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Giovanni Novelli

3Araújo Macedo
e Galzuinda de
Ancestrais e Descendentes

Rainer Pfeiffer Novelli


2
Giovanni Novelli e Galzuinda de
Araújo Macedo

Ancestrais e Descendentes

Uma história familiar em três Países

Rainer Pfeiffer Novelli


2022
Reunião de alguns descendentes de Giovanni Novelli e Galzuinda de Araújo
Macedo realizada em 2003 em Monte Santo de Minas. Filhos, netos e
bisnetos de Gaspar Novelli, João Novelli e Antônio Novelli.

Impressum
© 2022 Rainer Pfeiffer Novelli.

Este livro é dedicado ao resgate e à preservação da história da familia Novelli de Calcinaia e da família Araújo
Macedo de Minas Gerais e São Paulo.
Ele não tem fins comerciais.

Contato:
Rainer Pfeiffer Novelli
Schwangauer Strasse 16, 87629 Füssen, Alemanha
Email: rainer.p.n@gmail.com

Pesquisa: Rainer Pfeiffer Novelli e Lukas Pfeiffer Novelli


Layout: Rainer Pfeiffer Novelli
Impressão: mybuchdruck.de

Imagem de capa: A Torre Fiorentina de Castelfranco di Sotto (século XIII) por volta de 1960.
Imagem na folha de rosto: Escudo da familia Novelli de Florença (1696 na igreja San Pietro a Sieve de
Scarperie e San Piero, FI), que equivale ao escudo dos Novelli de Castelfranco di Sotto.

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A meu pai Luiz Antônio Novelli
Giovanni Novelli e Galzuinda de Araújo Macedo
Ancestrais e Descendentes

Índice da segunda parte


(a primeira parte trata dos ancestrais de Giovanni Novelli)

Segunda Parte – A história da família Macedo


As origens em Bragança, Portugal..………………………………………………..……… 195
Os Macedo da Granja em São Salvador do Souto, Guimarães.…………………..………. 212
Os Abreus de Briteiros…………………………………………………………..………… 219
Os Macedo de Santo Tirso em Campo, Póvoa de Lanhoso.....……………………………. 228
Os Gomes de Santo Emilião………………………………………………………..……… 235
Os do Vale Peixoto de Gondomar………………………………………………..……… 249
Os Macedo em Coimbra…………………………………………………………..………. 264
João Rodrigues de Macedo e Ouro Preto...………………………………………..………. 274
Os Macedo em São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais…………………………..……… 300
Os ancestrais de Mariana Clara Rosa Joaquina de Abreu – Povolide e Coimbra..……….. 308
Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo…………………………………………..……… 318

Terceira Parte – A história da família Araújo


Os Araújos e suas origens em Póvoa de Lanhoso…………………………………………. 327
Os Lopes, Velosos, da Silva e Almeidas de Fontarcada e S. Martinho do Campo…………334
Botelhos, Rochas, Távoras & Co. – Cariocas de primeira hora….………………..……… 348
Ferreira Távora e Paes Chaves – Mineiros de primeira hora……….….…………..……… 364
Paulo José de Araújo………………………………………………………………..………368
Os ancestrais de Luiza Maria de S. Joaquim - Açores e Minas Gerais...…………..……… 383
Os ancestrais de Simão Alvares Pereira de Lordelo, Vila Real.…………………..…….…. 405

Quarta Parte – A história da família Araújo Macedo


Os Abreu Macedo em São Gonçalo do Sapucaí – 1820-1850.……………………………. 418
Os Araújo em São Gonçalo do Sapucaí – 1820-1850.…………………………………….. 429
Os Araújo Macedo no Estado de São Paulo – 1830-1880.…………………………….….. 436
Antônio Julio de Araújo Macedo e Maria José de Araújo…...……………………………. 446

Quinta Parte –– Pequenas biografias dos filhos de Giovanni e Galzuinda……..……. 457

Sexta Parte –– Árvores genealógicas dos descendentes de Giovanni e Galzuinda...…. 470

195
O castelo de Bragança da familia de Bragança na

Macedo - Origens cidade de Bragança no distrito de Bragança

Nossa matriarca Galzuinda de Araújo Macedo descende exclusivamente de familias luso-


brasileiras. Algumas delas podem ser encontradas no Brasil já desde o início da colonização
portuguesa e várias podem ser seguidas em Portugal e nos Açores até a Idade Média. Entre
as suas linhas ancestrais, se destaca a família Macedo atravéz da qual temos uma ligação à
nobreza portuguesa. Por ser a linha varonil de Galzuinda e como esta família é a que eu
estudei mais a fundo, vamos tomá-la como o „fio da meada“ da história das origens de
Galzuinda. A este fio irão se juntando, geração após geração, as outras familias das quais
descende. Algumas destas famílias receberam um capítulo próprio onde são retratadas.

Os meus ancestrais da família Araújo Macedo são de longe as familias às quais mais me
dediquei na genealogia. Desde minha primeira viajem em 1991, ainda adolescente, a São
José do Rio Pardo, onde meu avô Antônio Novelli nascera em 1895 (onde procurei as
certidões de casamento de Giovanni e Galzuinda e as de óbito de Antônio Julio de Araújo
Macedo e Maria José de Araújo) até hoje, foram mais de 30 anos que venho pesquisando
esta família. Só a difícil tarefa de descobrir de onde de Portugal vieram as famílias Araújo e
Macedo já foi como um filme de detetive. Deste modo estou altamente feliz em poder
apresentar um trabalho tão extenso sobre estas famílias e suas raízes.

A origem da família Macedo é um tanto nebulosa. Os Macedos não foram pesquisados a


fundo pelos antigos linhagistas portugueses, tendo recebido atenção a apenas pouco tem-
po. Alguns pesquisadores acreditam que a familia Macedo se originou de um ramo da
poderosa familia dos Bragançãos, os senhores de Bragança em Trás-os-Montes no extremo
nordeste de Portugal, a apenas poucos quilômetros da fronteira com a Espanha.

196
O primeiro Macedo foi prova-
velmente um filho bastardo ou de
um segundo casamento da varonia
destes Bragançãos. „Varonia” é a
linhagem paterna de uma familia, na
qual o título nobiliárquico é herdado
de pai para filho. Essa hipótese do
filho bastardo, formada por Augusto
Ferreira do Amaral, tem por base o
fato de que os primeiros Macedos
terem sido grandes proprietários de
terras numa região tradicionalmente
dominada pelos Bragançãos e o
brasão dos Macedos derivar
heraldicamente daquele dos Bra- Entre Macedo de Cavaleiros e Sanceriz passa-se
pela aldeia Macedo do Mato.
gançãos

O sobrenome Macedo, que esta família passou a uasr, parece ter origem toponímica pelo
fato de que a cidade de Macedo de Cavalheiros estar no centro de seus antigos domínios e
talvez ter servido por um certo tempo de morada da dinastia. A palavra original “Macedo”,
“Maçaedo” ou “Maçada” significa um grupo de Macieiras. Fato é que os Macedo foram no
século XIV os senhores de Sanseriz,
uma aldeia na região de Macedo de
Cavaleiros, que haviam herdado da
familia Morais, da qual também
descendem.

Imagem ao lado: o brasão dos Macedo no


„Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas“ de
ca. 1530. Nota-se que o escudo azul com cinco
estrelas douradas corresponde aos cinco
pequenos escudos azuis das armas da família
dos Bragança.

E abaixo: alguns lugares de interesse na


região de origem dos Macedo, em Bragança.

197
Árvore genealógica reconstruída de Martim Gon-
çalves de Macedo, o herói de Aljubarrota. Nela
pode-se ver a linha dos Morais, da qual os Macedo
herdaram a aldeia de Sanseriz.

Logo ao lado de Sanseriz encontra-se a


aldeia de “Macedo do Mato”, mais um
topônimo que coincide com o
sobrenome, o que fundamenta ainda
mais a orígem topônimica do sobrenome
Macedo e de sua origem aqui.

Sobre a poderosa familia dos Bragançãos


lemos na Wikipédia:

“Os Bragançãos são uma família nobre de


Portugal, com origem no reino de Leão,
com grandes porções de terra na atual
região de Trás-os-Montes, e uma grande ligação à terra de Bragança e que se prolongavam
para Leão. O seu relato fundador advém de um rapto de uma princesa Arménia (segundo
conta o Livro de Linhagens do Deão), e dela descenderia toda a família, conferindo-lhe uma
dignidade quase régia, uma vez que desta forma estavam em pé de igualdade com o próprio
rei de Portugal Afonso Henriques, também descendente de reis por via materna. O casamento
de Fernão Mendes II de Bragança com uma irmã deste rei leva a uma fixação da família mais
permanente em Portugal e a uma integração efetiva da região de Trás-os-Montes no Reino de
Portugal.

Acima: a cidade de Bragança com uma


das portas da cidade. E ao lado o
castelo de Bragança.

198
O domus municipalis de Bragança, o único exemplar de arquitetura civil
em estilo Românico na Península Ibérica.

Das várias linhagens, os Bragançãos terão sido a que nunca terá adotado o sistema
linhagístico de primogenitura, levando até ao fim a lei visigótica da partição da terra por entre
todos os filhos, podendo ser essa uma das principais causas da extinção da linhagem”.

Talvez tenha sido esse costume de


repartir as terras entre todos os seus
descendentes que fez o talvez
„bastardo“ João Vasques de Antas
ou de Bragança, o hipotético
patriarca dos Macedo e seu filho
Estevão Anes de Bragança ser um
grande proprietário de terras na
região brigantina.

Segundo Augusto Ferreira do Amaral


os Macedo poderiam descender de
Vasco Pires de Bragança, O Veirão,
que viveu entre antes de 1186 e
depois de 1206. Vasco era filho do
magnate Pedro Fernandes de
Bragança e da sua esposa e “co-
irmã”, Fruilhe Sanches de Celanova,
pertencendo desta forma a uma das
mais notáveis linhagens do Reino de
Portugal.

Meu filho Lukas visitando


o castelo de Bragança.
199
Esta família reveste-se de especial importância, pois para além
do seu domínio incontestável na atual região de Trás-os-
Montes, que integrava os seus domínios fronteiriços, que
podiam facilmente mudar a fação do reino que apoiava (entre
Portugal e Leão), destacava-se a sua reputação de valentes
guerreiros. A acrescentar a estas qualidades, e a acreditar nos
Livros de Linhagens, o seu trisavô, Fernão Mendes I, teria
casado com uma infanta filha de Afonso VI de Leão, dando-
lhe desta forma um poder equiparável ao do seu suposto
cunhado Henrique de Borgonha (sobre este, veja página 263).
Nesta página: a genealogia dos Braganças/Bragançâos
e o escudo de Vasco Peres de Bragança.

200
A pequenina e bucólica aldeia de Sanceriz em Trás-os-Montes,
Portugal, que foi domínio dos Macedo na idade média

Os Senhores de Sanceriz
Augusto Ferreira do Amaral propõe em seu maravilhoso trabalho „Macedos, Subsídios
Genealógicos“, a seguinte sequência genealógica que irei adotar e desdobrar passo a passo a
seguir até chegarmos por volta de 1500 à área de Guimarães. Eu concordo com essa
sequência por acreditar ser a mais provável, não obstante existirem outros trabalhos
genealógicos sobre os Macedo que diferem deste, muitos dos quais feitos com motivos
políticos, para assegurarem heranças ou títulos nobiliárquicos.
A igrejinha de Sanceriz.
ESTÊVÃO ANES DE
BRAGANÇA

Poderia ser filho dum


hipotético João Vasques
de Bragança (também
mencionado como João
Vasques de Antas), filho
bastardo de D. Vasco Peres
de Bragança, o „Veirão“, da
varonia dos Bragançãos.

201
Estevão Anes de Bragança foi
cavaleiro, senhor de vários imóveis na
região de Bragança e, em 1293,
procurador de Bragança. Morreu antes
de 1340, pois nesse ano foi enterrado
no mosteiro de Castro de Avelãs.
Casou com D. MARIA

FERNÃO ESTEVES (DE MACEDO) I

Foi cavaleiro morador em Bragança, em cuja região possuía várias herdades. Terá casado
com “Fulana” RODRIGUES, filha de RUI MARTINS DE MORAIS, cavaleiro, e de sua 1ª mulher
SANCHA FERNANDES, senhores de Caçarelhos, que em 1300 trocaram com o rei, pela aldeia
de Sanceriz. Foi filho de Fernão Esteves (de Macedo) e da “Fulana” Rodrigues:

GONÇALO FERNANDES DE MACEDO

Desse antepassado, sobre o qual os linhagistas discutem quem poderá ter sido, quase nada
sabemos além de provavelmente ter possuido o Senhorio de Sanceriz, herdado de sua mãe
“Fulana” Rodrigues, que por sua vez o herdara de seu pai Rui Martins, e de que este Gonçalo
Fernandes de Macedo certamente foi o pai do famoso herói de Aljubarrota. Mas antes de
seguirmos em frente com a linhagem dos Macedo, veremos agora um pouco sobre seus
ancestrais da família dos Morais.

Imagem acima: o mosteiro de Castro de Avelâs. Abaixo: o Pelourinho de Sanceriz

202
Miniatura medieval retratando cavaleiros na luta contra mouros.
Os Morais

Como nós já vimos, os Morais são antepassados dos Macedo por via materna dos quais
herdaram por final a aldeia de Sanceriz. Como outras linhas ancestrais dos Macedo que irão
aparecendo a seguir, vamos fazer uma pequena excursão na sua história, para desse modo,
irmos cada vez mais completando um quadro mais amplo da história de nossos
antepassados.

Ponte em Caçarelhos .
Proposta de ascendência de
Rui Martins e de Sancha
Fernandes. Augusto Ferreira
do Amaral propôe, com base
em todos estes conside-
randos, o seguinte enqua-
dramento linhagístico dos
cônjuges Rui Martins e Sancha
Fernandes que, em 1300,
trocaram com o rei Caçarelhos
por Sanceriz:

203
Vista de edificio antigo de Caçarelhos

I – Martim Fernandes, possivel-


mente filho de um irmão de
Fernão Fernandes e D. Teresa, e
primo coirmão do Rui Fernandes
de Castro Roupal, abade da
igreja de Castro Roupal e, entre
1284 e 1299, cónego da sé de
Braga. Poderá ter casado com
uma filha ou, mais vero-
similmente, com uma neta de
Gonçalo de Moralis. Filho:

II – Rui Martins de Morais.


Nasceu cerca de 1250. Foi
cavaleiro, possuiu numerosos bens imóveis na região de Bragança e Miranda do Douro e em
1300 foi senhor de Sanceriz. Casou 1ª vez com Sancha Fernandes. Casou 2ª vez com
Aldonça Gonçalves Moreira; terá casado uma 3ª vez com uma Urraca Gonçalves de Leiria.
Com geração de todos os matrimônios.

Os ancestrais paternos de Sancha Fernandes foram:

I – Fernando Feo. Foi senhor de bens imóveis em S. João de Angueira, Caçarelhos e Genízio.
Casou com uma D. Teresa. Filhos:

II - Paio Fernandes. Casou com uma D. Velasquida, com quem vendeu em 1217 ao
mosteiro de Castañeda, metade das herdades que tinha em S. João de Angueira, Caçarelhos
e Genízio. Filhos:

III a – Rui Pais. Foi cavaleiro e povoou S. João de Angueira antes de 1258. Em 1279 trocou
com o mosteiro de Morerola a vila de Genízio pela de Angueira, tendo havido depois, em
1284, uma contenda com este mosteiro sobre o lugar de Vilarinho. Casou duas vezes: a 1ª
com Urraca Afonso, filha de D. Afonso Mendes de Bornes e neta paterna de Mendo
Bofinho; a 2ª com Maria Rodri-
gues. Talvez filho do 1º casamento:
IV – Pedro Rodrigues. Foi
testemunha numa quitação dada
por seu pai em 1284.

Sanseriz em
Trás-os-Montes

204
III b – Fernando Pais Foi
cavaleiro e povoou S. João de
Angueira antes de 1258. Ainda
era vivo em 1279. Poderia ser
sua filha:

IV – Sancha Fernandes. Casou


com Rui Martins de Morais, de
quem terá sido 1ª mulher, e
ambos trocaram com o rei D.
Dinis, em 1300, o lugar de
Caçarelhos e metade do
padroado de S. João de Angueira (possivelmente herdados por ela de seu pai e de seu tio),
pela aldeia de Sanceriz e metade do padroado da respectiva igreja.

Como já vimos na página 202, a filha de Sancha Fernandes com Rui Martins de Morais se
casou com Fernão Esteves de Macedo que herdaram Sanceriz ao filho Gonçalo Fernandes
de Macedo, que foi o pai de MARTIM GONÇALVES DE MACEDO que segue.

Imagem acima: Caçarelhos hoje. Imagem do meio: caminhos entre Sanceriz, Caçarelhos, Angueira e Outeiro.
E imagem abaixo: S. João de Angueira

205
Imagem acima: A Batalha de Aljubarrota decorreu no final da tarde de 14 de agosto de 1385 entre tropas
portuguesas com aliados ingleses, comandadas por D. João I de Portugal e o seu condestável D. Nuno Álvares
Pereira, e o exército castelhano e seus aliados liderados por João I de Castela. A batalha deu-se no campo de São
Jorge, na localidade de S. Jorge, pertencente à freguesia de Calvaria de Cima, concelho de Porto de Mós, nas
imediações da vila de Aljubarrota, entre o referido concelho e Alcobaça (Fonte: Wikipedia).

MARTIM GONÇALVES DE MACEDO

Foi escudeiro e vassalo d’El-Rei. Celebrizou-se por salvar a vida a D. João I na batalha de
Aljubarrota. Já antes desse feito ele fora contemplado com a munificência régia, pois em
1385-05-27 o rei lhe dera a mercê de 300 libras cada ano, a serem pagas pelas rendas,
dízimas e portagens de Bragança. Tal mercê deve ter tido fundamento na atuação de Martim
Gonçalves de Macedo numa ou mais ocasiões de guerra que se deram pouco antes, no
norte: ou a entrada em Guimarães, em 6, 7 ou 8 de Maio; ou a conquista de Braga, cerca do
dia 10: ou, mais provavelmente, a tomada de Ponte de Lima, pouco antes de 19 do mesmo
mês. Mas o seu grande serviço à Coroa foi, na batalha real, ter intervindo oportunamente a
impedir que o rei, no auge da luta, fosse morto por um cavaleiro castelhano que o
derrubara. Por isso o monarca em 1385-08-27, isto é, menos de duas semanas depois da
batalha, doou-lhe as aldeias de Algoselho e Pindelo, no termo de Miranda do Douro.

206
O castelo de Guimarães, berço de Portugal

Em 1385-12-19, cerca de dois meses depois de se ter travado a batalha de Valverde na qual
D. Nuno Álvares Pereira, com a sua hoste, derrotara os castelhanos, o rei doou-lhe a aldeia
de Outeiro de Miranda. Deve ter participado em várias ações bélicas que se deram nos anos
seguintes. Em Janeiro de 1386 o rei D. João I cercou Chaves, que acabou por capitular.
Algum tempo após foi a vez de Bragança se entregar também.

Em Maio o rei tomou Almeida pela força. Ora, menos de um ano decorrido, em 1387-03-24,
o monarca doava o Outeiro de Miranda a um Fernando Afonso, então alcaide do respectivo
castelo, desde esse dia para sempre e para os descendentes deste, declarando
expressamente que não embargava tal doação que ele, rei, teve feito mercê do dito lugar e
rendas a Martim Gonçalves de Macedo.

A fortaleza de Outeiro de Miranda

207
A aldeia de Outeiro

Em 1392-02-22 Martim Gonçalves de Macedo recebeu do rei mercê das dízimas e portagens
de Bragança e da Aldeia de Outeiro. Em 1400-12-27 era alcaide do castelo do mesmo
Outeiro de Miranda e recebia doação das dízimas dos panos que vinham de Castela ao
mesmo lugar. Martim Gonçalves de Macedo morreu antes de Julho de 1425. Foi sepultado
na igreja da Batalha, à entrada para as capelas onde jazem o rei D. João I e a família real, por
decisão régia. Conforme algures foi escrito, o rei quis darlhe essa honra, já que tinha
guardado tão bem em vida a pessoa dele, monarca, a fim de a guardar para a vida futura.

O mosteiro da Batalha na Beira, onde Martim Gonçalves de Macedo foi sepultado ao lado de D. João I

208
A fortaleza do
Outeiro de
Miranda hoje

Dele escreveu o seu descendente Dr. António de Sousa de Macedo, no célebre poema
heróico Ulyssippo, publicado em Lisboa em 1640, pouco antes da restauração da
independência:

«Este varão que tem na vista ardente


Hum Hercules ao vivo retratado,
Cujo intrepido peito ignora o medo,
Sera Martim Gonçalves de Macedo.»

Martim Gonçalves de Macedo casou, segundo uma escritura de sua viúva, lavrada em
Sanceriz, com CATARINA ANES, a Rica. Com ela teve provavelmente:

GONÇALO GONÇALVES

É provável – mas ainda não seguro – que fosse filho do herói de Aljubarrota. Está provado,
sim, que foi cónego regrante de Santo Agostinho, tendo vivido primeiro no mosteiro de S.
Martinho de Caramos, Felgueiras, na província de Porto. Por bula papal de 1428-02-26 foi
nomeado prior do mosteiro de Santo Estêvão de Vilela, Paredes, priorado que exercia em
1432. Morreu antes de Novembro de 1459.

Foi sua barregã CA-


TARINA GONÇALVES,
mulher solteira que
também morreu antes
de Novembro de 1459,
tiveram:

O mosteiro de S. Martinho de
Caramos em Felgueiras

209
Mosteiro de Santo Estêvão de Vilela,
Paredes

JOÃO GONÇALVES DE
MACEDO

Foi legitimado por carta régia


de 1433-11-23. Era então
escudeiro e criado do senhor
de Basto e Montelongo
Fernão Vasques da Cunha. Foi
depois (qua-lificado como
“escudeiro bom”) criado de
Fernão Coutinho, também senhor de Basto e de Montelongo por via da respectiva mulher.
Por pedido destes obteve em 1450 o ofício de juiz dos órfãos do julgado de Montelongo.
Em 1451 recebeu carta de coudel do mesmo julgado. Aí foi também juiz das sisas. Viveu
com a primeira mulher em São Gens de Montelongo e com a terceira em Santa Ovaia de
Montelongo (Fafe). Morreu pouco antes de Agosto de 1468. Casou possivelmente três vezes:
a 1ª com ISABEL GONÇALVES; a 2ª , segundo dizem alguns nobiliários, com FLORINDA DA
CUNHA, filha dum letrado francês; a 3ª com ISABEL GOMES REBELO, filha do abade de S.
Paio de Caria JOÃO GOMES REBELO, e neta paterna do abade da mesma igreja MARTIM
VASQUES REBELO e de sua servidora BRITES GONÇALVES.

Do 3º casamento com ISABEL GOMES REBELO, com a qual teve vários filhos, descendem
muitos Macedos da região de Braga e Guimarães:

 Álvaro Rebelo de Macedo ca 1460- (que segue)


 Florença Rebelo de Macedo ca 1450 (ancestral dos Vale, ver árvore na página 259)
 Martim Rebelo de Macedo ca 1462- (prior do Mosteiro de Souto – ver página 212)
 Filipa de Macedo (amante do futuro bispo de Évora D. Afonso)
 Henrique de Macedo †
 Diogo Goncalves de Macedo
 Inês Fernandes de Macedo
 Guiomar Rebelo de Macedo
 Maria de Macedo
 Joâo de Macedo
 Goncalo Rebelo da Cunha
 Afonso Rebelo da Cunha

Antigo moinho próximo a


Montelongo, Fafe

210
A linda cidade de Braga, onde Álvaro Rebelo de Macedo foi tabeliâo do público por volta de 1500

ÁLVARO REBELO DE MACEDO

Terá nascido na década de 1460, antes de 1468. Foi cavaleiro-fidalgo e tabelião do público
em Braga, ofício que em 1532 cedeu a seu genro Filipe Martins da Cunha. Casou com
BRANCA DE AZEVEDO com a qual teve Isabel Gomes de Macedo e Mécia da Silva, que por
sua vez teve filhos com Diogo Fernandes Soeiro, cónego da sé de Braga.

Branca de Azevedo foi uma fidalga que descende de várias linhagens nobres portuguêsas e
de reis ibéricos. Sua mãe Inês de Azevedo foi irmã ou sobrinha de Lopo Dias de Azevedo, o
Senhor de S. João de Rei em Póvoa de Lanhoso. Ao lado vemos uma pequena amostra de
seus ancestrais. Com Álva-
ro Rebelo de Macedo
terminamos a primeira
grande etapa da história
dos nossos Macedo, que
continuará com sua filha
ISABEL GOMES DE
MACEDO nos concelhos
de Guimarães e de Póvoa
de Lanhoso, onde seus
descendentes continuam
a viver até aos dias de
hoje.

211
A Quinta da Granja em Sâo Salvador de Souto, concelho de Guimarâes

ISABEL GOMES DE MACEDO

Nascida por volta de 1490, se casou com FILIPE MARTINS DA CUNHA (ou de Almeida),
escudeiro-fidalgo, cidadão e vereador da Câmara de Braga em 1520 e 1542. Filipe foi
tabelião do público em Braga, oficio que recebeu em 1532 de seu sogro Álvaro Rebelo de
Macedo. Isabel Gomes de Macedo e Filipe Martins de Almeida emprazaram em 1516 do tio
de Isabel, Martim Rebelo de Macedo, prior comendador do mosteiro de S. Salvador do
Souto o casal de Linhares em Santo Estevão de Briteiros e depois deste – no mais tardar em
02-01-1545 – o Casal das Pedras em Esporões, termo de Braga, o Casal da Torre em Santa
Maria de Souto e os Casais da Granja e Guardina em S. Salvador do Souto.

Os ascendentes de Filipe
Martins de Almeida,
sobrinho de Lopo de Almei-
da, o 1° Conde de Abrantes.

Acima: O emprazamento do
Casal de Linhares em S.
212 Estevâo de Briteiros em 1516.
Túmulo de Diogo Fernandes
de Almeida na igreja de Santa
Maria junto ao Castelo de
Abrantes

Os pais de Filipe foram


João Martins, *ca 1440,
Anadel-mor de Besteiros
e D. Violante Lopes de
Almeida, *ca 1450, irmã
de Lopo de Almeida, o
1° Conde de Abrantes e
filha de Diogo Fernan-
des de Almeida, Rico-
Homem do Concelho, Vedor da Fazenda dos Reis D. Joâo I (1385-1433), D. Duarte (1433-
1438) e D. Afonso V (1438-1477), Reposteiro-mor de D. Duarte, Alcaide-mor de Abrantes,
Senhor de Sardoal, sendo legitimado por carta régia em Coimbra de 23-01-1433, que em
21-08-1415 participou da tomada de Ceuta, onde foi armado Cavaleiro pelo infante D. Duar-
te. Diogo Fernandes edificou a igreja de Santa Maria do Castelo de Abrantes, onde foi
sepultado. (retirado de: „O armigerado Domingos José Cardoso de Macedo (1733- 1796)“ -
Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, 2019). Abaixo lemos seu epitáfio:

”Neste moimento ias o muito nobre varam e em estremo cavaleiro dom fernandes dalmeida criado e
veedor que foi da fazenda e do concelho dos reis dom dvarte e del rei dom afonso v sev filho foi mvi leal
cirvidor aos ditos senhores mui vertuoso devoto catolico discreto e de mui virtuosa conversasão entre os
homes e seus fectis foram tais que satisfes sempre mui bem a quem devia a sva nobresa com a cavalaria
ele edificou esta igreia de nosa senhora por sua devacam e ornamentov e finovse em mui bõ estado om
todos os avtos e sacramentos que era obrigado no mes de ianeiro aos 5 dias dele da era de noso senhor
iesv christo 1450 annos e foi filho de fernam alvares dalmeida que foi aio do dito senhor rei dom duarte e
dos infantes dom pedro e dom amriqve e seus irmaos”

O castelo e a igreja de Sta. Maria em Abrantes, onde foi sepultado Diogo Fernandes de Almeida em 5 de Janeiro de 1450

213
Vista panorâmica da Granja (as casas estâo à direita). No fundo do vale vê-se a freguesia de Salvador de Souto.

O Casal da Granja, que desempenhará importante papel na história de nossa familia, junto
com a vizinha Guardina era na época a propriedade agrícola mais importante da freguesia
de São Salvador de Souto. A Granja, que foi mencionada pela primeira vez por volta de 950
d.C. fica localizada nas encostas dentro de um vale da Serra de São Simão que faz a divisa
entre as freguesias do mosteiro de Souto e de São Torcato. Ambas essas freguesias estão
localizadas na parte setentrional do concelho de Guimarães. Será nesta linda quinta onde os
nossos antepassados viverão nas próximas gerações e de onde os Macedo se espalharão
pela região nos próximos séculos.

Abaixo: A Quinta da Granja hoje, preservada com muito amor pelo atual proprietário,Pedro Tarujo Formigal, o
15° Senhor da Granja e descendente dos Macedos.

214
Vemos nesta página dois
gráficos, um deles com a
árvore genealógica de
Isabel Gomes de Macedo e
o outro com os seus
descendentes conhecidos
até a geração de seus
netos.

Um parente, Baltasar de
Macedo, segundo o
pesquisador vimaranense Rui Faria filho de uma Guiomar de Macedo, foi o Senhor da Quinta
do Pinheiro, uma outra importante quinta em Souto e a neta de Isabel Gomes de Macedo e
Felipe Martins da Cunha, Catarina de Macedo foi a Senhora da Quinta da Torre em Santa
Maria de Souto. O primo destes, Filipe de Macedo e Castelo Branco foi morador na vila da
Covilhã e recebeu carta de brasão de armas em 16-06-1603 com escudo esquartelado 1°
Macedo, 2° Costas, 3° Castelo Branco e 4° Feio; e timbre de Macedo.

Em 1583 casaram em S.
Salvador de Souto Cata-
rina de Macedo, filha de
Baltasar de Macedo e de
Ana Coutinha com
Gaspar Pinto. As
testemunhas foram o sor
(frade) Martim Rebelo de
Macedo da quinta da
Rebiana (neto do
homônimo prior do
mosteiro de Souto) e os
sores Francisco de Abreu
e Martim Coelho (de
Abreu), seu irmão, da
família dos Abreus de S.
Estevão de Briteiros.

Como podemos ver na


árvore ao lado, a
Granja em São Salvador
de Souto foi passada nas
três primeiras gerações
de mãe para filha –
nossas ancestrais. As
duas descendentes
donas de quintas estão
marcadas em vermelho
na árvore ao lado.

215
Imagens acima nesta página e ao lado: A quinta (ou casa) da Granja em S. Salvador de Souto.

Aqui de um artigo que escrevi em fevereiro de 2022 para o site Geneall, aqui levemente modificado:

„As numerosas famílias Macedo na área de Lanhoso e do Souto provavelmente descendem das três ou quatro
famílias Macedo originais, parentes entre si, que por volta de 1520 vieram para Souto. Em São Salvador pelo
menos 2 quintas estavam nas mãos de Macedo (Granja e Pinheiro) e em Santa Maria de Souto a Quinta da Torre
e da Rebiana, onde viviam os descendentes do Prior Martim Rebelo de Macedo. E enquanto é possível reconstruir
a ligação das familias de São Salvador de Souto até estes primeiros Macedos devido aos registros paroquiais da
freguesia que começam por volta de 1550 (nesta época havia na freguesia do mosteiro somente duas familias
Macedo: Balthazar Rebelo de Macedo na Quinta do Pinheiro e sua parente Isabel Rebelo de Macedo na Quinta da
Granja, sobrinhos-descendentes do Prior Martim), já em Santa Maria de Souto é um tanto mais complicado
estabelecer uma ligação exata, visto que de 1520 a 1630, quando se iniciam os registos paroquiais de Santa Maria
de Souto, são mais de 100 anos (de 3 a 4 gerações) que a família se difundiu pela freguesia. E nós encontramos já
nos primeiros anos dos registros paroquiais a partir de 1630 várias familias Macedo e Rebelo, que parecem semp-
re estar aparentadas entre si.

A familia Macedo está desde cerca de 1544 na Quinta da Granja


em São Salvador de Souto. Alguns destes Macedos da Granja
justificaram sua nobreza por descenderem dos "Macedos, Rebelos,
Coutinhos e Almeidas", entre eles Pedro de Macedo (n. ca. 1618)
Senhor do Casal da Bouça em Santa Maria de Souto e em 1641,
Domingos de Macedo de Azevedo (n. 1619) Senhor da
Quinta da Granja e filho da prima de Pedro (Maria de Macedo
e Azevedo, casada em 1620 com Julião Mendes de Lemos).“

216
Isabel Gomes de Macedo, a 1°
Senhora da Granja e seu esposo
Filipe Martins de Almeida tiveram
ao menos os seguintes filhos:
Simoa, Pascal, Leonor e Julião
Gomes de Macedo. A quinta da
Granja ficou por herança com a
filha Simoa.

SIMOA DE MACEDO

Nasceu por volta de 1518,


provavelmente em Braga, onde
seu pai foi vereador em 1520.
Simoa herdou dos pais os prazos
da Granja e Guardina em S. Sal-
vador do Souto e da Torre em
Santa Maria de Souto, se
tornando a segunda Senhora da
Granja.

Simoa se casou antes de 1540 com VALENTIM GONÇALVES,


mercador em Guimarães. Tiveram ao menos 2 filhas: Isabel, que
recebeu como dote a Granja e a Guardina e Catarina, que viveu na
Quinta da Torre em Santa Maria de Souto. Elas, junto com o parente
Baltasar Rebelo de Macedo da quinta do Pinheiro deixaram abundan-
te descendência, entre a qual, com três quebras de varonia, o 1º
Conde de Margaride (foto ao lado) da conhecida casa do Carmo de
Guimarães. Sobre a descendência de Catarina pouco sabemos.

Segundo Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes em seu


trabalho „O armigerado Domingos José Cardoso de Macedo“ (BOLETIM
DE TRABALHOS HISTÓRICOS 2019, com dados fornecidos pelo
estudioso Rui Faria do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta AMAP):
„Valentim Gonçalves foi um rico mercador da praça vimaranense, que
no Tombo dos Reguengos de 1541 assiste os oficiais do duque de Bragança (…) na Vedoria da dita
Quinta da Granja. Em 23-10-1548 encontramos um traslado do tombo do Mosteiro de Souto de D.
Teodósio II. Duque de Bragança, na quinta da Granja, que era foreira ao dito mosteiro, possuida por
Valentim Gonçalves, mercador,
onde era caseiro Fernão Anes.“

Valentim passou a 2as núpcias


com Maria da Costa e passou
a viver com esta na quinta do
Pombal em Santa Maria do
Souto. Deste casamento
descen-dem os Valentes da
quinta de Pombal em Santa
Maria e da quinta da Laje em
S. Salvador de Souto.

O Paço dos Duques de


Bragança na cidade de
Guimarães, construido 217
em 1420 por D. Afonso.
O Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, construido em 1420 por D. Afonso de Bragança.

Em um registro de batismo de 1614 de uma filha sua, Martim de Macedo, filho de Salvador Francisco e Isabel de
Macedo, é mencionado como Martim “de Abreu”, o que indica a sua descendência dos Abreus.

ISABEL REBELO DE MACEDO

Foi a terceira Senhora da casa da Granja que herdou por dote de seus pais. Nascida cerca
1543, foi talvez a primeira da familia a nascer na quinta da Granja e de ter passado toda a
sua vida aqui. Ela faleceu em 23 de Outubro de 1618 em São Salvador do Souto.

Se casou antes de 1568 com SALVADOR FRANCISCO, lavrador honrado, natural de Santa
Maria do Souto, do qual alguns pesquisadores dizem vir da familia Abreu da próxima
freguesia de Briteiros, e que segundo Rui Faria tinha duas irmãs em 1576: Maria Francisca,
viúva e moradora em Sta. Maria de Souto e Madalena. Um „lavrador honrado“ era uma pes-
soa que vivia de suas terras, mas não as trabalhava com as suas próprias mãos, tendo
criados e peões para os serviços braçais. Não é necessáriamente nobre, mas já está numa
classe na qual seus filhos e netos podem cursar uma universidade, serem padres ou deterem
um cargo importante (ver nota abaixo). De Isabel e Salvador encontra-se vários registros nos
livros paroquiais da igreja do Souto. Salvador Francisco faleceu a 23 de Outubro de 1618 em
São Salvador do Souto com todos sacramentos “Se falleceo sacramentado teve 6 p(adr)es que
lhe fezerao off. e missas deu-lhe hu agazalhado e oitenta rs e de offerta meo almude de V°
molle, huas pescadinhas equae duas broas, ao mes teve outros seis padres, e ao ano outros
seis, ofertou hu ano (…)”.
Nota: Salvador Francisco tratava-se à lei da nobreza, pois cultivava a terra
por seus criados e não possuia outro ofício nem exercício mecânico, condições
essenciais para se ser reconhecido como membro do “Estado do meyo”, tal
como Rafael Bluteau designava aqueles que não possuíam “Nobreza Política,
ou Civil, nem a hereditária”, nem tão pouco os tais ofícios “mechanicos”. Esta
Isabel e Salvador tiveram espécie de “quasi nobreza” configurava-se como uma condição essencial para
ao menos os seguintes se ir integrando progressivamente uma elite rural ou municipal.
filhos e netos: Apud: MAGALHÃES, Joaquim Romero de – “Os nobres da governança das terras”, in:
ÓptimaPars. Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime, Nuno Gonçalo Monteiro,
Pedro Cardim,Mafalda Soares da Cunha (organizadores), Lisboa: ICS, 2005, p. 67.

218
Os Abreus de Briteiros
Imagens nesta página: a Citânia de Briteiros, um dos maiores
povoamentos da idade do ferro na península ibérica.

Sobre o apelido (sobrenome) Abreu de Salvador Francisco, constatamos que um dos filhos
de Salvador Francisco e Isabel de Macedo, Martim de Macedo, batizado a 1 de Novembro
de 1580 em São Salvador do Souto foi mencionado mais tarde com o apelido „de Abreu".
Por exemplo em fevereiro de 1614 no batismo de uma filha que teve com a solteira Maria „a
bezuga de Chaim“ („bezuga“ significa „mulher bonita“). E também em 1618 como „Martim
d´Abreu, solteiro da Granja“. É interessante observar que somente após a morte de sua mãe
Isabel de Macedo em 1610 aparecem na familia registros com o sobrenome Abreu, sendo
antes todos Macedo. Talvez isto ocorreu em 1614 até mesmo pelo fato de que no registro de
sua filha, Martim nem mesmo estivesse presente pessoalmente. Muitas vezes uma familia
obrigava seus descendentes (e aqueles que herdassem seus domínios, como pode ter
ocorrido com os Macedos no caso da Quinta da Granja) a utilizar o apelido tradicional dos
domínios. É possível que Salvador tenha sido um filho bastardo de um Abreu já casado ou
tenha sido o filho de um dos frades entre os Abreus de Briteiros, não recebendo assim o
apelido oficial paterno, e sim o materno, ou tendo utilizado o patronímico „de Francisco".

À esquerda: texto do livro "Memorias


resuscitadas da antiga Guimarães", de
Torquato Peixoto de Azevedo de 1692. E 219
acima: a „pedra formosa“ do balneário
da Citânia de Briteiros.
As missas pelas almas de Jorge Gomes de Abreu e de Dona Beatriz Francisca
em Santa Leocádia de Briteiros entre 1576 e 1594
Vasculhei os registros mais antigos de Santa Leocádia de Briteiros, S. Salvador de Briteiros e
S. Estevão de Briteiros (da Silva Escura), e lá achei alguns Abreus e Gomes de Abreu também
citados em Felgueiras Gaio. Vejamos aqui minha „colheita":
Em Santa Leocádia de Briteiros se encontra de 1576 a 1594 as missas anuais pela alma de Jorge Go-
mes de Abreu e de Dona Beatriz Francisca, referentes às herdades de Souto Mandinho. Também em
1622 encontramos missas pela alma de Jorge Gomes de Abreu.

1578 - Sta. Leocádia - Falecimento de Salvador de Abreu de Souto Mandinho (hoje Rua Souto
Mendinho), filho de Jorge Gomes de Abreu.

1580 - Sta. Leocádia - encontramos como testemunha Francisco de Abreu de S. Salvador de Briteiros
(Mas dele nada se encontra em S. Salvador (os registros de lá começam em 1597).

1587 e 1597 - Sta. Leocádia – encontra-se Francisco Gomes de Abreu, como padrinho.

1597 e 1601 - Sta. Leocádia - encontra-se Lopo Gomes de Abreu, como padrinho. (este filho de Pedro
Gomes de Abreu e neto de Jorge Gomes de Abreu foi o sucessor na quinta do Paço de Briteiros, que,
por escritura de 24 de fevereiro de 1602 a vendeu ao Doutor Jorge do Vale Vieira, cavaleiro do Hábito
de Cristo, filho de João do Vale, ouvidor dos órfãos em Braga, e de sua mulher Camilia Vieira (veja
sobre estes mais em frente em „ Os do Vale de Gondomar“, página 251).

1600 - Sta. Leocádia – registro do falecimento de Martim Coelho de Abreu (frade, ver pág. 215).

1602 - Sta. Leocádia - é mencionado Francisco da Costa, criado de Francisco Gomes de Abreu, aquele
já citado acima, que deve ser o mesmo mencionado no casamento de Catarina de Macedo em 1583 em
S. Salvador do Souto – ver página 215 – onde é citado como frade.

Em S. Salvador de Briteiros nada se encontra dos Abreus. Lá aparecem por volta de 1618 os irmãos
Balthasar Vieira, Estevão (ou Cristóvão) Vieira e Lourenço Mendes (de Vasconcelos), já então na Quinta
de Briteiros, agora já mencionada como "Quinta do Paço", que antes era posse dos Gomes de Abreu. Os
Vieira de Vasconcelos descendem do irmão de Jorge do Vale Vieira, Francisco Vieira de Andrade.

220
Em S. Estevão de Briteiros (antigo nome: "S. Estevão da Silva Escura") igualmente nada se encontra dos
Abreus. Os registros paroquiais começam por volta de 1627 e estão muito deteriorados.

Felgueiras Gaio menciona estes Abreus de Briteiros com a exceção de Salvador de Abreu e de Dona
Beatriz Francisca. Mas fica em aberto qual dos "Jorges" Gomes de Abreu que descendem dos Senhores
de Briteiros se tratam estes registros paroquiais.

A história da Quinta de Briteiros ou Quinta do Paço


A Quinta do Paço de Briteiros me fascina muito. Após uma pesquisa em diversos trabalhos,
consegui desenrolar a história desta importante Quinta, que tentarei esboçar a seguir:

A Honra de Briteiros com seu centro, a quinta do Paço teve sua origem com a família dos
Briteiros, altos fidalgos do reino de Portugal que receberam seu nome deste domínio e dos
quais se encontra informações várias, por exemplo como rico-homens e trovadores na Idade
Média.

Os Briteiros eram aparentados com os de Souza, assim, por herança, a nobre Dona Maria de
Noronha (filha de um neto do Rei de Portugal), casada com D. Afonso, conde de Faro,
possuia a Quinta de Briteiros por volta de 1450 vendendo-a a Fernão de Magalhães (o
velho) cavaleiro da casa de seu sogro, D. Afonso 1º, duque de Bragança (Gaio: 1992, vol. VII,
pág. 172). Dona Maria de Noronha era descendente dos Briteiros por via de sua mãe, D.
Mécia de Souza, que por sua vez foi neta de D. Maria de Souza (ou "de Briteiros") filha de
Gonçalo Anes de Briteiros.

Também os Magalhães tinham ligação com os Briteiros, visto que o pai de Fernão de
Magalhães (o velho), Gil Afonso de Magalhães, que foi casado com uma outra Mécia de
Souza (que pode ter sido parente da Mécia de Souza acima citada) tinha uma prima (D.
Beatriz de Souza, talvez também parente da acima citada Mécia de Souza) que fora casada
com um Lopo de Araújo, que aparece em alguns documentos como "de Briteiros".

Os Magalhães foram desde muito cedo os senhores do couto de Fontarcada (no mais tardar
desde ca. 1300 com Afonso Rodrigues de Magalhães), que fica situado já bem próximo a
Briteiros. Veja
sobre os
Magalhães em:
Manuel Abran-
ches de Soveral
"Ensaio sobre a
origem dos
Magalhães" de
2007.

A entrada da
Quinta do Paço em
S. Salvador de
Briteiros.
221
A torre da Quinta do Paço em S.
Salvador de Briteiros

É também interessante observar que a mãe


daquela Beatriz de Souza, a Dona Isabel de
Souza, como tinha por irmão João Rodrigues
Ribeiro de Vasconcelos, ser bem provável da
familia que mais tarde (após 1600) será
proprietária da mesma Quinta de Briteiros.

Pois bem, Fernão de Magalhães (o velho),


nato por volta de 1425 e filho de Gil Afonso
de Magalhães e de sua mulher Mécia de
Souza, adquire por volta de 1450 por compra
a Quinta de Briteiros da condessa do Faro
Dona Maria de Noronha. Este Fernão de
Magalhães foi irmão de Paio (ou Pedro)
Afonso de Magalhães, o pai do famoso
navegador Fernão de Magalhaes, sendo
assim seu tio paterno. Fernão, o velho, casou
antes de 1463 com Beatriz Martins da
Mesquita, n. cerca de 1442, que se documen-
ta "criada da duquesa de Bragança D.
Constança de Noronha".

Segue no senhorio da Quinta de Briteiros o filho Gonçalo de Magalhães, n. ca. 1455. Cito
aqui Manoel Abranches de Soveral em seu trabalho "Ensaio sobre a origem dos Mesquita":
"Gonçalo Rodrigues de Magalhães, fidalgo da Casa Real, que sucedeu, nomeadamente na
quinta de Briteiros. Tirou ordens menores em Braga em Março de 1482 e a 6.1.1498 teve
confirmação da tença de seu pai, que nele renunciara, como ficou dito. Casou com D.
Briolanja de Azevedo, filha de Gonçalo Coelho, 4º senhor de juro e herdade de Felgueiras e
Vieira do Minho, etc., e de sua 1ª mulher D. Catarina de Souza. Este Gonçalo Coelho era
cunhado de Gonçalo Rodrigues de Magalhães, pois casou 2ª vez com Violante de Magalhães".
Mais uma vez aparece a familia de Souza envolvida neste clã.

Segue no senhorio da Quinta de Briteiros a filha, Beatriz (Brites) de Magalhães (ou da Silva),
n. ca. 1490, que Soveral descreve citando uma justificação de nobreza de um parente (Mi-
guel Sobrinho da Mesquita) de 1556 onde testemunhou a "senhora D. Brytyz da Magalhães",
moradora na sua quinta de Briteiros com seu marido o "senhor Jorge d’Abreu, fydallguo".

Os Gomes de Abreu de
Briteiros no Tomo I do
Nobiliário de Familias de
Portugal de Felgueiras Gaio.
Embaixo encontramos
também um Salvador de
Abreu (Lima) com relação
com Souto Mandinho – vide
os registros paroquiais já
citados.

222
Árvore genealógica
hipotética de Salvador
Francisco. Ele
igualmente poderia ser
um filho bastardo de
Jorge Gomes de Abreu.
Em vermelho: os donos
da Quinta de Briteiros

Podemos ver que aqui já encontramos os Gomes de Abreu na Quinta de Briteiros. O


casamento de Beatriz com Jorge de Abreu pode ter sido por volta de 1530-40, pois na época
do testemunho de 1556 acima citado, o casal morava em Briteiros tendo filhos novos, que
ainda viviam na dita quinta com seus pais.

Como já vimos nos livros paroquiais mais antigos de Santa Leocádia de Briteiros,
encontramos entre 1576 e 1594 registros das missas que Jorge Gomes de Abreu mandou
fazer para si e também os de Dona Beatriz Francisca que estava relacionada com este Jorge
(será uma filha, esposa ou companheira?). Numa página bem deteriorada do registro de
óbitos lemos: "Duas missas q gorge dabreu mãdou q cada ano lhes dicessem pelas herdades
de souto mãdinho briatis fr.ca as mãdou diser o ano de 1584..."

Localização da
Quinta do Paço /
de Briteiros em S.
Salvador de
Briteiros, aos pés
da antiga Citânia
de Briteiros.

223
No lugar de Souto Mandinho em Santa Leocádia de Briteiros faleceu em 1578 Salvador de
Abreu, filho de Jorge Gomes de Abreu (registros paroquiais de Sta. Leocádia). Souto
Mandinho fica relativamente próximo à Quinta de Briteiros (veja mapa acima), podendo
aquelas "herdades" terem surgido como herança ou dote.

Aqui poderíamos talvez entroncar o nosso Salvador Francisco na família dos Abreus de
Briteiros. Mas isso é muito ousado, e por falta de provas deixamos essa opção apenas como
uma hipótese remota. Salvador Francisco poderia ter sido um sobrinho ou um filho
bastardo do clérigo Francisco Gomes de Abreu (ver o registro da página 215).

Neste ponto é interessante também observar o apelido de D. Beatriz „Francisca“.

Acima: O registro de batismo de Francisco de Macedo em 1570, filho de Salvador Francisco e Isabel de Macedo,
que virá a ser o Senhor da Granja. Registro paroquial do mosteiro de Souto (veja também página 236).
E abaixo: O registro de seu casamento em 1590 com Catarina Fernandes do casal da Laje.

224
A freguesia de São Salvador do Souto. As setas indicam a localização da
Quinta da Granja (acima) e do antigo mosteiro do Souto (abaixo)
FRANCISCO DE MACEDO

O 4° Senhor dos prazos da Granja e Guardina foi Francisco de Macedo, filho de Isabel de
Macedo e Salvador Francisco. Ele foi o primeiro varão Macedo a ser o Senhor da Granja.
Nasceu em 21 de Novembro de 1570 em São Salvador do Souto e faleceu em 11 de
Novembro de 1620 igualmente em São Salvador do Souto.

Francisco de Macedo se casou em 8 de Maio de 1590 com CATARINA FERNANDES, filha de


Fernão Alvares e Catarina Pires do casal da Laje em São Salvador do Souto. Na escritura de
quitação do dote de casamento de 25-04-1590, realizado pelo tabelião Cristóvão de Azeve-
do, vemos qual confusão o
sistema português de
apelidos pode criar. Neste
documento se fez a
seguinte adenda “(…) e
declarou ele Francisco de
Macedo que ao tempo que
se fizera a dita escritura de
dote lhe puseram por
sobrenome Gonçalves e a
sua mulher Lopes e ora se
chamavam sempre ele
Francisco de Macedo e ela
Catarina Fernandes pelo
que fazia esta escritura e
declaração para que não
haja dúvida em nenhum
tempo (…)”.

A Casa da
Granja em S.
Salvador do
225
Souto
Registro de óbito de Francisco de Macedo em 1620, S. Salvador de Souto.

Teve no seu enterro em 1620 “dez padres, deu


de oferta dous carn.(eiros) e do officio e missas
a cada padre oitenta rs desesmolla duas broas
e dour cataros de V.°(inho) e no mes outros a
77 padres e a mesma esmola e oferta e
agazalhado (…)”

Francisco e Catarina tiveram dois filhos que


chegaram à idade adulta, o primogênito
Domingos de Macedo, nascido em 1595,
herdou os prazos da Granja e da Guardina e
viveu solteiro na Granja em 1649. Como não
teve filhos, a Granja e a Guardina passaram
para sua irmã, Maria de Macedo e Azevedo.

MARIA DE MACEDO E AZEVEDO

Sucedeu ao irmão Domingos no Senhorio


dos prazos da Granja e Guardinha. Nascida a
8 de agosto de 1601 em São Salvador do
Souto e falecida a 24 de setembro de 1633
em São Salvador do Souto. Se casou no dia
26 de novembro de 1620 em São Salvador do
Souto com JULIÃO MENDES DE LEMOS,
presumível filho do reverendo Paulo Mendes
de Lemos, abade de Salvador de Souto, Acima: brasão dos Macedos da Granja em S. Salvador do
Souto. Abaixo: óbito de Catarina Fernandes em 1618

226
sepultado na igreja do
mosteiro no qual há uma
laje tumular sua de 1627
e que foi aparentado com
distintas familias braca-
renses nomeadamente
Mendes, Cordas, Britos,
Farias, Freires, etc.

À direita: Casamento de Maria


de Macedo e Julião Mendes em
S. Salvador de Souto em 1620.

Domingos de Macedo „sobrinho“, nascido em 1619 fez justificação de Nobreza, recebendo o


brasão dos Macedo da Quinta da Granja em 1641, vide imagem abaixo.

227
A casa da Quinta da Granja em S. Salvador
de Souto, onde Bento de Macedo nasceu em
1632.

Bento de Macedo e a Casa


de Santo Tirso

Bento, foi um dos mais novos entre


os ao menos oito filhos do casal
Julião Mendes de Lemos e Maria de
Macedo de Azevedo no dia 21 de
março de 1632 em São Salvador do
Souto. Passou sua infância nas belas
encostas da Granja, brincando com
seus amigos nos morros salpicados
de pedras que convidam o espirito
curioso e criativo de uma criança
para se aventurar nelas.

Como seu irmão mais velho Jerônimo de


Macedo herdou a Quinta da Granja
tomando o papel de Senhor da Granja,
Bento se casa por volta de 1670 com ISA-
BEL DUARTE, herdeira da casa de Santo
Tirso, na freguesia vizinha de São Martinho
do Campo, no concelho de Póvoa de
Lanhoso. Ao se casar com Isabel Duarte,
Bento passou a residir em Santo Tirso, que
Isabel havia herdado de sua mãe Antonia
Duarte, casada que foi com Marcos
Gonçalves. Antonia havia herdado Santo
Tirso de seus pais Salvador Duarte e Ana
Gonçalves. E Salvador Duarte por sua vez
havia recebido Santo Tirso de seu pai,
Duarte Álvares, nascido por volta de 1530.

228 Ao lado: registro de batismo de Bento de Macedo


em S. Salvador do Souto em 1632
A linda e centenária casa de Santo Tirso em São Martinho do Campo,
concelho de Póvoa de Lanhoso, Portugal
Os Duarte já devem ter estado desde no mínimo 1550 na casa de Santo Tirso, que era uma das
casas mais tradicionais da freguesia junto com a casa e torre da Mota, onde estavam os Coelho de
Vasconcelos, que eram compadres dos Duarte (ver página 257). Além destes, também nossa
família nacestral Lopes vivia no Vilar de Baixo em Campo, sendo vizinha de Manoel de Macedo, do
Vilar de Cima, do qual desconfio ser um parente vindo por volta de 1600 de S. Salvador de Souto.
Todos eles eram compadres entre si, pertencendo à elite proprietária local.
Santo Tirso, hoje com cerca de 650 anos, já está faz no mínimo 450 anos em poder dos
antepassados dos atuais proprietários Sr. Lidia e Sr. Noé, descendentes dos Duartes e dos
Macedo. Existe nesta propriedáde agricola um moinho de centenas de anos que era utilizado para
moer os grãos produzidos no local e que também servia para as outras propriedades de São
Martinho do Campo quando o Rio
Ave tinha enchente e
impossibilitava os moinhos grandes
(as azenhas) de funcionar. O casal
Bento e Isabel teve ao menos
conco filhos: Mariana, Bento An-
tonia, Pascoal e João, nascidos
entre 1670 e 1690.

