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Texto Begadam Meleah PDF
Texto Begadam Meleah PDF
(Centro de uma grande metrópole. Sons urbanos fundem-se aos persistentes sons
de um violino friccionado em alguma esquina próxima. Dentre edifícios e
construções, que colocam em contraste diferentes épocas, reside Begadam Meleah,
uma pessoa de cinquenta e cinco anos, alguém talvez homem, talvez mulher ou
simplesmente pessoa, que mora apenas com seu cachorro em uma antiga e
minúscula casa, de aparência nostálgica, espremida arrogantemente por dois
prédios de arquitetura austera. Ao início do dia, sentada em frente a uma antiga
penteadeira, que não tem mais o espelho inteiro, apenas pequenos cacos pelos
quais é possível ver-se perfeitamente, faz os últimos retoques em sua arrumação. É
uma pessoa vaidosa, com um orgulho especial de tudo que tem e tudo que é. Sua
vida é um conjunto de paradoxos e ironias, algo que se reflete em seu
comportamento e percepção. Por vezes, em seus momentos de solidão, perde-se no
tempo, como se mesclasse as horas e os dias, as descobertas e aos
esquecimentos. Não se trata de nenhum tipo de loucura ou delírio, ao contrário, sua
lucidez e precisão regem cada segundo de seu dia, sempre planejado
meticulosamente. Como se esse planejamento fosse um amuleto que a protegesse
da persistência do tempo em levá-la por caminhos que não deseja).
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observando tudo minuciosamente. As lojas, as praças, as casas... A casa. Aquela
casa na qual morei por anos, desde a infância, até...
BEGADAM: (Em transição para um passado distante) Nós não corremos como
linces, não enxergamos como gaviões, não farejamos como lobos, ou somos fortes
como ursos. (Posiciona-se atrás da cadeira, observa e a toca, como se estivesse
construindo uma antiga imagem. Repousa uma de suas mãos no encosto, com se
fosse uma barra de Ballet). Cada ser tem seus meios de relacionar-se com o mundo.
E cada um movimenta a sua história de maneira diferente, um corte numa árvore,
uns piercings, a água quente: a cicatriz e o receio de fazer chá. As horas de espera,
o colchão ruim, a elegância: a coluna torta e impaciência. O sol, as preocupações:
as rugas e a escolha por lugares amenos. A televisão, o computador, a luz piscando
da sala de aula: a visão ruim. O tempo de almoço, a ansiedade, o mau humor, a
paixão: a gastrite e o gosto por sopas de inverno. Moda-rebeldia, tênis velho: pé
sem apoio, que sobe pelo joelho, coxas, quadril, coluna, crânio, dentes... Controle
remoto: flacidez. Flacidez: olhar para a barriga: coluna torta: visão ruim: pé sem
controle, cicatriz no apoio do joelho, flacidez. Flacidez apoio, sem pé ruim, cicatriz da
visão torta, coluna e um olhar remoto.
(pausa de quem retoma o fôlego. O violino ao longe se torna mais presente, sua
melodia tem uma marcação seca. Begadam inicia uma série de exercícios e
transporta-se para um instante de sua infância, sem perder sua aridez de adulta).
BEGADAM: (Movimentos de barra de ballet) Não. Eu não quero dançar festa junina,
não quero. Eu não sei. Eu não gosto, não consigo decorar aquelas coisas todas e
não quero ninguém olhando pra mim. Não, não acho legal. Não, também não acho
bonito. (indignada) E eu não posso me pintar diferente! Eu não quero fazer um
monte de bolinha na cara, não é festa da catapora. (fazendo manha) Ahnn... Eu não
quero dançar de mão dada com aquele... Não sou só eu que não vou dançar, não.
