Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Paulo III
(1468-1549)
1534-1549 Concílio de Trento (1545 a 1563)
Pio V
Inácio de (1504-
Loyola: 1572)
1566-1572
1491-1556
Novas mudanças...
• Com o fim da burguesia, ao termo da Guerra 1914-19, as
grandes Igrejas tomaram nova consciência eclesial.
• As Igrejas ortodoxas, após um período escolástico,
voltaram intensamente à eclesialogia patrística;
• A partir das contribuições de Karl Barth a teologia
evangélica renovou-se profundamente;
• Do lado católico vários nomes deram efetiva contribuição
para a renovação da Igreja e de sua presença missionária
no mundo: Romano Guardini, Hugo e Karl Rahner, Hans Urs
von Balthazar, Chenu, De Lubac, Danielou, Congar, Avery
Dulles...
• O acento à Igreja qual Corpo Místico de Cristo ecoou bem
nas encíclicas Mystici Corporis (1943) e Mediator Dei
(1947) de Pio XII. Enfim recebeu acolhida aprofundada e
atualizada na Lumen Gentium.
Sacramento
de Cristo
Introdução
O Concílio Vaticano II, afirma que «a Igreja, em
Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o
instrumento da íntima união com Deus e da
unidade de todo o gênero humano» (LG 1).
Reconhecendo a importância de aprofundar a sua
própria identidade, a Igreja retorna às bases ou
fundamentos da compreensão do que ela seria
exatamente, partindo de uma visão fundamentada
sobre a Sagrada Escritura e Padres da Igreja.
Apreciemos o tema:
1. O que é Sacramento?;
2. A Igreja enquanto Sacramento de Cristo;
3. A sacramentalidade da Igreja em seu Ser,
em seu Agir, mediante a Palavra e pelos
Sacramentos.
1. O que é ‘Sacramento’
• Antes de explicar como a Igreja é um sacramento e o que isso
significa, é importante saber de onde a palavra “sacramento”
vem e o que significa. A palavra grega mysterion foi traduzida
para o latim usando duas palavras diferentes: mysterium e
sacramentum. Logo depois, o segundo termo assumiu o
significado de um sinal visível da realidade escondida da
salvação, que foi indicada pelo termo mysterion.
• “A palavra latina sacramentum como uma descrição do
acontecimento salvífico que se realiza no povo de Deus
também tinha uma longa história antes que ela adquiriu seu
significado presente no Concílio de Trento. A palavra … está
conectada com sacrare ou consecrare, e o termo significa
uma remoção legalmente válida e permanente de uma
pessoa ou coisa da esfera da lei humana à da lei divina”
(Michael Schmaus, “Kirche als Sakramente”, Katholische
Dogmatik).
• O primeiro Padre da Igreja a dar ao termo latino
sacramentum um conteúdo e significado cristão foi
Tertuliano, já que o uso em latim clássico tinha o
significado de “juramento”. Foi ele quem usou o termo
com dois significados distintos, sendo um deles a noção
de um juramento e outro o entendimento de
sacramentum como “mistério”.
• A compreensão do sacramento sofreu um
desenvolvimento significativo, aproximadamente 200
anos depois, com Santo Agostinho. “Para Agostinho,
sacramento é um sinal sagrado, mas ele diferencia
entre o sinal e o conteúdo (res) do sinal. No que diz
respeito aos sinais o mais importante a considerar não
é o que eles são, mas o que eles significam. Porém,
para que um sinal possa comunicar algo diferente de
seu próprio ser, ele deve ter alguma semelhança com
aquilo ao que se refere” (Schmaus, “Kirche...”).
• Como Tertuliano e outros Pais da Igreja primitiva
entenderam, sacramentum refere-se, sobretudo, ao
plano divino da salvação em sua realização histórica, e
se este for o caso, então o sinal sagrado do qual Santo
Agostinho fala é sinal da realidade escondida da
salvação, percebida e presente em um sacramento.