À esquerda: O antiquíssimo
moinho de Santo Tirso

229
O casamento de Salvador Duarte com Ana Gonçalves, os Senhores de Santo Tirso em 1597

Os filhos Bento e Antonia se casaram no mesmo


dia 21 de novembro de 1694 com dois irmãos,
Domingos e Mariana Fernandes Novais, de S.
Martinho do Campo. O irmão João se casou em
1716 em Galegos com Jeronima Rodrigues do lugar
de Seides em Galegos e sobre o irmão Pascoal de
Macedo nada mais sabemos. Ele pode ter sido o
homônimo Pascoal de Macedo, o 1º arrematante do
Porto Real da Passagem em 1711, berço da cidade
de São João del Rei em Minas Gerais, Brasil.

Nossa ancestral Mariana de Macedo foi batizada


no dia 7 de setembro de 1673 em São Martinho do
Campo (vide imagem no alto da próxima página).
Seus padrinhos foram os irmãos João e Mariana da
Cunha de Vasconcelos da quinta da Mota. Três anos
depois falece o seu avô materno, Marcos Gonçalves
deixando Santo Tirso de herança ao genro Bento de
Macedo. E como os pais Bento e Isabel deixaram Santo
Tirso ao filho homônimo Bento de Macedo Jr. casado com
Mariana Fernandes, Mariana de Macedo teve que se casar
para uma outra casa.

A bela casa de Santo Tirso, que fica na Rua de Santo Tirso,


fica em uma linda paisagem levemente inclinada a certa
distância entre a freguesia de Campos e o Rio Ave. Lá
certamente se plantava cereais, centeio, uvas além do
necessário para o próprio sustento.

Abaixo: O registro de casamento de Marcos Gonçalves com Antonia


Duarte, os pais de Isabel Duarte em 1644.

230
O pai de Mariana,
Bento de Macedo
faleceu em Santo Tirso
no dia 3 de janeiro de
1689, instituindo sua
esposa como herdeira.
A mãe de Mariana,
Isabel Duarte por sua
vez faleceu em 24 de
novembro de 1695, após ter instituido seu filho Bento de Macedo como herdeiro.

Imagem acima: Batizado de Mariana


de Macedo em 1673.

Ao lado: óbito de Bento de Macedo


em 1689.

Imagens abaixo, à esquerda: uma


portinha em uma das casas dos
armazéns de Santo Tirso.

Direita: A familia Macedo que vive


em São Martinho do Campo e em
parte ainda reside em Santo Tirso é
referenciada até hoje com o nome da
casa de Santo Tirso.

231
Lukas, um curioso descendente dos Macedos de Santo Tirso vistoriando a casa de seus ancestrais, onde Mariana
de Macedo nasceu a quase 350 anos

MARIANA DE MACEDO

Como vimos, Mariana nasceu no dia 7 de setembro de 1673 em São Martinho do Campo e
teve que se casar para fora, visto que seu irmão Bento herdou a casa paterna.

Felizmente ela encontrou um partido na freguesia vizinha de Santo Emilião, no local


denominado Redufe, logo às margens do tranquilo Rio Ave, que já banhava os lugares onde
seus ancestrais de São Salvador de Souto e São Martinho do Campo entre muitos outros
viveram.

Ao contrário da grande maioria dos casamentos de nossos antepassados, podemos


reconstruir no caso de Mariana , como deve ter acontecido a escolha dos noivos: Aconteceu
que uma tia de de Mariana, Luzia de Macedo da Quinta da Granja, uma irmã de Bento de
Macedo se casara com Domingos Fernandes Nobre, um morador de Santo Emilião, a
freguesia vizinha de São Martinho do Campo, morando assim próxima ao irmão Bento.
Bento de Macedo foi o padrinho de seu sobrinho homônimo Bento em 1688. Luzia de
Macedo tinha uma
comadre chamada Isabel
Gomes da familia Gomes
de Santa Maria de Souto,
que eram muito amigos e
compadres dos Macedo
da Granja.

O bucólico rio Ave em Redufe,


freguesia de Santo Emilião,
concelho de Póvoa de Lanhoso.

232
Ao lado: A igreja matriz de
Santo Emilião.

Abaixo: O autor tocando o


sino da capela de Redufe em
Santo Emilião.

Isabel Gomes tinha um


irmão de nome Gonçalo
Gomes, então já
falecido, que havia se
casado com uma
moradora em Santo
Emilião, Felipa Francis-
ca e que tinham vários
filhos em idade para se
casar.

Luzia de Macedo e Isabel Gomes arranjaram o casamento de seus sobrinhos Mariana de


Macedo e MATEUS GOMES, nossos
ancestrais, que acabaram por se dar as
mãos no dia 9 de julho de 1691, em São
Martinho do Campo. Foi assim que
Mariana veio a residir no local do
Redufe em Sto Emilião.

Batismo de Bento Gomes de Macedo em 1705 em


Santo Emilião que teve como padrinho o seu tio
materno Bento de Macedo
de Santo Tirso.

O contato entre Mariana e seus irmãos em


Santo Tirso continuou muito forte. Os irmãos
se casaram – Bento, que foi o herdeiro de
Santo Tirso, havia se casado com Mariana
Fernandes Novais e João se casou em Póvoa
de Lanhoso com Jeronima Rodrigues – mas
ambos parecem não ter tido filhos.
Principalmente Bento era muito ligado a sua
irmã mais velha Mariana e foi o padrinho de
batizado do seu sobrinho Bento Gomes de
Macedo, nascido em S. Emilião em 16 de
setembro de 1705.

233
Mariana faleceu cedo, com apenas 39 anos em 14 de Abril de 1713 em Santo Emilião.

Registro de óbito de Mariana de Macedo em Santo Emilião em 1713


O então viúvo Mateus
Gomes se casaria
novamente no dia 14
de março de 1717
com Madalena da
Conceição, uma
mulher moradora no
lugar da Pedreira de
Santo Emilião que já
havia tido vários filhos
quando solteira dos
quais não alegou
quem fora (ou foram)

os pais. Eu me pergunto se os seus filhos ou


algum deles já não havia sido de Mateus
Gomes, que em sua posição social poderia
se casar com outra mulher sem um passado
assim moralmente duvidoso. Essa questão
talvez nunca possa ser esclarecida. Mateus
faleceria muito mais tarde em 25 de maio de
1750 e deixaria seu filho mais velho
Jerônimo Gomes de Macedo, casado com
Domingas do Vale como herdeiro de sua
propriedade em Redufe.

Novamente uma foto do lindo Rio Ave.

234
Registro de óbito de Mateus
Gomes do Redufe em 1750.

Os Gomes de
Santo Emilião

Nossa familia Gomes de Santo Emilião descende de Francisco Gomes do lugar do Paço de
Santa Maria de Souto. Ele nasceu por volta de 1575 e faleceu em 2 de novenbro de 1648.
Francisco foi casado com Marta Francisca que faleceu em 19 de dezembro de 1660.

Várias familias Gomes aparecem já bem cedo nos registros paroquiais de S. Salvador do
Souto, a partir de meados do século XVI. Uma grande e importante família Gomes descende
de Cristóvão Gomes do casal do Barreiro, nascido por volta de 1520, casado com Ana
Gonçalves e que aparece várias vezes nos registros paroquiais de S. Salvador de Souto. Em
certos registros ele é mencionado como morador, já em Santa Maria de Souto. Teve vários
filhos, entre eles Paulo Gomes, que se casou para Salvador de Donim, Sabina Gomes que se
casou com Francisco Baltasar e teve descendência em S. Salvador de Souto e Salvador de
Louredo e Antônio Gomes que herdou a casa do pai e se casou em Braga onde foi um rico
mercador. Esta familia teve certa importância social pois alguns integrantes dela se casaram
com Macedos, Rebelos e Antunes, que eram familias abastadas dessa terra naquela época.

Vista panorâmica de cima de Gondomar (ao lado de Santa Maria de Souto) sobre o vale do rio Ave
marcando alguns lugares que têm papel na história dos Macedo e dos Araújo

235
Nota do prior do mosteiro de Souto de 1570 atestando que Cristovão Gomes do Barreiro de Santa Maria de Souto
recebeu a chave do cartório do mosteiro. Testemunhas foram nossos ancestrais Valentim Gonçalves, o viúvo de
Simoa de Macedo, nesta altura já vivendo com sua segunda esposa no casal do Pombal em Santa Maria de Souto
e seu genro Salvador Francisco (de Abreu) da quinta da Granja de S. Salvador de Souto.

Outra família Gomes muito antiga é a do casal da Costa em S. Salvador do Souto. Parece
que descendem de Jorge Gomes da Costa, (filho de João Jorge da Costa?) casado em 1602
com Isabel Francisca, filha de Pedro Francisco do Reguengo. Integrantes desta família foram
padrinhos de filhos de nossos ancestrais, o que indica uma ligação entre eles. Mas por falta
de provas não podemos seguir essa nossa família ancestral para além de ca. 1590.
Francisco Gomes teve vários filhos com sua esposa Marta Francisca, da familia Francisco do
casal do Paço. Entre eles, nossa Catarina Gomes, nascida por volta de 1610 e casada por
volta de 1630 com Salvador de Freitas. Estes viveram no Paço e no lugar Soutelinho de
baixo, onde também viveram outros parentes seus. Catarina faleceu em 14 de junho de 1659
em Santa Maria de Souto, Salvador de Freitas faleceu mais tarde, mas como os registros não
estão completos,
não achei seu óbito.

Registro de Batismo de
Gonçalo Gomes em Sta
Maria de Souto em 1635

Entrada atual do casal


do Barreiro em Santa
Maria de Souto –
residência dos Gomes no
século XVI

236
Registro de óbito de Francisco Gomes em Santa
Maria de Souto de 1648 designando seu genro Salva-
dor de Freitas como herdeiro

Entre os filhos de Salvador e Catari-


na está Gonçalo Gomes, nascido em
16 de abril de 1635 que se casaria
em 23 de maio de 1660 em Santo
Emilião com Felipa Francisca,
lavradora e filha de Manuel Francis-
co, caldeireiro e morador no lugar
de Vila Seca e Maria Francisca, de
Santo Emilião (casados em Santo
Emilião em 22 de Novembro de
1614). Maria foi filha do também
caldeireiro Antonio Francisco e sua
mulher Juliana Carvalho. Felipa
nasceu em 22 de janeiro de 1634 em
Santo Emilião. A familia se
estabelece em Redufe, um bairro de
Santo Emilião às margens do Rio
Ave. Eu presumo que os numerosos Gomes de Santo Emilião descendem em sua grande
maioria desta familia.
O registro de batismo de Felipa Francisca em Santo Emilião, ano de 1636

Abaixo: O casal do
Soutelinho em Santa Maria
do Souto, onde viveram
nossos ancestrais e seus
parentes por volta de
1630.

Ao lado: Registro de
casamento de Gonçalo
Gomes com Felipa Francisca
em Santo Emilião de 1660

237
Ao lado: Registro de óbito de
Gonçalo Gomes em 1670

O casal Gonçalo e Felipa teve


ao menos 6 filhos: Urbano,
Francisco, Matheus,
Jerônimo, Frutuoso e Anna.
Com a exceção de Frutuoso,
encontrei descendentes de
todos eles, que
aparentemente viveram em
sua grande maioria em
Redufe. Infelizmente Gonçalo falece cedo em 18 de janeiro de 1670 em Santo Emilião. Sua
esposa Felipa o sobreviveria por quase 50 anos, vindo a falecer apenas em 24 de Março de
1719.

Uma tia de Mateus, Isabel Gomes, casada em 1669 com Bento Rebelo, filho de Sebastião
Rebelo da quinta da Torre de Santa Maria do Souto, um parente dos Macedos, foi comadre
de Luzia de Macedo, uma irmã de nosso antepassado Bento de Macedo, que se casou com
Isabel Duarte da casa de Santo Tirso em S. Martinho do Campo. Luzia de Macedo se casou
com Domingos Fernandes, o Nobre,
e passou a viver por volta de 1670
na Vila Seca em Santo Emilião, de
onde veio Felipa Francisca. Eu posso
imaginar que as familias, amigas
como eram, arranjaram o casamento
do sobrinho de Isabel Gomes –
nosso antepassado Mateus Gomes
– com a sobrinha de Luzia de
Macedo – nossa antepassada Ma-
riana de Macedo, celebrado em
1691 em São Martinho do Campo. O
casal passou a viver no local de
Redufe em Santo Emilião.

238
Redufe em Santo Emilião

Redufe fica às margens do calmo rio Ave e do outro


lado da margem, ao nascente, está Gondomar (de
onde veio a nossa familia do Vale), ao sul está Santa
Maria de Souto (familia Gomes), mais ao sul ainda
está São Salvador de Souto (familia Macedo). Ao
norte está Campos (familia Duarte) e mais além está
Póvoa de Lanhoso (familia Araújo). E ao poente está
o morro de Briteiros, de onde vieram os Abreus e
onde estão as ruinas da antiquíssima Citânia de
Briteiros, uma das maiores cidades da idade do ferro
da Península Ibérica.

Toda a região respira história e dentro dela, estão


nossos antepassados. Aqui cada casa dessa época,
cada barranco, cada pedra que ainda está em seu
devido lugar original fazem parte de nossa história.

Abaixo: A igreja
paroquial de Santa
Maria de Souto
Acima: Raparigas
vestidas com o traje
típico local de Gondo-
mar, freguesia vizinha a
Santa Maria de Souto

239
Um casal antigo em ruinas em Santa Maria de Souto

Um inquérito paroquial de 1842 da freguesia de Santa Maria de Souto, mesmo tendo sido
feito mais tarde do que a época que estamos retratando, nos mostra um pouco de como era
essa região. Como a vida, os costumes e as tradições pouco devem ter mudado entre 1700 e
1800, vou repassar aqui alguns trechos:

Um retrato da época no exemplo de Santa Maria de Souto

Guimarães — Inquérito paroquial de 1842


Revista de Guimarães, n.º 108, 1998, pp. 571-576

1º Ao primeiro digo que a posição é elevada e dista da vila de Guimarães légua e meia e de Braga 3
léguas. Tem um monte do qual se descobre até Santa Marta que fica confrontando com a cidade de
Braga. Este monte abunda pouco em matos por ser muito cheio de pedras miúdas e torga; esta pedra
não tem mais utilidade que para fazer alguma tapada.

2º O clima é temperado, apesar de que o vento norte faz bastante prejuízo, alguns anos, nos frutos,
principalmente o pão quando está para espigar e o vinho quando nasce, e depois quando está para
amadurecer, por isso não deixa de fazer grande estrago em ambos os frutos.

3º É mais comprida que larga, tem no maior comprimento do Nascente ao Poente mais de meio quarto
de légua, digo um
quarto de légua,
de largura meio
quarto e nunca foi
reunida.

Foto antiga com


habitantes de uma
casa rural em
Gondomar

240
Uma junta de bois em uma fotografia antiga de Gondomar, freguesia vizinha a Santa Maria de Souto

4º Confronta pelo Norte com o Salvador do Mosteiro de Souto, pelo Nascente com S. Miguel de Gonça,
pelo Sul com S. Martinho de Gondomar, pelo Poente com Santo Estêvão de Briteiros do qual dista meia
légua, e passa o Rio Ave pelo meio. Dista de S. Miguel de Gonça mais de meia légua, tudo monte, e de
S. Martinho de Gondomar dista meia légua, igualmente tudo monte; do Salvador do Mosteiro de Souto
dista meio quarto de légua.

5º Não tem vilas nem cidades consideráveis, antes a população é espalhada por toda a freguesia, e cada
casa tem a sua d(en)ominação, como se fez menção no mapa junto.

6º Respondo com o mapa da população pela razão dada sem especificar os lugares e sua respectiva
população por lugares e aldeia pela razão dada no mesmo mapa.

7º Os animais são quase usuais pela província, bois castrados quase todos de raça de Barroso, pontas
grandes, cor castanha; há alguns a que vulgo chamam galegos, estes quase todos são vermelhos,
pontas pequenas, algumas éguas de fraca raça e pequenas, algumas ovelhas pretas e outras brancas, lã
grossa, todas elas de fraca raça. Há o Rio Ave que separa a freguesia de Santo Estêvão de Briteiros, e
tem uma ponte chamada de Donim, é de pedra e arcos, muito alta. Não tem grandes peixes, apenas
algum barbo, bogas, alguma truta; tem pequenos poços, tem uma azenha que anda todo o ano; há um
ribeiro que tem alguns moinhos, mas só trabalham de Inverno, de Verão falta-lhe a água e mesmo é
muito necessária para a produção do pão. Tem bastantes carvalhos, castanheiros, em soutos poucos;
mas bastantes pelos cam-
pos para ter mão nas vides
e criar madeira. Produz
pêras de toda a casta, que
se enxertam; o mesmo
maçãs, ameixas, figos,
laranja. Tem alguns
pinheiros mansos, mas
poucos.

Uma azenha (moinho) no rio


Ave (Gondomar)

241
A juventude em trajes típicos na década de
30 em Gondomar

As ervas que se criam para sustento


dos animais são erva molar e
castelhana. Erva medicinais é natural
que haja as que produz a província
pelos campos e prados; tem amieiros,
choupos, freixos, salgueiros. Há a mar-
cela, violeta, bardana.
Os frutos usuais: milho grosso, centeio,
feijão de diferentes qualidades, milho
miúdo, painço, mas o mais usual é
feijão rajado amarelo que se não
abraça no milho entre o qual se semeia.
O sustento é milho grosso, feijão com
couve galega, alguma sardinha,
bacalhau nos dias de maior serviço,
alguma carne de porco nos lavradores
mais abastados; produz toda a
qualidade de hortaliça mas disso há
pouca curiosidade. Também produz
batatas e o seu uso vai-se aumentando.
O pão e o vinho não chegam para o
consumo da freguesia, talvez uns anos
por outros haverá mil quatrocentos e
dezoito alqueires, vinho oitocentos e
onze almudes; centeio duzentos e setenta alqueires; feijões cinquenta alqueires; milho miúdo painço
aqui não produz nada.
O vestuário em dias de trabalho no Verão é bragal
grosso, no Inverno saragoça; nos dias santos
vestem sua roupa de pano, socos de pau.
A caça aqui é perdiz muito rara, coelho e lebre e
rola, e é livre menos nos meses de criação.
O terreno é todo pedregoso e pedra miúda que
não tem mais utilidade que para fazer valados.
As nogueiras produzem pouco e as figueiras o
mesmo, não têm os figos aquela doçura que têm
os das províncias mais quentes apesar de ter pouco
fundo a terra e tem poucas águas para regar.
8º Ao 8.º digo que sempre foi comarca e termo de
Guimarães e arcebispado de Braga; paga décimas e
sisa dos vinhos e real de água do vinho vendido à
canada ou quartilho, subsídio literário 5 réis por
cada almude, e a câmara recebe os foros do monte
e de algumas casas, o Pároco sustenta-se dos
passais, primícias, pé de altar, e alguns foros e
alguns anos uma pequena derrama, porque aqui
não pagam ofertas por uma sentença que
alcançaram contra o pároco.

Uma mulher em traje típico da região do Minho.

242
Muro e entrada da quinta do Barral em São Salvador do Souto

9º Não há edifícios notáveis nem vínculos, nem fidalgos nem bacharéis nem conventos nem
estabelecimento militar ou literário

10º Este já fiz menção dele no nº 7, respeito aos moinhos e ribeiros.

11º Passa aqui a estrada real que vem de Guimarães para a Póvoa de Lanhoso; não tem matos, pinhais,
nem serras; o terreno inculto é muito e por isso mais que o cultivado, mas não pode ser melhorado por
causa de ser tudo pedra miúda pelo meio, por isso não se pode pôr carvalhos e também para se
conservar algum que nasce pelo meio dela e também para aproveitar algum tojo que é bem necessário
para o estrume e por haver falta grande de matos e lenhas. 12º Como no Verão falta a água aos
moinhos, vai-se moer às azenhas do Rio Ave, à distância de 1 quarto de légua e algumas vezes mais de
quarto e meio; de Inverno tudo aqui são fontes e de Verão não há com que regar os milhos e alguns
chegam a secar. Não há águas minerais nem lagos.

13º A cultura é milho grosso, algum centeio, feijão, junto


com milho grosso; empregam charrua para o milho, e
arados mais leves para o centeio; usam para sachar de
sacholas e sachos, e quando é necessário fundar mais
para plantar alguma árvore ou remover pedra que se
descobre, usam de alvião que também usam quando
arrancam pedra ou reduzem de novo à cultura alguma
terra; os estrumes são compostos de matos e folhas de
árvores, rapam dos valados apodrecidos com as urinas
dos animais e seus excrementos e das palhas que
sobejam das comidas dos mesmos animais.

A secular „Torre da Mota“, antigo solar da família Mota na


freguesia de Campos, que pertenceu por volta de 1600 à
família Coelho de Vasconcelos (Mota), que foram amigos,
compadres e talvez até mesmo parentes de nossa família
Lopes Veloso, moradora do Vilar de S. Martinho do Campo,
ancestrais dos Araújo (ver página 335). Esta família
Vasconcelos (e os Lopes Prego) também teve uma forte
ligação com nossa família ancestral dos do Vale de Gondo-
mar por volta de 1600-1620 (ver página 249).

243
A igreja matriz de
Santa Maria de
Souto.

14º Não tem feira


no seu limite, mas
vão a Guimarães
todos os sábados
e a Braga todas as
terças-feiras, e à
Póvoa de Lanhoso
todas as quintas; a
terra é de cor
loura e negra e
outra cor de
barro; as feiras são
de pão, galinhas e
porcos, pano de linho, linha e também algum mercados; o preço do pão é regulado pela medida de
Guimarães; neste ano tem sido 480 réis até 500 réis.

15º Há aqui oficiais de serralheiros, 3 vendeiros, 2 moleiros, 2 sapateiros. Todos os mais são jornaleiros,
seu jornal é de 60 réis a sachar 1 quarto de pão; a vindimar 80 réis; os lavradores proprietários só 6,
estes mesmos empenhados; os caseiros 20. Também se cultiva linho galego, cada um para o seu uso;
ignora-se o princípio ou origem da freguesia; não tem romarias, apenas tem em dia de São Bartolomeu
uma pequena festa na capela de Nossa Senhora dos Anjos, e só concorre a ela alguma gente da
freguesia; isto poderá durar 2 horas pouco mais ou menos e não divertimentos alguns é tudo gente da
lavoura. As doenças são como nas mais partes; em nenhum se tem feito notável por viver
extraordinariamente, é de 60 até 70 anos; as criações do gado é muito pouca por haver pouca erva; são
muito poucos os lavradores que têm sua vaca para criar; vai a algum carreto de pão e vinho às
freguesias vizinhas para Guimarães; as abelhas não [ilegível] antes têm diminuído apesar de haver
poucas.

16º A igreja é de invocação de Nossa Senhora do Ó, terá oitenta anos o corpo da igreja, mas a capela-
mor é muito mais antiga. Está arruinada. É suficiente para a população da freguesia. Era abadia da coroa.
No tempo dos dízimos renderia 255$000 até 400$000, mas a terça era para a patriarcal; renderia de pão
1418 alqueires, centeio 270 alqueires, feijão 50 ditos, vinho 811 almudes. Tem uma só Irmandade e é do
Santíssimo Sacramento, o seu fundo dinheiro rendível é de
1107$814, não rendível 486$419; com o rendível se fazem as
despesas de cada Irmão que morre, 5$400, um ofício por vivos e
defuntos cada ano, 3400 missas da reforma todos os meses, azeite
para a lâmpada, cera, despesa com o procurador, quando se move
algum litígio, tudo isto absorve o rendimento, ou uns anos por
outros anda a despesa com o rendimento. A residência é próxima
à igreja, está muito arruinada, não tem jubileus, nem sepulcro,
nem painéis que se possam notar, as suas imagens são ordinárias,
o número dos Irmãos é quarenta e dois, pouco mais ou menos. É o
que pude descobrir para responder ao interrogatório. E se me
permitissem, a falta da história natural seria mais extensa nos seus
artigos, que somente serão bem averiguados quando algum sábio
nesta faculdade viajar para examinar o reino.

Santa Maria de Souto, 21 de Maio de 1842


O pároco Manoel Joaquim Roiz

Página do inquérito
paroquial de 1758 de
244 Santa Maria de Souto
A igreja paroquial de São Martinho do Campo

Bento Gomes de Macedo e Teresa Rodrigues do Vale


Mateus Gomes e Mariana de Macedo, como vimos, se casaram em 1691 e tiveram ao
menos cinco filhos: Antônia, Jerônimo, Bento, Gregório e Antônio. Nosso antepassado Bento
Gomes de Macedo, nascido em 16 de setembro de 1705 em Santo Emilião, teve como
padrinho de batismo seu tio materno Bento de Macedo Júnior, proprietário da casa de Santo
Tirso e casado com Mariana Fernandes. Como o irmão mais velho de Bento, o Jerônimo
Gomes de Macedo deve ter herdado a casa dos pais Mateus e Mariana em Redufe, e como o
tio Bento de Macedo de Santo Tirso não teve descendentes, nosso antepassado passou para
a casa do tio que acabou por receber de herança.

O batismo de Antônio, filho de Mariana de Macedo. Ela viria a falecer 6 dias após o parto.

245
Lukas Pfeiffer Novelli
em Santo Tirso

A mãe Mariana de Macedo faleceu em


Redufe em 14 de abril de 1713, apenas 6
dias depois de dar a luz a um filho que
foi batizado de Antônio. Pode ser que foi
nesta ocasião que o filho Bento Gomes
de Macedo, com apenas 7 anos e meio
de idade, passou para a casa do tio
Bento em Santo Tirso, onde foi criado.
O primogênito Jerônimo Gomes de
Macedo continua em Redufe onde se
casa em 1719 com Domingas do Vale,
que eu presumo ser parente de Teresa
Rodrigues do Vale de Gondomar, a
esposa de nosso antepassado Bento
Gomes de Macedo, sobre o qual
veremos a seguir. Jerônimo e Domingas
terão vários filhos que irão ter o
sobrenomes „do Vale“ e „Gomes do
Vale“.

BENTO GOMES DE MACEDO


Bento Gomes de Macedo nasceu em 16 de Setembro de 1705 em Santo Emilião e faleceu
em 12 de dezembro de 1785 em São Martinho do Campo. Foi Senhor da casa de Santo
Tirso, freguesia de Campo, que herdou de seu tio materno Bento de Macedo Júnior, casado
com Mariana Fernandes. Encontrei o testamento da tia Mariana Fernandes de 1749 onde ela,
já viúva, designa o sobrinho como herdeiro de suas posses.
Bento casou-se em 26 de Abril de 1733, em São Martinho de Gondomar, freguesia do
concelho de Guimarães com Teresa Rodrigues do Vale da casa da Silva, filha de Bento
Rodrigues da casa Eido de Baixo de
Gondomar, concelho de Guimarães e
de Mariana Fernandes do Vale, da casa
da Silva em Gondomar. Um tio-avô de
Teresa, Ignácio do Vale havia se casado
em 1647 com uma mulher de S.
Martinho do Campo e os laços entre as
duas freguesias vizinhas eram muitos.
Por exemplo, os padrinhos de Mariana
de Macedo, a mãe de Bento Gomes de
Macedo eram parentes distantes da
família do Vale de Gondomar.

Testamento de Mariana Fernandes em 1749-


1750, tia de Bento Gomes de Macedo
designando-o como herdeiro de Santo Tirso

246
Registro de casamento de Bento
Gomes de Macedo e Teresa
Rodrigues do Vale em Gondo-
mar em 1733

Bento Gomes de
Macedo e Teresa
Rodrigues do
Vale são de certo
modo divisores
de águas na
história da fami-
lia. Aos poucos
Portugal vai se
modificando e a
familia também,
se diversificando
em outras áreas
além da
agricultura e se
espalhando por Portugal e pelo mundo. Dos 11 filhos deste casal, alguns irão para Coimbra
dando início a uma linhagem própria, outros irão para o Brasil colônia e outros ficarão em
São Martinho do Campo. Três diferentes ramos se iniciam aqui dos quais certamente
descendem milhares e mais milhares de pessoas.

Aqui estão os descendentes de Bento Gomes de Macedo até aos seus netos.
Bento Gomes de Macedo 1705-1785 &1733 Teresa Rodrigues do Vale 1714-1797

1. Bento Rodrigues de Macedo 1734-1800/ &1769 Teresa Joaquina Angelica Freire


1.1. Joaquim Freire de Macedo 1771
1.1. Antônio Freire de Macedo 1773
1.1. Francisco José Freire de Macedo 1785-1828
1.1. Maria Leocádia Freire de Macedo
1.1. Catarina Freire de Macedo
1.1. Joaquim Freire de Macedo 1770-1771
1.1. Francisco Freire de Macedo 1775
1.1. Mariana Ermelinda Freire de Macedo 1776-1864
2. José Rodrigues de Macedo 1735-ca 1820
&1775 Mariana do Nascimento 1748
2.1. Thereza de Macedo e Almeida 1776
2.1. Mariana de Macedo e Almeida 1777
2.1. José de Macedo e Almeida 1778
2.1. José Rodrigues de Macedo e Almeida 1780
2.1. Anna de Macedo e Almeida 1781
2.1. Anna de Macedo e Almeida 1783
2.1. Angelica Albina de Macedo e Almeida 1784
2.1. Joaquim de Macedo e Almeida 1786
2.1. Caetano Rodrigues de Macedo 1789-1831
3. Maria Rodrigues de Macedo 1737-
&1763 Antonio Fernandes Vieira ca 1730-
3.1. Francisco (Rodrigues) Fernandes da Silva Macedo 1771
3.1. Antônio José Fernandes de Macedo 1777-1836/
3.1. Jerônimo Fernandes Da Silva Macedo 1778-1821
3.1. Bento José Fernandes Da Silva Macedo
3.1. Francisco Fernandes da Silva Macedo ca 1770
3.1. José Fernandes de Macedo ca 1780-
4. João Rodrigues de Macedo 1739-1807

A igreja de São Martinho 247


de Campo.
5. Marianna Josefa Rodrigues de Macedo 1741-
6. Antonio Rodrigues de Macedo 1744 &1766 Mariana
Clara Rosa Joaquina de Abreu 1747
6.1. Maria Rodrigues de Macedo 1767
6.1. Bento Rodrigues de Macedo 1768
6.1. José Rodrigues de Macedo 1770
6.1. Thereza Rodrigues de Macedo 1772
6.1. Mariana Rodrigues de Macedo 1775
6.1. Antonio Joaquim Rodrigues de Macedo 1778-/1854
6.1. José Rodrigues de Macedo 1788
7. Manoel José Rodrigues de Macedo 1746-
8. Francisco Rodrigues de Macedo (herdeiro de Sto.
Tirso) 1749-1799 & Ana Maria Vieira
8.1. Mariana Josefa Vieira de Macedo 1788-
8.1. Jerônimo Vieira de Macedo 1790- Árvore genealógica da família Rodrigues de
8.1. Custódio Vieira de Macedo 1791- Gondomar. Sobre esta família veremos mais no
8.1. Bento Vieira de Macedo 1793- próximo capítulo sobre os do Vale.
8.1. Rosa Maria Vieira de Macedo
8.1. Maria Joaquina de Macedo
9. Antonia Rodrigues de Macedo 1752-1797 &1777/ ? ?
10. padre Custodio Rodrigues de Macedo 1754-1826/
11. Maria Teresa Rodrigues de Macedo ca 1760- &1787 Manoel José Ferreira
11.1. Custódio José Ferreira 1792-

Registro de óbito de
Bento Gomes de
Macedo do dia 12 de
Dezembro de 1785 em
São Martinho do
Campo. Recebeu 50
missas. Teve de alma
de cabeceira inteira
na forma do costume
da freguesia (e) está
sepultado dentro da
igreja em hábito de S.
Domingos…“

Registro de óbito de Tereza


Rodrigues do Vale que faleceu no
dia 23 de Novembro de 1797 em
São Martinho do Campo: „… tem
bem d´alma de cabeceira inteira
na forma de uso da freguesia …“
o que significa que recebeu as
honras de chefe de família no seu
velório e sepultamento.

248
A casa dos Peixotos na Quinta da Pousada em
Os do Vale de Gondomar S. Pedro Azurém, concelho de Guimarães.

Nossa ancestral Teresa Rodrigues do Vale nasceu no dia 14 de outubro de 1714 na casa da Silva
em S. Martinho de Gondomar, concelho de Guimarães. Sua familia materna vivia naquele
momento fazia pelo menos 100 anos e quatro gerações na casa da Silva. Antes de nos
aprofundarmos na genealogia da família do Vale e Peixoto, vamos ver primeiro o que
encontramos sobre a casa da Silva de Gondomar.
A casa da Silva de Gondomar
O lugar da Silva é muito antigo e aparece desde o início nos registros paroquiais já no final do
século XVI, sendo provavelmente de origem medieval. Em 1595 é testemunha na freguesia vizinha
de S. Torcato Bastião Gonçalves „da Silva“ de Gondomar. Este Sebastião Gonçalves deve ter
nascido por volta de 1540 e podemos vê-lo como o morador da casa da Silva por volta de 1560 a
1598. Em 1596 faleceu em Gondomar Isabel Gonçalves, solteira, irmã de Bastião Gonçalves da
Silva, deixou como sua herdeira sua sobrinha Apolonia Gonçalves. Quando Bastião Gonçalves da
Silva faleceu em 1598, deixou como testamenteiro seu genro João Afonso e sua filha Apolonia
Gonçalves, que seguiram como os moradores da Silva. Nós descendemos desta família Afonso
(eles foram
bisavós paternos
de Bento Rodri-
gues, o pai de
Teresa do Vale)
que é muito
antiga e poderia
ser que João

Foto de uma casa muito antiga


na Rua Silva em Gondomar a
qual desconfio ser249
ou fazer
parte da Casa da Silva.
O casamento de Simão Afonso (o pai)
com Catarina Gonçalves em 1634 em
Sto. Emilião, Póvoa de Lanhoso.

Afonso seja um irmão ou


primo de Miguel Afonso,
nascido por volta de 1555
e casado com Maria
Ribeira. Estes dois casais
Afonso foram compadres
de Simão de Meira,
padrinho de Maria, filha
de João Afonso, em 1598 e de Domingos, filho de Miguel
Afonso, em 1599. Este Simão de Meira foi filho de João de
Meira, o senhor da quinta e Torre da Mota em S. Martinho
do Campo (onde Simão de Meira faleceu em 1599) e
descendia da família dos Meiras da quinta de Poveiras de
S. Torcato, que eram descendentes dos do Vale Peixoto, o
que veremos mais em frente. Outro filho de Miguel
Affonso e Maria Ribeira. Pedro, nascido em 1609, teve
como padrinho Salvador Lopes Prego, que se casou com
uma irmã de Simão de Meira e que aparecerá mais
adiante com ligação à nossa família do Vale.

Em 11/07/1634 casaram em Santo Emilião, concelho de


Póvoa de Lanhoso, nossos ancestrais Catarina Gonçalves
de Vila Seca em Santo Emilião e Simão Afonso, filho do
casal acima citado, João Afonso e Apolonia Gonçalves,
moradores na Silva de Gondomar. Eu creio que Simão
Afonso recebeu seu nome Simão pouco comum em
homenagem àquele Simão de Meira. Ele deve ter sido
Ver árvore de Maria Rodrigues na página 248 batizado antes de iniciarem a série de registros de Gon-
domar em 1576, assim isso é só uma suposição (também
o outro casal Afonso, Miguel Affonso e Maria Ribeira tiveram um filho de nome Simão). Ao que
parece, os Afonso e Gonçalves ainda residiam na Silva até ca. 1640, mesmo os do Vale já estarem
então vivendo na casa da Silva. É presumível que o lugar da Silva tivesse mais do que uma só casa
e que os do Vale tivessem meieiros a seu serviço, podendo os Afonso terem efetuado esta função.
O filho de Simão Afonso e Catarina Gonçalves, Simão, se casou em 1665 para Gondomar com
Maria Rodrigues do Sabugueiro de cima de Gondomar. Foram os pais de Bento Rodrigues.

Visto que nesta época mais da metade de Gondomar parecia usar o apelido “Gonçalves”, não
podemos dizer se existe uma relação entre estes Gonçalves e nosso antepassado Domingos
Gonçalves, que deve ter nascido antes de 1575 e que se casou por volta de 1610 com Maria do
Vale que veremos a seguir. Domingos Gonçalves pode ser o homônimo mencionado em uma
escritura de 1597 entre os criados da casa de Jorge do Vale Vieira sobre o qual veremos mais em
frente. Esse casal aparece por volta de 1615 como morador da casa da Silva. O sobrenome
Gonçalves perde importância na sequência dos moradores da casa, visto que os descendentes de
Domingos e Maria herdaram o
sobrenome materno “do Vale”,
fato muito comum em Portu-
gal, quando uma familia se
sobrepunha em importância
sobre uma outra.

No centro e ao lado: As
árvores genealógicas de
250 Simão Afonso (filho), o pai de
Bento Rodrigues e de Mariana
Fernandes do Vale, que se
casou com Bento Rodrigues.
A lápide de D. Rodrigo Sanches, filho ilegítimo
Sobre a origem dos Vale Peixoto do rei D. Sancho I no Mosteiro de Grijó.

Desde cedo encontramos vários integrantes do clã dos Vale Peixoto em Gondomar e arredores. É
bom saber que os apelidos „do Vale“ e „Peixoto“ que muitas vezes aparecem juntos formando este
apelido composto, também aparecem sós, honrando ora os ancestrais de uma e ora da outra
família original. Mas nem todo portador do sobrenome Vale é Peixoto e nem todo Peixoto é Vale,
isto só ocorrendo dentro deste clã. Assim, era comum neste clã de um Peixoto dar o apelido do
Vale aos filhos, e vice versa. O clã dos Vale Peixoto surgiu por volta de 1480 com o casamento
entre João do Vale, escudeiro do Duque de Guimarães e Isabel Peixoto, neta de João Vasques
Peixoto, comendador da Faia. Este casal deixou grande descendência em Guimarães e região, da
qual também descendem várias famílias que veremos a seguir, que estavam relacionadas por
laços de parentesco e compadrinhamento com nossos do Vale de Gondomar.

Os do Vale
Ao contrário dos Peixotos, os quais se concentraram por séculos geograficamente em Guimarães,
é mais difícil seguir as pistas da família dos Vales. Segundo Felgueiras Gaio (Tomo XXVI, tit. Vales),
os Vales surgiram com Gonçalo Ruiz da Maia, cujo filho Fernão Gonçalves se casou com
Estevainha Martins, filha do cavaleiro Martim Sanches, também chamado Martim „Espada“, por
ter tomado a espada de um conde e que foi o primeiro a usar como armas as três espadas sobre
um „fundo de sangue“ (vermelho), mais tarde o brasão dos Vales. Tiveram como filho Pedro Fer-
nandes ou Pero do Vale que se casou com Maria Pires, filha de Pedro Esteves de Antas, o Sen-
hor do Paço de Antas (também conhecido como „Quintã do Paço Velho na Anta“, hoje na cidade
de Espinho em Aveiro, a menos de 20 quilômetros ao sul do Porto.

Desde cedo os do Vale foram patronos do Mosteiro de Grijó,


que fica a apenas cinco quilômetros de distância do Paço de
Antas. O cavaleiro Vasco Martins do Vale, filho de Martim
Pires do Vale e provavelmente neto daquele Pero do Vale, fez
testamento em 1349 legando sua Quintã do Paço Velho ao
mosteiro caso nenhum de seus descendentes sobreviver a
epidemia da peste negra que grassava então. Se algum
descendente sobreviveu, não sabemos, mas em 1364 „Rodrigo
Anes de Sá, João Madeira e outros, se haviam apossado de certas
propriedades no julgado da Feira, que haviam pertencido a
Vasco Martins do Vale, o que originou protestos do mosteiro de
Grijó. Mas, por um contrato celebrado entre Rodrigo Anes e João
Madeira, repartiram eles entre si as propriedades (era a quintã

As armas dos Vale no livro 251


„Armeiro Mor“ de 1509.
Presumível árvore genealógica de
João Martins do Vale seguindo os
dados do site Geneall.

do Paço Velho, depois chamada da Anta,


com todas as suas pertenças), ficando
consignado que o Sá pagaria à viúva de
Vasco Martins do Vale (Leonor Martins
Buval) as cinquenta libras de renda a que
era obrigado.“ (Fernando Moreira de Sá
Monteiro – „Os Sás - uma linhagem
medieval portuguesa“)

O pai de Leonor Martins Buval (também


escrito Bural e Bubal), Lourenço Martins
de Sela Buval fôra cavaleiro vassalo do
infante D. Pedro quando este entrou em
guerra contra seu pai, o rei D. Afonso IV
em 1355. Ele é listado no tratado de paz
deste ano, junto com o também cavaleiro
e vassalo do infante D. Pedro João Afonso
do Vale, então alcaide de Guimarães. A
partir deste ponto existem informações
que diferem umas das outras. Eu segui a linhagem genealógica existente no site Geneall, pelo fato
de que neste site estão muitos genealogistas sérios. Mas mesmo assim é difícil seguir a linhagem
dos do Vale até João Martins do Vale, escudeiro do Duque de Guimarães, nascido por volta de
1450 e casado por volta de 1480 com Isabel Peixoto e que ao que parece descendeu da família
dos do Vale patronos de Grijó, fundamentando sua origem neste ramo (Felgueiras Gaio diz que
seu nome certo seria João Afonso do Vale, homônimo do alcaide de Guimarães que havia vivido
100 anos antes). Mas muitas opções não há, visto que a família sempre foi relativamente pequena.

Os Peixoto
Ao contrário dos do Vale, podemos seguir com relativa segurança a linhagem ancestral dos
Peixotos até a alta Idade Média. Silvia Pinto em sua obra „A Casa dos Peixotos, História e
Genealogia“ nos conta: „A Casa dos Peixotos, chamada frequentemente Casa de Pousada (por se
localizar na Quinta com o mesmo nome), está situada na freguesia de S. Pedro Azurém, concelho de
Guimarães. Edificação de meados do século XIII, apesar de ter espessas paredes que denunciam o
estilo românico, é referida como uma das primeiras edificações que manifestam caraterísticas do
estilo gótico na zona norte de Portugal (Machado, 1974: 5). Os traços referentes à arquitetura gótica
são visíveis em duas das janelas da casa, que se
encontram encimadas por arcos quebrados.

A casa pertencera a D. Fernando Afonso de


Toledo, filho natural de D. Afonso Henriques
(Machado, 1974: 11), mas só na quarta geração
surge o apelido “Peixoto”, com Gomes Viegas.
Participante na defesa do Castelo de Celorico da
Beira, que foi o autor de “um estrategema hábil,
com um peixe”, que originou o levantamento do
cerco feito ao castelo em questão e também a
alcunha que apelidou os seus descendentes. Desta
forma, foi amavelmente apelidado pelo Conde de
Bolonha (Afonso II) por Peixão ou Peixoto.

As armas dos Peixotos sobre


252 uma janela na Casa da
Pousada em S. Pedro Azurém.
A casa dos Peixotos já restaurada.
Quinta da Pousada em S. Pedro Azurém,
concelho de Guimarães.

No entanto, só duas gerações à frente, a quin-


ta é instituída como um dos vínculos do
Morgado dos Peixotos, por Gonçalo
Gonçalves Peixoto, que a herdou por via de
sua mãe. Gonçalo Gonçalves foi um dos filhos
de Gonçalo Gomes Peixoto e D. Ausenda
Anes de Guimarães. Com importante
presença no que toca à religião, foi “cónego da
Sé de Braga e da Colegiada de Guimarães,
abade de Telões e de Vila Cova, benfeitor do
Convento de S. Domingos de Guimarães,
abade de Unhão, raçoeiro dos Mosteiro de S.
Gens” (Nóbrega, 1973: 21).

O processo de instituição do Morgado


encontra-se no seu testamento, escrito a 28 de
maio de 1340, na casa onde morava,
localizada na Rua de Santa Maria
(provavelmente a famosa „Casa do Arco“ em
Guimarães, minha nota). O instituidor da casa
teve seis filhos: Gomes Gonçalves Peixoto e
Teresa Gonçalves, filhos de Maior Airas,
Vasco e Rui Gonçalves Peixoto, de Clara Martins, existe ainda a referência no seu testamento de um
filho de Maria Gonçalves, cujo nome é desconhecido, e de outra filha, chamada Durança Gonçalves,
não referindo o nome de sua mãe. No entanto, a vontade de deixar a herança referente ao Morgado
para Gomes Gonçalves Peixoto é evidenciada no seu testamento pois afirmara que “(…) como dos
outros herdamentos que hj sam e mando que soçesam que a tenha gomez gonçalluez ffilho de moor
airas em toda a sua vjda e que elle posa escolher outro que a tenha depôs de sa morte (…)”

Citando aqui uma transcrição dactilografada das páginas 115 e 116 da obra: PEIXOTO, Afrânio –
Viagens na minha terra. p. 115-116, podemos ler a lenda de como surgiu o apelido:
„Sobre o estratagema em questão, sabe-se que o cerco do castelo foi colocado pelo Rei D. Afonso II
de Castela em 1246, porque D. Fernando Rodrigues Pacheco
(fiel a D. Sancho II) se recusou a ceder-lhe o seu cargo de
alcaide-mor. Ao colocar o cerco, o rei pensara que seria
apenas uma questão de tempo para ter a posse do mesmo,
pois os mantimentos iriam, mais cedo ao mais tarde, acabar.
D. Fernando, preocupado em relação à fome que poderiam
passar, enquanto pensara numa solução, viu uma águia a
sobrevoar o castelo com uma truta que deixara cair no cimo
do mesmo. Dado isto, ele mandou alguém ir buscar a truta
(“deliciosamente preparada”: Nóbrega, 1973:13) e também o
melhor pão e vinho que tivessem. Isto seria oferecido a
Afonso II, sendo-lhe dito que existiam mantimentos
suficientes e que este podia fazer durar o cerco os dias que
quisesse. O rei de Castela ao ver que todo o seu esforço seria
em vão decide levantar o cerco do castelo. Este esquema,
como é afirmado no texto, foi da autoria de Gomes Viegas,
sendo isto desvendado em meados do século XVII.“.

253
Pergaminho de 1302 com a linhagem
dos Peixoto da Casa da Pousada.

O Morgado dos Peixotos segue sendo administrado


pelo filho de Gomes Gonçalves Peixoto, Gil Gomes
Peixoto, que por falta de descendêntes passa o
morgado a seu irmão, nosso ancestral Vasco Gomes
Peixoto, casado em primeiras núpcias com com
Maria Ayres. Eles tiveram o filho Gonçalo Vasques
Peixoto que segue abaixo. Em segundas núpcias
Vasco Gomes Peixoto se casou com Maria Nicolas
com a qual teve o filho Rui Vasques Peixoto do qual também descendemos, pois seu neto Jorge
Peixoto do Carvalho passou por volta de 1510 para a ilha de Faial nos Açores devido a um crime
cometido no reino. Ele foi um ancestral de Manoel da Silveira Peixoto que passou por volta de
1720 para Minas Gerais no Brasil (ver árvore na página 387 e texto na página 393).
Gonçalo Vasque Peixoto foi Comendador da Faia na Ordem de Malta. Foi Cavaleiro de Malta na
ilha de Rodes. Como Maltês, adotou o nome de João Vaz Peixoto. Ele residiu na freguesia de
Moura Morta. Não se casou, mas teve filhos naturais com „sua amiga" Catharina Domingues.
Sobre a sucessão do Morgado dos Peixotos lemos no trabalho „A Casa dos Peixotos“:
„Apesar das dúvidas existentes em relação a João Vasques Peixoto, sabe-se que este desiste da posse da
casa de Pousada depois de “servir a Deos na guerra contra os Turcos” não possuindo as melhores
condições de saúde, pois “(…) jazia em cama doente de dor de gota que avja anos e tempos que sse nom
levantava (…)” (Moraes, 2001: 370). Assim, o morgado é transferido para seu irmão Rui Vasques Peixoto,
como comprova a Certidão do Instrom[en]to de Posse, que/ tomou Ruy Vasques Peixoto da quinta/ de
Pousada, por desistência que nelle/ fez seu irmão João Vasques Peixoto/ comendador que foi da Faya no
Anno/ de 1451(…)”. Rui Vasques Peixoto por sua vez transmite o senhorio a Álvaro Vaz Peixoto, filho
primogénito, legitimado por D. Afonso V, em 1453, escudeiro fidalgo e participante nas guerras contra
Castela (Moraes, 2001: 375-376).“
Nossa ancestral Isabel Peixoto é filha de Violante Vasques Peixoto
com Martim Esteves Barbato e neta daquele Gonçalo Vasques
Peixoto. Ela se casou por volta de 1480 com o já citado escudeiro João
Martins do Vale com o qual teve vários filhos. Destes filhos
descendem várias linhagens dos do Vale e Peixoto, que como já disse
aparecerão no círculo social e de compadrinhamento de nossos do Vale
de Gondomar, fato que faz seguro de que descendemos deste casal.
Pelo fato da existência de laços mais estreitos entre um ramo dos Vale
de Guimarães com os dos Meira Peixoto da Quinta de Poveiras em S.
Torcato e dos Vale Vieira de Guimarães e S. Salvador de Briteiros, é
quase certo de que nossa ancestral Maria do Vale, nascida por volta de
1570 e casada com Domingos Gonçalves (possivelmente aquele criado
de Jorge do Vale Vieira) descenda de um destes três ramos.
Abaixo: um aparte dos descendêntes de João Martins do Vale e de Isabel Peixoto com
algumas pessoas que aparecem como padrinhos e testemunhas de nossos do Vale.

As armas dos Peixoto no livro „Armeiro Mor“.

254
Foto acima: Vista da quinta do Paço em São Salvador de
Os do Vale em Gondomar Briteiros, onde viveram descendentes dos do Vale Peixoto a
partir de 1602, entre eles nossa ancestral Maria doVale.

Um neto de João do Vale e de Isabel Peixoto, filho de Filipa do Vale Peixoto e de Pedro de
Carvalhais, o Dr. João do Vale Peixoto, nascido por volta de 1515 e ouvidor dos órfãos em
Braga, parece já bem cedo ter tido relações com a região de Gondomar, visto que um criado seu,
Gaspar de Neiva foi testemunha em um documento do Mosteiro do Souto em 1543. Ele foi o avô
de Maria Nunes de Carvalho, casada com seu primo Salvador de Meira Peixoto que veremos
mais adiante.
Um filho deste Dr. João do Vale Peixoto com sua mulher Camila Vieira de Carvalho, o Dr.
Bartolomeu do Vale Vieira, nascido por volta de 1555, provavelmente em Guimarães, foi arcediago
de Fontarcada em Póvoa de Lanhoso, próximo a Gondomar. Ele possuiu várias casas nas
redondezas, por exemplo em Gonça e São Torcato, freguesias vizinhas de Gondomar. Encontra-se
vários documentos dele relativos à disputas sobre os direitos de água nessa área por volta de
1590-1595 citando também seu procurador e irmão Jorge do Vale Vieira, cavaleiro da Ordem de
Cristo (com alvará de 1596) que já vimos como tendo um criado chamado Domingos Gonçalves.
Este Jorge do Vale Vieira comprou em 1602 a Quinta do Paço em São Salvador de Briteiros,
concelho de Guimarães, de Lopo Gomes de Abreu (ver página 219). O padre vimaranense Torcato
Peixoto de Azevedo nota o seguinte: «o Dr. Jorge Vieira, desembargador da relação eclesiástica de
Braga, e provido na Igreja de São Paio, de Riba Vizela pelo arcebispo D. Frei Agostinho de Jesus,
instituiu mor-
Um provável enquadramento de nossos
do Vale com Branca e Catarina do Vale gado na quinta
de Briteiros, a
quem anexou o
couto de
Pedraído com
outras rendas, e
o nomeou em
seu irmão Fran-

255
Registro de batismo de Catarina do Vale,
filha de Maria do Vale e de Domingos
Gonçalves da Quinta do Paço em Briteiros.

cisco Vieira de Andrade, é


administrador Pedro Ribeiro de
Vasconcelos descendente do dito,
que mora na dita quinta de Briteiros,
na freguesia do Salvador, termo
desta vila e tem casas nobres» (Aze-
vedo: 2000, p. 366).
Em maio de 1608 (infelizmente os
registros paroquiais de São Salvador de Briteiros só iniciam em 1607) já encontramos nossa
ancestral Maria do Vale, mulher de Domingos Gonçalves „da quinta“ (do Paço) como madrinha
de uma criança. Em 1609 nasce uma filha do casal, Catarina, que recebeu como madrinha Branca
do Vale, viuva moradora na Rua de Santa Luzia em Guimarães (Hoje Rua Francisco Agra). Esta
Branca do Vale nos dá mais uma pista com a qual podemos relacionar nossos do Vale com um
ramo específico da família do Vale de Guimarães. Branca foi casada com Frutuoso Gomes e foi
filha do serralheiro Paulo Gomes e Isabel do Vale, natos por volta de 1530 e moradores na Rua
de Santa Luzia. O conceituado genealogista vimaranense Rui Faria acrescenta sobre esta
família: „Embora decaída socialmente esta linhagem dos Vale nunca foi abandonada pelo tronco
principal, desta realidade constitui prova inequívoca a doação que o Senhor Bartolomeu do Vale fez
no dote de Branca do Vale para casar com Frutuoso Gomes, datado de 1587. Neste documento os
pais da esposada prometeram-lhe «(...) dar cinquenta mil reais os quais ele esposado já recebeu
antes de se receber com sua mulher os quais cinquenta mil reais disseram eles dotadores que o
senhor Bartolomeu do Vale lhos dá a eles esposados em dote e casamento e lhes faz mercê deles
(...)». Embora não se declare qualquer grau de parentesco entre dotador e dotados, este torna-se
quase implícito se considerarmos as relações de apadrinhamento no seio da geração.“
Uma irmã de Branca, Catarina do Vale, casada com o ferreiro Baltasar Gonçalves, teve vários
filhos entre 1584 e 1603 que tiveram integrantes das famílias do Vale Vieira e dos Meira Peixoto
como padrinhos, realçando a rede de parentesco entre estes três ramos dos Vale Peixoto.
Em 1610 nasce Maria, mais uma filha de nossos ancestrais Maria do Vale e Domingos (padrinhos:
Francisco Gomes de Lisboa e Maria Fernandes, mulher de Jeronimo Gonçalves do Canto de
Caldelas) e em 1612 nasce o filho Miguel (padrinhos: Pero João e Isabel Marques, mulher de
Sebastião Rodrigues de Sande). A partir deste momento eles não aparecem mais nos registros
paroquiais de Briteiros, tendo provavelmente mudado por volta de 1615 para Gondomar.
Vejamos a seguir algumas aparições dos descendentes dos Vale Peixoto em Gondomar: Em 1588
a metado do casal do Assento de Gondomar, localizado ao lado da igreja matriz e que hoje
encontra-se em ruínas, estava emprazada ao Licenciado Simão do Vale Peixoto, nascido por
volta de 1560 e que foi em 1595 corregedor no Lamego e a patir de 1596 corregedor e provedor
da comarca da cidade do Porto. Ele foi casado com Antonia de Faria Golias e foi filho de Catarina
do Vale Peixoto e neto da homônima Catarina do Vale Peixoto, uma irmã de Filipa do Vale Peixoto
– que foram duas filhas de João do Vale e
Isabel Peixoto.

