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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Tecnologia
Coordenação do Curso de Engenharia Ambiental

Caracterização e classificação das


propriedades ópticas de aerossóis na
atmosfera de Natal, Brasil

Daniel Camilo Fortunato dos Santos Oliveira

Natal, novembro
2016
Daniel Camilo Fortunato dos Santos Oliveira

Caracterização e classificação das


propriedades ópticas de aerossóis na
atmosfera de Natal, Brasil

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado à


Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos
requisitos para obtenção do título de Engenheiro Ambiental.
Orientadora: Prof. Dra. Judith Johanna Hoelzemann

Coorientadora: Prof. Dra. Elena Montilla-Rosero

Natal, novembro
2016
AGRADECIMENTOS

Agradeço:
a Deus por todas as portas abertas na minha vida assim como, por ser a luz que me guia;
à minha família;
à Prof.ª Dr.ª Elena Montilla;
à Prof.ª Dr.ª Judith Hoelzemann;
ao Prof. Dr. Eduardo Landulfo;
ao Prof. Dr. Lucas Alados Arboledas;
à Coordenação de Engenharia Ambiental
aos meus amigos; e
ao Prof. Murillo.
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS ...................................................................................................................... 4
RESUMO ...................................................................................................................................... 5
ABSTRACT .................................................................................................................................. 6
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7
2. OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS .............................................................................. 9
2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................... 9
2.2. Objetivos específicos..................................................................................................... 9
3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 10
3.1. Descrição das características meteorológicas do lugar de medição ............................ 10
3.2. Descrição da AERONET ............................................................................................ 11
3.2.1. Descrição do fotômetro solar Cimel .................................................................... 12
3.3. Fotometria ................................................................................................................... 15
3.3.1. A Lei de Beer-Lambert ....................................................................................... 16
3.3.2. Definição e descrição de cálculo da AOD........................................................... 16
3.3.3. Definição e descrição do coeficiente de Ångström ............................................. 17
3.4. Climatologia de aerossóis de D’Almeida .................................................................... 18
3.5. Análise da classificação da massa de ar ...................................................................... 19
4. RESULTADOS ................................................................................................................... 21
4.1. Estatística das propriedades ópticas dos aerossóis no período observado................... 21
4.2. Histogramas e gráfico de dispersão para as propriedades ópticas dos aerossóis......... 22
4.3. Frequências das massas de ar ...................................................................................... 23
5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 24
5.1. Aerossóis ..................................................................................................................... 24
5.2. Proveniência das Massas de Ar ................................................................................... 25
6. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 27
LISTA DE SIGLAS

AERONET – AErosol RObotic NEtwork;


AOD – Aerosol Optical Depth;
ARL – Air Resources Laboratory
CCET – Centro de Ciências Exatas e da Terra;
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente;
DCAC – Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas;
DPI – Dots per inch;
GDAS – Global Data Assimilation System;
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico;
GP-MOQA – Grupo de Pesquisa de Modelagem e Observação de Química Atmosférica;
HYSPLIT – HYbrid Sigle-Particle Lagrangian Integrated Trajectory;
IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares;
LIDAR – Light Detection and Ranging;
NASA – National Aeronauics and Space Administration;
NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration;
OPAC – Optical Properties of Aerosols and Clouds;
RIMA – Red Ibérica de Medida de Aerosoles;
RN – Rio Grande do Norte;
TCC II – Trabalho de Conclusão de Curso II;
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
UGr – Universidad de Granada;
UTC – Coordinate Universal Time;
UV – Ultravioleta.
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo caracterizar e classificar pela primeira vez os
aerossóis atmosféricos de Natal (RN) em função de suas propriedades ópticas
características. Para tal utilizou-se um fotômetro solar Cimel como meio de obtenção dos
dados no período de 29 de janeiro a 5 de julho de 2016 e cujos parâmetros utilizados para
a caracterização e classificação foram a profundidade óptica de aerossol (AOD) e o
coeficiente de Ångström (α). Com a instalação do Cimel no Campus da UFRN, a base de
dados de Natal passou a fazer parte das redes RIMA (Red Ibérica de Medida de
Aerosoles) e AERONET (AErosol RObotic NEtwork), e ele foi trazido pela parceria entre
o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), a Universidad de Granada
(UGr), e o Grupo de Pesquisa de Modelagem e Observação de Química Atmosférica (GP-
MOQA/Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas/ CCET/ UFRN). Durante
o período de medições, em apenas 31% dos dias foram obtidas medições o que forneceu
uma média de AOD (500 nm) de 0,112 (±0,074), indicando aerossóis marítimos e uma
média de α (500-870 nm) de 0,140 (±0,203) cujos valores menores que 1 são esperados
para zonas costeiras. As análises de frequência dos histogramas confirmaram que as
características eram de aerossóis marítimos com a maioria dos valores obtidos de AOD
menores que 0,15 e α abaixo de 0,4 o que foi confirmado com a classificação feita no
gráfico de dispersão AOD versus α onde 62% dos aerossóis presentes na coluna
atmosférica de Natal (RN) eram aerossóis marítimos, 19% eram valores negativos e
desprezados da classificação e 19% dos aerossóis não tiveram classificação nesse estudo.
A classificação e caracterização dos aerossóis foram confirmadas pela modelagem de
retrotrajetórias do modelo HYSPLIT onde a grande maioria (93% a 500 m, 69% a 1500
m e 28 % a 3000 m de altura) das frequências de massas de ar se originaram no Sudeste
no Oceano Atlântico. Durante o período de estudo e com a metodologia usada, não foi
confirmada a presença de aerossóis desérticos nem a presença de massas de ar vindas do
Continente Africano.
Palavras-chave: Aerossóis; Cimel; AOD; Coeficiente de Ångström; Aerossóis
Marítimos; Retrotrajetórias; Aerossol Desértico
ABSTRACT