Mas eu não vou ficar em casa não, não é? Não, não... Não é pra ver os outros
dançarem, não. Não, eu não vou sozinha, vou com a Talita Izilda. Não insiste. Não
tem outra coisa pra fazer. Não tem ninguém que vai fazer outra coisa. Não vou
chegar e dizer: Não vou dançar, vou fazer outra coisa. Não vão gostar. Não, não me
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disseram nada, porque eu não perguntei. Não é assim. Você sabe que não. Eu não
quero saber. Também não. Porque não. (inicia um movimento que passa a repeti-lo
exatamente da mesma maneira) Não dá. Não deixam, não pode, não tem, não é,
não fica, não, não vai, não preciso, não leva, não, não ganho, não achou, não pede,
não, não senti, não bebe, não corro, não, não dói, não pinta! Não grito, não, não
chamei, não toquei, não ouviu, (fica imóvel, paralisada em uma de suas “poses de
Ballet”) não, não, não, não, não, não... (a música do violino dá continuidade de um
eco ao “não”, repetindo a nota como um disco riscado. Até que tudo fique em
silêncio, anima-se subitamente) Você não quer ir com a gente, não? (como quem
repete uma resposta) Não? (decepcionada) Ah..., não. (Pequena, quase sumindo)
Se eu entendo? Sim.
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como seria se não pudéssemos ter o conhecido bem próximo? Os rótulos bem
definidos, para assim podermos mostrar a nossa superioridade plenamente
entediada pela falta do novo. Esternos côncavos e suas seguranças, não têm mais a
capacidade de ter prazer (define num eco robótico de si mesma, aos poucos
perdendo a força) prazer: substantivo masculino, alegria; jovialidade; delícia;
satisfação; divertimento. Estamos ocupados demais em acreditar que já vimos de
tudo nesta vida. Vimos? Vimos o quê? A cadeira? O sapato? A luz? Viram-me?
Hein? Hoje eu vou mudar o mundo!!! (entra em êxtase heroico desta grande
mudança, aumentam os sons do violino, discursa de maneira inflada) Vivemos num
clima contrário à razão, ao bom senso. O tempo não se move de maneira constante,
mas em velocidades muito diferentes. (continua em seu delírio, modifica o espaço:
da gaveta de sua penteadeira retira roupas e acessórios, espalha-os. As roupas
tomam forma de grupos de pessoas).
(Em sua transposição à idade adulta, caminha rapidamente. Retira uma das gavetas
da penteadeira que toma a figura de uma mala, com zíper, e guarda seus pertences.
Refaz seus caminhos do momento em que saiu de casa, por curvilíneos, árduos, um
fato lhe traz uma grande serenidade, encontra um pequeno cãozinho, um filhote,
quase um recém-nascido, cuida dele, como se pudesse colocar a si mesmo à sua
frente e oferecer cuidados e aconchego, este cão cresce, a segue por todos os
lugares. Sempre que se sente mal, em cada queda, ela o acalenta e se apazigua.
Subitamente ouve-se um estampido, que lhe chama a atenção, quando ela retoma a
atenção ao cão ele não está mais ao seu lado e ela localiza-se no vazio.).
BEGADAM: (em transição para o início da idade adulta, a primeira atitude) O ano
realmente inicia, quando os panetones começam a vencer nos supermercados.
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(Aos poucos e começa a pendurar suas roupas na estrutura do espelho da
penteadeira, como uma “arara” de colocar roupas).
BEGADAM: Quis tanto cantar, usei flores negras com quatro tortas quando quis
falar dos horrores de nossa história, mas mantive sempre a minha nobre postura de
não falar nunca de mim. Talvez um dia eu seja uma figura exótica e exuberante, tão
deteriorada que não conseguiu envelhecer. Hoje vi pombos, muitos. Vi uma pomba
totalmente branca. (caçoando do símbolo) A paz! Um rato transmissor de doenças,
varrida sem cabeça pela enxurrada para os cantos. Depois de tanto tempo, a gente
já deve estar como elas, contaminada por doenças...Varrida para os cantos pelas
chuvas, chuvas de ar condicionado dos escritórios do centro da cidade. Carregada
sem cabeça pela enxurrada de imperativos publicitários: (como quem provoca uma
reação violenta, num sarcasmo tragicômico) COMA! VISTA! SINTA-SE BEM! ABRA
E EXPONHA JÁ! LIGUE! VEJA! CORRA! VENHA CORRENDO! (seriamente) Lassie!