Ao lado: a Casa
do Assento em
Gondomar

256
A torre da quinta da Mota em S Martinho do Campo.

Como vimos, em 1599 aparece em Gondomar Simão de Meira, o padrinho da filha de João
Afonso, Maria, em 1598 e do filho de Miguel Afonso, Domingos, em 1599. Ele pode ter nascido
por volta de 1550 (Ele aparece várias vezes nos registros paroquiais de S. Martinho do Campo,
inclusive em batismos da família Duarte de Santo Tirso, ancestrais dos Macedos página 229). Ele
deve ter sido um filho ou um irmão mais novo de João de Meira, casado com Lucrecia Coelho de
Vasconcelos, senhora da quinta e torre da Mota em S. Martinho do Campo, irmão de Heitor de
Meira da quinta de Poveiras de S. Torcato que foi casado com Catarina do Vale Peixoto.

Heitor de Meira e Catarina do Vale Peixoto viveram em Guimarães e também na sua quinta de
Poveiras em S. Torcato. Eles tiveram vários filhos, entre eles o cavaleiro Salvador de Meira que foi
casado em 1600 com sua prima Maria Nunes de Carvalho (tiveram Jorge do Vale Vieira como
testemunha) que vimos na página 255. Em 1624 aparece Bastiana do Vale como madrinha de
Jerônima, filha de Anna Pereira de Gondomar. O padrinho foi Domingos Afonso, provavelmente o
filho de Miguel Affonso e Maria Ribeira que teve Simão de Meira como padrinho. Ambos,
madrinha e padrinho eram solteiros e fregueses de Gondomar. Sebastiana do Vale foi uma das
sete ou oito filhas de Salvador de Meira e Maria Nunes, ela refugiou-se na freguesia de Gondomar
(onde tinha parentes – provavelmente os nossos ancestrais) depois de desonrada pelo Senhor
Bernardo do Amaral, poderoso fidalgo. Esta foi mãe de, entre outros, o padre João do Vale
abade de Silvares, padrinho de nosso ancestral João do Vale da casa da Silva. Este padre e sua
filha Jeronima Peixoto estão presentes nos atos da nossa família do Vale de Gondomar.
Maria e Clara do Vale
Quando nossa ancestral Clara
do Vale (filha de Maria do Vale
e Domingos Gonçalves) foi
batizada em 25 de Agosto de
1619, então já no casal da Silva
em Gondomar, recebeu como
padrinho Salvador Lopes
Prego (que já vimos na página
250, por ser padrinho de um
filho de Miguel Afonso e Maria
Ribeira em Gondomar em
1609) e como madrinha Maria
Nunes de Carvalho a mulher
Registro de batismo de Clara do Vale, 25 de Agosto de 1619 – Gondomar.

257
de Salvador de Meira. Estas duas pessoas fazem mais uma ligação de nossa família a dois ramos
aparentados descendentes dos do Vale Peixoto.

Como já vimos, a madrinha Maria Nunes de Carvalho (que já mencionamos acima como neta do
Dr. João do Vale Peixoto) foi esposa e era ao mesmo tempo parente do cavaleiro Salvador de
Meira Peixoto da quinta de Poveiras na freguesia vizinha de São Torcato, Guimarães. Eles foram
os pais daquela Sebastiana do Vale que se refugiou na Casa da Silva de nossa ancestral
Maria do Vale, que era certamente uma prima e que deu abrigo a esta.

O padrinho de Clara, Salvador Lopes Prego de São Martinho do Campo (veja página 335) foi
casado em 1600 com Isabel Coelho de Vasconcelos, proprietária da casa e Torre da Mota em S.
Martinho do Campo. Isabel foi filha de João de Meira e de Lucrecia Coelho, que havia herdado a
quinta da Mota de sua mãe Felipa de Araújo (ver página 330). João de Meira foi senhor da quinta
de Poveiras em São Torcato e teve como irmão Heitor de Meira, casado com Catarina do Vale
Peixoto, que foram os pais de Salvador de Meira Peixoto, o esposo da madrinha de Clara do Vale.
Assim, Isabel Coelho de Vasconcelos e Salvador de Meira eram primos – e certamente parentes de
Maria do Vale.

Além disso o já citado


Licenciado Simão do Vale
Peixoto, que emprazou a
metade do casal do Assento
em 1588 foi um primo de
segundo grau de Salvador
de Meira Peixoto. Simão é
citado em Felgueiras Gaio,
entre outros no Titulo Vales,
§ 4°, N 8. O casal do Assento
passou mais tarde para a

Imagem acima: A igreja


de Gondomar. Ao lado:
258 A igreja de Nossa Senho-
ra da Oliveira em
Guimarães.
Duas hipóteses alternativas de descendência de Maria do Vale
a) ao lado: como uma sobrinha de Branca do Vale e
b) abaixo: como filha ou sobrinha de Jorge do Vale Vieira –
sendo assim também descendente de João do Vale Peixoto.

família dos Vasconcelos, senhores da


Mota, em São Martinho do Campo,
descendentes de Salvador Lopes Prego e
de Isabel Coelho de Vasconcelos.

Os Meiras são citados em Felgueiras Gaio


no Titulo Meiras, § 1°, N 8 e § 2°, N 9. Duas
tias de Salvador de Meira Peixoto, Ilena de
Meira e Maria de Meira instutuiram em
1616 um morgado em Poveiras junto com
o casal da Bouça de S. Torcato que
deveriam sempre passar para as „fêmeas“
da família Meira.

Em vários casamentos entre 1600 e 1610


na igreja de Nossa Senhora da Oliveira (do
Castelo) na Vila de Guimarães
encontramos como testemunhas este
cónego Cosme de Meira além de Salva-
dor de Meira, Heitor de Meira, Baltazar de Meira, Jorge do Vale Vieira, L.do Simão do Vale, e
André Afonso Peixoto (o primeiro historiador de Guimarães, falecido em 1642). Estes nomes
aparecem muitas vezes juntos, evidenciando fazer parte de um grupo distinto nesta
cidade.

Rui Faria acha muito provável que nossa linha dos do Vale descende da família de Branca
do Vale, a da Rua de Santa Luzia em Guimarães, talvez de sua irmã Catarina do Vale. Aqui um
extrato de nossa correspondência: „Perante este cenário ganha mais força ou uma qualquer
ilegitimidade da “sua” Maria do Vale ou, sendo de família legítima
dos Vale, descende de um ramo de oficiais mecânicos do mesmo
nível social de Branca do Vale. Neste sentido está bem
posicionado o casal Baltazar Gonçalves e Catarina do Vale pese
embora não se lhe identifique o batismo de nenhuma Maria o que
não obstará pois sabemos que há época os párocos eram
demasiado relapsos e falharam registos. Catarina do Vale era
irmã inteira de Branca do Vale. Haverá ainda a hipótese de existir
um outro irmão/irmã não identificado de Branca do Vale e Cata-
rina do Vale que possa ser o pai de Maria do Vale, sua ascendente,
sendo estas suas tias.“

Em 1632 é celebrado em Gondomar o casamento de Maria do


Vale a filha de Maria do Vale e Domingos Gonçalves que foi
batizada em Briteiros em 1610, casando-se com Gonçalo Francis-
co. Moraram no lugar do Sabugueiro em Gondomar. E houve
além do já mencionado irmão Miguel do Vale mais um varão
que muito provavelmente foi filho de Maria do Vale e Domin-

Batismo de João do Vale em Gondomar em 1658 –


padrinho o vigário de Silvares, João do Vale.

259
O casamento
de Gonçalo
Gonçalves de
Santa Maria de
Souto com
Clara do Vale
em Gondomar
em 1648.

gos Gonçalves: Inácio do Vale, que aparece em 1634 como padrinho (per procura) no batismo de
seu sobrinho homônimo Inácio do Vale, filho de Maria do Vale (a filha) e Gonçalo Francisco, e que
se casou em 26 de Maio de 1647 em São Martinho do Campo, com Margarida Gonçalves tendo
como testemunha seu parente Eliseu Cardoso de Vasconcelos da Quinta da Mota. Além disso, o
filho de Sebastiana do Vale, o padre João do Vale, nas décadas de 1650 a 1680 vigário em
Silvares, Guimarães, também teve um relacionamento próximo ao nossos do Vale. Padre João foi
padrinho nosso ancestral João do Vale , filho de Clara do Vale, em Gondomar em 4 de Setembro
de 1658. Em um dote do ano de 1666 vemos que na „Rua Travessa (Guimarães) pousadas do
tabelião apareceram de uma parte Pedro Ribeiro viúvo morador no casal do Sabugueiro freguesia
de São Martinho de Gondomar e seu filho João Ribeiro de legítimo matrimónio entre ele e sua
mulher Jerónima Jorge defunta e da outra parte o padre João do Vale abade de Santa Maria de
Silvares e sua irmã Maria do Vale filha de Sebastiana do Vale“
No dia 10 de Janeiro de 1672 casaram em Gondomar Domingos Fernandes de Gondomar e
Jeronima Peixota, „filha do reverendo padre João do Vale vigario em Silvares e sua mãe Maria
solteira“. No registro de casamento ela está mencionada errôneamente como „Maria“ Peixota
sendo que em todos os outros registros ela é sempre „Jeronima“. Testemunha deste casamento
foi nosso ancestral Gonçalo Gonçalves, esposo de Clara do Vale. Jeronima Peixoto e Domingos
Fernandes, a partir de então moradores no lugar da Goiva em Gondomar, tiveram ao menos seis
filhos, alguns dos quais tiveram como padrinhos os do Vale da casa da Silva. A filha Esperança do
Vale, nascida em 1684, se casa em Gondomar em 1700 com Miguel Fernandes. Eles emprazaram o
casal das Quintaes de Sande, foreiro a Fonte Arcada em Gondomar em 1707.
Nossa ancestral Clara do Vale, a filha de Domingos Gonçalves e Maria do Vale, herdou a Casa da
Silva de seus pais e se casou em 25 de Julho de 1648, Gondomar com Gonçalo Gonçalves, vindo
de Santa Maria de Souto, talvez filho de Marta Gonçalves do casal da Bouça (ele tinha em 1669
uma irmã, Jeronima Jorge, que vivia no casal da Murteira em Longos, Guimarães). Suas
testemunhas foram João do Vale da vila de Guimarães (talvez o padre, então ainda estudante) e
Diogo Leite de Azevedo, filho do já citado Jorge do Vale Vieira (ou Peixoto) proprietário da
Quinta do Paço em Briteiros. Diogo havia herdado o prazo da casa da Silva de seu pai, que já
vimos acima entre as testemunhas em Guimarães (sobre ele ver Gaio, Tit. Macedos, § 27°, N. 14).
Jorge do Vale Vieira e seu irmão Dr.
Bartolomeu do Vale Vieira, cabido de
Nossa Senhora da Oliveira em
Guimarães, concelheiro do Rei e
arcediago de Fontarcada parecem ser
pessoas chaves do clã dos Vale Peixoto.
Eles possuiram vários prazos e casas na
região, por exemplo em S. Torcato, em
Sao João de Ponte, em Fato, em
Briteiros… entre eles também o do casal

260 Casamento de Jeronima (Maria)


Peixota em Gondomar em 1672.
da Silva em Gondomar onde estavam nossos do Vale e um dos dois casais do Carvalho da Arca de
Polvoreiras em São Salvador de Pinheiro. No segundo casal do Carvalho da Arca vivia Antônio do
Vale Peixoto, um neto de André Vaz, primo destes Jorge e Bartolomeu do Vale Vieira. Nesta quinta
do Carvalho da Arca viveram mais tarde os seus descendentes „do Vale Peixoto Vilas Boas“ com
descendência da nobreza.
Todas essas conexões entre nossa família do Vale e os descendentes dos do Vale Peixoto nos
levam a deduzir de que nossos do Vale certamente descendem dos do Vale Peixoto de
Guimarães. Mas continua difícil dizer onde entroncar nossa família na árvore de descendentes dos
do Vale Peixoto. Pelo fato de que existe uma grande concentração de ligações com os de Meira e
os do Vale Vieira, poderia bem ser que nossa Maria do Vale (*ca. 1580) venha dos Meira da quinta
de Poveiros em São Torcato, mas acredito ser mais provável ela ser uma sobrinha de Jorge e
Bartolomeu do Vale Vieira. Isso explicaria o contato visivelmente estreito entre as duas famílias.
Seguramente podemos ter certeza de que ela foi uma neta ou de Isabel do Vale Peixoto ou de
seu irmão Dr. João do Vale Peixoto acima citados (* ca. 1515).
Rui Faria me escreveu a seguinte resposta sobre a questão de onde enquadrar nossos do Vale na
família dos Vale Peixoto: „Caro Rainer. Nenhuma das hipóteses que coloca são de descartar.
Documentamos inclusive, em escritura de 1597, um Domingos Gonçalves entre os criados da casa
do Senhor Jorge do Vale Vieira, que poderá tratar-se do mesmo que casa com Maria do Vale, o que
explicaria a sua estadia no Paço como recebedor de rendas de seu amo e depois a sua deslocação
para Gondomar. Muito próxima parece também ser a ligação ao casal Salvador de Meira e Maria
Nunes, pois além de participarem em atos da família, uma das sete ou oito filhas destes, de nome
Sebastiana do Vale, refugiou-se na freguesia de Gondomar (onde teria parentes) depois de
desonrada pelo Senhor Bernardo do Amaral, poderoso fidalgo. Esta foi mãe de, entre outros, do
padre João do Vale abade de Silvares que também está presente nos atos da família. Outra linha
associada é a da senhora Branca do Vale que, não sendo mãe de Maria do Vale (pois tem uma filha
do mesmo nome que se documenta casada), poderá ter parentesco próximo. Uma certeza fica,
pertencia à mesma família!“

João do Vale
Clara do Vale e Gonçalo
Gonçalves tiveram vários
filhos, passando a casa da
Silva para o filho João do
Vale, que se casou no dia 28
de Outubro de 1685 na
freguesia de Castelões com
Maria Fernandes da quinta
da Espinha de Castelões. Um
irmão de Maria, João Fernan-

Casamento de João do Vale 261


com Maria Fernandes em
Castelôes em 1685.
des, o herdeiro da
quinta da Espinha, se
casou um dia após
sua irmã em Gondo-
mar com Catarina do
Vale, a irmã de João
do Vale. Um filho
deste casal, Torcato
Fernandes se casou em
Gondomar em 1704
com Custodia Rodri-
gues do lugar do Car-
valho em Gondomar. A quinta da Espinha em Castelões no concelho de Guimarães.
Maria Fernandes foi filha de Domingos Fernandes da quinta da Espinha e de Maria Antunes do
Paço no lugar do Pombal em Castelões.
João do Vale deixou a Casa da Silva de herança, talvez dote, para sua filha Mariana Fernandes do
Vale, nascida em Setembro de 1691 em Gondomar que se casou em 14 de Outubro. de 1703 com
Bento Rodrigues da casa Eido de Baixo de Gondomar. Estes dois tiveram pelo menos dois filhos:
Teresa Rodrigues do Vale 1714-1797 e João Rodrigues do Vale
O filho João Rodrigues do Vale
herdou a Casa da Silva e se
casou com Mariana Josefa de
Moura de Santa Senhorinha
de Basto deixando
descendência em Gondomar
(seu filho Bento Pereira
Cunha, nascido em 1734, foi
padre) enquanto sua irmã
Teresa Rodrigues do Vale se
casa no dia 26 de Abril de
1733 em Gondomar com
Bento Gomes de Macedo, o
herdeiro da Casa de Santo
Tirso em São Martinho do
Campo, como já vimos. Batismo de Mariana Rodrigues do Vale em Gondomar em 1691.
E abaixo: os descendentes de Maria do Vale e Domingos Gonçalves.

262
Salvo os possíveis e frequentes erros que infestam as
genealogias de linhagens nobres, descendemos tanto pela
linha dos Vales como dos Peixotos de D. Henrique de
Borgonha, o conde de Portucale e pai do primeiro rei
português D. Afonso Heriques. Aqui vemos a linha a partir de
João Martins do Vale. E como D. Henrique de Borgonha
descendia dos reis dos francos, descendemos também dos
reis franceses Roberto II o Piedoso e de seu pai Hugo
Capeto. Vejamos esses dados como curiosidades familiares.

263
Antiga gravura da cidade de Coimbra – século XVII

OS MACEDOS EM COIMBRA

Ao menos quatro filhos do casal Bento Gomes de Macedo e Teresa Rodrigues do Vale foram para
Coimbra. Primeiro foram os filhos mais velhos Bento Rodrigues de Macedo (nascido 1734) e
José Rodrigues de Macedo (*1735). Bento já havia ido com 12 anos de idade para Coimbra,
onde provavelmente deve ter feito um aprendizado na loja de um amigo da familia ou um
parente que já estava estabelecido na cidade. Dois primos da mãe Teresa – os irmãos Bento e José
Rodrigues de Carvalho de Gondomar – também estavam vivendo em Coimbra, para onde devem
ter ido por volta de 10 anos antes dos Rodrigues de Macedo. José Rodrigues de Carvalho se torna
familar do Santo Oficio em 1756. Foi mercador e dono de mercearia no Terreiro de Sansão.
Alguns anos depois os seguiu o terceiro irmão Antonio Rodrigues de Macedo (*1744) e ainda
mais tarde Francisco Rodrigues de Macedo (*1749) para Coimbra.

Ao que parece, um dos primeiros Macedos que estiveram ligados a Coimbra foi Jerónimo de
Macedo, o 7° Sr. da Granja e sobrinho de nosso ancestral Bento de Macedo (*1632), que aforou
casas em Coimbra, onde mais tarde viveriam seus sobrinhos, os primos Filipe de Macedo
Guimarães, importante mercador e almotacé e Dionísio de Macedo Guimarães, o oitavo Senhor da
Quinta da Granja. Dionízio foi cavaleiro professo da Ordem de Cristo, Familiar do Santo Oficio,
que exerceu o cargo de tabelião em Coimbra. Eles foram primos de segundo grau de Bento Go-
mes de Macedo e podem ter ajudado os parentes que para cá vieram. Além destes também
encontramos em Coimbra o padre Domingos de Macedo, sobrinho de Dionízio.

Um outro primo distante em Coimbra foi Domingos de Macedo e Freitas, bacharel, que esteve
ligado aos cargos da Câmara, pelos menos desde 1772 através do desempenho do cargo de
almotacé e escrivão da Câmara serventuário (o escrivão proprietário era o primo Dionísio de
Macedo Guimarães e o seu filho e sucessor António Joaquim de Macedo), passando a ser o
responsável pela redação de atas, contratos, termos de lançamento de arrematações e muitas
outras escrituras do quotidiano municipal, tendo desempenhado, neste âmbito, uma atividade
ininterrupta entre 1774 e 1777, quando tornou-se cavaleiro da Ordem de Cristo.

264
A igreja do mosteiro de Santa Cruz, onde estão sepultados os reis D. Afonso Henriques e D. Sancho I

A maior parte destes primos e irmãos entraram na Venerável Ordem Terceira da Penitência
de S. Francisco de Coimbra, onde foram irmãos terceiros franciscanos. Os anos de entrada
foram os seguintes:

 1741 Dionísio de Macedo Guimarães (Cavaleiro da Ordem de Cristo, Familiar do Santo Oficio)
 1742 Filipe de Macedo Guimarães (Almotacé e conselheiro da Mesa da Misericórdia)
 1746 Bento Rodrigues de Carvalho
 1748 José Rodrigues de Carvalho (Familiar do Santo Oficio)
 1754 Bento Rodrigues de Macedo (Familiar do Santo Oficio)
 1755 José Rodrigues de Macedo (foi tesoureiro da Ordem e Familiar do Santo Oficio)
 1763 Antonio Rodrigues de Macedo (Familiar do Santo Oficio)
 1773 Francisco Rodrigues de Macedo (Familiar do Santo Oficio)

O último da lista, Francisco, voltou mais tarde para São Martinho do Campo onde se casaria
com Ana Maria Vieira passando a viver na Casa de Santo Tirso.

A ligação entre os “nossos” Macedos de Santo Tirso que foram para Coimbra (à direita)
com os outros Macedos da Granja que haviam se estabelecido em Coimbra

265
Parentes – Os Rodrigues de Macedo e os Rodrigues de Carvalho que foram para Coimbra.
Em alaranjado aqueles que saíram de Coimbra.

O primogênito Bento Rodrigues de Macedo abriu uma loja no terreiro de Sansão em


Coimbra, onde já estava estabelecido seu primo José Rodrigues de Carvalho. O terreiro de
Sansão é uma praça central em Coimbra, direta frente à famosa igreja e o mosteiro de Santa
Cruz, onde havia muitas vendas. Em 1761, com a recomendação do padre Manoel do Vale e
Araújo, tio do pároco de Gondomar, Bento se torna familiar do Santo Oficio. Este Manoel do
Vale e Araújo e seus irmãos (e também padre) Custódio e Alexandre do Vale e Araújo eram e
oriundos da família do Vale de Rossas em Vieira do Minho e foram amigos da familia Gomes
de Redufe, Santo Emilião, da qual descende o pai Bento Gomes de Macedo.

Os familiares do Santo Oficio não eram necessáriamente oficiais ou ajudantes da inquisição,


mas faziam parte de uma rede de homens influentes em Portugal e na colônia o que lhes
trazia vantagens e lhes abria as portas para certos cargos e negócios. Parece que Bento teve
muito sucesso com seus negócios e se tornou logo um importante comerciante em
Coimbra, se casando em 1769 com Teresa Joaquina Angélica Freire, filha do advogado
Luis Antunes, membro de uma familia importante de Coimbra e senhores da Casa da Tapada
em Ceira, região de Coimbra.

Bento emprestava dinheiro o que leva a crer que ao lado do comércio, passou cada vez mais
a ser banqueiro e financiador, algo que exerceu em cooperação com o irmão João Rodrigues
de Macedo, que passou para o Brasil por volta de 1760, onde fez fortuna com diversos
contratos para arrecadação de impostos para a corôa portuguesa.

Aquarela do pátio da
inquisição em Coimbra,
sede do Santo Oficio na
cidade.

266
Acima, a linda Biblioteca Joanina na universidade de Coimbra, concluida em 1728

Bento e Teresa tiveram vários filhos – aliás uma


característica comum de muitos dos Macedos
desta geração – alguns seguiram a carreira de
negociantes e outros fizeram carreira como
advogados. Seu filho Antonio se casou com
Anna Victoria Aillaud, filha da famosa familia
de editores franceses Aillaud, na época
radicados em Coimbra. Bento deixou muitos
descendentes, notadamente em Coimbra e
Lisboa, alguns deles descritos no livro “Uma
Familia Minhota”, de Alberto de Magalhães
Queiroz. Muitos deles foram escritores,
militares, médicos e juristas, outros foram
professores de universidade, matemáticos e
astronomos.

Uma descendente de Bento foi esposa do


presidente português Arnaldo Norton de
Matos.
O casamento de Bento e o batizado de seus filhos foram
celebrados na imponente igreja de
Santa Cruz em Coimbra.

267
Acima: O “Pátio do Sansão” em Coimbra, onde
Bento abriu sua loja, fica direto frente à Igreja de
Santa Cruz, onde muitos dos Macedo se casaram
e foram batizados.

Ao lado: A Rua dos Sapateiros em Coimbra, onde


José teve seu negócio.

268
O segundo irmão José Rodrigues de Macedo também foi homem de negócios. Viveu na Rua dos
Sapateiros em Coimbra, em 1767 se tornou familiar do Santo Oficio e se casou em 1775 em
Coimbra com Mariana do Nascimento, a filha de Francisco Gomes de Almeida, um advogado da
região de Viseu. Um primo de Mariana foi José Álvares de Figueiredo, o fundador de Boa
Esperança em Minas Gerais. José foi tesoureiro da Irmandade Ordem Terceira da Penitência de
São Francisco em Coimbra entre 1803 e 1805. Seu casamento e o batizado de seus filhos foram
todos celebrados na igreja de São Tiago, Coimbra.

José teve vários filhos, entre eles Caetano Rodrigues de Macedo, professor de filosofia na
Universidade de Coimbra, deputado pela Beira às Cortes Constituintes. Foi lente de Filosofia,
liberal e maçónico. Fora sócio fundador da Sociedade Promotora da Indústria nacional (1822).
Pronunciado por rebelião, perseguido a partir de 1829, exilou-se e morreu em Berna na Suiça com
41 anos.

Outro filho, José Rodrigues de Macedo e Almeida se casou com Maria Amália Freire de Carvalho,
irmã do importante intelectual, editor,
jornalista e Deputado às Cortes frei José
Liberato Freire de Carvalho.

Alguns descendentes de José se


tornaram acadêmicos, autores e
catedráticos.

Abaixo:A igreja de São Tiago em Coimbra

269
O Bairro de Santa Justa em Coimbra, onde Antônio Rodrigues de Macedo e sua familia moraram

O terceiro irmão que foi para Coimbra, Antonio Rodrigues de Macedo, igualmente abriu
loja de mercearia na cidade, se casou na igreja de Santa Cruz em 1766 em Coimbra com
Mariana Clara Rosa Joaquina de Abreu, nascida em Coimbra e filha de Gaspar de Abreu,
que foi cozinheiro da inquisição e dono de agência em Coimbra e que era natural do lugar
da Nespereira em Povolide, concelho de Viseu e de Maria Francisca, natural de Santo André
do Barrô, Coimbra e que também tinha raízes em Ceira na região de Coimbra. Maria Francis-
ca teve uma padaria no Terreiro de Sansão em Coimbra, sendo assim vizinha de Bento Rod-
rigues de Macedo.

Antonio viveu com sua familia primeiramente no


bairro de Santa Justa em Coimbra. Em 1769 Antonio
se torna familiar do Santo Oficio, como seus irmãos
mais velhos. Por volta de 1775 ele é mencionado
como morador no Terreiro de Sansão em Coimbra.
Seu casamento e o batizado de seus filhos foram
celebrados na igreja de Santa Cruz (com a excessão
do filho José, nascido em casa em 1788 e batizado
em São Tiago). Um filho de Antonio, Antonio Joa-
quim Rodrigues de Macedo, nascido em 1778 foi
por volta de 1800 para o Brasil trabalhar com o seu
tio João Rodrigues de Macedo.

A Torre da Almedina em Coimbra. Neste bairro foi criada


Maria Francisca, a mâe de Mariana Clara.

270
O Terreiro de Sansão em Coimbra, onde Bento R. de Macedo e Maria Francisca (a sogra de Antonio R. de
Macedo) tinham loja e padaria. À esquerda a igreja de Santa Cruz, onde muitos dos Macedo se casaram e foram
batizados

Ao lado e abaixo: Cartas de Bento e José


Roiz de Macedo a João Roiz de Macedo, que
já estava no Brasil, com as quais mandam
os sobrinho Jerônimo e Antonio José Fer-
nandes da Silva Macedo, filhos de Maria
Roiz de Macedo de S. Martinho do Campo.

Um filho da irmã Maria Rodrigues


de Macedo, casada com Antonio
Fernandes Vieira e residente na

Casa do Acento em São Martinho do


Campo também foi para Coimbra, onde
deve ter feito um aprendizado na loja de
um dos seus tios. Seu nome é Jerônimo
Fernandes da Silva Macedo e passado
algum tempo, por volta de 1795, este
jovem foi para o Brasil para trabalhar com
o tio João Rodrigues de Macedo. Por volta
de um ano depois, em 1796, o seguiu o
seu irmão Antonio José Fernandes de
Macedo.

271
Registro de batismo de Ana,
filha de José Rodrigues de
Macedo e de Mariana do
Nascimento de 1783 onde Bento
Gomes, Cavaleiro Professo da
Ordem de Cristo e assistente
nesta cidade, foi o padrinho.

Mais um parente que


esteve no início dos anos
1780 por um certo tempo
em Coimbra foi um primo
do pai Bento Gomes de
Macedo, que se chamava
igualmente Bento Go-
mes. Bento Gomes foi
Cavaleiro Professo na
Ordem de Cristo,
cirurgião e mercador que
passou alguns tempos em
Lisboa onde fôra
sangrador e cirugião na
côrte e por volta de 1760
passou para o Rio de
Janeiro, Brasil, onde foi
comerciante de grosso
trato de tecidos. Bento
Gomes pode ter tido um
papel decisivo para uma
parte da familia que
acabou se transferindo
para o Brasil.

Ao lado: Página da diligência


de habilitação a familiar do
Santo Oficio de Antonio
Rodrigues de Macedo de 1768

272
O anexo da Casa de Santo Tirso, provavelmente construída pelo padre
Custodio Rodrigues de Macedo por volta de 1800.

Os Macedos de Santo Tirso a partir de 1750

Maria Rodrigues de Macedo, nascida em 1737, que foi depois de Bento e de José a terceira
mais velha dos filhos de Bento e Teresa, se casou em 7 de fevereiro de 1763 em São
Martinho do Campo com Antonio Fernandes Vieira, da casa do Assento (também Acento),
na mesma freguesia, filho de Antonio Fernandes e Catarina Ferreira. Maria passou para o
Assento onde viveu com esposo e familia. O filho mais velho Francisco herdou a casa. Maria
parece ter deixado vasta descendência em S. Martinho do Campo.

Tiveram vários filhos, entre eles:

 Francisco (Rodrigues) Fernandes da Silva Macedo 1771-


 Antônio José Fernandes de Macedo 1777-1836/
 Jerônimo Fernandes da Silva Macedo 1778-1821
 Bento José Fernandes da Silva Macedo
 Francisco Fernandes da Silva Macedo ca 1770
 José Fernandes de Macedo ca 1780-

Sobre dois de seus filhos, Antônio José e


Jerônimo leremos mais no episódio
relativo ao Brasil, visto que estes dois se
mudaram para Ouro Preto para
acompanhar o tio João Rodrigues de
Macedo, que havia se tornado
contratador, homem de negócios e
banqueiro em Minas Gerais.

Antigo edificio do paiol


em Santo Tirso

273
O quarto irmão que havia ido a Coimbra, Francisco Rodrigues de Macedo, cinco anos mais
novo que Antonio e respectivamente 14 e 15 anos mais novo que José e Bento acabou
voltando para São Martinho do Campo onde passou a morar na casa paterna de Santo Tirso.
Parece que ele ficou apenas um certo tempo em Coimbra, onde foi estudante.
Francisco também foi habilitado como Familiar do Santo Oficio, já morando em Santo Tirso
em 1772. Em seu processo de habilitação está escrito que o seu pai Bento Gomes de
Macedo haia feito doação de seus bens ao filho mais velho Bento Rodrigues de Macedo
com a obrigação de acomodar os seus irmãos. Se o pai falecesse cada um dos filhos
receberia entre 50 a 60 mil Reis. Isso significa que Santo Tirso ainda pertencia ao
primogênito Bento. De algum modo Francisco acabou comprando ou herdando a Casa de
Santo Tirso onde até hoje vivem seus descendentes.

O irmão mais novo dos Macedos de Santo Tirso, o padre Custódio Rodrigues de
Macedo que esteve certo tempo no Brasil (a partir de 1787) em companhia de seu irmão
João, parece ter voltado para São Martinho do Campo onde exerceu o sacerdócio por volta
de 1800. Ele deve ter falecido por volta de 1830, sendo que na tradição oral da familia
Macedo de Santo Tirso a casa anexa ao antigo edificio de Santo Tirso havia sido construida
por um padre, o que pode significar que ele havia sido do Custódio.

Outro Macedo se tornou padre mais tarde, o bisneto de Francisco, Luis Maria de Macedo,
nascido por volta de
1860.

Ao lado: Trecho da
habilitação ao Santo
Oficio de Francisco
Rodrigues de Macedo de
1772 onde se lê sobre a
heranca de Santo Tirso
pelo pai Bento Gomes de
Macedo.

274
Acima: Registro de nascimento de João Bernardo, filho
de Jerônimo Vieira de Macedo em 1826. Seu padrinho
foi o tio-avô padre Custodio Rodrigues de Macedo com
procuracâo de João Bernardo Correia.

Ao lado: Escadaria e entrada da casa anexa a Santo


Tirso, provavelmente moradia de padre Custódio.

Francisco casou-se com Ana Maria Vieira, filha de José Ferreira e Custódia Maria Vieira do
lugar do Rego de São Martinho do Campo. Infelizmente faleceu cedo, em 1799 com apenas
50 anos, deixando a Casa de Santo Tirso para seu filho Jeronimo Vieira de Macedo, nascido
em 1790 e casado mais tarde com Maria Theresa Correia (mencionada às vezes também
como “Fernandes”), uma neta de Maria Rodrigues de Macedo. Os dois por sua vez passaram
Santo Tirso para o filho João Bernardo Vieira de Macedo, nascido em 1826. João Bernardo
casou-se com Custódia Maria de Novais com a qual teve vários filhos.

275
Casamento de Custódio José Ferreira,
filho de Maria Theresa Rodrigues de
Macedo em 1838.

A familia Macedo, ou melhor: os


Macedos de Santo Tirso ainda se
lembram de vários parentes que
emigraram para o Brasil. Acredito
que o primeiro de Santo Tirso a
emigrar para o Brasil foi João
Rodrigues de Macedo. Será sobre
essa parte da familia que se
tratará a seguir.

A filha caçula de Bento Gomes de


Macedo e Teresa Rodrigues do
Vale, a Maria Teresa Rodrigues de Macedo, nascida em 1760, se casou em 1787 em S.
Martinho do Campo com Manoel José Ferreira do lugar do Rego nesta mesma freguesia.
Tiveram filhos, dos quais só tenho notícias
de Custodio José Ferreira, casado em 1838
em S. Martinho do Campo com Ana Teresa
Monteiro de Santo Estêvão de Gerês.

Ao lado: O casamento dos atuais proprietários de Santo


Tirso, Senhora Lídia e Senhor Noé.

Abaixo: A sepultura da família de Santo Tirso em S.


Martinho do Campo.

276
A imponente Casa dos Contos, residência construida por João Rodrigues de Macedo
em Vila Rica (atual Ouro Preto) em 1784.

João Rodrigues de Macedo

Um capitulo muito fascinante na história dos Macedo é a vida de João Rodrigues de


Macedo, nascido em 1739, o quarto filho do casal Bento Gomes de Macedo e Teresa Rodri-
gues do Vale da casa de Santo Tirso, em S. Martinho do Campo. João foi para o Brasil onde
enriqueceu. Ele construiu a “Casa dos Contos” uma das casas mais famosas em Ouro Preto e
uma jóia da arquitetura colonial brasileira. Desempenhou papel ainda não bem esclarecido
na Inconfidência Mineira, e estes fatos o fazem ser uma figura histórica misteriosa, e muito
bem conhecida no Brasil.

Como muito já foi escrito sobre João Rodrigues de Macedo vou neste artigo tentar escrever
sua história mais do ponto de vista
familiar. Vou tentar expor como João
Rodrigues de Macedo veio para o
Brasil e se tornou um homem de
negócios bem sucedido, algo que por
um lado é sem dúvida alguma seu
mérito pessoal, mas por outro lado
faz igualmente parte de uma
estrutura familiar e de relações já
pré-existente da qual ele pôde tirar
proveito.

O registro de nascimento de João Roiz de


Macedo em São Martinho do Campo, no dia 4
de março de 1739

277
Parentesco entre Bento Gomes e João Rodrigues de Macedo

O tio Bento Gomes e seu padrinho Bento Carvalho

O pai de João Rodrigues de Macedo, Bento Gomes de Macedo, o senhor da casa de Santo
Tirso em São Martinho do Campo teve um primo chamado Bento Gomes, nascido em 1703
na freguesia vizinha de Santo Emilião, onde os Gomes já estavam radicados desde meados
do século XVII. Bento foi filho da tia avó paterna de João Rodrigues de Macedo, Anna Fran-
cisca, que foi casada com Francisco Gomes, um sapateiro natural do lugar de Requeixo em
Donim. Os Gomes formavam um clã em Santo Emilião e eu creio que mantinham um
contato e uma rede de relacionamentos familiares bem próxima e unida entre si – algo que
pode ser visto nos batismos de suas crianças – as quais tinham muitas vezes padrinhos e
madrinhas da familia.

Bento Gomes teve como padrinho de batismo Bento Carvalho da freguesia de Gondomar,
que era casado com Ursula Rodrigues, tia-avó materna de João Rodrigues de Macedo. Este
Bento Carvalho também seria testemunha do batismo de João Rodrigues de Macedo mais
de 30 anos mais tarde.

Bento Carvalho e Bento Gomes parecem ser peças-chave nesta parte da história dos
Macedo. Bento Carvalho foi barbeiro e cirurgião em Gondomar e teve ao menos dois filhos,
Bento e José Rodrigues de Carvalho, que passaram para Coimbra por volta de 1740 onde
foram mercadores. Esses dois já apareceram na nossa história dos Macedo – pois eles devem
ter servido como cabeça de ponte para os irmãos de João Rodrigues de Macedo em
Coimbra.

Como já vimos, as redes de parentesco e amizade das familias principais destas freguesias
tinham um papel importante nas estratégias de ascenção social dos integrantes destas
famílias, principalmente quando já estavam estabelecidos em Coimbra ou no Brasil. Também
os do Vale e Araújo, parentes do pároco de Gondomar exerceram um papel de ligação dos
Macedo com o Santo Oficio, que era uma base para se

Parentesco entre João Roiz de Macedo e os irmãos Bento e José Rodrigues de Carvalho

278
Acima e abaixo: Um barbeiro-cirurgião em ação
em pinturas antigas

Naquela época a profissão de barbeiro


era bem mais abrangente do que nós
imaginamos. Aqui podemos ler um
extrato de um texto sobre esta profissão
de autoria de “Silvia” do site MyHeritage:

“O barbeiro era responsável – para além de


cortes de cabelo, barba e bigode – por fazer
curativos, dar um jeito em ossos quebrados,
preparar remédios caseiros a base de plantas,
sangrias e até mesmo pequenas cirurgias.”
Sendo assim, ele era médico e dentista para
os pequenos problemas dos habitantes do
povoado.

O afilhado de Bento Carvalho, o jovem


Bento Gomes foi ainda novo para Lisboa
onde aprendeu para cirurgião e sangrador,
talvez junto com um mestre barbeiro
conheciado de Bento Carvalho. Lá ele
acumulou dois anos de experiência – o
mínimo exigido para exercer a profissão
além de fazer exames e obter a licença do
rei. Assim seguiu a profissão do seu
padrinho Bento Carvalho. Gomes trabalhou
durante certo tempo em Lisboa, e até
mesmo na corte, como indicam os seus
processos de habilitação para familiar do
Santo Oficio de 1738-39 (imagem ao lado).

279
A corte portuguesa. Batizado de D. Pedro, príncipe do Brasil em 1712, filho de Dom Joao V

Provavelmente na década de 1730, Bento Gomes passa para o Rio de Janeiro, Brasil, onde além de
cirurgião e sangrador, começa a fazer negócios, talvez aproveitando seus contatos no reino.

Ele retorna para Lisboa e passa a viver da exportação de tecidos para „os Brasis“. Na época sua
atividade foi declarada como “negociante de grosso trato de fazendas de todas as qualidades” –
adquirindo desta maneira certa fortuna. Por volta de 1746 Bento se casa em Lisboa com Josefa
Teresa, filha de Manoel Carvalho, que vinha de familia de Guimarães, e que pode ter parentesco
com o seu padrinho Bento Carvalho. Em 1760 Gomes é habilitado como Cavaleiro da Ordem de
Cristo. Dele encontramos várias cartas arquivadas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e
atravéz delas vemos que retornou ao Brasil onde esteve trabalhando com o seu sobrinho Domin-
gos José Gomes no Rio de Janeiro. Dois outros sobrinhos também estavam no Brasil, Manoel
José Gomes de Araújo e João Manuel Gomes de Araújo. Mas tarde Bento Gomes retorna à
Portugal onde aparece por volta de 1780 vivendo em Coimbra, onde viveu em contato com os
“sobrinhos” Bento e José Rodrigues de Macedo, os irmãos de João.

Os filhos de Bento Carvalho, os irmãos José e Bento Rodrigues de Carvalho – que devem ter
estado pela idade entre a geração de Bento Gomes e de João Roiz de Macedo – passam para
Coimbra por volta de 1740 onde José se torna mercador e dono de mercearia no Terreiro de
Sansão. Com certeza não é coincidência que alguns anos depois, os irmãos de João Roiz de
Macedo – Bento, José e Antonio Rodrigues de Macedo também seguiram para Coimbra, como
já vimos no episódio 14 da epopéia dos Macedo. Bento Rodrigues de Macedo, o irmão mais velho
de João, abre loja no mesmo lugar do primo, no Terreiro de Sansão, frente à igreja de Santa Cruz,
onde será freguês a partir de então. O irmão José abre loja na Rua dos Sapateiros e o irmão Anto-
nio abre loja no bairro de Santa Justa.

A Almedina
de Coimbra,
onde morou
Antonio
Rodrigues de
Macedo com
sua familia.

280
Navios portugueses no Rio de Janeiro no século XVIII

João Rodrigues de Macedo passa para o Brasil


Essas informações nos ajudam a reconstruir um pano de fundo para termos uma idéia de
como João Rodrigues de Macedo, talvez depois de passar alguns anos aprendendo a
negociar e comerciar em uma das lojas dos irmãos ou primos mais velhos em Coimbra,
passou para o Rio de Janeiro, provavelmente com 20 anos de idade, por volta de 1760 e se
tornou sócio de seu primo Domingos José Gomes que já estava estabelecido no Rio e que
presumo ter sido o representante de Bento Gomes no Brasil. Ainda não sabemos
exatamente como os primos eram parentes, mas certamente devem descender ambos dos
Gomes de Santo Emilião.

João Rodrigues de Macedo articulou logo uma importante rede de relacionamentos com
outros mercadores da cidade, entre os quais destacam-se Antônio Ribeiro de Avelar e
Antônio Gonçalves Ledo. Em cartas mandadas a Domingos José Gomes, Bento Gomes se
refere a seu “compadre Ledo“, assim
presumo que alguns contatos de
João foram herdados de Bento Go-
mes, seu mentor: seus velhos amigos,
compadres e sócios que ficou
conhecendo nos anos 1730-40 no Rio
de Janeiro.

Carta de Bento Gomes para seu „sobrinho“


João Rodrigues de Macedo de 1777.

281
A cidade de Rio de Janeiro por volta de 1850

Foi principalmente o irmão mais velho Bento Rodrigues de Macedo que manteve os
contatos em Portugal para João, sendo que Bento passara a financiar cada vez mais
brasileiros estudantes em Coimbra, entre eles o carioca recém-formado bacharel em direito
Inácio José de Alvarenga Peixoto, que depois de formado passou a ser juiz de fora em
Sintra (1769-1773) antes de retornar ao Brasil onde foi ouvidor da comarca do Rio das
Mortes. Ainda em Portugal, Bento lhe concede em 1771 um polpudo empréstimo. Alvarenga
Peixoto terá um papel decisivo na nossa história familiar, o que veremos mais para frente.
Um tio de Alvarenga Peixoto, Sebastião de Alvarenga Braga, estabelecido em Santos,na
Capitania de São Paulo, foi junto com Banifácio José de Andrade, o pai de José Bonifácio,
fiador de contratos do registro de Curitiba e Viamão entre 1764 e 1768.

Muitas cartas mandadas para João Rodrigues de Macedo foram preservadas por terem feito
parte do acervo da Casa dos Contos que passou para a Fazenda Real por volta de 1803, e
posteriormente foram
transferidas à Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
Elas podem ser lidas via online
no site da mesma. Assim
podemos ver um pouco da
rede de contatos, de negócios
e também da sua rede familiar
no Brasil e em Portugal, um
tesouro para historiadores e
um tesouro também para nós
interessados na história
familiar.

Carta de João Manoel Gomes de


Araújo para João Roiz de
Macedo de 1780

282
Tropeiros descansando em um rancho – durante mais de um século as tropas de gado e mulas fizeram os trans-
portes de todo o tipo de mantimentos e materiais para as Minas Gerais.

Os Araújos e Gomes
Um pouco enigmática é uma série de homens de negócio, oficiais, contratadores e seus fiadores
com os sobrenomes Gomes de Araújo e Araújo Gomes. Primeiro temos o já mencionado primo
de João Rodrigues de Macedo, Domingos José Gomes que trabalhou com o tio Bento Gomes.
Domingos José foi durante o período de 1776-02/1777 administrador do registro das entradas do
Caminho Novo (ou Matias Barbosa) em Minas Gerais. Um primo de Domingos José Gomes, foi o
minhoto Manuel Gomes de Araújo (também Manuel de
Araújo Gomes) que havia sido a cabeça de um grupo que
adquiriu o importante contrato das entradas de Minas Gerais
em 1769 a 1771, sendo assim um antecessor de João Rodri-
gues de Macedo neste mesmo contrato. Teve loja e sesmaria
no Rio Grande e esteve envolvido com o negócio de
“cavalgaduras” enviadas para as minas – rebanhos de gado e
cavalos criados no sul do Brasil destinados à área mineira. Teve
um irmão mais novo João Manuel Gomes de Araújo que foi
um sucessor de seu primo Domingos José Gomes no posto de
administrador das entradas do Caminho Novo (1779-1781).
Foram parentes de José Gomes de Araújo, morador de
Sabará, Minas Gerais, ex-desembargador e provedor da Fazen-
da Real das Minas, filho de Lourenço Gomes de Araújo, natural
de Alhos Vedros e secretário da Junta do Tabaco e oficial
maior da Secretario do Estado em Lisboa.

283
Nesta página: O Rio de Janeiro antigo

Em São Paulo, o principal ponto de apoio de Manuel de Araújo Gomes era seu irmão, Manuel
Antônio de Araújo (1733-1789). Nascido em São Vitor, Braga, chegou ainda pequeno ao Rio de
Janeiro, em 1743. Depois, passou ao Rio Grande laborando na condução de tropas do irmão para
as minas durante duas décadas. Em 1764, já estabelecido na cidade de São Paulo, casou-se pela
primeira vez com Ana Maria Clara de Macedo, filha de Escolástica Maria de Matos e do
comerciante minhoto Manuel de Macedo. Casou-se mais duas vezes, em 1777 e 1785, com
mulheres ricas e de certa nobreza entre a elite paulistana. Sua segunda esposa, Gertrudes, era
filha de Francisco Pereira Mendes, também minhoto e o segundo morador mais rico da cidade de
São Paulo em 1765. Ademais, (diz-se que) era primo de João Rodrigues de Macedo e fora seu
fiador em cobranças fiscais no registro de Sorocaba ao início da década de 1780.

Sem podermos dizer exatamente como todos são parentes entre si, é uma rede interessante de
pessoas relacionadas e
aparentadas atuan-do
no negócio dos
contratos antes e ao
mesmo tempo de João
Rodrigues de Macedo.

A seguir, para retratar


João Rodrigues de
Macedo, retirarei
partes do texto do
artigo muito bem
pesquisado sobre ele,
escrito por Marcos
Paulo de Souza Miran-
da com acréscimos
meus.

284
Carta de Bento a João Rodrigues de Macedo, Coimbra, em janeiro de 1782. Biblioteca Nacinal, RJ.

285
Carta de José Rodrigues de Macedo para seu irmão João Rodrigues de Macedo em Vila Rica. Coimbra, 21 de Janeiro de 1796
Senhor João Rodrigues de Macedo
meu muito amado irmão do meu coração. Nesta calma não tem nem podem ter número os desejos que tenho de suas notícias,
Acusam que vivo um pouco escandalizado e disgostoso de não ter a fortuna a não sei a quantos anos de ver letras tuas. Mas o
certo é que talvez com razão faças a mim queixa, pois que agora me entrega o portador desta uma que eu escrevi para ir por
Jerônimo, e que lhe dera nosso irmão Bento, agora apareceu entre papeis (vossos?). Enfim, dito portador, nosso sobrinho
Antônio, saudoso de seu irmão Jerônimo nos tem perseguido para ir buscar o teu amparo. Se você permitir que ele tenha a
fortuna de falar-te, será carta viva para lhe dar completas notícias de todos desta tua casa. Só me resta dar-te o seguro de que
nossa amada mãe ainda a 8 dias gozava saúde e boas notícias dos mais nossos pertences. Ora pois, se lhe posso servir de
alguma cousa não me poupes, acredita que lhe desejo as melhores benturas (?) que Deus lhe conceda e guarde(?) m… a… sou.
Teu irmão do coração.
José Roiz de Macedo
286
Nota de rodapé: „O rapaz vai muito brutal, eu peço a alguns amigos no Rio o detenham um ano em algum bom escritório para
se aperfeiçoar. Se isso …(não der?), não o culpes.“
Acima: Gravura de Rugendas representando Ouro Preto por volta de 1810.
E abaixo: Detalhe da escadaria da Casa dos Contos, residência de João Roiz de Macedo em Vila Rica

Comerciante e contratador
No Rio de Janeiro, João Rodrigues de Macedo estabeleceu-se como comerciante
(possivelmente como sócio do primo Domingos José Gomes, falecido em 1780) e articulou
uma importante rede de relacionamentos com outros mercadores da cidade, entre os quais
destacam-se Antônio Ribeiro de Avelar e Antônio Gonçalves Ledo, figuras vinculadas à
ordem maçônica, sendo o último pai de Joaquim Gonçalves Ledo, estudante em Coimbra,
venerável mestre da Loja Maçônica Comércio e Artes, no Rio de Janeiro, revolucionário,
iluminista e um dos patriarcas da Independência do Brasil.

O poderio econômico e a ampla rede de relacionamentos de Macedo podem ser bem


evidenciados nas seguintes palavras de Fonseca: Ao examinar a documentação de João Rodri-
gues é possível visualizar a existência e o funcionamento de uma rede de influências; homens de
negócios que tinham grande participação nas tomadas de decisão e principalmente na execução das
diretrizes administrativas dos negócios e dos contratos de João Rodrigues de Macedo. Foi justamente
a construção deste “círculo administrativo” que permitiu que o contratador atuasse tanto e por tanto
tempo. O círculo de influências do contratador tornava-se também um círculo social, e seria essa
sociabilidade que acabaria aproximando de João Rodrigues as elites intelectuais mineiras. Aqui
percebemos a importância de
João Rodrigues de Macedo e o
valor da construção de sua
biografia: longe de ser um
homem ordinário, Macedo
exerceu influência sobre os
mais diversos grupos sociais,
alcançando uma liberdade de
atuação comparável a poucos
homens de sua época, grupo
que incluiu outros

287
Imagens desta página: As cidades coloniais mineirasTiradentes e Ouro Preto

contratadores mineiros de tributos. Além desses dois, havia aqueles que cuidavam da administração
do contrato in loco, fiscalizando as cobranças em Minas Gerais, nas comarcas da capitania. Na vila
do Tijuco (no rico Distrito Diamantino, destino de grande parte das cargas vindas do Rio de Janeiro),
estava João Carneiro da Silva, que também administrava a maior loja de gêneros de Macedo.

Em São João Del Rei, responsável pelo registro do Caminho Velho da Mantiqueira (que levava à
capitania de São Paulo e ao porto de Paraty), Brás Álvares Antunes, e no registro de Matias Barbosa,
no Caminho Novo (estrada que levava à capitania do Rio de Janeiro, a mais importante de Minas
Gerais), outro primo de Macedo, João Manuel Gomes de Araújo. No mesmo registro, Domingos José
Gomes seria o responsável nos primeiros tempos do contrato. Em Paracatu, Manuel José de Oliveira
Guimarães é quase um administrador emancipado da comarca de Sabará, controlando diversos
registros; o mesmo ocorre na região de Sete Lagoas, onde Manuel Barbosa de Oliveira fiscaliza,
principalmente, a passagem de gado pelo médio São Francisco. Havia ainda outros que faziam parte
da estrutura de poder de Macedo: homens proeminentes que sustentavam e recebiam sustentação
econômica e política do contratador, como José Álvares Maciel, capitão-mor de Vila Rica. Havia
também o maior fazendeiro de Minas e co-patrocinador da fiança do contrato de João Rodrigues,
José Aires Gomes, na Borda do Campo; Manuel Rodrigues da Costa, no Caminho Velho, que levava
à Paraty e São Paulo através do Registro da Mantiqueira; Manuel do Vale Amado, no Caminho
Novo; José João Herédia, no Morro do Pilar,
e, em São Paulo, Antônio Fernandes do Vale
e José Vaz de Carvalho, além de diversos
outros.

A rede de colaboradores de João Rodrigues


serviria também para viabilizar outros
negócios do contratador. Além da
arrecadação de tributos, Macedo era
proprietário de diversas lojas varejistas. Seu
representante no Rio de Janeiro, Domingos
José Gomes, tratava da compra dos gêneros
– entre eles sal e açúcar, produtos de grande

288
valor – que seriam remetidos às Minas e distribuídos para revenda nas lojas que o contratador
possuía em diversas vilas. (FONSECA, 2005.)

João Rodrigues de Macedo deslocou-se para Vila Rica por volta de 1775 e arrematou o
contrato das Entradas para os triênios de 1776 a 1778 e de 1779 a 1781, para a capitania de
Minas Gerais, por 766:726$612 réis; e para as capitanias de Mato Grosso, Goiás e São Paulo,
por 189:044$918 réis, totalizando 944 contos. Além desse contrato, arrematou também o
de Dízimos, por 395:378$957 réis, para o período de 1777 a 1783. Montou uma sólida
estrutura de cobrança de impostos e tornou-se, entre as décadas de setenta e noventa do
século XVIII, a figura principal de uma rede de transações comerciais que movimentou
centenas de contos de réis até quase a virada
do século XIX, quando ainda promovia
cobranças de dívidas antigas.