In this study the first characterization and classification of atmospheric aerosols over
Natal (RN) based on the presented optical properties is envisioned. A Cimel solar
photometer was used for obtaining the Aerosol Optical Depth (AOD) and Ångström
coefficient (α) in the period from January 29th to July 5th 2016. The Natal data base
belongs to the RIMA and AERONET networks, and is part of a collaboration partnership
between the Nuclear and Energy Research Institute (IPEN), the University of Granada
(UGR) and the Research Group for Modeling and Monitoring of Atmospheric Chemistry
(GP-MOQA / Department of Atmospheric and Climate Sciences / CCET / UFRN).
During the measurement period, 31% of the measurements days were valid data, from
these days the mean value of AOD (500 nm) was 0.112 (± 0.074), indicating marine
aerosols. Additionally, the mean value of α (500-870 nm) was 0.140 (± 0.203), the
expected values for coastal zones are less than 1. From frequency analysis of histograms
the characteristics of marine aerosols were confirmed as most values AOD were smaller
than 0.15 and α values were below 0.4. The local aerosol classification is confirmed by a
scatter plot of AOD versus α where 62% of aerosols present in the atmospheric column
Natal (RN) were marine aerosols, 19% were disregarded because of negative values and
19% of the aerosols were not classified in this study. The classification and
characterization of aerosols were confirmed by modeling backward trajectories of the
HYSPLIT model, the majority (93% at 500 m, 69% at 1500 m and 28% at 3000 m height)
of air masses frequency were originated in the Southeast Atlantic Ocean. During the study
period and under the methodology used the presence of desert aerosols were not
confirmed, neither the presence of air masses coming from the African Continent.
Key words: Aerosols; Cimel; AOD; Ångström Coefficient; Marine Aerosols;
Backward Trajectories; Desert Aerosols
7

1. INTRODUÇÃO

Desde a descoberta do fogo que o homem contribui para com a quantidade de


aerossóis na atmosfera. Entretanto, a partir da revolução industrial que se produz a
emissão continuada e crescente de gases e partículas de origem antropogênica que alteram
a composição da atmosfera (Toledano, 2005), sendo que a humanidade passou a ter uma
necessidade da queima de combustíveis para o desenvolvimento das cidades e suas vidas.
Os aerossóis podem ser definidos como um conjunto de partículas sólidas ou
líquidas em suspensão em um meio gasoso que se mantêm em tempo suficiente para
permitir sua observação e medida (Willeke e Baron, 1993; Toledano, 2005). Eles são
responsáveis pela condensação de partículas e formação de chuvas como também
influenciam no balanço radioativo da terra, alterando o clima do planeta. São de interesse
significativo porque contribuem de forma positiva ou negativa à saúde pública, à
fertilização dos oceanos e florestas, ao clima, à formação de nuvens, à visibilidade, à
química da atmosfera, ao ciclo hidrológico, dentre outras importâncias ambientais.
Eles interatuam com a atmosfera de três formas distintas: modo direto quando as
partículas interagem com a radiação solar por meio do espalhamento e absorção; modo
semidireto que se deve à capacidade dos aerossóis de absorver radiação de onda curta
(emitida pelo sol), levando a um aquecimento do ar e reduzindo a cobertura de nuvens
(Riquelme, 2015), e assim, contribuindo à forçante radioativa positiva; e, por fim, modo
indireto quando atuam como núcleo de condensação. Por estarem em suspensão, as
massas de ar os levam para outras regiões do planeta, causando um efeito de difusão e
fazendo com que o tempo de vida deles varie de acordo com as condições atmosféricas
até que sejam eliminados pela ação da gravidade, condensação, precipitação, aglutinação
e reações químicas que formam aerossóis secundários.
A grande emissão de aerossóis é também responsável por uma parte da poluição
atmosférica, a alta concentração os transforma em poluentes atmosféricos que são
entendidos, segunda a Resolução do CONAMA N.º 003 de 1990 como qualquer forma
de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou
características em desacordo com os níveis estabelecidos, e que tornem ou possam tornar
o ar: impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde; inconveniente ao bem estar público; danoso
aos materiais, à fauna e flora; e prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e
às atividades normais da comunidade . E uma boa forma de diagnosticar se uma cidade
ou região está limpa ou poluída é estudar a sua atmosfera, o que poderá ser feito tanto
pelo estudo das águas da chuva, dos poluentes atmosféricos e do material em suspensão
no ar (Motta, 2004).
Suas origens vão desde naturais como a poeira desértica, fogos em vegetação de
causas naturais, erupções vulcânicas, emissões do mar, emissões das florestas e poeira
interplanetária, até as antropogênicas como as fontes de combustão: queimadas, fornos,
automóveis e indústrias. A partir das emissões diretas (aerossóis primários), há os
secundários que são resultantes das interações químicas dos primários. Além disso, os
aerossóis têm uma infinidade de formas e de tamanhos, entre 10−4µm até 104 µm
conforme Cortéz-Hernández e Aparicio (2014), o que depender da origem.
8