(contendo-se, pausada e energicamente) Volte para casa!
BEGADAM: (Decididamente pronta para a partida) A minha partida precisa ser única
e definitiva. Nesta plataforma, apoio meus pés, meu diafragma soluça com medo do
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vão dos trilhos (começa a brincar infantilmente com as palavras), medo vão, avon-ta-
de trilha. (centrando-se) Estou de partida, é urgente e emergencial a minha atitude.
Gritei demais, a frequência do meu grito não movimenta matéria mais densa que
tímpanos. Os edifícios continuam, as cadeiras, os papéis. Logo o trem chega (dá um
passo à frente de olhos fechados, passo que parece flutuar em um espaço próprio
de tempo e dimensão, inicia uma movimentação muitíssimo lenta acompanhando o
sentido dos trilhos, como estes fossem confortáveis nuvens. Posiciona-se
lateralmente a penteadeira com roupas penduradas, estas passam a simbolizar os
demais passageiros do trem em que ela embarca).
(Está tensa, sente um arrepio) Não é fácil estar sozinha... (longa pausa,
acompanhada do lamento de um uivo canino) É preciso trabalho voraz para isso, há
sempre alguém por perto querendo ocupar este espaço.
BEGADAM: (Imita vozes de pessoas que encontrou) “Você tem horas?”. “Você pode
me emprestar sua caneta?”. (voz de criancinha) “Oi, como é que você chama?”
(farta, articula seu nome “Begadam Meleah”).
BEGADAM: Essas pessoas tão positivas, com seus sorrisos de elástico! Quanto
mais negativas nós estamos, mais as atraímos. Maldita lei da física.
(novamente o uivo canino, isso a faz olhar pela janela e sentir-se muito longe dali)
BEGADAM: Queria estar num trem que passasse por túneis, queria sentir a noite
por alguns segundos.
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(imagina a noite, a luz baixa, sente-se reconfortada por alguns instantes, porém
começa imaginar o momento em que o trem atravessará o túnel, movimenta-se
tentando adiar a saída, procura manter a serenidade).
BEGADAM: Sei que fora deste túnel há verdadeiros berros visuais, cores que me
assustam. Aqui sinto o ar mais gelado que nunca, não tenho um espelho, mas neste
exato momento tenho a certeza que meus olhos estão vermelhíssimos, com um tom
ímpar de vermelho, o tom do meu sangue, o meu vermelho perfeito. O contorno das
coisas e a distância emocional lembram-me o contraste seco de um filme digital.
(aspira avidamente o ar) Sinto agora no sereno o cheiro de um homem que não vejo
há muitos anos, um homem que me fazia chorar muito, não de dor, nem de
contentamento, quando eu percebia o seu toque se aproximando, meu corpo em
ebulição derramava, quente e tranquilo. Durante a noite não consigo deixar de sentir
o perfume dele e quando escorre o líquido pelo meu rosto, eu o bebo, assim que
passa pela minha garganta, vou seguindo a gotícula misturada à saliva dentro de
mim. Neste instante mesmo, o ar está tomado pelo tal perfume, do tal homem e
minhas narinas, que também eliminam líquidos, acompanham meus poros,
acompanham minha boca, que a esta altura está pronta para degustar a carne
odorífera, e acompanham o lago da origem da existência.
BEGADAM: Eu não quero afago, colo, ou qualquer frase bonita. Eu preciso de uma
carícia aguda, feito um fio de punhal, que me delata, tornando-se escarlate em meu
contorno.
(A saída abrupta do túnel reverbera em seu corpo, num retorno violento da luz com
toda intensidade dos elementos sensoriais que imaginou: sons, cores, odores...).
