersonalização

Esta modalidade somente é possível com a utilização da tecnologia da


informação. Caracterizada pela apropriação da identidade digital da vítima, roubando-lhe as
palavras-chave de acesso a plataformas de comunicação. Tal situação permite que, de posse
dos dados da vítima, sejam maltratados os amigos, e-mail difamatórios sejam enviados,
alterações de perfis de páginas pessoais ocorram, desde dados a imagens e, por último,
colocar em risco a vida da vítima, enviando mensagens provocantes e ofensivas a grupos
violentos que a mesma conheça. Tudo isso também pode ser feito no próprio computador da
vítima, para que o IP (Internet Protocol ou Protocolo de Internet, cada computador conectado
na internet possui um registro individual) certifique a veracidade dos atos.
Com o desconhecimento do roubo de identidade digital, a vítima perde os amigos,
é agredida sem saber porque e, dificilmente, consegue explicar-se diante dos ofendidos sobre
o ocorrido.
Como no anonimato, a impersonalização é, dentro do cyberbullying, um ataque
que perturba as vítimas em todos os níveis, podendo a vítima até ser acusada criminalmente.
69

d) Enganar e trapaçar

O objetivo principal é enganar a vítima, induzindo-a a fornecer dados pessoais ao


bully, para que esse possa utilizar a informação pessoal ou íntima para divulgá-la de forma
descontextualizada. Estas informações são normalmente de caráter privado e não deveriam ser
divulgadas. A vítima se vê agredida duplamente, primeiro porque é enganada e, segundo,
porque vê exposta a sua vida privada, e como colaborou ativamente, sente-se ainda mais
vunerável.

e) Ostracismo e exclusão

Uma das maiores necessidades humanas é pertencer a um grupo, por meio do qual
encontram-se amigos e estratos sociais que se ambicionam. A exclusão de um membro do
grupo é uma morte social, o sentimento de exclusão é idêntico ao mundo real.
O ostracismo virtual tem duas variantes: o ostracismo auto-inflingido, baseado na
ausência ou na demora em responder as solicitações do indivíduo; a exclusão proposital do
grupo, que é uma violência indireta.
Nas duas variantes, as vítimas ficam abaladas psicologicamente e buscam
rapidamente outro grupo social para se inserir.

f) Pressão constante – cyberstalking

É o ato de perseguir eletronicamente o outro, constante e repetidamente perseguir


ou passear perto da vítima com o objetivo de irritá-la, molestá-la e até cometer crime como
assaltos, agressões ou violações. O objetivo é provocar danos físicos às vítimas. É o tipo de
cyberbullying que causa mais pânico às vítimas, pois as ameaças são constantes, aparecem em
todas as vias de comunicação e são precedidas da agressão física.

g) Chapada – happy slaping

A chapada é um tipo de cyberbullying recente, consistindo na agressão de um


grupo de adolescentes a uma vítima, que normalmente está sozinha. A diferença está no fato
da vítima não saber que enquanto uns agridem outros filmam a sequência de violência, para
70

depois divulgá-la na internet. A ideia é que o vídeo chegue até as pessoas próximas da vítima,
denegrindo sua imagem. A mensagem é sempre transmitida como se a vítima fosse covarde, e
as que não respondem à agressão, são repetidamente agredidas.

h) Divulgar imagens digitais sem consentimento.

É fotografar alguém sem consentimento para depois divulgar as imagens, fora do


contexto em que ocorreram, permitindo uma interpretação maliciosa. Este tipo de violência
ocasionou a proibição de máquinas fotográficas e celulares em determinados locais públicos.
Neste mesmo contexto, a filmagem de atos sexuais, consentidos ou não e, sua posterior
divulgação onde o envolvido possa ser reconhecido é uma outra vertente violenta do
cyberbullying, repercurtindo ainda mais quando as imagens são visualizadas pelos pais da
vítima.

i) Troca de imagens pessoais eróticas e explicitas – sexting

Não há o entendimento de que o sexting seja um ato de cyberbullying, visto se


caracterizar como uma troca de imagens eróticas e explícitas pessoais, entre os envolvidos.
Contudo, nisso reside a possibilidade de, posteriormente, a utilização das imagens de forma
indevida, tornando-se, por exemplo, uma forma de chantagear o outro, pelos diversos meios já
apresentados.

j) Outing

O outing é uma forma de sexting provocado ou induzido pelo agressor. A vítima


envia fotos e filmes que possam comprometê-la. Normalmente as fotos e os vídeos têm um
teor sexual e erótico, passível de constrangimento (filmar-se e depois divulgar online).
Tanto pode ser inocentemente executado, ou com intenção de chamar a atenção
sobre si, conseguindo este mesmo objetivo, com o pior resultado pessoal possível, a exposição
e a ridicularização.

k) Luta – Figth
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Consiste na agressão de alunos a um adversário enquanto outros estão preparados


para filmar. Posteriormente, são postadas as imagens em plataformas de vídeos anônimos e
enviadas por email. A vítima será quem perder a luta, podendo sofrer mais ações de bullying.

l) Excluído o grupo de amigos virtuais – Defriending

Esta forma de cyberbullying é uma das mais utilizadas recentemente nas redes
sociais. Consiste num ato previamente combinado com o grupo de “amigos virtuais” em
retirarem-se ao mesmo tempo do grupo de amigos virtuais da vítima. Esta agressão não é
direta, mas perturba a vítima ao perder muitos amigos da rede social virtual.

3.6. Cyberbullying na Educação Física

O Manifesto Mundial da Educação Física - FIEP/2000 (Fédération Internationale


D’Éducation Physique), que no capítulo XVI, tratou da Educação Física e seu compromisso
contra a discriminação e a exclusão social, explicita que: “A Educação Física deve ser
utilizada na luta contra a discriminação e a exclusão social de qualquer tipo, democratizando
as oportunidades de participação das pessoas, com infraestruturas e condições favoráveis e
acessíveis” (FIEP, 2000, p. 43).
Isto mostra que todo o problema que afeta a educação afeta a educação física
escolar, por isso refletir sobre a violência na atualidade e o campo de possibilidades que esta
temática abre para a colaboração multiprofissional e interdisciplinar, é uma questão
indispensável, para o enfrentamento conjunto do problema.
A Educação Física é uma disciplina que não tem sido poupada pelas
manifestações de violência, mais especificamente, na forma de bullying e cyberbullying,
sendo por vezes, os conflitos originadores destes atos de violência, são motivos fúteis.
Geralmente começam por uma rixa desportiva, e algumas vezes acabam na internet, expondo
o colega a condições humilhantes e vexatórias.

A Educação Física voltada para a formação da cidadania dos alunos deve ser
crítica ao modelo que reproduz [...] “a marginalização, os estereótipos, a
individualidade, a competição discriminatória, a intolerância com as
diferenças, dentre outros valores que reforçam as desigualdades, o
autoritarismo, etc...”. (RESENDE; SOARES, 1997, p. 33, grifos dos autores)
72

O bullying não é fenômeno exclusivo da escola, apenas existem condições que


favorecem sua ocorrência dentro do espaço escolar e, predominantemente, no espaço da
Educação Física. Cabe aos profissionais da Educação Física também a reflexão pedagógica,
conforme relatam Soares e colaboradores (1992, p. 40):

[...] sobre valores como solidariedade substituindo individualismo,


cooperação contrastando a disputa, distribuição em confronto com
apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos
movimentos - a emancipação -, negando a dominação e submissão do
homem pelo homem.

A Educação Física é uma disciplina curricular de enriquecimento cultural,


fundamental à formação da cidadania dos alunos, baseada num processo de socialização de
valores morais, éticos e estéticos, que consubstancia princípios humanistas e democráticos.
Para isto, por meio de seus profissionais, deve dar a sua contribuição para a superação da
violência, que deixa marcas, por vezes irreversíveis nos alunos, seja no aspecto corporal,
moral ou emocional (CHAVES, 2006).
A escola apresenta um cenário propício ao surgimento de atitudes voltadas ao
bullying, à tortura e ao sofrimento de seus pares. Entre tais, percebe-se o bullying então nas
aulas de educação física, no esporte e no lazer (OLIVEIRA; VOTRE, 2006).
Em importante relatório sobre “Bullying Escolar no Brasil”, a ONG PLAN (2010)
apresenta dados sobre os locais onde mais acontece o bullying nos ambientes escolares, a
partir das categorias: não fui maltratado; na sala de aula com professor; na sala de aula sem
professor; no pátio de recreio; nos corredores; nos portões da escola; no banheiro; no trajeto
escola-casa; no transporte escolar; outros.
Entende-se que no relatório mencionado uma lacuna está presente, o local/ espaço
das aulas de Educação Física, dado suas condições e características, ambientes e práticas
diferenciadas das salas de aula, portanto com possibilidades de ocorrência de violência
escolar.
Em pesquisa citada por Abramovay (2010) sobre o local onde acontecem atos de
violência escolar, constatou-se que 27,8% dos alunos entrevistados assinalaram - na quadra de
esporte. O resultado desta pesquisa aponta um significativo índice de violência nas quadras de
esporte, e embora a pesquisa não explicite, pressupõe-se que sejam nas aulas de Educação
Física, portanto, o estudo da violência nestes espaço é de grande relevância.
73

Mais recentemente, nesta direção caminhou a pesquisa de Weimer e Moreira


(2014, p. 9) afirmando que a Educação Física escolar necessita de um diagnóstico preciso da
ocorrência da violência e de suas formas de manifestação em seu âmbito, sendo este o
primeiro passo para seu enfrentamento.

Frequência de testemunho de situações de agressão nas aulas de Educação


Física - O gráfico mostra que 13% sempre presenciam colegas serem vítimas
de agressão durante as aulas, 15% relatam que isso acontece muitas vezes,
43% algumas vezes e 29% nunca presenciaram situações de agressão nas
aulas de Educação Física. Em números gerais, 71% dos alunos já
presenciaram situações de agressão nas aulas de Educação Física.

Percebe-se também que nas últimas décadas muitos estudos sobre o bullying
escolar tem sido realizados, mas são poucos os que se dedicam a adentrar na ambiência da
Educação Física, já sobre o cyberbullying na ambiência da Educação Física não foram
encontrados estudos dessa natureza nos levantamentos realizados. Arrisca-se a dizer que esta
pesquisa representa um dos primeiros passos para entrada nesse universo, mas que está longe
de esgotar este assunto.
Sobre bullying, em pesquisa realizada na Biblioteca Central da UFMT –
Universidade Federal de Mato Grosso constatou-se que no ano de 2009 uma dissertação e um
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação tratavam sobre o bullying. Em 2010,
encontrou-se outra disertação e outro Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação também
tratando do bullying. Já no ano de 2011, identificou-se um Trabalho de Conclusão de Curso
de Especialização tratando do bullying na Educação Física. Por fim, em 2012 um Trabalho de
Conclusão de Curso de Graduação e em 2013 um artigo, também sobre bullying.
Dada a escassez de estudos neste segmento, entende-se de suma importância a
ampliação de pesquisas sobre bullying e cyberbullying, de maneira que tal fenômeno seja
compreendido e medidas preventivas sejam adotadas.
Dessa forma, entende-se que os espaços das aulas de Educação Física, como
ambientes onde são desenvolvidas práticas, podem desencadear a violência entre pares, na
modalidade bullying podendo derivar para o cyberbullying. Estas formas de violência se
manifestam por uma variedade de fatores, dentre eles:

a) Ênfase na competição
74

A competição, a partir de currículos que priorizam o esporte e o jogo nas aulas de


Educação Física, objetiva a busca por melhores resultados, melhores marcas, melhores notas,
por isso seleciona. Obviamente, sabe-se que essa condição não se aplica em todos os locais,
mas é muito presente, conforme identificado em estudos, apresentações de trabalhos e
publicações científicas da área, como “a escola tem se mostrado ambígua à fluidez da vida
líquida, alternando momentos de resistência às violências e, por vezes, sendo ela mesma
produtora de eventos de violências que impactam, entre outros, os professores”. (BOSSLE;
MOLINA NETO; WITTIZORECKI, 2013, p. 63).
A este respeito problematiza Bauman (2007, p. 10) sobre uma vida precária, em
condições de incerteza constantes, “a vida na sociedade líquido-moderna é uma versão
perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prêmio nessa competição é
a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo”.
As aulas de Educação Física quando tem caráter meramente competitivo,
proporciona a incerteza quanto aos resultados do jogo e coloca seus alunos diante da
possibilidade de perder o jogo e “ser jogado no lixo”. Como ninguém deseja esta exclusão,
faz-se de tudo para ganhar o jogo, não se importando com o outro. O medo da exclusão faz
valer tudo.
Dessa forma, ao adotar uma prática esportiva que prioriza a competição, adota-se
um procedimento de seleção que exclui os menos aptos e, essa exclusão, pode ocorrer em
forma de bullying.
Assim, como no relato da professora Joice Silva ao assumir as aulas no Colégio
Estadual Frederico Costa, na cidade de Salvador, Estado da Bahia, percebe-se uma cultura
escolar competitiva, que seleciona os alunos pelas habilidades específicas para a competição.

A disciplina já cria a ideia de que só os melhores podem participar. Os


próprios alunos começam a selecionar quem eles querem em seu time,
tentando encontrar os mais aptos", explica. Nesse processo de seleção e
exclusão começam a surgiu atos de bullying entre os colegas. “Aparecem os
apelidos, os termos que eles utilizam para classificar os colegas: menina é
lerda, é fraca, vai se machucar; os gordinhos são lentos”, comenta a
professora. (REVISTA ESCOLA, 2012).

A pesquisa de Furtado e Morais (2010, p. 1, grifos do autor) sobre a relação entre


a competição e o bullying, identificou:

[...] agressões físicas (tapas, socos e chutes), verbais (apelidos, palavrões) e


psicológicas (gozações, ameaças) por parte dos alunos. As agressões
75

aconteciam com certa repetição, sem nenhum motivo à vista e sempre


direcionadas aos mais tímidos, o que vai ao encontro do exposto. Os
eventos de bullying ocorriam com mais frequência quando os conteúdos das
aulas eram focados somente na competição. Resultando em maior alteração
no comportamento das turmas. [...] Quando alguém - ou algum grupo -
perdia o jogo, ocorriam: zombarias com o colega que era empurrado e
recebia tapas na cara; comentários maldosos do tipo “você não sabe jogar”,
“joga direito” ou “sai do jogo”; palavrões, sendo excluído da brincadeira,
não lhe dando chance para participar novamente, devido sua “incapacidade”
de vencer ou de ajudar seus colegas a vencerem o jogo (sic.).

A violência existente entre os estudantes nas aulas de Educação Física é


frequentemente estimulada nas disputas esportivas, acirrando as rivalidades. Weimer e
Moreira (2014, p. 6) trazem as seguintes contribuições:

Em suma, o problema da violência nas escolas e nas aulas de Educação


Física deve ser motivo de constante atenção para os professores, que devem
levar em consideração a importância do planejamento de suas aulas,
tentando minimizar situações de competitividade excessiva e conflitos
nocivos, deixando claro os limites e as regras de cada atividade, zelando para
que as mesmas sejam respeitadas.

b) Ação dos professores

Os professores em suas práticas pedagógicas, mesmo sem intenção, podem


estimular a prática do bullying, a partir de ações que alimentem a competição entre alunos.
Beaudoin e Taylor (2006), afirmam que isso ocorre mais frequentemente nas aulas de
Educação Física, quando os professores estimulam a competição entre os alunos com desafios
como: quem faz melhor, quem chega primeiro, dentre outras. Com este clima de competição
estabelecido, apenas um é o vencedor e os demais são vencidos, cria-se um espaço ideal para
o aparecimento da violência entre os alunos, mesmo que isso não seja um ato proposital do
professor.
Outra questão que favorece as manifestações de bullying nas aulas de Educação
Física, está no processo formativo dos professores da área, que nem sempre estão preparados
para lidar com este fenômeno, pois segundo Botelho e Souza (2007) a fragilidade em lidar
com o fenômeno pode estar intrinsecamente relacionado aos poucos estudos voltados para
identificação, prevenção e controle deste tipo de violência na área da Educação Física.
Outro fator que contribui para o aumento de situações de bullying é a crítica
constante do professor para com seu aluno, comparando-o com outro, seja a partir de sua
capacidade intelectual ou motora, outras vezes ignorando-o, expondo-o como mais uma
76

vítima do bullying. Os outros alunos ao verem esta atitude do professor poderão pensar que
humilhar é uma atitude normal de relacionamento, podendo se basear nas atitudes desse
docente, e naturalizar este comportamento, desrespeitando seus colegas e professores,
promovendo um ambiente de insegurança e conflitos. (ABRAPIA, 2003; FANTE, 2005;
SANTOS, 2007).
Weimer e Moreira (2014, p. 8) trazem alguns resultados de sua pesquisa, ao
indicar a frequência de situações de agressão nas aulas de Educação Física:

Percebe-se que 45% dos alunos disseram que algumas vezes essas situações
de agressão ocorrem nas aulas de Educação Física, 47% afirmam nunca ter
ocorrido nenhuma dessas situações nas aulas de Educação Física, 2%
disseram que sempre acontecem, 4% relataram que acontece muitas vezes e
2% não responderam.

c) Contato Físico

As aulas de Educação Física, além de outras singularidades, proporcionam


situações de contatos físicos, facilitando o bullying direto, como diz Chaves (2006, p. 2)
“provocações corporais (tapas, empurrões, esbarrões, assédios); dentre outras manifestações”.
Muitas vezes estas ações são praticadas com os alunos mais tímidos e fisicamente mais fraco,
num momento de desatenção do professor, conforme a frequência de testemunho de situações
de agressão nas aulas de Educação Física mencionada por Weimer e Moreira (2014, p. 11):

[...] 13% sempre presenciam colegas serem vítimas de agressão durante as


aulas, 15% relatam que isso acontece muitas vezes, 43% algumas vezes e
29% nunca presenciaram situações de agressão nas aulas de Educação
Física. Em números gerais, 71% dos alunos já presenciaram situações de
agressão nas aulas de Educação Física.

d) Linguagem Corporal e Linguagem Verbal

O corpo que fala, com sua linguagem própria, também pode fazer de sua
linguagem uma expressão de violência e bullying nas aulas de Educação Física. Esta forma de
violência indireta se manifesta por expressões, olhares, suspiros e outras exclusões como, não
passar a bola, desconsiderar a presença, ridicularizar e outras atitudes como mencionado por
Netto (2010, p.19).
77

A linguagem corporal/não-verbal dos alunos é importante no sentido de


observarmos alguns fatos, tais como: violência corporal nas atividades e
jogos, olhares e risadas desqualificantes, intimidatórias e ridicularizantes;
exclusões intencionais (exaltação do erro, não passar a bola, ignorar na
escolha das equipes, distanciamento físico de alguns alunos etc.);
provocações corporais (tapas, empurrões, esbarrões, assédios); dentre outros.
As reclamações dos alunos também são de suma importância para
detectarmos a presença de bullying.

Com relação à linguagem verbal na adolescência, além dos xigamentos, vaias,


zombarias, xacotas, o uso do apelido torna-se mais frequente. Muitas vezes o apelido é apenas
um diminutivo do próprio nome, outras vezes se apresentam com adjetivos depreciativos que
acentuam uma característica que o indivíduo não gosta. Sendo assim, os apelidos também são
caracterizados como uma das formas existentes do bullying.
Nas aulas de Educação Física os “apelidos pessoais” são algo comum e rotineiro.
Quando uma criança recebe um apelido, ele pode provocar um significado positivo ou
negativo, “baixinho”, “magrelo”, “sardento”, “baleia”, “quatro-olhos”, “chassi de grilo”,
dentre tantos outros, que podem desencadear timidez, baixa de autoestima e até distorção da
autoimagem.
Ainda como contribuição de Weimer e Moreira (2014, p. 9), observa-se que:

[...] 49% dos alunos dizem que nunca receberam apelidos ou xingamentos
nas aulas de Educação Física, enquanto 33% admitem ter recebido apelidos
às vezes, 14% admitem sempre receber apelidos ou serem zombados nas
aulas de Educação Física e 4% disseram que isso acontece muitas vezes.
Mais uma vez temos a soma de mais de 50% de alunos que já sofreram de
alguma forma com apelidos, zombaria ou xingamentos.

e) Diversidade Cultural

Situando a Educação Física escolar numa espacialidade e numa temporalidade


com possibilidade de interação entre os diferentes grupos sociais, abarcando uma enorme
diversidade cultural, torna-se portanto, propiciadora de manifestação de relações de poder e
de conflitos e, consequentemente, do estabelecimento da violência, podendo ser na
modalidade bullying, como se manifesta Fante (2005, p. 62-63):

O bullying começa frequentemente com a recusa da aceitação de uma


diferença, seja ela qual for, mas sempre notória e abrangente, envolvendo
religião, raça, estatura física, peso, cor, cabelos, deficiências visuais,
auditivas e vocais; ou é uma diferença de ordem psicológica, social, sexual e
78

física; ou está relacionada a aspectos como força, coragem, e habilidades


desportivas ou intelectuais.

A ambiência da Educação Física abarca uma sociedade plural, composta de


diferenças de todas as ordens, surge a necessidade de se atentar para grupos minoritários que,
por vezes, são discriminados ou marginalizados. As vítimas do fenômeno bullying geralmente
apresentam diferenças em relação ao grupo do qual fazem parte, como por exemplo:
obesidade, baixa estatura, deficiência física, aspectos intelectuais, culturais, étnicos,
religiosos, esportivos, sexuais, financeiros, habilidades motoras, biótipo, desempenho
esportivo dentre outras. A exclusão se dá pela não aceitação do outro.

f) Ambientes livres e abertos

Os ambientes são mais livres, abertos e dinâmicos (quadras, piscinas, salões de


jogos danças e lutas, pistas de saltos e corridas etc.) que os demais componentes curriculares,
que se dão nas salas de aulas ou laboratórios em espaço fechados e menores. O olhar do
docente está mais distante geograficamente, o aluno sente-se menos vigiado e mais livre,
favorecendo a manifestação de atitudes de conflitos e violência como o bullying. Muitas vezes
nem é percebido pelo professor, tendo início na quadra, durante a aula de Educação Física,
terminando na internet, sendo o professor, o último a saber.
É muito comum, adultos se manifestarem no sentido de dizer que não gostavam
de Educação Física na escola, além de carregarem o desprezo por atividades físicas na vida
adulta, por terem sido vítimas de bullying ou cyberbullying no espaço da Educação Física.
A respeito da ambiência da Educação Física como favorecedora do bullying e
cyberbullying, parte-se das premissas próprias de que é possível observar nas aulas de
Educação Física:

a) O corpo apresenta-se exposto como cultura;


b) Os contatos corporais estão presentes;
c) Os corpos que fogem ao padrão ficam mais evidentes (gordos e magros, altos e
baixos);
d) Na prática das diferentes modalidades esportivas aparecem mais os
estereótipos: molengas, desajeitados, não leva jeito, só atrapalha, mulherzinha,
Maria João, nerd, dentre outros;
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e) Acerto e o erro ficam mais evidentes;


f) A competição resulta em perdedores e ganhadores e acirrando-se as
rivalidades;
g) As habilidades e debilidades raciais ficam mais evidentes (ex. negros jogam
melhor o futebol, orientais são melhores em lutas, dentre outros).
h) Ficam mais aparentes as orientações sexuais.
i) Olhar do professor fica mais distante.
j) Maiores espaços para a realização das atividades.
k) Espaço que facilita o bullying, simulado de brincadeiras.
l) Na aula de Educação Física são permitidas situações que não são admitidas em
outras aulas.
m) O professor de Educação Física costuma ser o único para todas as séries,
acompanhando grande parte da trajetória do aluno.

3.7. Consequências Sociais e Acadêmicas do Bullying e do Cyberbullying

A vítima de bullying, em geral, se encontra numa relação desigual de poder. Sofre


consequências graves, que conduzem ao desinteresse pela escola, déficit de concentração e
aprendizagem, queda do rendimento, absenteísmo e evasão escolar. Em se tratando da saúde
física e emocional, estas consequências vão desde a queda imunológica, baixa autoestima,
stress, sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, ansiedade, depressão, burnout, até
o suicídio. Já para os agressores, tem-se o distanciamento social, a falta de adaptação aos
objetivos escolares, a sobrevalorização da violência como forma de obtenção de poder, o
desenvolvimento de habilidades com tendências criminais, até da projeção destas atitudes
para a vida adulta, conforme destacado Ventura (2011), em vários estudos.
Dependendo da extensão do ato de violência vivido pela criança ou adolescente,
esta poderá desenvolver sentimento de vingança e de suicídio, ou ainda manifestar agressões e
violências prejudiciais a si mesma e aos outros. Esta situação requer esforço psicoterapêutico,
e interdisciplinar, visto sua profundidade e complexidade (VENTURA, 2011).
Muitas crianças e adolescentes evitam a escola, desenvolvem medo, pânico,
depressão e distúrbios psicossomáticos. A agressão pode proporcionar fobia à escola. Nem
todas as crianças e adolescentes vítimas do bullying superam totalmente os traumas sofridos
no ambiente escolar. Estas podem crescer com sentimentos negativos, como insegurança,
baixa autoestima, apresentando sérios problemas na vida adulta, podendo ainda manifestar
80

reações adversas e comportamentos agressivos, vindo a praticar o bullying no ambiente


profissional (VENTURA, 2011).
Fante (2005, p.79) argumenta que:

Em estudos longitudinais, Olweus observou um grupo de adolescentes, com


idades entre 13 e 16 anos que havia sido vítima do fenômeno. O referido
estudo evidenciou a probabilidade de que um grande número desses alunos
venha a se tornar depressivo, aos 23 anos, como consequência da perda da
autoestima.