Os aerossóis podem ser medidos por métodos in situ e por detecção remota cujas
medidas são obtidas onde as partículas estiverem localizadas na coluna atmosférica. A
primeira pode utilizar técnicas ópticas e químicas na superfície ou na coluna atmosférica,
pois as medidas são obtidas quando os aerossóis estão a níveis baixos e a segunda pode
utilizar técnicas de medições ativas e passivas que podem ser caracterizada pelo uso da
luz, ou seja, a ativa se dá quando o aparelho utiliza luz própria como fonte (feixe de luz
ou um laser) e as técnicas de medições passivas, quando há uma coleta de dados que estão
passando pelo ponto de medição, no caso do fotômetro que utiliza a luz externa (sol). As
medidas de satélite oferecem uma grande cobertura espacial, enquanto as medidas de
superfície oferecem uma maior resolução temporal (Toledano, 2005).
No presente trabalho utilizou-se uma técnica de detecção passiva para a medição
das propriedades ópticas dos aerossóis e, em função destas propriedades, eles foram
caracterizados e classificados. Especificamente, foi utilizado o fotômetro solar Cimel,
instrumento pertencente à RIMA, uma rede federada da rede mundial AERONET da
NASA para a obtenção de parâmetros característicos dos aerossóis atmosféricos como o
AOD e o coeficiente de Ångström. Estes parâmetros foram analisados estatisticamente e
estudados em função de sua evolução diária e mensal para caracterizar e classificar os
aerossóis na coluna atmosférica sobre a cidade de Natal.
9

2. OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS

2.1.Objetivo Geral

O objetivo geral deste estudo é caracterizar e classificar pela primeira vez os


aerossóis atmosféricos de Natal (RN) em função de suas propriedades ópticas
características.

2.2.Objetivos específicos

● Manutenção técnica do fotômetro solar (estação Natal RIMA-AERONET);


● Obter os dados do fotômetro solar na cidade de Natal;
● Analisar estatisticamente os dados de AOD e do coeficiente de Ångström do
fotômetro solar Cimel;
● Estudar a evolução temporal de AOD e coeficiente de Ångström para o período
de análises;
● Classificar os aerossóis na coluna atmosférica da cidade de Natal em função dos
valores de AOD e coeficiente de Ångström;
● Utilizar o programa de modelagem de retrotrajetórias (HYSPLIT) para analisar
as massas de ar;
● Identificar as possíveis fontes dos aerossóis atmosféricos em Natal combinando
os resultados do Cimel com a análise das retrotrajetórias.
10

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi executado no Campus da UFRN, na cidade de Natal. Para tal,


utilizaram-se os parâmetros ópticos de aerossóis obtidos com o fotômetro solar Cimel da
rede RIMA-AERONET. Em seguida, são descritas as características meteorológicas do
lugar de medida, as principais características técnicas do fotômetro solar e das redes
RIMA-AERONET. Adicionalmente, se descreve a metodologia de obtenção dos
parâmetros ópticos que foram analisados estatisticamente no desenvolvimento do
trabalho para a primeira caracterização e classificação dos aerossóis na coluna
atmosférica local utilizando o Cimel. Finalmente é descrita a metodologia de obtenção
das retrotrajetórias de massas de ar que chegam a Natal e que serão utilizadas como
ferramenta de análises complementares.

3.1.Descrição das características meteorológicas do lugar de medição

Natal está situada a 05º 47’ 42” S e 35º 12’ 34” W e a 30 metros acima do nível
do mar e por ser uma cidade litorânea, permanentemente, sopra uma brisa vinda do
oceano, sempre de sudeste. O clima de Natal é quente e árido na estação seca e durante a
estação chuvosa se torna quente e úmido (precipitação média anual de 1380 mm e
temperatura média é de 26ºC). A estação chuvosa é o resultado das chamadas Ondas de
Leste e ocorrem entre os meses de abril a julho, com predominância em junho. São chuvas
rápidas e moderadas, com duração de até 48 horas, com 18 a 24 horas de intervalos. Todos
esses dados resultaram de uma estatística de 10 anos de pesquisa (Motta, 2004).
Outra característica importante de Natal é a proximidade ao Equador que
possibilita a atuação dos ventos alísios. Em relação às nuvens, a evaporação permite o
surgimento de nuvens mais baixas como as cumulus e fracto-cumulus que também são
trazidas ao continente pelos ventos alísios, diminuindo a incidência solar na região.
Praticamente, todos os dias são registradas presenças de nuvens com maior frequência a
uma cobertura de 4 a 6 oitavos de céu, além disso, a média anual de umidade relativa é
acima dos 80%. As maiores intensidades de ventos são registradas nos meses de junho a
agosto e a maior frequência de direção dos ventos é sudeste, conforme mostra a Figura 1.
11

Figura 1. Intensidade do vento durante os meses do ano para os dez anos de dados da pesquisa do INPE
(2004).