• É precisamente através de sinais que a pessoa humana
é capaz de alcançar o conhecimento do divino, da
realidade do mistério, já que é incapaz de fazê-lo de
forma direta, sem o auxílio de algo visível ou sensível.
• Considerando estas explicações de “sacramento’, a
Igreja começou a entender o próprio Cristo como
um sacramentum, efetivamente o sacramento de Deus.
• Santo Agostinho explica que “o mistério (ou sacramento) de Deus
não é outro senão Cristo” (G. Phillips, A Igreja e seu mistério no
Vat. II). Henri de Lubac diz que aquilo que é sacramental “não é
um entremeio, mas sim um mediador; não é algo que isola uma
parte da outra, mas que quer ligar os dois termos. Não coloca uma
distância entre eles; pelo contrário, os une ao fazer presente o que
ele evoca” (Henri de Lubac, “La splendeur de l’Église”, Méditation
sur l'Église).
• Neste sentido nós podemos entender Cristo como o verdadeiro
sacramento de Deus, porque é unicamente através de Cristo que
somos capazes de entrar em uma plena comunhão e relação com
Deus. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ao assumir a
carne humana e tornar-se homem, torna-se a ponte entre o
homem e Deus, algo que é apresentado de maneira clara no
Evangelho de São João: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).
• Ele é o sinal visível da realidade invisível da salvação e que foi
entendido sob o termo sacramentum na teologia latina, como
também o próprio instrumento de salvação, a porta através da
qual nós entramos em vistas a obter a salvação.
2. A Igreja Sacramento de Cristo
• Da mesma maneira que Cristo é o sacramento de Deus, entende-
se que a Igreja é, verdadeiramente, um sacramento, pois é nela e
através dela que Cristo está presente no mundo, sendo, portanto,
a única forma pela qual um homem pode entrar na plenitude da
união com Cristo e conhecer a Deus. Para tornar mais claro, De
Lubac diz que “ninguém… atingirá um conhecimento do Pai, que
vá dispensá-lo, desse ponto em diante, de passar por aquele que
vai, sempre e por todos, ser o Caminho e a Imagem do Deus
invisível. E o mesmo vale para a Igreja. Todo o seu fim é para nos
mostrar Cristo, levar-nos a ele, e transmitir a sua graça para nós…
ela existe somente para nos colocar em relação com ele” (De
Lubac, “La splendeur d l’Église”). Isso nos possibilita entender
melhor como a Igreja é sacramento.
• Por causa desse retorno para a compreensão original e mais ampla
de sacramentum, que está presente desde os primeiros séculos do
Cristianismo, o Concílio foi capaz de se referir à Igreja como um
sacramento em três ocasiões na Lumen Gentium (LG 1.9.48).
LG 1: “... E, porque a Igreja é em Cristo como que um
sacramento, isto é, sinal e instrumento, da união
íntima com Deus e da unidade de todo o gênero
humano, retomando o ensino dos Concílios anteriores,
propõe-se explicar com maior clareza aos fiéis e ao
mundo inteiro, a sua natureza e a sua missão
universal... ”.
LG 48: “... Quando foi levantado da terra,
LG 9: “... Deus Cristo atraiu a si todos os homens (cf. Jo
convocou a assembleia 12,32); ressuscitando de entre os mortos (cf.
dos que em Jesus Rm 6,9) enviou sobre os apóstolos o seu
veem, com fé, o autor Espírito vificador e, por meio dele,
da salvação e o constituiu o seu corpo, que é a Igreja, como
princípio da unidade e sacramento universal de salvação; sentado
da paz, e com eles à direita do Pai, atua continuamente no
constituiu a Igreja, a mundo para conduzir os homens à Igreja e,
fim de que ela seja, por ela, os unir mais estreitamente a si, e
para todos e cada um, para, alimentando-os com o próprio corpo e
o sacramento visível sangue, os tornar participantes de sua vida
desta unidade gloriosa ...”.
salvadora...”.