Propriedades

Em Ouro Preto, João Rodrigues de Macedo


era proprietário da Chácara do Passa Dez (na
saída da cidade em direção a Cachoeira do
Campo) e também do sítio da Ponte dos
Taboões, situado entre Casa Branca (Glaura) e
Cachoeira do Campo, obtido por sesmaria de
17 de outubro de 1798 (APM, SC 285, p.
106v.). Tratava-se de propriedade
estrategicamente situada em direção ao
Caminho do Sabarabuçu (Sabará), sede da
importante Comarca de mesmo nome, que,
em direção ao Norte, mantinha ligação com o
movimentado Caminho dos Diamantes e o

Imagem acima: Interior de uma


casa em Ouro Preto e ao lado: A
Casa dos Contos

289
Ao lado: A chácara do Passa Dez.
E abaixo: A Sasa dos Contos em
2022, foto de meu primo Francisco
Antônio Novelli de Souza Júnior.

sertão da Bahia, uma


das principais rotas co-
merciais da Capitania.

Sobre a chácara do
Passa Dez, registra
Tarquínio que: “Aquela
morada senhorial, longe
do bulício urbano, já a
possuíra desde os
primeiros anos do
contrato. Nela terá
vivido durante os quase
três anos da construção
da que viria a ser mais
tarde a Casa dos
Contos”. (OLIVEIRA, 1981a, p. 16.)

Ali repousam, em lamentável situação de conservação, infelizmente, as ruínas da antiga casa


de João Rodrigues, incluindo um chafariz que foi quase todo destruído. Na área foi
implantado o antigo Jardim Botânico de Vila Rica, em 1825, quando João Rodrigues já havia
perdido a propriedade para o Fisco. No Arraial de Cachoeira do Campo, Macedo era
proprietário de uma estalagem e várias casas.

A Casa dos Contos, possivelmente projetada pelo Mestre José Pereira Arouca, construída
entre 1782 e 1784, era um verdadeiro palacete colonial, considerada como a mais rica
residência de Vila Rica do século XVIII, sendo avaliada no ano de 1803 em 40 contos de réis.
Era ali, no belo e suntuoso monumento do barroco mineiro, que o contratador realizava
rotineiramente festas e saraus que reuniam a elite intelectual da Capitania, numa
demonstração pública de abastança e poder

Ali também recebia e


hospedava seus amigos
mais próximos, com
quem gostava de jogar
cartas e gamão.

Foram seus hóspedes


na majestosa resi-
dência, entre outros:
Francisco Antônio de
Oliveira Lopes, José
Aires Gomes, Luiz Vieira
da Silva, Nicolau Geor-
ge Gwerk, Alvarenga
Peixoto, Luis Beltrão de

290
Gouveia e Padre José da Silva e Oliveira Rolim, todos envolvidos com o movimento
inconfidente, o que revela que João Rodrigues deveria saber, e bem, de toda a trama da
conjura.

O interior da Casa dos Contosem Ouro Preto em 2011.

Religiosidade

A família de João Rodrigues de


Macedo tinha a religiosidade como
uma de suas marcas características.
Alguns de seus irmãos eram familiares
do Santo Ofício, e o mais novo,
Custódio Rodrigues de Macedo, era
padre. Em Vila Rica, Macedo era Irmão
da poderosa e influente Ordem
Terceira do Carmo, na qual ingressou
em 07 de abril de 1781, sendo eleito
seu Prior em 05 de julho de 1789, no
auge da repressão ao movimento
inconfidente. Também foram
integrantes da afamada Ordem: Joa-
quim José da Silva Xavier, Joaquim
Silvério dos Reis e Francisco Paula
Freire de Andrade, todos envolvidos
com a Inconfidência, o que abre
perspectivas para uma análise mais
aprofundada sobre a possível
participação de Irmandades e
Confrarias nos rumos da Inconfidência.
Foi também membro da Irmandade de

291
Santo Antônio da Paróquia do
Pilar de Ouro Preto.

Fornecia os serviços de seus


escravos para construções
religiosas e, não raras vezes,
isentava de impostos
mercadorias doadas à Igreja. Ao
receber uma menina enjeitada à
porta de sua casa em 1793, João
Rodrigues de Macedo não
apenas a acolheu, mas batizou-a
com o nome de Felipa e fez
questão de ser o seu padrinho.
(CMOP CX. 65 DOC. 40.)

Generosidade

Generosidade era um dos traços


característicos da personalidade
de João Rodrigues de Macedo.
Financiou os estudos de
inúmeros jovens mineiros em
Portugal, que se dirigiam à
Universidade de Coimbra,
preocupando-se em pagar seus
estudos e gastos de subsistência
durante todo o período de
formação, recomendando-os à
proteção de seu irmão Bento
Rodrigues de Macedo, que lá
representava seus interesses.

Receberam a proteção
do mecenas de Vila Rica,
entre outros, os
estudantes de Medicina
Luiz José Godoi Torres,
Francisco Manoel Souza
Alvim, João Evangelista
Faria Lobato; e os de
Direito Antônio Rodri-
gues Ferreira das
Chagas, João Luiz Saião

A matriz do
Pilar de Ouro
292 Preto
Vicente Jorge Dias Cabral e
Lucas Antônio Monteiro de
Barros, este último com
comprovada participação na
Inconfidência Mineira. Não se
descarta a possibilidade do
interesse de Macedo no
sentido de que tais jovens
pudessem beber das ideias
iluministas que então eram
fermentadas na Universidade
de Coimbra, defendidas
sobretudo pelo líder e profes-
sor Domingos Vandelli, para
que pudessem posteriormente transpô-las, multiplicá-las e colocá-las em prática no Brasil

Ao lado: Gravura de
Rugendas de tropeiros em
Minas Gerais.
Podemos imaginar que
tanto João Rodrigues de
Macedo, como seu irmão
Custódio e seus sobrinhos
viajaram desta maneira
pela colônia.

Ao lado: Vista de
Ouro Preto. Em
primeiro plano a
Casa dos Contos de
João Rodrigues de
Macedo

293
Carta de Barbara Heliodora a João Rodrigues de
Macedo pedindo que arrematasse os bens
sequestrados de seu marido, Ignácio José de
Alvarenga. Biblioteca Nacional, RJ.

Mas não somente no campo dos ideais


residia a atuação de Macedo. Com a
prisão, degredo e posterior morte de
Inácio José de Alvarenga Peixoto, ele
acatou o pedido da viúva Bárbara
Heliodora, tornando-se sócio dela nos
negócios da Fazenda em São Gonçalo do
Sapucaí e amparando os filhos do
desafortunado inconfidente. Durante o
período de prisão dos réus conjurados no
Rio de Janeiro, Macedo providenciou que
seus amigos comerciantes estivessem
atentos às necessidades dos rebeldes e
que lhes prestassem todo o apoio
necessário. Os bens de Tiradentes existen-
tes em Vila Rica foram arrematados pelo
velho amigo, ex-contratador.

João Rodrigues de Macedo também procurou ajudar seu guarda-livros, Vicente Vieira da
Mota, intercedendo por ele junto ao Desembargador José Caetano César Manitti, conquanto
não tenha logrado a sua absolvição.

Os relacionamentos de Macedo e o fato de ser devedor de altas somas à Coroa Portuguesa


evidenciam que ele reunia todos os requisitos para ser um dos maiores interessados no
sucesso do movimento inconfidente, justificando sua participação, necessariamente discreta,
mas perceptível, na trama e nos rumos da movimentação rebelde.

A fazenda Paraopeba de Alvarenga Peixoto em S-Braz do Suaçui

294
Quadro a óleo retratando
uma reunião dos
inconfidentes

Não por outra razão


que o Desembargador
José Pedro Coelho
Torres, um dos
responsáveis pela
Devassa instaurada no
Rio de Janeiro, deixou
consignado a respeito
de João Rodrigues:

Foi-me muito estimável a carta que de Vm. recebi a 4 do corrente, e pela notícia que me deu
Vicente Vieira da Mota. Fico a Vm. muito e muito agradecido a tantos benefícios quantos
mostra o seu zelo e atividade em benefício de meu contrato, e estou certo continue Vm. a me
favorecer, evitando tudo quanto me for de prejuízo, assim como cobrar os créditos que lhe
entregou o dito Vicente Vieira. […] Espero que necessidades que tenha de soldados para esse
Registro e mudanças de guardas, promete-se prontamente fazer; porém se Vm. for à nova
picada, avise-me, para eu na ocasião desta excursão saber que Vm. não se acha aí, de quem só
me fio. (SANTOS, 2010, p. 92-93.)

“eu não deixo de presumir que ele sabia, e talvez patrocinava o projeto; é filho do Reino, e
muito bem conceituado e benquisto; mas deve grandes somas à Fazenda Real, de contratos de
entradas; sabendo que o Alvarenga era muito gastador e caloteiro, que nada pagava, estava-
lhe assistindo com dinheiros, que já passavam de quarenta mil cruzados”.(ADIM 7, 55.)

O Intendente do Ouro, José Caetano César Manitti, que servira de escrivão no processo
contra os inconfidentes, iniciado em 1789 e concluído três anos depois, alguns dias antes de
retirar-se para Portugal, conseguiu do ex-contratador um empréstimo de um conto de réis,
alegando necessidades para as despesas de viagem.

Ouro Preto vista de


uma das janelas
superiores da Casa
dos Contos.

295
Tiradentes sendo preso

Segundo Kenneth
Maxwell: Além disso,
no início de maio,
entre os dias dez e
doze, Barbacena
chegou a um acerto
com João Rodrigues
de Macedo. O
contador deste, Vicen-
te Vieira da Mota,
visitou o governador
em Cachoeira do
Campo e os dois
discutiram negócios da casa de Rodrigues de Macedo, “e esta prática, que tivera como dito
Governador de Minas foi feita por ocasião de ter o mesmo Governador mandado chamar a ele
respondente ao dito Arraial da Cachoeira, aonde lhe fez mais várias perguntas a respeito dos
negócios da casa de João Rodrigues de Macedo”. “E recomendara o dito governador […] que
nada dissesse do que tinha passado com ele”. A natureza dos “negócios” debatidos é obscura,
mas o resultado é claro: Macedo recebeu total proteção contra qualquer interrogatório, ou
investigação, ou implicação na inconfidência. O que deu ele em troca só pode ser suspeitado,
mas há prova evidente de que Barbacena, em certo momento, manteve certos entendimentos
financeiros com o contratante. (MAXWELL, 2009, p. 240.)

Em carta datada de 24 de fevereiro de 1800, em Vila Rica, Basílio de Brito Malheiro do Lago,
que havia sido empregado dos contratos de João Rodrigues de Macedo, ao cobrar do ex-
patrão a importância de 5.000 cruzados, afirma que Macedo fazia gastos para sustentar os
filhos de seus companheiros inconfidentes que foram sentenciados à forca, afirmando que
bem sabia o porquê de o banqueiro ter escapado ao cadafalso. (ADIM, 9, 340.)

Os Autos de Devassa deixam transparecer que boa parte da Capitania de Minas Gerais sabia
e apoiava o movimento inconfidente. Seria impossível prender e punir a todos, o que levou
as autoridades lusitanas a fazerem escolhas, selecio-nando os alvos do processo. Macedo
não foi envolvido
como réu do crime de
lesa majestade
parente-mente por
mais de uma razão, as
quais aventamos

296
a) Como devedor de altas somas à Coroa, sua prisão implicaria em perdas financeiras
enormes. Era preferível deixá-lo cobrando seus devedores e fazendo os repasses à Fazenda
Real do que colocá-lo em um calabouço;
b) A inocência e proteção a Macedo interessavam financeiramente a várias autoridades
incumbidas da apuração levada a efeito nas Devassas. A corrupção presumida do
Visconde de Barbacena e comprovada do Escrivão Manitti são circunstâncias que
evidenciam uma séria – e nada inovadora – situação de parcialidade no sistema de
administração pública de Portugal Colonial.
c) O carisma, a respeitabilidade, a projeção social, a ascendência econômica e a sua
poderosa e extensa rede de relacionamentos no Brasil e na Europa seriam capazes
de criar sérias dificuldades para a Corte debelar o movimento rebelde, caso Macedo fosse
envolvido como réu da Devassa.

Enfim, não era oportuna nem tampouco conveniente a responsabilização de João Rodrigues
de Macedo. Por volta de 1802 João Rodrigues de Macedo deixa Ouro Preto para passar
definitivamente para S. Gonçalo do Sapucai.

Morte e sepultamento

Após ter perdido a maior parte de seu patrimônio em razão das dívidas com a Coroa
Portuguesa, tendo seus bens confiscados em 1803, João Rodrigues de Macedo mudou-se
para o Sul de Minas Gerais, passando a morar, em companhia de sua comadre
e sócia Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, viúva de Alvarenga Peixoto, na Fazenda
Boa Vista, em São Gonçalo do Sapucaí, localidade à época pertencente à Vila de Campanha
da Princesa.

297
Registro do falecimento de João Rodrigues de Macedo em 1807, São Gonçalo do Sapucaí

Foi em São Gonçalo que João Rodrigues de Macedo faleceu, após receber todos os
sacramentos, em 06 de outubro de 1807, deixando como testamenteiros: Doutor João de
Araújo de Oliveira e seus sobrinhos Antônio José Fernandes de Macedo, o Capitão Jeronimo
Fernandes de Macedo, e Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo, filhos de José Rodrigues
de Macedo. (nota: está errado: os sobrinhos Antônio José e Jerônimo foram filhos de Maria, a
irmã mais velha de João Rodrigues de Macedo e Antônio Joaquim foi filho do irmão Antônio
Rodrigues de Macedo (Rainer Pfeiffer Novelli))

Ao tomar conhecimento da morte de Macedo, o comandante do destacamento de Vila de


Campanha da Princesa, José da Silva Brandão, mandou uma patrulha para resguardar os
bens do falecido e permitir que a justiça definisse o destino dos mesmos, pois ainda havia
dívidas a saldar.) Abaixo a transcrição de ofício do Comandante Brandão á Vossa Alteza Real:

” Participo a V.A.R. q o dito Joáo Rodrigues de Macedo falesceu da Vida presente hontem q se contarão 6
do corrente mez, deixando por seus testamenteiros, em primeiro lugar ao Doutor João de Araújo de Olivei-
ra, em Segundo, terceiro, e Quarto lugar aos Seus Sobrinhos Antonio Joze Fernandes de Macedo, o
Capitão Jerônimo Fernandes da Silva Macedo, e Antonio Joaquim Rodrigues de Macedo para cuja
Caza e Lavras do mesmo falescido e devedor, despachei logo uma Guarda Militar deste Destacamento, não
só para as vigiar, assestir às apurações q se continuão a fazer; mas também para auxiliar qualquer
deligencia da Justiça, q houver de se proceder; para o q requeri ao Doutor Juiz de Fora deste Termo, q em
quanto a Junta da Administração da Fazenda de V.A.R. não determinasse outras providencias, mandasse
elle pôr em Segurança todos os bens do referido falescido; e eu sigo já a examinar o estado, em q ficão as
sobreditas Lavras e mais bens respectivos, para poder dar a V.A.Rel huma exacta informação, sendo
perciza, para me determinar o que for servido. No entanto, porem, V.A.R. se digne ordenar quem hade
responder pela Administração da dita Fabrica da Mineração do ouro, e da Cultura, e pelas despezas, q são
indespensaveis para o Costeio da mesma; e o que devo praticar daqui em diante a respeito da Cobrança
das terças partes, de q estou encarregado, para prontamente o executar, como fiel Vassallo de V.A.R.”

(José da Silva Brandão. Ofício relativo ao falecimento de João Rodrigues de Macedo e aos
procedimentos referentes ao seu espólio. Vila da Campanha da Princesa, 07 out. 1807. Biblioteca
Nacional-Manuscritos I-32,09)

João Rodrigues foi sepultado, envolto em hábito de Nossa Senhora do Monte do Carmo,
dentro da Capela de São Gonçalo do Sapucaí, em 07 de outubro de 1807, “do arco para
cima”, sendo acompanhado por cortejo, pelo Reverendo Pároco e por nove sacerdotes.

298
Fotografia de São Gonçalo do Sapucaí por volta de 1900

Considerações finais

Discreto, inteligente, astuto, generoso e carismático, detentor de muito poder e dinheiro, João
Rodrigues de Macedo reunia todos os requisitos sociais, religiosos, políticos e econômicos para
ser um dos maiorais da República projetada pelos inconfidentes. É possível que todos esses
predicados tenham constituído, em boa parte, o motivo para que ele não fosse envolvido na
Devassa. João Rodrigues de Macedo foi, possivelmente, um dos principais partícipes da trama
inconfidente. A dimensão do alcance de sua participação na Inconfidência Mineira merece
maiores estudos e novos olhares.

Referências
CÂMARA DOS DEPUTADOS e Governo do Estado de Minas Gerais. Autos de Devassa da Inconfidência
Mineira (ADIM). Brasília, Belo Horizonte: 1976 a 2001. 11 v.
FERRAZ, Eugênio. A Casa dos Contos de Ouro Preto. Belo Horizonte: C/ Arte, 2004.
FONSECA, Paulo Miguel. O contratador João Rodrigues de Macedo: ações e transações através da prática
epistolar no século XVIII. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 125, p. 29-55, 2008.
FONSECA, Paulo Miguel. João Rodrigues de Macedo: o contratador e sua espiral de poder no setecentos
mineiro. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, 2005, Londrina. Anais do XXIII Simpósio Nacional de
História – História: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005. CD-ROM.
JARDIM, Márcio. A Inconfidência Mineira. Uma síntese factual. Rio de Janeiro: Bibliex, 1989.
LAPA, Manoel Rodrigues. Vida e obra de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1960.
MAXWELL, Kenneth. A Devassa da Devassa. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
OLIVEIRA, Tarquínio J. B. de. Um banqueiro na Inconfidência. Ouro Preto: ESAF, CECO, 1981a.
OLIVEIRA, Tarquínio J. B. de.A Casa dos Contos. Uma experiência de Arquivologia. Ouro Preto: ESAF, CECO,
1981b.
NEVES, Maria Agripina; COTTA, Augusta de Castro. Do Monte Carmelo a Vila Rica. Ouro Preto: 2011.
SANTOS, Márcio Vicente Silveira. Tiradentes em Sete Lagoas. Sete Lagoas: Kosmos, 2010.
VALADARES, Virgínia Trindade. Elites mineiras setecentistas. Conjugação de dois mundos. Lisboa: Edições
Colibri, 2004.
VIEIRA, José Crux Rodrigues. Tiradentes: A Inconfidência diante da História. Belo Horizonte: 2º Clichê, 1993.

299
São Gonçalo do Sapucaí, onde estava localizada a Fazenda da Boa Vista

Os Macedos chegam em São Gonçalo do Sapucaí


Como vimos no capítulo anterior, João Rodrigues de Macedo tinha muitos e variados negócios
em andamento no Brasil. Para apoiá-lo, recebeu já antes de 1778 a ajuda de um sobrinho(?),
Joaquim Fernandes de Macedo, que até agora não pude identificar e por volta de 1787 o apoio
de seu irmão, o Padre Custódio Rodrigues de Macedo que esteve certo tempo com os primos
no Rio e com ele em Ouro Preto. Um pouco mais tarde, respectivamente em 1795 e 1796 vieram
seus sobrinhos Jerônimo Fernandes da Silva Macedo e Antonio José Fernandes de Macedo,
filhos de sua irmã Maria Rodrigues de Macedo que vivia na casa do Assento em S. Martinho do
Campo.

Em 1795, três anos após a morte do poeta Inácio


José de Alvarenga Peixoto, compadre de João,
durante seu degredo na região de Ambaca, em
Angola por causa de seu envolvimento na
Inconfidência Mineira, João acude sua comadre, a
viúva Barbara Heliodora Guilhermina da Silveira
arrematando a metada da fazenda da Boa Vista de
Alvarenga Peixoto em São Gonçalo do Sapucaí,
confiscada e posta à venda em leilão público. A
outra metade ficou na posse de Barbara Heliodora,
que com a ajuda de João pôde provar que era
casada em comunião de bens com Alvarenga, o
que impediu a corôa de confiscar a propriedade
por completo. A antiga “Vila Rica”, Ouro Preto,
capital da capitânia das Minas Gerais.

Retrato encontrado em um antigo casarão atribuído


(provavelmente errôneamente)à Barbara Heliodora.

300
Detalhe do mapa da sesmaria
da Boa Vista

Assim João ajudou a amiga e comadre


a salvar uma parte de suas posses.
Além de produzir cana de açucar, a
antiga Sesmaria da Boa Vista tinha
lavras de ouro com boa produção.
João havia sido padrinho de batismo
do segundo filho de Barbara e
Alvarenga, José Eleutério, sendo que o
filho mais velho João Damasceno tinha
como padrinho o desembargador e
também incon-fidente Tomás
Antônio Gonzaga. Desse modo João
impediu que outra pessoa qualquer
tomasse posse da metade da sesmaria
da Boa Vista. Isso foi de certo uma
grande ajuda para Barbara, pois tendo
um estranho como sócio, seria difícil
para ela como mulher e viúva,
continuar a administrar a propriedade.
Mas por outro lado João assegurou
para si e também para o irmão Bento
o pagamento das antigas dívidas de
Alvarenga, pois este devia grandes
quantias de dinheiro aos Macedo, em
parte já emprestadas 25 anos antes
em Coimbra.

Engenho de cana
de Açucar –
desenho de
Rugendas

301
João já tinha certa
experiência com a
produção e comer-
cialização de açucar e
aguardente e pôde apoiar
Barbara neste ramo. Assim,
de mero homem de
negócios, João passou a ser
fazendeiro e dono de lavras
de ouro, de cujos
rendimentos passou a viver
e igualmente a pagar suas
antigas dívidas junto à
corôa portuguesa,
provenientes dos seus
contratos da década de
1770 e 1780.

Talvez mesmo sabendo que


o tio João estava
fortemente endividado e
que só havia passado por
um triz de ser condenado
pela conjuração mineira, o
jovem sobrinho Antônio
Joaquim Rodrigues de
Macedo, com seus 20 anos
de idade, filho de Antônio
Rodrigues de Macedo e
nascido em Coimbra, deve

ter visto no tio e na colônia uma oportunidade


para si e assim, por volta de 1798-1800 ele faz
a viajem com barco a vela para a colônia
seguindo para Ouro Preto, onde passaria a
ajudar o tio em seus negócios.

Imagem acima: Mapa da sesmaria da Boa Vista feito por


Alvarenga Peixoto para esclarecer litígios sobre os seus
limítes por volta de 1780

Imagem ao lado: Marco de uma


das divísas da Boa Vista

302
Foto antiga de São Gonçalo com uma seta demostrando onde ficava a casa de Barbara Heliodora

Já em 1797, João Rodrigues de Macedo transferiu parte de sua casa para a Real Fazenda
para pagar parte de suas dívidas perante a corôa, que a transformou em sede da
administração e contabilidade pública da Capitania de Minas Gerais recebendo assim seu
nome atual de “Casa dos Contos“.

O Erário Régio acabou confiscando a casa de Macedo definitivamente em 1802. Creio que
no mais tardar nesta época João e dois de seus sobrinhos – nosso antepassado Antônio
Joaquim e seu primo Antônio José – passaram definitivamente para São Gonçalo do Sapucaí
onde administrariam lavouras e lavras da fazenda Boa Vista. O terceiro sobrinho, Jerônimo,
já casado, continuou morando em Santo Antonio da Casa Branca, um distrito de Ouro Preto,
chamado hoje de Glaura, de onde veio sua esposa. Sobre ele veremos mais adiante.

Cena de cidade mineira – no


exemplo de Tiradentes

A fazenda Boa Vista


(chamada antigamente
de Sesmaria da Boa
Vista) era enorme. Tinha
3 léguas de comprido e
uma de largo, medindo
ao todo 21 quilômetros
quadrados. Além desta
fazenda Alvarenga
Peixoto havia adquirido
uma outra

303
Gravura de um engenho de acuçar brasileiro (século XVII)

contígua a esta chamada de fazenda Engenho dos Pinheiros. Ao lado da cana de açucar, as
terras ainda tinham lavras de ouro muito produtivas. Na verdade era esta a maior ambição de
Alvarenga Peixoto. A produção aurífera da região tradicional das Minas (Ouro Preto, Sabará e
arredores) estava em decadência e por volta de 1770-1780 a procura e a exploração de novas
regiões auríferas na comarca do Rio das Mortes prometia grandes fortunas. Alvarenga havia
adquirido essas terras por meio de um tio pelo fato de que ele por lei não podia adquirir terras
pois era ouvidor desta comarca. Ele investiu nela a herança de seu pai e além disso provavelmente
se individou ainda mais, devido às grandes obras necessárias para canalizar as àguas dos riachos
próximos e levá-las às lavras auríferas. Foram 30 quilômetros de canais necessários para a
atividade mineradora. Para cuidar da lavoura, das lavras de ouro e para fazer as obras necessárias,
Alvarenga havia adquirido mais de 100 escravos o que fazia da Boa Vista um empreendimento
econômico comparável a uma fábrica hoje.

O sobrinho de João e primo de Antônio Joaquim, o Capitão Jerônimo Fernandes da Silva


Macedo (nascido em 1 de março de 1778 em São Martinho do Campo) veio ao Brasil antes de
1795 após passar alguns anos em Coimbra onde se profissionalizou no negócio do seu „tio“ Do-
mingos. Jerônimo se intalou em Santo Antônio da Casa Branca (hoje Glaura) e se casou por volta
de 1800 com Rita Euzébia da Assunção, uma irmã dos políticos Domingos da Silva e Oliveira e
Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, de Santo Antônio da
Casa Branca. Antônio Eustáquio foi o fundador da cidade de
Uberaba, MG. Rita Euzébia tinha como padrinho de batismo
o inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, o ouvidor de Vila
Rica e amigo de João Rodrigues de Macedo. O pai de Rita
Euzébia, João da Silva e Oliveira, foi um importante vereador
em Ouro Preto e tinha laços de amizade e de negócios com
o inconfidente Claudio Manoel da Costa, advogado de João
Rodrigues de Macedo e com o próprio João Rodrigues de
Macedo, para o qual cobrava os impostos em Santo Antonio
da Casa Branca. João Rodrigues de Macedo foi padrinho de
um dos filhos de João da Silva e Oliveira.

Retrato de Alvarenga Peixoto


(provavelmente imaginário)

304
Imagem acima: Registro de batismo de um filho de Jerônimo, Carlos, nascido em Santo Antonio da Casa Branca
em 1802

Imagem ao lado: A igreja Matriz de Santo


Antonio da Casa Branca, hoje Glaura, na época
um distrito de Ouro Preto. Essa cidade
desempenha um papel importante na história de
nossa familia ancestral dos Araújo, sobra a qual
leremos em outro capítulo.

O irmão de Jerônimo, Antônio José Fernandes


da Silva Macedo (também chamado de Antônio José Rodrigues de Macedo), nascido em 29
de março de 1777 em São Martinho do Campo, veio em 1796 se casou por volta de 1808
com uma sobrinha de Barbara Heliodora, Umbelina Maria da Silveira Lobato.

Carta de Bento a
João de 1796
anunciando a vinda
de Antônio ao
Brasil ao invéz do
seu irmão Francis-
co como havia sido
estipulado antes.

305
A mãe de Umbelina Maria foi Maria Amalia da Silveira Lobato.
Juntos tiveram ao menos 4 filhos, todos nascidos em São
Gonçalo do Sapucaí. Infelizmente não sei dizer se essa familia
continuou em São Gonçalo do Sapucaí. Devido ao tamanho
enorme da paróquia da Campanha da Princesa, à qual pertencia
São Gonçalo e as outras cidades da região na época, e devido ao
estado relativamente ruim dos livros, fica dificil de prosseguir a
pesquisa nestes ramos familiares.

Abaixo: Um dos registros de nascimento dos filhos de Antônio José, muitos dos
quais tiveram padrinhos e madrinhas da familia dos Silveira, da Barbara
Heliodora e parentes seus

João Rodrigues de Macedo falece em 6 de Outubro de 1807 em São Gonçalo do Sapucaí,


onde foi enterrado, e como não foi casado e não teve filhos, deixou seus bens e também as
suas dívidas para seus sobrinhos. De toda sua fortuna de outrora restaram apenas casa em
São Gonçalo do Sapucaí e a fazenda com as lavras de ouro que os sobrinhos continuaram a
administrar com a sócia Barbara Heliodora e sua familia.

Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo se casou por volta de 1800 com Dona Emeren-
ciana Joaquina. Infelizmente ainda nada sabemos sobre ela. Ela deve ter falecido cedo, pois
no senso de 1831 Antônio Joaquim já aparece como viúvo, vivendo apenas com sua
escravatura em São Gonçalo do Sapucaí. Os dois tiveram ao menos 2 filhos, dos quais só
pude encontrar o registro de batismo da filha mais nova, Angelina Damiana, nascida em
1812. Sobre esta família vamos ver mais no decorrer deste livro.

Ao que parece, todos três sobrinhos de João Rodrigues de Macedo deixaram vasta
descendência em São Gonçalo do Sapucaí e região.

Registro de batismo de Angelina Damiana de Abreu Macedo de 1812 em São Gonçalo do Sapucaí

306
Carta do agente do Fisco Portugues
José da Silva Brandão a respeito das
cobranças das dívidas de Macedo de
seus sobrinhos herdeiros. 1807. Este
José da Silva Brandão esteve entre as
muitas pessoas às quais João Rodrigues
de Macedo havia emprestado dinheiro

Em um documento da Real Fa-


zenda de Minas Gerais na
questão das dívidas de João
Rodrigues de Macedo quando
contratador de tributos há duas
listagens que mostram a
quantidade de ouro que foi
apurada em apenas duas lavras
de João Rodrigues entre os
meses de maio e outubro do
ano de sua morte em 1807:
2.850 oitavas de ouro. O antigo
contratador ainda tinha muito a oferecer aos cofres reais. Até mesmo depois da
independência do Brasil, após 1822 o fisco continuava a cobrar as dívidas de João Rodrigues
de Macedo perante seus sobrinhos e herdeiros.

Imagem abaixo: Um dos marcos ainda hoje visíveis da Sesmaria da Boa Vista em São Gonçalo.

307
A igreja de Santa Cruz em Coimbra, onde Mariana foi batizada em 1747

Os ancestrais de Mariana Clara Rosa Joaquina de Abreu

Com Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo deixamos definitivamente Portugal e


passamos ao Brasil, onde continuará nossa história. Como vimoss, Antônio Joaquim veio ao
Brasil devido a seu tio João Rodrigues de Macedo. Como os Macedos de São Gonçalo do
Sapucaí descendem em sua maioria de Antônio Joaquim, vamos conhecer neste capítulo os
ancestrais de sua mãe Mariana Clara Rosa Joaquina de Abreu, filha de Gaspar de Abreu e
de Maria Francisca.

Gaspar de Abreu

O pai de Mariana foi Gaspar de Abreu, natural do lugar da Nespereira em Povolide, no


Concelho de Vizeu que veio para Coimbra por
volta de 1730 em companhia de seu irmão
Antônio de Abreu que foi ourives e familiar do
Santo Oficio (fez habilitação em 1732). Gaspar foi
cozinheiro da inquisição em Coimbra e mais tarde
dono de uma agência nesta mesma cidade.

308
O Pátio da Inquisição em Coimbra.

Essas informações foram retiradas dos processos de habilitação ao Santo Oficio de Antonio
Rodrigues de Macedo e Mariana Clara Rosa de Abreu de 1769. O Santo Oficio estava
instalado no Pátio da Inquisição, a apenas 150 metros do terreiro do Sansão, onde a mãe de
Mariana, Maria Francisca, tinha uma padaria. Pode ser que os dois se conheceram devido ao
trabalho, sendo ambos do ramo gastronômico.

Seja como for, Gaspar viveu mais tarde como agente. Não sabemos dizer o que ele fazia ou
negociava em sua “agência” em Coimbra. Mas suas origens eram camponesas, ele nasceu na
Quinta da Pena no lugar da Nespereira em Povolide, uma pequena freguesia no concelho de
Viseu, a quase 100 quilômetros de Coimbra em direção nordeste. Ele lá nasceu em 1693,
sendo filho do
lavrador Luis de Abreu
da Nespereira e de
Maria Gomes da
Quinta da Pena. Gas-
par de Abreu
descende das
tradicionais familias
dos Abreus e dos
Gomes de Povolide.

Imagem ao lado: trecho do


processo de habilitação a
familiar do Santo Oficio de
Antônio Rodrigues de
Macedo de 1768.

309
Igreja e freguesia de Santa Cruz
em Coimbra

Gaspar de Abreu foi


admitido em 1753 na
Venerável Ordem Terceira
da Penitência de S. Fran-
cisco de Coimbra, onde
também estavam os
irmãos Rodrigues Macedo.
Nos processos de
habilitação a Familiar do
Santo Oficio da filha Ma-
riana Clara Rosa de Abreu
e do genro Antonio Roiz
de Macedo, diz a
testemunha Bento Gomes
(o tio de Antonio Roiz de Macedo), „Sirgião“ em Coimbra, que Gaspar de Abreu e sua esposa
viveram de "suas fazendas e agência". Outra testemunha de Povolide disse que Gaspar havia
sido cozinheiro na inquisição de Coimbra.

Gaspar é mencionado como arrendatário do casal No. 15 dos Casais da Pedrulha do Monte,
freguesia de Santa Cruz, Coimbra em 1750 (...em terras do campo a quinta junto a S. Lom-
bardo, de que eram usufrutuários Gaspar Abreu e sua mulher, de Coimbra): «…da outava de
cazal de sinco galinhas de foro que foi de Antonio Paes Rebello da Cidade de Coimbra».
Nomeado para cabeça: Gaspar de Abreu, da Cidade Coimbra».

Os Abreu foram uma familia numerosa em Povolide no século XVI, mas para poderem se
diferenciar melhor, passaram com o tempo a adotar sobrenomes diferente, de acordo com o
nome do pai, por exemplo Francisco, Fernando, João ou Gonçalo, o que dificulta muito a
pesquisa genealógica devido a inúmeras pessoas com os mesmos nomes e que de geração
em geração mudavam seus sobrenomes. Por exemplo encontrei no mínimo 5 Domingos
Fernandes vivendo ao mesmo tempo em Povolide o que dificulta muito fazer as ligações das
pessoas certas.

Um registro de matrimonio de Povolide de 1567 onde vemos que o filho de um Abreu adotou outro sobrenome
seguindo o patronímico, neste caso Francisco Antonio, filho de Antonio Abreu. Sua esposa foi Antonia Francisca,
filha de Francisco Anes, que como podemos ver também adodou o patronímico.

310
Uma festa popular na freguesia de Povolide, lugar de Nesprido

Já encontramos a família Abreu no capítulo sobre os presumíveis ancestrais de Salvador


Francisco de Abreu. Eles parecem chegar na região de Povolide por volta de 1450 quando
Dom João Gomes de Abreu, que nasceu em Regalados em 1416 se torna bispo de Viseu. Foi
filho de Diogo Gomes de Abreu, Senhor de Regalados (Vila Verde) e da honra e quintã de
Abreu. Ele deixou descendência na região que também passou para Povolide. A concubina
de João Gomes de Abreu, a abadessa Dona Beatriz de Eça, foi bisneta do Rei Dom Pedro e
da famosa Dona Inêz de Castro. Infelizmente não podemos entroncar nossos ancestrais na
linhagem destes Abreus, mas é presumível que algum dos ancestrais do alfaiate Antônio de
Abreu, nascido por volta de 1600 descenda destes Gomes de Abreu.

311
O lugar do Vilar de Ordem
em Povolide

Os Gomes também
podem ser seguidos
até a primeira metade
do século XVI em
Povolide. A familia da
qual descende Maria
Gomes, avó de Ma-
riana, esteve por
algumas gerações no
Vilar de Ordem em
Povolide, onde conviveram com os ancestrais dos Condes de Povolide (família Mello) os
quais desconfio serem parentes de nossos ancestrais, pois também tiveram ancestrais Go-
mes e Abreu. Os Gomes de Mello e Mello da Cunha (descendentes dos figalgos Gomes de
Abreu) aparecem muitas vezes como padrinhos e testemunhas nos registros paroquiais das
famílias Gomes em Povolide no século XVI. O nome do Vilar de Ordem vem do fato que na
idade média esta vila pertenceu à Ordem do Hospital (mais tarde Ordem de Malta), o que
lhe rendeu esse nome.

Casamento de Thomé Gonçalves com Domingas Fernandes do Vilar d´Ordem, Povolide 1606.
No meio: Batismo das „3 Marias“ do nosso casal ancestral Julião Francisco e Maria Fernandes, do Vilar de
Cima em Cabril, Povolide em 1613, um caso raro de trigêmeos que sobreviveram o parto.

Abaixo: Batismo de
Gaspar Gomes, filho de
Domingos Gomes e de
Isabel Antonia do Vilar
d´Ordem em Povolide
em 23. de novembro de
1561. Domingos foi o
patriarca dos Gomes do
Vilar da Órdem.

312
A igreja do Convento de Santa Cruz e o terreiro de Sansâo em Coimbra.

Nesta igreja foi onde se casaram os pais e avós de Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo
e onde ele e sua mãe foram batizados. E nesta praça seu tio Bento teve loja
e sua avó Maria Francisca uma padaria e mercearia.
Maria Francisca, a Espadeira
A mãe de Mariana Clara Rosa Joaquina de Abreu foi Maria Francisca, de alcunha “Maria
Espadeira”, que morou e teve padaria em uma esquina do Terreiro de Sansão no centro de
Coimbra. Ela herdou a padaria do pai, João Dias, de alcunha “o Espadeiro“.

João Dias descende da numerosa familia Dias, de alcunha “os Palhinas“, moradores que
foram desde sempre na freguesia de Ceira, a menos de 10 quilômetros do centro de
Coimbra. Ele deixou a terra natal e foi por volta de 1690 para a cidade do Porto onde
provavelmente exerceu o ofício de padeiro e se casou com Maria de Souza. Após a morte da
primeira esposa foi para a freguesia de Santo André do Barrou, (hoje Barrô de Aguada) no
distrito de Aveiro para se casar em 1699 com nossa ancestral Maria Francisca, originária de
lá, passando depois
para Coimbra onde
abriu padaria no
terreiro do Sansão, fato
que lhe rendeu a
alcunha “o Espadeiro”.
Alcunha herdada mais
tarde por sua filha que
o sucedeu neste ofício.

Os ancestrais de
Maria Francisca

313
Casamento em 1638 em Barrô de Águeda entre André Francisco e Olaia Francisca

Casamento entre Sebastião Francisco “Barbeiro” e Maria Francisca, a “Caroncha” em Barrô, 1669, bisavós de
Mariana Clara Rosa de Abreu.

A “festa do Pau” em Barrô, antiquíssima


tradição folclórica da região. E a
localizaão das raízes de Mariana Clara
Rosa de Abreu

314
O registro de casamento de Antonio Rodrigues de Macedo e Mariana Clara Rosa Joaquina em Coimbra, igreja de
Santa Cruz em 1766. Testemunhas: o padre Antonio José de Abreu, irmão de Mariana e José Rodrigues de Car-
valho, „tio“ de Antonio.

Antonio Rodrigues de Macedo


Já vimos que vários irmãos da família Rodrigues de Macedo passaram para Coimbra no
decorrer das décadas de 1750 e 1760 vindo de São Martinho do Campo no atual Concelho
de Póvoa de Lanhoso. Em Coimbra foram comerciantes. O irmão mais velho Bento abriu
uma loja no terreiro do Sansão e pode ser que quando Antonio Rodrigues de Macedo, que
era 10 anos mais novo que Bento, veio para Coimbra, esteve trabalhando com o irmão e
frequentou a padaria da Maria Espadeira conhecendo assim sua filha Mariana. Outra
coincidência, ou não, foi que o irmão de Mariana, Antônio José de Abreu, que foi padre, foi
admitido no mesmo ano de 1763 que Antônio Rodrigues de Macedo na Venerável Ordem
Terceira da Penitência de S. Francisco de Coimbra.

Os dois se casaram no dia 6 de julho de


1766 na igreja de Santa Cruz. Tiveram
vários filhos e viveram no próximo
bairro de Santa Justa, mas não
deixaram de ser fregueses da pároquia
de Santa Cruz. Antonio abriu uma loja
de mercearia em Coimbra. A partir de
1775 eles são mencionados como
moradores no Terreiro de Sansão para
onde devem ter se mudado.

315
Também já vimos que os pais de Mariana
eram arrendatários de um casal no Campo da
Pedrulha (imagem ao lado) na área norte de
Coimbra. Aqui uma curiosidade:
„O PRIMEIRO ASSENTO PAROQUIAL NA NOVA
IGREJA DA PEDRULHA, Coimbra «Em os dezouto
dias do mes de outubro do anno de mil e setecentos
e outenta Baptizei o primeiro na Igreja nova e pus
os sanctos oleos a Antonio filho legitimo de Joam
Mendes natural da sidade de Coimbra e de sua
molher Maria Ignacia natural deste lugar e freguezia da Pedrulha e nele assistentes nepto paterno de
Joam Mendes e de sua molher Maria Freire naturaes da mesma sidade e pela materna do Capitam José
António da Cunha e de sua molher Thareza de Jezus naturais deste lugar foram padrinhos o Reverendo
Joam Antonio de Souza Negram Arsedeago de Penela e prior da Igreja do Salvador de Coimbra (…) e
Madrinha Mariana Clara Roza de Abreu molher do Capitam Antonio Rodrigues de Masedo Mercador
de Samsam de Coimbra (….) foram testemunhas do dito Batismo Francisco Dias da Encarnasam e Antonio
Joze da Cunha» Assina o Cura, Manuel Antonio da Piedade Collaço (Assento extraído de Livro Misto da
Freguesia da Pedrulha, 1762-1830)“

Registro de batismo de Antonio Joaquim Rodrigues de Macedo, 3 de março de 1778

O sexto filho do casal foi meu antepassado Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo, que nasceu
no bairro de Santa Justa em Coimbra no dia 3 de março de 1778. Foi batizado na importante
igreja de Santa Cruz, onde estão sepultados os dois primeiros reis de Portugal, Dom Afonso Hen-
riques e Dom Sancho I e teve como padrinho o Doutor Antonio Leite Ribeiro, provavelmente Dr.
em cânones que se casou com Dona Bernarda Joaquina Vitoria e Silva em 1757.

Mas a situação
financeira de Antonio
Rodrigues de Macedo
estava dificil e este
passou a dever
dinheiro à fazenda
Real, provavelmente

316
os impostos. Ele começou a se endividar para pagar suas dívidas junto à corôa. Seu irmão Bento,
que estava financeiramente bem, lhe concedeu um empréstimo o que lhe salvou seu negócio,
mas nos parece que sua situação financeira continuou não sendo das melhores, nas cartas entre
Bento, José e João podemos ler que Antônio recebia de vez em quando ajuda de seus irmãos
ricos, preocupados com a situação dele e de sua familia. Podemos ver muito bem que Bento se
via de fato como o responsável pela grande familia dos Rodrigues de Macedo, apoiando seus
irmãos onde podia.

Imagem acima: A cidade de Ouro Preto em Minas Gerais, onde João Rodrigues de Macedo viveu
entre ca. 1770 e ca. 1802
Imagens da página ao lado e acima: Cartas de José Rodrigues de Macedo (de 1794) e de Bento Rodrigues de
Macedo (de 1782) de Coimbra ao irmão João Rodrigues de Macedo que estava em Ouro Preto tratando da
situação financeira do irmão Antônio e sua família que estava à beira de ter seus bens confiscados pelo fisco
português.

317
Imagem acima: A cidade de São Gonçalo do Sapucaí em 1918

Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo em


São Gonçalo do Sapucaí
É dificil de reconstruir como Antônio Joaquim passou para o Brasil. Ao contrário de seus dois
primos de São Martinho do Campo, filhos da tia Maria Rodrigues de Macedo, não dispomos de
cartas de João Rodrigues de Macedo o mencionando. Ele aparece pela primeira vez em
documentos brasileiros, já em São Gonçalo do Sapucaí (antigamente São Gonçalo da Campanha)
em 1807 quando seu tio João falece e em 1812 quando sua filha Angelina Damiana nasceu.

Junto com seus primos José Antônio e Jerônimo Fernandes da Silva Macedo, Antônio Joaquim
foi herdeiro do rico tio contratador João Rodrigues de Macedo, herdando assim a Fazenda da Boa
Vista que tinha em sociedade com Barbara Heliodora em São Gonçalo do Sapucaí, mas herdando
ao mesmo tempo as dívidas restantes do tio, que naquele momento ainda eram muito grandes.

Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo se casou por volta de 1810 com Dona Emerenciana
Joaquina. Infelizmente nada sabemos sobre ela. Se ela talvez fosse de São Gonçalo do Sapucaí ou
de Ouro Preto ou talvez até mesmo de Coimbra. Segundo o senso da população brasileira de
1831, o filho de ambos Antônio Julio tinha 28 anos de idade na época, assim podemos presumir
que se casaram por volta de 1803, Antonio Joaquim teria assim mais ou menos 25 anos de idade
quando se casou com Emerenciana.

Em 1803 encontramos em São Gonçalo o registro de batismo de Archangela, filha de Pedro


e Matildes, escravos de João Rodrigues de Macedo (imagem abaixo), sendo padrinho “Joa-
quim, estudante” e Dionizia Crioula. Será que se trata de nosso Antonio Joaquim Rodrigues
de Macedo? Pode ser que Joaquim, à essa altura com 25 anos ainda estivesse estudando.

Emerenciana Joaquina aparece nos registros em 1804.

318
São Gonçalo do Sapucaí

Infelizmente não pude


encontrar o registro de
batismo do filho
Antônio Julio de Abreu
Macedo. Assim não
sabemos se já nasceu em
São Gonçalo. Na época o
tio João Rodrigues de
Macedo ainda estava
vivo. Este veio falecer em
6 de outubro de 1807, o que fez com que o Comandante Brandão, antigo devedor de João Rodri-
gues de Macedo e responsável pela arrecadação das antigas dívidas de João, emitisse o ofício á
Vossa Alteza Real para „vigiar, assestir às apurações q se continuão a fazer; mas também para
auxiliar qualquer deligencia da Justiça, q houver de se proceder“.

Pode ser que Brandão fosse amigável à família de Macedo, sende assim um maal menos pior para
os herdeiros, mas ao mesmo tempo é possível que ele tivesse a intenção de tirar um proveito da
situação: „No entanto, porem, Vossa Alteza Real se digne ordenar quem hade responder pela
Administração da dita Fabrica da Mineração do ouro, e da Cultura, e pelas despezas, q são
indespensaveis para o Costeio da mesma; e o que devo praticar daqui em diante a respeito da
Cobrança das terças partes, de q estou encarregado, para prontamente o executar, como fiel
Vassallo de V.A.R.”

Uma gravura de ca. 1780 demostrando uma lavra de ouro no Rio das Velhas (regiâo de Ouro Preto)

319
Lavra de ouro em gravura de 1815. Nela pode-se ver dois mineiros batendo nas peles utilizadas para reter o ouro
dos barrancos lavado com a áqua canalizada

As lavras de ouro
A partir desse momento os três sobrinhos herdeiros passaram a administrar a sua parte da fazen-
da Boa Vista com suas lavouras de cana e as lavras de ouro, e passaram igualmente a pagar as
antigas dívidas do tio perante à corôa. Eles fizeram um acordo com a Real Fazenda se
comprometendo a continuar a pagar a terça parte de seus lucros ao fisco. omo já vimos, a
quantidade de ouro que foi apurada em apenas duas lavras de João Rodrigues entre os meses de
maio e outubro do ano de sua morte em 1807 foi de 2.850 oitavas de ouro, o que não era pouco.
Essa quantia exedia em muito o que muitas cidades inteiras produziam nesta época.

O viajante Johann Baptist von Spix escreve enre 1817 e 1820:


„A Vila de Campanha, ou propriamente, Vila da Princesa da Beira, que alçamos cedo, no mesmo dia, pois
dista apenas quatro léguas a nordeste de São Gonçalo, está situada sobre alto outeiro, e é, depois da Vila
de São João Del-Rei, a mais importante e
populosa da Comarca do Rio das Mortes. As
minas de ouro, que em parte só há poucos
anos, foram abertas na vizinhança, incluem se
entre as mais ricas das atualmente exploradas,
e deram grande opulência aos habitantes, entre
os quais travamos relações com o capitão-mor,
um compatricio nosso, irmão do Sr. Stockler,
Governador das Ilhas dos Açores. Aqui, vimos
diversas e bonitas casas de dois pavimentos,
providas de janelas envidraçadas, um dos mais
custosos artigos do interior do Brasil."

Os Macedo continuaram a trabalhar com a


terra e as lavras que herdaram do tio.

Imagens nesta e na próxima página:


320 referências às dívidas de Macedo em
manuscritos de 1820 e 1822 da
Biblioteca Nacional, RJ.
Embarque da família real portuguesa no cais de Belém, em 29 de novembro de 1807

Ao que parece eram 3 lavras de ouro: A Ouro Fala, a lavra do Baú e a de Santa Luzia. Durante a
colheita da cana os escravos trabalhavam na lavoura e durante períodos onde a cana não exigia
mais cuidados, eles eram designados para trabalhar nas lavras.

Apenas alguns meses depois da morte de João Rodrigues a corte portuguesa, fugindo da
eminente invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte, desembarca no Brasil. João Rodri-
gues de Macedo ficou assim sem presenciar um dos capítulos mais interessantes da história
do Brasil, que havia tornado sua nova pátria depois de quase 50 anos vivendo na colônia.

Em 1820 houve certa correspondência do fisco acerca de prestações que faltavam nas
contas dos herdeiros de João Roiz de Macedo. Nela podemos ler que na época já eram oito
herdeiros, mas não sabemos seus nomes.

Até mesmo após a independência do Brasil em 1822 os herdeiros de João continuavam a


pagar suas antigas dívidas – sempre uma terça parte dos rendimentos de suas terras e
lavras, como podemos ver nas reproduções das cartas do fisco abaixo e na página ao lado.

321
Em 1810 um barão alemão chamado Wilhelm Ludwig von Eschwege foi contratado pela coroa
portuguesa para estudar e analisar o potencial mineiro do país. Ele viajou por volta de 1814 pelas
áreas mineradoras mineiras e publicou um famoso trabalho editado em 1833 em Kassel.
Alemanha, chamdo Pluto Brasiliensis. Nele podemos ver nosso Antônio Joaquim Roiz de Macedo
e seus sócios como proprietário da lavra da Boa Vista em S. Gonçalo. Tinha 16 faiscadores a seu
serviço, o que também já demostra o tipo de lavra que tinha e sua produção foi de 510,1/4
oitavas de ouro em 1814.

Podemos ver também que o primo Antônio José Fernandes tinha uma lavra em Ouro Falso (talvez
a lavra de Ouro Fala) com apenas 2 faiscadores e apenas 3 oitavas de rendimento e que Barbara
Heliodora (no livro chamada de Barbara Isidora) tinha 2 lavras, Baú e Gonçalo Velho com 693
oitavas ao todo.

A escravidão
Hoje é estranho e muito desagradável comentar a utilização e exploração de escravos nas fazen-
das e lavras dos nossos antepassados. Esse é um fato que podemos ver muito claramente nos
antigos registros paroquiais. Nossos ancestrais por muito tempo tiraram proveito de um sistema
econômico e social perverso e atrasado. Essa é uma fase muito triste da história do Brasil e
também da humanidade, mas ao mesmo tempo não deixa de fazer parte da história de nossa
familia e não podemos deixar de enxergar isto. Os livros paroquiais de São Gonçalo nos contam
muitas vezes que nasceram, casaram e morreram escravos a serviço dos Macedo. Provas de uma
fase revoltante da história brasileira.
Batizado de Francis-
co, filho de escravos
de Ant. Joaquim Roiz
de Macedo, Sâo
Goncalo 1831

322
Devemos procurar compreender que nós hoje temos a razão e a obrigação de repudiar a
escravidão e qualquer tipo de exploração e racismo. É um crime. Mas devemos ao mesmo
tempo compreender que para as pessoas daquela época aquele sistema era socialmente e
moralmente normal e que julgá-los hoje por isso é relativo. Do mesmo modo como poderá
algum dia vir uma fase na história da humanidade na qual derrubar florestas, comer carne,
ou manter animais em condições cruéis em cativeiro poderá ser considerado crime ou algo
desumano. A ética e a moral são relativos e se modificam com o decorrer do tempo e
devemos ser cuida-
dosos e agir cons-
cientemente com
aquilo que achamos
normal, mas que traz
sofrimento a outras
pessoas ou seres vivos.

Ao lado: Registros de óbito


de escravos de Antônio
Joaquim e de Jerônimo em
São Gonçalo em 1824

323
Acima: Gravura holandesa retratando um engenho de cana de acucar brasileiro

A familia cresce

Em 24 de março de 1812 nasce a filha do casal Antônio Joaquim e Emerenciana Joaquina em


São Gonçalo. Ela recebeu o nome de Angelina Damiana de Abreu Macedo. Um dos
padrinhos de batismo de Angelina Damiana foi o português João José Lopes Mendes Ribeiro,
na época Secretário do Governo da Capitania de Minas Gerais, e sua esposa Isabel Damiana
Monteiro, natural de Santa Justa, Coimbra, assim como Antônio Joaquim Rodrigues de
Macedo. Talvez eles se conhecessem desde a infância em Coimbra. Mais tarde este João
José Lopes Mendes Ribeiro foi presidente da Província de Minas Gerais. Isso nos dá uma
ideia de como os Macedo faziam parte da elite local. Como já vimos anteriormente, o primo
de Antônio Joaquim, Antônio José Fernandes de Macedo havia se casado com Umbelina
Maria da Silveira Lobato, uma sobrinha de Barbara Heliodora. Em 1836 ainda estavam vivos,
ano que fez seu inventário. O outro primo, Capitão Jerônimo Fernandes da Silva Macedo, foi
casado com Rita Euzébia da Assunção, filha de um importante vereador de Ouro Preto.

Registro de batismo de Angelina Damiana de Abreu Macedo de 1812 em São Gonçalo do Sapucaí

324
Uma das raríssimas aparições de Emmerenciana Joaquina nos registros paroquiais de S. Gonçalo: em 1804
faleceu Sebastiana uma escrava dela.

Tanto o primeiro filho do casal Antônio Joaquim e Emerenciana Joaquina, Antônio Julio de Ab-
reu Macedo como a filha mais nova Angelina Damiana de Abreu Macedo são nossos
antepassados, pois os filhos primogênitos de ambos se casariam em 1869 em segundas núpcias
tendo como primogênita minha bisavó Galzuinda de Araújo Macedo.

O Capitão Jerônimo Fernandes da Silva Macedo deve ter vivido pelo menos em parte em São
Gonçalo. Ele faleceu em São Gonçalo no dia 21 de dezembro de 1821, pouco antes da
proclamação da independência do Brasil. Seu filho Americo Fernandes da Silva Macedo se
casou em São Gonçalo com Maria Candida de Jesus em 1824. Ele fez seu inventário em 1860
designando a esposa como inventariante.