Lopes Neto (2005) afirma que o pior efeito da pressão sofrida pelo bullying é
fazer a vítima sentir-se inexpressiva, insignificante, abjeta, desprezível, enfim, uma agressão
que faz com que a vítima sinta que não existe, destruindo sua autoestima, suprimindo
inclusive, as condições para que esta conte o que está acontecendo, física, social e
psicologicamente. O desabafar é um ato de que não se sente capaz de efetuar.
Com relação ao prolongamento dos efeitos do bullying manifesta-se Ventura
(2011, p. 75)

Existem fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam bullying


têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos
antissociais, psicóticos e/ ou violentos, tornando-se inclusive criminosos. Os
efeitos negativos são um marco na vida das vítimas, podendo prolongar-se
por muitos e longos anos, ou manifestar-se somente já na idade adulta.

Segundo Ventura (2011), os efeitos devastadores do bullying também aparecem


no aspecto acadêmico, independentemente do nível ou grau de estudo que o aluno esteja. Os
alunos apresentam dificuldades de concentração e dificuldade de fixação dos conteúdos
ministrados. O rendimento escolar cai repentinamente no início das agressões até que algo
não seja feito. Sem uma mudança, seja de escola, saída do agressor da escola ou punição ao
agressor, os sintomas não cessam.
Nosso sistema escolar abarca alunos desde cinco até vinte anos de idade e, no
início de cada ciclo, existem alunos com quebra no rendimento escolar, acredita-se que esta
fase de mudança de ciclos, de novos espaços, novos professores, novos colegas, novos
conteúdos programáticos ou deslocamento de escola, fosse a causa. Porém, percebe-se que
toda esta mudança, permite-se conhecer quem é quem na escala social. Constata-se que, quem
era vítima na fase anterior continuará a sê-lo e o mesmo ocorre com os agressores. Assim, que
a hierarquia se restabelece, o bullying continua sua normalidade.
81

O bullying não deixa marcas profundas somente nas vítimas, os espectadores e


agressores, conforme Melo (2010, p. 42)

Algumas experiências são menos traumatizantes, outras deixam estigmas


para o resto da vida, sobretudo nas vítimas. Nos agressores as consequências
podem vitimizá-las no futuro, de acordo com o rumo que sua vida tomar.
Alguns agressores adotam a violência como estilo de vida, chegando à
marginalização. Muitos espectadores não superam os temores de
envolvimento, a angústia de não poder ajudar e se tornam pessoas inseguras
e de baixa autoestima.

Silva (2010), baseada em seus atendimentos em consultório, percebeu que ao


sofrer bullying os problemas pré-existentes são potencializados, abrindo quadros graves de
transtornos psíquicos e/ ou comportamentais que podem trazer problemas irreversíveis. Tanto
crianças, adolescentes e adultos ainda experimentam aflições intensas advindas de uma vida
estudantil traumática, e os problemas mais comuns encontrados em consultório são:

a) Sintomas Psicossomáticos

Indivíduos com sintomas psicossomáticos tendem a apresentar diversos sintomas


físicos, entre os quais as dores de cabeça, sensação de cansaço crônico, insônia, dificuldade de
concentração, náuseas, diarreia, boca seca, palpitações, alergias, crise de asma, sudorese,
tremores, sensação de “nó” na garganta, tonturas ou desmaios, calafrios, tensão muscular,
formigamento.
Vale a pena ressaltar, que estes sintomas costumam causar elevados níveis de
desconforto e prejuízo nas atividades cotidianas do indivíduo.

b) Transtorno de Pânico

O transtorno de pânico é um dos mais representativos sintomas de sofrimento


humano. É caracterizado pelo medo intenso e infundado que parece surgir do nada, sem
qualquer aviso prévio. O indivíduo é tomado por uma sensação de medo e ansiedade,
acompanhado de sintomas físicos (taquicardia, calafrios, boca seca, dilatação da pupila,
suores, dentre outros), sem razão aparente. Um ataque de pânico dura em média 20 a 40
minutos. Esse curto espaço de tempo é um dos momentos mais angustiantes que um indivíduo
com transtorno de pânico pode vivenciar. Muitos relatam a experiência de estar sentindo um
82

ataque cardíaco, de que vão enlouquecer, de estranheza de si mesmo e que pode morrer a
qualquer momento. Quem passa por crise de pânico passa a desenvolver o “medo de ter
medo”, ou seja, nunca sabe quando outra crise ocorrerá. O transtorno de pânico tem sido
observado em crianças bem jovens (6 a 7 anos de idade), muito em situação de estresse
prolongado a que são expostas. O bullying, certamente, faz parte desta condição.

c) Fobia Escolar

Caracterizam-se pelo medo intenso de frequentar a escola, ocasionando retenção


por faltas, problemas de aprendizagem e evasão escolar. Quem sobre de fobia escolar passa a
apresentar diversos sintomas psicossomáticos e todas as reações de transtorno de pânico,
dentro da própria escola, ou seja, o indivíduo não pode permanecer no ambiente onde as
experiências são traumatizantes. Muitas podem ser as causas da fobia escolar, que vão desde
problemas emocionais no ambiente doméstico, ansiedade de separação quando a criança se vê
separada dos pais e teme pelo novo ambiente, problemas físicos e psíquicos e a prática do
bullying. Em relação a esta última, inevitavelmente, todos saem perdendo: a criança, os pais, a
escola, a sociedade como um todo. Quem desiste precocemente da escola perde a
oportunidade de construir uma base sólida para a descoberta e o desenvolvimento de seus
talentos essenciais, alterando a rota de seus propósitos existenciais e sociais.
Assim, a prática do bullying se caracteriza como uma das grandes justificativas
que conduzem o indivíduo a ter fobia escolar, visto ser o tempo todo ridicularizado por
alguém que ocupa o mesmo ambiente.

d) Fobia Social - Transtorno de Ansiedade Social – TAS

Quem apresenta fobia social, conhecida como timidez patológica, sofre de


ansiedade excessiva e persistente, com temor exagerado de se sentir o centro das atenções ou
de ser avaliado/ julgado negativamente. Assim, com o decorrer do tempo, o indivíduo passa a
evitar qualquer evento social, ou procura esquivar-se deles, o que traz sérios prejuízos em sua
vida acadêmica, profissional e afetiva. Fóbicos sociais têm dificuldade em proferir uma
palestra, participar de reuniões, apresentar trabalhos escolares ou encontrar parceiros, pois
sente medo de ser ridicularizado pelos presentes, podendo apresentar gagueira ou ter
verdadeiros “brancos” ao tentar se comunicar. Para determinados fóbicos sociais, tomar um
simples café ou assinar um cheque na presença de alguém pode ser uma tarefa muito difícil. O
83

fóbico social de hoje pode ter o transtorno deflagrado em função de inúmeras humilhações no
seu passado escolar, danos e sofrimentos capazes de se refletir por toda sua vida.
Pressupõe-se que indivíduos com TAG são alvos fáceis para a prática do bullying,
visto que os agressores o identificam com presas fáceis para seus comportamentos agressivos.

e) Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG

A ansiedade generalizada é caracterizada por uma sensação de medo e


insegurança persistente. A pessoa que sofre de TAG preocupa-se com todas as situações ao
seu redor, desde as mais delicadas e importantes até as mais corriqueiras. Ela amanhece o dia
com a nítida sensação de que se esqueceu de fazer alguma coisa imprescindível ou de que não
dará conta de seus afazeres. Geralmente, são pessoas impacientes, que vivem com pressa,
aceleradas, negativistas e que tem a impressão de que algo ruim pode acontecer a qualquer
momento. Elas costumam sofrer de insônia, irritabilidade e, sem tratamento adequado, os
sintomas podem se exacerbar e provocar outros transtornos mais graves.

f) Depressão

A depressão não é apenas uma sensação de tristeza, de fraqueza ou de “baixo


astral”, é muito mais do que isso, trata-se de uma doença que afeta o humor, o pensamento, a
saúde e o comportamento. Os sintomas mais comuns de um quadro depressivo são tristeza
persistente, ansiedade ou sensação de vazio, sentimento de culpa, inutilidade, desamparo,
insônia ou excesso de sono, perda ou aumento do apetite, fadiga e sensação de desânimo,
irritabilidade e inquietação, dificuldade de concentração e de tomar decisões, sentimento de
desesperança e pessimismo, perda de interesse por atividades que anteriormente despertavam
prazer, ideias e mesmo tentativa de suicídio.
A depressão em crianças e adolescentes foi por muito tempo ignorada ou
subdiagnosticada. Porém, alguns estudos sugerem um nível elevado de incidências e de
sintomas depressivos na população escolar. Atualmente, o número de suicídios entre os
adolescentes vem apresentando aumento significativo, configurando-se numa das principais
causas de morte nessa faixa etária.
Sabe-se que os adolescentes apresentam oscilações de humor e de seus hábitos e
costumes, algo que é próprio deste período da natureza humana, devendo ser encarado como
algo próprio da idade. Mas, deve-se atentar para quando os jovens deixam de levar uma vida
84

normal, com baixa autoestima, irritabilidade, isolamento, baixo desempenho escolar,


dificuldade em suas relações sociais e familiares. Ao invés de pensar apenas no acesso às
drogas, uma preocupação muito comum nesta etapa da vida ou ainda nas más companhias e
namoros frustrados, não se pode perder de vista que uma situação de bullying pode ser o
agente interveniente nesta alteração de conduta.

g) Anorexia e Bulimia

Os transtornos alimentares também podem ser uma consequência do bullying.


Dentre os mais relevantes em nosso contexto sociocultural estão a anorexia e a bulimia
nervosa. Esses sintomas já são considerados epidemia nas sociedades ocidentais, acometendo
especialmente mulheres (em 90% dos casos), sobretudo as adolescentes e as adultas jovens.
A anorexia nervosa se caracteriza pelo pavor descabido e inexplicável de
engordar, numa grave distorção da imagem corporal, ou seja, mesmo que o indivíduo esteja
extremamente magro ou até esquálido, sente-se acima do peso e fora dos padrões exigidos
pelo seu meio sociocultural. Para atingir o padrão de “beleza” inatingível, a pessoa anoréxica
se submete a regimes alimentares rigorosos e agressivos. A anorexia é uma doença grave, de
difícil controle, e que pode levar à morte por desnutrição, desidratação e outras complicações
clínicas.
Por sua vez, a bulimia nervosa se caracteriza pela ingestão de alimentos,
geralmente muito calóricos, seguidas por um sentimento de culpa em função dos “excessos”
cometidos. Na tentativa de eliminar os alimentos ingeridos, o bulímico lança mão de diversas
ações compensatórias (rituais purgativos), dentre elas estão o vômito autoinduzido (várias
vezes ao dia), abuso de diuréticos, laxantes, excesso de exercícios físicos e longos períodos de
jejum. Tanto os episódios de compulsão alimentar quanto os rituais purgatórios fogem
totalmente do controle de uma pessoa bulímica.
Vale destacar, que a anorexia e a bulimia são patologias que necessitam de
diagnóstico e tratamento o mais precocemente possível. Porém, não se pode perder de vista
que a formação da autoimagem corporal de cada pessoa está fortemente influenciada pela
maneira como a sociedade “impõe”, o que é ter um corpo socialmente apreciável. Dessa
forma, as mudanças próprias da adolescência, tais como, o ganho de peso ou o estirão do
crescimento, podem ocasionar atitudes de zombaria e agressão no ambiente escolar ou mesmo
entre familiares e amigos.
85

h) Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC

Dentre os transtornos de ansiedade o Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC é o


mais intrigante para os especialistas da área de psiquiatria e de psicologia. Popularmente
conhecido como “manias”, o transtorno obsessivo compulsivo se caracteriza por pensamentos
sempre de natureza ruim e recorrentes, causando muita ansiedade e sofrimento. Na tentativa
de destruir tais pensamentos e aliviar a ansiedade, o portador de TOC passa a adotar
comportamentos repetitivos (conhecidos como compulsões), de forma sistemática e
ritualizada, tais como, lavar as mãos muitas vezes ao dia (20 ou 30), com diferentes sabonetes,
podendo causar ferimentos e sangramentos, pressupondo que possa se contaminar ou adquirir
uma doença grave ao tocar em objetos ou simplesmente apertar a mão de alguém. Os banhos
excessivos e demorados também são comuns.
O transtorno também pode se manifestar de diferentes formas, como a “mania” de
checagem ou verificação, como por exemplo, uma pessoa que confere inúmeras vezes se
esqueceu o gás do fogão ligado ou se as portas e janelas estão trancadas, se as gavetas estão
fechadas. Caso não cumpra este ritual, sua mente não consegue parar de pensar que algo grave
possa ocorrer a ela ou aos seus entes queridos.
Diversas outras “manias” são comuns, invariavelmente, trazem enormes prejuízos
para a vida do indivíduo, pois além de se tornar prisioneiro da própria mente, ele perde muito
tempo de seu dia cumprindo seus rituais. Por ser um problema que foge ao controle,
geralmente o portador do TOC é rotulado de estranho ou mesmo louco, o que acarreta grandes
constrangimentos.
Momentos de forte estresse, como pressões psicológicas, tal qual o bullying, podem
abrir um quadro de TOC em pessoas com predisposição genética ou até mesmo intensificar o
problema existente.

i) Transtorno do Estresse Pós-Traumático – TEPT

Pessoas que passaram por experiências traumáticas como vivenciar a morte de perto,
acidentes, sequestros, catástrofes naturais, que lhes trouxeram medo intenso, podem estar
sujeitas a desenvolver o Transtorno do Estresse Pós-Traumático – TEPT. Esse transtorno se
caracteriza por ideias intrusivas e recorrentes do evento traumático, com flashbacks (lances
rápidos que vem a mente como se fossem um filme) e lembranças de todo o horror que os
abateu. O TEPT pode levar a quadros de depressão, ao embotamento emocional (frieza com
86

as pessoas queridas), à sensação de uma vida abreviada, à perda dos prazeres, afetando
diretamente todos os fatores vitais. O número de pessoas com este tipo de transtorno vem
aumentando nos últimos tempos, em função da violência e, consequentemente, a procura por
consultórios médicos e psicológicos também cresceu.
Observa-se um número crescente de TEPT em adolescentes que estiveram
envolvidos com bullying, principalmente quando sofreram agressões ou presenciaram cenas
de extrema violência e abusos sexuais.

j) Quadros menos frequentes

Esquizofrenia: popularmente conhecida como psicose ou loucura, é uma doença


mental que faz com que o indivíduo rompa a barreira da realidade e passe a vivenciar um
mundo imaginário, paralelo. Caracteriza-se pela presença de delírios (imaginar que está sendo
perseguido, por exemplo) e/ ou por alucinações (ouvir vozes, ver pessoas ou vultos que não
existem). Normalmente um esquizofrênico quando agride alguém, o faz para se defender, pois
imagina estar sendo atacado. Pessoas susceptíveis à esquizofrenia ou psicoses podem iniciar o
quadro quando sometidos a uma forte pressão ambiental ou psicológica, tais como o bullying.
Suicídio ou homicídio: ocorrem quando os jovens-alvo não conseguem suportar a
pressão de seus algozes. Em total desespero, essas vítimas lançam mão de atitudes extremas
como forma de aliviar seu sofrimento.
Silva (2010) destaca que os problemas relatados, em sua maioria, apresentam uma
marcação genética considerável, ou seja, podem ser herdados dos pais ou de parentes
próximos. Porém, a vulnerabilidade de cada indivíduo, aliada ao ambiente externo, pressões
psicológicas e situações de estresse prolongado, podem deflagrar transtornos graves que se
encontram adormecidos. Dessa forma, deve-se refletir de maneira bastante conscienciosa que,
além de o bullying ser uma prática inaceitável nas relações interpessoais, pode levar a quadros
clínicos que exijam cuidados médicos e psicológicos para que sejam superados.
Moreira (2010, p. 138) ainda sobre esta questão argumenta a diferença da dor
moral e da dor física:

A dor moral está espalhada por todo o corpo, porque sua sede é o corpo
emocional, então a dor moral é a dor da alma. Quem sofre qualquer tipo de
constrangimento, humilhação, injustiça, agressão moral e acusações falsas,
traz no olhar e na expressão corporal o reflexo da dor sentida na alma.
87

Não existe cirurgia para curar estas feridas e suas posteriores cicatrizes, elas são
internas e profundas, são da alma.
Ao estudar o fenômeno bullying ficou claro que nem toda violência escolar deve
ser considerada como bullying, para isso é preciso que ocorram agressões físicas, morais ou
psicológicas, sendo estas intencionais e repetitivas, e, através de sua disseminação, conclui-se
que o bullying, assim como o cyberbullying, é um fenômeno mundial e cresce a cada dia,
passando despercebido pela maioria das escolas e familiares.
A atemporalidade de propagação das informações das redes virtuais facilita a
propagação de violência de forma extremamente rápida e pode trazer impactos irreparáveis ao
psiquismo e à vida social das vítimas de cyberbullying.
A respeito da ambiência da Educação Física como favorecedora do bullying e
cyberbullying, outras investigações científicas são necessárias, com métodos, técnicas e
abordagens adequadas para este caso.
88

4. METODOLOGIA

Para desvendar as cortinas diante do bullying no espaço escolar e sua


interpretação deste fenômeno no âmbito da Educação Física, optou-se por uma abordagem
quali-quanti, numa perspectiva fenomenológica.
Segundo Bello (2006, p. 17-18, grifos do autor), a fenomenologia é uma palavra
constituída por duas outras, ambas de origem grega: ““fenômeno” significa aquilo que se
mostra; não somente aquilo que se aparece ou parece. “Logia” derivada de logos, que para os
gregos tinha muitos significados: palavra, pensamento”.
Assim, a partir do significado das palavras de origem grega, “fenômeno” e
“logia”, Bello (2006, p. 18) define, então, fenomenologia como uma reflexão sobre um
fenômeno ou sobre aquilo que se mostra.
Na busca de desvelar o fenômeno em pauta e, compreendê-lo, o investigador não
parte de teorias ou explicações dadas a priori, mas do mundo-vida dos sujeitos que vivenciam
o fenômeno em análise. O pesquisador procura estabelecer um contato direto com o fenômeno
estudado.
Tudo o que sei do mundo, mesmo devido à ciência, o sei a partir de minha
visão pessoal ou de uma experiência do mundo a qual os símbolos da ciência
nada significariam. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo
vivido e se quisermos pensar na própria ciência com rigor, apreciar
exatamente seu sentido e seu alcance, convém despertarmos primeiramente
esta experiência do mundo da qual ela é a expressão segunda (TRIVIÑOS,
2002, p. 43, grifo do autor).

A descrição da experiência por quem vivencia um fenômeno é o caminho para a


compreensão dele, e a linguagem é uma das formas que se abre para essa compreensão.
O caminho a percorrer nesta trajetória fenomenológica tem a finalidade de
estabelecer um contato direto com o fenômeno vivido pelo sujeito pesquisado, recorrendo ao
discurso, à descrição mais ampla do sujeito com o intuito de conseguir uma maior
aproximação com a densidade semântica do fenômeno.
Baseado na teoria fenomenológica, o método aqui eleito para o estudo do bullying
no espaço escolar, a partir de um olhar para Educação Física, são os diretos, com a técnica de
grupos focais, os indiretos e o cruzamento de ambos.

4.1. Abordagem Quantitativa


89

Como referência em estudos quantitativos que se utilizam da internet para tornar


mais rápida e eficaz a colheita de dados adota-se o pensamento de Ventura (2011) que
entende por método direto o método quantitativo, neste caso com a utilização dos inquéritos
online, com questões fechadas, com a possibilidade de assinalá-las, com o grupo alvo
pretendido.
Por uma questão de praticidade, rapidez e abrangência, utiliza-se o inquérito
online que apresenta as seguintes vantagens, segundo Ventura (2011):

- Pode ser acessado em qualquer ponto de internet;


- É um formato atrativo e amigável para o público-alvo;
- Facilita a correção de erros imediatamente;
- Permitem a inserção dos dados em softwares de análises estatísticas, como
neste caso a plataforma Survey, permitindo colocar os dados em formato Excel,
para facilitar a gravação e a análise de dados. São diferentes dos inquéritos em
papel, que podem ter falhas na sua aplicação.
- Proporcionam maior agilidade nas investigações.

São vários os autores que se debruçam sobre as questões éticas destes inquéritos,
desde o consentimento, a confidencialidade até a enquete, termo usado para descrever o
código de conduta entre os que comunicam na internet (VENTURA, 2011).
Apesar de ainda haver crenças de que os estudos online são pouco fidedignos, as
investigações produzidas sobre estes, provam o contrário.

4.2. Abordagem Qualitativa

Utilizou-se também o método indireto com análise qualitativa. O método


qualitativo tem suas raízes na fenomenologia, pois busca a compreensão da dinâmica do ser
humano, partindo dos significados dos fenômenos vivenciados pelas pessoas.
O estudo do bullying no espaço escolar, especificamente no âmbito da Educação
Física, requer um olhar interdisciplinar, pois envolve simultaneamente relações sociais,
culturais, históricas, emocionais, afetivas e biológicas de indivíduos e grupos.
D’Antino (2008) afirma que uma abordagem interdisciplinar possibilita uma
discussão que pode resultar em novas propostas de ação e intervenção, para além das
fronteiras impostas pelas especialidades.
90

Assim, estudar o bullying no espaço escolar, é extremamente complexo e


interdependente, exigindo dos pesquisadores o desenvolvimento de estratégias metodológicas
específicas para responder aos seus problemas de pesquisa e alcançar os objetivos do estudo.
Com o propósito de tentar apreender as singularidades das concepções presentes
sobre as diferentes vivências que contemplam o bullying no espaço escolar é a técnica de
grupo focal e análise interpretativa, que foram utilizadas como ferramenta para coleta e
interpretação de dados desta pesquisa.

4.3 Estudo de Caso

Na perspectiva qualitativa, adotou-se como pressuposto o estudo de caso por se


tratar de um caminho consolidado no meio acadêmico, uma vez que, ao investigar situações
particulares pode identificar aspectos gerais e relacionar com outras situações convergentes.
Ela se adequa às situações singulares do fenômeno investigado, porque contribui na
reelaboração das relações, conceitos e compreende uma realidade específica que pode ser
generalizada. Segundo Yin (2005) um estudo completo é aquele em que os limites do caso –
isto é, a distinção entre o fenômeno que está sendo estudado e seu contexto – recebem uma
atenção explícita. Além disso, o estudo de caso completo deve demonstrar, de maneira
convincente, que o pesquisador despendeu esforços exaustivos ao coletar as evidências
relevantes.
Percebemos que tal perspectiva procura abarcar grande possibilidade de
informações.

[...] a confiabilidade de um Estudo de Caso poderá ser garantida pela


utilização de várias fontes de evidências, sendo que a significância dos
achados terá mais qualidade ainda se as técnicas forem distintas. A
convergência de resultados advindos de fontes distintas oferece um excelente
grau de confiabilidade ao estudo, muito além de pesquisas orientadas por
outras estratégias. O processo de triangulação garantirá que descobertas em
um Estudo de Caso serão convincentes e acuradas, possibilitando um estilo
corroborativo de pesquisa. (MARTINS, 2008, p. 80).

As características do estudo de caso como estudos partem de alguns pressupostos


teóricos iniciais, mas procuram manter-se constantemente atentos a novos elementos
emergentes e importantes para discutir a problemática em questão.
91

Levando-se em consideração os objetivos e técnicas, que descrevem e analisam os


resultados e, por se tratar de uma pesquisa realizada somente numa Instituição de Ensino, um
caso particular, a presente pesquisa é classificada como estudo de caso.
Face ao explicitado, entende-se o estudo de caso como uma estratégia de pesquisa
relevante no processo educativo e, neste caso, entender o fenômeno bullying e cyberbullying
na Educação Física Escolar.

4.4 Grupo Focal

É uma forma de coleta de dados diretamente por meio da fala de um grupo, que
relata suas experiências e percepções em torno de um tema.
O grupo focal como um procedimento de coleta de dados é um instrumento no
qual o pesquisador tem a possibilidade de ouvir vários sujeitos ao mesmo tempo, além de
observar as interações próprias de um processo grupal. Tem como objetivo obter uma
variedade de informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos grupos
acerca de um determinado tema (KIND, 2004). Os grupos focais utilizam a interação grupal
para produzir dados e insights que seriam dificilmente conseguidos fora do grupo. Estes dados
levam em conta o processo do grupo, tomado como maior do que a soma das opiniões,
sentimentos e pontos de vista individuais em jogo.
Quanto aos seus procedimentos, o grupo focal se diferencia de outras entrevistas.
Em grupo, no que se refere à formação do grupo. Este baseia-se em alguma característica
homogênea dos participantes, mas com suficiente variação entre eles para que apareçam as
opiniões divergentes.
Para a seleção e organização do grupo focal é imprescindível clareza quanto aos
critérios de inclusão dos sujeitos na pesquisa, pois é uma formação intencional, logo é
necessário que exista pelo menos um ponto de semelhança entre os participantes. Neste caso o
ponto comum foi o envolvimento dos atores com o bullying.
Os pequenos grupos devem ser constituídos por no máximo sete participantes.
Para Gatti (2005, p. 9) “O objetivo é captar, a partir de trocas de opiniões realizadas entre o
grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças, experiências e reações, de um modo que não
seria possível com outros métodos”.
O tempo de cada reunião grupal foi de aproximadamente uma hora, partindo de
um problema em pauta, evitando cansaço e falta de foco do referido. O roteiro para a
realização dos grupos focais encontra-se no Apêndice C.
92

O sucesso da coleta de dados depende da forma como o moderador do grupo


conduz a entrevista, oferecendo informações que deixem os participantes à vontade,
informando-os o que deles se espera, qual será a rotina da reunião e a duração do encontro.
Foram explicados os objetivos, a forma de registro, a anuência dos participantes, a garantia de
sigilo dos registros e dos nomes. É imprescindível deixar claro que todas as informações
interessam e que não há certo ou errado nas opiniões emitidas, pois a discussão é totalmente
aberta em torno do tema proposto e qualquer tipo de reflexão e contribuição é importante para
a pesquisa (GATTI, 2005).
A técnica de grupo focal possibilita o acolhimento do sujeito, devido à criação de
um espaço para a expressão das angústias e ansiedades, valorizando aspectos psicodinâmicos
mobilizados na relação afetiva e direta com os participantes do estudo devido à escuta. Estes
conteúdos latentes cheios de significados que organizam e estruturam o modo de vida das
pessoas e suas relações com os objetos poderão ser categorizadas por meio da análise
interpretativa.
Sendo assim, outras reflexões de caráter metodológico acerca de instrumentos e
forma de análise de dados se fazem necessárias em busca de uma construção epistêmica forte,
pois fazer pesquisa qualitativa não se restringe a organizar, de modo simplista, citações
literais unidas às falas de sujeitos que responderam a questionários nem sempre bem
elaborados. A pesquisa qualitativa deve buscar no fenômeno investigado os seus significados
para aquela pessoa ou grupo, as representações psíquicas e sociais e os constructos simbólicos
das mesmas.
Os grupos focais foram realizados no mês de dezembro de 2013.