3.2.Descrição da AERONET

A rede AERONET foi criada em 1998 e é uma federação de redes de


sensoriamento remoto de aerossóis em terra, estabelecida pela NASA, que conta com
colaboradores como Agências Nacionais, Institutos, Universidades, cientistas e outros.
Também faz parte desta rede a RIMA. A rede RIMA está federada à AERONET desde
2006 após uma calibração conjunta de todos os novos instrumentos. Os objetivos
científicos são a classificação dos aerossóis, validação de medidas de satélite e colaborar
com outros tipos de medidas e instrumentos. Essa rede também é responsável pela
calibração dos fotômetros.
A rede fornece dados de AOD, vapor de água, propriedades microfísicas e
radiativas dos aerossóis, dentre outros parâmetros. Além disso, possui uma padronização
e calibração dos instrumentos e processamento dos dados.
Os dados disponibilizados podem ser obtidos em três níveis de qualidade. Para o
nível 1.0, as medidas não sofrem nenhum processamento, ou seja, são medidas brutas e
que estão sob influência de fatores que causam ruídos, como as nuvens ou o ruído elétrico.
Já o nível 1.5, as medidas sofreram um processamento por meio de algoritmos onde foi
eliminada a nebulosidade. E o nível 2.0 possui medidas de maior qualidade, ou seja, sem
a nebulosidade e com uma calibração do aparelho após um período de medições na
estação (12 meses). A Figura 2 mostra os locais que fornecem dados para a rede no nível
1.5.
12

Figura 2. Locais da Rede AERONET que fornecem dados dos fotômetros solares a nível 1.5.
http://aeronet.gsfc.nasa.gov/cgi-bin/type_piece_of_map_opera_v2_new.

3.2.1. Descrição do fotômetro solar Cimel

O instrumento utilizado pela AERONET é o fotômetro solar Cimel Modelo


Padrão SP3B2008. Este fotômetro mede a irradiância solar e radiância do céu em faixas
do espectro de luz por meio das medidas de almocântara, plano principal e irradiância
direta, fornecendo propriedades microfísicas e radiativas dos aerossóis. As medições são
obtidas automaticamente por meio de dois detectores de silício um para cada colimador
(um para a irradiação solar e outro para a radiância do céu) com um campo de visão de
1,2 graus. O instrumento também conta com uma roda com oito filtros sensíveis aos
comprimentos de onda 340, 380, 440, 500, 675, 870, 1020 e 1640 nm para cada
intensidade da radiação solar, como se mostra na Figura 3; de sensores de temperatura
para correção no filtro de 1020 nm; de um filtro de 936 nm para o vapor de água; um
filtro de 670 nm para a correção do ozônio; e um filtro UV de quartzo. Os colimadores
guiam a luz do sol corretamente para os sensores, reduzindo a luz difusa e diferem nas
aberturas onde um tem uma abertura 10 vezes maior que outro. Todos os filtros estão na
cabeça do Cimel acoplada a um robô.

Figura 3. Roda com os oito filtros mais o filtro para o vapor de água. Imagem retirada do CIMEL (2015).
13

O robô faz medições a cada 15 minutos durante as horas de sol em um dia,


movimentando a cabeça até o sol com uma precisão de 1º e em ângulos de azimute e
zenital com precisão de 0,05º. A medidas realizadas por ele são: a medida de irradiância
direta, almocântara e medidas de plano principal (zenital) que são obtidas em uma
sequência de 10 segundos cada medida e para evitar a interferência de nuvens é feita uma
sequência de três medições (tripleto) com 35 segundos de duração para a posteriori serem
comparadas e eliminadas as interferências. As medidas de almocântara e de plano
principal são obtidas nos quatro filtros 440, 670, 870 e 1020 nm.
A medida de radiância almocântara é obtida fazendo a varrição do céu em um
ângulo zenital solar constate com ângulos de azimute entre 0 e 180º e entre 0 e -180º em
relação a posição do sol; e já a medida de plano principal é obtida fazendo a varredura do
céu em um ângulo azimutal constante que contém um plano normal ao instrumento e ao
sol e variando de -6º abaixo do sol até 150º. Abaixo, são mostradas as medidas de
Almocântara e de Plano Principal (Figura 4).

Figura 4. A se refere à medida de Almocântara e B se refere à medida de Plano Principal. Imagens


retiradas do Cimel (2015).

Os dados são armazenados na memória do instrumento e em horários


predeterminados são descarregados por cabos ligados diretamente ao computador, em
seguida, são enviados pela internet ao banco de dados de RIMA onde serão pré-
processados para seguir com um bom funcionamento do fotômetro e, finalmente, os dados
são processados com os algoritmos de inversão para obter a AOD e são disponibilizados
no site da AERONET.
O Cimel foi trazido para a UFRN por meio de uma parceria entre o IPEN e a UGr
(Espanha) como parte no Projeto do CNPq intitulado “Aerossóis Nuvens: um estudo
comparativo com sensoriamento remoto e modelagem”, que é coordenado pelo Prof. Dr.
Eduardo Landulfo (IPEN/Universidade de São Paulo) e do qual faz parte o GP-
MOQA/UFRN coordenado pela Profa. Dra. Judith Hoelzemann (Departamento de
Ciências Atmosféricas e Climáticas/ CCET/ UFRN). O instrumento está localizado no
telhado do prédio da Escola de Ciências e Tecnologia na UFRN conforme a figura abaixo
(Figura 5).
14

Figura 5. 1-Fotômetro solar instalado no telhado da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN e 2-


Unidade de Controle do CIMEL.

Com a instalação do instrumento, Natal passou a fazer parte da Rede AERONET.


Sendo assim, as medições realizadas na cidade, até agora, estão disponibilizadas para
acesso mundial com dados no nível 1.5. As figuras abaixo mostram Natal em destaque
(Figura 6) e um exemplo dos dados medidos na estação de Natal (Figura 7).