A esposa de Jerônimo, Dona Rita Euzébia foi recenceada com sua familia em 1831 em Santo
Antonio da Casa Branca (hoje Glaura, MG), de onde ela era natural. Assim podemos presumir
que a familia estava estabelecida em ambas cidades ou que ela voltou para sua cidade natal
ao ficar viúva.

Ao lado: Registro de
casamento de Americo
Fernandes da Silva
Macedo com Antonio
Joaquim Rodrigues de
Macedo como testemunha
em 1824.

O registro de óbito de
Jerônimo Fernandes da
Silva Macedo em São
Gonçalo em 1821

325
Extrato do senso de 1831 declarando Antonio Joaquim, minerador branco de 52 anos como viúvo

Dona Emerenciana Joaquina deve ter falecido cedo, pois já no senso de 1831 Antônio Joa-
quim aparece como viúvo, vivendo apenas com sete escravos em São Gonçalo do Sapucaí. A
esta altura, os seus filhos já haviam se casado e mudado.

No ano de 1828 se casariam


ambos filhos de Antônio
Joaquim Rodrigues de
Macedo e Emerenciana Joa-
quina. E os dois irmãos se
casariam com dois irmãos da
familia dos Araújo, vinda de
Santo Antonio da Casa Bran-
ca, amigos da familia do
Jerônimo Fernandes da Silva
Macedo. Irmãos com irmãos.
Eles deram origem à familia
dos Araújo Macedo. Mas
antes de continuarmos a
nossa história com eles,
vamos primeiro ver a história
dos Araújo para depois
prosseguirmos em frente.

Acima: a antiga matriz de S. Goncalo


E abaixo: A vasta descendência de Antônio Joaquim e de Emerenciana Joaquina. Como descendemos duas vezes
deste casal, nossos ancestrais Antônio Júlio de Araújo Macedo e Maria José de Araújo aparecem 2 vezes.

326
A História dos Araújo
Parte 1
As origens em Póvoa de Lanhoso

A antiquíssima igreja românica de


Fonte Arcada no Concelho de Póvoa de Lanhoso,
327dos Araújo
onde encontramos a origem
Portal da igreja de Fonte
Arcada, Póvoa de
Lanhoso.

Os Primórdios

A familia dos Araújo


da qual descende
minha bisavó
Galzuinda de Araújo
Macedo é proveni-
ente de Póvoa de
Lanhoso, por coin-
cidência o mesmo
concelho de onde
vieram os seus
ancestrais Macedos.
Os ancestrais dos Araújo se concentram nas freguesias de Fonte Arcada (Fontarcada) e
Calvos, no centro do concelho. Os Macedos e seus ancestrais por sua vez vieram das
freguesias da extremidade sul do concelho, em (S. Martinho do) Campo e Santo Emilião.

Um concelho é uma unidade administrativa, algo como um município no Brasil e é formado


por várias freguesias, o que equivale a um distrito no Brasil. Uma freguesia era ao mesmo
tempo uma paróquia e antigamente, quando se dizia „fregueses“, se referia aos
paroquianos. Nós temos que ter em mente de que nos primórdios de Portugal as unidades
sociais e políticas eram quase idênticas às unidades eclesiásticas.

Póvoa de Lanhoso como concelho é antiquíssimo, recebeu carta de foral do rei Dom Dinis
em 1292 e no centro do concelho, sobre um enorme monolíto de granito, reina uma
imponente fortaleza medieval sobre a qual pairam inúmeras lendas, até mesmo de que o
primeiro rei portugues Dom Afonso Henriques prendeu em suas muralhas a própria mãe,
Dona Teresa, contra a qual estava em guerra.

Uma região muito rica em história, com povoamento comprovado desde a idade do ferro,
de quando datam vários castros e citânias – a mais famosa delas, a Citânia de Briteiros, fica
localizada logo nas proximidades no concelho vizinho de Guimarães. Temos em Póvoa de
Lanhoso construções de quase todos os períodos da história ibérica – desde os celtíberos,
passando pelos romanos, chegando aos
visigodos e à idade média. E podemos
dizer que Portugal nasceu nesta região,
próxima às importantes cidades de
Porto, Braga e Guimarães e foi daqui
que os reis portugueses partiram
armados para reconquistarem sua parte
da península, retomando-a dos mouros.

Ao lado: as freguesias do atual Concelho de


Póvoa de Lanhoso.

328
O castelo de Lanhoso
Fonte Arcada e Calvos

As freguesias de Fonte Arcada e Calvos estão historicamente muito ligadas uma à outra pelo
fato de que elas estão unidas em um vale que corre de norte a sul. Fonte Arcada tem sua
história fortemente ligada ao antigo mosteiro beneditino de São Salvador, fundado em 1067
e hoje extinto, ao qual pertenciam quase todas as propriedades da freguesia, antigamente
chamada de “Couto de Fonte Arcada“. Como já vimos na história dos Abreus de Briteiros, dos
quais descende nosso ancestral Salvador Francisco (de Abreu), os Magalhães eram os senho-
res do Couto de Fontarcada já por volta de 1260. Aliás, encontramos certas familias várias
vezes entre nossas linhas ancestrais, o que parece querer demostrar a origem comum das
antigas linhagens portuguesas na região norte do antigo Condado de Portucale.

Tanto a freguesia de Fonte Arcada como Calvos têm vários “lugares” que são pequenos
aglomerados de casas. Estes lugares tem seus respectivos nomes e servem nos registros
para distinguir as pessoas mencionadas, facilitando ao mesmo tempo para nós podermos
localizar nossos ancestrais, visto que a maioria destes lugares ainda existe e tem o mesmo
nome de antigamente.
A atual igreja de Fontarcada data do século XIII sendo um dos exemplos mais belos do estilo
românico na região. Por volta desta época, em 1258, o rei português mandou fazer uma
inquirição para cadastrar suas propriedades e assegurar de que os nobres não estariam se
apoderando delas. Foi como um primeiro senso do reino e mesmo os dados sendo
incompletos, podemos estimar que cada destas freguesias, que eram igualmente paróquias,
tinham nesta época em torno de apenas 30
moradores. Assim vemos como estas aldeias eram
pequenas e que de um modo ou de outro, todos
habitantes não só de Fontarcada e Calvos, mas de
certo também todos das aldeias vizinhas devem ser
nossos antepassados

Algumas casas circulares típicas da idade do ferro


reconstruídas em Póvoa do Lanhoso.

329
O castelo de Lanhoso sobre a rocha granítica no centro do concelho de Póvoa.
Sobre a família Araújo
A origem da família Araújo é na Galicia. O ancestral desta família foi provavelmente o
cavaleiro Dom Rodrigo Annes, um nobre empenhado na reconquista, que agraciado com o
domínio do lugar e do castelo de Araúxo na província galega de Ourense, adotou este
apelido de origem toponímica. Com o casamento de Pedro Anes de Araújo com Inês
Veloso, senhora de Lóbios, os Araújos também se tornam os senhores de Lóbios, uma aldeia
a 2 km de Araúxo, junto à fronteira da Galícia com Portugal. Manuel Abranches de Soveral,
um conceituado genealogista, descreve as origens desta família da seguinte forma:
O conde D. Pedro (um antigo linhagista) não trata os Araújo, não tanto por serem galegos, pois trata
outros, mas certamente por então (1340/4) ainda não se terem constituido como uma linhagem
significativa. Segundo o marquês de Montebelo, nas notas ao dito conde D. Pedro (1646, f. 536), o 1° deste
nome foi Vasco Rodrigues de Araújo, que casou com uma filha Pedro Anes Velho, dito mestre da Ordem de
Santiago em Portugal, e foram pais deste Pedro Anes de Araújo, "fronteiro en aquella parte de Galicia,
quando tomô la voz de Portugal".

Ao que parece os Araújo passam para Portugal ao mais tardar por volta de 1350 quando se
tornam Senhores de Lindoso, uma freguesia próxima a Lóbios e a 50 km de Fontarcada. Como
vimos, já por volta de 1370 os Araújo se unem em matrimônio com os Magalhães, que por volta
de 1450 estiveram em poder da Quinta de Briteiros. E não só isso. Nossa ancestral Branca de
Azevedo Coutinho, filha de Fernão Afonso de Araújo, Senhor de Lóbios e de Leonor de Aze-
vedo Coutinho, se casou por volta de 1455 com Álvaro Rebelo de Macedo. Nós já os vimos na
história dos Macedo. Eles foram os pais de Isabel Gomes de Macedo que junto com seu esposo
foi arrendatária do Casal de Linhares em Briteiros em 1516 (ver página 211) Leonor foi filha de
Diogo Lopes de Azevedo, Senhor de São João de Rei em Póvoa de Lanhoso, já quase ao lado de
Calvos e Fontarcada.

Um neto daquele Fernão Afonso de Araújo, Senhor de Lóbios, Gonçalo de Araújo, se casou com
sua prima Brites Mendes de Vasconcelos, filha de Águeda Gomes de Vasconcelos e Mota (ou Agueda
Annes de Briteiros) e Álvaro Veloso da Mota, Senhor da Quinta da Mota em São Martinho do Cam-
po em Póvoa de Lanhoso, de onde também temos inúmeros ancestrais. A quinta da Mota passou
para a filha de Gonçalo e Brites, Filipa de Araújo que se casou com Diogo Thomé Cid. A neta
destes, Isabel Coelho de Vasconcelos se casou com Salvador Lopes Prego com descendência Meira,
Mota e Coelho e Vasconcelos (ver página 257).

330
Ruinas do Castelo de Arauxo“ em Lóbios

Como podemos ver, estas famílias


(Magalhães, Azevedo, Veloso, Macedo e
Araújo assim como os Vales e Peixotos)
estavam se espalhando pela região de
Póvoa de Lanhoso e a área limítrofe de
Guimarães. Outro exemplo confirma este
fenômeno: A família Araújo e Vasconcelos
da Quinta de Sinde na freguesia de
Covelas, concelho de Póvoa de Lanhoso.
tem a sua origem mais antiga em Fernão
Velho de Araújo (f. 1582), filho daquele já
citado Gonçalo de Araújo, Senhor do
couto de Sinde, senhor de Araújo, Lóbios,
Ojos, Gendive e Forno que se casou com
a Brites Mendes de Vasconcelos, senhora
da quinta da Mota (descendente dos
Velosos que veremos mais em frente).

Assim, não nos espanta se já por volta de


1550-1600 encontramos várias familias de Araújos em diversas freguesias de Póvoa de
Lanhoso. No início os Araújo se concentram principalmente na freguesia de Lanhoso nos
lugares de Fonte de Rei e Feira Velha, mas também já estavam desde cedo em Frades,
Calvos, S. João de Rei, Águas Santas e outras freguesias ao norte do concelho de Póvoa de
Lanhoso como Sabariz.

Eu acredito que os nossos Araújos de Calvos já vieram para a região de Póvoa de Lanhoso
pelos idos de 1450 e 1500. Minha suposição é de que após se ter transformado o mosteiro
de Fonte Arcada em arcediagado em 1465, as muitas terras do mosteiro foram entregues a
particulares e quem sabe, nesta ocasião se instalaram as primeiras familias dos Araújos,
talvez descendentes ou parentes
dos Araújos de Lóbios e Lindoso.

Nós encontramos nossos primeiros


ancestrais diretos mencionados
nos livros mais antigos de Fonte
Arcada, estando assim capazes de
reconstruir a história de algumas
familias desde meados do século
XVI, sendo então quase todos
camponeses que viviam em seus
casais (sítios), lavorando a fecunda
terra minhota.
Ao lado: trecho do livro „Corografia
portugueza e descripçam topografica do
famoso reyno de Portugal“ de 1706,
citando os descaminhos das terras do
mosteiro de Fonte Arcada.

331
Até 70 anos atrás uma
vista comum em Póvoa de
Lanhoso – trajes e gado
típicos da região

Os Araújos de Calvos
A nossa familia Araújo
veio da pequena
freguesia de São Gens
(Genésio) de Calvos, ao
norte da atual vila de
Póvoa de Lanhoso. Lá
nasceu Antonio de
Araújo por volta de 1650.
Infelizmente os livros com
os registros paroquiais de
Calvos só começam por
volta de 1670, assim não
podemos levar essa linha adiante com certeza. Mas como a freguesia de Calvos era pequena
e Antônio de Araújo veio do lugar de São Gens em Calvos, que devia ter apenas poucas
casas, acredito que ele foi um irmão de uma Maria de Araújo natural do mesmo lugar e
que, assim como Antonio, passou após casar para Fontarcada (na Fonte de Santa Luzia) e
que também deixou grande descendência no lugar.
Apenas sabemos que na primeira metade do século XVII houve um Francisco Álvares de
Araújo que teve com a solteira Maria Gonçalves de Paredes Secas em Calvos pelo menos um
filho de nome Jerônimo de Araújo, nascido por volta de 1635 que se casou em 1660 para
Adaúfe no concelho de Braga. Houve também um Antonio de Araújo mais velho em
Calvos, cuja esposa Catarina Francisca (pai Torcato Francisco) faleceu em 1667, e no lugar do
Ribeiro em Calvos mais um outro Antonio de Araújo casado com Maria Antunes, falecida
em 1682 em Calvos. Mas o „nosso“ Antonio de Araújo já é mencionado na Rifana em
Fontarcada em 1680, assim este último, casado com Maria Antunes só pode ser um
homônimo, além de vários outros Antonios de Araújo, mencionados em Calvos e nas
freguesias vizinhas de Frades e Fontarcada.
Nossos Araújos poderiam ser parentes – filhos ilegítimos ou sobrinhos – do padre de Calvos
Jerônimo de Araújo (de Távora), também morador em S. Gens de Calvos. Ele veio em 1647 de
Ponte Nova de Lima (do lugar de Outeiro em S. Maria de Refoios do Lima como consta na
habilitação de seu neto Jerônimo de Araújo Távora). Um outro padre de Calvos, Gaspar de
Araújo e Brito, ábade entre 1680 e 1690, foi parente deste Jerônimo de Araújo, pois foi neto
paterno de D. Ana de Araújo e Távora,
da quinta do Rego do Azar em Ponte
de Lima. Esses Araújos constam em
Felgueiras Gaio e descendem dos
Araújos senhores de Lóbios e também
deixaram descendência em Póvoa de
Lanhoso. Mas além destes havia outras
famílias Araújo nas freguesias
circundantes de Calvos, todos possíveis
ancestrais e parentes nossos, dificul-
tando assim o enquadramento de
nossa família Araújo neste grande clã.

332
Espigueiro antigo
em Calvos

O que poderia sustentar essa teoria


de que os nossos Araújos eram
parentes ou descendiam dos
Araújos de Távora, é que assim
como na descendência
comprovada do padre Jerônimo
Araújo de Távora, tanto da familia
de nosso Antônio de Araújo como
na de sua suposta irmã Maria de
Araújo saíram vários padres entre
os descendentes, algo que não era
tão comum.
Nosso ancestral Antonio de Araújo de São Gens de Calvos se casou por volta de 1680 com
Catarina Lopes da Silva do casal Além, no lugar da Rifana em Fonte Arcada onde passaram
a morar. Tiveram ao menos quatro filhos – dois filhos e duas filhas. Um deles, Gabriel,
nascido em 1685, foi tenente em Fonte Arcada. O outro filho, Miguel de Araújo Silva,
nascido em 1693, se mudou para Santiago de Lanhoso onde se casou em 1724 com
Custódia Gomes de Abreu da casa do Pregal em Lanhoso, filha de uma importante familia.
Residiram na casa da Vila e Miguel foi vereador em Lanhoso possuindo até mesmo um
escravo, algo raro em Portugal. Seu filho Dr. Antonio Luis de Abreu mandou lavrar brasão de
armas, atestando assim sua nobreza. Além destes varões, o casal Antonio de Araújo e Catari-
na Lopes da Silva teve as filhas, nossa ancestral Maria da Silva de Araújo (1688) e Angela
da Silva (ca. 1690). Esta última se casou em 1723 com o licenciado (advogado) Manoel de
Barros Vieira e juntos tiveram um filho que mais tarde foi padre, João Azevedo Araújo.
Abaixo: O interior da igreja medieval de Fontarcada e parte dos descendentes de Antonio de Araújo e Catherina
Lopes da Silva.

333
O portal de um casal na
Rifana, hoje „Arrifana“ em
Fontarcada.

Os Lopes Veloso
A família de Maria Lopes
Veloso, a mãe de Catari-
na Lopes da Silva, os
Lopes Veloso do casal
Comoro de cima (também
chamado Combro de
cima) em Santa Luzia em
Fontarcada, parece ter
sido uma familia com
certa importância em Fonte Arcada, pois além de vários de seus membros terem sido
padres, o parente Miguel Lopes Veloso foi capitão de auxiliares, outro foi tenente e um deles,
Domingos Lopes Veloso, foi sargento-mor e cavaleiro professo da Ordem de Cristo,
demostrando ser abastado (ser admitido na ordem era muito caro), pertencendo a família
assim a uma certa elite, mesmo que seja rural.

A avó materna de Catarina, Marta Lopes veio do lugar do Vilar de baixo, junto à ponte para
Donim na freguesia de S. Martinho do Campo, onde seus pais foram lavradores honrados.
Coincidentemente é esta a mesma freguesia de onde vieram os ancestrais dos Macedo. Por
volta de 1580 vivia lá o casal Gonçalo Lopes e Catarina Gonçalves. Acredito que Gonçalo
Lopes veio do casal de Louredo entre esta mesma freguesia e a freguesia vizinha de São
Salvador de Louredo. Os pais de Gonçalo Lopes foram muito provavelmente Pedro Lopes,
meeiro e morador no casal de Louredo, falecido em 4 de Agosto de 1589 em São Salvador
de Louredo e Catarina Gonçalves, falecida em 26/12/1600. Tiveram vários filhos com vasta
descendência na região com os apelidos Lopes, Veloso, Antunes, da Costa e da Silva.

O casamento de
Domingos Fernandes
do Comoro de Fonte
Arcada e Marta Lopes
do lugar do Vilar de S.
Martinho do Campo.
Em S. Martinho do
Campo 334
em 1615.
Testemunha: Salvador
Lopes Prego (ver
página 257).
A quinta do Vilar em S. Martinho
do Campo, origem dos Lopes
Veloso no século XVI.

Os Veloso
Catarina Gonçalves
herdou o Vilar de baixo
de seus presumíveis
pais Jacomé Antonio
Veloso e Margarida
Gonçalves (ele
falecido em 1609 e ela
depois de 1597).
Tenho procurado as
origens destes Velosos.
Acredito que Jacomé
Antonio Veloso foi parente, talvez irmão, de Frutuoso Veloso, falecido em 18 de abril de 1615 em
Louredo e que pelo fato de ter sido testemunha de vários casamentos já desde o início dos
registros paroquiais de S. Salvador de Louredo em 1584, imagino ser o „cabeceira“ (chefe) da
família local. Presumo que tanto Frutuoso como Jacomé devem ter nascido por volta de 1530.

Me pergunto se estes Velosos estão relacionados com a linha dos Velosos citadas por Felgueiras
Gaio no tomo XXVIII, tit. Velosos § 19 „Velosos de Braga, Guimarães e Barca“ que inicia com Pedro
Veloso, que veio com seu irmão Baltasar Veloso (§ 21) por volta de 1400 da Galícia, onde fica a
origem dos Velosos („Veloso“ = „peludo“, „cheio de velo" ou „cheio de lã").

O galego Pedro Veloso se casou com Isabel Ruiz da Mota, senhora da quinta da Mota em S.
Martinho do Campo. Segundo José Manoel Gonçalves Lopes em sua obra „Rota das Casas
Brasonadas da Póvoa de Lanhoso“, o filho deste casal, João Veloso (da Mota) obteve a licenca para
edificar a torre da Mota: „A Torre da Mota foi mandada edificar a 19 de Março de 1450, por D.
Afonso V, certificando a honra da Quinta da Torre da Mota a João Veloso da Mota. Este primeiro
edifício seria provavelmente de madeira.“

Entre o João Veloso da Mota e os dois Velosos de Campo e Louredo acima citados temos um arco
de tempo de aproximadamente 100 anos (de ca. 1420 a 1520), podendo estes serem netos ou
bisnetos de João Veloso. Além destes dois Velosos nada mais pude encontrar relativo a este
apelido no final do século XVI nos registros paroquiais mais antigos de Campo e Louredo.

Nossa ancestral Marta Lopes casou em 12 de Janeiro de 1615 em S. Martinho do Campo com
Domingos Fernandes, lavrador honrado do Comoro de cima em Fontarcada(sobre os „lavradores
honrados“ ver a nota na página 218). Houve um Francisco Fernandes no Comoro, que teve filhos
na década de 1590, p. ex.: "Maria" em 1590 e "Caterina" em 1593. O nome de sua mulher, falecida
em 4/5/1614 é omitido. Podem ser os pais de nosso ancestral Domingos. Em 1595 é mencionado
em Fontarcada „Pedro Goncalves, criado de Domingos Fernandes do Comoro.“ Presumimos então
que Domingos já era adulto naquele momento, podendo ter nascido por volta de 1570-75. E por
Domingos ter falecido em 26/10/1660 é provável que não tenha nascido muito antes de 1575.

Existem registros paroquiais que demostram que no século XVI os Lopes do Vilar eram compadres
dos Duarte, os senhores de Santo Tirso, ancestrais dos nossos Macedo (ver p. 229) e dos Meira e
Vasconcelos da Mota. Sendo nossos Lopes provavelmente descendentes dos Veloso da Mota, eram
assim parentes distantes dos Vasconcelos e dos Lopes Prego, os Senhores da quinta e torre da
Mota em S. Martinho do Campo, a principal e mais antiga casa local (que também eram
descendentes de Araújos, ver foto da torre da Mota na página 243 e sobre os Lopes Prego na pág.
257). Atravéz destas famílias somos parentes de quase todos moradores de Campo e de Louredo.

335
A pedra do Couto de Fonte Arcada,
hoje „Fontarcada“

Abaixo: Os descendentes de Antonio de Araújo e Catarina Lopes da Silva até a


geracão de seus netos:

1. Antonio de Araújo (de Calvos, S. Gens) ca 1655-1725? &~1680 Catherina Lopes da


Silva (Casal Alem, Rifana, Fontarcada) 1656-
1.1. Gabriel de Araújo e Silva (tenente, Rifana) 1685- &1713 Paula Rodrigues
1.1.1. José de Araújo e Silva (Padre) 1714-
1.2. Maria da Silva de Araújo 1688- &1713 Antonio Luis de Almeida (Fonte Arcada) ca 1685
1.2.1. Miguel de Araújo Silva (professor em Ouro Preto, Brasil) 1715-ca 1790/
1.2.2. Angela de Araújo 1722-1776/ (Eiro, Fonte Arcada)
1.2.3. Antônio de Araújo e Silva 1725-/1784
1.2.4. Luis de Araújo Silva (Eiro, Fonte Arcada) ca 1725-1784/
1.2.5. Paulo de Araújo (Eiro, Fonte Arcada) ca 1730-1784/
1.3. Angela de Araújo ca 1690- &1723 Manoel de Barros Vieira (Lama, Fonte Arcada)
1.3.1. Joâo Azevedo Araújo (Padre)
1.4. Miguel de Araújo e Silva 1693-1778 &1724 Custodia Gomes de Abreu
Casou a 07 de julho de 1724 com Dona Custódia Gomes de Abreu, da Casa do Pregal, Concelho da Póvoa de Lanhoso. A
27 de maio de 1764 celebraram contrato com António Gomes de Abreu e sua mulher para compra da fazenda e prazo do
lugar da Vila, comenda de Santiago de Lanhoso (ADB - Notarial Póvoa de Lanhoso, livro 10, pág.11-13). Há registos de
que em 1733, Miguel de Araújo e Sylva era o vereador mais velho de Lanhoso.
1.4.1. Violante Maria de Abreu Vasconcellos e Sylva
1.4.2. António Luiz de Abreu Valadares Gomes da Silva
Sucessor de seu pai no senhorio da Casa da Vila, em Lanhoso, mandou lavrar brasão de armas, tendo unido as suas armas
com as da sua esposa.
Seu filho, o Capitão Antonino Severo, ainda que pertencendo à Casa da Vila, passou a residir e a exercer o senhorio da
Casa de Santo António do Souto, em Lanhoso (Santiago).
1.4.3. Luís António de Araújo e Silva (Frei)
Em 1753 tomou hábito de noviço como "Frei Luís de Santa Teresa" no Convento de Nossa Senhora da Misericórdia de
Aveiro.

Os Soares e os da Silva
O pai de Catarina Lopes da Silva foi Manoel Francisco Soares da Silva, casado em 17 de
maio de 1654 em Fontarcada com a Maria Lopes Veloso que já tratamos. Ele era natural e
morador na Rifana de Fontarcada. Os seus pais foram moradores na Rifana e rendeiros do
Assento de Fontarcada, mas vieram de fora da freguesia. O avô Pedro Francisco Soares era
natural do lugar de Cortinhas na freguesia de São Torcato, concelho de Guimarães e sua avó
Paula da Silva era natural da Rua de S. Domingos, no bairro de Sampaio de Guimarães. Ela
foi criada na Carrapatosa nos arrebaldes da Vila de Guimarães. Pedro Francisco e Paula da
Silva casaram em Sampaio de Guimarães em 3 de fevereiro de 1622 e tiveram como
sacerdote o abade da igreja de Santa Margarida (do Castelo), a famosa, que fica direto
frente ao castelo de Guimarães. A primeira filha do casal, Maria, ainda nasceu em Guimarães
em Dezembro de 1622. Os outros filhos já não foram mais batizados lá.
Paula da Silva é provavelmente a Paula, batizada em Guimarães em 7 de janeiro de 1593,
filha de Bartolomeu Borges e Margarida da Silva, casados em 1583 na freguesia de S.
Sebastião de Guimarães e que tiveram o arcediago de Fontarcada, Bartolomeu do Vale Vieira
(ver página 260) como testemunha. Margarida foi filha de Antonio Martins e de Antonia
Fernandes do Toural de Guimarães. Segundo o pesquisador Rui Faria esta família da Silva
foi uma família de abastados mercadores na praça vimaranense.

O casamento de
Bartolomeu Borges
e Margarida da
Silva do Toural na
336 Vila de Guimarães
em 1583.
Ao lado: A igreja e
mosteiro de
Fontarcada.

Abaixo: Casamento
entre Manoel
Francisco Soares
da Silva e Maria
Lopes em 1654 em
Fonte Arcada. Sua
filha Catarina
Lopes da Silva se
casou com Antonio
de Araújo de
Calvos.

Nossa ancestral, a filha de Antônio de Araújo e Catarina Lopes da Silva, Maria de Araújo
Silva, nascida em 28 de abril de 1688 em Fontarcada se casou em 7 de janeiro de 1713 em
Fonte Arcada com Antonio Luis de Almeida, do lugar do Eiro em Fonte Arcada. A mãe de
Antonio Luis de Almeida, Mariana de Almeida veio de Calvos (familias Almeida e Francisco
que foram lavradores honrados em Calvos) e o seu pai Domingos Luis veio de Fontarcada,
descendendo de várias familias tradicionais de lá (familias Luis, Gil, Braz, Gonçalves…)

A Quinta do Eido em Sao Gens de Calvos, exemplo de arquitetura rural minhota do século XVII

337
Casamento de Antonio Luis de Almeida e Maria
de Araújo Silva em 1713. Fonte Arcada.

Em 1729 Antonio Luis de Almeida


emprazou (arrendou) por 3 vidas o casal
Eiro de Baixo no lugar de Paredes em
Fonte Arcada, onde viveram seus filhos.
O prazo de „Tres vidas“ significava que
assim que Antonio Luis de Almeida
morresse (primeira vida), deixaria a
propriedade para um herdeiro, talvez
sua esposa. E quando esse morrer
(segunda vida) deixaria a propriedade
para o próximo herdeiro até que este
morra (terceira vida).

Em 4 de janeiro de 1715 nasceu o


primogênito do casal: Miguel de Araújo
e Silva. Meu hexavô, que mais tarde
emigrou para o Brasil. Sobre a sua vida
veremos mais no próximo episódio. Os
outros filhos foram: Angela (1722), Antonio (1725), Luis (ca 1725) e Paulo (ca 1730), dos
quais pouco sei, além do fato de que viveram no casal Eiro de Baixo e que ao que pude ver,
provavelmente não tiveram descendência.

Sobre os Almeida
Novamente temos aqui uma família Almeida (ver também página 213). Mas infelizmente
pouco podemos dizer sobre sua origem, visto que temos apenas pouca informação desta
freguesia de antes de 1660. Quando o livro do Tombo da igreja de Calvos foi escrito, os
paroquianos que tinham sepulturas na igreja foram convocados para apresentarem seus
títulos. Assim, em setembro de 1707 veio Manoel de Almeida, o irmão de nossa ancestral
Mariana e herdeiro da casa de seus pais: „ E logo apareceo Manoel de Almeida do lugar de
Calvos e dice que tinha huma sepultura na segunda carreira da nave do meio com o rotollo de
Almeida por ser appellido da Caza, a quoal dice que pessuhia por pscrição (sic) centenaria, que
por sua antiguidade se lhe perdera o titollo, e que nesta posse estava a tempo emmemoravel e
que taobem tinha huma sentença da Relaçam que mostraria, de que se fes este assento, que
assinou. com o
Reverendo Abbade e
eu Miguel de Araújo,
que a seu rogo o fis.“

Registro de batismo de
Miguel de Araújo e Silva
em 1715 –
Fonte Arcada.

338
„Tempo imemorável“. O primeiro Al-
meida que encontrei relativo a
Fontarcada e Calvos é em meados do
século XV: 1461-10-12 Súplica de
Fernando Alvares de Almeida,
clérigo da diocese da Guarda,
protonotário apostólico e nobre, sobre
o mosteiro de S. Salvador de Fonte
Arcada, da diocese de Braga, da
Ordem de S. Bento, reduzido a igreja
paroquial pelo arcebispo de Braga, D.
Fernando, depois de Frei Fernando, da
Ordem Dominicana e professor de
Teologia, ter renunciado à respectiva comenda.
E: 1462-9-2 Bula do Papa Pio II concedendo a Fernando Alvares de Almeida a igreja paroquial
de S. Salvador de Fonte Arcada, outrora mosteiro da Ordem de S. Bento, transformado em
igreja secular pelo arcebispo de Braga, o qual fora comenda durante muitos anos de Frei Fer-
nando de Chelas, Dominicano e Professor de Teologia.

Poderíamos deduzir, que este nobre Fernando Álvares de Almeida deixou descendência no
local, como tantas vezes ocorreu com os padres da região. Mas isso seria mera suposição.
Ele deve descender dos Almeidas de Abrantes, talvez de nosso ancestral homônimo Fernan-
do Alvares de Almeida, Senhor de Abrantes e falecido em 1429. Teríamos assim o início e o
fim da meada desta linha ancestral, mas nada sabemos o que ocorreu entre 1460 e 1650,
tempo suficiente para a família se esparramar pela área. Por exemplo, encontramos desde
cedo várias famílias Almeida em S. João de Rei, Póvoa de Lanhoso.

Os Almeida parecem formar junto com os Magalhães, Coelhos, Araújos, Ribeiros e outras
famílias uma teia de relacionamentos familiares que aparentam certa importância. Mas
infelizmente nos faltam os livros paroquiais de Calvos anteriores a 1660 para podermos
afirmar algo com mais consistência.

Outra família ancestral dos Almeida, os Gil de Fonte Arcada se enquadram bem nesta
paisagem social dos Almeida. Eles descendem de Gonçalo Gil, o ferreiro do Eirô de Fonte
Arcada (1595-1674). A quinta do Eirô existe ainda hoje. Esta familia pode ter se originado
com Vasco Gil, arcediago de
Fonte Arcada entre no mínimo
1487 até 1502. Foi ele que
instituiu a capela original de S.
Brás em Fonte Arcada (imagem
ao lado).

Aqui um texto do grande


historiador povoense José
Abílio Coelho: „A capela de São
Brás, que outrora pertenceu a
Fontarcada e que hoje integra a

339
O famoso Carvalho de Calvos, uma das árvores mais velhas da Península Ibérica.

paróquia da Senhora do Amparo, situa-se no lugar do mesmo nome (São Brás) e foi erigida nos meados
do século XVIII para substituir uma outra que existiu no mesmo lugar, esta edificada a expensas do antigo
arcediago do mosteiro de Fontarcada, Vasco Gil, no ano de 1502. Este Vasco Gil era o dono da quinta que
pertenceu à família Luzia, vizinha da capela, e à época dominando todo o lugar. A informação que
conhecemos sobre este primitivo templo de São Brás data de 1726, e vem descrita em “Memórias
Ressuscitadas de Entre Douro e Minho…”, de Francisco Xavier da Serra Craesbeeck. Nessas notas pode ler-
se que, à época, existia uma inscrição, gravada numa pedra do arco da porta da dita capela, que dizia:
“ESTA IGREJA MAN / DOU. FAZER. VASCO. / GIL. ARCEDIAGO. DE. / FONTE . ARCADA / E(M) 1502.” A
pedra com esta epigrafia acabou por desaparecer ou por ser coberta de argamassa. A capela era pequena,
no dizer do cronista, tendo “sido igreja para povo de Bagães, onde está a Quintã, [onde esteve implantada
a] casa e morada do famoso D. Fafes Luz”.

Ao que parece Vasco Gil já era arcediago de Fontarcada em 1487: „1487-8-8 Súplica de Vas-
co Gil, arcediago de Fonte Arcada, na igreja de Braga, sobre este arcediagado, a que Estêvão
Martins, Bacharel em Decretos, renunciava depois de ter litigado com o suplicante sobre o
mesmo".

Um ancestral de Antonio Luis de Almeida, Antonio Gaspar veio por volta de 1600 de Varzielos,
Termo de S. Gonçalo do Amarante para Fonte Arcada onde se casou em 1607 com Catarina
Gonçalves, filha de Gonçalo Álvares do lugar do Souto. Eles passaram a morar no lugar de
Valbom em Fontarcada. Antonio Gaspar teve dois filhos extraconjugais. Na região do Minho, de
10 a 15% dos nascidos eram filhos de mães solteiras. No concelho de Guimarães eram até mesmo
20% sendo a média na Península Ibérica e Europa de apenas 2,5%! Uma de suas amantes, a
solteira Catarina, „a negra“ ou „a mulata“, de Simães, criada do reverendo arcediago, era filha do
negro Gonçalo da Fonseca (escravo de Manoel da Fonseca) que foi casado com a branca Margari-
da Gonçalves. A filha de Antonio Gaspar, Jeronima da Fonseca, „a mulata“, nascida em 1632 teve
solteira ao menos 3 filhos, o que nos dá uma idéia de como deve ter sido dificil para negros e
mulatos ter uma vida „normal“ em Portugal naquela época e serem aceitos pela sociedade.

Entre os filhos de Antonio Gaspar com nossa ancestral Catarina Gonçalves podemos ver como os
portugueses variavam nos sobrenomes de seus filhos. Dois filhos do casal receberam o
sobrenome Gaspar: Isabel e Gonçalo. O filho Gaspar recebeu o sobrenome Álvares e o filho Matias
recebeu o sobrenome de Souza, o qual não sabemos onde enquadrar, provavelmente de um de
seus ancestrais.
Abaixo e nas próximas páginas vemos o testamento de nossa ancestral Mariana de Almeida de 1721.

340
Acima: os ancestrais de Domingos Luis do
lugar do Eirô em Fontarcada.

Na árvore ao lado, podemos ver alguns


descendêntes de Marta Lopes e de Domingos
Fernandes. Note-se quantos padres saíram
desta familia. Acrescentei os títulos de oficiais
e enquadrei os emigrantes ao Brasil de
vermelho. Sobre estes últimos leremos mais a
seguir.

Abaixo: Paisagem de riacho em Fontarcada


onde se encontra ruinas de antigas azenhas
(moinhos).

341
342Acima e nas próximas páginas vemos o testamento de nossa ancestral Mariana de Almeida de 1721.
343
Miguel de Araújo e Silva nas Minas Gerais
O Brasil já havia sido descoberto (oficialmente) em 1500 pelo português Pedro Alvares Cab-
ral e por volta de 1530 iniciou-se a colonização de seu território, que era voltada
basicamente à extração do pau-brasil e à produção de cana de açucar. Durante quase 200
anos a população da colônia ficou concentrada na parte litorânea brasileira, sendo que a
maior parte destes habitantes estava estabelecida na região do nordeste, principalmente
Pernambuco e Bahia, onde ficava a então capital São Salvador.

Abaixo: A antiga capital do Brasil Salvador da Bahia – o Pelourinho

344
Vila Rica – o centro da regiâo das Minas em uma gravura do século XIX

A partir do final do século XVII essa situação


mudaria drasticamente. Em 1694 foi
descoberto ouro em uma região montanhosa
e de difícil acesso no interior da então
capitania de São Paulo, uma região que
passaria logo a ser chamada de “Minas“. A
notícia da descoberta se alastrou rapidamente
e sem demora iniciou-se um fluxo de pessoas
de todo o Brasil e do reino para tentar a sorte
nas Minas.

Sem querer detalhar demais o assunto que pode ser pesquisado por aqueles que se
interessarem por esse fascinante episódio da história, é interessante saber que em poucos
anos a região das Minas Gerais, que a partir de 1720 se tornou uma capitania própria, foi se
povoando rapidamente. Pessoas de todas as classes e de todas as idades, até mesmo
escravos fugidos, migraram para as Minas Gerais. O rei portugues chegou a proibir a
imigração desenfreada do reino para a colônia por temer que Portugal se despovoasse. Mas
essas proibições foram em vão – as massas continuaram a seguir ao Brasil. Em poucas
décadas foram 800.000 pessoas de Portugal para o Brasil, considerando que no início do
século XVIII o reino tinha apenas pouco mais de dois milhões de habitantes. E das províncias
portuguesas foi o Minho a que mais contribuíu com o povoamento de Minas, por já ter sido
sempre a província mais populosa e de ter pouca terra para tantas pessoas.

Exemplo de migrante: Em 1697


nasceu uma crianca em Lanhoso a
qual teve como padrinho José Barbo-
sa de Araújo de São Salvador da
Bahia.

345
Uma lavra de ouro à talha aberta em Ouro Preto, detalhe de uma pintura de Rugendas de ca. 1820

De Fonte Arcada para Ouro Preto


A notícia da descoberta do ouro, das fortunas feitas de um dia para o outro e da criação de
cidades com nomes chamativos de Vila Rica ou Ouro Branco havia certamente chegado até
Fonte Arcada, a pequena freguesia de Póvoa de Lanhoso onde viviam os Araújo e Silva.

Miguel José Lopes, nascido em 1718 no lugar da Rifana em Fonte Arcada, um primo de
segundo grau de nosso antepassado Miguel de Araújo e Silva, emigrou para Minas Gerais
por volta de 1730, atuando no bairro de Antônio Dias em Ouro Preto como mercador e
sirgueiro – que trabalha e negocia com seda. Ele fez a habilitação a familiar do Santo Oficio
em 1751, o que nos dá certas informações sobre sua vida. Seu irmão mais novo, João Lopes
Veloso da Silva (nascido por volta de 1725) o seguiu e abriu uma loja de fazendas secas na
Rua Direita, também no bairro de Antonio Dias em Ouro Preto, onde estava morando em
1756, ano que fez a sua habilitação para familiar do Santo Oficio. Ele também foi recebedor
interino da Real Fazenda de Minas Gerais em 1767.

Rua no bairro
Antonio Dias em
Ouro Preto, a qual
presumo ser a
antiga Rua Direita,
onde João Lopes
Veloso da Silva teve
sua loja de fazendas
secas por volta de
1750.

346
À esquerda: Informaçôes da
Habilitação ao Santo Oficio
de 1753 de João Lopes
Veloso da Silva, morador na
Rua Direita do bairro Anto-
nio Dias em Ouro Preto.

À direita: Limpeza de Sangue e geração de Miguel José


Lopes, cirgueiro solteiro, filho de Francisco Lopes Veloso,
natural da freguesia do Salvador de Fonte Arcada / Villa
de Guimarães e morador nas Minas em Vila Rica – de
1751

João Lopes Veloso da Silva foi Sargento Mor de


Ordenancas da Camara de Vila Rica e mais tarde
da Póvoa. Ele parece ter voltado para Fonte
Arcada por volta de 1773, onde se casou e
depois retornado a Ouro Preto, pois na
inquirição de gênere de seu filho Silvério, João é mencionado como morador em Ouro Preto.
Foi tesoureiro da Ordem Terceira de São Francisco em Ouro Preto. Encontramo-o em um
manuscrito do Arquivo Ultramarino: No. 7321 / A 768, 14, 12 - Requerimento de João Lopes
Veloso da Silva, pedindo mercê por ter feito entrar, na Real Casa de Fundição de Vila Rica,
mais de 14 arrobas de ouro. (Local: A H U -Con.Ultra.-Brasil/M G-C x: 93, Doc.: 51)

Talvez por estes dois primos de nosso ancestral Miguel de Araújo e Silva terem voltado por
certo tempo para Fontarcada podemos imaginar qual impacto eles devem ter deixado na
família. Com certeza nosso antepassado Miguel de Araújo e Silva, nascido em 4 de janeiro
de 1715 em Fonte Arcada, conhecia bem estes primos. Eles eram da Rifana (hoje Arrifana),
de onde veio sua mãe Maria de Araújo Silva e ele era da mesma geração dos primos. E como
certamente já tinha mais parentes e amigos no Brasil, assim também decidiu tentar a sorte
lá. Creio que deve ter embarcado ainda jovem, com seus 20 ou 25 anos de idade para o
Brasil, chegando em Ouro Preto por volta de 1740-1750. Não sabemos no que trabalhou e
do que viveu durante seus primeiros anos em Minas. Mais tarde, por volta de 1790 ele é
registrado na fregesia de Nossa Senhora da Conceição de Vila Rica como “mestre de ler,
escrever e contar”, o que significa que
foi professor. Mas antes de
prosseguirmos com ele, vamos ver a
história da família de sua esposa Ma-
ria da Assunção Paes, com a qual ele
se casará por volta de 1760 (continua
na página 368).

Ao lado: registro de nosso


ancestral como professor
em Ouro Preto em 1791

347
A História dos Araújo
Parte 2 - Cariocas de primeira hora
A história da família da esposa de Miguel de Araújo e Silva, Maria da Assunção Paes, é
intrinsecamente ligada à da cidade do Rio de Janeiro e da capitania de Minas Gerais.

Os portugueses demoraram um tanto até assegurarem para si a Baía de Guanabara. Aproveitando


sua ausência, seus adversários franceses fundaram no
ano de 1555 sua própria colônia na Baía de Guanabara,
que chamaram de "França Antártica". Eles construíram
uma fortaleza na ilha de Sergipe na baía e fundaram
pequenas aldeias na ilha e no continente, nas quais se
estabeleceram principalmente huguenotes e calvinistas.
Aliaram-se às tribos locais dos Tamoios e Tupinambás
que já lutavam contra os portugueses. Portugal
ordenou então ao governador do Brasil Mem de Sá que
expulsasse os franceses, o que Mem de Sá fez em 1560
com uma frota de 26 navios de guerra e 2.000
soldados. No entanto, os franceses fugiram para a terra
firme com o apoio dos índios aliados e assim a missão
não foi totalmente cumprida. Cinco anos depois, o
sobrinho do governador Mem de Sá, Estácio de Sá
chegou à Bahia com uma nova tropa e fundou a cidade
do Rio de Janeiro na terra firme em 1º de março de

Imagem acima: Carraca portuguesa


em Nagasaki, Japão - sec XVII. Assim pode ter sido o
348 navio de Pantaleâo Duarte Velho.

Ao lado: Antigo Mapa da Baía de Guanabara


de 1574 feito por Luiz Teixeira.
1565. Ele lutou contra os franceses restantes por mais dois anos, os derrotando finalmente em 20
de janeiro de 1567, mas morrendo um mês depois por causa de uma flechada.

Atravéz de Maria da Assunção Paes descendemos de algumas das primeiras famílias do Rio,
considerando que os fundadores da cidade em 1565 foram militares acompanhantes de Estácio
de Sá e provavelmente não ficaram por lá. Podemos suspeitar que os nossos ancestrais estavam
entre os primeiros colonos do Rio que foram chegando então. Um provável antepassado nosso,
Antônio da Fonseca, morador na capital Salvador da Bahia, recebeu uma Sesmaria no norte da
Baía de Guanabara em 9 de fevereiro de 1568, no rio Inhomirim, antes habitada pelos indios
Timbiras. Uma Sesmaria era uma doação de terras que o rei português ou um dos seus
administradores (donatários) podia fazer à particulares, desde que estas fossem colonizadas e
cultivadas. No entanto, apesar do seu grande terreno (3000 x 3000 braças, ou seja, aprox. 6,6 x 6,6
km) nas imediações da "Aldeia das Velhas", António da Fonseca não parece ter realmente se
firmado aqui, pelo que Domingues Fernandes, chamado "Cara de Cão" (hoje ainda o nome de um
morro no Rio, que também lhe pertencia) tomou posse desta terra.

Em novembro de 1603, João Botelho, casado com Maria da Fonseca, reivindicou ao governador
do Rio a propriedade legal desta terra, que havia recebido de seu sogro Antonio da Fonseca e que
havia comprado ao posseiro Domingos Fernandes, o Cara de Cão, por uma quantia em dinheiro.
Em seu requerimento, João afirma que vive no Rio de Janeiro com sua esposa e filhos há mais de
20 anos, quer dizer por volta de 1583. Esta história não pode ser rastreada com total certeza,
porque as fontes são escassas e às vezes contraditórias. Em alguns textos que encontrei, João
Botelho é citado como sogro de Domingues Fernandes, mas isso é improvável. A relação de
parentesco era muito mais provavelmente com o primeiro
sesmeiro Antônio, já que a esposa de João também tinha o
sobrenome "da Fonseca".

Não sabemos muito mais sobre João Botelho e suas terras,


exceto que por volta de 1650 dois de seus descendentes, os
irmãos Simão Botelho de Almeida e Baltazar Botelho da
Fonseca, ambos naturais de Salvador da Bahia e por volta de
1660 vereadores do Rio, fundaram a (capela) Santuário de
Nossa Senhora da Estrela dos Mares, em um sítio elevado
junto ao porto do Rio Inhomirim, que deu origem à
povoação do Porto da Estrela, onde mais tarde começava o
famoso "Caminho Novo" que ligava o Rio às Minas Gerais. A
antiga estrada (Caminho Velho) que levava de Paraty para o
interior caiu então no esquecimento.

Ao lado: A localização do Rio Inhomirim


na Baía de Guanabara. 349
E acima: gravura do Rio Inhomirim
Rio de Janeiro em 1695, uma das mais antigas vistas da cidade maravilhosa

Os Botelho e os da Rocha
João Botelho alegou morar na cidade, com mulher e filhos já há vinte anos ao requerer sesmaria
em 1603, sendo assim morador e cidadão do Rio de Janeiro desde 1583. aproximadamente. Pois
assim João Botelho pode ter nascido por volta de 1560. Já desde cedo encontramos Botelhos no
Brasil, por exemplo em São Vicente, Pernambuco e em Salvador da Bahia. Entre vários ancestrais
dos Botelhos brasileiros houve um português Diogo Botelho (também chamado Diogo Proença e
Diogo Coelho) que foi degredado para o Brasil em 1575 com sua legítima mulher e seus filhos
após ter sido preso e julgado pela inquisição por ter praticado bigamia. É interessante observar
que muitos Botelhos parecem vir da região de Vila Real.

Dos filhos de João Botelho e Maria da Fonseca, apenas a filha Estácia de Távora, que se casou em
1619 com Pedro de Siqueira, pode ser comprovada com certeza. Pedro era natural da Guarda em
Portugal e teve um terreno com João Botelho na área de Inhaúma, ao norte da então cidade do
Rio de Janeiro (No documento de dote de Ana do Amaral (Gurgel) no ANRJ, 1º Ofício de Notas,
liv. 44, fl. 203v, 22/06/1662, lemos: ".... uma sorte de terras em Inhaúma, com 750 braças de largo e
sertão de meia légua que partem com terras que foram de Pedro de Siqueira e João Botelho").
Estácia teve o filho Vasco de Távora, casado com Margarida da Silva que tiveram terras em
Inhomirim. Vasco teve o filho: João Botelho de Siqueira casado com Maurícia Gomes

Infelizmente, os registros paroquiais do Rio só começam em 1616 e um incêndio no arquivo


municipal do Rio em 1790 também contribuiu para cobrir essa parte da história de nossa família
com uma névoa misteriosa. Um desses mistérios é o fato de que Estácia não se chamou nem
"Botelho" nem "Fonseca", mas "Távora". Os descendentes de João e Maria assumiram o
sobrenome Távora por motivos desconhecidos. Mas exatamente esse ponto de interrogação
também é uma característica dessa família. Por esse traço, João Botelho e Maria da Fonseca são
muito provavelmente os pais do nosso ancestral Manoel Botelho. pois Manoel teve filhos com a
sua mulher Maria da Rocha que receberam o apelido “de Távora” assim como “de Almeida”.

Mas não só os sobrenomes Távora e Almeida aparecem entre os descendentes de Manoel


Botelho e Maria da Rocha. Igualmente encontramos os sobrenomes Pereira e da Silva. Por que
tamanha diversidade de sobrenomes? Para tentar explicar só posso mencionar duas teorías: 1)
Eram descendentes de todas estas famílias de nome e quiseram homenageá-las (o que nos faz
deduzir a origem deles na região de Vila Real onde a ligação destes sobrenomes era comum) ou
2) Eram cristãos-novos e tinham a liberdade de dar o sobrenome que quisessem a seus filhos.

350
Registro de batismo de nossa ancestral Luzia de Almeida / Luzia de Távora. Rio, Sé, 1618.

Outro integrante desta família Botelho foi Lourenço Botelho, casado com Jeronima Pinheiro por
volta de 1620 cujos filhos tiveram tanto João Botelho quanto a já viúva Maria da Fonseca como
padrinho e madrinha. Assim podemos deduzir que João Botelho faleceu entre 1629 e 1632.
Assim como seu marido Manoel Botelho, Maria da Rocha deve ter igualmente nascido no Rio de
Janeiro, pois também no seu caso encontramos uma presumível irmã, Luzia da Rocha, casada
com Amaro Pinheiro. Maria da Rocha foi madrinha do filho de Luzia, Francisco, nascido em 1621.
Não é totalmente improvável que nossos Rocha tenham algum parentesco com Diogo da Rocha
de Sá, um sobrinho de Mem de Sá e primo de Estácio de Sá, que foi um dos primeiros moradores
e sesmeiros do Rio de Janeiro, já em 1557.
Como encontrei várias pessoas interligadas entre si destas famílias BOTELHO, ROCHA e PINHEIRO,
fiz uma pesquisa dos padrinhos e testemunhas dos registros destes casais, alguns dos quais não
aparecem na obra do grande genealogista das famílias cariocas Carlos G. Rheingantz. Pode ser
que os Pinheiros descendem de Jacomé Pinheiro, um dos primeiros sesmeiros do Rio de Janeiro,
vizinho do famoso índio Araribóia e de Antonio de Mariz.
CASAL 1) Luzia da Rocha, casada por volta de 1610 com Amaro Pinheiro. Amaro Pinheiro foi
negociante estabelecido na Várzea de Nossa Senhora na Rua Direita (1610) e comerciava com o
Rio da Prata. Luzia foi madrinha de Anna da Silva (*1620) filha de Maria da Rocha, e Maria foi
madrinha do filho de Luzia, Francisco Pinheiro, n. 1621 (Sé). Amaro Pinheiro foi padrinho de Luzia,
filha de Pedro Pinheiro e Guiomar Alvares e de nossa ancestral Luzia de Távora (*1618)
CASAL 2) Pedro Pinheiro, casado por volta de 1615 com Guiomar Alvares, tiveram: Barbara da
Silva, n. ca 1625 (Sé) e Luzia, n. 1625 cuja madrinha foi Maria da Rocha, mulher de Manoel Botelho.
Por sua vez Guiomar Alvares foi madrinha de Inácio Pereira Botelho (* 1625) filho de Manoel
Botelho e Maria da Rocha.

CASAL 3) Anna Pinheiro, casada cerca 1620, com Leonardo? Ribeiro, tiveram: Barbara (Ribeiro?)
n. 1622 (Sé). Padrinho: Manuel Botelho.

CASAL 4) Lourenço Botelho, casado por volta de 1628 com Jeronima Pinheira. Pais de:
1) Guiomar, n. Rio (Sé) 1629 (padrinho João Botelho)
2) Barbara, n. Rio (Sé) 1632 (padrinho: Jacomé Vaz, avô da criança e madrinha: Maria da Fonseca.
3) Antonio, n. Rio (Candelária) 1638 (madrinha: Francisca Nunes, mulher de Jacome Vaz)
E 5) nossos ancestrais Manoel Botelho e Maria da Rocha que se casaram ca. 1615 e tiveram:
1. Luzia de Almeida / de Távora batisada em 28 de fevereiro de 1618. Padrinho: Amaro Pinheiro
(Sobre Luzia veremos mais em frente).
2. Anna da Silva 1620, Padrinho Rui Vaz Pinto* e Luzia da Rocha.
3. Inês de Almeida 1623-1653 – foi casada a 27 de Março de 1644, Sé, Rio de Janeiro, com Do-
mingos Paes Ferreira da Cunha de importante família de donos de engenho, irmão de Crispim da
Cunha Tenreiro. Foram os pais de Francisco Paes Ferreira, c.c. Maria de Macedo de Soberal Viegas,
pais do Capitão Francisco de Paes Ferreira, Senhor do Engenho de Guaratiba.
4. Inácio Pereira Botelho 1625 Padrinho: Manoel de Rios e madrinha: Guiomar Alvares.
5. Violante da Rocha ca 1627-1664 - casada a 27 de Março de 1644, Sé, Rio de Janeiro, com João
de Mariz, filho de uma importante família que foi uma das primeiras do Rio de Janeiro.

*) Nota: O padrinho de Anna da Silva, Rui Vaz Pinto foi Governador e Capitão Mor do Rio de
Janeiro entre 1617-1620 e Provedor-mor da Fazenda do Brasil (1624).

351
O Porto da Estrela desenhado por Rugendas por volta de 1820
Inhomirim
Como vimos, João Botelho teve sesmaria no Rio Inhomirim, recebida de seu presumível sogro
Antonio da Fonseca de Salvador da Bahia. Anos mais tarde, por volta de 1650, estas mesmas
terras em Inhomirim pertenciam a dois herdeiros de João Botelho (seus filhos ou netos), os irmãos
e Juízes Simão Botelho de Almeida e Sargento mor Baltazar Botelho da Fonseca, ambos
vereadores da cidade do Rio de Janeiro pelos idos de 1660-1670. Eles parecem ter sido naturais
da Bahia, o que, caso seja correto, poderia apoiar a teoria de que o acima mencionado Antonio da
Fonseca, morador de Salvador da Bahia, seja parente de Maria da Fonseca.