4.5 Análise Interpretativa

Para o tratamento dos dados deste estudo, utilizou-se a análise interpretativa que
busca através dos dados da pesquisa, com os textos originados das falas dos sujeitos nos
grupos focais e das respostas do questionário online, a compreensão objetiva da mensagem
comunicada pelas falas e pelos gráficos. O que se tem em vista é a síntese dos elementos
presentes na reflexão, raciocínio e a compreensão detalhada do fenômeno, sem os quais não
seria possível atingir o objetivo. A interpretação permite, em sentido restrito, tomar uma
posição própria a respeito dos elementos enunciados, é superar a estrita mensagem do texto,
ler nas entrelinhas, estabelecer o diálogo, explorar a fecundidade das ideias expostas, enfim,
dialogar com o sujeito da pesquisa e com os autores. (GIL, 2007).
93

No primeiro momento da interpretação, busca-se determinar até que ponto se


consegue atingir os objetivos propostos, além de identificar até que ponto o raciocínio foi
eficaz na demonstração da resposta ao problema estabelecido, com uma argumentação sólida
e sem falhas, coerente com as suas premissas e com várias etapas percorridas.
Num segundo ponto de vista, se estabelece uma análise crítica sobre o raciocínio
em questão: até que ponto o autor consegue uma colocação original, própria, pessoal,
superando o tema, faz-se uma retomada dos textos de outros autores, até que ponto o
tratamento dispensado por ele ao tema é profundo e não superficial e meramente erudito;
trata-se de se saber ainda, qual o alcance, ou seja, a relevância e a contribuição específica do
texto para o estudo do tema abordado.
Assim, é fundamental ir além dos dados propriamente apresentados, integrando-os
numa perspectiva mais ampla, aos fundamentos teóricos e os elementos empíricos
identificados. (GIL, 2007)
Segundo Marconi e Lakatos (2009) a interpretação pode ser definida como uma
ação que confere significado amplo às respostas, vinculando-as a outros conhecimentos,
esclarecendo o significado do material, permitindo inferir, deduzir, concluir algo.

4.6 Lócus da Pesquisa

4.6.1 O Município

A pesquisa foi realizada num município situado no Centro Norte do Estado de


Mato Grosso. Este municípo está localizado numa região geográfica privilegiada, é um dos
principais pólos de desenvolvimento agrícola de Mato Grosso. Recebeu um grande número de
imigrantes do Sul do Brasil, que resolveram instalar-se no centro do Estado, sendo até hoje
sua população de maioria sulista. É considerado um dos primeiros municípios a colher soja no
país. Contudo, a grande mecanização da agricultura, que permite mais rapidez na colheita e
plantio, reduz a quantidade de mão de obra empregada.

4.6.2 O Colégio

Neste ambiente sócio-econômico-cultural do município está inserida a escola


pesquisada, instituição privada de orientação confessional.
94

De acordo com Santos (1985, p. 51, grifos do autor), as características do


ambiente escolar e entorno, tem influência direta como palco de prática pedagógica de ensino.
O lugar deve estar dotado de significados que fornecem estímulos, conteúdos e valores que o
aluno internaliza.
A estrutura física da escola, seus espaços e equipamentos, possuem grande
importância no cumprimento de suas funções sociais. Segundo Santos (1985, p. 51), “a
função está diretamente relacionada com sua forma; portanto, a função é a atividade
elementar de que a forma se reveste”.
A estrutura física da escola apresenta excelente qualidade, conservação e
modernização.

4.7 Público-alvo e Amostragem

O foco da investigação esteve centrado no público-alvo que, caso a tendência


demonstrada por pesquisas já realizadas sobre o bullying convencional, representa a faixa de
maior incidência e de maiores impactos. Assim, o público-alvo foram alunos do Ensino
Fundamental, do 6º ao 9º ano, da escola pesquisada, cujas idades estão compreendidas entre
10 a 15 anos. Foram pesquisados todos os alunos das turmas de todos anos presentes na aula
no dia da aplicação do inquérito online, independente de sexo.
Com relação a aplicação da técnica dos grupos focais, estabeleceram-se os
seguintes grupos:
Grupo 1 - Equipe Diretiva e Equipe Técnica
Grupo 2 - Professores de Educação Física e demais disciplinas
Grupo 3 - Grupo de alunos
Grupo 4 - Grupo de alunos
Os alunos que compõem o grupo 3 e 4 foram indicados pelos professores e equipe
diretiva, sendo de todas as turmas, levando-se em conta os que costumam ser protagonistas do
bullying (vítimas, agressores e espectadores), no cotidiano da escola. Contudo, nenhum dos
alunos recebeu a informação de que eram vítimas, agressores ou espectadores, de forma a
deixá-los à vontade para participar do grupo focal. Os indicados foram convidados a
participar, mas sempre deixando claro que era um convite, e não teria nenhum problema se
recusassem a aceitar, bem como o sigilo seria mantido.
Cabe destacar ainda, que apenas 14 alunos participaram dos grupos focais, visto
as características de tal técnica.
95

4.8 Procedimentos Éticos

O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital


Universitário Julio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso – CEP/HUJM/UFMT -
sendo aprovado pelo Parecer Consubstanciado – CEP - nº 255.120, em 25 de abril de 2013
(ANEXO A).
Participaram da pesquisa os alunos que encaminharam o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido pelos pais e/ ou responsáveis, sendo facultativa sua participação
(APÊNDICE A).
A pesquisa não oferece riscos à saúde escolar, mas pode suscitar sensibilidade,
por parte do aluno a alguma questão investigada. Desse modo, medidas foram tomadas para
proteger o adolescente e deixá-lo numa condição confortável. A participação foi voluntária e
o estudante teve a possibilidade de deixar de responder qualquer pergunta ou todo o inquérito,
como não participar dos grupos focais a qualquer momento, sem qualquer tipo de prejuízo.
Além disso, a identidade de todos os participantes foi mantida em sigilo.

4.9 Instrumento de Pesquisa

O inquérito online (APÊNDICE B) foi composto por 43 questões fechadas e de


múltipla escolha, inseridos no programa de inserção de dados SurveyMonkey. Sua aplicação
ocorreu diretamente no laboratório de informática, conectado à internet, na presença de um
técnico de laboratório e da pesquisadora.
O instrumento teve como inspiração a pesquisa sobre Bullying Escolar no Brasil -
Relatório Final - publicada em 2010, realizada pelo Centro de Empreendimento Social e
Administração em Terceiro Setor - CEATS – Fundação Instituto de Administração – FIA
(CEATS, 2010) e a Tese de Doutorado de Pedro Miguel de Barros Ventura intitulada:
Incidência e impacto do cyberbullying nos alunos do terceiro ciclo do ensino básico público
português, desenvolvida na Universidade de Granada, Espanha, em 2011.
Ressalta-se que, este questionário baseou-se nos estudos mencionados, mas
passou por inúmeras adaptações, pois o objetivo está diretamente ligado à área da Educação
Física Escolar, não sendo este o interesse específico dos investigadores supracitados.

4.10 Aplicação do Estudo Piloto


96

Após a elaboração do instrumento de pesquisa tornou-se necessário testar sua


validade, bem como verificar a validade da hipótese levantada. A aplicação de um piloto da
pesquisa, com uma pequena amostra da população, cumpre este pré-requisito, evitando
resultados falsos na pesquisa definitiva.
Para Bailer, Tomitch e D’Ely (2005, p.135),

Por definição, o estudo piloto é um teste, em pequena escala, dos


procedimentos, materiais e métodos propostos para determinada pesquisa.
Ou seja, é uma miniversão do estudo completo, que envolve a realização de
todos os procedimentos previstos na metodologia de modo a possibilitar
alteração/melhora dos instrumentos na fase que antecede a investigação em
si.

O estudo piloto foi realizado no município de Cuiabá, MT, na Escola Estadual


Presidente Médici, no dia 17/06/2013, numa turma de 9º ano do Ensino Fundamental
composta por 15 alunos. A aplicação do questionário ocorreu no laboratório de informática,
onde estava presente a técnica de informática e a pesquisadora. Os alunos já sabiam
previamente que estavam participando de uma pesquisa e trouxeram o Termo de Livre
Esclarecimento – TCLE assinado pelos pais. Após nova explanação sobre a pesquisa e
orientações de como respondê-la, deu-se o início. Todos os alunos responderam ao
questionário, que teve o prazo máximo de duração de 30 minutos.
O estudo piloto aplicado com um inquérito de 45 questões, após passar por uma
análise crítica, sofreu pequenas reformulações passando a ser composto por 43 questões, que
resultaram no inquérito online, cujos dados embasam este estudo.
97

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A presente investigação científica apresenta neste capítulo dados que não têm a
pretensão de esgotar o assunto, uma vez que o estudo do cyberbullying na ambiência da
Educação Física escolar é um fenômeno complexo, cujos estudos são ainda incipientes e de
interesse relativamente recente.
Para desvendar o fenômeno optou-se por uma abordagem quali-quanti, numa
perspectiva fenomenológica. Para a análise quantitativa optou-se para a aplicação de inquérito
online, na plataforma SurveyMonkey, onde os alunos responderam diretamente do laboratório
de informática, na presença da pesquisadora, e os dados foram tratados mediante cálculo de
frequência, traduzidos em percentuais. Para a análise qualitativa utilizou-se da técnica de
grupos focais, com os alunos, professores e equipes diretiva e técnica, cuja modelagem foi
uma análise interpretativa.

5.1. Inquérito Online

Faz parte deste capítulo a caracterização da resposta ao inquérito online de 119


(cento e dezenove alunos) que participam desta etapa da pesquisa, que se constituiu da
aplicação do inquérito, de caráter descritivo-exploratório, numa escola privada na cidade de
Lucas do Rio Verde, MT, no mês de outubro de 2013.
Optou-se por aplicar o inquérito online com todo o universo da pesquisa, ou seja,
119 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, almejando obter dados concretos e
específicos desta realidade, cientes que o estudo do cyberbullying na ambiência da Educação
Física, representa um dos primeiros passos de uma longínqua caminhada.
Com a aplicação do inquérito online buscou-se dados que permitem recolher o
máximo de opiniões em tempo útil, visando a interpretação do fenômeno estudado. Para
melhor apresenta-lo, os dados foram divididos em 4 categorias assim distribuídas:
Categoria 1 – Características Pessoais: respostas das questões de número 1 (um)
até 6 (seis), que apresentam características gerais dos sujeitos da pesquisa, tais como sexo,
idade, organização familiar, dentre outras.
Categoria 2 – Uso da Tecnologia: as respostas das questões de número 7 (sete) ao
13 (treze) versam sobre o uso da tecnologia pelos sujeitos da pesquisa, tais como local, horas
utilizadas, tipo de uso e utilização do aparelho celular.
98

Categoria 3 – Bullying/ Educação Física: as respostas das questões de número 14


(quatorze) até 33 (trinta e três) dizem respeito ao bullying nas aulas de Educação Física, sua
ocorrência, formas de manifestações e protagonistas.
Categoria 4 – Cyberbullying/ Educação Física: as respostas das questões de
número 35 (trinta e cinco) até a 43 (quarenta e três) que tratam especificamente do
cyberbullying nas aulas de Educação Física, ocorrência, forma, protagonistas, reações,
consequências e ação da escola.
Os dados dos grupos focais foram analisados juntamente com o inquérito online.

Categoria 1 - Características Pessoais

Esta categoria descreve a caracterização dos 119 alunos que participaram da


pesquisa, por sexo, idade, série, cor/etnia e organização familiar.

5.1.1 Distribuição por Sexo

Na apresentação do gráfico sobre o sexo dos alunos do universo pesquisado, foi


possível constatar que os alunos do sexo masculino (53,8%) têm uma representação
levemente superior ao do sexo feminino (46,2%).

Gráfico 1 – Distribuição por Sexo


Nota: Construção da autora

5.1.2. Distribuição por Idade


99

Pode-se observar que os alunos entram no 6º ano com 11 (onze) anos e terminam
o 8º ano com 14 anos. Somente um aluno não pertence a essa faixa de intervalo estando com
17 anos. Os dados comprovam o baixo índice de retenção (3,4%) apresentado pela escola,
conforme pode-se observar um pouco mais adiante, no Gráfico 5.
Este Gráfico leva a interpretar que os alunos entram mais cedo na escola e saem
mais cedo também.

Gráfico 2 – Distribuição por Idade


Nota: Construção da autora

5.1.3. Distribuição por Série e Ano

Constata-se que no 9º ano situa-se o maior número de alunos e o menor número


situa-se no 8º ano, isto demonstra que o número de matrículas anuais não segue uma ordem
lógica de crescimento. Considerando que o aumento do número de alunos do 6º até o 9º ano
foi de 10,3%, identifica-se que os alunos não trocam esta escola pela ocorrência de bullying.
E, segundo observações da equipe técnica, a partir dos dados obtidos no grupo focal, eles
procuram esta escola por saberem que ela utiliza de mecanismos de prevenção quanto a este
fenômeno.
Deduz-se que outros fatores podem interferir nesta lógica e não são de interesse
deste estudo.
100

Gráfico 3 – Distribuição por Série e Ano


Nota: Construção da autora

5.1.4. Distribuição por Cor/Etnia

Conforme descrito na caracterização do município onde a pesquisa foi realizada,


este foi colonizado por imigrantes do sul do país, o que justifica uma predominância de alunos
de cor branca (76,9%), a taxa de pardos (17,9%) pode ser de imigrantes das outras regiões do
país ou de mato-grossenses, há baixa incidência de pardos, amarelos e negros. Um dado
significativo é que somente 1 indivíduo é de raça indígena, mesmo estando na região
amazônica.

Gráfico 4. Distribuição por Cor/Etnia


Nota: Construção da autora

5.1.5. Distribuição por Retenção.


101

A Instituição apresenta um elevado índice de aprovação anual ficando na faixa de


96,6% e uma retenção de 3,4%. Este dado não tem significação direta para a pesquisa, a não
ser quando relacionado com as vítimas e agressores, o que será analisado posteriormente.

Gráfico 5 – Percentual de Retenção


Nota: Construção da autora

5.1.6. Organização Familiar

Predomina a organização familiar nuclear (59,3%), sendo a família composta por


pais, mães e irmãos e, a seguir, vem os que moram somente com os pais (22%). Por sua vez,
os que moram com a mãe, padrasto e irmãos (5,1%), posteriormente os que moram com a mãe
e padrasto (3,4%). Os demais dados demonstram os diferentes arranjos dos que moram
também com o pai, cujos percentuais variam de 1,7% a 0,8%. Conclui-se que os alunos que
estão fora do núcleo familiar nuclear moram predominantemente com a mãe, conforme
Gráfico a seguir:
102

Gráfico 6 – Organização Familiar


Nota: Construção da autora

Categoria 2 - Uso da Tecnologia

A segunda categoria utilizada está relacionada ao uso que o aluno faz da


tecnologia, tais como frequência e local de acesso, horas diárias de uso, diferentes usos, posse
de aparelho celular, representação e tipo de utilização do celular.

5.1.7. Frequência de Acesso à Internet

O gráfico apresentado demonstra que um elevado número de alunos tem acesso à


internet com frequência (87,9%), os demais acessam à internet às vezes (12,9%), portanto
todos os alunos acessam à internet.
Azevedo, Miranda e Sousa (2012, p. 249) esclarecem:

Não é, portanto, uma simples questão de ponto de vista, é uma


ressignificação dos papéis, ou melhor, a reconstrução dos parâmetros
exercidos pela apropriação da convivência diária, não mais fechados e
inertes. Poder acessar em tempo real toda sorte de informações de qualquer
lugar do mundo, bem como suas principais fontes, representa uma forte
mudança de paradigma social e proporciona um futuro cheio de
possibilidades e fluidez, onde a informação do hoje pode ser a ultrapassada
de amanhã, num curto espaço de tempo.
103

Se compararmos com dados do Relatório da ONG PLAN (2010), que apresenta


que 65,8% dos alunos do Centro-Oeste do Brasil acessam à internet sempre; às vezes 26,5% e
nunca acessam de 4,2%, pode-se identificar certa discrepância entre os percentuais do Centro-
Oeste em relação ao município de Lucas do Rio Verde, que apresenta uma diferença para
mais de 22,1% para os que acessam à internet sempre; uma diferença dos que acessam às
vezes e os que não acessam é de 30,7% para o Centro-Oeste e 12,09% para a escola
pesquisada de Lucas do Rio Verde.
Este dado permite inferir que os índices de frequência, de navegação na internet,
da escola particular pesquisada são bastante elevados e acima das médias nacionais e
regionais, uma vez que o mesmo relatório aponta o Centro-Oeste como uma das regiões do
país que apresenta os maiores percentuais de uso da internet do Brasil. Ao interpretar este
dado, deve-se levar em conta que a escola pesquisa apresenta um dos mais elevados índices
econômicos do Brasil.

Gráfico 7 – Frequência de Acesso à Internet


Nota: Construção da autora

5.1.8. Local de Acesso à Internet

Um elevado percentual dos alunos pesquisados (98,2%) acessa a internet em sua


própria casa, os que acessam na escola perfazem um número pouco expressivo, pois estão na
ordem de 1,8%. A utilização da internet fora da escola e da casa, ou seja, em lan house não
apareceu. Estes alunos têm acesso à internet em sua própria residência, não havendo
necessidade de se deslocar até uma lan house. Novamente estes dados podem-se relacionar
com a condição econômica elevada da região e do município onde a pesquisa foi realizada.
104

Gráfico 8 – Local de Acesso à Internet


Nota: Construção da autora

5.1.9. Horas diárias de uso da Internet

O maior percentual de horas em que o aluno pesquisado passa navegando na


internet é de três horas (32,5%), a seguir vem os que navegam de três a cinco horas por dia
(23,9%), em terceiro lugar tem-se os que navegam menos de uma hora (17,1%). O dado que
chama a atenção neste Gráfico são os alunos que passam de cinco a oito horas na internet
(16,2%), seguidos dos que utilizam mais de oito horas por dia (10,3%), ou seja, um tempo
muito superior ao utilizado na escola. Pressupondo que estes alunos permanecem na escola,
no mínimo por 4 horas diárias e ficam mais de oito horas na internet, “sobram” apenas 12
horas para as demais atividades diárias, inclusive o período destinado ao descanso, o sono,
dormir. Confirma-se o fascínio que o adolescente tem pela internet, a ponto de mais de 10%
dos pesquisados passarem seu tempo navegando na internet mais de 8 (oito) horas por dia,
estando mais sujeitos às consequências do bullying, tanto como espectadores, autores ou até
vítimas.
105

Gráfico 9 – Horas Diárias de Uso da Internet


Nota: Construção da autora

5.1.10. Usos da Internet

Para este quadro os inqueridos poderiam assinalar mais de uma opção. Os dados
demonstram que mais da metade dos alunos, 73,5%, tem página pessoal nas redes sociais,
indicando ainda que o tempo dispendido para as redes sociais são superiores ao tempo para
fins escolares em 1,7%. Na faixa de intervalo entre 42% e 65,8% estão os que utilizam a
internet para jogar, acessar e-mail e pesquisar assuntos de interesse pessoal; 16,2% partilham
informações na internet, podendo estar nesta faixa os autores do cyberbullying; a webcam é
utilizada por 15,4%. Ao serem convocados a responder sobre contato com desconhecido, os
alunos responderam tanto para quem bloqueia essas conversas como para quem conversa com
desconhecidos o percentual de 8,5%. Este percentual demonstra a vulnerabilidade a que estão
expostos ao manterem contatos com desconhecidos, que conforme já demonstrado neste
trabalho, é uma porta aberta para o assédio, que poderá resultar em cyberbullying, inclusive
com o uso de imagens, pois este mesmo Gráfico mostra que 15,4% dos inqueridos usam
webcam. Outro dado importante é que 4,3% dos alunos abrem sites para maiores de 18 anos, e
têm site pessoal, portanto, indivíduos maiores de 18 anos podem ter acesso às informações
sobre os inqueridos regularmente. Conclui-se com os dados sobre o uso da internet, que os
alunos estão expostos a toda a sorte das informações advindas ou por ele divulgadas, da rede
106

mundial de comunicação. A exposição a diversos fatores de risco como a violência em todas


as suas nuances, acompanha a adolescência, tanto fora como dentro dos espaços escolares.

Gráfico 10 – Usos da Internet


Nota: Construção da autora

5.1.11. Posse de Aparelho Celular

A pesquisa apresenta dados de grande acesso ao aparelho celular, 94,9% possuem


e apenas 5,1% não tem acesso.
Buscando os dados do perfil do município onde a pesquisa foi realizada, assim
como da escola, verificam-se elevados índices de desenvolvimento econômico, o que também
justifica a posse de celular dentro deste percentual elevado.
107

Grafico11 – Posse de Aparelho Celular


Nota: Construção da autora

5.1.12 Representação do Celular

Com relação ao uso do celular 61,9% dos inqueridos consideram seu uso
indispensável, enquanto que somente 38,1% consideram seu uso dispensável.
Ventura (2011) menciona o fascínio que o adolescente tem pela tecnologia, é uma
etapa da vida em que se está propenso a utilizar toda a inovação, tudo é novo e existe o desejo
de experimentar tudo.
O uso do celular atende as necessidades e os anseios próprios da adolescência, e
nesta pesquisa por ser considerado um objeto indispensável por mais de 60% por alunos
pesquisados.
108

Gráfico 12 – Representação do Celular


Nota: Construção da autora

5.1.13. Tipo de Utilização do Celular.

Sobre o tipo de utilização que se faz do celular, os pesquisados poderiam assinalar


mais que uma opção. Nota-se que bem próximo da totalidade dos alunos, usa o celular para
telefonar; no intervalo de 80% a 90% utiliza o celular para enviar SMS e fotografar; no
intervalo de 70% a 80% a utilização para entrar nas redes sociais, MP3 e jogar; próximo a
20% estão os que utilizam por segurança e abaixo o que responderam outros motivos e para
ouvir rádio.
Estes dados demonstram a importância que o celular representa, pois atende desde
as necessidades de comunicação, lazer, captação de imagens, relacionamentos e segurança,
tudo só num dispositivo. Demonstra ainda, que com um único aparelho o aluno tem todas as
possibilidades de praticar, sofrer e/ou testemunhar o cyberbullying a todo lugar e a todo o
tempo. O registo fotográfico e o uso da imagem apresentam elevada ocorrência.
109

Gráfico13 – Tipo de utilização do Celular


Nota: Construção da autora

Categoria 3 - Bullying nas Aulas de Educação Física

A categoria três está relacionada ao bullying nas aulas de Educação Física,


abordando dentre alguns aspectos o gosto e o sentimento despertados pelas aulas, seguido das
características do bullying, tais como: motivação, tipologia das práticas e das vítimas, prática
com colega, sofrimento, espaço de ocorrência, quantificação da manifestação, sentimentos
causados dos autores e espectadores, reação e consequências, predominância de prática por
sexo, reação e consequência aos agressores, medidas tomadas pelo professor e pela escola.
De acordo com os dados ora apresentados e com as informações dos grupos
focais, percebe-se que há um modelo de aula de Educação Física que tem privilegiado a
manutenção e o surgimento de práticas antissociais. O bullying é o efeito de equívocos de
diferentes ordens.

5.1.14 Gosto pela Aula de Educação Física

O resultado de quem gosta das aulas de Educação Física foi de 71,3% para os que
afirmaram gostar, 22,6% para os que só gostam algumas vezes e 7% afirmam não gostar.
110

A maioria dos alunos pesquisados apresenta uma relação positiva com as aulas de
Educação Física, no entanto, somado-se os que só gostam às vezes e os que não gostam tem-
se um percentual de 29,6%, um dado importante da pesquisa, pois nesta faixa podem estar as
vítimas do bullying.

.
Grafico14 – Gosto pela Aula de Educação Física.
Nota: Construção da autora

5.1.15 Sentimentos Pelas Aulas de Educação Física

Inicialmente, deve-se esclarecer que não se podem somar os resultados obtidos,


visto que os alunos poderiam assinalar mais de uma opção de resposta.
Para os pesquisados que tiveram sentimentos positivos: amado, acolhido e seguro
a média percentual dos que responderam sim foi de 64,83%; dos que responderam não a
média percentual foi de 47,3%; os que responderam algumas vezes apresentaram uma média
percentual de 17,26%. O dado importante desta análise é que somando – “às vezes” e “não” –
resulta em 64,56%, e isto nos permite afirmar que os alunos que se sentem amados, seguros e
acolhidos, para os que não se sentem estão num patamar parecido (64,83% e 64,56%,
respectivamente).
Quando perguntados sobre os sentimentos negativos, as opções com medo,
sozinho, angustiado, maltratado, humilhado e excluído apresentaram médias percentuais de
ocorrência positiva de 5,53%; a média percentual dos que responderam não tiveram
111

sentimentos deste tipo foi de 87,13%, enquanto os que responderam “às vezes”, a média
percentual foi de 7,76%.
Somando-se a média dos que responderam “sim”, e “algumas vezes”, tem-se uma
média percentual de 6,64% dos pesquisados que sentem medo, sozinho, angustiado,
maltratado e humilhado, sintomas típicos de envolvidos em casos de bullying.
Isto nos permite afirmar que mesmo com sentimentos negativos os alunos ainda
gostam das aulas de Educação Física, pois o Gráfico 14 demonstra que 73,1% gostam das
aulas de Educação Física.