Figura 6. Imagem da Rede RIMA com destaque para Natal que já dispõem seus dados no nível 1.5.
15

Figura 7. Gráfico gerado em nível 1.5 com a obtenção de Profunidade Óptica de Aerossol (AOD) em
diversos comprimentos de onda para o mês de fevereiro de 2016. http://aeronet.gsfc.nasa.gov/

3.3.Fotometria

A luz se comporta de duas maneiras ao se propagar, uma como partícula e outra


como onda. A primeira permite que a luz seja quantificada por meio de pacotes de energia
(fótons) e a segunda permite o estudo de comprimento de onda, frequência, entre outros
conceitos (Martins, 2006). Esse comportamento dual permite que a luz interaja com os
aerossóis que compõem a atmosfera de formas distintas: espalhamento, absorção e
emissão.
O espalhamento é dividido em elástico e inelástico, e o elástico se subdivide em
Mie e Rayleigh, porém o Espalhamento Mie é o mais relevante para o estudo, já que a
partícula absorve os fótons e os reemitem de forma desigual em várias direções com o
mesmo comprimento de onda (raio da partícula é aproximadamente igual ao comprimento
de onda incidente) sem perdas de energia e sem alterar a energia interna da partícula como
mostrado na abaixo. Já no Espalhamento Rayleigh, os fótons são interagem com as
moléculas cujos raios são bem menores que o comprimento de onda da luz incidente e
são reemitidos de forma igual em todas as direções sem alteração da energia.
16

Figura 8. Imagem traduzida de Riquelme (2015), ilustrando os Espalhamentos Mie e Rayleigh quando a
radiação solar interage com os aerossóis.

Um outro ponto fundamental no estudo da radiação/aerossóis é a fotometria solar,


quantização do espectro das ondas eletromagnéticas em todos os comprimentos da luz
solar, permitindo a distinção de dois conceitos fundamentais para o presente estudo: o
primeiro é a irradiância que pode ser entendida como a quantidade de energia por unidade
de área, considerando todas as direções do fluxo radiante (Martins, 2006); e o segundo é
a radiância entendida como a quantidade de energia por unidade de área e por
esferoradiano, considerando uma direção específica (Martins, 2006). Esses conceitos são
utilizados no fotômetro solar Cimel para a medição dos dados.

3.3.1. A Lei de Beer-Lambert

A Lei de Beer-Lambert descreve o comportamento de um raio de luz


monocromático ao atravessar um meio (a atmosfera), onde a intensidade da luz diminui
ao se propagar nesse meio (atenuação) devido às interações (espalhamento e absorção)
da radiação e a matéria (partícula ou molécula). A Lei de Beer-Lambert é expressa da
seguinte forma:
𝐼 = 𝐼0 . 𝑒 −𝜏𝑚 Eq.: 1
Onde I é a irradiância no detector; 𝐼0 é a irradiância extraterrestre; 𝜏 é a
profundidade óptica de aerossóis e m é a massa óptica é definida como a razão entre a
profundidade óptica na vertical e profundidade óptica em outra direção (Toledano, 2005).
Para calcular a profundidade óptica faz-se uma medida direta ao sol (medida de extinção),
onde essa profundidade óptica pode ser expressa em função do ângulo zenital solar (θ):
𝑚 = 𝑠𝑒𝑐 𝜃 Eq.: 2

3.3.2. Definição e descrição de cálculo da AOD

A partir da Lei Beer-Lambert é possível calcular a Profundidade Óptica Total cuja


expressão é obtida manipulando a Equação 1.
1 𝐼
𝜏 = − 𝑚 𝑙𝑛 (𝐼 ) Eq.: 3
0
17

E para calcular a profundidade óptica de aerossóis (𝜏𝐴 ), é preciso retirar do total


as contribuições referentes ao Espalhamento Rayleigh.
𝜏𝐴 = 𝜏 − 𝜏𝑆𝑅 Eq.: 4
Onde 𝜏𝑆𝑅 é a contribuição do Espalhamento Rayleigh na profundidade óptica
total.
Outra importante característica física é a Espessura Óptica que é entendida como
a quantidade da atenuação da radiação, por absorção ou dispersão espectral das partículas,
entre dois pontos em um meio. E é obtida matematicamente por meio da equação abaixo:
𝑥
𝜏𝜆 (𝑥1 , 𝑥2 ) = ∫𝑥 2 𝑏𝑒𝜆 (𝑥) 𝑑𝑥 Eq.: 5
1

Onde 𝜏𝜆 (𝑥1 , 𝑥2 ) é a espessura óptica de aerossol em um determinado comprimento


de onda λ em função de 𝑥1 𝑒 𝑥2 ; e 𝑏𝑒𝜆 é o coeficiente de extinção igual a ρ𝑘𝑒𝜆 (ρ é a
densidade e 𝑘𝑒𝜆 é a opacidade).
Então, AOD pode ser entendida como a carga de aerossóis na coluna atmosférica
(do ponto de medição até o topo da atmosfera), ou seja, é um indicador da quantidade de
aerossóis. E é a partir desse parâmetro, usando algoritmos de inversão e a Teoria de
Espalhamento Mie, que se obtém o tamanho dos aerossóis e como eles estão distribuídos
na atmosfera.