Simão Botelho de Almeida (o citado acima, também mencionado nas atas da câmara do Rio
como Simão Botelho da Cruz) foi o instituidor do (capela) Santuário de Nossa Senhora da Estrela
dos Mares, junto ao porto do Rio Inhomirim, que deu origem à povoação do Porto da Estrela,
onde mais tarde começava o famoso Caminho Novo que ligava o Rio às Minas Gerais. Viajantes
como o augsburguês Johann Moritz Rugendas (vide imagem acima) e o francês Augustin de Saint
Hilaire descreveram este porto como o lugar do Brasil onde imperava o maior movimento e onde
o viajante tinha que se despedir por muito tempo dos confortos da civilização. Hoje a velha igreja
e os grandes armazéns são ruínas abandonadas que dificilmente alguém encontra na densa
floresta que aqui se formou.
Simão foi casado em 1643 com "dona" lsabel
Pedrosa (1623-1677) ("Isabel Pedrosa de Gouveia",
que desconfio ser parente de dona Antonia
Pedrosa de Gouveia, esposa de Belchior de
Azeredo Coutinho, e pais de dona Maria Coutinha,
primeira esposa de nosso ancestral Pantaleão
Duarte Velho, que veremos a seguir). Tiveram:

352
A Baía de Guanabara no Mapa de Albernaz de 1640 com Inhaúma e Irajá marcados em vermelho.

1. Maria de Gouveia / de Távora, n. 1648 e casada com o Capitão Gaspar Pereira de Oliveira.
2. lsabel Pedrosa 1652 „dona solteira“
3. Salvador da Silva de Almeida 1644, casado a 5 de Junho de 1674, Sé, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
com Sebastiana Antunes de Oliveira, que foram os pais de Isabel Pedrosa, casada a 24 de
Setembro de 1692, São Gonçalo, RJ, com José Pereira de Mariz.

O batismo de Isabel Pedrosa de 1652 que teve como padrinho Domingos Botelho(!) e D. Isabel Pedrosa

O irmão de Simão, Baltasar Botelho da Fonseca, Sargento mor, Juíz e vereador da cidade do Rio
de Janeiro por volta de 1660-1670, casado em primeiras núpcias cerca 1650 com Margarida de
Távora, com a qual teve: Ascência de Távora, casada em 1682 com Salvador Correia. Baltazar foi
casado em segundas núpcias cerca de 1663 com Domingas de Oliveira, tiveram: Águeda de Oli-
veira, casada a 6 de Dezembro de 1684 na Candelária, com Manuel da Silva Lopes.

O fato de que alguns descendêntes dos Botelhos terem adotado os sobrenomes ALMEIDA e
TÁVORA (e também SILVA), intriga um tanto. Será que foram tomados de ancestrais destas
famílias? Ou será um indício de terem sido cristãos-novos, tendo assim a permissão de adotarem
sobrenomes de familias fidalgas, ao contrário das familias de cristãos-velhos, às quais isso era
proibido? Será que são indícios de que a família veio de Almada (Almeida) ou da região do Rio
Távora em Portugal?

353
Armada portuguesa de 1507,
Livro de Lisuarte de Abreu

Luzia de Távora e
Pantaleão Duarte
Velho
Luzia de Távora, nossa
ancestral e filha do casal
Manuel Botelho e Maria da
Rocha, se casou em 13 de
maio de 1648 (Sé, Rio) com o
viúvo Pantaleão Duarte
Velho, que foi muito
provavelmente cristão-novo,
quer dizer, descendente de
judeus, os quais vieram em
grande número para o Brasil
nos séculos XVI e XVII. Ele
deve der nascido por volta de
1590 e aparece no Rio de
Janeiro por volta de 1620-1640 como dono de navio e comerciante de açucar (e talvez de
escravos) no comércio quadrângular entre Brasil, Portugal, Africa e o Rio da Prata. Um
carregamento de açucar seu destinado à Portugal foi roubado pelo corsário francês Guilherme
Macella assim quando partia do Rio de Janeiro.

Em 1635 Pantaleão desfêz uma sociedade mercantil ligada com o Rio do Prata, algo que precedeu
o desmembramento de Portugal do Reino da Espanha em 1640. Seu primeiro casamento foi com
Maria Coutinho em 1637, filha de uma das mais ricas familias cariocas no ramo do açucar, os
Azeredo Coutinho. Maria Coutinho tinha raízes de cristão-nova. Casamentos entre cristão-novos
eram frequentes, pois assim como os nobres, formavam eles uma camada específica da sociedade
na época. Pantaleão se tornou mais tarde dono de engenho de cana-de-açucar em Irajá (no
Sapopema) que comprou de Miguel Gomes Bravo, avô materno de sua primeira esposa,
provavelmente em decorrência da proibição do comércio com o Rio da Prata após a reinstauração
da independência portuguesa em 1640. Em 1647, Pantaleão foi um dos 24 senhores de engenho
relacionados no decreto de fundação da freguesia de Irajá. Ao mesmo tempo possuiu entre 1654
e 1671 casas na Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro.

Em 11 de Março de 1671 foi feita a


seguinte escritura de dinheiro: „a
razão de juros que faz Pedro Fernan-
des Quintão a sua cunhada Helena ...
- .... Como fiador nesta escritura,
Manoel de Távora hipoteca a
metade de um engenho que tem e
possui no distrito de Irajá, de
invocação Nossa Senhora da
Esperança“.

Ao lado: A provável localização


do engenho Sapopema no riacho
Sapopema, onde provavelmente
354 estava o engenho de Pantaleão.
O registro de casamento de Pantaleão Duarte Velho com Luzia de Almeida. Rio (Sé) 1648.

Tanto nos registros de batismo dos filhos, como no registro de óbito em Irajá (RJ) em 1704, Luzia
de Almeida aparece como “Luzia de Távora”, sobrenome que passa a seus filhos:

1. Manoel Pereira de Távora nascido a 23 de marco de 1649 (Sé) e falecido ca.1688 que segue
2. Ascença de Távora 1650 (Irajá)

Nosso ancestral Manuel de Távora teve como padrinho: seu tio Domingos Paes Ferreira da
Cunha, esposo da tia Inez de Almeida. Manoel foi proprietário do “Engenho do Távora” em Irajá,
no norte do Rio de Janeiro fazendo assim parte da elite do Rio, visto que nesta época a riqueza se
concentrava nas mãos dos donos de engenho de açucar. Manuel construiu e aparelhou a capela
da Nossa Senhora da Conceição em Irajá. Na época os engenhos de açucar maiores tinham
capelas e os santos às quais eram dedicadas davam o nome ao engenho.

Manoel se casou por volta de 1670 com Maria da Assunção (com ascendência ainda insegura,
talvez da família dos Azedias ou dos Freires) com a qual teve vários filhos:

1. Feliciana de Távora 1671 (Irajá), casada a 4 de Fevereiro de 1690, Candelária, com Bernardo da
Costa.
2. Leonor de Távora 1674 (Candelária)-1697, casada a 21 de Maio de 1695, Candelária, com Fran-
cisco Nunes Corte Real 1665-1740, pais de
Manuel de Távora Corte Real, Tenente da
Fortaleza de Santo António da Praia. Rio
de Janeiro, c.c. Maria de Campos Barros
com vasta geração.
3. Ignácio de Távora 1676 (Irajá), casado a
26 de Junho de 1694, Irajá, com Vitória
Freire, pais de Manuel n.1694 e João n.1697
4. Luzia de Távora de Assunção 1678
(Candelária)-1730/ que segue
5. Inês de Távora 1682 (Irajá), casada a 28
de Junho de 1712, na Igreja do Mosteiro
de S. Bento / Irajá, com João Carvalho de
Oliveira com vasta geração.
6. Maria de Távora 1686 (Irajá).

Ao lado; Maria da Assunção como possuidora da


capela da Nossa Senhora da Conceição em Irajá.
Abaixo: Batismo de Manuel de Távora na Sé do
Rio de Janeiro em 1649.

355
O Rio de Janeiro por volta de 1760 por Miguel Blasco.

Teorias sobre a ascendência de Maria da Assunção


Infelizmente nos faltam os documentos necessários para identificar com segurança, de qual
família era nossa ancestral Maria da Assunção. Alguns de nossos ancestrais, muito católicos,
davam nomes de devoção às suas filhas, que elas passavam a suas descendentes mulheres. Este
deve ser o caso de Maria que repassou seu nome Assunção à filha Luzia. O registro de casamento
entre Manoel de Távora e Maria não pôde ser encontrado e igualmente nos faltam vários
batismos de seus filhos, visto que existem lacunas nos registros paroquiais online do Rio.

Teoria 1) Os Azedias
Mas encontrei alguns registros que tiveram integrantes da família dos Azedias como padrinhos.
Por exemplo, no batismo do filho Inácio em 1676 foi padrinho o capitão Manuel de Azedias
(Valadão) e madrinha Luzia de Albernaz, filha de Gaspar de Azedias Machado e de Inês de Albernaz
Veiga.

O outro batismo é de Maria de Távora de 1686 onde o padrinho foi o padre Manoel Álvares e a
madrinha Luzia Pinheiro (de Cisneiros) então já viúva, a filha do casal Pedro Pinheiro e Guiomar
Álvares, que já vimos acima. Luzia teve nossa ancestral Maria da Rocha como madrinha e foi
casada com o capitão Miguel de Azedias Machado, provedor da Fazenda Real no Rio de Janeiro e
irmão do Gaspar de Azedias Machado citado acima.

Maria da Assunção poderia ter sido desta família, mas como os Azedias também estavam
estabelecidos em Irajá onde tinham engenho e Luzia Pinheiro era afilhada dos Botelho e Rocha,
eles podem ter sido simplesmente bons amigos da família e compadres.

Teoria 2) Os Freire
A teoría mais provável seria a Maria da Assunção descender dos Freires. O casal Antônio Freire
(filho de Luis Lopes e Maria Freire) e Violante de Lima (filha de João Gomes Ribeiro e de Isabel
Madeira) teve a filha Maria da Assunção, nata por volta de 1627, que se casou no dia 29 de abril
de 1647 (na Sé, onde só os banhos foram registrados, pois já haviam se casado em casa) com
Manoel Lopes Marim (n. ca. 1617). Esta Maria da Assunção (n. 1627) teve irmãos que tiveram
descendência com os sobrenomes Freire, Gomes, Lima, Pereira e de Souza. O que nos dará uma
pista mais adiante.

Este casal poderia ter tido uma filha homônima da mãe, Maria da Assunção, nascida por volta de
1650, na época na qual „nossa“ Maria da Assunção nasceu. Isso é bem especulativo, mas quando
o acima citado filho de Maria da Assunção com Manoel de Távora, Inácio de Távora se casou,

356
Ao lado: A Baía de Guanabara
e o Rio de Janeiro em 1634.

em Irajá no dia 26 de junho de 1694


com Vitória Freire, filha de Luiz Teixeira
e Antônia (ou Angela) da Costa, os
noivos tiveram que pedir o
desempedimento para poderem se
casar, visto que eram primos de se-
gundo grau (tiveram impedimento por
consanguinidade em segundo grau
simples, o que significa terem os
mesmos bisavós).

Bem, eu suponho que o parentesco


deve ser atravéz da família da Costa,
visto que encontramos um casal muito
antigo no Rio, Fernão Freire e dona
Branca Freire, que foram pais de uma
dona Vitória da Costa, a terceira
mulher do governador do Rio de
Janeiro Salvador Correia de Sá. E por
volta de 1653 um Domingos da Costa
se casou com Antonia Nunes nascida
por volta de 1633 (que era sobrinha de
uma Maria da Rocha casada com
Manoel Freire). Os filhos deste casal se
chamariam da Costa e também Lima.
Esta correspondência de sobrenomes nos leva à deduzir que os bisavós comuns dos noivos
seriam Antônio Freire e Violante de Lima, pais da Maria da Assunção (n. 1627), que seria a
suposta mãe de „nossa“ Maria da Assunção. E um irmão desta Maria da Assunção (n. 1627) seria
um progenitor de Antônia da Costa, mãe da nubente Vitória Freire.

Muitas opções não existem para este parentesco - para termos uma idéia de como o Rio de Janei-
ro era pequeno na época, podemos citar a estimativa de Pero de Magalhães Gândavo que,
escrevendo na década de 1570, pouco tempo depois da fundação da cidade, afirma que nela
poderiam haver 140 vizinhos. O historiador Joaquim Veríssimo Serrão, com base nas cartas de
sesmarias passadas no período de 1585 a 1598, estima que cerca de 40 a 50 sesmeiros vieram de
outras capitanias para colonizar a cidade e os seus arredores, o que poderia significar um
aumento de 200 a 300 habitantes na região pelo final do século XVI. E realmente temos a
impressão de que as famílias iniciais se cruzaram muito. Por volta de 1590 se estima que viviam
no Rio de Janeiro por
volta de 280 famílias de
brancos, sendo o Rio na
época a capitania
brasileira com a menor
população. E por volta
de 1607 um cronista
estimava a população
de portugueses do Rio
em 600 pessoas.

Ao lado: Possível
parentesco entre
Inácio de Távora e 357
Vitória Freire.
O Rio visto do Mosteiro de S. Bento, desenho de Debret. Ca. 1850

Como tantas outras linhas ancestrais nossas,


temos que nos contentar aqui com uma
suposição, que possivelmente nunca possa ser
confirmada. Mas seja como for, só o fato de que
Inácio de Távora, o irmão de nossa ancestral Luzia
de Távora da Assunção, ter sido primo de segun-
do grau de sua esposa e presumindo que por lado
materno, demostra que Maria da Assunção já era
de família carioca de longa data.

Nossa ancestral Luzia foi madrinha do filho de


Inácio, Manuel, batisado em Irajá em 1694, sendo
o padrinho o segundo esposo de Maria da
Assunção, o avô-padrasto da criança, Frutuoso
Batista Rebelo. Nosso ancestral Manoel Pereira de
Távora deve ter falecido entre 1686 e 1688, pois
neste ano encontramos os seguintes documentos:

Em Julho de 1688 „Escritura de venda de um partido


que fazem Pantaleão Duarte Coutinho (filho do
primeiro casamento de Pantaleão Duarte Velho com
Maria Coutinho) e Agostinho de Souza Correia (que se casou com uma mulher da família dos Couto, que
era aparentada com filhos do primeiro casamento de Pantaleão Duarte Velho), como procuradores de
Maria da Assunção, viúva de Manoel de Távora, a Manoel da Costa de Albernaz – sito em Sapopema,
na fazenda e engenho dela Maria de Assunção, em meias com Pantaleão Duarte Coutinho.“

E em agosto de 1688 „Escritura de fiança que faz Manoel da Costa Albernaz para poder ter os órfãos
filhos de Francisco João em seu poder e ser seu tutor, tendo como fiador Salvador da Costa Jardim [seleiro]
– Manoel hipoteca um partido de canas que possui no engenho e fazenda da viúva de Manoel de
Távora, com 12 peças de escravos de seu serviço. (…)

Em 1692 Maria da Assunção se casa com Frutuoso Batista Rebelo e logo depois encontramos o
seguinte documento que nos dá a idéia de que a família estava com dificuldades financeiras,
talvez em decorrência da queda do preco do acucar ocorrida no final do século:

1693-05-19 - Escritura de dinheiro a razão de juros com hipoteca de bens que dá José Álvares Cordeiro,
credor, a Frutuoso Batista Rabelo e sua mulher Maria da Assunção, tendo como fiador o Capitão
Gonçalo Ferreira Souto – Os devedores hipotecam metade do engenho que possuem, de invocação Nossa
Senhora da Conceição, sito em Sacopema, o qual coube a ela Maria da Assunção por folha de partilha por
morte de Manoel de Távora, seu primeiro marido.

358
O fato de que várias de nossas ancestrais receberam a designação de „Dona“, nos dá uma idéia de
sua posição social. Podemos constatar que existia um emaranhado de famílias proprietárias de
engenho de longa data que eram aparentadas e apadrinhadas entre si durante todo o século XVII.
Um dos primeiros plantadores de cana no Irajá havia sido Francisco Paes Ferreira, o pai de Do-
mingos Paes Ferreira da Cunha que havia se casado com Inês de Almeida, filha de Manoel Botelho
e Maria da Rocha. Este já plantava cana em Irajá na década de 1610 e foi aparentado com os
Freires e também com os Azeredo Coutinho, cristãos-novos, dos quais descendia a primeira esposa
de Pantaleão Duarte Velho, família de verdadeiros „landlords“ cariocas.

Como viviam, podemos ter uma idéia ao ver a descrição da casa de Manoel de Távora:
1671-04-16 - Escritura de venda de uma morada de casas que fazem Manoel Pereira de Távora e sua
mulher Maria da Assunção a Bento Ribeiro - térrea, de pedra e cal, com sala, câmara, varanda e quintal,
com uma parede de cada banda do quintal, sita na rua do Gadelha (mais tarde „Rua do Ouvidor“),
partindo de uma banda com casas de Leonor de Montarroio e da outra com os herdeiros do Doutor Lopo
da Costa e com quem de direito.
Essa casa na importante Rua do
Ouvidor deve ter sido recebida por
herança de seu pai Pantaleão:

„1654-10-24 - Escritura de venda de um


lanço de casas que faz Gonçalo de Araújo
a Pantaleão Duarte Velho - térreas, sitas
na rua de Aleixo Manoel (Rua do Ouvidor),
em três braças de testada e 12,5 de quin-
tal, de pedra e cal, partindo de uma banda
com casas do comprador e da outra com
casas de Bento Pinheiro, comprada a
Diogo de Montarroio e que lhe couberam
por partilha dos bens de sua mulher Mécia
de Barcelos.“

Ao lado: Rua do Ouvidor e


acima: Rua Direita no Rio de 359
Janeiro antigo.
O antigo Morro do Castelo, onde nasceu o Rio de Janeiro. Pintura de Victor Meirelles ca. 1885

Nossa ancestral Luzia de Távora de Assunção foi batizada na Candelária, Rio no dia 7 de
setembro de 1678, e foi casada a 23 de Setembro de 1700, em Irajá, com o viúvo José
Lourenço Ferreira (* ca 1670 / + antes de 1729), filho de João Lourenço e de Maria Alva-
res Ferreira (cuja ascendência ainda procuro).

Acima: O registro de casamento de José Lourenco Ferreira com Luzia de Távora do ano 1700 na freguesia do
Irajá está infelizmente um tanto deteriorado. A primeira testemunha, oGeneral Artur de Sá e Menezes foi o gover-
nador da capitania do Rio de Janeiro e um dos primeiros a receber a notícia da descoberta de ouro nas Minas
Gerais pelo bandeirante paulista Borba Gato em 1698. A segunda testemunha foi Luzia de Távora, avó da noiva,
a terceira seu padrasto Frutuosa Batista e a quarta o cunhado da noiva Francisco Nunes Corte Real.

360
Onde Luzia de Távora foi batizada em
1678, a capela prometida a Nossa Senhora
da Candelária estava situada na parte
plana da cidade do Rio de Janeiro e, por
isso, foi chamadade início de „Igreja da
Várzea“. Os historiadores divergem a
respeito da data de construção da
igrejinha original, porém estimam que
tenha ocorrido no período entre 1600 e
1630.

José Lourenço Ferreira havia sido


casado em primeiras núpcias com
Barbara Antonia do Espirito Santo.
Mas infelizmente quase nada
sabemos sobre sua vida anterior
ao casamento com Luzia de Távora
em 1700.

Sabemos apenas que deve ter


nascido na segunda metade do
século XVII. Eu presumo que a
familia viveu na cidade do Rio de
Janeiro, visto que eles se casaram
na Candelária mesmo Luzia sendo
de Irajá, e lá também batizaram a filha Guiomar. O padrinho de Guiomar, o dono de navio,
capitão e tabelião Manoel Ferreira Raymundo foi irmão e tesoureiro (entre 1694 e 1695) da
Irmandade do Santissimo Sacramento da Candelária o que reforça esta tese.

A filha de José Lourenço Ferreira e Luzia de Távora, nossa antepassada Guiomar de Távora Ferreira, nascida no
Rio e batizada na Candelária em 1704 teve como padrinho o tabelião e capitão dos mercadores Manuel Ferreira
Raymundo – talvez um parente? E como madrinha a sua tia Maria de Távora.

Maria da Assunção ainda viveu alguns anos, sobrevivendo até mesmo seu segundo marido. Em
1710 é feita uma escritura „de arrendamento de terras que faz Francisco Nunes Corte Real, como
procurador (era seu genro) de Maria da Assunção, viúva de Frutuoso Batista, a Manoel Antunes
Suzano – sitas junto a seu engenho sito em Sapopema, fazendo rumo direito pela estrada que vai da
freguesia de Irajá para o engenho de Manoel de Paredes, partindo de uma banda com terras do
defunto Sebastião Monteiro e da outra com terras de Dona Branca Antunes, viúva do Capitão Tomé
de Souza, e pela banda da estrada, por onde faz rumo direito, com terras dela dita vendedora, as
quais terras lhe ficaram por falecimento de seu primeiro marido Manoel de Távora.
Arrendamento por tempo de dois nove anos.“

361
O mosteiro de São Bento
no Rio de Janeiro e
imagem abaixo: a igreja
de S. Bento

Nos primeiros anos do


século XVIII e ainda no
Rio de Janeiro, José
Lourenço Ferreira
efeuou uma série de
negócios imobiliários
dos quais podemos
retirar a informação de
que morava no Bairro
de São Bento, junto ao
mosteiro de São Bento, ainda hoje existente. Seguem os textos:
Em 1702: Escritura de aforamento de uma morada de casas que fazem os reverendos padres de São
Bento ao Licenciado Diogo de Montarroio de Lucena - de sobrado, de pedra e cal, sita no bairro de
São Bento, partindo de uma banda com casas dos herdeiros de João Pinheiro e da outra com casas
do Mosteiro em que mora por aforamento o Capitão Lourenço Ferreira. Aforamento por dois nove
anos. Foro: 65$000 por ano
No mesmo ano: Escritura de aforamento de uma morada de casas que fazem os reverendos padres
de São Bento ao Capitão Lourenço Ferreira - de sobrado, de pedra e cal, sita no bairro de São
Bento, partindo de uma banda com casas do Padre Matias Dutra de Leão e da outra com casas
aforadas pelo Mosteiro e em que mora o Licenciado Diogo de Montarroio de Lucena. Aforamento
por 2 nove anos. Foro: 75$000 por ano
Alguns anos depois, em 1713, quando José já estava em São Bartolomeu: Escritura de dinheiro a
juros com hipoteca de bens de raiz que faz o Reverendo Padre Florêncio Cid da Rosa, sacerdote do
hábito de São Pedro, ao Capitão Lourenço Ferreira, credor, tendo como fiador Francisco de Matos
de Castilho – O fiador hipoteca uma morada de casas térrea(?), de adobes, com pilares de pedra e
cal, sita detrás da igreja de Nossa Senhora do Parto. Valor: 312$000
Em 1714: Escritura de dinheiro a juros com hipoteca de uma morada de casas que faz Bárbara
Pereira ao Licenciado Antonio Nogueira - térrea, de taipa de mão, sita na rua a que chamam do
Cardoso(?), partindo de uma banda com chãos do Capitão Lourenço Ferreira e da outra com
chãos de Bárbara Pereira, correndo os fundos até entestar com os religiosos de São Bento. Valor:
274$000
E em 1759 encontramos mais uma
escritura „de venda de terras que
fazem Antonio Gomes de Abreu e
sua mulher Maria Soares da
Conceição ao Capitão João Pereira
de Lemos - sitas na paragem
chamada de Sacupena, freguesia
de Irajá, partindo de uma banda
com terras de Inês .... e da outra
com terras de Manoel Antunes
Suzano, pela testada com terras

362
dele comprador, e pelo sertão com terras que foram de Luzia de Távora e hoje são de José Ferrei-
ra, livres de foro, havidas por compra feita a José Soares e Silva e sua mulher em 11/11/1743“
A „Inês (…)“ acima mencionada podería ser a irmã de Luzia, Inês de Távora, casada com João Car-
valho de Oliveira. Será que Luzia havia falecido (teria em 1759 81 anos de idade) e será que este
José Ferreira é o „nosso“ José Lourenço Ferreira? Este José também poderia ser um filho. Em
1730 ainda encontramos Luzia vivendo em S. Bartolomeu, Minas Gerais. Será que o casal se
separou? A partir daqui e após mais de 150 anos no Rio de Janeiro deixaremos a cidade
maravilhosa e a nossa história continuará na nova Capitania das Minas Gerais.

363
A linda cidade mineira de Serro.

A História dos Araújo


Parte 3 - Mineiros de primeira hora
O casal Luzia de Távora de Assunção e José Lourenço Ferreira junto com a ainda nova filha
Guiomar de Távora Ferreira, passaram por volta de 1710 para São Bartolomeu, um distrito de
Ouro Preto. Como vimos, em Minas Gerais havia sido descoberto ouro em 1693. A testemunha de
casamento de José e Luzia em 1700 havia sido o então governador da capitania do Rio de Janeiro,
São Paulo e Minas, general Artur de Sá e Menezes (que descendia dos Melos, Senhores de
Povolide), estando nossos ancestrais certamente a par do que ocorria no interior da província.
José Lourenço aparece comprando terras em São Bartolomeu em 1711, ano em que os franceses
invadiram o Rio de Janeiro e a partir de então viveram da mineração de ouro.

Uma irmã de Luzia, Inêz de Távora, casada em 1712 (Rio, Mosteiro de S. Bento) com João Carvalho
de Oliveira, também passou
para São Bartolomeu. O
primeiro filho do casal ainda
nasce em Irajá em 1715, mas
já as filhas nascem em São
Bartolomeu. Mas pelo menos
parte da família volta para o
Rio de Janeiro por volta de
1730 onde as filhas se
casaram.
Uma cópia pequena da
igreja de S. Bento do Rio?
A igreja de S. Bartolomeu,
364 uma das mais antigas de
Minas Gerais, construída
entre 1715 e 1730
O distrito de S.
Bartolomeu, MG

Uma filha do casal,


Maria Luisa de
Távora se casou em
1741 com João Felix
de Brito, escrivão em
Serro Frio e Vila do
Principe em Minas
Gerais. Ele foi um
dos primeiros a
noticiar o desco-
brimento de dia-
mantes na província.

Em 16 de Abril de
1711 encontramos
uma carta de
sesmaria passada ao
Ajudante José Lourenço Ferreira, de um sitio junto ao ribeiro de São Bartholomeu „principiando
o pião nas casas do mesmo sitio, partindo de uma parte com Manoel da Hora e pela outra com
Manoel Rangel que serão quinhentas braças de largo e de comprido mil para o sertão de uma e
outra parte do mesmo ribeirão“.

E no dia 6 de outubro de
1711 José Lourenço Ferrei-
ra recebe patente passada
pelo posto de Ajudante do
numero do novo terço de
infantaria das Minas.

Por volta de 1729 José


Lourenço não está mais
em São Bartolomeu e sua
esposa passa a viver com a
filha e o genro.

Ao lado: Podemos ver que os


cunhados José Lourenço
Ferreira e João Carvalho de
Oliveira tinham terras vizinhas
em S. Bartolomeu e que José
Lourenço vendeu um sítio com
17 escravos em
1714.

365
Lista de impostos de S. Bartolomeu de 1729 –
Antonio Pais Chaves com 10 escravos e Luzia de Távora com 2 escravos.

Por volta de 1730 nossa ancestral Guiomar de Távora Ferreira se casa em São Bartolomeu
com Antônio Pais Chaves. Os registros paroquiais de S. Bartolomeu estão muito ruins e
com muitas lacunas, assim nada mais sabemos de Antonio. No Arquivo Publico Mineiro
encontramos algumas listas de impostos dos anos de 1729 a 1732 onde são listados os
moradores da freguesia de São Bartolomeu que foram donos de escravos, de vendas e
também mineradores. A função destas listas era enumerar os habitantes a fim de cobrar
impostos destes. Nelas encontramos sempre o nosso ancestral Antônio Pais Chaves e em
algumas também a provavelmente já viúva Luzia de Távora, sempre mencionados juntos, o
que pode significar que eram vizinhos ou talvez formassem uma familia. Antonio Pais Chaves
tinha entre 7 a 16 escravos e Luzia de Távora 2 ou 3 escravos.

Desta familia temos uma pequena história para contar, da qual só fiquei sabendo graças a
uma pesquisa dos respectivos nomes atravéz da ferramenta de buscas da google:

Luzia de Távora da Assunção tinha uma escrava de nome Tula. Quando sua filha Guiomar se
casou com Antonio Paes Chaves, creio que deve ter sido pelos idos de 1725 a 1730, Luzia
deu à filha como dote de casamento sua escrava Tula, que passou assim para o poder de
Antônio. Este deu à Tula (que passou a se chamar Tula de Távora Ferreira) uma carta de
manumissão (alforria) no valor de 250$000 em ouro, o que significava, que Tula podia
comprar sua liberdade por este valor, o que ela de fato fez. Quando Tula fez testamento
anos mais tarde em 1755, na época já casada com Valério Gonçalves do Couto, designou ela
seu antigo senhor, Antônio Paes Chaves como herdeiro de cinco oitavas de ouro, por
gratidão “pelo beneficio que me fez por passar a dita carta”.

Abaixo: Uma lista de 1730 de S. Bartolomeu onde aparecem Antonio Paes Chaves com 7 escravos e Luzia de
Távora com 2 escravos.

366
O distrito de Sao Bartolomeu

Guiomar e Antonio tiveram ao menos uma filha: Maria da Assunção Paes, nascida por volta
de 1740 em São Bartolomeu. Esta se casou por volta de 1760 com nosso ancestral, o reinol
de Fonte Arcada Miguel de Araújo e Silva. O casamento deve ter sido celebrado na vila rica
de Ouro Preto a 18 quilômetros (ou 5 horas de caminhada) de São Bartolomeu.

Com este casamento as famílias Távora e Araújo se unem, assim prosseguiremos com a
história dos Araújo, já em Ouro Preto na segunda metade do século XVIII, quando a
mineração do ouro das Minas já estava começando a entrar em decadência.

367
A cidade de Ouro Preto, antigamente chamada „Vila Rica“.
Brancos e negros numa venda no Recife antigo.Gravura de Rugendas.

A História dos Araújo


Parte 4 – O mineiro Paulo José de Araújo

Como já vimos na página 347, o reinól Miguel de Araújo e Silva veio de Fontarcada no
Concelho de Póvoa de Lanhoso para Ouro Preto por volta de 1740/1750. Na época Minas
Gerais ainda estava passando pelo apogeu da extração do ouro e grandes fortunas foram
feitas, o que pode ainda hoje ser visto na quantidade e riqueza de suas igrejas barrocas.
Após conflitos iniciais entre brasileiros e portugueses sobre a posse das descobertas,
podemos presumir que agora estes viviam em certa harmonia e pouco a pouco estava se
formando uma população
mesclada que se
considerava simplesmente
„mineira“.

Assim Miguel decide se fixar


definitivamente em Ouro
Preto e por volta de 1760 se
casa com a mineira Maria
da Assunção Paes, prova-
velmente na suntuosa igreja
matriz do Pilar da qual era
freguês.

368
A igreja do Pilar de Ouro Preto, da qual Miguel e Maria eram fregueses
O interior dourado da igrejaa Matriz do Pilar em Vila Rica.

Podemos imaginar que Miguel a princípio também se dedicou à mineração (o que seu filho
também fez mais tarde). Grande parte da população mineira estava extraindo o mineral ou
ocupada no comércio dedicado a suprir os mineiros, soldados, oficiais e funcionários régios
que haviam se estabelecido nas Minas. Só pouco a pouco a economia foi se diversificando,
principalmente a partir de 1750 quando o minério comecou a dar sinais de que estava se
exaurindo. Talvez assim Miguel passou mais tarde, talvez também por estar ficando idoso a
lecionar.

No início de fevereiro de 1766 nasce o filho de Miguel de Araújo Silva e de Maria da


Assunção Pais em Ouro Preto. Ele é batizado no dia nove de fevereiro na imponente igreja
de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto recebendo o nome de Paulo, homenagem ao tio
paterno Paulo de Araújo e Silva, que ficou em Fonte Arcada, concelho de Póvoa de Lanhoso,
onde o pai Miguel havia nascido 50 anos antes e sido batizado na austera igreja medieval da
pequena freguesia. Que contraste! O seu
filho Paulo foi batizado em uma igreja
que esbanja riqueza e adornos – na
época ainda novos e brilhantes – sinal de
ostentação das grandes fortunas feitas
por certas pessoas na Vila Rica. A igreja
do Pilar é a segunda igreja com maior
quantidade de ouro em seu interior no
Brasil, só perdendo para a igreja Igreja
de São Francisco em Salvador da Bahia.

369
Ouro Preto em uma fotografia histórica
A seguir vemos o registro de batismo de Paulo José de Araújo:

Paulo Innocente
Aos nove dias do mes de Fevereiro de mil, e setecentos, sessenta, e seis anos nesta Igreja Matris de
Nossa Senhora do Pilar de Villa Rica do Ouro Preto baptizei, e pus os Santos Oleos a Paulo inocente
filho legitimo de Miguel de Araújo Sylva, e Maria da Assensão Pays; Nepto pela parte paterna de
Antonio Luis de Almeyda, e Maria da Silva de Araújo, e pela materna de Antonio Pays Chaves e
Guiomar Ferreyra. Forão padrinhos o Sargento Mor Francisco Antonio Rabello e Donna Francisca
Joanna Peregrina de Jesus, moradores na freguesia de Nossa Senhora da Conceyção de Antonio
Dias, e mais moradores nesta Freguesia, de que para constar fiz este assento.
O Coadj.r João Carv.o de Roza

370
O brasâo dos Távora chegou a ser proibido,
assim como o nome.

Os Távoras

A avó de Paulo, Guiomar de Távora Ferreira é


mencionada no batismo sem o sobrenome Távora,
visto que poucos anos antes, em 1758-59, havia
ocorrido o processo dos Távoras em Lisboa, onde a
familia do Marquês de Távora fora incriminada pelo
rei português Dom José I de ter tentado o assassinar.

Corre em nossa familia faz muitos anos um mito de


que descendemos dos Marqueses de Távora. A avó

de meu avô, Maria José de Araújo,


nascida em 1830, havia contado essa
história a meu avô quando ele ainda
era criança e este, mesmo sem saber
quase nada sobre a história de Portu-
gal, nunca se esqueceu deste mito. Fui
eu, mais de 100 anos depois de meu
avô ouvir esta história que descobri
que descendemos de fato de Távoras.
A familia Távora, que ao lado do ramo
nobre principal, tinha muitas linhagens
secundárias, foi muito perseguida e o
sobrenome Távora chegou a ser
proibido, o que deve ser a causa de
Guiomar só se chamar Ferreira no
registro.

371
O padrinho de batismo de Paulo foi o Sargento Mor Francisco Antonio Rabelo. Ele foi
morador no bairro de Antonio Dias, que pode também ter sido o lugar de residência da
familia Araújo. Francisco Antônio, então já tenente, teve 15 anos mais tarde um papel ambi-
valente na Inconfidência Mineira. Ele por um lado prendeu seguindo ordem do Governador
Visconde de Barbacena os inconfidentes Tomás Antônio Gonzaga (o primeiro dos
inconfidentes a ser preso) e Domingos de Abreu Vieira, mas por outro lado era um
simpatizante da causa que informava os passos do seu chefe aos aliados inconfidentes, e
também chegou por final a ser preso na Ilha das Cobras no Rio de Janeiro, como se vê nos
autos da devassa a sua condenação.

Miguel de Araújo e Silva também é mencionado em um trabalho sobre apadrinhamentos, no


qual ele é citado no ano de 1785 sendo padrinho de Maria, uma criança exposta em Ouro
Preto. Podemos ver nele uma pessoa que de certo tinha um coração bom e que praticava
caridade.

A igreja da Nossa
Senhora da
Conceição no
bairro ouropretano
de Antônio Dias

372
No Santuário de Porto de Ave no Concelho de Póvoa de Lanhoso encontramos alguns Ex-votos de portugueses
que estiveram em Minas Gerais e fizeram promessas. Esta imagem é peculiarmente interessante, pois um Joao de
Azevedo de Ouro Preto fez promessa para a cura de um escravo seu que esteve doente.

Paulo José de Araújo presenciou certamente de perto os acontecimentos em torno da


conjuração de Minas que ocorreu quando ele tinha apenas 23 anos de idade. O que será
que pensou sobre o assunto? O que viu, o que ouviu? De qualquer modo foi uma época
altamente interessante. As minas da área de mineração tradicional de Ouro Preto estavam se
esgotando, mas mesmo assim o rei português continuava a exigir altos tributos da
população colonial, que estava cada vez mais descontente. Os Estados Unidos conseguiram
sua independência entre 1775 e 1783 e na França houve em 1789 a revolução que fez da
monarquia uma república e que visava derrubar por terra as desigualdades sociais de um
sistema político injusto. Ciente disto, a elite mineira estava se organizando contra a coroa,
mas sua revolta infelizmente já nasce morta. O Brasil ainda passaria mais 20 anos até poder
desfrutar de mais autonomia, que veio com a chegada da corte portuguesa fugindo de
Napoleão e a independência só chegaria 33 anos depois da natimorta Inconfidência Mineira.

Por volta de 1790 Paulo José de Araújo se casa com menos de 25 anos com Luisa Maria de
São Joaquim, natural e residente em Santo Antônio da Casa Branca do Ouro Preto, um
distrito a menos de 30 quilômetros da vila de Ouro Preto e a cerca de 14 quilômetros de São
Bartolomeu. Hoje esse distrito se chama “Glaura” em homenagem a uma poema de
Alvarenga Peixoto. Luisa Maria era filha do licenciado, talvez advogado, Simão Alvares (Al-
ves) Pereira, portugues natural da Vila de Lordelo no concelho de Vila Real e de Josefa
Teodora de Jesus, natural de Ouro Branco, Minas Gerais, filha de açorianos que para cá
vieram na década de 1720-30.
Sobre esta familia veremos mais em
frente em um capítula à parte.

373
A igreja matriz de Glaura

Paulo passa a morar em


Casa Branca, cidade de sua
esposa e onde teve lavras
de ouro. Casa Branca era
um refúgio da elite de
Ouro Preto. E eu presumo
que os Araújo igualmente
fizeram parte da elite local,
à qual pertencia um
punhado de familias.

Aqui também vivia o


capitão Jerônimo Fer-
nandes da Silva Macedo,
o sobrinho do rico
contratador João Rodri-
gues de Macedo, como já
vimos. Jerônimo era casado
com Rita Euzébia de
Assunção, de familia de Casa Branca, filha de João da Silva de Oliveira um vereador de Ouro
Preto e sua esposa Joana Francisca de Paiva que se tornaram amigos do jovem casal Paulo e
Luisa.

Infelizmente ainda não pude encontrar o registro de casamento de Paulo José com Luisa
Maria. Pode também ser que se casaram em Ouro Preto, onde infelizmente os registros
paroquiais da matriz do Pilar não estão online o que dificulta a pesquisa. Mas já em 26 de
abril de 1791 é batizada a primeira filha do casal em Casa Branca que recebeu o nome de
Anna.

Ao lado:
batismo de
Anna Luisa
de Jesus em
1791 em
Casa
Branca.

O Chafariz de Dom Rodrigo,


de 1783 no caminho entre
Ouro Preto e Casa Branca

374
O registro de batismo do filho José Francisco em 1800, nosso aancestral – S. Antonio da Casa Branca, MG.

Em pouco tempo nasceram 8 filhos do casal dos quais descendemos de dois (em negrito):
 Anna Luisa de Jesus 1791-
 Maria Joaquina de Jesus 1792-
 Luiza Maria do Sacramento 1795-
 José Francisco de Araújo 1800-1877
 Manoel de Araújo 1802-
 Rita Cássia de Araújo 1804-1836
 Joâo José de Araújo 1805-
 Francisco José de Araújo 1808-

Abaixo: Casa em estilo colonial em Glaura, MG

É interessante observar a rede de


compadrinhos dos filhos de Paulo e de
Luisa:
 Anna teve como padrinhos o Tenente
Coronel Antonio Tomás de Figueiredo
Neves, membro de uma das principais
familias da cidade e Dona Antonia Candi-
da da Luz.
 Maria teve como padrinhos o vereador
de Ouro Preto João da Silva de Oliveira e
sua esposa Joana Francisca de Paiva. Ele
trabalhou junto com João Roiz de
Macedo e foi compadre do ouvidor de
Ouro Preto Tomás Antônio Gonzaga.
Foram os pais da esposa do capitão
Jerônimo Fernandes da Silva de Macedo.
Os descendentes dos Silva e Oliveira
também têm a lenda da descendência
dos Távora em sua família.

375
Registro de Batismo de nossa ancestral Rita de Cassia de Jesus em 1804 em Santo Antonio da Casa Branca.

 Luiza teve como padrinhos o alferes Manoel Marques Ferreira de Vila Rica e Dona Ana
Angelica Clara de Serqueira de Sto. Antonio do Rio das Velhas.
 José teve como Padrinhos o alferes Manoel José … e Dona (Maria) Josefa Rodrigues de
Oliveira, mulher de Nicolao Alves Portela, que foi primo da acima mencionada Joana Fran-
cisca de Paiva e também fazia parte da elite local.
 Manoel teve como Padrinhos o reverendo João …. e Dona Ana Joaquina Rosa per
procuração do rev. Francisco Ferreira da Fonseca.
 Rita teve como Padrinhos Joaquim Ferreira da Fonseca p. procuração de Francisco Teodoro
da Silva e sua irmã Maria solteira filha de Paulo José de Araújo.
 João teve como Padrinhos o reverendo Manuel da Silveira Gato p. procuração de Francisco
Teodoro da Silva e Dona Maria Tereza de Jesus, p. procuração de do rev. Francisco Ferreira
da Fonseca.
 Francisco teve como Padrinhos o rev. Francisco Ferreira da Fonseca e sua irmã Ana Luiza,
filha de Paulo José de Araújo.

Este padre Francisco Ferreira


da Fonseca aparece no senso
de 1831 morando com as
solteiras Ana Joaquina Rosa
e Maria Tereza de Jesus
(além de 23 escravos, o que
os fazia uma das fazendas
mais abastadas da
freguesia), ambas também
madrinhas dos filhos de
Paulo e Luisa. O padre que
batizou as crianças era
Manoel Ferreira da Fonseca.
Os Ferreira da Fonseca
também descendem de
familia dos Açores, tendo
assim a mesma origem da
mãe de Luisa Maria de São
Joaquim.
Ao lado: A casa do padre Manoel
da Silveira Gato em Ouro Preto
que era parente do bandeirante
Borba Gato.

376
Santo Antonio da Casa Branca vista do alto. Ao fundo vemos algumas áreas degradas e em erosão –
Talvez o resultado da exploração aurífera?

O padrinho de João José, o padre Manuel da Silveira Gato, parente do bandeirante Borba
Gato, morou em Ouro Preto na Rua Direita, na mesma casa onde mais tarde foram escritos
os livros “Escrava Isaura” e “O Seminarista” de Bernardo de Guimarães, editados em 1875.
Nos tombos foreiros de Ouro Preto de 1809-1812 podemos ver que Manuel da Silveira Gato
era vizinho do capitão Jerônimo Fernandes da Silva Macedo, sobrinho de João Rodrigues de
Macedo, que já vimos acima.

Também João Rodrigues de Macedo estava presente em Casa Branca como demostra o
óbito de Bernardo Cabra, um de seus escravos em 1800.

A filha de João da Silva de Oliveira e sua esposa Joana Francisca de Paiva, os padrinhos de
Maria, foi Rita Euzébia da Assunção, que por sua vez teve como padrinhos o inconfidente
Tomás Antonio Gonzaga e a acima mencionada Ana Joaquina Rosa. Ela era casada com o
sobrinho de João Roiz de Macedo, Capitão Jerônimo e era irmã dos políticos Domingos da
Silva e Oliveira e Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, sendo este último o fundador da
cidade de Uberaba, MG. E
esta Rita Euzébia foi
também madrinha de
Manoel, um filho de Joana
Maria de Jesus, uma irmã de
Luisa Maria de São Joa-
quim. Vendo este laços
temos uma idéia de como
essas familias eram ligadas
umas às outras.

377
A linda cidade de Sabará, onde Paulo José de Araújo teve um contrato de arrecadação de Dízimos

O „mulato“ Paulo José de Araújo como arrematante de dízimos


Paulo José arrematou o contrato de coleta de dízimos das freguesias de Sabará, Curvelo e
Barra do triênio de 1796 e 1798 por 8:737$466 Réis. E novamente o das freguesias de
Curvelo e Barra no triênio de 1799 a 1801 por 2:896$138 Réis. O dízimo era um imposto
originalmente religioso, mas que acabou por ser coletado pela Fazenda Real.

„Se no início os dízimos eram arrendados pelo valor estimado do conjunto da produção
agrícola brasileira, a partir de 1628 o arrendamento ajustou-se à produção agropecuária de
cada capitania. O sistema de cobrança e pagamento era simples: uma vez celebrado o
contrato dos dízimos, o arrendatário estava obrigado a pagar trimestralmente nas provedorias
o valor correspondente até alcançar o montante total contratado“. (de „Historiografia
econômica do dízimo agrário na Ibero-América: os casos do Brasil e Nova Espanha, século
XVIII“, Angelo Alves Carrara; Ernest Sánchez Santiró)

Na imagem abaixo vemos os cálculos da Fazenda Real sobre os rendimentos dos Dízimos
arrematados por Paulo José de Araújo entre 1796 e 1801. A sentenca final abaixo: “está tudo
vencido” parece dizer
que ainda faltava muito
a ser pago aos cofres
públicos até aquele
momento, restando
ainda mais de oito
contos de Reis a pagar.

378
Sabará em uma pintura de Johann Georg Grimm, alemão de Immenstadt, Baviera.

Paulo José de Araújo parece ter se servido de uma tramóia para arrematar este contrato, pois não
tinha fiadores com fortuna suficiente para comprovar ter o crédito necessário para este posto. Ele
parece ter aumentado os bens dos seus fiadores Manoel Valente de Oliveira, José Vicente Soares,
Eugênio Fernandes Machado e Caetano Gomes Coelho para ter o crédito suficiente para esse
contrato. Todos estes eram moradores em Santo Antonio da Casa Branca e São Bartolomeu. Por
exemplo alegou que Eugênio possuia 20 escravos em sua fazenda, sendo que este possuia apenas
três cativos e nem tinha terras próprias, mas vivia como agregado nas terras de seu sogro.

Caetano Gomes por sua vez não tinha os 16 escravos e as terras declaradas, mas apenas um só e
ainda mais morava de favor nas terras de Francisco Ferreira da Fonseca em Casa Branca (veja este
reverendo Francisco como bastante procurador no batismo de um dos filhos de Paulo José em
1808). O fiador Vicente Soares parece ter possuido apenas um sítio com dois escravos velhos, dois
aleijados e seis já penhorados ao invéz dos muitos escravos em três fazendas como fôra
registrado no contrato.

Abaixo vemos parte de uma carta à Fazenda Real denunciando as mentiras dos bens dos fiadores
apresentados por Paulo José de Araújo para arrematar os contratos de dízimos. O delatante Va-
lente Dias Cordeiro não só expôs todas as falsas informações de Paulo José, mas também alegou
que Paulo „…não somente jurou falso sobre a pretendida abonação dos fiadores, mas a seu respeito
mesmo obrigando os seus bens na falta daqueles, quando nada tem de seu e até inculcando-se
branco, sendo conhecidamente neto de uma preta de Guiné.“ .

Eu me pergunto: onde poderiamos encaixar esta „preta de Guiné“ entre os ancestrais de Paulo
José? Sómente vejo a possibilidade de que o seu avô Antônio Paes Chaves fosse já um pardo e
talvez tivesse uma mãe africana. Esse é mais um mistério em nossa família.

Estratos da carta de
denúncia de Valente
Dias Cordeiro contra
Paulo José de Araújo
sobre as mentiras para
poder receber o contrato
de dízimos em 1796. 379
Sabará em pintura de Guignard

Seja como for, Paulo José parece ter conseguido arrematar esse contrato e vendeu-o logo a
seguir a seu cunhado Nicolau Alves Portela, que parece ter sido seu cumplice. Se esse
negócio lhe rendeu lucros ou não, infelizmente não podemos mais averiguar. Assim
podemos ver mais uma vez em nossa história familiar aquele “jeitinho brasileiro” que
naquela época era quase patriótico, usado para manter um bocado das grandes riquezas
brasileiras que eram quase todas direcionadas à Portugal, sempre ávido de tirar o máximo
possível de lucros de sua colônia americana, naquela época sua maior fonte de impostos.

As lavras de ouro
Paulo José de Araújo se tornou alferes em 1804 e parece ter tido uma fazenda denominada
Caquende. Além disso foi dono de lavras de ouro em Casa Branca. O casal Paulo José e Luisa
era muito querido na cidade. Foram padrinhos de batismo dos filhos de muitas pessoas das
mais diversas classes sociais, até mesmo de alguns filhos de escravos.

Duas filhas de Paulo e Luisa – as mais velhas Luiza Maria do Sacramento e Ana Luiza de
Jesus se casaram com dois filhos do minerador Manoel da Costa de Gouveia, o maior
minerador de S. Bartolomeu, como podemos ver na imagem da página ao lado.

Um batismo “in extremis” feito por Luisa Maria de Sâo Joaquim em Casa Branca em 1802

380
Gravura retratando uma
lavra de ouro
em Minas Gerais

Em 1814 Paulo José


aparece no livro do
barão de Eschwege
sobre as riquezas
minerais do Brasil
como dono da lavra
com o maior número
de escravos em Casa
Branca (com 13
escravos) mas não
tendo o maior
rendimento: 13 e 1/4
de oitavas de ouro. Sua
lavra é designada
como “lavra a talho
aberto”. A lavra a talho
aberto era explorada
conduzindo-se água
para se lavar a terra
aurífera acumulando-
se o metal precioso em
peles estendidas na
base de um tanque.

381
Rugendas – uma festa de Iundu – gravura de 1835

A atividade de mineração com certeza estava entrando em declínio e pode ser que a familia
passou a procurar uma nova ocupação. Como eles eram amigos da familia do capitão Jerônimo
Fernandes da Silva Macedo e de Rita Euzébia, e como Jerônimo era um dos sobrinhos herdeiros
das terras e lavras de João Rodrigues de Macedo, deve ter sido atravéz deste que ficaram
sabendo de terras boas em São Gonçalo do Sapucaí e de dois filhos de seu primo Antônio Joa-
quim Rodrigues de Macedo em idade para se casar. Assim logo foi arrumado o casamento entre
dois Araújos e dois Macedos e a familia decidiu se mudar para São Gonçalo por volta de 1826.
Acredito que Paulo José faleceu por volta desta época. Infelizmente não encontrei seu registro de
óbito. Nessa época, varias familias de Glaura foram se estabelecendo em São Gonçalo, onde havia
terras mais abundantes, férteis e baratas e também lavras de ouro que produziam mais que as de
Ouro Preto e região.

Assim, no mesmo ano de 1828, se casaram em S. Gonçalo do Sapucaí, no dia 8 de janeiro José
Francisco de Araújo com Angelina Damiana de Abreu Macedo e no dia 7 de outubro Rita de
Cassia de Jesus (Araújo) com Antônio Julio de Abreu Macedo. Dois irmãos Araújo se casaram
com dois Macedo e destes dois casais descendem os Araújo Macedo de São Gonçalo. Sobre eles
veremos mais adiante, depois de conhecermos os ancestrais de Luisa Maria de S. Joaquim.

382
A cidade de Horta na ilha de Faial nos Açores

A História dos Araújo


Parte 5 – Os ancestrais de Luisa Maria de S. Joaquim

Luisa Maria de São Joaquim, a esposa de Paulo José de Araújo do qual tratamos no
último episódio nasceu no dia 22 de maio de 1764 em Santo Antonio da Casa Branca,
distrito de Ouro Preto na capitania das Minas Gerais. Maria teve como padrinho Antônio
Ferreira Neves, um dos fundadores da cidade, e como madrinha Ana Maria de Jesus.

383
Ao lado: O mais
antigo mapa de
todas as ilhas do
arquipélago dos
Açores de 1584.

E abaixo: A
localizaçâo dos
Açores no
Oceano
Atlântico e da
ilha do Faial
dentro do
arquipélago.

Os Açores
A mãe de Luisa foi Josefa Teodora de Jesus.
Ela nasceu por volta de 1741 provavelmente
em Ouro Branco em Minas Gerais, sendo que
seus pais, os avós maternos de Luisa –
Manoel da Silveira Goulart e Jeronima
Maria da Luz – foram naturais da ilha do Faial,
no arquipélago dos Açores, um grupo de ilhas
pertencentes à Portugal entre os continentes
da Europa e América do Norte. As ilhas foram descobertas por volta de 1420 durante a expansão
marítima portuguesa orquestrada pelo Infante Dom Henrique e foram povoadas a partir de 1439
principalmente por portugueses do sul de Portugal, judeus, mouros e extrangeiros, na maioria
flamengos. Os flamengos começaram a se instalar por volta de 1470 principalmente em Faial, de
onde veio a maior parte de nossos ancestrais açorianos, pois seu primeiro donatário (1468) foi o
nobre flamengo Joss van Hurtere que trouxe muitas pessoas oriundas das atuais Bélgica e
Holanda e também do norte de Portugal para colonizar a ilha. O nome da cidade da Horta deriva
de seu sobrenome „Hurtere“. É dele e de seus dois irmãos e um primo que com ele vieram que
descendem os Dut-
ra (d´Utra) açorianos
e brasileiros, família
da qual nós também
descendemos.
Ao lado: A cidade de
Horta, a capital da ilha
do Faial

384
A impressionante paisagem
da ilha de Faial.

Manoel da Silveira Goulart era


natural da freguesia de Castelo
Branco e Jeronima Maria da Luz
da cidade de Horta, a capital da
ilha. Algumas de suas linhas
ancestrais podem ser seguidas
nos Açores até a Idade Média e
descendem da mistura original de
portugueses, flamengos e judeus
sefarditas que povoou as ilhas nas
primeiras décadas de sua história,
o que indicam os sobrenomes
Bettencourt, Dutra (d´Uter, ou
“de Utrecht”), da Silveira
(tradução do sobrenome
holandês van Hagen) e Goulart.
Além destes, encontramos entre
nossos ancestrais os escoceses
Drummond e os belgas de Brum
(van der Bruyn) que foram
pioneiros na colonização da Ilha
de Madeira e cujos descendentes
passaram no decorrer dos anos
também para os Açores.