Gráfico 15 – Sentimentos pela aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.16 Motivação para o Bullying nas Aulas de Educação Física.

Ao responderem sobre os motivos que levam à pratica de maus tratos no formato


bullying nas aulas de Educação Física, questão em que os alunos poderiam assinalar mais de
uma alternativa, o maior percentual (53%) foi da condição de que tais situações ocorrem por
“brincadeira”. Existe dificuldade tanto do professor tanto quanto dos alunos, para distinguir
112

bullying de uma simples brincadeira de criança. Na brincadeira, todos se divertem e no


bullying uns se divertem à custa do outro que sofre.
Para Fante (2005, p. 29) esse é “[...] um comportamento cruel intrínseco nas
relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de
diversão e prazer, através de “brincadeiras” que disfarçam o propósito de maltratar e
intimidar”.
Quando uma criança se queixa de ser humilhada ou perseguida, os responsáveis
tendem a interpretar como brincadeira, dizendo que é um comportamento passageiro,
recomendando que a vítima não se importe com isso. O bullying não pode ser considerado
brincadeira, visto que, como afirma Robles (2007, p. 10):

[...] a brincadeira é uma atividade ou ação própria da criança, voluntária,


espontânea, delimitada no tempo e no espaço, prazerosa, constituída por
reforçadores positivos intrínsecos, com um fim em si mesma e tendo uma
relação íntima com a criança. É importante ressaltar que o brincar faz parte
da infância, porém, em várias ocasiões, os adultos (pais ou professores)
propõem determinadas atividades para as crianças que parecem não cumprir
os critérios acima discutidos, mas que são chamadas de brincadeiras pelos
próprios adultos. Se a atividade é imposta ou se parece desagradável para a
criança, tudo indica que não se trata de uma brincadeira, mas de qualquer
outra atividade.

“O bullying é soma de comportamentos intencionais e repetitivos, ou seja, são


premeditados, não são passageiros” (MIDDDELTON-MOZ; ZAWADSKI, 2007, p. 78).
A brincadeira tem aspectos epistemológicos fundantes. No entendimento de
Costa, Pedrini e Kunz (2013, p. 519):

O brincar é cultural para alguns, social para outros ou ainda psicológico para
um grande grupo de pesquisadores. Somente aqueles que pesquisam e
convivem com crianças descobrem que o brincar é individual, cultural,
universal, social, natural, corporal, emocional, enfim total.
113

Gráfico 16 – Motivação para o Bullying nas Aulas de Educação Física


Nota: Construção da autora

Para dialogar com as informações obtidas junto ao inquérito online são


apresentados os dados obtidos junto aos grupos focais, conforme segue:

As vezes vários se divertem [...] ou uns se divertem e outros sofrem. (sic.).


(Grupo Focal – Aluno 7)

Pra mim o bullying é repetidamente [...] tipo [...] você fica falando coisas
que ofende a pessoa, e a brincadeira não é repetidamente, as vezes pode ser
que a pessoa saiba que é uma brincadeira: “há sua loira azeda, tudo bem?”,
as vezes a gente faz isso, mas a pessoa sabe que não é bullying, tem outras
que acham que é mas não é. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 8)

Eu acho que é bullying quando passa dos limites, por exemplo, a brincadeira
tem limite, entre amigos assim, zoar da cara do outro, normal assim, beleza,
quando não tem limite não para, aí causa o bullying. (sic.). (Grupo Focal –
Professor 1).

Sobre esta mesma questão o relatório da ONG PLAN apresenta dados que neste
quesito estão situados os maiores índices de afirmação, diagnosticando também a dificuldade
que os alunos têm de diferenciar brincadeira de agressão, isso faz com que situações de
114

violência surjam da falta de limites das brincadeiras, muitas vezes sem que os próprios
envolvidos nas brincadeiras se deem conta da gravidade da agressão. Portanto, a hipótese
sobre a confusão entre bullying e simples brincadeiras está muito presente nas concepções dos
alunos em caráter nacional, bem como no presente estudo. Pode-se inferir, portanto, que as
atitudes tomadas em relação as brincadeiras e sobre a violência escolar são bem diferentes. A
identificação do bullying como tal é um dos problemas detectados, isto dificulta a prevenção a
identificação e as providências necessárias para que a violência não caia na impunidade.
O segundo percentual (45,3%) abrange três categorias de análise: os que querem
ser populares, porque a vítima é diferente ou porque o outro é diferente. Pode-se afirmar que
neste grupo estão os que querem popularidade à força, bem como a não aceitação do outro
que apresenta algum traço que destoa do modelo cultural imposto, uma cultura diferente da
sua, confirma-se a hipótese de que a não aceitação da diversidade seja ela qual for, fica mais
aparente nas aulas de Educação Física, podendo ocasionar e se tornar motivo para o bullying.
A seguir estão os que demonstram poder sobre os demais nas categorias dos que
querem dominar o grupo (42%) e os que são mais fortes (31,6%), isto leva a concluir que
estes “bullyes” normalmente têm mais facilidade de atuação nas aulas de Educação Física,
podendo tanto interferir na escolha dos times como utilizar o poder de coerção para dominar
os colegas. Eles usam o bullying em forma de intimidação principalmente dos mais frágeis e
dos mais tímidos.

Eu acho que as pessoas praticam bullying elas fazem isso pra se sentir
melhores, para se sentir melhores que as outras pessoas, pra se sentir segura,
diminuindo os outros porque acha maior. (sic.). (Grupo Focal – Professor 8)

A maioria das vezes que a pessoa pratica o bullying você é muito popular e
para ganhar mais popularidade deixa o outro do lado e você tipo não quer
ver a pessoa perto de você pratica o bullying ai pensam ela é demais,
consegue excluir aquela pessoa. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 7)

Na aula de Educação Física onde as habilidades pessoais como a força física e a


liderança muitas vezes conseguida pela popularidade, têm muita importância para o
desempenho do aluno, os menos habilidosos, mais fracos fisicamente, com pouca
popularidade e os mais tímidos costumam ser intimidados com o bullying. E, neste caso, as
atitudes de bullying, quando não atendidas adequadamente, contribuem para tornar os mais
habilidosos cada vez mais habilidosos e os fracos cada vez mais fracos. Neste sentido as aulas
de Educação Física podem ter caráter de exclusão e de favorecimento de atitudes de bullying.
115

Assim, dentro deste espaço que acho que é privilegiado, porque se manifesta
de forma mais intensa né, como na sala de aula num espaço mais fechado.
Realmente como o aluno vem com toda sua realidade até físicas e corporais
né, e aí depende do profissional que está aí para trabalhar isso. Eu volto a
dizer assim, que então a formação desse profissional que vai ser a diferença
observando aqui a expectativa de nossos alunos do curso de Educação
Física, 99% é porque gostam de um esporte, porque acham bonito um
professor que não precisava se esforçar muito, porque está em espaços
abertos, profissional que não tem motivação porque não tem a perspectiva
educativa. (sic.). (Grupo Focal – Dirigente 2)

Na categoria que afirma que a prática do bullying se dá porque “nosso time perde
por causa dele” – está com um índice de 27,4%, isto aponta para que as aulas de Educação
Física quando tem caráter competitivo, enfatiza os ganhadores e os perdedores, e como o
objetivo é ganhar o jogo, os menos habilidosos são entendidos como perdedores, então sofrem
bullying em forma de humilhação, exclusão, comprovando a hipótese da pesquisa em que a
ambiência das aulas de Educação Física, quando apresenta caráter competitivo, desencadeia a
prática de atitudes de violência em forma de bullying podendo chegar ao cyberbullying, visto
as propícias condições para a utilização para o acesso à tecnologia.
Bauman (2007, p. 10) relaciona que esta característica traz o medo líquido, o
medo da incerteza, de não ser escolhido para o jogo, de não acertar ou da exclusão “a vida na
sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer.
O verdadeiro prêmio nessa competição é a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras
dos destruídos e evitar ser jogado no lixo”.
Furtado e Morais (2010, p. 1, grifos do autor) sobre a relação entre a competição e
o bullying, identificaram:

[...] agressões físicas (tapas, socos e chutes), verbais (apelidos, palavrões) e


psicológicas (gozações, ameaças) por parte dos alunos. As agressões
aconteciam com certa repetição, sem nenhum motivo à vista e sempre
direcionadas aos mais tímidos, o que vai ao encontro do exposto. Os
eventos de bullying ocorriam com mais frequência quando os conteúdos das
aulas eram focados somente na competição. Resultando em maior alteração
no comportamento das turmas. [...] Quando alguém - ou algum grupo -
perdia o jogo, ocorriam: zombarias com o colega que era empurrado e
recebia tapas na cara; comentários maldosos do tipo “você não sabe jogar”,
“joga direito” ou “sai do jogo”; palavrões, sendo excluído da brincadeira,
não lhe dando chance para participar novamente, devido sua “incapacidade”
de vencer ou de ajudar seus colegas a vencerem o jogo (sic.).

O índice dos que culpabilizam a própria vítima “vítimas não reagem” e “elas
merecem” são de 25,6% 23,9%, respectivamente.
116

Ser alvo de bullying provoca sentimentos intensos de medo e vergonha,


aumenta a vulnerabilidade, abaixa a autoestima e leva à ansiedade, à
depressão e a sensações de impotência que costumam aumentar a
vitimização. Infelizmente, as vítimas se culpam pelo comportamento do
bullye, muitas vezes, outros também culpam a vitima (MIDDELTON-MOZ;
ZAWADKI, 2007, p. 19, grifo do autor).

Uma das formas mais cruéis de bullying é fazer com que a própria vítima sinta-se
culpada por desencadear situações de violência nas aulas de Educação Física. As vítimas
assumem a culpa imposta pelo agressor que tanto pode ser um colega como um professor.

As pessoas que são tímidas elas sofrem bullying porque não tem coragem de
se defender, elas não contam para os pais, ai o professor tem que avisar a
coordenação, a coordenação chama os pais, e de qualquer forma os pais vão
saber e a pessoa tem que entender que tem voltar para a escola senão vai ser
mais um problema para enfrentar na frente. Acho que primeiro os pais têm
que saber também. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 3)

O bullying pode aparecer por qualquer forma, por uma característica física,
psicológica, uma diferença que as pessoas não querem aceitar, se se acham
no defeito de aceitar o que ela e é não o que os outros são. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 7).

O bullying ainda pode ocorrer com índices mais baixos no intervalo entre 24% até
9,4% por inveja.
São poucos que fazem, mas tem os alunos que tem tênis de marca, viajam
para o exterior nas férias se exibem e provocam inveja, daí surge bullying.
(sic.). (Grupo Focal – Professor 4).

Essas formas privilegiadas de consumo e lazer, provocam nos que não têm os
mesmos acessos a vontade de também ter, substanciadas nas atitudes de inveja podem levar
ao bullying; outros motivos, não sei dizer; ou porque não são punidos. Se estabelecermos uma
relação com o Gráfico 42, é possível constatar que 58% dos respondentes afirmam que o
professor não fica sabendo dos casos de cyberbullying motivado nas aulas de Educação
Física, conclui-se que o “não fica sabendo” pode ser uma das causas da impunidade.

Acho que na nossa sala uma vez uma amiga minha tirou uma foto de um
amigo meu e pôs bigode assim, ai meu colega ficou ameaçando raquear o
face dela. Nas outras aulas sim na Educação Física não, nunca. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 6)
117

No dizer deste componente do grupo focal “está meio cheinha”, deixa claro a
visibilidade que a diferença traz, e quem não está no padrão passa a ser diferente do grupo,
podendo ser alvo de bullying e cyberbullying.

Eu acho que a Educação Física proporciona, tipo assim, o fato da pessoa


zoar da outra pessoa, na nossa sala tem aquele que não está em forma, está
meio cheinha, que as vezes vai correr e não tem preparo físico, é muito
lerdo, daí as pessoas começam rir, tirando sarro, nas outras aulas ele fica
abobado, na Educação Física fica mais exposto. (sic.). (Grupo Focal – Aluno

Tem vezes que os professores obrigam a gente ir na piscina, se não for tem
que fazer trabalho, tem que ficar na biblioteca, tipo e se eu não quero ir na
piscina, por exemplo eu não gosto do meu corpo e eu não quero ir na piscina.
Eu não gosto do meu corpo. Ai não vou. Faço trabalho. De alguma forma
quando você vai na piscina você não vai entrar de calça jeans, roupa, tem
que usar biquíni, maiô, short curto, e de alguma forma as pessoas acabam
vendo, as pessoas acabam vendo. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 8).

O bullying com os professores, o professor vira as costas, ai eles xingam,


fazem careta, falam mal por trás. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 3).

Quando eu estudava na outra escola, até uma certa série nós era os maiores,
e na outra turma tinha um piazinho, que era pequeno e por achar que ele era
pequeno podia incomodar todo mundo. Um dia a gente pegou ele e levou
para o beco para bater nele. Ai eu falei não tenho coragem pra bater nele e
sai de perto, e ai os guri bateram nele, e eu refleti será que tem que bater nele
mesmo? Sai de perto, afastei um pouco das pessoas e ele contou para a
diretora, ela marcou com a gente, e a gente tava junto, a gente mexia com ele
demais. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 3).

E a turma que incentiva como é? Vamo lá, vamo lá!!


É porque vamos ficar marcando ele duro, vamos ficar empurrando ele, mais
ou menos isso. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 1).

Eu pessoalmente não consigo perceber que se manifesta mais o bullying,


porque é espaço em que você tem mais elementos para fazer um trabalho
educativo, é no espaço justamente, porque você tem tudo em mãos. Estas
diferenças mencionadas de habilidades individuais e de condições, e eu
acredito assim, que se o professor planeja bem as suas aulas e tem uma
perspectiva educativa, é o que tem mais elementos para trabalhar. Porque
aparece mais, então ele tem um espaço muito mais rico na perspectiva da
formação humana, da formação social, da formação da convivência social,
porque aflora mais fácil, então realmente depende da intencionalidade e da
perspectiva do professor educador, de como ele aproveita este espaço, se ele
utiliza como uma atividade e larga as coisas, é evidente que vai aflorar em
conflito, vai se acentuar a questão. Se ao contrário ele planeja bem sua aula,
organiza este espaço, divide bem os grupos para não favorecer um ou outro,
ele tem tudo isso para trabalhar, uma educação social, não só no espaço
escolar mas nos outros espaços de convivência. (sic.). (Grupo Focal –
Dirigente 2).
118

5.1.17. Ocorrência do Bullying na Aula de Educação Física.

Ao responderem se já presenciaram as manifestações de violência na forma de


bullying nas aulas de Educação Física o maior índice foi dos que viram 38,1%, o dos que
viram algumas vezes foi de 37,3% e o menor índice apresentado foi dos que não presenciaram
atitudes de bullying especificamente nas aulas de Educação Física.
Considerando que somente 26,3% dos respondentes não presenciaram
manifestações de bullying nas aulas de Educação Física, e que 37,3% responderam que
presenciaram “às vezes”, totaliza-se 75,4%, comprova-se que nas aulas de Educação Física há
uma incidência significativa de ocorrência de bullying.
Estabelecendo um paralelo entre a pesquisa de Weimer e Moreira (2014, p. 9) o
índice encontrado de prática de violência nas aulas de Educação Física são próximos dos 71%
encontrados pelos autores.
Considerando estas duas situações e apoiando-se também no Gráfico 16, que
apontou no item “nosso time perde por causa deles” (27,4%), pode-se afirmar que na aula de
Educação Física, num contexto específico, sob algumas condições, ou seja, quando tem um
caráter meramente competitivo, pode desencadear estas práticas antissociais como o bullying
e cyberbullying. O responsável pela derrota do time pode parar na internet.

Eu não consigo perceber que haja maior expressão na Educação Física, mas
vejo algum tipo de bullying que é daqueles em que quem tem mais
habilidades nas diferentes modalidades, que conseguem fazer nestes espaços
uma pressão maior e bullying, sobre com aqueles com menos habilidades.
(sic.). (Grupo Focal –Dirigente 2).

O bullying pode ser muito ruim, mesmo porque já sofri e eu sei que não e
nada fácil, mas conciliação e respeito dos colegas e tudo da pra superar
passar esta página. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 7)

Eu acho que eu já sofri bullying. É difícil, né. (sic.). (Grupo Focal – Aluno
2).

E a pessoa te jogar para baixo com uma característica que você tem.
O bullying derruba a pessoa estraga a pessoa, a brincadeira e descontração.
(sic.). (Grupo Focal – Aluno 2)

Na aula de Educação física é bem fácil de disfarçar o bullying, como uma


rasteira, uma tranca, segurar a bola. Quem vai provar que é bullying? (sic.).
(Grupo Focal –Professor 4).
A Educação Física voltada para a formação da cidadania dos alunos deve ser
crítica ao modelo que reproduz [...] “a marginalização, os estereótipos, a
individualidade, a competição discriminatória, a intolerância com as
119

diferenças, dentre outros valores que reforçam as desigualdades, o


autoritarismo, etc...”. (RESENDE; SOARES, 1997, p. 33, grifos dos autores)

O bullying não é fenômeno exclusivo da escola, e nem da Educação Física, ele


permeia todo o contexto escolar, mas existem condições que favorecem sua ocorrência
predominantemente, com um modelo de aulas que não favorece as práticas sociais, nos
ambientes da Educação Física, conforme confirmado nesta pesquisa. Cabe a todos os
profissionais envolvidos com a educação e com a Educação Física a reflexão pedagógica,
conforme relatam Soares e colaboradores (1992, p. 40):

[...] sobre valores como solidariedade substituindo individualismo,


cooperação contrastando a disputa, distribuição em confronto com
apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos
movimentos - a emancipação -, negando a dominação e submissão do
homem pelo homem.

A Educação Física é uma disciplina curricular de enriquecimento cultural,


fundamental à formação da cidadania dos alunos, baseada num processo de socialização de
valores morais, éticos e estéticos, que consubstancia princípios humanistas e democráticos.
Para isto, por meio de seus profissionais, deve dar a sua contribuição para a superação da
violência, que deixa marcas, por vezes irreversíveis nos alunos, seja no aspecto corporal,
moral ou emocional (CHAVES, 2006).
Os índices apresentados também confirmam os que Oliveira e Votre (2006)
identificaram, a escola apresenta um cenário propício ao surgimento de atitudes voltadas ao
bullying, à tortura e ao sofrimento de seus pares. Entre tais, percebe-se o bullying então nas
aulas de educação física, no esporte e no lazer.
Percebe-se que mesmo a escola pesquisada estando localizada num município
com elevados índices econômicos, o bullying também ocorre, conforme explicitam
Middelton-Moz e Zawadski (2008, p. 78):

[...] escolas privadas, públicas, religiosas, internatos, escolas técnicas,


faculdades e universidades. O bullying acontece nas escolas onde os alunos
tem alto desempenho em testes nacionais e em comunidades que tem
famílias educadas, com ambos os pais presentes, baixas taxas de divórcio,
excelente participação dos pais e situação econômica privilegiada. O
fenômeno acontece também em escolas em que os alunos têm baixo
desempenho em provas nacionais e em comunidades com alto índice de
divórcios, com famílias com apenas um dos pais presentes e com situação
econômica difícil.
120

Nem mesmo os bons propósitos dos gestores, equipe diretiva e professores, que se
apoiam em valores como a solidariedade, respeito mútuo, cooperação, dentre outros e,
utilizando-se de mecanismos de conscientização, prevenção e punição, não têm conseguido
desnaturalizar e eliminar toda a violência em forma de bullying e cyberbullying no espaço
escolar. No entanto, o bullying pode ser evitado com práticas sociais adequadas.

Gráfico 17 – Ocorrência do Bullying na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.18. Tipologia de Bullying Observado na Aula de Educação Física

A tipologia das agressões por bullying nas aulas de Educação Física na Escola, de
acordo com o ponto de vista dos alunos, que poderiam assinalar mais de uma resposta, teve
como maior frequência a agressão verbal (61,3%), traduzidas em xingamentos. Este tipo de
agressão costuma ser acompanhada de risadas e de apontar o dedo para a vítima (50,5%).
Dentre estas agressões verbais (47,7%) são insultos por causa da falta de habilidade nas aulas
de Educação Física, que normalmente levam o time a ter desvantagem no jogo ocasionado por
essa inabilidade. Mais uma vez comprova-se que a ambiência das aulas de Educação Física
pode ser desencadeadoras de atitudes de bullying, principalmente na forma verbal, com
xingamentos e apelidos vexatórios, ameaças e insultos.
Nota-se que 47,7% dos alunos responderam afirmativamente ao “insultaram-me
por causa da falta de habilidade nas aulas de Educação Física”, mais uma vez comprova-se
que a competição, por vezes, pode discriminar os menos hábeis, resultando em perdedores e
121

ganhadores, acirrando rivalidades e desavenças entre os alunos. Com um índice de 38,7%


estão os que responderam “insultaram-me porque meu time perdeu”, apontando que os
insultos são consequências da rivalidade ocasionada pela competição e que pode desencadear
uma situação de bullying.
Dadoun (1998, p. 99) ao se referir à violência como um dos maiores desafios do
cotidiano afirma:

Violência de um sistema educativo fundado sobre a competição, a seleção, a


discriminação, a exclusão – com a violência dramática do fracasso, que
tende quase sempre a conduzir a desvalorização de si, aos vícios de álcool e
droga, à delinquência, ao suicídio.

Confirma-se que os corpos que fogem ao padrão ficam mais evidentes nas aulas
de Educação Física, pois podem interferir no rendimento do aluno nas competições, como por
exemplo, gordos e magros, altos e baixos, nariz ou orelhas grandes, dentre outras
características físicas, quando (39,6%) dos entrevistados dizem sofrer “zoações” pelo tipo
físico, pois na aula de Educação Física os alunos estão mais expostos. Estas características
físicas e/ ou culturais aliadas aos estereótipos mais frequentes como: “molengas desajeitados”,
“não leva jeito”, “só atrapalha”, “mulherzinha”, “sapatão”, “nerd”, dentre outras, podem
propiciar o aparecimento de apelidos vexatórios, conforme hipótese deste trabalho e que agora
apresenta um índice de 39,6%.
Nas categorias “me ignoraram completamente” (33,3%) e “não deixaram fazer
parte do grupo de colegas” (31,5%), constatou-se o bullying em forma de exclusão, que é a
não aceitação do outro, é negar sua existência. Esta forma de violência é difícil de ser
combatida, pois é mascarada e passa impune. Não existe uma eminência física para que a
vítima possa reclamar.

Quando alguém bate na gente, fica o sinal, alguém vê aí dá pra ir reclamar,


mas quando não tem nem um sinal, como é que a gente vai reclamar, deixam
a gente de lado, faz que conta que não existe a pessoa, dói demais, dói no
fundo do coração. (sic.). (Grupo Focal – Aluna 6).

Nas aulas de Educação Física significa não ser escolhido para compor o grupo ou
o time, é deixar de lado, assim o aluno é apenas um espectador da aula, e ele vai
internalizando que não sabe jogar, incorrendo na autoexclusão. Instala-se o sentimento de não
pertencer ao grupo e, consequentemente, de não gostar das aulas de Educação Física.
Pressupõe-se que, na vida adulta, muitos não gostam de atividades físicas por conta disso.
122

Também se aproxima desta tipologia “fizeram que os outros não gostassem dele” e (25,3%) e
“fizeram ameaças” (15,3%).
Os que afirmam terem visto “espalharam boatos sobre ele ou sobre a família” foi
de 31,5%, estes boatos podem ser calúnias e difamações sobre ele ou sobre sua família, o que
traz um sentimento de vergonha e o medo eminente.
Com relação ao terem visto “zoações por causa do sotaque”, considera-se que na
cidade pesquisada o índice de imigrantes do sul do país é muito grande, os considerados com
sotaque normalmente são os mato-grossenses e nordestinos, com uma incidência de 21,6%.
Ter sotaque é uma diferença cultural, a não aceitação do diferente pode ser manifestada em
formato de bullying.
Em se tratando de bullying físico a ocorrência foi a seguinte: “deram socos,
pontapés e empurrões” 17,1%; encurralaram contra a parede 1,8%; puxaram o cabelo 5,4%;
arremessaram objetos tais como bolas, arcos, cones, cordas, dentre outros 14,4%. Este último
tipo de atitude é muito próprio dos espaços das aulas de Educação Física, tanto pelo acesso a
estes materiais, ou mesmo pela possibilidade de liberação da agressividade, mas ambos
podem se desencadear em bullying. Neste sentido nos fala Lopes Neto (2010 p. 20):

A linguagem corporal/não-verbal dos alunos é importante no sentido de


observarmos alguns fatos, tais como: violência corporal nas atividades e
jogos, olhares e risadas desqualificantes, intimidatórias e ridicularizantes;
exclusões intencionais (exaltação do erro, não passar a bola, ignorar na
escolha das equipes, distanciamento físico de alguns alunos etc.);
provocações corporais (tapas, empurrões, esbarrões, assédios); dentre outros.
As reclamações dos alunos também são de suma importância para
detectarmos a presença de bullying.

Com referência ao bullying sexual a incidência foi pequena sendo de “abusaram


sexualmente” e de “assediaram sexualmente” (0,9%).
Com relação ao bullying ao patrimônio foi observado um percentual de 0,9% para
“danificaram objetos pessoais”. Nos quesitos “subtraíram dinheiro e pertences” e “obrigaram
a entregar dinheiro e pertences”, não foi observada ocorrência.
Ainda relacionadas às diferenças “humilharam por causa da orientação sexual”
apresentou 4,5%; “insultaram por causa da cor e da etnia” teve 5,4%. Se considerarmos que
apenas 17,9% dos alunos pesquisados não são de cor branca, leva-se a pensar que este índice
é elevado e significativo para a pesquisa, pois se aproxima de um terço dos alunos de outras
etnias, e este tipo de bullying aparece com relevância nas aulas de Educação Física.
123

Odalia (1983, p. 35) traz a tona a ideia da violência institucionalizada, quando esta
é admitida implícita ou explicitamente, que uma relação de força é uma relação natural.

