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E quanto aos sintomas inéditos da mulher contemporânea? Não me detenho nas formas
atualizadas dos conflitos internos que as mulheres experimentam em sua relação com o falo, e
que foram diagnosticados há muito tempo. Conflitos, tensões entre os dois tipos de falicismo,
o do ser e o do ter, que, longe de se reduzirem à simples oposição entre ser mulher e ser mãe,
assumem também, hoje em dia, a forma banalizada de uma tensão entre os sucessos
profissionais e a chamada “vida afetiva”, digamos, entre o trabalho e o amor.
Pois bem, o que hoje não se deve dissimular é que, uma vez livres da escolha exclusiva do
casamento, muitas mulheres amam de um lado e desejam ou gozam de outro. Mas é preciso
que elas possam escapar do jugo da instituição de um vínculo exclusivo e definitivo, para que
percebamos que os diversos parceiros de uma mulher situam-se de um lado ou do outro — do
lado do órgão que satisfaz o gozo sexual ou do lado do amor — e que a convergência num
mesmo objeto se realiza como uma entre outras configurações. Vejo nisso uma mudança
patente na clínica.
Há outra. São as novas inibições femininas. Eis como as explico a mim mesma: só há inibição
onde há uma escolha possível, ou imperativa. Onde o desejo não é solicitado, onde só há
coerção, as procrastinações da realização ou da decisão não podem manifestar-se. A
emancipação que multiplica as possibilidades, que permite à mulher determinar-se em função
de seus anseios, optar por ter ou não ter um filho, casar-se ou não, quando quiser e se quiser,
e também trabalhar ou não, deixa transparecer que o drama da inibição não é uma
especialidade masculina. Ainda mais que, por efeito de discurso, tudo que não é proibido
torna-se obrigatório. Por conseguinte, realmente vemos nas mulheres o mesmo recuo diante
do ato que se constata no homem obsessivo, as mesmas hesitações frente às decisões
fundamentais, aos compromissos definitivos, especialmente no campo amoroso. O homem —
no singular — e o filho, ambos desejados, mas adiados até um momento mais oportuno, fazem
parte da clínica cotidiana de hoje e, muitas vezes, encontram-se na origem da demanda de
análise. Assim, a extensão do unissex ao conjunto das condutas sociais caminha de mãos dadas
com uma homogeneização de grande parte da sintomatologia.
Evoco aí o que chamarei de mulheres responsáveis pelo pai. Diógenes, em sua ironia,
pretendia procurar um homem. Atualmente, muitas mulheres procuram um pai... para o
futuro filho. Novas escolhas, novos tormentos, novas queixas! As configurações são múltiplas:
estou procurando um pai, mas não suporto viver com um homem; estou procurando um pai,
mas os que encontro não querem ter filhos; estou procurando um pai, mas não encontro
nenhum; eu o amo, mas não o vejo como pai; e sem esquecer: achei na mesma hora que ele
seria um bom pai! O passo seguinte é dar uma aula ao pai sobre o que deve ser um pai, às
vezes sob a forma inédita de censurar a si mesma pelo pai escolhido, de não se perdoar por ter
dado tal pai aos filhos.
Concluo. Não temos que deplorar a evolução de nossa civilização. O psicanalista não tem nada
a censurar: pode apenas constatar, na perspectiva do discurso que o determina. E talvez, por
ora, ainda não saibamos que conseqüências resultarão das mudanças do estatuto da mulher
contemporânea.
Evidentemente, há um discurso prévio sobre a mãe que faz dela o objeto vital por excelência:
o pólo das primeiras efervescências sensuais, a figura que cativa a nostalgia essencial do ser
falante, o próprio símbolo do amor. Ecos disso ressurgem, é claro, nos ditos dos analisandos,
mas, em essência, estes acentuam outra coisa: a angústia e a recriminação.
Para situar esse desvio dos discursos, evocarei dois exemplos que têm o mérito de pôr em
cena, entre a mãe e o filho, de maneira contrastante, o imaginário da castração. Por um lado, o
dito de uma analisanda que se lembrou da menina que fora para sua mãe e, por outro, a
lembrança comovida que um filho guardou de uma mãe... excepcional. Lembrou-se a
analisanda: ela devia estar com uns oito ou nove anos e tinha uma cabeleira magnífica, com
duas longas mariaschiquinhas. Um dia, a mãe lhe anunciou: “Vamos ao cabeleireiro cortar suas
madeixas.” Por mais que ela implorasse, de nada adiantou, porque o espantoso projeto da
mãe era fazer para si própria um coque postiço! Atualmente, ela mesma transformada em
mãe, a analisanda ainda guarda no alto de um armário esse coque, objeto agalmático roubado
que, afinal, sua mãe nunca ousou utilizar.
A outra história é o contrário. Trata-se de um filho que não é analisando, mas um músico
célebre, o catalão Pablo Casals. Ele se recordou do momento de uma visão perturbadora. Na
época, morava em Paris, por vontade da mãe, a qual, embora não tivesse recursos, queria para
ele escolas dignas de seu talento. Um dia, ela chegou em casa, irreconhecível, depois de
vender sua bela e farta cabeleira, alegremente sacrificada à vocação do filho. Nesse caso,
foram a gratidão idealizadora e a saudade do objeto perdido que nimbam a lembrança.
Ao contrário, na associação livre, sejam quais forem as variações individuais, é mais como
acusada que a mãe se instala. Imperiosa, possessiva, obscena ou, ao contrário, indiferente, fria
e mortífera, presente demais ou ausente demais, atenta demais ou distraída demais, quer
cubra de mimos, quer prive, quer se preocupe, quer se mostre negligente, por suas recusas ou
por suas dádivas, ela é, para o sujeito, uma imagem de suas primeiras angústias, lugar de um
enigma insondável e de uma ameaça obscura. No cerne do inconsciente, as falhas da mãe
sempre têm lugar, chegando até à “devastação”, às vezes, quando se trata da filha, diz Lacan.
É aí que a vontade materna às vezes o disputa em seu amor, e que o filho pode ter a
experiência da autoridade ou do capricho dela. Penso, por exemplo, na mãe que tinha como
ponto de honra que, na data do primeiro aniversário, cada um de seus filhos houvesse
adquirido o controle dos esfíncteres! O grande princípio moderno, anti-sadiano, de que
ninguém tem o direito de dispor do corpo do outro acaba, desse modo, encontrando um
obstáculo nessa zona limite da maternação, ficando a humanização primária do corpo exposta
aos excessos e transgressões que, antes mesmo de entrar em jogo para a criança a apreensão
da diferença sexual, já a aprisionam no “serviço sexual da mãe”,6 na posição de fetiche e, às
vezes, na de vítima.
Colette Soler