3.3.3. Definição e descrição do coeficiente de Ångström

Ångström descreveu uma relação entre a comprimento de onda da radiação


incidente com o tamanho das partículas, (Toledano, 2005; Cortéz e Aparicio, 2014), da
seguinte forma:
𝜏𝛼 = 𝛽. 𝜆−𝛼 Eq.: 6
Onde 𝛽 é uma constante referente ao coeficiente de turbidez que coincide com
profundidade óptica a 1 µm, (Cortéz e Aparicio, 2014), 𝜆 é o comprimento de onda que
é dado em µm e α é o coeficiente de Ångström cuja importância é devida por estar
relacionada à distribuição de tamanhos dos aerossóis.
Para calcular o α, é necessário transformar a Equação 6 da seguinte forma:
ln(𝜏𝛼 ) = ln(𝛽) − 𝛼. ln(𝜆) Eq.: 7
ln(𝜏𝛼 )
𝛼=− − ln(𝛽) Eq.: 8
ln(𝜆)

Como a AOD devida a Lei de Ångström é uma aproximação, é necessária uma


maior precisão, por isso o α é calculado em uma faixa de comprimento de onda: 𝛼(𝜆1 /𝜆2 ).
ln 𝜏𝑎 (𝜆1 ) ln 𝜏𝑎 (𝜆2 ) = −𝛼(ln 𝜆1 − ln 𝜆2 ) Eq.: 9
ln(𝜏𝛼 (𝜆1 )/𝜏𝛼 (𝜆2 ))
𝛼=− Eq.: 10
ln(𝜆1 /𝜆2 )

Onde 𝜆1 é o comprimento de onda menor, 𝜆2 é o comprimento de onda maior e o


ln(β) foi subtraído da equação devido a diferença entre os comprimentos de onda.
18

Portanto, o coeficiente de Ångström pode ser entendido como um indicador óptico


do tamanho dos aerossóis, ou seja, é uma parametrização da profundidade óptica de
aerossóis.
Conforme Toledano (2005), o parâmetro α pode ter valores entre 0 e 4, onde
valores altos são referentes a partículas pequenas já que estas têm um espalhamento com
forte dependência do comprimento de onda e os valores baixos se referem a partículas de
tamanho grande. É habitual que para os aerossóis o coeficiente de Ångström α pode variar
entre 0 e 2,5.
Portanto, os parâmetros utilizados para a caracterização e classificação das
propriedades ópticas de aerossóis em Natal/RN, que são obtidos por meio da fotometria
solar, foram o coeficiente de Ångström e o AOD.

3.4.Climatologia de aerossóis de D’Almeida

A classificação dos aerossóis foi realizada com base na climatologia de


D’Almeida (1991), da qual os principais parâmetros desse trabalho se resumem na Tabela
1 e na Figura 9 (gráfico de dispersão para os parâmetros da Tabela 1), a classificação é
relacionada com cada tipo de aerossol suspenso na coluna atmosférica. Ela é utilizada
pelo modelo OPAC, (Hess et al., 1998).

τ 𝛼500−800
Continental limpo 0.064 1.42
Continental médio 0.151 1.42
Continental contaminado 0.327 1.45
Urbano 0.643 1.43
Desértico 0.286 0.17
Marítimo limpo 0.096 0.08
Marítimo contaminado 0.117 0.35
Marítimo tropical 0.056 0.04
Ártico 0.063 0.89
Antártico 0.072 0.73

Tabela 1. Classificação dos aerossóis através da profundidade óptica (τ) a 550 nm e o coeficiente de
Ångström (α) para a faixa de comprimento de onda de 500 a 800 nm, (D’Almeida, 1991; Hess et al.,
1998; Toledano, 2005).
19

Figura 9. Gráfico traduzido de Toledano (2005) para a dispersão de AOD (550 nm) e o coeficiente de
Ångström (α) na faixa de comprimento de onda de 500 a 800 nm.

O comprimento de onda utilizado para a AOD foi de 500 nm, pois as informações
poderão ser correlacionadas com outros instrumentos de medidas como o LIDAR de
despolarização ao melhorar a razão Lidar de aerossóis, já em funcionamento na UFRN.
A faixa de comprimento de onda foi de 500-800 nm.

3.5.Análise da classificação da massa de ar

Ao se estudar aerossóis é necessário estudar as massas de ar, mais precisamente,


as retrotrajetórias realizadas por elas, pois existe uma relação entre a massa de ar e o
aerossol já que são elas que os transportam. Portanto, a procedência dessas massas se
relaciona com as medidas fotométricas realizadas a cada dia.
O modelo escolhido para calcular as retrotrajetórias foi o HYSPLIT (Toledano,
2005) desenvolvido pelo NOAA. Segundo Toledano (2005), “trata-se de um modelo do
tipo lagrangiano, cujos dados de entrada são mapas de análises meteorológicas, e
descrevem o movimento de uma parcela de ar dentro da atmosfera e a saída do modelo é
um conjunto de pontos (1 por hora) que permite reconstruir a posição da partícula em
latitude, longitude e altura”.
Alguns dados requisitados à realização das retrotrajetórias foram: o modelo
vertical de velocidade também conhecido como tridimensional, pois é mais preciso que
os demais (isobárico e isentrópico); a hora 20 UTC, que representa o final do dia em
Natal; o tempo total de retorno em horas escolhido foi de 120 horas o que corresponde a
5 dias, tempo escolhido por ser o tempo médio do erro, considerado de aproximadamente
20% diário por trajetória e é o suficiente para conhecer a procedência das massas de ar
(Toledano, 2005). Além desses dados, as alturas utilizadas foram de 500, 1500 e 3000 m
para cobrir faixas médias de altura dentro da camada limite e onde teria a presença dos
aerossóis segundo a equipe Lidar da UFRN (Renata Santos, et. al, 2016). A resolução de
20

plotagem foi a máxima (120 dpi) e o fator zoom foi de 70 para uma melhor visualização
das trajetórias, além disso o banco de dados utilizado para gerar as retrotrajetórias foram
os dados meteorológicos de reanálise do GDAS disponibilizado para a modelagem de
retrotrajetórias pela ARL. Na Figura 10, estão exemplificadas as trajetórias modeladas
pelo HYSPLIT para o dia 11 de janeiro de 2016. É perceptível que as trajetórias de massas
de ar a 3000 metros e a 1500 metros vieram do oeste do continente Africano, enquanto a
trajetória a 500 metros veio do Oceano Atlântico.