A institucionalização da miséria, do sofrimento, da dor, da indiferença pelos


outros, da ignorância, do não saber sobre si e sobre sua sociedade, não
ocorre porque o homem é mau, mas pelo simples fato de que uma sociedade
estruturada para permitir que a competição, o sucesso pessoal
individualizado, sejam os parâmetros de aferição do que o homem é, não
pode, evidentemente, preparar o homem para ver no seu semelhante outra
coisa que não um concorrente ou uma presa a ser devorada.

Gráfico 18: Tipologia de Bullying na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.19 Prática de Bullying Presenciado com Colega nas Aulas de Educação Física

Ao serem questionados sobre a prática de bullying com colega nas aulas de


Educação Física, percebe-se que 67,2 % dos alunos “não presenciaram” situações de bullying,
sendo 25% “às vezes“ e 9,5% afirmaram que “sim”.
124

Gráfico 19 – Prática de Bullying com Colega nas Aulas de Educação Física


Nota: Construção da autora

Para os próprios alunos e professores, existem dúvidas acerca das práticas de


bullying nas aulas de Educação Física, o que denota a necessidade de identificar claramente e
diferenciar determinados tipos de comportamento, de maneira a tipificar o que é e o que não é
bullying.

Pra pessoa é. Se a pessoa pensar assim falaram qualquer coisa de mim,


qualquer coisa é bullying. A uns tempos atrás, tinha uma menina que estava
com nós, ela tinha um problema e tudo que falavam dela, tipo... tudo mesmo,
mesmo as coisas mais bobas ela falava para a mãe dela e a mãe dela vinha na
coordenação e sobrava pra todo mundo na sala. (sic.). (Grupo Focal – Aluno
3).

Não, pior que não era, era mais alguém que comentava qualquer coisa e ela
falava que faziam bullying com ela porque tinha tal problema. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 4).

Também não dá para achar que tudo é bullying, isso virou moda, o aluno já
te responde: isso é bullying, ou já fala que o colega está fazendo bullying
com ele. (sic.). (Grupo Focal – Professor 7).

5.1.20 Tipologia do Bullying Praticados nas Aulas de Educação Física

Ao serem indagados sobre que tipo de bullying praticado nas aulas de Educação
Física foi apontado a não ocorrência nas categorias: “danifiquei objetos pessoais”; “obriguei a
me entregar dinheiro ou pertences”; “encurralei contra a parede”; “subtrai sem consentimento
dinheiro e/ou pertences”; “persegui dentro ou fora da escola”; “assediei sexualmente”;
“inventei que pegaram objetos pessoais dos colegas”; “forcei a agredir outros colegas”;
“abusei sexualmente”.
125

A maior incidência está na tipologia de bullying verbal “fiz zoações porque seu
time perdeu” (53,2%) que corresponde a mais da metade dos casos de bullying nas aulas de
Educação Física. Tem-se assim, a evidência de uma aula com caráter competitivo e a
necessidade de ganhar a qualquer custo, e mais uma hipótese da pesquisa também pôde ser
confirmada, a aula de Educação Física pode ser desencadeadora de violência em formato de
bullying. Em seguida surgem: “dei risada e apontei o dedo” (44,7%); “fiz zoações pelo tipo
físico” (36,2%); “insultei pela falta de habilidade nas aulas de Educação Física” (34%);
“ignorei completamente” (21,2%); “não aceitei a formação proposta da minha equipe”
(19,1%).

O aumento das restrições quanto à aplicação da força física e, em particular,


sobre o acto de matar, e, como expressão dessas restrições, o deslocamento
do prazer experimentado ao praticar a violência para o prazer de ver a
violência cumprir-se, pode ser observado como um impulso de civilização
em muitas outras esferas da actividade humana. [sic] (ELIAS; DUNNING,
1992, p. 241)

Entende-se que o desporto representa a simulação de um confronto que resulta


sempre em tensões controladas e, no final, a catarse, a liberação de tensão. O desporto mostra
que as tensões de um grupo equilibrado são os ingredientes centrais das atividades de lazer, e
no mesmo sentido acontece nas aulas de Educação Física, o extravasamento de sentimentos
de violência, muitas vezes sobre os mais fracos, e que não são capazes de se defender.
É significativo o dado “insultei pela falta de habilidade”, isto reforça que as aulas
de Educação Física com caráter competitivo, acentuam desigualdades. A aula de Educação
Física pode contribuir para a exclusão, como apontam os dados.

“[...] a escola tem se mostrado ambígua à fluidez da vida líquida, alternando


momentos de resistência às violências e, por vezes, sendo ela mesma
produtora de eventos de violências que impactam, entre outros, os
professores”. (BOSSLE; MOLINA NETO; WITTIZORECKI, 2013, p. 63).

Assim, pode-se observar nas manifestações a seguir pequenos estratos dos dados
obtidos com os grupos focais, que confirmam as informações obtidas com a aplicação do
inquérito online. Percebe-se que a diversidade cultural, o fato de ser diferente pode se
transformar em bullying.

Ah, pelo fato dela ser diferente, não é a não aceitação se você faz uma
brincadeira, porque a pessoa é um tanto quanto diferente, e ela já leva pro
126

lado muito extremo da brincadeira e já vai para o bullying, é muito diferente,


depende muito da pessoa se você falar, alguma coisa pra pessoa e ela levar
para a brincadeira, tudo bem, mas agora se você ficar remoendo, remoendo
aquilo, até transformar o fato, e transforma em bullying, depende da pessoa o
porquê fazem. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 4)

Penso que parte da competição, se ela for trabalhada da Educação Física,


uma modalidade com uma visão competitiva, é lógico que o aluno vai
demonstrar esta competição e vai excluir os menos habilidosos, até porque, o
aluno precisa ganhar o jogo. Depende muito de como você vai lidar com
essa situação, essa violência interna todos nós temos isso. (sic.). (Grupo
Focal – Professor 2).

Sobre alguns sim, se deixam influenciar pelos outros. Querem aparecer ai


judiam dos menores dos mais fraquinhos que não conseguem se defender.
Tem que estar atento com este tipo de aluno. (sic.). (Grupo Focal – Professor
7).

É, tem, tipo, uns que eles tem poder sobre as pessoas os mais fraquinhos,
sobre os mais fracos e tem outros que tipo assim, a pessoa não é popular
vamos dizer assim, quer se tornar popular à custa do mais inferior, mas as
pessoas não gostam muita dessa atitude, isto não é se tornar popular, para
quem foi humilhada se torna um monstro, e para as outras também, pra
conseguir amizade não precisa sair xingando, e tem uns que querem se
tornar populares, ambiciosa pra se tornar popular e humilha a outro pessoa
para ser amiga do agressor que faz isso, e faz as mesmas coisas que ele ajuda
a humilhar e a bater. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 6).

Gráfico 20 – Tipologia do Bullying praticado nas Aulas de Educação Física


127

Nota: Construção da autora

5.1.21. Sofrimento por Bullying nas Aulas de Educação Física.

Diante da indagação se já sofreram bullying nas aulas de Educação Física, as


respostas foram “sim” para 14% dos entrevistados; “não” para 57% dos entrevistados e
“algumas vezes” para 29% dos inqueridos. Se somarmos os que sofreram com os que
sofreram “às vezes”, o percentual é de 43%. Embora a presente pesquisa não tenha se
preocupado em pesquisar a ocorrência do bullying em outras disciplinas na escola, para poder
comparar, constata-se que o índice de ocorrência na ambiência da Educação Física é
significativo, mostrando que a aula de Educação Física também produz violência em forma de
bullying.
“O bullying é soma de comportamentos intencionais e repetitivos, ou seja, são
premeditados, não são passageiros” (MIDDDELTON-MOZ; ZAWADSKI, 2007, p. 78). Este
Gráfico também pode confirmar isto, pela incidência de ocorrências de ocorrências de caso.

Gráfico 21: Sofrimento por Bullying nas Aulas de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.22 Tipologia de Bullying com as Vítimas nas Aulas de Educação Física.


128

Os dados apresentados neste item revelam que os alunos expostos a competição,


fazem de tudo para ganhar e aqueles que perdem passam a ser vítimas de gozação, ou mesmo
um aluno fraco dentro do time pode sofrer humilhação. Assim, fizeram “zoações” porque meu
time perdeu foram indicados por 56,1% dos inquiridos.

E a pessoa também pratica bullying, as vezes tem ela e mais um grupo de


pessoas que está te tirando sarro, ela vai e começa a tirar sarro, é mais por
influência, as vezes influência. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 2)

Posteriormente, aparece bullying verbal: “xingaram-me” (49,1%). Estes


xingamentos geralmente são em forma de apelidos vexatórios ou palavrões. Na sequência
“deram risadas e apontaram para mim” (33,3%), manifestação de violência presente e comum.
A seguir vêm os que assinalaram a opção “insultaram-me por causa de alguma característica
física” (28,1%) estas características são mais visualizadas porque estão mais expostas nas
aulas de Educação Física e “colocaram apelidos vexatórios” (26,3%).
Tal condição pode ser observada nas palavras de um aluno.

Eu concordo porque isso já aconteceu comigo também, mas aconteceu a


mesma coisa que ela, mas todo mundo escutava, todo mundo, todo mundo
olhava, isto não afetava nada em mim, mas era vergonhoso. Era na hora que
batia o sino na porta da sala na sala ao lado, na escola. (sic.). (Grupo Focal –
Aluno 2).

Diretamente relacionado ao jogo tem-se as seguintes respostas “não me aceitaram


no time/grupo” (22,8%); “acusaram que eu atrapalho o jogo” (22,8%); “fui insultado por
causa da falta de habilidades nas aulas de Educação Física” (21,1%); “acusaram que perderam
o jogo por minha causa” (21,1%). Na sequência pode-se observar formas de violência a partir
da condição física de cada indivíduo, tais como “fizeram “zoações” pelo meu tipo físico”
(17,5%). Ainda, “não aceitaram a composição proposta para a formação da minha equipe”
(8,8%); “não me deixaram fazer parte do grupo de colegas” (14%); “me descriminaram na
Educação Física” (10,5%).
Percebe-se nas respostas que novamente surge, de forma bastante presente, a
competição como pano de fundo deste tipo de violência na Educação Física, além de
confirmar que o espaço e as formas de sua prática são propícios ao bulliyng, sendo, portanto a
aula de Educação Física também produtora de atitudes de violência em formato de bullying.
Outra categoria de bulliyng apontada pelos inquiridos situa-se no campo das
ofensas verbais, por meio de boatos a respeito do ofendido. Assim, “fizeram com que os
129

outros não gostassem de mim” (15,8%) e “disseram coisas maldosas sobre mim ou sobre
minha família” (19,3%), “me ameaçaram” (8,8%) aparecem com destaque nas respostas.
As três alternativas a seguir tiveram um percentual de 7%: “deram-me socos,
pontapés ou empurrões”; “inventaram que peguei coisas dos colegas”; “arremessaram objetos
tais como bolas, arcos, cones, cordas, dentre outros contra mim”. Estas foram condutas típicas
mencionadas nas aulas de Educação Física.
Além das tipologias apresentadas “sentiram inveja de mim” e “ignoraram-me
completamente, me deram gelo” foram mencionados por 5,3% dos inquiridos. Embora este
percentual não seja alto, é considerado o tipo de bullying mais sofrido, porque ignora a
existência do sujeito.
Segundo Le Breton (1997), quando um homem se cala não deixa de se comunicar.
Afirma que não é suficiente dizer, se o outro não tiver tempo para ouvir, para assimilar, para
responder. Quando a palavra é sem presença, não há preocupação com a resposta ou com a
escuta da mensagem.
As alternativas menos mencionadas foram “perseguiram-me dentro ou fora da
escola”; “fizeram zoações por causa do meu sotaque”; “insultaram-me por causa da minha
religião”; “insultaram-me por causa da minha cor ou raça”, todas com 1,8%. Embora com
percentual baixo, pode-se inferir a existência de não aceitação de etnia, cor, religião e
regionalidade.
Não houve ocorrência para as seguintes alternativas: “assediaram-me
sexualmente”; “abusaram sexualmente de mim”; “encurralaram-me contra a parede”;
“forçaram-me a agredir outro (a) colega”; “fui obrigado (a) a entregar dinheiro ou minhas
coisas”; “humilharam-me por causa da minha orientação sexual”; “pegaram sem
consentimento meu dinheiro ou coisas”; “forçaram-me a agredir outro (a) colega”;
“estragaram minhas coisas”; “puxaram meu cabelo ou me arranharam”. O que fica constatado
com isso é que não houve bullying material, ou seja, subtração de pertencesse nem de dinheiro
ou mesmo materiais dos colegas, além da não incidência de bullying sexual.

Percebo que há casos de bullying onde as próprias vítimas são as causadoras


do bullying, são as provocadoras, as provocativas, então nesses casos
acontece em todos os momentos, as vezes na sala de aula, Educação Física
na biblioteca, no contraturno, nas redes sociais porque a própria vítima
provoca para que aconteça isso. (sic.). (Grupo Focal – Dirigente 3).
130

Este é um típico caso onde a própria vítima leva a culpa por sofrer bullying, ela
em si já é considerada uma provocação, muitas vezes por levar alguma marca da diferença
não aceita pelo grupo.

E a atitude dos pais provoca o bullying, não contribui, quando ele e super
protetor, não faça isso, não faça aquilo, cria nele uma diferença e essa
diferença atrapalha, já tive que pedir para um pai sair da beira da quadra.
(sic.). (Grupo Focal – Professor 6).

Certamente porque a gente sabe que a educação é a base de tudo vem do


berço, e aqueles pais que protegem que não permitem que a criança
desenvolva sua autonomia que saiba se posicionar que saiba respeitar, que
compreenda os limites do outro vai contribuir para que a pessoa venha a ter
uma educação de forma errada e que vai ter aquela atitude provocativa que
os próprios colegas e porque você é o “nenezinho da mamãe” tudo que
acontecem os pais vão lá e resolvem pelo aluno pelo adolescente e tudo isso
vem repercutindo no bullying. (sic.). (Grupo Focal –Professor 1).

Eu acho que tem um tipo de bullying que é mais do psicológico da pessoa.


Tipo, ela que transforma uma brincadeira em bullying, ela vai aumentado pra
família e a família vem, tipo, fala para a escola assim e a escola aumenta
mais pro aluno, acho que vai mais pelo psicológico. (sic.). (Grupo Focal –
Aluno 4).
131

Gráfico 22: Tipologia de Bullying com as Vítimas nas Aulas de Educação Física
Nota: Construção da autora

5.1.23. Espaço de Ocorrência do Bullying na Escola.

Embora não seja o local e a arquitetura que definem a ação humana, nem a
legitimidade da disciplina na escola, este é um aspecto para compreender o bullying nas aulas
e Educação Física. Destacamos os locais mais utilizados para as aulas de Educação Física
como: sala de aula, quadras, pistas, piscinas, ginásios, salas de dança, sala de lutas, espaços
externos. Esta compreensão não exclui a noção de transcender a arquitetura nas aulas de
Educação Física, mas classifica-la para efeito de pesquisa.
Sobre o espaço de ocorrência do bulliyng na escola, sem fazer qualquer indicação
ou direcionamento aos alunos, estes mencionaram que o bullying ocorre com maior
frequência nas aulas de Educação Física (40%), seguido dos corredores (26,1%), no pátio e no
recreio (22,6%), na sala de aula sem professor (20,9%), na entrada da escola (13,95%), no
trajeto da escola (5,2%).

Eu concordo porque isso já aconteceu comigo também, mas aconteceu a


mesma coisa que ela, mas todo mundo escutava, todo mundo, todo mundo
olhava, isto não afetava nada em mim, mas era vergonhoso. Era na hora que
batia o sino na porta da sala na sala ao lado, na escola. (sic.). (Grupo Focal –
Aluno 2).

Mas eu acredito, que as formas mais simbólicas mais sutis, elas acontecem
em outros espaços, nos intervalos, e não no espaço formal da aula, é na troca
de período, nos momentos com espaço que não tem nada pra fazer, os
intervalos que aparece, de forma direta ou da chamada indiferença, que uma
outra forma. (sic.). (Grupo Focal – Dirigente 4).
132

Gráfico 23: Espaço de Ocorrência do Bullying na Escola


Nota: Construção da autora

De acordo com outra pesquisa da ONG PLAN (2010) sobre os locais de


ocorrência do bullying, não foram considerados ou incluídos os espaços das aulas de
Educação Física, mas mesmo assim, esta oferece dados que podem ser comparados com os
dados do presente estudo, conforme segue:

Espaços da Escola Relatório PLAN - %1


No banheiro -
No trajeto da casa e da escola 1,2
Na sala de aula com professor 8,7
Na entrada da escola 1,89
Na sala de aula sem professor 12,8
No pátio no recreio 7,9
Nos corredores 5,3
Não sofri bullying 57,0
Quadro 2 –Espaços de Ocorrência do Bullying nas Escolas
Nota: Construção da autora

Em outra pesquisa feita por Abramovay (2010, p. 278), questionando o local onde
acontece a maior parte das violências escolares, constatou-se que 27,8% dos alunos
entrevistados assinalaram “na quadra de esporte”.

1
Dados da tabela 6.4 - ONG PLAN (2010, p. 40)
133

“O local de maior incidência do bullying é a sala de aula” segundo (LOPES


NETO, 2011, p. 25), porém ele não explicita se é com ou sem a presença do professor.
Contudo, como pode-se observar, um dos gestores da escola, durante os trabalhos
do grupo focal, não entende que o espaço das aulas de Educação Física seja propicio ao
bulliyng.

Eu pessoalmente não consigo perceber que se manifesta mais o bullying,


porque é espaço em que você tem mais elementos para fazer um trabalho
educativo, é no espaço justamente, porque você tem tudo em mãos. Estas
diferenças mencionadas de habilidades individuais e de condições, e eu
acredito assim, então que se o professor planeja bem as suas aulas e tem uma
perspectiva educativa, é o que tem mais elementos para trabalhar. Porque
aparece mais, então ele tem um espaço muito mais rico nas perspectivas da
formação humana, da formação social da formação da convivência social,
porque aflora mais fácil, então realmente depende da intencionalidade e da
perspectiva do professor educador, de como ele aproveita esse espaço, se ele
utiliza como uma atividade e larga as coisas, é evidente que vai aflorar em
conflito, vai se acentuar a questão. Se ao contrário ele planeja bem sua aula,
organiza este espaço, divide bem os grupos para não favorecer um ou outro,
ele tem tudo isso para trabalhar, uma educação social, não só no espaço
escolar mas nos outros espaços de convivência. (sic.). (Grupo Focal –
Dirigente 2).

5.1.24. Quantificação da Manifestação de Bullying nas Aulas de Educação Física

Com relação a quantificação as manifestações de bullying nas aulas de Educação


Física constatou-se que a maioria 60,9% foi praticado por dois ou três colegas, já para 4
colegas diminui para 22,8%, e para o perseguidor individual apenas 15,2%. A turma toda se
envolve na agressão somente em 6,5% dos casos, conforme afirmado em grupo focal:

As vezes vários se divertem [...] ou uns se divertem e outros sofrem. (sic.).


(Grupo Focal – Aluno 7)

E a pessoa também pratica bullying, as vezes tem ela e mais um grupo de


pessoas que está te tirando sarro, ela vai e começa a tirar sarro, é mais por
influência, as vezes influência. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 2)
134

Gráfico 24 – Quantificação da Manifestação de Bullying nas Aulas de Educação


Nota: Construção da autora

5.1.25 Sentimentos Causados pelo bullying na aula de Educação Física.

Ao serem indagados sobre os sentimentos causados pelo bullying nas aulas de


Educação Física, podendo assinalar mais de um item, aproximadamente 59,01% dos alunos
afirmaram não ter sofrido bullying, já 23,5% das vítimas se sentiram mal, 20,9% ficaram
irritados, 20% tiveram sentimento de tristeza, seguidos do sentimento de vergonha 18,3% e
abaixo deste percentual estão os que ficaram magoados, indefesos, não sentiram nada, medo,
preocupados e engraçado. Houve até os que afirmam não sentir nada ao serem vitimados por
bullying, remetendo-se a ideia de os que convivem com a violência naturalizada em seu dia-a-
dia podem apresentar afetividade deficitária.
Silva (2010, p. 43) indica a deficiência dos vínculos afetivos alicerçados no seio
familiar como causadores de bullying, destacando que:

O que lhes falta, de forma explicita, é o afeto pelos outros. Essa afetividade
deficitária (total ou parcial), pode ter origem em lares desestruturados ou no
próprio comportamento do jovem. Nesse caso as manifestações de
desrespeito, ausência de culpa ou remorso pelos atos cometidos contra os
outros podem ser observados. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 6)

No entanto, nenhum dos interrogados afirmou sentir-se bem sofrendo bullying,


portanto, ele traz sentimentos nocivos, que nada contribuem para a convivência nos meios
escolares.
135

Sinto raiva ódio, vingança, tipo a pessoa que te faz mal então você sente na
obrigação da pessoa sentir o que você sentiu, ao mesmo tempo não e bom
desejar o mal pro outro, tem que tentar resolver também. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 7).

Eu acho que quando uma criança sofre bullying ela acaba acreditando
naquilo que falam dela, tipo pela estrutura física dela, por uma característica
acaba acreditando naquilo que falam dele e acaba se pondo mais para baixo
tendo até uma depressão.
De que forma isso acontece. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 8).

Gráfico 25 – Sentimentos Causados pelo Bullying na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.26. Reação ao Bullying Sofrido na Aula de Educação Física.

Referente as formas de reação das vítimas de bullying, apenas 15,8% se


defendem, 13,2% nada fazem e apenas ficam magoados, 9,6% não dão importância, 9,6%
conseguem pedir que parem. Abaixo de 9% estão os que revidam (7,0%), os que choram
(5,3%) e os que fogem. Também estão nesta faixa de intervalo os que conseguem contar para
o professor, para o diretor, para o pai e para o irmão.

Eu conversava com minha mãe e ela falava para eu não ligar pra eu deixar,
ignorar, eu não conseguia fazer isso e não conseguia não ligar, também eu
chorava com a minha mãe. Eu sempre gostei de ler quando era menorzinha,
de vir para a escola, e ficou mais difícil, eu parei de gostar de vir para a
escola. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 5).
136

Percebe-se muitas vezes que a vítima de bulliyng sofre sozinha, resolve sozinha,
ou não resolve, convivendo com sentimentos nocivos, o que pode explicar os casos de pessoas
que atentam contra a vida de pessoas e da própria vida.

O silêncio do desprezo é muitas vezes acompanhado por um olhar que diz


muito, que deixa entender um juízo sem remissão, ostensivo. A sua intenção
é de magoar, de marcar uma altura de posição, um afastamento sem
equívocos em relação com os acontecimentos de que se supõe que o outro
está a par. Declara as hostilidades, expulsando do círculo de relações, sem
conceder à vítima a possibilidade de se defender, dando-lhe a entender que, a
partir de agora, a sua palavra deixa de ter peso, devido a sua conduta passada
ou ao boato que a sujeita à reprovação coletiva. No extremo este silêncio
equivale a um banimento da sociedade, uma recusa em reconhecer a
existência do outro. (LE BRETON, 1997, p. 87).

A vítima sabe e sofre na carne, sozinha, esta crueldade e, muitas vezes, volta para
se vingar da escola ou de pessoas que nem sequer tomaram conhecimento desta dor, conforme
citado nos capítulos anteriores, e depoimento de alunos nos grupos focais.

Falando do ambiente da Educação Física eu acredito, que sejam assim, no


meu ponto de vista, de dois pontos básicos: primeiro da vítima que se exclui
antes de ser excluída, então já sentindo que ela não tem aquela habilidade,
que ela não consegue que ela não vai atingir aquele objetivo, então ela já se
exclui propriamente do que antes que o próprio grupo o faça. O outro é
quando o professor passa a valorizar mais as conquistas que os esforços.
(sic.). (Grupo Focal – Professor 2).

Acho ruim porque as pessoas se sentem mal e não querem voltar pra escola e
os pais querem tentam ajudar a criança, só que ela não quer ajudada, mas ela
não quer voltar para a escola. E a criança costuma contar pros pais e ou
normalmente segura pra si? (sic.). (Grupo Focal –Aluno 6).

Prefere não contar porque pode querer mudar de escola?


Segura pra si porque tem medo de mudar de escola ou coisa assim. Que vai
acontecer alguma coisa de mal ou coisa assim. Não dá vontade de ficar na
escola, da vontade de ficar em casa. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 3).
137

Gráfico 26 – Reação ao Bullying Sofrido na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.27. Consequências Sofridas por Bullying na Aula de Educação Física.

