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Pós-graduação em análise numérica estrutural utilizando o


método dos elementos finitos
 

Trabalho de Conclusão
Aplicação da técnica de submodelagem em uma análise
termo-estrutural de um vaso de pressão

Anderson Kazutaka Nakashima


Turma FEA-SP-2012

São Paulo
Março de 2014
Sumário
 

1.  INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3 


2.  CONCEITOS DA SUBMODELAGEM..................................................................... 4 
3.  APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ....................................................................... 6 
4.  APLICAÇÃO DA SUBMODELAGEM ................................................................... 13 
5.  APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .............................................................. 16 
6.  CONCLUSÃO ....................................................................................................... 23 
7.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 23 
 
1. INTRODUÇÃO

Muitas vezes na análise numérica de problemas de engenharia


precisamos modelar estruturas inteiras complexas para descrevermos
corretamente as condições de contorno do problema, sendo que a região
crítica concentra-se em uma pequena região localizada do modelo. Nestes
casos a técnica da submodelagem é bastante útil e eficaz uma vez que ela
permite direcionar o esforço computacional para uma determinada região de
interesse.

Neste trabalho será apresentado um exemplo de aplicação desta técnica


utilizando-se o programa Ansys em um problema que envolve uma análise
termo-estrutural estática de um sistema de tubulação conectado a um bocal de
um vaso de pressão. O modelo global será feito em elementos de casca e o
submodelo será em elementos sólidos incluindo alguns detalhes como filetes
de solda e raios de arredondamento. A versão 14.0 do Ansys utilizada neste
trabalho ainda não apresenta o módulo de submodelagem na interface do
Workbench, portanto foram utilizados comandos APDL. As versões mais
recentes do programa já apresentam este módulo, mas ainda com algumas
limitações. Na versão 14.5, por exemplo, só é possível fazer submodelos
sólido-sólido, não sendo possível fazer submodelos casca-sólido (é possível
fazer apenas com comandos APDL ou com extensão ACT).

Como referência, serão apresentados também os resultados do mesmo


modelo feito em elementos de viga e casca calculados através do programa
Rohr2. Trata-se de um programa específico para cálculo de tubulações
baseado no método dos elementos finitos utilizado no setor de óleo e gás. Este
programa já faz todo o pós-processamento baseado nas normas, o que
possibilita a modelagem e análise de sistemas de tubulações em elementos de
viga. Ele apresenta também um módulo adicional que possibilita analisar
regiões de interesse transformando os elementos de viga em elementos de
casca através do MEF. O acoplamento entre elementos de viga e casca é feito
automaticamente pelo programa através de vários elementos rígidos que ligam
o nó do elemento de viga aos nós dos elementos de casca.
2. CONCEITOS DA SUBMODELAGEM

A submodelagem é uma técnica em elementos finitos que possibilita


isolar uma parte de um determinado modelo com o intuito de obter resultados
mais precisos. Em outras palavras, podemos dizer que é uma maneira de
focalizar uma região específica de um modelo previamente analisado e criar
uma malha mais refinada nesta região para obter melhores resultados.

Esta técnica é baseada no princípio de Saint Venant que diz que as


tensões em uma região distante da região de aplicação da força não são
significativamente afetadas se esta força for alterada para uma carga
estaticamente equivalente. As distribuições de tensões e deformações são
alteradas somente nas regiões próximas a aplicação das cargas.

Figura 2.1 – Princípio de Saint Venant

Baseado neste princípio, podemos observar que os limites devem estar


longe o suficiente da região foco da análise.

Os deslocamentos calculados nas regiões de fronteira do modelo global


são impostos como condições de contorno no modelo local. Como as malhas
dos modelos são diferentes os deslocamentos são interpolados linearmente
nos limites do submodelo.

Esta técnica é válida somente para modelos com elementos de casca e


sólido, e podem ser usados em diferentes disciplinas (termo-estrutural,
eletromagnética, CFD, etc).

A vantagem deste tipo de análise é que o modelo global pode ser feito
com uma malha menos refinada e sem regiões de transições complicadas. O
modelo local pode ser refinado e incluir pequenos detalhes geométricos como
soldas e raios de curvatura. Com isso conseguimos fazer uma análise refinada
apenas na região de interesse e assim otimizamos o esforço computacional.