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BEGADAM: A luz do dia me irrita, as torres de energia que acompanham o trajeto
dos trilhos deixam-me estrábica, vejo containeres que se tornaram “lares”. Um
poodle abandonado revira o lixo, por ironia, sem o turismo pelo “banho e tosa”, a Fifi,
com seu pêlo grudado em gomos, torna-se o cão mais monstruoso das ruas.
(consigo mesma) Cão, cachorro, cachorro... (novamente para o público) Mais
pombos contaminados, um outdoor em frente a um escritório: “Sem ginástica, sem
sofrimento, escolha o seu corpo ideal e pague no caixa em dinheiro, cheque ou
cartão”. Isso tudo me cansa os olhos, a luz amarela das lanchonetes me deixa
suada, cheiro mal, me cansa olhar, me cansa ver.
(Há uma intensidade muito grande no desejo de não compartilhar mais de tudo isso,
que a corrói interiormente. A indesejada luz aumenta cada vez mais e mais, em
limites insuportáveis. Begadam sente sua retina perfurada pelo que vê e sente.
Expurgando seu corpo de tudo isso, expulsa elementos de sua vida, arrancando-os
de si).
O amor, o amor desafia a luta da gente! O meu cachorro... Onde ficou? Onde está
meu cachorro? Ele é bem alimentado, escovado, dorme numa bela casinha com seu
cobertor, sai comigo quase todos os dias, até carinho eu lhe dou. Não sei porque
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este bicho tinha quer ficar por aí, não sei porque não me seguiu como sempre. Será
que eu preciso deixa o bicho sempre na coleira? Será que eu tenho que enforcá-lo
com a guia para que ele saiba o que ele tem que fazer? Será que ele tem que ficar
sem ar para me seguir?! Agora eu é que tenho que ficar seguindo os passos de um
cachorro. Coisa mais humilhante! Mais ridícula! Logo eu é que vou estar à
disposição em um canil, um homil e alguns cães vão passar todos os dias para me
ver pelo vidro. (revoltando-se) Que vida! (analisando o que disse) Vida, não é esta
palavra, mas eu estou usando-a porque não consigo acho outra melhor. Um estado
de incessante atividade funcional. Um ciclo contínuo que parece não terminar, um
rodamoinho, ciclone, como um biscoito. Aí então: “Ah!”, a interrupção feito um raio
abrupto. O biscoito? Um biscoito interrompido...Um biscoito interrompido pela
mordida de Deus. Chega, não é nada disso, não é a fuga. Não vou a lugar algum.
(Tira matematicamente: seus sapatos e seu vestido vermelho, fica apenas com uma
combinação cor da pele. Cantando como as velhas cantoras de tango)
El pueblo llámame
Gritan por mí
Respondo: Déjame sola, ya desistí de tí!
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(Este é um momento de morte e um segundo nascimento de Begadam. As roupas e
sapatos que tirou formaram um corpo ao chão, ela é “parida” deste corpo com todas
as dificuldades e dores que um ser tem ao nascer. Ela busca equilíbrio, cada vez
que desequilibra, porém, não é desagradável, é uma descoberta. Resolve repousar
por algum tempo sobre o “corpo que a pariu”. Aos poucos seu interior deixa de
conectar-se com o exterior, experimenta falar, reconhecendo o seu sistema de fala,
se expressa com neutralidade emocional).
Alguém quer me ver? Quer? Eu estou aqui. Podem me observar. Olhe. Não é
prazeroso observar uma pessoa? Eu Begadam Meleah, assim, como... quem
contempla um peixe num aquário, isento de qualquer envolvimento, juro que não
olho nos olhos de ninguém. Vejam: O comportamento de um ser orgânico original,
espécie humana, sem truques ou efeitos especiais.