Quando a pergunta se refere as consequências sofridas por bullying aulas de


Educação Física, 64,2% dos alunos afirmam tal fato não aconteceu. Portanto, não sofreram
consequências. Outros “perderam o entusiasmo com a escola” (23,9), sendo este um dos
sintomas de estar num lugar não acolhedor, não protegido, assim, ir para a escola passa a ser
uma obrigação e não um prazer, principalmente nos dias ocorrem aulas de Educação Física.
No percentual de 5,5% estão os que “perderam a confiança nos professores”, “pararam de
aprender” e “perderam os amigos”, consequências que envenenam o ambiente, dificultado a
convivência e a aprendizagem.
Abaixo do percentual de 2,8% estão os que não suportam mais viver neste
ambiente como os que “faltam as aulas”, “pedem dispensa da Educação Física”, “mudam de
escola” ou até “tem medo de vir para a escola”.
Entende-se que estes dados podem apresentar uma contribuição muito importante
aos professores de Educação Física, visto que alunos podem apresentar “pretextos” para não
participar da aula, o que pode indicar a ocorrência de bullying de forma camuflada.
138

Gráfico 27 – Consequências Sofridas por Bullying na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.28 Predominância de Prática de Bullying por Sexo na Aula de Educação Física

A maioria dos inquiridos, 61,2%, afirmam que não sofreram bullying nas aulas
de Educação Física; por sua vez, 19% afirmaram que sofreram bullying de meninos e
meninas, enquanto outros 19% sofreram somente de meninos. Quanto aos que sofreram
bullying praticado somente por meninas o percentual foi baixo, 0,9%. Estes dados confirmam
que a maior parte das atitudes de bullying são praticados por alunos do sexo masculino. A este
respeito os alunos se manifestam:

Eu acho que tem algumas meninas definidas, porque eles pensam porque na
minha sala, pensavam que era só os meninos que faziam bullying, com a
menina que tem problema lá, quando ela fazia coisas, as meninas. Ocorre
que na educação física as meninas gravavam e colocam no computador, mas
não saía disso. Não saía pra mais disso e toda a vez as meninas nunca eram
culpadas, só a gente. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 3).

Esse caso aí aconteceu mais comigo, havia acabado o recreio e eu subi e os


meninos ficavam na quadra e eu estava aqui em cima, a menina que tem
deficiência começo a cantar e dançar, e daí reuniu todo mundo das outras
séries e começou a rir dela e veio umas meninas que começaram a filmar, eu
fiquei ali só olhando. E daí veio as meninas do 3º ano e começaram a brigar
comigo, porque falaram que era eu, mas quem estava incentivando eram as
meninas. Fui pra coordenação quiseram chamar os pais, a mãe dela ligou na
casa do 4 e falou que ela tinha um gravador e ia pegar a gente e denunciar. E
139

daí, tipo, depois de 3 dias me chamou para a coordenação falando que era eu
as meninas falaram que não era eu, e eu dizia que não era eu, e como eu ia
falar quem foi, e daí beleza, assumi a culpa de que era eu, e eu não quero
falar quem é, e a menina da sala e contou quem era, a coordenadora foi na
sala e quis olhar o celular de todo o mundo, e falou que eu tinha gravado, ela
queria colocar a culpa em mim, e nada aconteceu com a menina, isso
acontece muito. Eu não tinha levado o celular, as meninas nunca se fodem.
(sic.). (Grupo Focal –Aluno 5).

Gráfico 28 – Predominância de Prática de Bullying por Sexo na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.29. Sentimentos dos Autores do Bullying na Aula de Educação Física.

Com relação aos sentimentos dos alunos que fazem bullying com o colega nas
aulas de Educação Física têm-se como o maior índice “não fiz bullying” (67,8%), a seguir
vêm os que fizeram, mas se arrependeram depois “eu me arrependi do que fiz” (16,5%);
posteriormente “eu senti pena da pessoa” (7%); tinha certeza que eles fariam o mesmo
comigo (6,1%); “eu me senti vingado (a), pois me maltrataram também” (6,1%); “eu me senti
mal”, “foi engraçado” e “não senti nada” (5,2%).
Sobre a condição de “brincadeira” ao assistir a violência do outro, Elias e
Dunning (1992, p. 241) afirma:

O aumento das restrições quanto à aplicação da força física e, em particular,


sobre o acto de matar, e, como expressão dessas restrições, o deslocamento
do prazer experimentado ao praticar a violência para o prazer de ver a
violência cumprir-se, pode ser observado como um impulso de civilização
em muitas outras esferas da actividade humana. [sic]
140

Posteriormente, foram assinaladas as respostas “senti que eles mereciam o


castigo” (4,3%); “fiquei com medo de ser descoberto (a) e punido (a)” (2,6%); “fiquei com
medo de que meu pai descobrisse” (0,9%); fiquei com medo de que um (a) professor (a)
descobrisse (0,9%). Não houve incidência de: “sei que não seria descoberto (a) e punido (a)”,
“eu me senti bem” e “sofro maus tratos em casa e faço o mesmo na escola”.

Gráfico 29 – Sentimentos dos Autores do Bullying na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.30 Reação dos Agressores após a prática de Bullying na Aula de Educação Física.

Nesta questão foi possível assinalar mais de uma resposta. Assim, percebe-se que
quase metade dos alunos que praticam bullying não conta para ninguém: “não contei”, 47,4%,
ou seja, carregam consigo a marca do silêncio.
Le Breton (1997, p. 101) enfatiza também sobre a violência do silêncio:

O silêncio está também ligado à falta de conversa de um indivíduo que


não arranja interlocutor, desacreditado desde o início e que, no fim,
não tem outra escolha a não ser se calar, devido a indiferença de que é
tratado Forma sonora do silêncio por recusa da escuta.
141

Entre aqueles que recorrem aos pais estão 24,4% “contei para meus pais”, e ainda,
os que “contam para meu irmão”, 2,6%. Estes podendo contar com o apoio da família,
enquanto aqueles que “contam para os outros” são 23,1%, o que pode indicar que os que
recebem a informação não são aqueles que podem tomar providências. Por sua vez, aqueles
que vão diretamente aos responsáveis da escola e “contam para o diretor ou professor” são
11,5%, o que pressupõe-se que sejam capazes de solucionar o problema.
Se somarmos os responsáveis (pais/ família, professores e diretores) tem-se um
índice de 38,5% de casos com possíveis tomadas de providências, enquanto que o restante não
chega ao conhecimento dos responsáveis, caindo na faixa de impunidade e está na faixa de
61,5%.

Gráfico 30 – Reação dos Agressores Após a Prática de Bullying na Aula de Educação Física
Nota: Construção da autora

5.1.31. Consequências dos Agressores Após a Prática de Bullying na Aula de Educação


Física

Nesta pergunta 84,6% dos alunos afirmam não ter praticado bullying com colegas
nas aulas de Educação Física, enquanto 5,8% afirmam ter perdido o entusiasmo pela escola,
bem como a concentração. Estes são aqueles que dão desculpas para não ir para a escola como
dor de cabeça, cansaço dentre outras.
Abaixo de 3% estão os que afirmam ter parado de aprender, vem para a escola
com medo e os que procuram não participar das aulas de Educação Física. Se compararmos as
142

consequências dos agressores e dos espectadores pode-se concluir que ambas são nocivas. O
agressor porque agride e o espectador porque presencia o fato e se omite de tomar atitude.

Gráfico 31 – Consequências dos Agressores na Aula de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.32. Sentimento dos Espectadores de Bullying nas Aulas de Educação Física

Nesta questão foi possível assinalar mais de uma alternativa, tendo como maior
incidência de sentimento daqueles que testemunham o bullying a sensação de “pena” (51,8%).
A seguir vêm aqueles demonstram sentimento de justiça, mas não se manifestam, “achei
injusto” (42,1%). Na sequência, aqueles que não se omitem e procuram ajudar “procurei
ajudar” (27,2%).
Os que preferem dizer “não vi”, representam 21,9%; àqueles que se sentem mal
por desaprovar “me senti mal” perfazem 21,9%. Identifica-se ainda, àqueles que se colocam
no lugar da vítima e sentem medo de que isso aconteça com eles “tive medo que fizessem
comigo”, chegando a 8,8%.
Silva (2010, p. 45-46, grifos do autor) divide os espectadores do bullying em 3
grupos distintos:

Espectadores passivos: Em geral os espectadores passivos assumem essa


postura por medo absoluto de se tornarem a próxima vítima. Recebem
ameaças explícitas ou veladas do tipo: “Fique na sua, caso contrário a gente
vai atrás de você”. Eles repelem e até condenam as atitudes dos bullies; no
143

entanto, ficam de mãos atadas para tomar qualquer atitude em defesa das
vítimas.

Nota-se ainda, os que convivem com a violência naturalizada e que são


indiferentes a ela: “não senti nada”, 5,3%.
Para Silva (2010, p. 45-46. grifos do autor), estes são os “espectadores neutros”
em que se pode perceber

[...] alunos que, por uma questão sócio cultural (advindo de lares
desestruturados ou de comunidades onde a violência faz parte do cotidiano),
não demonstram sensibilidade do bullying que presenciam. Eles estão
acometidos de uma “anestesia emocional”, num contexto social próximo no
qual estão inseridos. SILVA (2010), p. 45-46

Aqueles que se divertem com o sofrimento alheio “foi engraçado” (5,3%),


“aproximei-me para ver” (5,3%). Ainda, o grupo que acha justo o sofrimento do outro, porque
ele merece “achei justo” (3,5%). Estes são denominados por Silva (2010, p. 45-46) de:

Espectadores ativos: Estão inclusos neste grupo aqueles alunos que, apesar
de não participar ativamente dos ataques contra às vítimas, manifestam
“apoio moral” aos agressores, com risadas e palavras de incentivo. Não se
envolvem diretamente, mas isso não significa em absoluto, que deixem de se
divertir com o que veem.

Entende-se que os alunos mais inseguros respondem “sei que não me


maltratariam” (3,5%); a seguir vem os que se sentem vingados, não se vingou diretamente,
mas através do outro, foi a “busca da excitação” a “caça à raposa” um instinto de violência
substituído, no dizer de Elias e Dunning (1992), “senti vingado, fui maltratado” (1,8%); por
fim, os que tem certeza que poderiam estar no lugar dele, poderiam ser a próxima vítima
“certeza que me maltratariam” (0,9%). Não houve incidência em “me senti bem”. Portanto,
todos os outros sentimentos oriundos da condição de espectador da violência não fazem
ninguém se sentir bem, mesmo seus causadores, que também sofrem consequências,
principalmente com o medo de serem descobertos.
144

Gráfico 32 – Sentimento dos Espectadores de bullying nas Aulas de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.33. Medidas Tomadas pelo Professor em Caso de Bullying nas Aulas de Educação Física.

Nesta questão também foi possível assinalar mais de uma resposta e a maior parte
dos casos de bullying nas aulas de Educação Física não chega ao conhecimento dos
professores “não fica sabendo” (46,8%). Portanto, esta pode ser considerada a faixa de
impunidade. Os que acham que os autores são punidos, “pune os autores dos maus-tratos” e
procuram diretamente os responsáveis “comunicam à direção da escola”, representam 34,9%
e 26,6%, respectivamente.
Outro dado que chama atenção é o fato de professores não distinguirem a
brincadeira e o bullying: “trata como brincadeira” para 13,8%, seguido dos que não dão
importância, “ignora, pois é coisa sem importância”, 9,2%.

[...] agora, se é livre para jogar uma bola e, vamos jogar, vamos fazer, vamos
aproveitar o tempo só pra aquela disputa ali, sem nenhum objetivo e
nenhuma reflexão em cima daquilo, claro que vai aparecer, justamente pela
competividade que parte de cada um, ai os mais habilidosos vão se destacar
e cobrar dos menos habilidosos, essa participação e as agressões podem
145

aparecer verbalmente, fisicamente. Porque o contato ali são mais livres que
na sala de aula, então é uma desculpa, a eu dei um carrinho porque ele me
xingou lá na frente, ou então ele deu uma entrada no meu amigo, então eu
vou fazer isso e aquilo, vai acontecendo de forma quase que natural se não
houver o controle do profissional que está ali pra isso do profissional que e
do formador. (sic.). (Grupo Focal – Professor 5).

Claro. Os professores excluem alguns alunos e dão prioridades pra uns.


(sic.). (Grupo Focal – Aluno 4).

O professor tem alunos que ele gosta mais... mais esforçado, vai mais com a
cara daquele aluno, mais puxa saco, se acontecer algum tipo de brincadeira,
um aluno que pra ele é especial, ele vai fazer maior “escambau”, e se for um
aluno que ele não gosta ele vai deixar aquele aluno normal, não vai
acontecer nada com ele. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 3).

Tem professor que é puxa saco de uns alunos e outros não, né. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 1).

Assim como depende do aluno depende do professor, as vezes o professor


não encara como bullying, as vezes ele considera brincadeira. (sic.). (Grupo
Focal –Aluno 6).

Nestes casos depende do professor e do aluno. Se é um aluno mais brinca e


tal, tipo, mesmo fazendo bullying daquela pessoa, o professor faz com que
quem está sofrendo com a brincadeira, para não levar a sério, briga com que
está fazendo bullying. Para não piorar as coisas isso depende do professor e
do aluno. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 8).

Segundo Durkheim (1972, p. 53-54), exige-se na prática que o professor tenha


autoridade. Mas como exercer esta autoridade sem o conhecimento da realidade que o cerca?

A educação deve ser um trabalho de autoridade. Para aprender a conter o


egoísmo natural, subordiná-lo a fins mais altos, submeter os desejos ao
império da vontade, conformá-los em justos limites, será preciso que o
educando exerça sobre si mesmo um grande trabalho de contenção. Ora, não
nos constrangemos e não nos submetemos senão por uma destas razões: ou
por força da necessidade física, ou porque o devamos moralmente. Isso
significa que a autoridade moral é a qualidade essencial do educador.

Neste caso, o diálogo deve preceder a autoridade, a abertura do professor para


ouvir os alunos, a sua disposição para a escuta, distância do aluno o medo de falar e o
silêncio. Assim, o professor de Educação Física tem como agir, para “negociar” com a
violência. Omitir-se é falta de autoridade moral.
146

Gráfico 33: Medidas tomadas pelo Professor em caso de Bullying na Educação Física
Nota: Construção da autora

5.1.34. Medidas Tomadas pela Escola

Na percepção dos inquiridos, a escola toma medidas efetivas quando detectado


bullying nas aulas de Educação Física, pois 82,6% afirmam que os pais e/ os responsáveis são
chamados e ficam cientes do que aconteceu; ainda, 40,9% afirmam que a escola pune os
autores dos maus-tratos; outros 10,4% destacam que a escola responsabiliza os pais pelo mau
comportamento dos filhos; 8,7% afirmam que existe um trabalho de prevenção da violência;
3,5% informaram que a escola comunica o conselho tutelar; 2,6% destacam que a escola
comunica outras autoridades; enquanto 7,8% afirmam que a escola ignora o fato, pois é coisa
sem importância; por fim, 9,6% afirmam que a escola solicita a transferência do aluno.
Este Gráfico trouxe um dado importante para a pesquisa, porque embora a escola,
na visão dos alunos, toma providências em relação ao bullying detectado, muitas vezes ela
não detecta este fenômeno, visto que no Gráfico 33, 46,8% dos respondentes apontam que o
professor não fica sabendo dos atos de bulliyng e no Gráfico 42, 58% dos inquiridos afirmam
que os casos de cyberbullying não são conhecidos pelos professores. Pressupõe-se que quando
a escola não fica sabendo não pode tomar providências, e neste caso permanece a impunidade
para os agressores e espectadores e o sofrimento para as vítimas. Porém, as medidas
preventivas não devem ser eliminadas.
147

Gráfico 34 – Medidas Tomadas pela Escola


Nota: Construção da autora

Categoria 4 - Cyberbullying/ Educação Física

A última categoria se refere ao cyberbullying decorrente das aulas de Educação


Física. Nesta identificaram-se elementos como duração, frequência e duração, reação por
vitimização, sentimentos em decorrência de sofrer cyberbullying, sentimentos ao praticar
cyberbullying, sentimentos dos espectadores, medidas tomadas pelo professor, medidas
tomadas pela escola.
Nesta categoria não se discutirão os aspectos comuns do bullying e ao
cyberbullying, atendo-se somente nas particularidades do mundo virtual.

5.1.35. Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física.

Para essa pergunta foi possível assinalar mais de uma resposta e,


aproximadamente metade dos respondentes foram expostos na “rede” em decorrência das
aulas de Educação Física: “falaram mal de mim em rede social” (41,7%); “enviaram vírus
com motivo de me prejudicar” (25%); “fizeram-se passar por mim na internet (25%);
“furtaram minha senha e invadiram meu e-mail” (25%); “enviaram e-mail falando mal de
mim” (20,8%); “recebi mensagem de celular falando mal de mim” (16,7%); “recebi
mensagem de celular me ameaçando” (8,3%); “recebi mensagem de celular me xingando”
148

(8,3%); “tiraram e divulgaram fotos minhas sem meu consentimento” (8,3%); “montaram e
divulgaram fotos minhas de uma forma constrangedora” (8,3%); “alteraram minha página
pessoal, em alguma rede social” (4,2%); “fizeram vídeos meus e colocaram em sites de
vídeos” (4,2%); “enviaram e-mail me ameaçando” (4,2%).
Esses dados podem ser observados e confirmados a partir das informações obtidas
nos grupos focais, como segue:

Ah, teve um caso aqui na escola, que teve uma menina que fez umas coisas
erradas, e daí ela passou essa, tipo, estava conversando com um menino ela
fez umas coisas lá, e daí esse menino, ele que tirou print desta mensagem e
mandou pra todo mundo, tipo, meio que ele acabou com a vida dela, mas,
tipo, ela não teve consciência do que ela fez e tal, entendeu? Tipo, ela
provocou, não precisavam passar pra todo mundo, mas, tipo, é uma coisa
diferente pra todo mundo, nem sei, tem que ter mais cuidado com as coisas,
foi uma em, nunca tinha visto aqui em Lucas. (sic.). (Grupo Focal – Aluna
7).

Já aconteceu isso comigo, eles vem ficam falando para eu tirar fotos e
mandar, ai eu pego e bloqueio eles. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 3).

Tem um site com o nome e ask que você faz, de pergunta e resposta, aí tem
como mandar no anônimo, e mandar dizendo que é você. E daí criaram neste
fake uma conta fake para falar mal da cidade inteira, ai você fala no anônimo
lá, fulano de tal, ai e ele mandava um negocinho de 3 linhas por exemplo
assim... assim... por exemplo assim, dizendo o que a pessoa fez, o que ela é,
o que ela é na opinião, o que a pessoas fez, tipo... e muitas vezes é mentira,
ficava falando da pessoa assim . E... daí teve uma menina que falou muito
daquela menina no site, ela se sentiu mal aí ela denunciou para a polícia,
mas a polícia descobriu pelo IP do computador quem é, só que a polícia não
divulga quem é, ela só exclui a conta da pessoa, mas eu acho que deveria
divulgar para a pessoa criar vergonha e não fazer aquilo lá .
Depois que a polícia mandou excluir aquilo a mesma menina criou uma
conta de novo, com o outro nome, porque não aconteceu uma punição com a
pessoa. Eu posso muito bem chegar em casa e criar um ask para falar mal de
todo o mundo e ninguém vai saber que era eu, eu acho isso muito errado.
(sic.). (Grupo Focal – Aluna 1)

Percebo que há casos de bullying onde as próprias vítimas são as causadoras


do bullying, são as provocadoras, as provocativas, então nesses casos
acontece em todos os momentos, as vezes na sala de aula, Educação Física
na biblioteca, no contraturno, nas redes sociais porque a própria vítima
provoca para que aconteça isso. (sic.). (Grupo Focal – Dirigente 3).

Azevedo, Miranda e Sousa (2012, p. 251) trazem o pensamento de Mason


(2008) sobre o ciberespaço, pois:

[...] ganhou notoriedade e tornou-se também lugar de violência. No entanto,


a popularidade da Internet e de outras tecnologias, sobretudo as de
149

Comunicação, apoiadas na repercussão das redes sociais inclusive dentro das


salas de aula, fez surgir uma nova forma de agressão e ameaça entre alunos:
o CyberBullying. O uso dos aparelhos eletrônicos para ameaçar outros
estudantes torna-se a cada dia problema mais sério nas escolas.

A virtualização das relações sociais, potencializadas pelo acesso à tecnologia,


agregadas ao tempo que o aluno passa navegando na internet, por si só já potencializa a
violência. Mas, além disso, tem a potencialização da violência com o uso da tecnologia, que
acontece em tempo real, os autores são desconhecidos.

Falando sobre a questão do bullying mais voltado para a tecnologia, posso


dizer, que se sem os limites e sem as regras impostas de convivência pessoal,
do cara a cara, do estar ali perto, a internet, o computador, dá uma sensação
de liberdade muito maior e a criança e o adolescente, muitas vezes, por não
ter este limite e esta regra explicitamente imposta, acha que pode falar o que
pensa, né, falar o que quiser sem se importar com as consequências. Então
muitas vezes as questões de bullying e as ofensas e as maldades isto acontece
no meio virtual por essa ausência da especificidade das regras. A tecnologia
está ao alcance de todos e o celular, o computador e o tablet. As crianças
aprendem muito mais rápido que os adultos e dominam esta tecnologia com
muito mais facilidade. Então isso como não tem limite de atuação e os
cadastros em redes sociais são geralmente burlados, porque a regra existe,
porque só acima de tal idade, mas isso eles alteram as datas e podem se
cadastrar criam perfil falso, um fake que eles chamam, e a partir dali
começam as ofensas e agressões pensando que é normal. (sic.). (Grupo Focal
– Dirigente 1).

Tens uns programas que esses dias um amigos meus queriam raquear um
face para falar só daquela pessoa, e daí tem uns programas que baixa e não
dá para descobrir o IP, e daí você baixa aquilo lá, nem o polícia, demora pra
descobrir, já aconteceu isso aqui, a polícia não descobriu por causa desse
programa aí fala mal da pessoa e não acontece nada com ela. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 8).

Acho que o que leva a pessoa fazer é o fato de ela demonstrar a opinião dela,
sem ninguém saber. Porque já aconteceu comigo de terem criado, era no face
mesmo, era um negócio que você botava a foto da pessoa, “gata da tarde” e a
foto da pessoa, status, idade, tá namorando, solteiro, se estava ficando (como
se a pessoa soubesse), aí botaram uma foto minha: “vadia da tarde” não sei o
que, não sei o que, aí eu denunciei por spam, ai saiu eles, não podem pegar
mais foto minha no facebook. Ah, me senti mal, tipo assim, a pessoa não
pode postar tua foto e postar pra todo o mundo ver e ficar zoando com você,
eu acho que não deveria. Qual a graça de fazer isso com o outro, qual a
graça? Não tem graça! (sic.). (Grupo Focal – Aluna 3)
150

Gráfico 35 – Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.36. Duração do Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física

Quanto a duração das atitudes agressivas no formato cyberbullying, constatou-se


“não sofri bullying” (87,8%); “durou uma semana” (8,7%); durou várias semanas (3,5%).
Verifica-se o maior índice com a duração de uma semana, seguindo por várias
semanas, sendo portanto denominável como cyberbullying, devido a duração de tempo. Não
foi só uma vez, é uma atitude repetitiva. No entanto, não se observou casos que duraram todo
o semestre.
151

Não sofri cyberbullyingg

Gráfico 36: Duração do Cyberbullying Decorrente das Aulas de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.37. Frequência e Duração do Cyberbullying em Decorrência das Aulas de Educação


Física.

Obteve-se o seguinte resultado nesta questão: “não sofri cyberbullying” (87,1%);


“foi de 1 ou 2 vezes” (7,8%); “foi de 3 a 5 vezes” (2,6%); “várias vezes por semana” (2,6%).
O maior índice apresentado foi o dos que não sofreram cyberbullying, seguidos
dos que sofreram 3 a 5 vezes por semana, e várias vezes por semana. Para “todos os dias” não
houve ocorrência, o que pode ser justificado pela frequência das aulas de Educação Física,
duas sessões semanais. Este Gráfico demonstra o caráter repetitivo da agressão, o que é
fundamental para se caracterizado como bullying.
152

Gráfico 37 – Frequência do Cyberbullying em Decorrência das Aulas de Educação Física


Nota: Construção da autora

5.1.38. Reação por Vitimização de Cyberbullying em Decorrência das Aulas de Educação


Física.

Nota-se uma grande incidência dos alunos que assinalaram “não fui maltratado no
mundo virtual por colega de escola” (83,8%). Na sequência aparecem aqueles alunos que
“resolvem” as situações sozinhos “eu me defendi” (8,1%); “pedi que parassem” (8,1%).
Identificou-se ainda, os que se vingam, para que o outro sinta o mesmo “eu revidei” (5,4%).
Em relação aos que pedem ajuda tem-se: “falei com um professor” (4,5%); “falei com meu
amigo” (4,5%); “falei com meu pai /mãe / responsável” (4,5%).
Entre aqueles que sofreram sozinhos destacam-se: “eu chorei” (4,5%); “não fiz
nada porque não dei importância” (3,6%); “não fiz nada, mas fiquei magoado” (2,7%). Por
sua vez, poucos alunos recorrem à ajuda, “falei com meu amigo” (4,5%); “falei com meu pai,
mãe ou responsável” (4,5%); “falei com o professor, diretor, coordenador ou outro
funcionário” (1,8%); “falei com meu irmão ou irmã” (1,8%).
Nesta perspectiva, aponta Silva (2010, p. 43-44) que:

Os agressores apresentam desde muito cedo aversão às normas, não aceitam


ser contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em pequenos
delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição do patrimônio
público ou privado. O desempenho escolar destes jovens costuma ser regular
ou deficitários; no entanto em hipótese alguma, isso significa uma
deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte deles. Muitos
apresentam, nos estágios iniciais, rendimentos normais e acima da média.
153

Também em relação ao agressor, Leme (2006) diz que este, busca reconhecimento
e admiração dos colegas, é intolerante àquele que é diferente dele, seja física ou
comportamental. Indica ainda, a partir de seus estudos, que há maior propensão de indivíduos
do sexo masculino se envolver nas agressões, embora registre, nos últimos anos, que houve
um crescimento da violência entre meninas.