O submodelo é um modelo à parte, independente do modelo local, mas


a sua localização deve respeitar a origem global, ou seja, ele deve estar na
mesma posição (coordenadas globais). No caso de modelo global em casca e
submodelo sólido a distância entre os nós da face do sólido e o elemento de
casca deve ser menor ou igual a 0,75 vezes a espessura média. Isso quer dizer
que o submodelo deve estar aproximadamente centrado no modelo global.
Para determinação das condições de contorno nos limites o programa primeiro
projeta o nó no elemento de casca mais próximo. As condições de contorno
(deslocamentos ou temperaturas) são calculadas por interpolação para os
pontos projetados e atribuídas aos nós correspondentes.

Com as condições de contorno definidas nos limites o submodelo deve


ser carregado com os mesmos carregamentos do modelo global e depois
rodado, gerando resultados mais precisos na região analisada.

Figura 2.2 – Submodelagem Shell/Solid – Fonte: Manual Ansys


3. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

Neste trabalho será mostrada a aplicação da técnica da submodelagem


em um problema termo-estrutural de um sistema composto por tubulações
conectadas a bocais de um vaso de pressão. A figura abaixo mostra o modelo
analisado:

Figura 3.1: Modelo analisado no Ansys

Figura 3.2: Espessuras adotadas no modelo


O modelo global mostrado acima foi feito todo em casca e foi feita uma
análise termo-estrutural estática conforme mostrado abaixo.

Figura 3.3: Acoplamento termo-estrutural

As tubulações e vaso de pressão são de aço carbono e as propriedades


do material foram obtidas da norma ASME II Parte D, conforme mostrado
abaixo.

Figura 3.4: Coeficiente de expansão térmica


Figura 3.5: Coeficiente de elasticidade

Figura 3.6: Coeficiente de condutividade térmica


A malha do modelo global não necessita estar muito refinada, mas deve
ser o suficiente para gerar resultados de deslocamentos precisos. A figura
abaixo mostra a malha gerada.

79634 Nós 
79276 Elementos 

Figura 3.7: Malha

As tubulações e vaso foram modeladas em uma única parte. Foram


definidos contatos do tipo “bonded” entre o vaso e as sapatas conforme
mostrado na figura abaixo.

Figura 3.8: Contatos


Para a análise térmica da região do costado do bocal foi considerado
que a tubulação está a uma temperatura constante de 150ºC e o vaso a uma
temperatura de 300ºC. Note que na região de transição da tubulação e vaso
(reforço) não foi imposto temperatura, justamente para que o programa calcule
nesta região através da condução. O mesmo ocorre entre o vaso e as sapatas.
O vaso está com temperatura de 300ºC e apenas a base da sapata foi definida
com 22ºC (temperatura ambiente). Foi definida também convecção apenas nas
sapatas com coeficiente de filme igual a 5x10-6 W/mm2ºC, supondo que as
tubulações e vaso estão isoladas e apenas as sapatas estão expostas ao
ambiente. Com isso, a temperatura na região da sapata será calculada pelo
programa devido à condução e convecção impostas.

As figuras abaixo mostram os carregamentos descritos e a distribuição


de temperatura resultante.

Figura 3.9: Carregamento térmico


Figura 3.10: Distribuição de temperatura calculada

Para a análise estrutural foi considerada a mesma malha e contatos. A


distribuição térmica foi importada e o modelo foi carregado com gravidade, um
“fixed support” na sapata fixa (sapata em –X), um “frictionless support” na
sapata móvel (sapata em +X) e pressão interna na tubulação e vaso igual a 3,5
kgf/cm2. Nos bocais dos tampos foram aplicadas forças que simulam a força de
pressão (F=92067 N).