• O número 9 da Constituição diz que: “Aos que se
voltam com fé para Cristo, autor de salvação e princípio
de unidade e de paz, Deus chamou-os e constituiu-os
em Igreja, a fim de que ela seja para todos e cada um
sacramento visível desta unidade salutar” (LG 9). Esta
compreensão da Igreja como o ‘sacramento visível
desta unidade salutar’ que LG 9 menciona, vem de uma
citação direta do São Cipriano de Cartago, que no
século III foi outro Padre da Igreja que falava
frequentemente da Igreja como um sacramento. Em
sua carta 64, ele diz claramente que “a Igreja é o
inquebrável sacramento da unidade” [sacramentum
unitatis] (São Cipriano). É também através desta
compreensão da Igreja como sacramentum unitatis que
o Concílio Vaticano II, na LG 1, diz que a Igreja é, de
fato, um sinal e instrumento, o sacramento da unidade
entre Deus e o homem. Por isso a unidade entre todos
os homens é o principal fim da Igreja.
• Uma das preocupações que o Concílio Vaticano II teve ao definir a
Igreja como sacramento foi a possibilidade de gerar confusão
entre a Igreja como sacramento e os sete sacramentos da Igreja.
Seria incorreto pensar que de alguma maneira o Concílio teria
criado um oitavo sacramento, tornando-o equivalente aos sete
sacramentos instituídos por Cristo. A maneira correta de
compreender esta realidade é que os sete sacramentos tem sua
fundação e fonte na Igreja e, que sem a Igreja, estes sacramentos
não poderiam existir.
• Michael Schmaus afirma que a Igreja é a “fonte da qual emergem
os sete sacramentos particulares, de acordo com a vontade de
Jesus Cristo” (Schmaus, “Kirche als Sakrament”). Assim como os
sete sacramentos da Igreja foram instituídos por Cristo como
“sinais eficazes da graça…através da qual a vida divina é
dispensada a nós” (Cat.I.Cat 1131), a própria Igreja foi instituída
por Cristo para ser uma instituição humana e divina através da
qual todos os homens são salvos.
• Cristo instituiu os sete sacramentos e desejou que a Igreja fosse a
única distribuidora da graça destes sacramentos. Também é
importante compreender que a sacramentalidade da Igreja é
manifestada em e através da celebração dos sacramentos.
• Segundo Schmaus, “enquanto o mundo durar ela (a Igreja)
é a presença de Deus trabalhando poderosamente e
convidando a humanidade a dialogar com Ele, no interior
de uma sociedade que é estruturada de maneira
hierárquica. Isto expressa a característica básica da
sacramentalidade da Igreja: todos os eventos sacramentais
na Igreja são uma expressão e concretização desta
característica básica” (Schmaus, “Kirche...”).
• Entender a Igreja como sacramento é de importância
crucial para os católicos de hoje. Quando a visão da Igreja
como mera instituição humana, um grupo hierárquico de
pessoas, ou um corpo político é tão proeminente, a
compreensão desta realidade misteriosa, porém
verdadeira, passa a ser de suma importância. Através desta
compreensão aprofundada, podemos crescer na fé,
juntamente com um autêntico amor pela Igreja, algo
altamente necessário em nosso mundo cada vez mais
secularizado e de cultura cada vez mais anticatólica.
A Igreja sempre foi considerada sacramento de Cristo, porém,
o tempo e a prática foram deixando na sombra esta realidade
sacramental da Igreja enquanto “Corpo de Cristo”. O Concílio
Vaticano II veio despertar a atenção dos cristãos,
identificando a Igreja como sacramento, a partir do mistério
pascal de Cristo: “Do lado aberto de Cristo na cruz nasce o
admirável sacramento de toda a Igreja” (SC 5).