Árvore dos
ancestrais de
Manoel da Silveira
Goulart, o pai de
Josefa Teodora de
Jesus. Ele nasceu
em 1697 na
freguesia de
Castelo Branco em
Faial, de onde veio
a grande maioria
de seus ancestrais.
As pessoas
indicadas com setas
vermelhas têm suas
árvores na
próximas duas
páginas.

385
Na página ao lado: Vista da
ilha da Madeira, de onde
também temos ancestrais.

Nestas páginas vemos


quatro árvores de
ascendência de linhas
ancestrais de Manoel da
Silveira Goulart. Nelas
podemos ver muito bem
exemplos de como
certas pessoas e famílias
passaram a partir de
1430-40 para as recém-
descobertas ilhas da
Madeira e dos Açores.
Entre pessoas comuns
como camponeses,
mercadores, soldados e
oficiais dos primeiros
donatários das ilhas
encontramos também
aventureiros, estrangei-
ros, judeus, criminosos e
fidalgos, muitas vezes
os secundogênitos de
famílias nobres do
continente, que estavam
à procura de oportuni-
dades econômicas e
sociais nas ilhas.
Devido ao universo
restrito que as ilhas
formavam e à uma
grande quantidade de
documentos e pesqui-

sas, é possível seguir tantas linhas ancestrais até a


Idade Média, algo realmente fenomenal.
Houve nos Açores no decorrer dos séculos uma
grande mesclagem endogâmica, algo que

386
podemos constatar entre os ancestrais de Josefa Teodora de Jesus, que teve no mínimo sete
linhas ancestrais descendentes da família Dutra e no mínimo três da família Silveira. Duran-
te a pesquisa nos registros paroquiais da freguesia de Castelo Branco no Faial pude
constatar que quase toda terceira família parecia descender dos Dutra, família que esteve
entre os primeiros povoadores do Faial e se difundiu imensamente nesta ilha.
A familia Alvernaz (Albernaz) pesquisada por certos genalogistas até a idade média parece
estar sempre acompanhada com informação que aponta para famílias judaicas / cristãos
novos.
Sobre a origem de nossa família Peixoto do Faial pode se ler mais na página 254.

387
Localização da freguesia de Castelo Branco na Ilha do Faial.

Devido à proximidade geográfica das ilhas do Faial, do Pico e S. Jorge além da ilha Terceira,
onde está Angra, a capital dos Açores, é daqui que veio a maior parte dos ancestrais de
Josefa Teodora de Jesus. Mas como não conseguimos seguir várias linhas adiante deixando
suas origens em aberto, é provável que tenhamos ancestrais de todas as ilhas dos Açores.
Nas páginas anteriores vimos os ancestrais de Manoel da Silveira Goulart. Nestas veremos os
de sua esposa Jeronima Maria da Luz, nascida em Horta no Faial. os ancestrais que estão
em destaque em vermelho são as suas linhas ancestrais mais longas dos Açores.

Por exemplo os ancestrais de Beatriz Gonçalves e Tomé Gomes, que tiveram antepassados
comuns, sendo assim parentes. Beatriz e Tomé vieram de Santa Bárbara das Nove Ribeiras em
Angra, ilha Terceira. Isabel Dias Rodovalho teve origem nobre em Beja no Alentejo, Portugal e foi
para Angra do Heroismo. Sua irmã Brites Dias Rodovalho foi a fundadora do mosteiro do Bom
Jesus em Viana do Alentejo. Seu pai Diogo Vaz Rodovalho foi escudeiro em Viana de Alvito. O
pai de sua mulher Maria Esteves foi Estevão Anes Cansado „lavrador honrado e rico” de Viana
de. Alvito. Esse é apenas um exemplo de famílas de cavaleiros que passaram para os Açores no
início de sua colonização.
A maior parte destas
informações recebi de
um primo distante, o
genealogista William
Horst Richter de São
Paulo, grande pesqui-
sador e descendente de
Maria Rosa Lucia do
Nascimento, nascida em
1761, uma irmã mais
velha de nossa Luisa
Maria de São Joaquim.
Ao lado: O vulcão Cabeço
do Fogo em Faial

388
A família da Silveira, da qual descendemos no mínimo três vezes tem o seguinte patriarca: Por
volta de 1470, desembarcou em Faial o flamengo Willem van der Hagen, que aportuguesou o seu
nome para Guilherme da Silveira, liderando uma segunda vaga de povoadores após os
primeiros que vieram alguns anos antes. O rápido crescimento económico da ilha deveu à cultura
de trigo e da pasteleira, uma planta da qual se extraía um corante. No grupo de imigrantes
flamengos de Guilherme da Silveira, que aportou no último quartel do século XV, veio um
individuo de alcunha Pedro “pasteleiro” e um outro chamado Govaert Lodewijik (Goulart Luis),
naturais de Flandres, indivíduos que poderíamos hoje dizer, eram especializados na cultura e
produção do pastel. Goulart Luis foi o patriarca da grande família Goulart açoriana.

Momentos marcantes da história de Faial foram em 1597 quando houve o desembarque e saque
do Faial por uma armada inglêsa com 140 velas sob o comando de Robert Devereux, 2.º conde de
Essex. E em 1672-1673 houve a erupção vulcânica do Cabeço do Fogo, na baía do Norte.

389
"A Baía de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, com embarcações e a Fortaleza de S. João Baptista". Gravura de
Lebreton, 1850, Biblioteca Nacional do Brasil, Rio de Janeiro.

No domingo de páscoa de 1672 a nem 10 quilômetros de Castelo Branco, a aldeia onde viviam os
pais de Manoel da Silveira
Goulart, João Garcia da Costa e
Catarina Dutra, e o pai de
Jeronima, Manoel da Silveira
Peixoto, houve a erupção do
vulcão Cabeço do Fogo que
destruiu as casas de 1200
familias, muitas delas em
Castelo Branco. Foram muitos
os habitantes de Faial que
pediram autorização para
emigrar ao Brasil nessa época. O
medo de que uma nova erupção
pudesse destruir novamente
suas casas e campos era grande.
Um dos irmãos de Manoel da
Silveira Goulart, Antônio da
Silveira Goulart (que faleceu por
volta de 1773 em Brumado,
Minas Gerais), nasceu em 1703
na próxima aldeia de Capelo,
logo abaixo das encostas do
vulcão, o que demostra como a
familia de João Garcia da Costa
e Catarina Dutra esteve
imediatamente afetada pelos
abalos sismicos e pela erupção
do Cabeço do Fogo.

Gravura de 1683
390 retratando a cidade de
Angra do Heroísmo duran-
te um ataque marítimo.
Registro de batismo de Catarina Dutra, mãe de Manoel da Silveira Goulart em Castelo Branco, em 1659.

Presumo ser este um dos motivos pelos quais aparecem várias pessoas e familias da ilha de Faial
nos livros mais antigos da paróquia de Ouro Branco, Minas Gerais (Costa, Ávila, Bittencourt, Faria,
Goulart, Silveira, Dutra etc…). Mas como os açorianos tem muitos sobrenomes em comum, é difícil
para averiguar se estes imigrantes eram parentes entre si. Podemos presumir que um imigrante
bem sucedido chamou outros de sua aldeia de origem e como naquela época Minas Gerais vivia o
áuge da mineração do ouro, a imigração para lá passou a ser muito popular. Por exemplo: em
uma devassa eclesiástica ocorrida no distrito ouropretano de São Bartolomeu em agosto de 1738,
constata-se que 22% das 91 testemunhas inquiridas eram oriundas dos Açores.

Enquanto Manoel da Silveira Goulart


veio solteiro para o Brasil, onde já se
encontrava em Ouro Branco na década
de 1730 com vários irmãos seus, os
pais de Jeronima Maria da Luz,
Manoel da Silveira Peixoto de
Castelo Branco e Josefa Maria dos
Santos de Horta, vieram casados e
com filhos na década de 1720 para as
Minas Gerais, se encaminhando pri-
meiramente para a capital Vila Rica. A
jovem familia veio entre meados e o
final da década de 1720 para Minas
Gerais, quando Jeronima Maria da Luz
já tinha alguns anos de idade.

Nossas raízes
açorianas ainda não
estão estudadas até
o final e é muito
provável que ainda
iremos descobrir
vários novos
ancestrais e com
eles novas histórias.

Imagem do centro:
igreja de Santa Cata-
rina em Castelo Bran-
co, Faial.

Ao lado: Árvore
genealógica dos
Ferreiras, nobres
cavaleiros dos quais
descendemos atravéz
dos Açores.

391
A família
Drummond

A título de
curiosidade, por
descendermos da
família dos Drum-
mond escoceses,
senhores de Lennox,
somos descendentes
de muitos clãs
escoceses, também de
Robert de Bruce, rei
da Escócia.

Uma tia-avó de John


Drummond que foi
para Madeira foi
Margaret Drummond,
rainha da Escócia,
casada com David II
da Escócia.

Nesta página vemos


uma gravura de
Margaret Drummond
com seu marido, a
árvore genealógica
de John Escórcio
Drummond e de sua
trisavó Marjory de
Ross, cuja mãe era
uma „de Bruce“.

392
Árvores genealógicas retiradas do site www.geni.com.
De visita em uma cozinha de açorianos
Manoel da Silveira Peixoto

Manoel da Silveira Peixoto e sua familia se dirijiu primeiramente para Ouro Preto, onde ele é
mencionado como carcereiro da prisão da cidade em 1732. Encontramos no Arquivo Público
Mineiro algumas cartas relativas à cadeia de Ouro Preto ende ele é mencionado. Parece que
em 1732 ele deixou o cargo e pode ser que a seguir se mudou para a vila próxima de Ouro
Branco, onde passou a ser um rábula, uma passoa que tratava de questões judiciais sem ter
formação de jurista. Ele emprestava dinheiro e tinha até mesmo uma pequena biblioteca de
35 livros, o que nos conta o seu inventário de 1741, que trancrevo do trabalho: COMO UMA
POPULAÇÃO MULTICULTURAL MOVIMENTAVA A RIQUEZA NUM LIMITADO TERRITÓRIO MINEIRO
de Beatriz Ricardina de Magalhães (Professora aposentada da UFMG) a seguir:

A freguesia
de Castelo
Branco,
onde está
hoje o
aeroporto
da ilha do
Faial.

393
Manoel da Silveira Peixoto
sendo mencionado como
carcereiro em carta da
Camara Municipal de Ouro
Preto de 1732

(…) Vou me valer das


anotações de alguns
inventários da 1ª série.
Depreende-se que Manoel
Silveira Peixoto (IPHAN,
Ouro Preto, Arquivo Casa
do Pilar. Códice 121, Auto
1529 – 1 ° ofício.

Manoel Silveira Peixoto,


1741.) era um rábula, não
só pelos livros que
possuía, mas também pelas tarefas em que se empenhava: fazia diligências, execuções,
empréstimos, tratava de negócios e de “causas”… Quando mencionei a possibilidade e processos
simbióticos, aqui está um bom exemplo: suas dívidas chegaram a 3: 490$688 e superavam os
créditos que eram de 1:601$432. Seu monte-mor, contudo, era de 4:036$369 (fl5). O valor de seus
créditos deveria ser cobrado pelo testamenteiro. Ele variavam de 240$000 (por crédito a Domingos
de Souza Passos a ser pago em 1744 – fl80v) a 1$500 (que deve Bartolomeu Fernandes de resto das
contas) . Seus devedores não residiam apenas em Vila Rica. São mencionados locais como
Cachoeira, Ouro Branco, Carijós, Itabira, Ribeirão. Além disso, pelos registros, seus clientes
pertenciam a vários seguimentos da sociedade: Sargento-mor, Capitão-mor, alferes, ajudante,
licenciado, ferrador, Irmandade de Nossa Senhora de Nazaré, etc. Resta mencionar que os valores de
suas dívidas eram extremamente elevados, iam de 5$250, 386$000, 478$000 a 500$000. O rábula
Manoel Silveira PEIXOTO, tinha uma pequena biblioteca composta por 35 livros. Seis dos seus
credores receberam livros em pagamento, o que significa, portanto que eram alfabetizados.
Pergunta-se: por que aos seus 9 filhos nada restou da biblioteca? (…)

Testamento de Manoel da Silveira Peixoto:

O testamento de 1741 (Arquivo da Casa do Pilar, em Ouro Preto, C. 121 a 1529, 1o Of.)
“Declaro que sou natural
da Ilha do Fayal
freguesia de Santa Ca-
therina Lugar de Castel-
lo Branco filho legítimo
de Antonio da Silveira e
de sua mulher Joanna
da Silveira fallecidos
Declaro que sou cazado
com Josefa Maria de
Santo Antonio de quem
tenho nove filhos do dito
matrimonio a saber:

O casamento de
Manoel da Silveira
Peixoto com Josefa
394 Maria dos Santos /
de Santo Antônio.
Horta, Faial 1716
Josefa Maria de Santo Antonio digo de Santa Anna cazada com o dito meu primeiro testamenteiro
Manoel Teyxeira de Mattos e Thereza de Jesus Maria cazada com o dito meu segundo testamenteiro
Rodrigo de Brum e Jerônima Maria da Luz cazada com Manoel da Silveira Gularte e Elena Maria da
Exaltação que se acha esperada de palavra com Pedro da Lima [cierado]? e os filhos machos são os
seguintes = Joze = Francisco = Manoel = Antonio todos solteiros e Antonia de idade de sete anos.”
Fonte: Arquivo da Casa do Pilar, em Ouro Preto, C. 121 a 1529, 1° Of.

Acredito que a maior parte de seus filhos nasceu em Ouro Preto no final da década de 1720
e início da década de 1730. Passado para Ouro Branco – na época um aglomerado caótico
de casas dos mineiros de primeira geração. Manoel criou seus filhos exercendo suas funções
acima citadas. A filha Antonia Maria Xavier de Santa Gertrudes já nasce em 1733 em Ouro
Branco. Mesmo assim Manoel ainda ficou com imóveis em Ouro Preto, como podemos ver
de uma carta de seu genro Rodrigo de Brum de dezembro de 1741, provavel ano da sua
morte.

Abaixo: Parte dos descendentes de Manoel da Silveira Peixoto, enquadrados em vermelho: nossos ancestrais.

395
Ao lado: Carta de Rodrigo de Brum
mencionando os imóveis de seu sogro
Manoel da Silveira Peixoto em Ouro
Preto, 1741

Em Ouro Branco

A avó de Luisa Maria de S.


Joaquim, Jeronima Maria da
Luz ainda nasceu na cidade
de Horta, Faial e seu avô
Manoel da Silveira Goulart
na aldeia de Castelo Branco a
apenas oito quilômetros de
distância de Horta. Como
vimos, ela veio ainda criança
para as Minas Gerais com sua
familia e ele aparece já adulto
com seus irmãos em Ouro
Branco. Não sabemos dizer se
as familias já se conheciam
desde a antiga pátria ou
apenas ficaram se
conhecendo em Ouro Branco.
Eles se casaram em Ouro Branco, Minas Gerais no dia 30 de julho de 1736, um dos primeiros
casamentos que podem ser encontrados nos livros da igreja matriz. Quando se casou,
Jerônima tinha apenas 15 anos de
idade. Manoel da Silveira Goulart e
Jeronima Maria da Luz tiveram
numerosa descendência. Aqui seus
filhos:

Josefa Teodora de Jesus ca1741-1806


Anna Felicia da Luz 1744-
Tereza Silveira Goulart 1737-
Manoel José Da Silveira Goulart 1741-
Joaquim José Da Silveira Goulart 1743-
José Antonio Silveira Goulart 1746-
Teresa Maria de Jesus
Maria Vitória Silveira Goulart 1749-

Imagem ao lado: Ouro Branco – Registro do


casamento entre Jeronima Maria da Luz e
Manoel da Silveira Goulart –
30 de julho de 1736

396
O interior dourado da igreja paroquial de Ouro Branco

Ouro Branco, Minas Gerais

A cidade destes antepassados de Luisa, Ouro Branco, foi uma das mais antigas freguesias de
Minas, tornada colativa pelo alvará de 16 de fevereiro de 1724, expedido pela Rainha Maria I,
durante o governo de Lourenço de Almeida. Nesse período Ouro Branco já possuía
considerável importância econômica pela prosperidade de sua população.

Mas o ouro extraído em Ouro Branco era de qualidade inferior em relação à extração
praticada em Ouro Preto. Por essa época, a má qualidade das jazidas auríferas e as
dificuldades de exploração, advindas do primitivo processo utilizado, fizeram a atividade
mineradora retroceder, talvez uma causa da posterior mudança de nossa familia para Santo
Antonio da Casa
Branca em 1760.

A antiga casa
paroquial de Ouro
Branco – a mais
antiga de Minas
Gerais

397
Não encontramos o batismo de
Josefa Teodora, mas em
compensação de vários irmãos,
como aqui por exemplo da irmâ
Teresa em 1737 em Ouro Branco.
A madrinha foi a avó materna
Josefa Maria dos Santos.

Nossa antepassada Josefa Teodo-


ra de Jesus nasceu em 1741 em
Ouro Branco, mas infelizmente
não encontramos seu registro de
batismo. Ela cresceu nesta
freguesia na época do apogeu da
extração de ouro e se casou por
volta de 1758 provavelmente
também em Ouro Branco com o licenciado Simão Alves Pereira, um português da Vila de
Lordelo, concelho de Vila Real. O filho mais velho do casal, Manoel, ainda nasceu em Ouro Branco
em 1759 enquanto a segunda filha do casal, Maria Rosa Lucia do Nascimento, já nasce em Santo
Antonio da Casa Branca no dia 21
de Janeiro de 1761. Podemos ver
assim que a jovem familia passou
por volta de 1760 para Casa Bran-
ca (Glaura), onde nasceriam seus
outros filhos.

Imagem acima: Vista de Ouro Branco e


ao lado: Igreja e casa paroquial de
Ouro Branco, Minas Gerais

398
Detalhe da pintura barrôca do teto da igreja de Ouro Branco

Aqui a lista dos filhos de Josefa Teodora de Jesus e Simão Alves Pereira:

 Manoel Alves da Cruz 1759-


 Maria Rosa Lucia do Nascimento 1761-1815
o Antonio Pereira 1762-
 Luisa Maria de São Joaquim 1764-1831/
 José Alvares Pereira 1765-1861
o Joâo Pereira 1768-
o Isabel Pereira 1771-
 Joana Maria de Jesus 1773-
o Ana Pereira †1775
 Marcos Alves Pereira ca 1774

Nossa antepassada Luiza Maria de São Joaquim nasceu em Casa Branca em 22 de Maio de
1764. Josefa e Simão viveram o resto de suas vidas em Casa Branca onde faleceram, ela no
28 de abril de 1806 e ele no 4 de dezembro de 1800.

Imagem abaixo: O batismo de Luisa Maria de São Joaquim no ano de 1764 em Santo Antonio da Casa Branca,
hoje „Glaura“.

399
Mapa das antigas estradas de Minas Gerais, onde podemos ver nossas cidades ancestrais mineiras.

Santo Antônio da Casa Branca, Minas Gerais


Glaura, a cidade onde nossos antepassados da linha dos Araújo viveram por quase 100 anos, e
que dista 45 quilômetros de Ouro Branco, surgiu no início do séc. XVIII, no auge da exploração do
ouro. Era refúgio dos grandes senhores de Vila Rica, da qual dista 24 quilômetros. Próximo do Rio
das Velhas, que corre ao lado da Serra do Espinhaço , o arraial prosperou como passagem de
viajantes e tropeiros que vinham
de Vila Rica para Comarca do Rio
das Velhas (Sabará).

O caminho já existia por volta de


1700 e partia de Vila Rica pela
região do Passa Dez, seguindo
pela cumieira da Serra, passava
pelo Chafariz de Dom Rodrigo,
construído em 1786, atingia o
povoado de Catarina Mendes,
bifurcava para São Bartolomeu ou
Glaura, de onde seguia para o
atual povoado de Soares,
atravessa o Rio das Velhas em
Ana de Sá e seguia em direção a
Vila Nova de Lima (Nova Lima),
caminhos hoje integrantes da

A igreja de
400 Santo Antonio
da Casa Branca
Estrada Real. Por todo os Séculos XVIII e XIX,
Glaura foi passagem e descanso para
tropeiros que faziam o abastecimento e o
comércio entre Sabará e a Região do Tripuí,
Vila Rica e Mariana. Duas famílias, pioneiras
na ocupação do arraial, são mencionadas nos
primeiros documentos: a de Baltazar de
Godoy e os Figueiredo Neves.

Acima: Glaura. Ao lado: Chafariz de Dom Rodrigo


na Estrada Velha entre Ouro Preto e Casa Branca

Gravura de
Rugendas
retratando
tropeiros
passando pela
Serra dos
Orgãos.

401
A igreja de Glaura vista de cima.

O padrinho de batismo de Luisa Maria de S. Joaquim foi Antonio Ferreira Neves, o patriarca
da familia dos Figueiredo Neves de Casa Branca. Ele era natural de Santa Eulália de
Fermentões, próxima a Guimarães. Por sua vez o seu filho Tenente Coronel Antônio Tomas
Figueiredo Neves foi em 1791 padrinho de Ana Luisa, a primeira filha de Luisa Maria de São
Joaquim e Paulo José de Araújo. Assim podemos ver que existia um elo entre estas duas
familias.

A seguir uma breve descrição da cidade de Glaura: Com o nome de Santo Antônio do Campo
de Casa Branca, o arraial já possuía capela em 1719. A atual matriz de Santo Antônio foi
edificada entre 1758 a 1764. Com alguma atividade mineratória, próximo às margens do Rio
das Velhas, e dedicando-se à produção agropecuária para abastecimento à região das minas,
Casa Branca prosperou pela primeira metade do Século XVIII. Mas, com a decadência de Vila
Rica, com a exaustão das minas e especialmente com a opção por outras estradas, também
passou por longo
período de
estagnação, em
especial no Século
XIX, o que
assegurou sua rela-
tiva conservação
como antiga vila, de
aspecto colonial e
casas antigas.

402
A linda cidade de Tiradentes, Minas Gerais. Antigamente „São José del Rei“. Para cá veio a irmã mais velha de
Luisa Maria de S. Joaquim – Maria Rosa Lucia do Nascimento, onde esta teve muitos filhos e descendentes.

Dois dos 14 filhos de Maria Rosa Lucia do Nascimento com seu esposo João Gonçalves dos San-
tos, Manoel Gonçalves dos Santos (nascido a 20 de Abril de 1783) e Maria Silveria de Jesus (n. 27
de Fevereiro de 1788 ambos em Tiradentes) foram mais tarde para o sul de Minas Gerais onde
formaram fazendas e onde foram fundadores da cidade de Guaranésia.

Outros descendentes ficaram em Glaura e no Morro do Ferro, onde tiveram numerosas famílias.
Tenho contato com um primo distante, meu xará Rainer Andrade Silva . Ele descende do alferes
José Alvares Pereira, um outro irmão de nossa ancestral Luisa Maria de S. Joaquim. Achei muito
interessante que quando fez um teste de DNA, constatou ter uma grande parcela de DNA
proveniente do norte da Europa, talvez uma herança dos nossos ancestrais flamengos.

É interessante observar que nossos antepassados da familia Araújo tem uma ligação tão estreita
com a história das “Minas Gerais”, tendo vivido durante todo o século XVIII nos importantes
distritos auríferos de Ouro Preto, Santo Antônio da Casa Branca (Glaura), São Bartolomeu, Ouro
Branco e pos-
teriormente em São
Gonçalo do Sapucaí.

Somos veramente
“mineiros de três
séculos“

A pequena
cidade mineira
de Morro do
Ferro

403
Também aqui temos parentes: Lagoa Dourada em Minas Gerais

Árvore dos descendentes de


Manoel da Silveira Goulart e de
Jeronima Maria da Luz. Acredito
ques apenas encontrei uma
pequena parte da grande
404 descendência destes açorianos
prolíficos
O pelourinho da Vila de Lordelo no Concelho de Vila Real em Trás-os-Montes (século 16)

A História dos Araújo


Parte 6 – Os ancestrais de Simão Alves Pereira

O licenciado Simão Alves Pereira

Como vimos, Josefa Teodora de Jesus da cidade mineira de Ouro Branco se casou por volta de
1758 com o português Simão Alves Pereira, natural da Vila de Lordelo no Concelho de Vila Real
em Trás-os-Montes. Simão era um licenciado, o que pode significar que havia estudado leis ou
cânones em uma faculdade.
Infelizmente nada se encontra
sobre ele na lista de
licenciados de Coimbra, mas
esse não é o único mistério
que o envolve.

Casamento em Lordelo dos “pais”


de Simão Alves Pereira, Domingos
Martins da freguesia vizinha de
Borbela e Ana Gonçalves do lugar
do Outeiro em Lordelo em 1673. O
párroco foi o reverendo Domingos
Pereira e as testemunhas: Padre
Andre Alvares e Antonio Carvalho.

405
Vista sobre Borbela, de onde veio a familia do avô materno de Simão Alves Pereira.

Simão alegou nos documentos brasileiros serem seus pais Domingos Martins e Ana
Gonçalves da Vila de Lordelo, no Arcebispado de Braga, hoje pertencente à diocese de Vila
Real. Mas Domingos Martins e a Ana Gonçalves são muito velhos para serem os pais de
Simão, visto que os dois se casaram em 1673. Considerando que Simão faleceu em Glaura
em 1800 e se considerarmos que ele viveu 90 anos, o que é muito para a época, tería ele
nascido por volta de 1710, assim seus supostos pais teríam no mínimo 55 anos de idade
quando nasceu. Assim a distância entre as gerações seria demasiado grande.

Além disso só se encontra um único Simão nos batismos dos registros paroquiais de
Lordelo, um Simão, filho de Ana Gonçalves, uma mãe solteira moradora no lugar do
Outeiro em Lordelo, justamente onde Domingos Martins e a Ana Gonçalves viveram. Este
Simão foi batizado no dia 8 de novembro de 1717 e teve como padrinhos Pedro Carvalho e
Lídia Diniz, mulher de Domingos de Mesquita, também moradores no lugar do Outeiro de
Lordelo. Ao que parece, os Mesquita faziam parte da nobreza local, visto que os únicos
irmãos nobres da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real vindos de Lordelo do século 16 e
17 eram da familia dos Mesquita, provavelmente descendentes de Isabel da Mesquita (n.
cerca de 1462 casada com Pedro de Nisa, o Velho, de Lordelo). Essa familia já é mencionada
em relação à Lordelo por volta de
1460 (em Vila Real por volta de
1440). E também os Carvalho
parecem ter um papel especial na
região, pois vários padres de
Lordelo vieram desta familia.

Batizado de Simão, filho de Ana Gonçalves,


mãe solteira em Lordelo 1717. Padrinhos:
Pedro Carvalho (talvez da familia do
suposto pai Simão Pereira) e Lidia Diniz,
mulher de Domingos de Mesquita do
lugar do Outeiro.

406
Assim, parece que Simão foi o filho de uma mâe solteira, Anna Gonçalves do Outeiro em
Lordelo. O batismo deste Simão em 1717 é o único de um Simão que aparece na época em
consideração. Para fins de limpar o nome e não ter fama de ser filho ilegitimo, alegava no
Brasil ser filho de seus avós maternos, Domingos Martins e a Ana Gonçalves.

Quem foi o pai de Simão? Aqui nós só


podemos supor. Coincidência ou não,
houve um outro Simão Pereira em
Lordelo. Temos que mencionar que havia
poucas pessoas com o sobrenome Perei-
ra em Lordelo. Este Simão Pereira foi
casado com Ana Francisca em 1685 (com
3° grau de consanguinidade) e descendia
da familia dos Carvalho do lugar do
Campo em Lordelo.

Imagem abaixo: Em Lordelo se casaram em 1563


João Luis, filho de Baltasar Goncalves e Marga-
rida, filha de João Gonçalves do Outeiro, será este
o Baltasar Gonalves, o avô?
Pelo fato de nosso Simão Alvares
(Alves) Pereira ter um sobrenome tão
diferente de sua suposta mãe e seus
avós, o seu pai pode ter sido o Simão
Pereira de Lordelo, homem casado e
falecido em 1725. Nota: ele também
descendia dos Coelhos, sendo assim
um parente distante da mãe de
Simão Júnior. E entre as familias do
Simão Pereira e da Ana Gonçalves, a

407
solteira. e mãe de Simão Alvares Pereira havia
muitos laços, era frequente os Gaspar e dos
Martins aparecerem como testemunhas e
padrinhos em sua familia.
Igreja matriz de Lordelo.

A propósito “padrinhos”: a familia Álvares


também não era muito numerosa em Lordelo
e Borbela, freguesia vizinha. Assim é muito
interessante observar que em 1666 os
padrinhos de batismo de Simão Pereira serem
Francisco Alvares e Catarina Alvares, mulher
de Doniz Martins.

Sendo assim, adotei o Simão Pereira como pai


“não oficial” do nosso Simão Alvares Pereira

que mais tarde


passou para o Brasil
onde foi licenciado.

Nós nunca vamos


poder provar quem
foi o pai certo de
Simão. Mas essa
teoria parce ser um
tanto plausível.

Imagem acima: A igreja


de Lordelo no concelho de
Vila Real.

Ao lado: O testamento de
Domingos Martins, que
faleceu em 1723 em
Lordelo.

408
A igreja de Borbela.

As familias Coelho e Álvares de Vila Real,


Lordelo e Borbela

A familia Coelho é peculiar na árvore genealógica


de Simão Alvares Pereira. Primeiramente a familia
aparece duas vezes na árvore, por parte de pai e
de mâe. Os Coelho parecem não ser originais de
Lordelo ou Borbela, pois a familia é pequena. E
como muitas vezes podemos constatar em outras
linhas ancestrais nossas (como no caso dos Araújo
e dos Macedo), o sobrenome passava de mâe para
filho ou filha, em casos em que era de uma familia
socialmente mais importante.

Em uma diligência de habilitação ao Santo Oficio


de Antonio Coelho de Borbela de 1624 podemos
ver que ele foi filho do padre Gaspar Coelho de
Borbela e dela podemos extrair algumas
informações interessantes. Gaspar foi ábade da
igreja de Borbela entre 1560 e 1580 e teve filhos
com a solteira Margarida Gonçalves, moradora
do lugar de Terreiros de Borbela e natural da
freguesia vizinha de Adoufe, onde seu pai Pedro
Dias fôra caseiro da igreja. O pai de Gaspar Coelho era ferreiro, mas vinha da casta de
lavradores (lavradores estavam acima de artesãos na hierarquia portuguesa) e era natural do
casal de Ribeiro em Borbela. Sua esposa era Catarina Gonçalves Coelho, da freguesia de S.
Diniz em Vila Real.

Ao lado: Alguns lugares onde


viveram e de onde vieram
nossos ancestrais de Lordelo e
regiâo. Vila Real e Mateus se
encontram na área de baixo,
marcados de azul.

409
Gaspar Coelho como testemunha
em um registro de Borbela por
volta de 1580

Pelo fato do sobrenome de


Catarina ter se fixado nos
descendentes, podemos
presumir que os Coelho
tinham certa importância
social. Assim fiz uma coleta
de dados sobre essa família
na região: O padre de
Borbela por volta de 1605
foi um Augustinho Coelho e em 1599 em S. Diniz em Vila Real foi padre Antonio Coelho e seu
coadjutor Cypriano Coelho. Além, é claro, do “nosso” Gaspar Coelho, padre de Borbela. Ora,
os padres eram as personalidades mais importantes em uma freguesia além da nobreza
local. E simples lavradores não podiam financiar os estudos de um jovem para se tornar
clérigo. Assim podemos presumir que a familia Coelho se destacava na área de Vila Real. E
procurando na internet me deparei com uma informação interessante:

Uma das maiores casas nobres da região, o Morgado de Mateus, foi intituído por uma
familia que reuniu poder e riqueza de várias familias:

“O vasto património acumulado pela família, através de sucessivas alianças matrimoniais que
fazem confluir a Mateus quatro importantes linhagens, Botelho, Coelho, Álvares e Mourão,
leva o Licenciado António Álvares Coelho a instituir o Morgadio de Mateus, vinculado a
Nossa Senhora dos Prazeres, em 1641. Deste vínculo faz parte a primitiva Casa de Mateus,

O Morgado de
Mateus em Vila
Real, um dos mais
belos exemplos de
arquitetura barroca
portuguesa.

410
No brasão do Morgado de
Mateus vê-se os coelhinhos
da familia fundadora.

com a sua capela incorporada, e a quinta chamada da Porta


ou de Mateus.” (Ribeiro 2010, 15)

(fonte: A CASA NOBRE NA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO


NO SÉCULO XVIII de Ana Celeste Glória).

É interessante observar que o sobrenome Álvares aparece


frequentemente aliado aos Coelho e aos Mourão, outra
familia muito grande e dominante na região, também em
Lordelo.

Do Site da Casa de Mateus: Cristóvão Álvares casou com D.


Maria Gonçalves , filha de Pedro Gonçalves Chavelha, na
Igreja de S. Domingos de Vila Real a 2 de Junho de 1577. Os documentos mais antigos existen-
tes no Arquivo da Casa datam de 1577 e fazem referência a este casal, primeiros moradores
no espaço desta Casa de Mateus. Os seus bens constituíram o núcleo que, mais tarde, foi
vinculado por seu filho, o Licenciado António Álvares Coelho.
Cristóvão Álvares fez testamento com sua mulher, em 25 de Fevereiro de 1619, instituindo por
herdeiro seu filho, o Licenciado António Álvares Coelho nomeando-o no prazo das Valinhas,
no casal do Arcebispo, e no de Gonçalo Teixeira e lhe deixa Ribas e o casal da Lage. (…)
Após a morte de seu marido, em 1619, administrou com seu filho o Licenciado António Álvares
Coelho os bens que viriam a constituir o Morgadio de Mateus…
…Mais tarde, em 21 de Outubro de 1665, D. Helena Álvares Mourão, confirmando a vontade
de seu marido, fez testamento instituindo por herdeira sua filha D. Maria Coelho. Nomeia esta
sua filha em seus prazos e capelas, afirmando que fizera vínculo com seu marido. Entre outras
cláusulas, constava a de que o administrador se chamasse Álvares; seria sempre (…) pessoa
discreta e bem governada(…) que a sua terça e a de seu marido teriam de andar sempre
vinculadas em
morgado…

Ao lado, O solar dos


Mourao em Vila Real.

411
D. Maria Coelho.

Em 1595 faleceu Diogo? Alvares do lugar do Campo


em Lordelo. Note-se que A familia ancestral paterna
Carvalho de Simão Alvares Pereira era do Campo de
Lordelo. Dos Carvalho vieram vários padres, sendo
esta familia junto com os Coelho e os Mourão
obviamente as mais abastadas em Lordelo e Borbela.
Lembremo-nos dos padrinhos de Simão Pereira, que
foram dois Álvares.

Interessante essa importância dos Álvares. Será que


foi por isso que nosso Simão adotou esse nome de
seus ancestrais, para ostentar assim mais
importância?

Em 1606 faleceu em Lordelo a “Coelha a velha”, e o padre adicionou em latim “nihil habet” =
nada possui.

Muitas coisas nunca poderemos entender por completo. O que se desenrolou a 400 anos
atrás durante muitas gerações de familias amigas, apadrinhadas e aparentadas entre si por
séculos… nós só podemos ver a pequena ponta do iceberg de todo uma trama social onde
viveram desde a idade média mais remota.

412
Em 1601 encontramos
vários óbitos em Lordelo
em virtude de uma
epidemia de peste.

Ao lado: O testamento de Simão Pereira


(o suposto pai) de 1725 que aparenta ter
sido muito rico. No seu testamento
encontramos, casas, prazos foreiro e
moinhos que reparte entre seus filhos
João, Antonio e sua filha Bernarda.

Um pouco sobre a história local


de Vila Real e arredores

Encontra-se vestígios de ocupação


humana desde o neolítico na
região de Vila Real. Mas ao
contrário de nossas outras terras
ancestrais do Minho, a área de
Vila Real se despovoou após o
domínio árabe da península
ibérica. Enquanto nas terras do
Minho a ocupação árabe foi curta,
sendo os invasores expulsos pelo
Reino de Astúrias, o último reduto
cristão da Ibéria, 50 anos após sua
ocupação (de 712 a cerca de 765),
a região de Vila Real só será
reconquistada após o ano 1000 e
anexada ao Condado de Portucale
com a outorga em 1096 do foral
de Constantim de Panóias, pelo
Conde D. Henrique.

Em 1289, por foral de D. Dinis (o


primeiro dado por este monarca a
Vila Real) é fundada a povoação
de Vila Real de Panóias, que viria a
transformar-se na cidade de hoje.

413
Ao lado: Vista sobre
nossa região ancestral
de Lordelo do Parque
Nacional da Serra do
Alvão.

Abaixo: Vila Real em


gravura antiga

O êxito da
povoação então
fundada com-
prova-se com a
evolução do nú-
mero de mora-
dores: dos cerca de
480 habitantes de
1530, Vila Real
passa para cerca de
3.600 em 1795. Este
crescimento deve-
se em grande parte
a uma localização
geo-gráfica privile-
giada, entre o
litoral e o interior,
com ligações ao Porto, Chaves, Bragança e terras do Sul.

Nos sécs. XVII e XVIII Vila Real consolida o epíteto de “Corte de Trás-os-Montes”, que havia ganho
com a presença dos nobres que aqui se fixaram por influência da Casa dos Marqueses de Vila
Real, presença ainda hoje
visível nas inúmeras
pedras-de-armas que
atestam os títulos de
nobreza dos seus
proprietários.

A história da Vila de
Lordelo perde-se no
tempo. Lordelo já foi
sede de concelho,
existindo alguns
documentos a prová-lo.
Já tinha sido Vila mas,
aquando da sua
integração no concelho
de Vila Real, passou a
ser mais uma das suas
muitas aldeias. Teve

414
Cadeia, Câmara e Tribunal, para além
de pelourinho, sendo este ainda hoje
classificado como monumento
nacional. D. Manuel I deu foral a
Lordelo 12 de Novembro de 1519,
aquando das inquirições manuelinas.
Nesta data existiam vinte e quatro
casais e quatro meios casais que
pagavam vários direitos em dinheiro.
Mas já no tempo de D. Dinis, por
inquirições por ele mandadas efetuar,
se indicava a existência de Lordelo.

Segundo o escrito de Pinho Leal, Lordelo é uma “


povoação muito antiga, pois já era honra dos
“Lordellos” em tempo do rei D. Dinis” (rei de 1279 a
1325). A partir de certa altura e no decorrer dos tem-
pos, Lordelo foi feudo dos Távora, para onde se
refugiaram no tempo do Marquês de Pombal (1759).
Foi propriedade da Coroa, benfeitoria do Mosteiro dos
Jerónimos, foi ainda pertença da Abadia de Vila
Marim, mais tarde, Junta Paroquial autónoma e, por
fim, Junta de Freguesia.

A título de comparação, nas Inquirições de 1258


contou-se no julgado de Lanhoso quase 900
habitantes, quer dizer, quase o dobro de habitantes
que Vila Real tinha em 1530 (300 anos antes!).
Podemos imaginar que a população de Lordelo não
passaria de 100 habitantes por volta de 1530.

Ao lado:
O pelourinho de Lordelo.

Ao lado:
Antiga imagem
de Vila Real, que
também é uma
cidade ancestral
nossa, pois de lá
vieram nossos
antepassados
Coelho.

415
A Serra de Ouro Branco entre 1827 e 1835 de Johann Moritz Rugendas, Pinacoteca do Estado de São Paulo

Simão Alves Pereira no Brasil


Como Simão se casou por volta de 1758 no Brasil, podemos presumir que veio para cá na
década de 1750 ou talvez até mesmo antes, na década de 1740. Sendo assim, viveria ele
entre 10 a 20 anos em Ouro Branco antes de passar já casado e com filhos para Santo
Antônio da Casa Branca.
Fotografia antiga de Ouro Branco, Minas Gerais

416
Glaura em um mapa antigo (marcado com um X). Ouro Branco se encontra ao sul de Casa Branca.

Como vimos e encerrando este capítulo, o licenciado Simão Alves Pereira se casou por volta
de 1758 com nossa antepassada Josefa Teodora de Jesus que nasceu e cresceu em Ouro
Branco, Minas Gerais. O filho mais velho do casal, Manoel, ainda nasceu em Ouro Branco em
1759 enquanto a segunda filha do casal, Maria Rosa Lucia do Nascimento, já nasce em Santo
Antonio da Casa Branca no dia 21 de Janeiro de 1761. Podemos ver assim que a jovem fami-
lia passou para Casa Branca (Glaura), onde nasceriam seus outros filhos.

Nossa antepassada Luiza Maria de São Joaquim nasceu em Casa Branca em 22 de Maio de
1764. Josefa e Simão viveram o resto de suas vidas em Casa Branca onde faleceram, ela no
28 de abril de 1806 e ele no 4 de dezembro de 1800. Neste ponto terminamos de tratar os
ancestrais dos Araújo e continuaremos com a história dos Araújo Macedo em Sao Gonçalo
do Sapucaí..

Casa colonial em Glaura, MG,


antigamente Santo Antônio da Casa
Branca, um distrito da cidade de
Ouro Preto.

417
Os Abreu Macedo em São Gonçalo entre 1820 e 1850

A partir de agora a história dos Macedo e a dos Araújo se convergem em uma só. Como já
vimos, um casal de irmãos Macedo se casou com um casal de irmãos Araújo. O casamento
pode ter sido arrumado pelo primo de Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo, o capitão
Jerônimo Fernandes da Silva Macedo (falecido em 21 de dezembro de 1821 em S. Gonçalo) e
sua esposa Rita Euzébia da Assunção, que eram amigos do alferes Paulo José de Araújo e
de sua esposa Luisa Maria de São Joaquim. Como vimos, Rita Euzébia foi madrinha de uma
sobrinha de Luisa Maria e os pais de Rita Euzébia foram padrinhos de Maria Joaquina de
Jesus, filha dos
Araújos, nascida em
1792 em Santo Anto-
nio da Casa Branca,
onde todos estes
moravam no início do
século XIX.

Imagem acima: São


Gonçalo do Sapucaí.

Ao lado: Registro de terras


de Américo Fernandes da
Silva Macedo em S.
Gonçalo em 1854.

418
Jerônimo dev ter estado de tempos em tempos em S. Gonçalo após a morte de seu tio, o
rico contratador de impostos João Rodrigues de Macedo, construtor da Casa dos Contos, pois
era um dos herdeiros da Fazenda da Boa Vista adquirida pelo tio de seus compadres
Alvarenga Peixoto e Barbara Heliodora. Um filho de Jerônimo e Rita Euzébia, Américo Fer-
nandes da Silva Macedo se casou em São Gonçalo com Maria Candida de Jesus em 1824 e
ao que parece, foi fazendeiro em terras que havia herdado do pai.

De fato parece que várias familias de Santo Antonio da Casa Branca se mudaram para S.
Gonçalo. Já em 1821 aparecem Francisco José de Araújo e Maria Joaquina de Araújo, filhos de
Paulo e Luisa nos registros paroquiais de S. Gonçalo. Eles foram padrinhos de um filho de
Luciano da Silva e Graciana Maria, talvez amigos da familia (imagem acima). Não estiveram
presentes pessoalmente durante a cerimônia, provavelmente por ainda morarem em Santo
Antonio da Casa Branca. Passaram procuração a Joaquim da Silva Campos, provavelmente
um irmão do padre de S. Gonçalo, Manoel da Silva Campos. Assim podemos ver que as
ligações entre os Araújos de Casa Branca e a cidade de São Gonçalo estavam estabelecidas.

As lavras de ouro
Tanto Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo como Paulo José de Araújo eram mineiros no
sentido original da palavra, pois viviam da mineração do ouro das Minas Gerais. Como já
vimos no livro Pluto Brasiliensis do barão alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege que
percorreu as Minas Gerais em 1814 recolhendo informações sobre a mineração deste
precioso mineral, Antônio Joaquim tinha uma lavra de ouro na Boa Vista em São Gonçalo
onde empregava com seus sócios 16 escravos e onde havia retirado 510 oitavas de ouro no
dito ano. Enquanto isso, Paulo José ocupava no mesmo ano em Casa Branca 13 escravos em
lavra de talho aberto e teve um rendimento de apenas 13 oitavas de ouro.

Até hoje se procura e acha ouro no


Brasil. Os métodos mudaram um
pouco, mas a esperança de encontrar
um filão e a alegria do sucesso sâo as
mesmas de sempre.

419
Antiga barra de ouro original do Rio das
Mortes com os carimbos oficiais portugueses
(1796)
Ao lado: Lavra de ouro no século XVIII

Podemos imaginar que os rendimentos


das lavras de Paulo José estavam
diminuido – o que estava acontecendo
de modo geral nas regiões auríferas
tradicionais das Minas Gerais faz
décadas. A idéia de mudar de ramo foi
se tornando cada vez mais concreta e
urgente. Paulo José e Luisa Maria, talvez
após a morte de Paulo José, que pode
ter ocorrido por volta de 1820, devem
ter vendido as terras em Santo Antônio
da Casa Branca e com esse capital
compraram terras em São Gonçalo do
Sapucaí, onde passariam a viver
basicamante da lavoura de sua fazenda.

Em 1825 temos vários indícios de que a familia Araújo ainda estava em Casa Branca. Neste ano
nasce um escravo de Luisa Maria de São Joaquim e também seus filhos José Francisco de Araújo e
o guarda-mor João José de Araújo aparecem como padrinhos nos registros paroquiais.

Mas já no dia 8 de janeiro de 1828 se casam José Francisco de Araújo com Angelina Damiana
de Abreu Macedo e no dia 7 de outubro de 1828 Rita de Cassia de Jesus (Araújo) com Antônio
Julio de Abreu Macedo. Em 15 de maio de 1829 falece “Thereza” uma escrava de Dona Luisa
Maria, “agregada de Joaquim Rodrigues de Macedo”. Será que era nossa Luisa Maria de S. Joaquim,
ainda morando provisóriamente na casa do co-sogro Antônio Joaquim? Seja como for, em 1831
veremos Luisa Maria já morando em casa própria em S. Gonçalo. Sobre os Araújos leremos mais
no próximo capítulo.

Registro de
casamento de
Antônio Julio de
Abreu Macedo com
Rita de Cassia de
Jesus em 1828

420
Em novembro de 1831 o governo brasileiro realizou o primeiro senso da população no qual
todos os habitantes do império foram registrados com nome, sexo, cor, condição social e
profissão. É uma fonte de informação maravilhosa que nos permite ter uma visão quase
íntima na casa de nossos ancestrais. Em S. Gonçalo o senso foi efetuado em novembro de
1831 e nele podemos encontrar além da familia Araújo, nossos ancestrais Macedos Antônio
Joaquim, a essa altura já viúvo e seu filho Antônio Julio de Abreu Macedo, já vivendo em
casa própria com sua ainda pequena familia.

1 Antonio Joaquim Rodrigues de Macedo 52 branco Viúvo livre mineiro


2 João 70 africano/preto Solteiro escravo mineiro
3 Joaquim 60 africano/preto Casado escravo mineiro
4 Miguel 18 crioulo Solteiro escravo mineiro
5 Anna 60 crioula Viúva escrava mineira
6 Felicia 50 crioula Viúva escrava mineira
7 Germana 20 crioula Solteira escrava cozinheira
8 Theodora 2 crioula S/ inf. escrava

Como podemos ver na lista acima, Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo vivia em 1831 em
sua casa (denominada no senso como “fogo”) com seus 7 escravos, sendo 5 deles mineiros,
uma cozinheira e um ainda
criança pequena. Ele é
classificado como mineiro, quer
dizer, que vive de suas lavras
de ouro. Nos dados de 1814
do livro Pluto Brasiliensis ele é
sócio de lavras com 16
escravos. Será que a parte dele
eram estes 5 escravos? Ou será
que com o tempo ele foi
diminuindo a quantidade de
escravos empregados?

421
Lavra de diamantes.

Antônio Julio de Abreu Macedo e Rita de Cassia de Jesus


Antônio Julio de Abreu Macedo viveu das lavras de ouro em São Gonçalo, que herdou do pai
Antônio Joaquim. Além disso também tinha parte da antiga Fazenda dos Pinheiros, com certeza
herdada de seu pai. Essa fazenda fazia parte das terras de Alvarenga Peixoto adquiridas do tio de
Antônio Joaquim, João Rodrigues de Macedo , como já vimos em outro capítulo.

Logo depois de casados, Antônio Julio de Abreu Macedo e Rita de Cassia de Araújo tiveram filhos.
O primeiro filho, Antônio Julio de Araújo Macedo, nascido em 1829 (não pude encontrar seu
registro de nascimento) é nosso antepassado, o pai de minha bisavó Galzuinda.

Registro de
nascimento de José,
filho de Antonio
Julio de Abreu
Macede e Rita de
Cassia em 1831

Registro de
nascimento de
Francisco, filho de
Antonio Julio de
Abreu Macede e
Rita de Cassia em
1832

422
A Rua José Julio de Macedo em S. Gonçalo, em homenagem ao filho de Antonio Julio e Rita de Cassia.
O segundo filho, nascido em 8 de abril de 1831 foi José Julio de Araújo Macedo, mais tarde um
grande fazendeiro na regiao de Casa Branca no estado de São Paulo. José teve como padrinhos o
tio paterno o tio materno José Francisco de Araújo e sua esposa, a tia materna Angelina Damiana
de Abreu Macedo. O terceiro filho do casal foi Francisco Julio de Araújo Macedo, nascido em
2 de dezembro de 1832.
O casal teve ao menos 5 filhos:

 Antonio Julio de Araújo Macedo 1829-1889


 José Julio de Araújo Macedo 1831-1907
 Francisco Julio de Araújo Macedo 1832-
 Ana de Cássia de Araújo Macedo
 Zeferino de Araújo Macedo ca 1836-1838

No senso de 1831, podemos ver a jovem familia de Antônio Julio e Rita de Cassia vivendo
como mineiros com seus dois filhos mais velhos Antônio Julio e José Julio e Anna, uma
escrava crioula de 12 anos que cozinhava para a familia.

1 Antonio Julio de Abreu Macedo 20 branco Casado livre mineiro


2 Rita de Cassia de Jezus 26 branco Casado livre
3 Antonio 2 branco S/ inf. livre
4 Joze 1 branco S/ inf. livre
5 Anna 12 crioulo Solteiro escravo cose

423
Dispensa de impedimento de consanguineidade
para se casarem 1838

Antônio Julio de Abreu Macedo e


Ana Luisa de Araújo
Infelizmente Rita de Cassia falece ainda
jovem no dia 15 de setembro de 1836.
Antônio Julio de Abreu Macedo é
obrigado a se casar novamente. Ele se
enamora numa sobrinha de Rita de
Cassia, Ana Luisa de Araújo, de 15 anos
de idade e para poder se casar com ela
pede licença ao bispo de Mariana, pelo
fato de terem impedimento por
consanguinidade. Ana Luisa, nascida em
Santo Antonio da Casa Branca em 29 de
junho de 1823, é filha de Ana Luisa de
Jesus, a irmã mais velha de Rita de Cassia
de Jesus, e de Mateus Gomes de Gouveia,
um dos dois filhos do Capitão Manoel da
Costa de Gouveia, dono de lavras em São
Bartolomeu, que se casaram com filhas
de Paulo José de Araújo. Nos documento
de dispensa, os pretendentes alegam que
os filhos pequenos de Antonio Julio necessitam de uma nova mãe e ser a pretendente pobre
e não poder se manter e de ambos já estarem se encontrando, sendo assim uma proíbição
quase impossível. Esse argumento era uma maneira de forçar o desempedimento. Assim ele
se casa em 24 de Fevereiro de 1838 com Ana Luisa de Araújo, com a qual teve ao menos
mais 5 filhos:

 João Julio de Araújo Macedo 1840-1899


 Zeferino Julio de Araújo Macedo ca 1840
 Maria José de Araújo Macedo 1842
 Coiario de Araújo Macedo ca 1842-1845
 Joana Carolina de Araújo Macedo ca 1845

São Gonçalo em
fotografia
histórica

424
O registro de óbito de Rita de Cassia de Jesus em 1836

Declínio econômico?
Parece que a situação economica de Antônio Julio de Abreu Macedo foi piorando. Quem
sabe suas lavras de ouro não estavam mais rendendo o suficiente. E por volta de 1840-50 ele
teve que penhorar suas terras, perdendo por fim uma parte delas. Existem registros de que
suas terras foram leiloadas em praça pública por volta de 1850, sendo compradas por
parentes e por outras pessoas. Abaixo alguns exemplos retirados dos registros de terras dos
anos de 1854-56 de São Gonçalo do Sapucaí:

Acima e ao
lado: exemplos
de aquisição
feitas por
leilão em
praça pública
de terras de
Antônio Julio
de Abreu
Macedo

Debret: Uma
cena de
lavadoras de
roupa em um
rio no interior
do Brasil no
século XIX

425
Acima vemos um registro de 1854 referente à fazenda Pinheiro, antes pertencente a Antônio Julio de Abreu
Macedo, vizinha da fazenda de José Francisco de Araújo. E abaixo a mineração do „Ouro Fala“ antes
pertencente à Carlos Casimiro da Silva Macedo, filho do capitão Jerônimo Fernandes da Silva Macedo.

Uma outra hipótese é de que o fisco ainda estava cobrando as antigas dívidas herdadas do tio-
avô João Rodrigues de Macedo. Mas seja como for, as evidências são de que o patrimônio dos
Abreu Macedo foi minguando com o tempo. O pai Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo
faleceu entre 1836 e 1854. O último registro que dele encontrei nos livros foi quando serviu de
testemunha junto com o filho Antônio Julio em um testamento do ano de 1836:

Nos acima citados registros das terras de S. Gonçalo em 1854, Antônio Joaquim já é mencionado
como finado. Infelizmente não encontramos seu registro de óbito, mas é presumível que faleceu
em S. Gonçalo por volta de 1845, com seus 65 ou 70 anos de idade. Ele foi o último antepassado
português de minha bisavó Galzuinda. Que vida fascinante que teve, desde sua infância na
importante cidade de Coimbra, passando para o Brasil onde viveu com o poderoso tio João Rod-
rigues de Macedo do qual herdou terras e lavras de ouro, presenciou a chegada da familia real
portuguesa ao Brasil, a independência brasileira, o reinado de Dom Pedro I e presenciou até
mesmo uma parte do reinado de Dom Pedro II. Não teve muitos filhos. Provavelmente apenas
Antonio Julio e Angelina Damiana, mas estes por sua vez tiveram muitos descendentes.

Antônio Joaquim
Rodrigues de
Macedo e seu
filho Antônio
Julio de Abreu
Macedo como
testemunhas em
um testamento de
1836.

426
Em 1945 o Instituto Brasileiro de Genealogia publicou em seu “Anuário Genealógico Brasileiro” um trabalho
sobre os descendentes de Antônio Julio de Abreu Macedo – incompleto, pois faltam p. ex. quase todos os
descendentes de minha bisavó Galzuinda de Araújo Macedo além de vários outros descendêntes que eu descobri
com minha pesquisa – mas o qual mesmo assim prova quantas centenas de descendentes esse homem deve ter
hoje. Aqui ai este interessante trabalho.