Gráfico 38: Reação por Vitimização de Cyberbullying em Decorrência das Aulas de Educação Física
Nota: Construção da autora

5.1.39. Sentimentos em Decorrência de Sofrer Cyberbullying nas Aulas de Educação Física.

Sendo possível assinalar mais de uma alternativa, o maior percentual de respostas


para esta questão que intentava saber os sentimentos decorrentes do cyberbulliyng foi “não fui
maltratado no mundo virtual” (87.6%); restando então 12,4% que foram maltratados no
mundo virtual. Destes, destacam-se “eu me senti mal” (7,1%); “eu me senti irritado” (6,2%);
“eu me senti triste” (5,3%).
As respostas seguintes apresentam o sentimento de vergonha do que as pessoas
pensam “eu fiquei preocupado com os outros” (5,3%); “eu me senti envergonhado” (4,4%).
Ainda, para o sentimento de mágoa e chateação “eu me senti magoado, chateado” (4,4%).
154

Eu acho que, tipo, ela fica com muita vergonha de sair por ai, porque as
pessoas ficam dando risada da cara dela, tipo, as vezes a pessoa faz coisa
errada, só que tipo, nem é pra tanto, tipo, que o pai dela veio aqui, acho
errado isso porque ninguém tem culpa da coisa que a menina fez, então acho
que, sei lá, a pessoa fica muito vergonhosa, sei lá! (sic.). (Grupo Focal –
Aluno 5).

O dado mais preocupante, embora em pequeno percentual foi “eu tive vontade de
morrer” (0,9%). E na mesma medida do dado anterior apresentam-se os indiferentes e os que
acham graça da violência “eu não sinto nada” (0,9%); “foi engraçado” (0,9%).

Quando aparece na internet a pessoa fica bem mais mal, porque as pessoas
que ela jamais pensou não sabe quem ficou sabendo, na escola ela sabe
quem ficou sabendo ela tá vivenciando, mas na internet ela não sabe quem tá
vendo, quem está gozando dela. E o bullying surge a partir de você, não tem
o que pessoa fazer. E, a própria pessoa acredita e com o passar do tempo ela
vai se isolando e sofrendo. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 2)

Eu já vi cyber aqui na escola, e já aconteceu comigo, é ruim parar na rede


social, passa de pessoa em pessoa, sua mãe fica sabendo, mas acaba
chegando em todo o mundo, fica abatida. Eu vivo nessa situação, todo
mundo. Você não sabe quem não viu, é muito horrível, pode ser que a cidade
inteira saiba o que aconteceu. Não adianta nada a pessoa ficar pra baixo. Da
vontade de sair de casa, se isolar em casa, fugir dos amigos. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 7)

As pessoas ficam com vergonha, sem solução, confusão se você não sabe
quem é como você vai solucionar, conversar quem é a pessoa, mas você vai
saber quem é, porque você vai notar, porque esta pessoa te humilha mais.
Mas o cyber mesmo que mudar de escola ou de cidade só com amnésia
mesmo, mas o cyber você não sabe quem foi e pode não ser verdade e você
não sabe quem tá vendo. (sic.). (Grupo Focal – Aluno 8)
155

Gráfico 39: Sentimentos em Decorrência de Sofrer Cyberbullying nas Aulas de Educação Física
Nota: Construção da autora

5.1.40. Sentimentos ao Praticar Cyberbullying nas Aulas de Educação Física.

Ao serem indagados se já praticaram cyberbullying nas aulas de Educação Física,


obteve-se como resultado “não pratiquei cyberbullying” (94,0%); “eu me arrependi do que
fiz” (4,3%); “eu me senti vingado (a)” (4,3%); “me maltrataram também” (3,4%); “tinha
certeza que eles fariam o mesmo comigo” (1,7%); “senti que eles mereciam o castigo”
(1,7%); “fiquei com medo de ser descoberto (a) e punido (a)” (0,9%); “foi engraçado” (0,9%);
“sei que não seria descoberto (a) e punido (a)” (0,9%); “eu senti pena da pessoa” (0,9%).
Na análise percebe-se que somente 6% dos alunos confirmam ter praticado
cyberbullying em decorrência das aulas de Educação Física, ao se considerar o Gráfico 21
(sofrimento por Bullying nas Aulas de Educação Física), verifica-se que 14% dos casos de
vítima de bullying, somente 6% apresentam a variante cyberbullying, ou seja, as vítimas são
expostas à rede mundial de comunicação. Para reforçar este resultado afirma-se que para cada
caso de bullying nas aulas de Educação Física, 1/3 (um terço) ocorre na vertente
cyberbullying, ou seja, vai parar na rede mundial de comunicação.
156

Gráfico 40 – Sentimentos ao Praticar Cyberbullying em Decorrência das Aulas de Educação Física.


Nota: Construção da autora

5.1.41. Sentimentos dos Espectadores do Cyberbullying em Decorrência das Aulas de


Educação Física

Mais da metade do grupo de alunos afirma não ter sido epectador ou testemunha
do cyberbullying nas aulas de Educação Física, “não vi” (55,7%), a seguir, “senti pena”
(28,7%), o que de certa forma denota que os espectadores não gostaram do que viram. Após,
estas manifestações surgem “achei injusto” (20,9%); “me senti mal” (13,9%;); “foi
engraçado” (5,2%); “certeza que me maltratariam” (2,6%). Verifica-se ainda, que 0,9% “me
senti vingado porque fui maltratado” e “fui maltratado, posso maltratar também”. Por fim, os
que culpabilizam a própria vítima, “achei justo”, com 1,7% de manifestação. Neste caso,
podem entrar os preconceitos raciais, sexuais, dentre outros.
No cyberbullying, o observador pode decidir sobre sua participação, conforme
destaca Ventura (2011, p. 91):

É muitas vezes também um bully, dependendo da plataforma em que a ação


decorre. Pode intervir se for um chat, pode reencaminhar o e-mail
difamatório ampliando a quantidade de observadores, em sua, o observador
inicial pode transformar-se num agressor de segunda linha, ampliando e
perpetuando o ataque inicial. No bullying, o observador tem um papel mais
passivo. Fazendo de público um acto, aumento a vergonha e a humilhação da
vítima (quanto mais observadores maior a humilhação) e amplia a glória do
agressor, servindo-lhe de audiência. (sic.).
157

Ao replicar o bullying, o espectador também passa a ser agressor, à medida que


comete a mesma violência de expor o colega a situação de humilhação.

Só esclarecendo. A palestra com a promotoria foi bem interessante, porque


trouxe para os alunos a explicação de que não e culpado só o criador da
imagem que denegriu ou só o autor da postagem que entrou na rede social.
Quem divulga, quem compartilha e quem envia também é culpado. Então, eu
recebi de algum, não tem problema nenhum, mas se eu passo pra frente eu
também passo a ser o agressor. Neste ponto foi bem esclarecedor tanto para
os pais e para os alunos que só o “compartilhar” ou “curtir” que são os
termos próprios nas redes sociais, ou “replicar”, tudo isso também tem
consequências, não é só quem criou a imagem ou e o autor da frase que
colocou lá. Então quem passou isso pra frente também está agredindo e
também tem culpa. (sic.). (Grupo Focal – Dirigente 1).

Gráfico 41 - Sentimentos dos Espectadores do Cyberbullying em Decorrência das Aulas de Educação Física
Nota: Construção da autora

5.1.42. Medidas Tomadas pelo Professor de Educação Física no Caso de Cyberbullying nas
Aulas de Educação Física.

Em se tratando das medidas tomadas pelos professores em caso do cyberbullying


ocorrido nas aulas de Educação Física responderam os alunos que estes “não ficam sabendo”
(58%); “comunicam à direção da escola” (29,5%); “punem os autores dos maus-tratos”
(26,8%); “ignoram, pois é coisa sem importância” (8%); “tratam como brincadeira” (3,6%).
158

Estes dados levam-nos a inferir que aproximadamente 58% dos casos de


cyberbullying não chegam ao conhecimento do professor, acrescido de 8% que não dão
importância, além de 3,6% que tratam o assunto como brincadeira, totalizando 69,6% dos
casos de cyberbullying ocorridos nas aulas de Educação Física não são tratados
adequadamente, ou mesmo nenhuma providência é tomada. É a violência silenciada e que
pela ineficácia da escuta, não aparece, conforme menciona Le Breton (1977, p. 87): “no
extremo este silêncio equivale a um banimento da sociedade, uma recusa em reconhecer a
existência do outro”.
Ainda,

O silêncio está também ligado à falta de conversa de um indivíduo que não


arranja interlocutor, desacreditado desde o início e que, no fim, não tem
outra escolha a não ser se calar, devido a indiferença de que é tratado. Forma
sonora do silêncio por recusa da escuta. (LE BRETON, 1997, p. 101).

Gráfico 42 – Medidas Tomadas pelo Professor de Educação Física no Caso de Cyberbullying


Nota: Construção da autora

5.1.43. Medidas Tomadas pela Escola no Caso de Cyberbullying em Decorrência das Aulas
de Educação Física

Ao dar voz aos alunos, com referência às medidas que a escola toma nos casos de
cyberbullying nas aulas de Educação Física, constatou-se que “chama os pais/responsáveis e
conta o que aconteceu” em 83,6% das respostas; por sua vez, a punição ocorre com os autores
em 38,8% das resposta “pune os autores dos maus-tratos”; “faz um trabalho de prevenção da
159

violência” foi citada por 16,4%; “responsabiliza os pais pelo mau comportamento dos filhos”
foi indica por 12,1%; enquanto a “transferência do aluno de escola” foi mencionada por
12,1%; “ignora, pois é coisa sem importância” foi indicado por 7,8%; “comunica outras
autoridades” foi apontado por 5,2%; e, “comunica ao Conselho Tutelar” foi citado por 4,3%.
Segundo a manifestação dos alunos, entende-se que a escola procura aliar-se à
família para resolver o problema e que um índice pequeno ultrapassa os muros da escola
(conselho tutelar, outras autoridades). Poucos percebem que a escola faz um trabalho de
prevenção (6,4%). Nota-se que não há impunidade quando constatado, mas vale lembrar que,
conforme o Gráfico 42 referente ao bullying, 58% afirmam que os professores nem sempre
ficam sabendo, o que denota um percentual alto de impunidade, por não chegar aos
responsáveis pela escola ou aos que tomam as providências necessárias. Mais grave é a
situação apresentada no Gráfico anterior que demonstra que, mais de 69% dos casos de
cyberbullying ocorridos nas aulas de Educação Física não chegam ao conhecimento dos
responsáveis e desta forma não são tomadas providências.

Gráfico 43 – Medidas Tomadas pela Escola no Caso de Cyberbullying em decorrência das Aulas de Educação
Física
Nota: Construção da autora

Eu acho que ela e o pai dela fez errado vir aqui na escola, ele reclamou por
uma coisa que a filha dela fez a coisa errada, eu acho que ela que deveria de
sofrer as consequências, não o que passou, porque ela fez a coisa errada,
então ele não deveria descontar em quem repassou, e ele não fez muita coisa
com ela, ele buscou justiça contra tudo isso e o piá, contra o pia que tirou os
print e mandou mas todo mundo que tinha assim, se ele continuasse ia
160

acontecer coisa grave porque quem fez a coisa errada foi ela. (sic.). (Grupo
Focal – Aluno 7).

De modo geral, nós quando ficamos sabendo do que está acontecendo,


algumas coisas a gente descobre, outras as pessoas nos alertam daquilo que
está ocorrendo. No momento se chamam os responsáveis e se chama
primeiro os envolvidos diretamente. Se faz algum trabalho de escuta de
atenção e de alerta, quando não tem maior efeito se chama os pais e
responsáveis e se dá aquilo que e próprio das medidas pedagógicas da escola
que é advertência verbal e escrita. (sic.). (Grupo Focal – Dirigente 2).

Os dirigentes apostam ainda, em atitudes preventivas:

Todas as turmas nós trabalhamos com Jornada de Formação, formação


humana, formação pessoal. Então a orientação e a pastoral trabalham, por
turma, com os assuntos os problemas que a turma apresenta, e fala de
respeito. Se faz uma formação de como se procede com uma atitude de
respeito com bullying, falta de responsabilidade nas tarefas, então a escola já
tem uma programação e de acordo com as necessidades de cada turma ela
faz um trabalho de formação. (sic.). (Grupo Focal – Dirigente 4).

Ela já saiu de 3 escolas porque ela já sofre bullying, entre aspas, claro,
porque ela leva tudo ao extremo, ela não sabe o que é brincadeira e ai tipo
assim, ela vai lá e fala assim, mãe fizeram bullying comigo! Aí a mãe dela
vai na escola reclama. Chama os pais, daí a escola fala: nossa esta menina
está sofrendo bullying e se vazar isso aí, a escola vai ficar com o nome
manchado, vamos chamar os pais dos agressores do bullying, então tá, dão
uma advertência pra quem está fazendo o bullying com esta menina. Ela já
saiu de 3 escolas e ela saiu, o problema é de todo o resto, mas não é dela.
(sic.). (Grupo Focal – Aluno 6).

Constata-se a presença da violência nas aulas de Educação Física chegando ao


formato também de cyberbullying, e a cada dia está mais difícil lidar com ela, devido ao
aparato tecnológico que utiliza. Se as tendências mostram o aumento da violência a cada dia,
é preciso admiti-la, para poder negociar com ela nos ambientes escolares e,
consequentemente, nas aulas de Educação Física.
De acordo com Bossle, Molina Neto e Wittizorecki (2013, p. 63) “A escola tem se
mostrado ambígua à fluidez da vida líquida, alternando momentos de resistência às violências
e, por vezes, sendo ela mesma produtora de eventos de violências que impactam, entre outros,
os professores”.
161

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A natureza humana está configurada nas relações dos indivíduos. Estes


necessitam do encontro com o outro para sobreviver, tanto para a conquista de território
necessário para sobrevivência como pela constituição da individualidade. Esse processo não é
totalmente harmônico, ocorrendo, por vezes, a partir do conflito, da agressividade, da
violência, conforme indicam Casagrande e Peruzzolo (2012).
O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de constatar e interpretar as
situações de violência entre alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental na forma de
bullying e cyberbullying no âmbito da Educação Física Escolar, com vistas a produzir dados
que pudessem orientar futuros projetos de intervenção educativa na área. Especificamente,
conhecer as situações de violência entre estes alunos no formato bullying na vertente
cyberbullying, no âmbito da Educação Física escolar, levando em conta o contexto em que
tais situações acontecem, o perfil dos protagonistas, as consequências dessas situações para os
envolvidos, bem como as medidas tomadas pela escola.
Após a reapresentação dos objetivos um novo questionamento surge, o que se
estabeleceu inicialmente como ponto de chegada foi alcançado? O que foi encontrado neste
percurso?
Assim, foi possível identificar que a terminologia bullying e cyberbullying é de
significativo conhecimento dos atores pesquisados, sendo confirmado a existência de medidas
de formação, prevenção, monitoramento e punição. Estes ainda demonstraram ter acesso aos
meios de comunicação de massa que tem espetacularizado esta modalidade de violência
escolar, frequentemente.
Na caracterização do uso da tecnologia constatou-se que a maioria dos alunos
acessa a internet na sua própria casa, utilizando de uma a três horas por dia, para entrar em
redes sociais, pesquisar assuntos da escola, jogar e acessar e-mail. Quase todos possuem
aparelho celular e consideram o aparelho indispensável na sua vida diária e utilizam
predominantemente para telefonar, enviar mensagens SMS, fotografar, entrar nas redes
sociais, ouvir música e jogar. As características deste grupo apontam que eles estão
aparelhados tecnologicamente, o que facilita sobremaneira a ocorrência do cyberbullying,
bem como tem tempo e condições propícias para sua prática.
Com relação a ambiência da Educação Física percebe-se que a maior parte dos
alunos gosta da aula de Educação Física e que, os sentimentos predominantes em relação a
aula são segurança, acolhimento, amor. Com menor incidência surgem a exclusão, o medo, a
162

angústia, solidão, mau trato, humilhação, isto nos permite afirmar que eles gostam da aula de
Educação Física e não da violência que ocorre em seu espaço, neste recorte pode-se inferir
que se está diante de uma vítima de bullying.
Identificou-se que o momento escolar em que mais ocorre o bullying é nas aulas
de Educação Física, pois mais de 70% dos alunos afirmam já terem presenciado cenas de
bullying neste ambiente. Este dado é considerado um achado, pois as pesquisas nacionais de
grande importância mencionadas neste estudo não pesquisaram este espaço e, apontaram a
sala de aula, sem professor, o espaço de maior ocorrência do bullying.
Com relação aos motivos que levam ao bullying na aula de Educação Física mais
da metade cita que é por brincadeira, constatou-se que existe dificuldade tanto do professor
tanto quanto dos alunos, para distinguir bullying de uma simples brincadeira de criança. Na
brincadeira, todos se divertem e no bullying uns se divertem à custa do outro que sofre. Esta
perversidade passa por uma atitude normal nos relacionamentos de crianças e adolescentes. E
o que mais dificulta o trato desta questão é que pode existir uma escala exponencial de
crescimento destas situações, se não forem tomadas as medidas necessárias, de uma simples
brincadeira na quadra, piscina, que podem “cair” na internet e desencadear o cyberbullying,
este também com consequências desastrosas.
Entender tais atitudes como “brincadeira” demonstra também que não estão claros
os limites que devem ser respeitados por todos, indicando ainda, a ineficácia da orientação e a
falta de punição.
Em seguida, aparece a diversidade cultural, a não aceitação do outro por suas
características culturais, sotaque, hábitos, e principalmente no local onde mora, portanto
“quem não é igual a mim eu excluo”. Quanto as diferenças individuais, estão os que têm um
traço marcante, uma necessidade especial, as pessoas tímidas, inseguras e passivas, que os
agressores entendem que são merecedoras de maus tratos. Para os autores de bullying, a forma
de ser do outro, por si só, já é uma provocação.
Em tempo, outro motivo das agressões é a inveja dos que usam tênis de marca ou
fazem viagens para o exterior, que tem status econômico superior aos demais alunos,
provocando sentimento de inveja, motivando a agressão, embora o uso do uniforme amenize a
aparência econômica, as diferenças se sobrepõem, e o bullying pode se desencadear.
A busca por poder e popularidade, a observação e o reconhecimento pela opressão
são elementos que, por vezes, tornam os opressores populares, verdadeiros “líderes”,
definindo o rumo das ações de um grupo, a escolha e formação de uma equipe, deixando de
lado os que não são seguidores, ou ainda, que apresentam poucas habilidades, gerando assim,
163

a exclusão. Estas ações se naturalizam pela dificuldade de interpretação e pela falta de


providência dos responsáveis.
Um dado muito significativo encontrado é que aproximadamente 30% dos
respondentes afirmaram que o motivo do bullying é a acusação que o time perdeu por causa
dele, a não aceitação da composição do time, o arremesso de materiais, e até ignorar a
presença do colega. Isto mostra que a falta de habilidade, muitas vezes vinda da própria
cultura, ou de uma característica individual, leva a exclusão, a não aceitação no time,
ignorando completamente a existência de um colega de turma.
Essa condição reforça a ideia de que nas aulas em que existe a predominância da
competição, a necessidade de ganhar a qualquer custo, portanto, são escolhidos os
“melhores”, e se o time perder é porque nele haviam alunos de “fraco” desempenho. Estes por
sua vez, são perseguidos e ameaçados, dentro e fora da escola e, às vezes, na rede mundial de
comunicação, quando não excluídos dos grupos físicos ou virtuais.
Este modelo se mostra excludente, fazendo que os habilidosos se tornem cada vez
mais hábeis, negando o direito de todos em participar das atividades e de se desenvolverem de
acordo com suas características. Neste sentido, as aulas de Educação Física pautadas na
competição e na seleção, na discriminação e na exclusão, trazem a violência do fracasso, que
tende, quase sempre, a conduzir a desvalorização de si próprio, podendo favorecer atitudes de
bullying, que podem se desdobrar em ciberbullying.
Constata-se também, que os sentimentos negativos atingem vítimas, agressores e
espectadores. Estes sentem-se mal, com tristeza, vergonha, ódio, sentimento de vingança,
insegurança, medo, mágoa, sentem-se indefesos, perdem o entusiasmo pela escola e a
concentração, queixam-se de cansaço e de dor de cabeça, não sentem prazer em ir para a
escola. Houve num número pouco significativo até dos que afirmam não sentir nada ao serem
vitimados por bullying, remetendo-se a ideia de os que convivem com a violência naturalizada
em seu dia-a-dia e podem apresentar afetividade deficitária.
Quanto as consequências sofridas por bullying nas aulas de Educação Física, há os
que perderam o entusiasmo com a escola, a confiança nos professores, deixaram de aprender e
perderam os amigos, pois lá não se sentem protegidos e seguros, vão à escola por obrigação e
não por prazer, principalmente nos dias de aulas de Educação Física. Isto ocasiona a falta às
aulas de Educação Física, ou dispensa da disciplina, criando falsos motivos e, quando não
suportam mais o medo, mudam de escola. Os espectadores sentem pena, acham injusto, mas
poucos procuram ajuda, desaprovam, e se colocam no lugar da vítima e sentem medo que isto
aconteça com eles. Por isso, deixam de se manifestar por medo.
164

Em caso de Bullying nas Aulas de Educação Física as medidas tomadas pelo


professor, a maioria afirma que o professor não fica sabendo, portanto deduz-se que a faixa de
impunidade é elevada. Outros acham que os autores não são punidos, outros afirmam procurar
diretamente a direção da escola. Com relação às medidas tomadas pela escola na percepção
dos inquiridos, a escola toma medidas efetivas quando detectado bullying nas aulas de
Educação Física, afirmando que os pais e/ os responsáveis são chamados e ficam cientes do
que aconteceu. Ainda, afirmam que a escola pune os autores dos maus-tratos, enquanto outros
destacam que a escola responsabiliza os pais pelo mau comportamento dos filhos. Contudo,
poucos afirmam que existe um trabalho de prevenção da violência, mas que, dificilmente os
casos ultrapassam os portões da escola, embora haja menção de que alunos são transferidos
em caso de recorrência da ação.
Este dado é importante para a pesquisa, porque embora a escola, na visão dos
alunos, tome providência em relação ao bullying e ao cyberbullying, muitas vezes ela não
detecta este fenômeno, pois o professor não fica sabendo de tais atos. Pressupõe-se que
quando a escola não fica sabendo não pode tomar providências, e neste caso permanece a
impunidade para os agressores e espectadores e o sofrimento para as vítimas. Portanto, o
professor precisa melhorar a relação com os alunos no que tange aos mecanismos de escuta,
para melhor identificar e compreender o fenômeno. Vale ressaltar, que os mecanismos de
prevenção não estão atingindo a eficácia esperada.
Entende-se que estes dados podem apresentar uma contribuição muito importante
aos professores de Educação Física, visto que alunos podem apresentar “pretextos” para não
participar da aula, alunos sentados na arquibancada, na beira da quadra, o que pode indicar a
ocorrência de bullying de forma camuflada.
Dos casos de bullying desencadeados nas aulas de Educação Física, no ambiente
físico, parte considerável “cai” na rede mundial de comunicação, aproximadamente 1/3.
Mesmo com esta incidência o dano pode ser irreparável, porque a rede funciona como uma
caixa de ressonância, acontece em tempo real, ao mesmo tempo pode ser visto por milhares de
pessoas, pode ser gravado e acompanha a pessoa para o resto da vida, mesmo que as
informações sejam verdadeiras ou falsas, tudo isso aliado ao anonimato.
A pesquisa aponta que dos que sofreram cyberbullying, predominam os insultos,
ameaças, envio de “vírus”, se passar pelo outro, furtar senha, tirar e divulgar fotos, montar
fotos constrangedoras e postar vídeos. Assim, como nos ambientes escolares, as vítimas
tendem a não reagir, apresentando os mesmos sentimentos, mas com a diferença de não saber
quem são seus agressores.
165

O dado mais preocupante, embora em pequeno percentual foi “eu tive vontade de
morrer”, o que pode justificar o número de casos de suicídio ocorrido em todo o mundo. Este
tipo de violência acarreta sérios problemas emocionais que interferem tanto na vida
acadêmica como da socialização do sujeito.
Por sua vez, a escola aposta em atitudes preventivas em relação ao cyberbullying,
com formação de professores e alunos, tanto nos aspectos sociais, morais, religiosos e legais.
Também procura agir em parceria com as famílias, embora não deixe de culpabilizá-las pela
falta de socialização dos filhos, pautadas em valores de respeito e convivência. Este pode ser
o motivo que o bullying e cyberbullying estejam sob controle. No entanto, nas aulas de
Educação Física se desencadeiam atitudes de bullying, que na maioria dos casos não chega ao
conhecimento do professor e nem da escola. É a violência silenciada e que pela ineficácia da
escuta, não aparece. Se não aparece não pode ser solucionada. Mas pode sim, ser evitada.
Considerando as premissas confirmadas neste estudo, “nas aulas de Educação
Física o corpo apresenta-se exposto como cultura; os contatos corporais estão presentes; os
corpos que fogem ao padrão ficam mais evidentes (gordos e magros, altos e baixos); na
prática das diferentes modalidades esportivas aparecem mais os estereótipos: molengas,
desajeitados, não leva jeito, só atrapalha, mulherzinha, Maria João, nerd; acerto e o erro ficam
mais evidentes; a competição resulta em perdedores e ganhadores acirrando-se as rivalidades;
as habilidades e debilidades raciais ficam mais evidentes (ex. negros jogam melhor o futebol,
orientais são melhores em lutas, dentre outros), ficam mais aparentes as orientações sexuais,
olhar do professor fica mais distante, maiores espaços para a realização das atividades; espaço
que facilita o bullying mascarado de brincadeiras; na aula de Educação Física são permitidas
situações que não são admitidas em outras aulas; o professor de Educação Física costuma ser
o único para todas as séries, acompanhando grande parte da trajetória do aluno; entende-se
que essa gama de possibilidades de aparecimento da violência em forma de bullying e
cyberbullying, o professor de Educação Física tem à sua disposição um espaço ambíguo, ora
desencadeador de violência ora um espaço privilegiado para atuar, pois está num lugar em que
todos estes fatores se evidenciam, e vem à tona, portanto, sendo o espaço para dialogar.
Nem mesmo os bons propósitos dos gestores, equipe diretiva e professores, que se
apoiam em valores como a solidariedade, respeito mútuo, cooperação, dentre outros,
utilizando-se de mecanismos de conscientização, prevenção e punição, não têm conseguido
desnaturalizar e eliminar toda a violência em forma de bullying e cyberbullying no espaço
escolar.
166