Figura 10. Exemplo de retrotrajetória modelada pelo modelo HYSPLIT para o dia 11 de janeiro de 2016.

Com os resultados obtidos por meio do HYSPLIT, durante o período de dados


gerados pelo Cimel, foi possível fazer uma classificação das massas de ar que passam por
Natal. A classificação é baseada na porcentagem referente à frequência das
retrotrajetórias.
21

4. RESULTADOS

Em seguida, são apresentados os principais resultados deste estudo como tabelas


e gráficos estatísticos, permitindo uma melhor visualização e compreensão. Além disso,
é apresentada uma figura referente às retrotrajetórias do deslocamento das massas de ar
que possibilitou o entendimento de suas origens e mostrando o transporte dos aerossóis
durante o período de medições.

4.1.Estatística das propriedades ópticas dos aerossóis no período observado

As estatísticas realizadas foram baseadas nos dias de medições conforme a Tabela


2 que mostra a identificação do fotômetro solar, o nível de processamento dos dados e a
quantidade de dias medidos pelo aparelho. Já a Tabela 3 quantifica os dias descartados e
os dias utilizados para a estatística do trabalho. E as médias mensais dos parâmetros com
seus respectivos desvios padrões assim como a quantidade de dias utilizados por mês são
visualizados na Tabela 4.

Nº de dias Nível da base


Fotômetro Período de medições
medidos de dados
#420 29/ Jan/ 2016 a 05/ Jul/ 2016 66 1.5

Tabela 2. Período de operação do fotômetro solar Cimel cujo número de identificação é 420, em Natal
pertencente às redes RIMA e AERONET.

Total de Nº de dias Dias Dias


dias medidos descartados utilizados
213 66 8 58

Tabela 3. Dias de medição utilizados no estudo.

Dias com Média Desvio Desvio


Mês Média α
medições AOD Padrão AOD Padrão α
Janeiro 2 0,075 0,004 0,083 0,102
Fevereiro 18 0,199 0,093 0,310 0,190
Março 10 0,121 0,047 0,047 0,181
Maio 16 0,078 0,020 0,058 0,116
Junho 9 0,072 0,013 0,142 0,129
Julho 3 0,111 0,013 0,012 0,070
Período 58 0,112 0,074 0,140 0,203

Tabela 4. Estatística para AOD (500 nm) e coeficiente de α (500-870 nm).


22

4.2.Histogramas e gráfico de dispersão para as propriedades ópticas dos


aerossóis

Os histogramas de frequência (Figura 11 e Figura 12) e o gráfico de dispersão


(Figura 13) foram elaborados para facilitar a classificação e caracterização dos parâmetros
AOD e α, mostrando a maior densidade de pontos nas regiões dos histogramas e do
gráfico de dispersão.

Figura 11. Histograma de frequência para AOD (500 nm), Natal (RN).

Figura 12. Histograma de frequência para o coeficiente de Ångström (500-870 nm), Natal (RN).
23

Figura 13. Gráfico de dispersão de AOD (500 nm) e o α na faixa de comprimento de onda 500 a 870 nm.

4.3.Frequências das massas de ar

As massas de ar modeladas pelo programa HYSPLIT possibilitam a confirmação


da classificação dos aerossóis com a origem das massas. A Figura 14 apresenta uma
frequência das retrotrajetórias em três diferentes alturas (500 m, 1500 m e 3000 m),
melhorando a visualização das origens delas desde janeiro a julho de 2016.

Figura 14. Frequência das retrotrajetórias nas respectivas alturas A (500 m), B (1500 m) e C (3000 m),
incluindo os 58 dias de observações do fotômetro solar (Cimel) de janeira a julho de 2016.
24