Para simular um projeto real, na extremidade da tubulação foi aplicado


um deslocamento (Dx = 9,6mm / Dy = 1,25mm / Dz = -14,88mm). Estes valores
foram obtidos da simulação feita no programa Rohr2, conforme mostrado na
figura abaixo.
Figura 3.11: Modelo do programa Rohr2

Figura 3.12: Carregamento estrutural

Antes de rodar é necessário habilitar a opção “Save MAPDL db” no


“Analysis Settings – Analysis Data Management” pois este arquivo será usado
na submodelagem.
4. APLICAÇÃO DA SUBMODELAGEM

A submodelagem segue basicamente 5 passos:

1- Criar e analisar o modelo inicial global


2- Criar o submodelo (respeitando as coordenadas globais)
3- Fazer a interpolação das condições de contorno nos limites (no
problema proposto será feita a interpolação das temperaturas e
deslocamentos)
4- Analisar o submodelo
5- Verificar se as distâncias entre os limites e a concentração de tensão
estão adequadas

Abaixo podemos ver um diagrama obtido do manual no Ansys que


resume estes passos:

Figura 4.1: “Data Flow Diagram” da Submodelagem (fonte: Manual Ansys)

No problema apresentado, a submodelagem foi feita em elementos


sólidos na região de intersecção vaso/bocal na qual é de se esperar que
ocorram tensões elevadas. Foi modelado metade de um bocal com detalhes de
filetes de solda e raios de arredondamento, com uma malha mais refinada e
regular, conforme mostrado abaixo.

Figura 4.2: Submodelo

82520 Nós 
15301 Elementos 

Figura 4.3: Malha do submodelo

Foi criado um “named selection” denominado “limites” nos planos de


corte onde os deslocamentos do modelo global serão interpolados.
As propriedades do material são as mesmas do modelo global, e os
carregamentos foram redefinidos.

Figura 4.4: Carregamento do submodelo

O seguinte comando APDL deve ser inserido (explicação de cada linha


de comando em vermelho):

/COPY,C:\Users\usuario\Documents\ESSS\TF\MODELOS\TF-local_files\dp0\SYS-
1\MECH\file,rst,,global,rst ! Este comando copia o arquivo .rst da análise
estrutural global para o diretório do modelo local com o nome “global.rst”
/COPY,C:\Users\usuario\Documents\ESSS\TF\MODELOS\TF-local_files\dp0\SYS-
1\MECH\file,db,,global,db ! Este comando copia o arquivo .db da análise estrutural
global para o diretório do modelo local com o nome “global.db”
/COPY,C:\Users\usuario\Documents\ESSS\TF\MODELOS\TF-
local_files\dp0\SYS\MECH\file,db,,thermal,db ! Este comando copia o arquivo .db da
análise térmica global para o diretório do modelo local com o nome “thermal.db”
/COPY,C:\Users\usuario\Documents\ESSS\TF\MODELOS\TF-
local_files\dp0\SYS\MECH\file,rth,,thermal,rth ! Este comando copia o arquivo .rth
da análise térmica global para o diretório do modelo local com o nome “thermal.rth”

FINISH

/PREP7
CMSEL,S,limites !seleciona os nós dos limites
NWRITE !Cria arquivo file.node com as coordenadas dos nós dos limites
ALLSEL !Seleciona todos os nós do modelo
SAVE,local,dB !Salva database local.db

ALLSEL !Seleciona todos os nós do modelo


NWRITE,temp,node !Cria arquivo temp.node com as coordenadas de todos os nós do
modelo

FINISH
/POST1
RESUME,global,db !Carrega database da análise estrutural do modelo global
FILE,global,rst !Carrega arquivos de resultado estrutural do modelo global
SET,1 !Define o load step a ser lido (neste caso a análise é estática com 1 step)
CBDOF, , , , , , , , , 1 !Comando que faz a interporlação dos deslocamentos. O
parâmetro definido como 1 é o KSHS (Shell to solid submodel). Este comando cria
arquivo file.cbdo.
RESUME,thermal,db !Carrega database da análise térmica do modelo global
FILE,thermal,rth !Carrega arquivos de resultados térmicos do modelo global
SET,1 !Define o load step a ser lido (neste caso a análise é estática com 1 step)
BFINT,temp,node, , , , , , , 1,1 !Comando que faz a interpolação das temperaturas.
Ele utiliza as coordenadas dos nós do arquivo temp.node. O parâmetro KSHS foi
definido como 1 (Shell to solid submodel) e o parâmetro TOLOUT também foi definido
1 (tolerância para extrapolação baseada na fração da dimensão do elemento). Este
comando cria arquivo file.bfin.