A presença do bullying e do cuberbullying as aulas de Educação Física é o efeito


das relações sociais que estão estabelecidas em uma sociedade pautada pela meritocracia, pela
individualização, pelo medo e pela insegurança. Neste sentido, a escola é reprodutora da
ordem social vigente. A escola precisa com urgência ser proativa de maneira a reconhecer o
outro sujeito da relação.
Entende-se com os resultados do presente estudo que a violência é uma estrutura
sempre presente no fenômeno da vivência humana, é um “movimento” dialético da ordem e
da desordem, estando na escola e na Educação Física, por isso, é preciso admitir sua
existência, saber onde ela se esconde, conhecer seus mecanismos e aparatos tecnológicos à
sua disposição, para desnaturalizá-la, enfrentá-la e extirpá-la dos meios escolares. Dessa
forma, é necessário evitar que crianças e adolescentes sejam expostos na rede mundial de
comunicação em condições vexatórias e humilhantes.
O bullying e o cyberbullying são fenômeno sociais contemporâneos absolutamente
controláveis, mas é preciso ter claro os valores que nos orientam, para poder apertar o gatilho
racional contra esta barbárie.
Não se trata aqui, de encontrar os culpados, mas de responsabilizar todos os
envolvidos com a educação no Brasil, se importando e cobrando a responsabilização no
combate às violências na escola privada ou pública.
Ciente de que este estudo tem caráter embrionário e que representa um primeiro
passo em direção a um universo complexo, entendo que algumas perspectivas se apresentam
para um futuro próximo, desta ou de outros pesquisadores, permitindo ainda, identificar por
que os professores não ficam sabendo da maioria dos casos de bullying ocorridos com os
alunos nas aulas de Educação Física?
Por fim, como a formação inicial e continuada do docente de Educação Física e
mesmo de outras áreas, podem preparam o professor para lidar com a violência escolar na
modalidade bullying e cyberbullying? Essas e outras dúvidas pairam no ar, resta-nos o estudo
e proposições para superar, eliminar, destruir toda e qualquer manifestação que atente e
desrespeite a vida humana.
167

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174

ANEXO A - Aprovação Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
JÚLIO MULLER-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: BULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA INTERPTRETAÇÃO


DO FENÔMENO NO ÂMBITO DA EDUCAÇÂO FÍSICA Pesquisador: CIRLEI DA
APARECIDA BRANDÃO Área Temática:
Versão: 2
CAAE: 13685913.1.0000.5541
Instituição Proponente: Faculdade de Educação Física da UFMT
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER

Número do Parecer:
255.120

Data da Relatoria:
25/04/2013

Apresentação do Projeto:
A presente pesquisa tem como objetivo caracterizar o bullying/cyberbullying na escola,
desvendar sua origem, suas causas, seus efeitos e as consequências psicológicas, sociais e
acadêmicas para as vítimas, agressores e espectadores; e discutir o espaço/tempo da Educação
Física como palco propiciador de sua manifestação, com vistas a produzir dados que possam
orientar futuros projetos de intervenção educativa relacionada à área. O lócus da pesquisa é
uma escola particular da cidade de Lucas do Rio Verde/MT, com alunos do Ensino
Fundamental, com idades compreendidas entre 10 a 15 anos. Baseado na teoria
fenomenológica, o método aqui eleito para o estudo do bullying/cyberbullying são os diretos e
indiretos e o cruzamento de ambos, combinando técnicas qualitativas e quantitativas, com a
aplicação de inquéritos, grupos focais, e entrevistas com informantes privilegiados

Endereço:Rua Fernando Correa da Costa nº 2367


Bairro:Boa Esperança CEP:78.060-900
UF: MT Município:CUIABA
Telefone:(63)3615-8254 E-mail:shirleyfp@bol.com.br
175

Objetivo da Pesquisa:
Objetivo Geral:
Caracterizar o bullying na escola, desvendar sua origem, suas causas, seus efeitos e as
consequências psicológicas, sociais e acadêmicas para as vítimas, agressores e espectadores; e
discutir o espaço/tempo da Educação Física como palco propiciador de sua manifestação, com
vistas a produzir dados que possam orientar futuros projetos de intervenção educativa
relacionados à área.
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
A presente pesquisa não inclui riscos para seus atores, porque todos os cuidados legais, éticos
e morais serão rigorosamente tomados. Como se trata de um estudo que envolve a aplicação
de entrevistas e grupos focais, o risco é mínimo.
Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:
Pesquisa importante para área.
Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:
Apresentou os documentos conforme resolução 196/96.
Incluiu autorização do gestor da escola onde será realizada a pesquisa.
Recomendações:
Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:
O pesquisador atendeu todas as pendencias. Propomos a aprovação do estudo.
Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
Considerações Finais a critério do CEP:
Projeto aprovado em relação à análise ética.

CUIABA, 25 de Abril de 2013

Assinado por:
SHIRLEY FERREIRA PEREIRA
(Coordenador)
176

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE

Caro (a) Pai, Mãe e/ ou Responsável,

Seu filho está sendo convidado (a) a participar como voluntário (a) da pesquisa de
Cirlei da Aparecida Brandão, do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da
Faculdade de Educação Física (FEF) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), na
área de concentração em Atividade Física, Desempenho e Corporeidade, linha de pesquisa:
Fundamentos Pedagógicos e Sócio-antropológicos do Corpo.
A referida pesquisa intitulada: Bullying no espaço escolar: uma Interpretação do
fenômeno no âmbito da educação física, tem como objetivo compreender como os espaços/
tempo da Educação Física podem propiciar a manifestação do bullying, identificando suas
possíveis origens, causas, efeitos e as consequências acadêmicas e sociais para as vítimas,
agressores e espectadores, com vistas a produzir dados que possam orientar futuros projetos
de intervenção educativa relacionada à área.
A participação de seu filho é voluntária e constará na resposta de um questionário
online que deverá ser respondido sem minha interferência ou questionamento, não causando
qualquer risco ou desconforto.
Sendo a participação voluntária, a qualquer momento e por qualquer razão você ou seu
filho poderá interromper a participação neste estudo.
Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os resultados
serão veiculados por meio de artigos científicos em revistas especializadas e/ou em encontros
científicos e congressos, sem nunca tornar possível sua identificação. Por favor, assine esse
formulário, como garantia de sua autorização para a utilização dos dados nos casos já
mencionados.
Você recebeu uma cópia desse termo com os dados da pesquisadora. Sinta-se a
vontade para entrar em contato caso seja necessário ou tenha interesse em conhecer os
resultados da pesquisa.

Eu,____________________________________________________ responsável pelo menor


_________________________________________________________________ declaro que
entendi os objetivos, riscos e benefícios da participação do menor na pesquisa e concordo que
este participe deste estudo de maneira inteiramente voluntária.

Assinatura do responsável pelo menor: _______________________________________

Cirlei da Aparecida Brandão


Pesquisadora

Prof. Dr. Carlos Evando da Silva


Orientador

Cuiabá, 14 de junho 2013.


Contato da Pesquisadora:
Cirlei da Aparecida Brandão
e-mail: cirleidab@hotmail.com
Fone (65) – 9636-2096
177

APÊNDICE B - Questionário Online

01. Sexo
- Masculino
- Feminino

02. Idade
- 10
- 11
- 12
- 13
- 14
- 15
- 16

03. Série/ano
- 6ª
- 7ª
- 8ª
- 9ª

04. Cor/ etnia


- Branco
- Pardo
- Negro
- Índio
- Amarelo

05. Você já reprovou na escola?


- Sim
- Não

06. Com quem mora?


- Pais e irmãos
- Somente com os pais
- Tios (as)
- Somente pai
- Somente mãe
- Somente Pai e irmãos
- Somente Mãe e irmãos
- Mãe e padrasto
- Mão, padrasto e irmãos
- Pai e madrasta
- Pai, madrasta e irmãos
- Avô (ó), tios (as) e irmãos
- Avô (ó) e irmãos
- Outros

07. Tem acesso à internet?


- Nunca
178

- Às vezes
- Sempre

08. Em que locais acessa a internet?


Em casa
- Na escola
- Em lan houses

09. Quantas horas usa a internet por dia?


- Menos de uma
- Uma a três
- Três a cinco
- Mais de cinco horas

10. Que você faz na internet? (É possível assinalar mais de uma resposta).
- Tem blog?
- Tem página pessoal nas redes sociais?
- Joga?
- Usa webcam?
- Pesquisa assuntos da escola?
- Pesquisa assuntos de seu interesse pessoal?
- Tem site pessoal?
- Conversa com desconhecidos?
- Partilha informações na internet?
- Acessa e-mails?
- Bloqueia e-mail desconhecidos?
- Abre sites com conteúdo para maiores de 18 anos?

11. Tem aparelho celular?


- Sim
- Não

12. O celular é para você:


- Dispensável
- Indispensável

13. Para quais atividades você utiliza o celular?


- Telefonar
- SMS
- MP3
- Rádio
- Fotografar
- E-mail
- Jogar
- Redes sociais
- Segurança
- Outro

14. Você gosta das aulas de Educação Física de sua escola?


- Sim
179

- Não
- Algumas vezes

15. Como se sente nas aulas de Educação Física? (Sim - não - algumas vezes)
- Acolhido
- Amado
- Angustiado
- Com medo
- Excluído
- Humilhado
- Maltratado
- Seguro
- Sozinho

PARA AS QUESTÕES SEGUINTES CONSIDERE O CONCEITO DE BULLYING COMO


AGRESSÃO ENTRE COLEGAS, INTENCIONAL E FREQUENTE, CAPAZ DE CAUSAR
DANOS OU MAGOAR, TAIS COMO: AMEAÇAR, CHANTAGEAR, APELIDAR,
GOZAR, FALSOS TESTEMUNHOS, CONTAR SEGREDOS, AGREDIRDE FORMA
VIOLENTA, IGNORÁ- LO (A), BATER, EMPURRAR E TIRAR OBJETOS PESSOAIS.

16. Por que motivo as pessoas praticaram bullying com os colegas nas aulas de Educação
Física?
- Vítimas não reagem
- Querem ser populares
- Porque a vítima é diferente
- Não sei dizer
- Não são punidos
- Por brincadeira
- Sentem provocados
- Querem dominar o grupo
- Acham que vítimas merecem
- São mais fortes
- Por inveja
- Porque o outro é diferente
- Nosso time perde por causa dele
- Outros

17. Viu colega sofrer bullying nas aulas de Educação Física?


- Sim
- Não
- Algumas vezes

18. Em caso de resposta “sim” ou “algumas vezes”, assinale quais foram os tipos de bullying
que você viu algum colega sofrer nas aulas de Educação Física? (Caso necessário assinale
mais de uma alternativa).
- Não vi.
- Xingaram.
- Deram socos, pontapés ou empurrões.
- Deram risadas e apontaram o dedo.
- Fizeram ameaças.
180

- Arremessaram objetos, tais como bolas, arcos, cones, cordas, dentre outros contra
colegas.
- Colocaram apelidos vexatórios.
- Puxaram o cabelo ou arranharam.
- Ignoraram completamente.
- Insultaram por causa de alguma característica física.
- Disseram palavras maldosas sobre ele(s) ou sobre sua(s) família.
- Humilharam por causa da orientação sexual.
- Não deixaram fazer parte do grupo de colegas.
- Insultaram por causa da cor ou etnia.
- Danificaram objetos pessoais.
- Fizeram “zoações” por causa do sotaque.
- Obrigaram a entregar dinheiro ou pertences.
- Encurralaram contra a parede.
- Fizeram ou tentaram fazer com que os outros não gostassem dele.
- Subtraíram dinheiro ou pertences.
- Perseguiram dentro ou fora da escola.
- Assediaram sexualmente.
- Inventaram que pegaram objetos pessoais dos colegas.
- Forçaram a agredir outro colega.
- Abusaram sexualmente.
- Não aceitaram a composição proposta para a formação da equipe.
- Insultaram por causa da falta de habilidades nas aulas de Educação física.
- Fizeram “zoações” pelo tipo físico.
- Fizeram “zoações” porque seu time perdeu.

19. Você já praticou bullying com colega nas aulas de Educação Física?
- Sim
- Não
- Algumas vezes

20. Em caso de resposta “sim” ou “algumas vezes`”, assinale quais foram os tipos de bullying
praticado por você nas aulas de Educação Física: (caso necessário assinale mais de uma
alternativa)
- Xinguei
- Dei socos, pontapés ou empurrões
- Arremessei objeto tais como bolas, arcos, cones, cordas, dentre outros, contra colega
- Dei risadas e apontei o dedo
- Fiz ameaças
- Coloquei apelidos vexatórios
- Puxei o cabelo ou arranhei
- Ignorei completamente
- Insultei por causa de alguma característica física
- Disse palavras maldosas sobre ele(s) ou sobre sua(s) família
- Humilhei por causa da orientação sexual
- Não deixei fazer parte do grupo de colegas
- Insultei por causa da cor ou etnia
- Danifiquei objetos pessoais
- Fiz zoações por causa do sotaque
- Obriguei a me entregar dinheiro ou pertences
181

- Encurralei contra a parede


- Fiz ou tentei fazer com que os outros não gostassem dele
- Subtrai sem consentimento dinheiro ou pertences
- Persegui dentro ou fora da escola
- Assediei sexualmente
- Inventei que pegaram objetos pessoais dos colegas
- Forcei a agredir outro colega
- Abusei sexualmente
- Não aceitei a composição proposta para a formação da minha equipe
- Insultei por causa da falta de habilidades nas aulas de Educação Física
- Fiz zoações pelo tipo físico
- Fiz zoações porque seu time perdeu

21. Você já sofreu bullying nas aulas de Educação Física?


- Sim
- Não
- Algumas vezes

22. Em caso de resposta “sim” ou “as vezes`”, assinale quais foram os tipos de bullying
sofrido nas aulas de Educação Física: (caso necessário assinale mais de uma alternativa)
- Xingaram-me
- Colocaram apelidos vexatórios em mim
- Me ameaçaram
- Disseram coisas maldosas sobre mim ou sobre minha família
- Insultaram-me por causa de alguma característica física
- Deram-me socos, pontapés ou empurrões
- Arremessaram objetos tais como bolas, arcos, cones, cordas, dentre outros, contra mim
- Deram risadas e apontaram para mim
- Fizeram com que os outros não gostassem de mim
- Inventaram que peguei coisas dos colegas
- Puxaram meu cabelo ou me arranharam
- Não me deixaram fazer parte do grupo de colegas
- Não me aceitaram no time/grupo
- Me descriminaram na educação física
- Acusaram que perderam o jogo por minha causa
- Acusaram que eu atrapalho o jogo
- Estragaram minhas coisas
- Ignoraram-me completamente, me deram “gelo”
- Insultaram-me por causa da minha cor ou raça
- Insultaram-me por causa da minha religião
- Pegaram sem consentimento meu dinheiro ou coisas.
- Fizeram zoações por causa do meu sotaque
- Encurralaram-me contra a parede
- Forçaram-me a agredir outro(a) colega
- Humilharam-me por causa da minha orientação sexual
- Perseguiram-me dentro ou fora da escola
- Assediaram-me sexualmente
- Fui obrigado (a) a entregar dinheiro ou minhas coisas
- Abusaram sexualmente de mim
- Não aceitaram a composição proposta para a formação da minha equipe.
182

- Sentiram inveja de mim


- Fui insultado por causa da falta de habilidades nas aulas de Educação física.
- Fizeram “zoações” pelo meu tipo físico
- Fizeram “zoações” porque meu time perdeu

23. Qual o espaço da escola onde ocorre com mais frequência o bullying?
- Não sofri bullying
- Nas aulas de Educação física
- Na sala de aula sem professor
- Na entrada da escola
- Na sala de aula com professor
- No banheiro
- No pátio de recreio
- No trajeto escola-casa
- Nos corredores

24. Manifestações de bullying na aula de Educação Física são realizadas:


- Por 1 colega
- Por 2 ou 3 colegas
- Mais de 4 colegas
- Toda a turma

25. Quais os sentimentos que o bullying na aula de Educação Física lhe causou?
- Não sofri bullying
- Eu me senti envergonhado
- Eu me senti mal
- Fiquei preocupado
- Eu me senti triste
- Não senti nada
- Eu me senti magoado
- Fiquei com medo
- Eu me senti irritado
- Eu me senti indefeso
- Eu me senti bem
- Foi engraçado

26. Qual foi tua reação diante do bullying sofrido na aula de Educação Física?
- Não sofri bullying
- Pedi que parassem
- Nada fiz e fiquei magoado
- Nada fiz, não dei importância
- Eu me defendi
- Falei com meu(s) amigo(s)
- Falei com meu pai, mãe ou responsável
- Eu chorei
- Eu revidei
- Falei com meu(s) irmão(s)
- Falei com o diretor ou professor
- Eu fugi
- Outros
183

27. Quais foram as consequências ao sofrer bulliyng na aula de Educação Física?


- Não sofri bullying.
- Perdi meus amigos.
- Perdi o entusiasmo.
- Parei de aprender.
- Perdi a concentração.
- Venho à escola com medo.
- Mudei de escola.
- Perdi confiança em professores.
- Tenho faltado às aulas.
- Solicitei dispensa da Educação Física.
- Fui reprovado.

28. Quem são aqueles que te incomodaram com bullying?


- Não sofri bullying.
- Somente meninas.
- Somente meninos
- Por meninos e meninas.

29. Quais foram seus sentimentos ao fazer bullying com seu colega na aula de Educação
Física?
- Não fiz bullying.
- Eu não senti nada.
- Tinha certeza que eles fariam o mesmo comigo.
- Eu me arrependi do que fiz.
- Eu me senti vingado(a), pois me maltrataram também.
- Foi engraçado.
- Fiquei com medo de que meu pai descobrisse.
- Senti que eles mereciam o castigo.
- Fiquei com medo de que um (a) professor(a) descobrisse.
- Eu me senti mal.
- Fiquei com medo de ser descoberto(a) e punido(a).
- Eu senti pena da pessoa.
- Sei que não seria descoberto (a) e punido(a).
- Eu me senti bem.
- Sofro maus tratos em casa e faço o mesmo na escola.

30.Reação dos agressores após a prática de bullying na aula de Educação Física?


- Contei para meus pais.
- Contei para o diretor ou professor.
- Contei para meu irmão.
- Não contei.
- Outros.

31. Que consequências você sofreu por fazer bullying com um colega na aula de Educação
Física?
- Não fiz bullying com colega.
- Venho à escola, mas tenho medo.
- Procuro não participar das aulas de Educação Física.
184

- Perdi a concentração.
- Perdi entusiasmo pela escola.
- Parei de aprender.
- Perdi meus amigos.
- Mudei de escola.
- Distanciei-me dos objetivos escolares.
- Tenho deixado de ir às aulas.
- Fui reprovado.

32. Qual foi seu sentimento ao ver seu colega sofrer bullying nas aulas de Educação Física?
- Não vi.
- Senti pena.
- Foi engraçado.
- Achei justo.
- Achei injusto
- Me senti mal.
- Certeza que me maltratariam.
- Sei que não me maltratariam.
- Não senti nada.
- Senti vingado, fui maltratado.
- Tive medo que fizessem comigo.
- Me senti bem.
- Procurei ajudar.
- Aproximei-me para ver.

33. Quais as medidas que o professor toma, em caso de bullying, nas aulas de Educação
Física?
- Não fica sabendo.
- Trata como brincadeira.
- Pune os autores dos maus-tratos.
- Ignora, pois é coisa sem importância.
- Intervém.
- Comunica à direção da Escola.

34.Quais as medidas que a escola toma, em caso de bullying, motivado pelas aulas de
Educação Física?
- Chama os pais/responsáveis e conta o que aconteceu.
- Pune os autores dos maus-tratos.
- Ignora, pois é coisa sem importância.
- Responsabiliza os pais pelo mau comportamento dos filhos.
- Comunica ao Conselho Tutelar.
- Faz um trabalho de prevenção da violência.
- Comunica a outras autoridades.
- Transfere o aluno.
- Outros.

PARA AS QUESTÕES SEGUINTES CONSIDERE O CONCEITO DE CYBERBULLYING


DESTE QUESTIONÁRIO: DERIVAÇÃO DO BULLYING QUE É REALIZADO POR
MEIO DO USO DE TECNOLOGIA, TAL COMO APARELHO CELULAR E INTERNET.
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35. Você já sofreu bullying pela internet (cyberbullying), motivado pelas aulas de Educação
Física?
- Não sofri cyberbullying.
- Enviaram e-mail falando mal de mim.
- Falaram mal de mim e alguma rede social.
- Montaram e divulgaram fotografias minhas de forma constrangedora.
- Montaram e divulgaram fotografias de minha família de forma constrangedora.
- Furtaram minha senha e invadiram meu e-mail.
- Fizeram-se passar por mim na Internet.
- Enviaram vírus com objetivo de me prejudicar.
- Enviaram e-mail me ameaçando.
- Tiraram e divulgaram fotografias minhas na Internet sem o meu consentimento.
- Recebi mensagem no celular me xingando.
- Criaram comunidade na internet para me humilhar e divulgar minhas fotos ou perfil.
- Fizeram vídeos meus e colocaram em sites de vídeos.
- Recebi fotografias minhas no celular e me humilharam.
- Alteraram minha página pessoal em alguma rede social.
- Recebi mensagem no celular falando mal de mim.
- Recebi mensagem no celular me ameaçando.

36. E qual foi o tempo de duração cyberbullying motivado pelas aulas de Educação Física?
- Não sofri cyberbullying
- Durou uma semana
- Durou várias semanas
- Todo o semestre

37. E qual a frequência de duração do cyberbullying motivado pelas aulas de Educação


Física?
- Não sofri cyberbullying
- Fui 1 ou 2 vezes
- Fui de 3 a 5 vezes
- Várias vezes por semana
- Todos os dias

38.Qual foi tua reação ao ser vítima de cyberbullying motivado pelas aulas de Educação
Física?
- Não fui maltratado(a) no mundo virtual por colega(s) de escola
- Eu me defendi.
- Não fiz nada porque não dei importância.
- Falei com um professor.
- Não fiz nada, mas fiquei magoado(a).
- Eu revidei
- Falei com meu pai / mãe / responsável.
- Falei com meu(s) amigo(s).
- Eu denunciei na polícia.
- Pedi que parassem.
- Falei com o professor, diretor, coordenador ou outro funcionário.
- Eu chorei.
- Falei com meu(s) irmão(s) ou irmã(s).
- Eu fugi.
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39. Quais foram seus sentimentos após sofrer cyberbullying motivado pelas aulas de
Educação Física?
- Não fui maltratado(a) no mundo virtual por colega(s) de escola.
- Eu me senti mal.
- Eu me senti magoado(a) / chateado(a).
- Eu não senti nada.
- Eu fiquei preocupado(a) com o que os outros podiam pensar de mim.
- Eu me senti irritado(a).
- Eu me senti triste.
- Eu me senti envergonhado(a).
- Eu fiquei com medo.
- Eu me senti indefeso(a), ninguém podia me ajudar
- Foi engraçado.
- Eu tive vontade de morrer.

40. Quais foram seus sentimentos após praticar cyberbullying motivado elas aulas de
Educação Física?
- Não pratiquei cyberbullying.
- Não senti nada.
- Tinha certeza que eles fariam o mesmo comigo.
- Foi engraçado.
- Senti que eles mereciam o castigo.
- Eu me arrependi do que fiz.
- Eu me senti vingado(a), me maltrataram também.
- Eu me senti mal.
- Fiquei com medo de que meu pai/mãe/responsável descobrisse.
- Sei que não seria descoberto(a) e punido(a).
- Eu senti pena da pessoa.
- Fiquei com medo de que um professor ou funcionário descobrisse.
- Sofro maus tratos em casa e faço o mesmo na escola.
- Fiquei com medo de ser descoberto(a) e punido(a).
- Ameacei, que se contassem, faria mais e pior.

41. Como se sente vendo alguém sofrer cyberbullying motivado pelas aulas de Educação
Física?
- Não vi.
- Senti pena.
- Foi engraçado.
- Achei justo.
- Me senti mal.
- Certeza que me maltratariam.
- Achei injusto.
- Sei que não me maltratariam.
- Não senti nada.
- Senti vingado, fui maltratado.
- Tive medo que fizessem comigo.
- Me senti bem.
- Procurei ajudar.
- Me senti revoltado.
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42. Quais as medidas que o professor toma, em caso de cyberbullying, nas aulas de Educação
Física?
- Não fica sabendo.
- Trata como brincadeira.
- Pune os autores dos maus-tratos.
- Ignora, pois é coisa sem importância.
- Interveem.
- Comunica à direção da Escola.
-
43. Quais as medidas que a escola toma, em caso de cyberbullying, motivado pelas aulas de
Educação Física?
- Chama os pais/responsáveis e conta o que aconteceu.
- Pune os autores dos maus-tratos.
- Ignora, pois é coisa sem importância.
- Responsabiliza os pais pelo mau comportamento dos filhos.
- Comunica ao Conselho Tutelar.
- Faz um trabalho de prevenção da violência.
- Comunica a outras autoridades.
- Transfere o aluno.
- Outros.
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APÊNDICE C - Grupo Focal - Roteiro

Grupo focal é um instrumento de pesquisa que “permite ouvir vários sujeitos, ao mesmo
tempo, além de observar as interações próprias de um processo grupal, o que permite obter
uma variedade de informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos grupos
acerca de um determinado tema”. (GATTI, 2005, p. 9).

Alunos:

1. Alinhamento dos conceitos de bullying e cyberbullying.


2. Ocorrência de bullying e cyberbullying na escola.
3. Atores do bullying
4. Sentimentos e reações
5. Medidas tomadas pelos atores.

Equipe Diretiva e Professores:

1. Alinhamento dos conceitos de bullying e cyberbullying.


2. Ocorrência de bullying e cyberbullying na escola.
3. Atores do bullying
4. Sentimentos e reações dos envolvidos
5. Providências tomadas pela escola e pelos professores.

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