5. DISCUSSÃO

5.1.Aerossóis

Conforme a Tabela 2, o período de medições do fotômetro #420 foi de 29 de


janeiro de 2016 a 05 de julho de 2016, porém, apenas para 31% dos dias foi possível obter
dados, totalizando 66 dias com medições. O Cimel apresentou problemas com as baterias
externas, sendo necessária trocá-las com frequência. A presença de muitas nuvens baixas
(característica da região) do tipo cumulus e fracto-cumulus durante o dia conforme estudo
de Motta, 2004, e o período chuvoso de abril a julho também interferiram nas medições.
Dos 31%, dos dias com dados, foram descartados 12% de dias medidos já que os mesmos
apresentaram apenas uma única medição o que não é suficiente para uma análise
estatística do período, como mostrado na Tabela 3. Na Tabela 4, os maiores desvios
padrão de AOD (500 nm) ocorreram no mês de fevereiro e março e os menores ocorreram
em janeiro, junho e julho, provavelmente, por serem os meses com menos dias medidos.
Nessa tabela também são apresentados desvios padrão e as médias do coeficiente de
Ångström (500-870 nm) com maior variação para os meses de fevereiro e março, do
mesmo modo, os menores desvios também foram registrados para janeiro e julho.
Ainda na Tabela 4, a média de AOD no período de medições foi de 0,112,
indicando aerossóis marítimos tropical e marítimo limpo, pois estão abaixo de 0,1
segundo a classificação de D’Almeida, 1991, e com desvio padrão de 0,074,
representando uma variação de 66% da média. Já o coeficiente teve uma média de 0,140
cujos valores esperados são menores que 1 para zonas costeiras segundo Toledano (2007).
O desvio padrão foi de 0,203, correspondendo a 145% da média, ou seja, houve uma
grande variabilidade deste parâmetro. Possivelmente, esta grande variabilidade pode estar
associada à presença de nuvens e, conforme Toledano (2007), um valor absoluto de AOD
baixo aumenta o erro do coeficiente de Ångström. Não foram obtidos dados para o mês
de abril de 2016, pois a bateria interna apresentou problemas o que impossibilitou a
observação dos dados.
O histograma de frequência para AOD da Figura 10 mostra que a maioria dos
valores obtidos são menores que 0,15, com 50% dos valores entre 0,05 e 0,1 e 21% entre
0,1 e 0,15, reforçando uma espessura óptica de aerossol característica de aerossóis
marítimos entre tropical e limpo cujo AOD é menor que 0,12 (Toledano, 2005). É
importante destacar que 7% das ocorrências de AOD estão entre 0,25 e 0,3, podendo estar
associadas a aerossóis desérticos, conforme Tabela 1, mas que não foram definidas pela
dispersão de AOD versus α.
No histograma de frequência para α, há 19% dos valores negativos,
provavelmente devido a dias nublados (Toledano, 2007). A maior ocorrência do
coeficiente está abaixo de 0,4 e dentre esta faixa de frequência, mais de 27% dos valores
são menores que 0,1 (característica de aerossóis marítimos limpos e marítimos tropicais).
25

No gráfico de dispersão da AOD versus o coeficiente de Ångström (Figura 13),


são apresentados 62% dos aerossóis como sendo aerossóis marítimos cuja classificação
inclui os aerossóis do tipo marítimo limpo, marítimo tropical e uma pequena quantidade
de marítimo contaminado. A junção desses tipos foi realizada desta forma para que se
pudesse ter uma maior clareza na classificação. Houve ainda 19% de aerossóis que não
se enquadraram na classificação proposta por este trabalho segundo o modelo de
D’Almeida (1991). A Figura 12 permite uma melhor visualização da classificação geral
(Marítimo, Negativo e Sem Classificação), pois as regiões onde se encontra cada tipo de
aerossol é indicada com uma cor diferente.

5.2.Proveniência das Massas de Ar

Na altura de 500 metros (Figura 13, quadro A) há uma presença significativa de


massas de ar provindas do Sudeste, sendo representadas por 93% das ocorrências. Porém,
em maiores alturas, a frequência diminui chegando a 28% a 3000 metros (Figura 13,
quadro C). Já as massas de ar vindas do Leste se comportam de maneira contrária às
anteriores, saindo de 4% a 500 m de altura e chegando a 35% a 3000 m de altura,
ocorrendo também um aumento na frequência de massas de ar vindas do Nordeste com o
aumento da altura. Porém, os dias com massas de ar vindas próximas do Continente
Africano não coincidem com o transporte de aerossol para a América do Sul.
Não foram registradas retrotrajetórias a 500 e 1500 metros de altura (Figura 13,
quadro B) vindas do Norte. Para o Sul e Sudoeste houve baixas frequências de massas de
ar provindas dessas direções (de 0,5% a 6%, respectivamente).
26

6. CONCLUSÃO

Mesmo com 31% dos dias com medições, foi possível fazer uma caracterização e
classificação dos aerossóis na coluna atmosférica da cidade de Natal, RN, sendo este o
primeiro estudo utilizando um fotômetro solar Cimel como instrumento de obtenção de
dados para a cidade. Os histogramas de frequência já indicavam características para
aerossóis do tipo marítimo que foram confirmadas pelo gráfico de dispersão AOD versus
α. Com isso foi possível verificar que na cidade de Natal, com uma presença significativa
no período de 29 de janeiro a 5 de julho de 2016, os aerossóis foram do tipo marítimo.
Não foi possível confirmar a presença de aerossóis do tipo desértico no mesmo período
quando analisado o gráfico de dispersão de AOD versus α da metodologia usada.
A origem desses aerossóis marítimos é confirmada pela frequência de
retrotrajetórias modeladas pelo modelo HYSPLIT que comprovam a vinda das massas de
ar do Oceano Atlântico cuja maior ocorrência é do Sudeste, provavelmente, devido aos
ventos alísios de Sudeste.
São necessários mais estudos com períodos de tempo de medição maiores para
uma possível classificação e caracterização dos aerossóis ditos como sem classificação.
Adicionalmente, os valores negativos eram esperados já que Natal possui uma influência
muito forte do oceano, possibilitando ruídos devido à nebulosidade. Além disso, o
número de medições deve ser maior para que aumente a precisão dos resultados e possa
se desenvolver mais estudos posteriores.
Contudo, este trabalho servirá de base para uma futura climatologia de aerossóis
na coluna atmosférica da Cidade de Natal, RN, porque foi mostrada uma metodologia
muito efetiva de classificação de aerossóis em função de AOD e α, e foram deixadas as
bases para a continuação deste trabalho. A demais, os resultados deste estudo e os
trabalhos posteriores derivados desta metodologia serão fundamentais para uma
comparação com os resultados de classificação dos aerossóis obtidos com o sistema Lidar
DUSTER do IPEN-UFRN que começou a produzir dados no mesmo período.
27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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