FINISH
/PREP7
RESUME,local,dB !Carrega database local.db
/INPUT, ,cbdo !Utiliza o arquivo file.cbdo. Lê o primeiro bloco do arquivo
constituído por comandos que indicam ângulos de rotação dos nós e comandos para
deletar restrição UY.
/INPUT,,cbdo,,:cb1 !Lê o segundo bloco do arquivo file.cbdo constituído pelos
valores da interpolação.
/INPUT, ,BFIN !Utiliza o arquivo file.bfin constituído pela interpolação das
temperaturas

FINISH
/SOLU

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

O modelo global apresenta alguns picos de tensões em outras regiões


que não são de interesse neste estudo. Como o foco deste trabalho é
apresentar a técnica da submodelagem na região de intersecção casco/bocal,
os resultados nas demais regiões foram omitidos.

As figuras seguintes mostram os resultados obtidos na análise do


modelo global e no submodelo local.
Figura 5.1: Distribuição de temperatura da análise térmica - Modelo Global

Figura 5.2: Distribuição de temperatura por interpolação - Submodelo


Figura 5.3: Tensão de Von Mises – Modelo Global – Vista 1

Figura 5.4: Tensão de Von Mises – Submodelo – Vista 1


Figura 5.5: Tensão de Von Mises – Modelo Global – Vista 2

Figura 5.6: Tensão de Von Mises – Submodelo – Vista 2


Figura 5.7: Deslocamentos – Modelo Global

Figura 5.7: Deslocamentos interpolados – Submodelo

Como pode ser visto acima, os resultados obtidos na submodelagem


estão dentro do esperado. O gradiente de temperatura teve alguns pontos com
desvio (não dando uma linha reta uniforme) devido provavelmente a
interpolação linear, mas isto não afeta os resultados gerais.
As distribuições das tensões de Von Mises no submodelo e no modelo
global ficaram muito parecidas, inclusive nas proximidades dos limites do
submodelo, atendendo assim o princípio de Saint Venant. O modelo global
apresentou uma tensão máxima de Von Mises (Top/Bottom) igual a 188 MPa, e
o submodelo tensão máxima igual a 181 MPa. Uma possível explicação para
queda da tensão seria a inclusão dos raios de arredondamento no submodelo.

As plotagens dos deslocamentos globais e deslocamentos interpolados


nos limites do modelo local mostram que os valores são próximos. Os valores
apresentados não são exatamente iguais pois os limites mostrados são
diferentes. O modelo global mostra apenas os resultados até o limite do reforço,
enquanto que o submodelo mostra os resultados no limite que se encontra um
pouco mais afastado do reforço.

É importante observar que nos limites do modelo local ocorrem


singularidades, conforme mostrado na figura abaixo. A interpolação linear dos
deslocamentos pode gerar pequenas diferenças entre os nós adjacentes que
podem gerar tensões localizadas (singularidades). Portanto, podemos
desprezar os resultados nas regiões próximas aos limites.

Figura 5.8: Singularidades nos limites do submodelo


Como referência, o modelo completo feito em elementos de viga e casca
foi calculado através do programa Rohr2, e o resultado encontrado está muito
próximo do resultado encontrado no modelo global feito em casca no Ansys.

Figura 5.9: Resultados programa Rohr2 – Vista geral

Figura 5.10: Resultados programa Rohr2 – Vista detalhada


6. CONCLUSÃO

A submodelagem é uma técnica muito útil e eficaz uma vez que


possibilita fazer análises mais precisas de determinadas regiões sem a
necessidade de refinar a malha do modelo inteiro, otimizando assim o esforço
computacional e consequentemente diminuindo o tempo de análise.

Com o avanço dos softwares de FEA este recurso está sendo


disponibilizado em interfaces cada vez mais fáceis de serem manuseados. No
programa Ansys 14.0 ainda é necessário acessar este recurso através de
comandos APDL como foi visto neste trabalho, mas mesmo assim podemos
dizer que a aplicação da técnica é simples, aliado ao ganho de precisão e
tempo de análise.

Os resultados obtidos neste trabalho foram convergentes e dentro do


esperado, mostrando que a ferramenta é eficaz para este tipo de análise que é
muito comum em diversos ramos da engenharia.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MANUAL ANSYS V14.0

PROGRAMA ROHR2 V31.0 – SIGMA Ingenieurgesellschaft mbH

SUBMODELING IN ANSYS WORKBENCH 14.5 – 2013 ESSS Conference &


Ansys users meeting – Roberto Silva

ASME II Parte D – 2010 – Material Properties

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