Ainda estou confusa, não sei se estou nascendo ou morrendo, a ordem dos
acontecimentos é tão incompreensível e sem noção de ordem é impossível distinguir
os dois eventos. (equilibra-se) Apesar das contradições, sou uma otimista, assim,
assumirei esta dor que sinto em meus ossos como consequência de um nascimento.
(deita-se sobre o “corpo parturiente”, numa felicidade que lembra uma sutilíssima
embriaguez) Sem nenhuma catástrofe natural, sem fome, sem doença, não há
motivos para alguém que acabou de nascer ter pressa, posso deixar sobras de
tempo para futilidades, outras reservas para a preguiça inesperada, outras para
pensar, remoer, pensar novamente e esquecer, para deixar para depois. (fica parada
por um longo tempo, no mesmo estado expressivo) A minha euforia é tamanha,
tenho vontade de dançar de tanto gozo de viver nesta felicidade plena.
(Inicia-se uma música alegre, ela levanta-se, com um olhar vazio, durante toda a
melodia, imóvel, porém esta é a sua dança. Ouve-se vozes de vizinhos que a
xingam e pedem para parar a música, barulho de cães, objetos caindo e outros sons
de caos urbano, em sua mente ouve um homem dizer: “Eu queria é que um carro
desses passasse por cima da minha cabeça, porque eu não aguento mais esta
fome.”, termina a música juntamente com este som)
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contentamento, sentir a energia extasiante brotando do umbigo, lagarteando pelo
corpo todo até chegar à nuca e respingando por todo lado, depois sentir toda esta
exaust... Que mundo tranquilo, harmonioso. Que felicidade, não é?
(ÓDIO)
BEGADAM: O que digo não me atemoriza. Tenho medo da frase que não consegui
completar. Preciso voltar. Onde está o diabo do cachorro? Preciso dele, preciso de
ao menos um amigo e fiel. Eu nem sei se o passado realmente passou, ou se sua
cauda ainda atravessa a porta como os vestidos de noiva. Deixo de ser vítima para
passar a ser delatora. Nem massa nem mártir. Eu quero olhar no espelho com a
intensidade de Alice, levar também meu faro a absorver ares novos e novos mais
antigos do que eu. Neste melodrama, neste pacote de plágios acidentais que é a
minha vida, tenho sempre melodias acompanhando-me, poderia gravar uma trilha
com todas elas, a melodia do acordar, tomar banho, comer, mas ainda não as
conheço muito bem. Esta será a gravação da faixa do meu mais novo trabalho,
gravações inéditas e flashbacks consagrados.
BEGADAM: Estou aqui nesta rua, já percorri tantos lugares. Meu cachorro... (refaz o
caminho, está novamente no instante em que busca seu cachorro). Seu faro
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percorreu as esquinas, casas, espaços públicos, outras pessoas até, mas não o
encontro. Lugares que há tanto tempo eu não olhava, quero dizer, via, mas não
percebia. Cheguei a descobrir um campo de futebol, perguntei se era novo, disseram
que era sim, tinha só uns dois anos. Passo aqui todos os dias, até meu cachorro.
Deve ter marcado território na trave. Meu cachorro, como eu pude esquecer algo
que pula em cima de mim, que me faz correr quando não quero, que faz barulho,
algo que me irrita tanto, algo vivo?! Eu preciso do meu cachorro, preciso da vida
pulguenta e mal-cheirosa daquele bicho em minha casa. Pensando assim, reúno
todas as minhas forças para encontrar o meu cachorro e... desistir da busca.
(Faz toda a imagem inicial, recoloca seu vestido, reposiciona os móveis e adereços
nos lugares. Compondo-se com as roupas e adereços do início. Balbucia durante
certo tempo uma pequena canção, um “lá lá lá” sem muita definição)
(À penumbra, Begadam levanta-se retoma totalmente seu cotidiano, a luz cai aos
poucos movimentos metafóricos e abstratos simbolizam tarefas cotidianas,
acompanhados por sons de mesma intenção, incidental e discretamente ouve-se um
latido. Completa-se o blackout).
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Fim
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