427
428
Fazenda Monte Alegre em Cordislândia, antes pertencente ao município de S. Goncalo do séc. XIX.

Os Araújos em S. Gonçalo do Sapucaí entre 1820 e 1850

Como vimos no episódio anterior, um casal de irmãos Macedo se casou com um casal de
irmãos Araújo. Enquanto o casal Antônio Julio de Abreu Macedo e Rita de Cássia de Jesus
vivia da mineração e passava lentamente por um declínio econômico em suas lavras
minerais e estava vendendo suas terras, os Araújos estavam financeiramente bem e vivendo
da agricultura.

A então viuva Luisa Maria de São


Joaquim passou a viver por volta de
1825 e 1829 em suas terras em S.
Gonçalo. Ela deixou parte da familia
em Casa Branca, pelo menos uma
filha já casada e que já tinha filhos
Anna Luisa de Jesus lá ficou (era
casada com Mateus Gomes de
Gouveia).

No senso populacional de
novembro de 1831 que o governo
imperial brasileiro realizou,
podemos encontrar em S. Gonçalo a
viúva Luisa Maria de São Joaquim
vivendo em sua fazenda com sua
familia e seus escravos. Como ela e
seu filho José Francisco estão
mencionados lado a lado no senso,
imagino que suas propriedades

Uma fazenda em
S. Goncalo do 429
Sapucaí..
fossem vizinhas, sendo talvez assim a Fazenda Engenho da Serra referência também para
Luisa Maria.

1 Luiza Maria de Sao Joaquim 68 branco Viúvo livre roceira


2 Francisco Joze 23 branco Solteiro livre estudante
3 Maria Joaquina 29 branco Solteiro livre coser
4 Francisco 46 africano/preto Casado escravo roceiro
5 Jose 42 africano/preto Solteiro escravo cozinheiro
6 Maria 42 crioulo Solteiro escravo roceira
7 Ignacio 25 crioulo Solteiro escravo roceiro
8 Marianna 42 crioulo Solteiro escravo fiar
9 Inocencia 28 crioulo Solteiro escravo fiar
10 Maria 14 pardo Solteiro escravo fiar
11 Jermana 2 crioulo S/ inf. escravo
12 Francisco 12 pardo S/ inf. escravo roceiro
13 Luiza Maria 42 branco Casado livre coser
14 Joze 14 branco Solteiro livre roceiro
15 Maria 16 branco Solteiro livre fiar
16 Anna 12 branco Solteiro livre fiar
17 Joanna 10 branco S/ inf. livre fiar
18 Carlota 8 branco S/ inf. livre
19 Manoel 6 branco S/ inf. livre
20 Antonia 4 branco S/ inf. livre

430
Alguns descendentes
encontrados de Francisco José
de Araújo, que foi professor em
Casa Branca SP.

Podemos ver que a viúva


Luiza Maria vivia com a
filha Maria Joaquina e
com o filho mais novo,
Francisco José de Araújo,
que tinha na época 23
anos e era estudante.
Francisco José seguiu os
passos de seu avô português, o mestre Miguel de Araújo e Silva e se tornou professor. Ele
passou mais tarde para Casa Branca no estado de São Paulo, onde foi o primeiro professor
leigo da cidade sendo chamado de “Mestre Araújo”, foi vereador em 1849-1852 e se casou
com Dona Alexandrina Valentina dos Reis, também professora. Além deles também viviam
na fazenda nove escravos, ocupados principalmente na lavoura.

É muito provável que a Luiza Maria que aparece no senso na parte final do fogo de Luisa
Maria é a filha Luisa Maria do Sacramento. A idade não está correta, pois ela deveria ser
um pouco mais nova (36 anos de idade ao invéz de 42) mas como esta Luisa Maria listada
em S. Gonçalo também tem 2 filhos que condizem com os dois batizados em Santo Antonio
da Casa Branca – Maria em 1815 e José em 1818 – podemos presumir que são os mesmos.
Mas onde estaria neste momento seu esposo Joaquim Gomes de Gouveia?

431
Registro de casamento de José Francisco de Araújo com Angelina Damiana de Abreu Macedo em 1828

José Francisco de Araújo e Angelina Damiana de Abreu Macedo

No dia 8 de janeiro de 1828 se casaram José Francisco de Araújo e Angelina Damiana de


Abreu Macedo e no dia 7 de outubro de 1828 Rita de Cassia de Jesus (Araújo) com
Antônio Julio de Abreu Macedo como já vimos no episódio 20 da história dos Macedo.
Dois irmãos Araújo com dois irmãos Macedo e destes dois casais descendem os Araújo
Macedo de São Gonçalo.

Registro de nascimento de nossa ancestral Maria José de Araújo em 1830. Padrinho foi o tio materno e uma tia
paterna da criança.

José Francisco de Araújo recebeu em 1828 como dote de casamento terras de seu sogro e se
tornou fazendeiro em São Gonçalo do Sapucaí. Ele tinha um engenho de açucar chamado
“Engenho da Serra” que operava com seus escravos. Tiveram no mínimo seis filhos, entre eles
Maria José de Araújo, nossa antepassada, nascida em 2 de Novembro de 1830.
 Antonio Joaquim de Araújo 1828-
 Maria José de Araújo 1830-1906
 Emerenciana Joaquina de Araújo
 Luzia “Zinha” de Araújo 1837
 Estevão de Araújo
 José Francisco de Araújo †ca 1903

432
A familia de José Francisco de Araújo e Angelina Damiana de Abreu Macedo no senso de
1831 em S. Goncalo:

1 Jose Francisco de Araújo 31 branco Casado livre roceiro


2 Angelina Damianna 20 branco Casado livre coser
3 Antonio 3 branco S/ inf. livre
4 Maria 1 branco S/ inf. livre
5 Francisco 38 crioulo Casado escravo roceiro
6 Jenoveva 18 pardo Casado escravo fiar
7 Maria 1 crioulo S/ inf. escravo
8 Laorianno 28 crioulo Solteiro escravo roceiro
9 Rodrigo 24 pardo Solteiro escravo roceiro
10 Bento 26 crioulo Solteiro escravo roceiro
11 Justinianno 18 pardo Solteiro escravo roceiro
12 Joze 62 pardo Casado escravo roceiro
13 Anna 96 crioulo Casado escravo cozinheira
14 Maria 36 crioulo Solteiro escravo cozinheira
15 Maria 12 crioulo S/ inf. escravo fiar
16 Izidora 4 crioulo S/ inf. escravo

Como podemos ver nas gravuras acima do senso de 1831, José Francisco de Araújo vivia em
1831 em sua fazenda Engenho da Serra com Angelina Damiana, seus dois primeiros filhos e
mais 12 escravos, entre os quais uma senhora bem idosa (96 anos de idade) e duas crianças
pequenas. Seis escravos trabalhavam na lavoura, duas escravas na cozinha e duas escravas
jovens fiavam.

433
Registro das terras
do escravo Rodrigo
em S. Goncalo de
1856

É interessante
observar que o
escravo Rodrigo
recebeu auto-
rização de José
Francisco para
comprar terras
próprias, como podemos ver no cadastramento das terras de S. Gonçalo de 1856. Ele pôde
comprar uma parte de terra da fazenda Ouro Falla por quarenta e três mil Réis.
Registro de óbito de escravo de José Francisco de Araújo em 1841

Nos registros de terras dos anos de 1854 a 1856 encontramos as terras de José Francisco de
Araújo, das quais declara ter herdado de seu sogro Antônio Joaquim Rodrigues de Macedo,
então já falecido. Declara ainda que tinha partes das lavras de ouro do Baú, do Gonçalo
Velho e uma pequena parte da lavra de Santa Luzia, que eram todas lavras da antiga Fazen-
da da Boa Vista:

434
José Francisco de Araújo e Angelina Damiana de Abreu Macedo deixaram vasta
descendência em São Gonçalo do Sapucaí e região. Na árvore de descendência abaixo estão
apenas mencionados os que pude encontrar até este momento.

Abaixo: A fazenda histórica Cachoeira em S. Goncalo, exemplo de fazenda do século XIX

435
Uma pintura de paisagem rural brasileira como a podemos imaginar em meados do século XIX

Os Araújo Macedo vão para a provícia de São Paulo


Nas décadas de 1830 e 1840 foram nascendo os filhos dos casais Abreu Macedo e Araújo
em S. Gonçalo do Sapucaí, em Minas Gerais. As duas familias – que nar verdade eram uma
só – já contavam com muitos filhos por volta de 1850. José Francisco de Araújo e Angelina
Damiana de Abreu Macedo já tinham seus 7 filhos e continuavam vivendo em suas terras
na Fazenda Engenho da Serra. E também o irmão de Angelina, Antônio Julio de Abreu
Macedo e sua segunda esposa Ana Luisa de Araújo, uma sobrinha de José Francisco,
viviam com seus 5 filhos conjuntos e mais os 4 filhos do primeiro casamento de Antônio
Julio com Rita de Cássia em S. Gonçalo. Mas logo os Araújo Macedo passariam para a
província de São Paulo.

A descendência de José Francisco de Araújo e Angelina Damiana de Abreu Macedo

Por volta de 1850 viviam na cidade além do casal José Francisco de Araújo e Angelina
Damiana de Abreu Macedo ainda Luisa Maria de São Joaquim, a mãe de José Francisco, e a
sua irmã solteira Maria Joaquina de Jesus. O seu irmão mais novo Francisco José já havia
deixado S. Gonçalo para ser professor em Casa Branca na província de São Paulo como
veremos mais para frente. Como já vimos, o casal teve os seguintes filhos:

 Antonio Joaquim de Araújo 1828-


 Maria José de Araújo 1830-1906
 Emerenciana Joaquina de Araújo
 Luiza “Zinha” de Araújo 1837
 Estevão de Araújo

436
 Maria de Araújo 1839
 José Francisco de Araújo 1841-ca 1903

Antonio Joaquim de Araújo Macedo trabalhou no Forum da Justiça de Machado MG, sendo em
1884 seu partidor, contador e distribuidor. Foi capitão da 1a companhia do 66° batalhão de
reserva da Guarda Nacional em Machado MG em 1893. Casou-se com sua prima Graciana de
Araújo Macedo e tiveram vários filhos:
 Maria José de Araújo Macedo ca 1851-
 Francisco Honório de Araújo Macedo ca 1853- (Tenente do 3° esquadrão da GN em Machado, MG)
 Rita de Araújo Macedo ca 1855-
 Pedro de Araújo Macedo ca 1857- (Tenente quartel-mestre em Machado, MG)
 Maria Da Conceiçâo de Araújo Penido ca 1859-
 Joâo de Araújo Macedo ca 1861- (alferes da Guarda Nacional)
 Angelina de Araújo Macedo ca 1862-
 Emilia de Araújo Macedo ca 1865-1914 (foi professora proprietária em S. G. do Sapucaí)
A segunda filha de José Francisco de Araújo e Angelina Damiana, Maria José de Araújo, minha
trisavó, será tratada mais para frente.
Emerenciana Joaquina de Araújo se casou com Joaquim Eufrásio de Carvalho e tiveram ao menos :
 Jonas Eufrásio de Araújo (subdelegado em S. G. do Sapucaí)
 Joâo Eufrásio de Araújo Macedo (houve também um capitâo Fernando Eufrásio de Araújo em S.G.)
 Houve um Eufrásio de Araújo Macedo que foi Tenente quartel-mestre de S.G. do Sapucaí.
Luiza Maria (Zinha) de Araújo se casou com Roque de Souza Vilela de Natércia e tiveram grande
descendência em S. Gonçalo do Sapucaí. Seus filhos foram ao menos:
 Maria da Conceição Vilela dos Reis 1864
 Ermelinda Vilela de Araújo 1868-1925
o Joaquim Vilela de Araújo 1875
 Jovita de Souza Villela 1876
José Francisco de Araújo Macedo foi advogado. Foi promotor público em Campanha MG em
1884 e mais tarde, na década de 1890 juiz de direito em São Gonçalo do Sapucaí. Casou-se com
Beralda Guilhermina Ribeiro de Resende, com a qual teve:
 Angelina de Araújo
 Agripina de Araújo Macedo
 Eponina de Araújo
 “Mariquinhas” de Araújo
 Clélia de Araújo Macedo
 Abner de Araújo Macedo
 Odion de Araújo
 Nathan de Araújo Macedo †1936
 Rita de Araújo
Na árvore acima: Os netos de José Francisco de Araújo e de Angelina Damiana de Abreu Macedo – em vermelho
minha bisavó Galzuinda.

437
O Novo Oeste Paulista
O Brasil passava naquele momento uma fase muito boa de sua
história. Com a excessão da escravidão, que ainda manchava a
moral e a reputação do País, o Brasil, o único império sul-
americano, gozava de alto prestígio pois tinha uma mídia livre,
estabilidade política e se desenvolvia economicamente de
maneira impressionante. O segundo imperador brasileiro Dom
Pedro II era um regente muito culto e liberal e fomentava o
desenvolvimento cultural e tecnológico do País.
O imperador D. Pedro II em 1852 e a regiâo para onde foram os Araújo
Macedo a partir de 1835.

438
S. Gonçalo hoje.

Mas na região de S. Gonçalo a situação não estava ideal. A população havia crescido muito e
a terra estava concentrada nas mãos de poucas familias. No senso de 1831 contava-se na
freguesia, que na época ainda pertencia politicamente à Vila da Campanha, 3.569 habitantes,
dos quais 2.280 livres e 1.289 escravos. Mas as lavras de ouro estavam rendendo cada vez
menos e a terra disponível não era muito fertil e estava ficando cada vez mais cara.

No mapa de 1901 na página ao lado vemos as principais regiôes cafeeiras de Sâo Paulo. Note-se que somente a
parte que delimitava com Minas Gerais era povoada na época. O povoamento do interior paulista foi efetuado
principalmente por colonos do sul e do oeste de Minas Gerais.

Abaixo: A cidade de Campinas

439
Antiga fotografia da secagem do café em
terreiro

Mas a apenas 150 quilômetros


mais ao oeste, já na Província de
São Paulo a situação estava bem
diferente. Essa região, que até a
pouco tempo ainda havia sido
apenas área de passagem para
tropeiros e bandeirantes em
direção ao Mato Grosso e Goiás,
estava passando agora por um
verdadeiro milagre econômico. O
cultivo de café estava em plena
expansão na região. Foi para cá
que ele se difundiu, depois de
haver se estabelecido no decorrer
do século XVIII e início do século
XIX em grandes fazendas no vale
do rio Paraíba, mas cujas terras
estavam ficando cada vez mais cansadas. Por volta de 1800-1820 essa cultura chegara na
província de São Paulo, em uma primeira etapa no denominado Oeste Velho, com centro em
Campinas, Limeira, Amparo e Bragança Paulista, trazendo fortunas aos fazendeiros. E este
êxito econômico não deixou de ser notado pela população das regiões vizinhas do sul de
Minas. Os mineiros, à procura de novas oportunidades, passaram a colonizar a parte oeste e
norte deste Oeste Velho, que na época ainda era basicamente selva virgem habitada por
índios e apenas por poucos brancos. Essa área passou a ser fronteira agrícola, com muita
terra barata, plana e de boa qualidade, ficando conhecida como o Novo Oeste Paulista.

tropeiros a caminho

440
Fotografia de ca. 1880 de uma cidade recem.criada.

Assim, da mesma maneira que uma ou duas gerações antes havia ocorrido a colonização do
sul de Minas partindo dos antigos centros da mineração como Ouro Preto, Sabará, e S. José
del Rei, agora novas levas de familias passaram a deixar suas cidades originais do sul de
Minas em direção a oeste, abrindo novas estradas, derrubando as matas e se fixando em
novos arraiais aquém e além da divisa de Minas para São Paulo. Foram plantando milho,
cana e café, criando gado, abrindo lojas, formando novas freguesias e construindo novas
capelas e escolas. Tiveram êxito.

As primeiras freguesias se formaram na primeira metade do século, mas o processo de


urbanização foi mais intensivo a partir de 1840-1850. E não tardou para que o
desenvolvimento chegasse de maneira ainda mais impressionante ainda, já na década de
1860 com o início da implementação da rede ferroviária no estado de São Paulo, que se
destinava principalmente a escoar a produção agrária do interior para o porto de Santos.

Cidade do
interior de
São Paulo na
era imperial.

441
Mapa demostrando a direção para onde os Araújo Macedo passaram meados do século XIX. Em azul algumas
cidades para onde foi a geração seguinte da familia, já por volta de 1900.

A familia Araújo Macedo passa para São Paulo

O irmão mais novo de José Francisco de Araújo, Francisco José de Araújo (nascido em
Glaura em 1808) foi o primeiro do qual temos notícia de que saiu de Minas Gerais e passou
para a província São Paulo. Ele ainda havia sido mencionado no senso de 1831 em S.
Gonçalo, ainda estudante e em novembro de 1833 ainda temos notícia do nascimento de
um filho de uma sua escrava em S. Gonçalo. Mas já por volta de 1835 ele se casa,
provavelmente em Casa Branca SP com Alexandrina Valentina dos Reis. Em fevereiro de 1836
nasce a primeira filha do casal, Francelina Valentina de Araújo, que teve a avó paterna Luisa
Maria de São Joaquim como madrinha por procuração.

Batismo de Francelina Valentina de Araújo em 1836 em Casa Branca, SP

Francisco José de Araújo foi o primeiro professor leigo de Casa Branca. Por ter sido um pro-
fessor dedicado, e enérgico com as crianças, chamavam-no“Mestre Araújo”. Sua esposa
também foi professora. Francisco tinha 41 alunos e Francelina 19 alunos no ano de 1863 e
existe ainda hoje uma “Rua Mestre Araújo” em sua homenagem em Casa Branca. Ele foi

442
vereador em 1849-1852 e
podemos imaginar que
influenciou o cunhado
Antonio Julio de Abreu
Macedo para vir para Casa
Branca por volta de 1850.

Ao lado vemos uma lista


dos professores de São
Paulo em 1847 com Fran-
cisco José de Araújo
sendo mencionado em
Casa Branca, SP.

Eu presumo que entre


1845 e 1850 Antônio Julio
de Abreu Macedo teve que vender suas terras em São Gonçalo do Sapucaí em praça pública.
Sinal de que não estava podendo mais pagar suas dívidas. Ele deve ter passado para Casa
Branca nesta época, pois em 1854 ele já não aparece mais nos registros de proprietários de
terras de S. Gonçalo.

O segundo filho de Antônio Julio de Abreu Macedo, José Julio de Araújo Macedo, se casa
em 19 de Agosto de 1850 em Casa Branca com Silvéria Gonçalves de Carvalho, natural de
Casa Branca, mas de familia que provavelmente veio de S. Gonçalo. Em segundas núpcias ele
se casou com Mariana Ribeiro da Silva. Ele adquiriu terras na região de Casa Branca e se
tornaria já na década de 1870 um grande fazendeiro, possuidor de várias fazendas grandes
sendo considerado o “rei do café” da região. Uma das ruas principais de Casa Branca
recebeu em sua homenagem o nome “Rua Coronel José Julio” Suas fazendas se estendiam
por vários municipios: Mococa, Casa Branca, Pirassununga, São João da Boa Vista, São José
do Rio Pardo e Santa Cruz das Palmeiras, onde passou a residir e onde seus filhos nasceriam.
Um deles, Manuel Julio de Araújo Macedo foi fazendeiro em Mococa e juiz de paz em
Palmeiras em 1914 e outro, Moysés Julio de Araújo Macedo, foi juíz de paz e capitalista
em São Gonçalo e em Casa Branca, ele emprestava dinheiro como um banco. A filha Rita de
Cássia de Araújo Macedo se casou
com Manuel Olympio Carlos Arantes,
fazendeiro em Guaranésia e Casa
Branca (os Arantes parecem ter vindo
por volta dde 1750 das Terras de
Bouro para Aiuruoca, MG). José Julio
deixou grande descendência.

Mas José Julio não foi o único a viver


na nova cidade de Palmeiras. Na
década de 1870 um tal de Raimundo
de Araújo Macedo é um dos
doadores dos terrenos para compor

443
o patrimônio da primeira
Capela de Santa Cruz das
Palmeiras. E também Francis-
co de Araújo Gouveia, casado
com Maria José de Araújo,
estava vivendo aqui na década
de 1880. Ele foi um primo de
José Julio, foi vereador e a
instalação da Câmara da
recém emancipada cidade
aconteceu na sua casa em
maio de 1886.
Casa Branca, SP, da qual se diz ter recebido o seu nome pelos
colonos vindos de Santo Antônio da Casa Branca, MG.

Em Casa Branca também encontramos Zeferino Julio de Araújo Macedo, filho de Antônio
Julio e sua segunda esposa Ana Luisa. Ele veio para Casa Branca com 5 anos de idade. Isso é
citado quando ele se casou em 1869 em Casa Branca com Mariana Angelina de Jesus, uma
prima nascida em São João da Boa Vista. Mesmo não sabendo com exatidão quando
Zeferino nasceu, podemos presumir que foi o mais tardar por volta de 1846-48. Zeferino foi
mais tarde fogueteiro em Mococa, onde deixou descendência.

Outro irmão, João Julio de Araújo Macedo, nascido a 24 de Maio de 1840 em S. Gonçalo
do Sapucaí se casou por volta de 1870 em Casa Branca com Carolina Amélia de Oliveira
Horta e teve com ela vários filhos. Ele foi um dos Procuradores do Juízo Municipal e de
Órfãos do Termo de
Casa Branca na década
de 1870. Um de seus
filhos, Moyses Horta
de Macedo foi diretor
da escola normal
primária em Casa
Branca em 1915.

Vista histórica da cidade


paulista de Mococa, SP

444
Foto histórica de Limeira, SP
Ao lado: Fotos
recebidas de um
descendênte de
Antônio Joaquim de
Araújo Macedo, um
filho de José Fran-
cisco de Araújo e
Angelina Damiana
de Abreu Macedo.
A esposa de
Antônio Joaquim
era Graciana de
Araújo Macedo, uma
prima dele.
Abaixo: Os
descendentes de Anto-
nio Julio de Abreu
Macedo e de sua segunda esposa Ana Luisa de Araújo.

445
Modelo de uniforme da guarda nacional de ca. 1850

Antônio Julio de Araújo Macedo

O filho mais velho de Antônio Julio de Abreu Macedo, o alferes Antônio Julio de Araújo
Macedo, meu trisavô, seguiu uma carreira na medicina e ao mesmo tempo militar. Não
sabemos exatamente onde estudou e como
passou os seus primeiros anos como adulto,
mas em 1866 ele já estava em Pirassununga
e Limeira, onde foi nomeado cirurgião do
batalhão de reservistas da guarda nacional.
Isso ocorreu em plena época da guerra do
Paraguai que durou de 1864 a 1870.

À esquerda: O Correio Paulistano de 1° de marco de


1866.

Abaixo: Ele também é mencionado como terceiro


suplente de delegado de polícia de Pirassununga
quando a freguesia foi elevado a vila em 1865 como
podemos ver na crônica de Pirassununga.
Por volta de 1860, com cerca de 30 anos ele

se casou com Alexan-


drina Placidina da Silva,
com a qual teve 5
filhos:

446
Foto histórica de Pirassununga, SP

 Rita de Araújo Macedo


 José Emílio de Araújo Macedo 1858-
 Francisco Julio de Araújo Macedo
 Olímpia de Cássia de Araújo Macedo
 Antonio dos Anjos de Araújo Macedo

Alexandrina faleceu infelizmente cedo em 1868 deixando-o viúvo com seus 5 filhos pequenos.
Talvez por necessidade de amparo familiar, retornou a São Gonçalo à procura de uma nova
esposa e mãe para seus filhos. Em sua cidade natal ainda viviam muitos de seus parentes,
principalmente por parte de sua mãe, os Araújos. Eu acredito que Alexandrina também era de São
Gonçalo, e pode ser que os filhos ficaram esporádicamente morando com parentes. Naquela
época era muito incomum um homem cuidar sozinho de filhos pequenos.

Edição do Diário de São Paulo de 1869 onde Antônio Julio de Araújo Macedo é mencionado.

447
Registro de casamento
entre Antonio Juliio e
Maria José em S.
Goncalo em 1869

A sua prima de
primeiro grau
Maria José de
Araújo, filha de
José Francisco de
Araújo e de Ange-
lina Damiana de
Abreu Macedo, nascida no dia 2 de Novembro de 1830 em São Gonçalo do Sapucaí havia se
casado em primeiras núpcias com Herculano Albino de Almeida com o qual teve uma filha
chamada Maria. Herculano também faleceu cedo, deixando-a viúva assim como seu primo
Antônio Julio. Os dois com certeza se gostavam e acharam bom se unirem em matrimônio e
para isso pediram a dispensa do bispo de Mariana.

No dia 6 de Março de 1869, depois de terem recebido a dispensa do bispo por causa da
proibição por serem primos de primeiro grau, os viúvos Antônio Julio de Araújo Macedo e
Maria José de Araújo se casam em São Gonçalo formando assim uma nova familia. Como
Antônio Julio ainda é mencionado em 1869, já depois de casado com Maria José, como
alferes delegado em Pirassununga, pode ser que Maria José foi com ele para Pirassununga
ou ele esteve um tempo longe da sua familia para trabalhar. Antônio Julio era muito
fecundo, com Maria José teria ao menos mais 8 filhos, dos quais 6 chegaram à idade adulta:

 Galzuinda Maria de Araújo Macedo 1872-1924


 José de Araújo Macedo ca 1873-1874
 Angelina Damiana de Araújo Macedo 1874
 Petronilha de Araújo Macedo 1881-
 Angelina de Araújo Macedo 1887-
 Astrogilda de Araújo Macedo
 Teodomiro de Araújo Macedo
 Laudelino de Araújo Macedo

O registro de nascimento de Galzuinda de Araújo Macedo em São Gonçalo do Sapucai em 1872.

448
São Gonçalo do Sapucai, Minas Gerais.

A primogênita de ao menos 6 filhos do casal foi a minha bisavó Galzuinda Maria de Araújo
Macedo nascida a 10 de Abril de 1872, já em São Gonçalo do Sapucai, para onde Antônio Julio
havia retornado.

Por volta de 1870 o casal Antonio Julio e Maria José teve uma botica ou boticário na freguesia de
Lambari, vizinha de São Gonçalo. Pode ter sido um boticário, o que seria hoje algo como uma
farmácia ou drogaria. Como Antônio Julio era alferes cirurgião, ele era do ramo. Mas
provavelmente os negócios não estavam andando bem, e logo a familia se transfere para a cidade
paulista de São José do Rio Pardo, a apenas 30 quilômetros de Casa Branca, onde estavam alguns
outros irmãos de Antonio Julio, como já vimos no episódio anterior.

A região de Casa Branca estava passando por um desenvolvimento incrível nas décadas de 1870 e
1880. Após a proibição do tráfico negreiro com a Africa por volta de 1830, a proibição da
importação de escravos no Império Brasileiro em 1850 e a Lei do Ventre Livre em 1871 os grandes
fazendeiros estavam à procura de uma alternativa para a mão de obra escrava, que estava ficando
cada vez mais cara e escassa. A abolição definitiva da escravidão era vista como inevitável, o que
ocorreu finalmente só em 1888, sendo o Brasil o último país soberano do Ocidente (apenas um
ano antes de Cuba, na época ainda uma colônia). Assim estava-se a procura de trabalhadores
novos nas plantações e nas oficinas. A mão de obra que faltava foi suprida por imigrantes
europeus, principalmente
italianos, que estavam à
procura de melhores
condições de vida. Fazendeiros
paulistas pagavam a viajem
dos italianos e os alojavam nas
fazendas, formando colônias.
Mais de três milhões de
italianos emigraram para cá
dentro de três décadas.

A cidade de
Lambari em 449
Minas Gerais
Mapa antigo
demostrando a
localização de S.
José em relação a
S. Gonçalo.

A combinação
do lucrativo
cultivo de café,
que na época
proporcionava
fortunas aos
fazendeiros, e a
vontade dos
imigrantes de
trabalhar e de
subir na vida
trouxe um

tremendo avanço econômico para as novas cidades


no interior do estado de São Paulo e sul de Minas
Gerais.

Isso incluiu as cidades de Casa Branca, Mococa e


São José do Rio Pardo, onde mais e mais italianos
se estabeleceram a partir de 1875. A maioria
encontrou trabalho nas lavouras, mas também havia
muitos que trabalhavam no comércio e em oficinas
nas cidades. Essas cidades eram novas, mal tinham
seus 20 ou 30 anos desde a sua fundação e já
tinham seus 5000 ou mais habitantes. Grande parte
dos imigrantes desta região veio do sul da Itália,
mas havia também muitos imigrantes da Toscana,
do Veneto, da Lombardia e ainda de Portugal,
Espanha, Síria, Áustria e Alemanha.

Antiga fotografia de S. José do Rio Pardo

450
Galzuinda de Araújo Macedo em foto de ca. 1890

Subdelegado e dono de loja

Antônio Julio, foi nomeado para o cargo de


subdelegado de polícia da cidade em 1880 ou
1881. Também seu filho mais velho José
Emilio de Araújo Macedo foi empregado na
polícia da cidade. Antônio Julio deve ter sido
policial por alguns anos. Mas já por volta de
meados da década ele teve uma loja na
cidade como podemos ver em um Almanak
de 1888. Antônio Julio tinha espirito
empreendedor e irriquieto. Se envolveu na
política e devia estar muito ativo no
movimento republicano local, como podemos
ver de vários artigos de jornais da época, que
podem ser vistos em sites diversos. Um filho
de Antônio Julio, Francisco Julio de Araújo
Macedo (não confundir com um irmão de Antônio Julio, pois havia dois com o mesmo
nome na familia) foi dono de restaurante em São José em 1888.
Antônio Julio de Araújo Macedo como dono
de loja em S. José no Almanak Sul-Mineiro
de 1888 e sua nomeação para subdelegado
em S. José em 1881, junto com seu filho
José Emilio.

451
Rua Coronel José Julio em
Casa Branca, SP

Um irmão de Antonio
Julio de Araújo Macedo
também estava em S.
José do Rio Pardo
como vemoss no
Almanak de 1888. Era
dono de um
restaurante na cidade.

Quando se mudaram
para São José, a filha
Galzuinda tinha 8 anos
de idade e era a mais
velha de uma penca de
irmãos inteiros e ao mesmo tempo a mais nova de outra penca de meio-irmãos mais velhos.
E como já vimos no capítulo anterior, a familia de Galzuinda formava junto com alguns
irmãos e primos de Antônio Júlio que já moravam na região de São José e também já
tinham familias, o clã dos Araújo Macedo – uma familia muito numerosa e presente em toda
região. Especialmente o seu irmão mais novo o Tenente Coronel José Júlio de Araújo
Macedo era muito poderoso. Ele teve 7 grandes
fazendas que se extendiam por vários municípios
da região e exercia forte influência politica e
econômica. Uma das ruas principais de Casa Bran-
ca, a Rua Coronel José Julio, recebeu seu nome em
homenagem. Outros irmãos e sobrinhos tinham
jornais em Casa Branca, eram donos de fazendas,
eram advogados, escrivãos, juízes, delegados,
promotores, professores, diretores de escolas,
donos de institutos de ensino, donos de fábrica de
foguetes, banqueiros…
Antônio Julio, no entanto, teve problemas por
volta de 1885 devido às crescentes tensões entre

os monarquistas tradicionais que


defendiam manter a escravidão e os
liberais republicanos que queriam
aboli-la e queriam introduzir a
república no Brasil. Na época o Brasil
era a única monarquia na América do
Sul e o único pais onde havia
escravidão. Antônio Julio era um
republicano convicto e havia sido um

452
dos integrantes do comitê para a fundação
do Partido Republicano no sul de Minas
Gerais e participou de manifestações
republicanas, motivo pelo qual ele teve que
fugir de São José e acabou sendo preso por
alguns dias em 1886. Por final perdeu o
emprego na delegacia e a sua família
acabou passando por dificuldades
financeiras.

Foi assim que a Dona Maria José de Araújo,


esposa de Antônio Julio, fazia salgados e
doces em casa e a jovem Galzuinda os
vendia e entregava aos fregueses. Um
imigrante italiano da Toscana que era
fabricante de cerveja em S. José, Giovanni
Battista Novelli, gostava de comprar os
deliciosos salgadinhos e pasteis dela, e se
Giovanni Battista Novelli por volta de 1885
apaixonou pela linda garota. Os pais de
Galzuinda certamente viram Giovanni como
um bom partido para a filha mais velha
comum.

Dizem na familia que certo dia Gio-


vanni (que no Brasil se chamava
João Novelli) foi convidado pelos
futuros sogros para almoçar na casa
deles. Ele provavelmente já estava
noivo de Galzuinda. Quando ele
chegou na casa dos Macedos, viu a
Galzuinda brincando com suas
bonecas. Isso demostra como
Galzuinda ainda era novinha quando
ficou noiva de Giovanni.

Certidâo de casamento de Galzuinda com


Giovanni em S. José do Rio Pardo, de 1888.

453
Giovanni e Galzuinda

Galzuinda se casou com Galzuinda no dia


16 de junho de 1888 na igreja matriz de
São José do Rio Pardo – ela estava agora
com dezesseis anos de idade. As
testemunhas do casamento foram o Dr.
José Francisco de Araújo, um irmão de
Maria José que foi juíz e Domingos Francis-
co de Souza. Um mes antes do casamento
havia sido abolida a escravatura no Brasil.
Pouco depois do casamento a família de
Galzuinda se mudou para uma casa de
propriedade de Giovanni. Infelizmente o pai
de Galzuinda morreu logo, aos 59 anos, em
24 de Março de 1889, apenas alguns meses
antes da Proclamação da República no
Brasil pela qual ele ele tanto lutara.

Giovanni e Galzuinda tiveram cinco filhos:

• Gaspar Antonio Novelli em 9 de Março


de 1890 – São José do Rio Pardo
• João Novelli em 2 de Agosto de 1891 –

São José do Rio Pardo


• Valentim Novelli Sobrinho em 23 de Abril
de 1893 – São José do Rio Pardo
• Ada Maria Brasilina Novelli em 1 de Junho
de 1894 – nascida em Bientina, Italia
• Antônio Novelli em 18 de Junho de 1895 –
São José do Rio Pardo, que nasceu depois da
morte de Giovanni.

A familia morou no Largo do Mercado em


São José do Rio Pardo, numa casa logo ao
lado da casa da mãe de Galzuinda. Após a
Proclamação da República, o largo passou a
se chamar Prudente de Morais em
homenagem ao republicano.

Certidão de óbito de
Antônio Julio de Araújo
Macedo
454
A matriarca Maria José faleceu em 23
de outubro de 1906 em São José do
Rio Pardo e foi enterrada em cova
simples no cemitério da cidade. Com
a sua morte a história de minha fami-
lia passa a ser contada só com o
sobrenome Novelli.

Ao lado: Certidâo de óbito de


Maria José de Araújo de 1906.

Abaixo: Largo do Mercado em São


José do Rio Pardo onde Maria José
de Araújo residiu na década de 1890.

455
Os descendêntes dos dois casamentos de Antônio Julio de Araújo Macedo

456
Antônio Novelli com
aproximadamente 15 anos.

Uma pequena biografia de


Antônio Novelli
O filho caçula de Giovanni e Galzuinda,
Antônio Novelli nasceu em S. José do Rio
Pardo SP em 18 de Junho de 1895, quando
seu pai Giovanni já havia falecido. Depois de
alguns anos passados com a mãe e o
padrasto Antônio Fortunato da Silva em
Guarantã onde cursou 2 anos da escola
primária, ele voltou para S. J. do Rio Pardo
onde viveu com a avó Maria José de Araújo a
qual ajudava no sustento vendendo bananas
nas ruas da cidade.

Depois da morte da avó que ele tanto amava


em 1907 ele se mudou para Casa Branca SP.
Provavelmente viveu lá na casa do seu tio
Theodomiro de Araújo Macedo.

Ainda quase uma criança, ficou sabendo que


o presidente da Companhia Mogiana de
Estradas de Ferro viria de Campinas a Casa
Branca para participar de um evento
importante. Dirigiu-se diretamente a ele e pediu por um emprego. O presidente da Mogiana
ficou tão impressionado com a coragem do garoto que o empregou imediatamente. Assim,
começou a trabalhar na Mogiana com uns 15 anos de idade onde de primeiro foi ajudante e
mais tarde acabou sendo telegrafista, trabalhando algumas vezes no meio da floresta, onde
tinha contato com indios e ouvia onças à noite
rodeando o vagão onde dormia.

Ele foi para Monte Santo de Minas MG por volta


dos 18 anos, onde sua mãe Galzuinda estava
vivendo com o padrasto, Sr. Silva, que dirigia a
estação da Mogiana da cidade. No 25 de dezembro
de 1915 se casou com a bela montessantense Dolo-
res do Carmo, filha de Joaquim Custódio do Carmo
e de Ambrozina do Carmo. Seguiram alguns anos
onde ele e sua familia moravam aqui e alí,
dependendo de onde a Mogiana o empregava.
Cada um dos 3 filhos deste primeiro casamento
nasceu em uma cidade diferente - Irene em Casa
Branca, Celinha (Ariocely) em Jardinópolis e Nelson
em Aguaí.

Dolores do Carmo,
foto de ca. 1920

457
Antônio como ferroviário
em 1913

Depois que Dolores faleceu


(em 1921 de tifo, em Ipoméia,
próxima a São Sebastião do
Paraíso MG) ele se casou em
22 de abril de 1922 com An-
tonieta Lattaro também de
Monte Santo, filha dos
italianos de Montemurro,
Basilicata Vincenzo Lattaro e
Maria Ventura, com a qual teve
6 filhos. Nessa época ele
decide se estabelecer de vez
em Monte Santo e deixar a
vida nômade. Sua mãe
Galzuinda faleceu em Monte
Santo em 1924.

Por volta de 1925 Antônio teve


uma lojinha em Monte Santo
de Minas onde vendia guaraná, tabaco, doces etc... Nessa década ele também foi morar um
certo tempo (talvez alguns meses) com o irmão Gaspar Novelli em Cafelândia SP e também
passou uma temporada em Marília SP.
Antônio em sua venda, ca. 1925

458
Antônio Novelli por
volta de 1940.

Decidiu voltar para Monte Santo de Minas,


onde Antônio recebeu o cargo de oficial de
justiça no forum da cidade, ocupação que
exerceu até se aposentar.

Antônio era espirita convicto e praticante, não


perdia uma seção no centro espírita. Ele ajudava
muito os pobres, principalmente as crianças do
lar Allan Kardec. Gostava de pegar um ou outro
dos brinquedos meus e de meu irmão para
doar às crianças carentes. Nós tínhamos muitos,
as crianças carentes quase nada, o vovô fazia
justiça.

Vovô fez um esforço danado para comprar a


casa na praça da igreja em Monte Santo de
Minas onde a familia passou a viver na década
de 40. Um amigo disse um dia aos filhos de
Antônio que só Deus sabia como Antônio havia
suado para pagar as prestaçôes da casa.

Antes de comprar a casa na praça da igreja, o vovô Antônio queria comprar uma pequena
chácara em Monte Santo. Mas ele foi vítima de um advogado amigo da familia que
embolsou os pagamentos das prestaçôes. Foi só depois de anos pagando que Antônio ficou
sabendo que esse advogado estava roubando as prestaçôes.

Antônio era muito lutador, o que fazia ele ser muito severo com os filhos e consigo mesmo.
Ele queria que todos os filhos estudassem para terem uma vida melhor e mais segura -
talvez pelo fato de que ele mesmo teve que começar a trabalhar e lutar tão cedo.

Mas por trás do seu jeito


duro, existia nele muito
amor. Sempre trazia algo
para a Antonieta e as
crianças quando voltava
das andanças pelas roças
de Monte Santo como
oficial de justiça. Um
bolo, um cacho de
bananas ou até mesmo
um macaquinho.

Antônio e Antonieta
por volta de 1970

459
Antônio Novelli com a sociedade italiana de Monte Santo (segunda fileira no centro), ca. 1940

Quando o seu filho Luiz Carlos morreu com apenas um aninho de


idade, Antônio ficou tão triste e desgostoso que soltou todos os
passarinhos que tinha em gaiolas e dos quais Luiz Carlos tanto
gostava e decidiu se mudar da casa onde moravam. Não gostava
mais de passar na frente da casa antiga pois lhe deixava triste.
Vovô ainda era daquela velha geração: tomava chá de alho contra
resfriado, chá de boldo contra mal de viajem, uma vez arrancou ele
mesmo um dente seu que estava doendo. Levantava muito cedo,
nunca dizia um palavrão. Os filhos pediam a benção do pai ao irem
dormir, e respeitosamente diziam „senhor" para ele.
Vovô gostava de esmagar
uma banana para comer
junto com a comida.
Quando um de nós
netinhos não queria comer
tudo do prato, ele ameaçava: „Se você não comer,
você não vai lá!“. Aí nós comíamos, pois queríamos
ir lá também. Mas nunca ficamos sabendo onde é
que ficava esse famoso „lá“.

Vovô teve uma pequena chácara em Monte Santo


onde plantava milho, verduras e um pouco de café
para consumo próprio.

Foto no centro: O
filho Luiz Carlos.
460
E foto ao lado:
Antônio por volta
de 1950.
Casamento de Iole Novelli em 1964 em Monte Santo de Minas. Em pé da esquerda para a direita: Heider; Nelson e sua esposa Luzia
Lanfranchi; o noivo Armando da Cruz com a noiva Iole; atrás dos noivos Edson Novelli;Valdomiro Cecilio (esposo de Zilda Novelli);
Luiz Monzo e sua esposa Areocely (Celinha) Novelli; atrás de Celinha está Zilfa (Zizi); de óculos escuros Irene; Zilda e atrás dela
Castorino de Souza (esposo de Irene); Dinéia Malaguti e seu esposo Francisco Novelli de Souza (filho de Irene); Marilene Monzo e seu
esposo José Carlos Luporini. Sentados da esquerda para a direita: Roberto (filho de Nelson); sentado abaixo está Luiz Antônio; sentado
na cadeira está Antônio Novelli e em seu colo Maria Antonieta Novelli Cecilio (filha de Zilda); Wilson Tadeu (filho de Nelson); Antonie-
ta Lattaro e Dolores(filha de Nelson).
Ele adorava quando os filhos já adultos
vinham de visita. O genro Luiz Monzo
trazia um barril de chopp de Campinas e o
genro Castorino de Souza carne de
Pratápolis e aí tinha aquela festa com
churrasco no quintal da casa em Monte
Santo. Para acomodar todo mundo, o
vovô e a vovó cediam até o próprio quar-
to dormindo no porão da casa.
Quando vovó Antonieta faleceu em 1972
vovô ficou muito triste e durante anos a
televisão ficou desligada pois o vovô não
gostava que ligassem.
Vovô adorava jogar paciência e brincava
com a gente digitando palavras em
código morse nas nossas costas
perguntando o que havia escrito.
Vovô faleceu em Monte Santo em 15 de
Junho de 1983 com 87 anos de idade.

Antônio por volta de 1965,


pintura a óleo de seu filho Luiz 461
Antônio Novelli.
Uma pequena
biografia de Gaspar
Novelli
Do neto Ricardo Ramos Novelli

Gaspar Novelli era um avô que sabia


agradar os netos. Aos pequenos
sempre dava alguma coisa quando era
visitado. Eram objetos sem valor
algum. Mas o modo como os
entregava os faziam caros para quem
os recebia.

De minhas consultas com quem com


ele viveu fiquei sabendo que vovô era
muito enérgico. Sua palavra era lei. Ai
de quem não a cumprisse.

Também era muito machista. Em


primeiro lugar sempre os homens, até
mesmo em relação à comida. Em se
falando de comida seu prato preferido
era frango ensopado com polenta. Gaspar Novelli por volta de 1920.
Também adorava a macarronada da vovó, com massa feita por ela.

Lembro que vovô sentava na área da frente da casa (alpendre) à tarde. Era costume
aparecerem amigos ou parentes para tomar o cafezinho. Vovó aparecia com a bandeja e
servia primeiro meu avô. Servir outra pessoa primeiro seria impensável.

Gaspar Novelli foi muito rico, mas chegou ao fim de sua vida sem nada. Quando saía para
dar uma volta usava chapéu, bengala e terno de linho impecavelmente engomado. A goma
era feita em casa por vovó.

Vovó fazia vários pratos simples e saborosos. Ninguém se esquece de seus famosos pastéis.

Gaspar Novelli
com seu neto José
Carlos Guimarães,
filho de Ada
Novelli Guimarães
e Antonio
Guimarães. Por
volta de 1943.

462
Bodas de ouro de Gaspar e Maria. Na foto estão filhos de Gaspar e Maria: Ada, Magnólia, Nathan, Ofélia, Esmeralda,
Wanderley, Abner e Gaspar. De pé, da esquerda para a direita: Vanilde e seu marido Antonio Carlos, ele filho de Ada; Abner,
Jane Maria, casada com Wanderley; Wanderley; Nathan e sua mulher, Maria Aparecida; Gaspar; Esmeralda, seu marido Clin-
ton, e seus filhos Clinton e Nathan; Aparecida, filha de Ada; José Carlos, filho de Ada; com Amélia Marcia, filha de Nathan.
Sentados, também da esquerda para a direita: Ada, com seu neto "Didi"; Silvio, filho de Wanderley. Em pé; Ricardo Ramos
Novelli, filho de Wanderley, ao lado do avô Gaspar; o casal Gaspar e Maria; Cristina, filha de Antonio Carlos; Heloisa, filha de
Nathan; Magnólia e seu marido Uadi.
Apesar de toda sua simplicidade, D. Maria, tendo ocasião para tanto, usava um belo colar e
um xale. As peças eram cobiçadas, sendo que havia neta que as pegava furtivamente para
sair à noite, devolvendo quando
Gaspar Novelli com um neto. E em suas bodas de diamante.
voltava, obviamente sem que vovó
soubesse.

463
Valentim Novelli na
década de 20 ou 30.

Fotos de
Valentim Novelli
Sobrinho
Nestas páginas vemos
algumas fotos de Valentim
Novelli Sobrinho, o terceiro
filho do casal Giovanni No-
velli e Galzuinda de Araújo
Macedo.

Valentim recebeu o nome de


seu tio paterno Valentino
Novelli (nascido em 1843 em
Calcinaia e casado com San-
tina Nuti com a qual teve
vários filhos e descendentes
em Calcinaia). O nome Valen-
tino é muito difundido em
nossa região ancestral
italiana pelo fato de que o
santo de Bientina é o San
Valentino Martire.

Valentim Sobrinho nasceu no


dia 23 de abril de 1893 na
casa da familia no Largo do

Mercado (hoje Praça Prudente de Morais) em


São José do Rio Pardo, estado de São Paulo.

Segundo o que minha falecida tia Zizi Novelli


contava, Valentim trabalhou na companhia de
estrada de ferro da Mogiana, assim como seus
irmãos João e Antônio. Assim ele foi parar em
Ribeirão Prêto, onde se casou com Bibiana
Alves e teve seus filhos. Uma parte de seus
descendentes vive lá até aos dias de hoje.

464
Cristiane Medeiros, uma bisneta de
Valentim contou certa vez que seu
pai, Eugênio Novelli Medeiros,
amava muito seu querido avô, pois
Valentim lhe dava os preciosos
gibis, que trocava com seus
colegas de escola.

Valentim faleceu no dia 18 de


agosto de 1967 em Ribeirão Prêto.

Junto com as fotos de Valentim, vemos acima sua certidâo de nascimento e algumas
fotos de sua filha Edith Novelli com sua sobrinha-neta Sandra Schiavetto Carbone.

465
Fotos de João
Novelli
Nestas páginas vemos
algumas fotos de João
Novelli.

Assim como seus


irmãos Valentim e
Antônio, João foi
ferroviário e também
trabalhou na antiga
Companhia Mogiana de
Estradas de Ferro com
sede em Campinas no
Estado de São Paulo.
Deste modo mudou
várias vezes de cidade e
acabou por se
estabelecer definitiva-

mente em Campinas. Seus filhos


nasceram nas diferentes estações de
sua vida: Ribeirão Preto, Campinas,
Poços de Caldas, Monte Santo de Mi-
nas, Itapiratiba, Mococa e Igarapava.

João nasceu no dia dois de Agosto de


1891 em São José do Rio Pardo e
faleceu no dia 5 de Novembro de 1960
em Campinas, São Paulo, com a idade
de 69 anos. Ele foi enterrado no dia seis
de Novembro de 1960 no Cemitério da
Saudade em Campinas.

Ele se casou em 1913 em Itapira, São


Paulo, com Rina Spaloni (1896-1989),
filha dos italianos Luiz Spaloni de
Celenza Valfortore em Foggia e Maria
Coppo de Mestrino em Padova, com a
qual teve 14 filhos.

Na foto ao alto vemos João e Rina em seu casamento por


volta de 1913.
466 Ao lado: o filho Washington Novelli com sua esposa Olga
Rodrigues. Nos colos estão Neise e sua irmã gemea Nanci
Rodrigues Novelli, depois vem Nerci, Nelson, Nerli Novelli
Godoy e Norivaldo Novelli.
Acima: Rina Spaloni, João Novelli e seus pais Elsandro Novelli e Teltina de
Paula e Luiz Sérgio, filho de Toninho e Nildes.

João e Rina tiveram a descendência mais numerosa entre


os filhos de Giovanni e Galzuinda. Eu contei mais de 90
descendentes seus, mas eles devem superar os 100, já que
existem alguns ramos que eu só pude pesquisar de uma
maneira bem superficial. O filho Washington Novelli, por
exemplo, nascido em 1919 em Igarapava e que foi casado
com Olga Rodrigues de Monte Belo, MG, teve sete filhos e
só ele já tem mais de 35 descendentes em quatro
gerações.

Foto no centro:
Rina Spaloni.

Ao lado:
Casamento de
Toninho (Antônio
Novelli) e Nildes
(Anildes Monteiro).
A menina é a
sobrinha de
Toninho, Luiza
Novelli, filha de
Leonel Novelli e
Alzira de Souza.

467
Acima: Casamento de Wanderley Novelli (filho de Gaspar) e
Jane Nunes Ramos. Ao alto no centro, Irene Novelli, a filha
mais velha de Antônio Novelli e ao lado Heider Novelli, a
filha mais nova.

Ao lado: Antônio Novelli em São Paulo com sua filha Iole


Novelli. Por volta de 1935.
Abaixo: Leonel Novelli, filho de João, Zilfa (Zizi) Lattaro
Novelli, filha de Antônio e Wanderley Novelli, filho de
Gaspar com sua esposa Jane em Monte Santo de Minas em
2003.

468
Acima: Descendentes de Antônio Novelli: Casamento de Marilene Monzo, filha de Areocely Novelli (filha de Antônio Novelli) e
Luiz Monzo em Campinas, SP em 1962. Em pé da esquerda para a direita: Iole, Edson, Heider, Nelson (todos filhos de Antônio),
o noivo José Carlos Luporini, a noiva Marilene, uma amiga e Luiz Antônio Novelli (também filho de Antônio). Sentados: Wilson
Tadeu e Dolores, filhos de Nelson com a sua mãe Luzia Lanfranchi.

Abaixo: Descendentes de João Novelli, da esquerda para a direita: Norivaldo e Nanci (filhos de Washington Novelli), Flamínio e
frente a ele sua esposa Tereza Novelli (filha de Moacir Novelli), João (filho de Elsandro Novelli), Neise e Nerli (filhas de Was-
hington Novelli) e Dona Rina Spaloni, esposa de João Novelli. No fundo atrás de Nerli está Antônio Novelli, filho de João.

469
470
471
Lista de descendentes de Giovanni e Galzuinda
Até à 6ta geração.

Giovanni Battista Novelli, nascido a 25 de Fevereiro de 1855, Calcinaia, Pisa, Toscana, Italia, falecido
a 15 de Outubro de 1894, Sardina, Calcinaia, Pisa, Italia, enterrado a 16 de Outubro de 1894,
Calcinaia, Pisa, Toscana, Italia (com a idade de 39 anos) , dono de fabrica de cerveja.
Casado a 16 de Junho de 1888, São José do Rio Pardo, Sâo Paulo, Brasil, com Galzuinda Maria de
Araújo Macedo, nascida a 10 de Abril de 1872, São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais, Brasil,
baptizada a 13 de Junho de 1872, São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais, Brasil, falecida
a 9 de Outubro de 1924, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil (com a idade de 52 anos)
... tiveram :

 Gaspar Antonio, nascido a 6 de Março de 1890, São José do Rio Pardo, Sâo Paulo, Brasil,
falecido a 28 de Fevereiro de 1983, Valparaiso, Sâo Paulo, Brasil (com a idade de 92 anos) .
Casado a 1 de Maio de 1909, São Simão, SP, Brasil, com Maria Caramaschi, nascida
a 5 de Outubro de 1893, São Simão, SP, Brasil, falecida
... tiveram :
o Iracema, nascida cerca 1911, falecida a 26 de Maio de 1927, Campinas, São Pau-
lo, Brasil (com cerca de 16 anos) .
o Magnólia, nascida a 16 de Março de 1916, Serra Azul, Sao Paulo, Brasil, falecida
a 15 de Novembro de 2000, Valparaiso, Sâo Paulo, Brasil (com a idade de
84 anos) .
Com Huady NN.
o Abner, nascido a 5 de Novembro de 1931, Campinas, São Paulo, Brasil, falecido
a 12 de Outubro de 1997, Valparaiso, Sâo Paulo, Brasil (com a idade de 65 anos) .
Com Miriam NN
... tiveram :
 Miriam Aparecida.
Com Junior NN
... tiveram :
 Lígia Novelli.
 Diogo Novelli.
 Gaspar Antônio.
o Wanderley, nascido a 7 de Abril de 1928.
Com Jane Maria Nunes Ramos, nascida a 20 de Setembro de 1931, falecida
a 27 de Março de 2016 (com a idade de 84 anos)
... tiveram :
 Silvio Ramos, nascido a 13 de Fevereiro de 1953.
Com Neide Aparecida de Souza, nascida a 23 de Março de 1953.
Com Ana Tereza Dalcin Kern
... tiveram :
 Paula Kern, nascida a 12 de Abril de 1978.
 Silvia Kern, nascida a 18 de Maio de 1979.
Com Arturo Suman Bretas, nascido a 5 de Julho de 1972
... tiveram :
 Giovanna Novelli, nascida a 23 de Março de 2008.
 Fabrizio Novelli, nascido a 1 de Setembro de 2010.
 Ricardo Ramos, nascido a 12 de Junho de 1956.
Com Soraya Ruth Tafner, nascida (01 AUG)
... tiveram :
 Augusto Tafner, nascido (24 MAY).
Com Diany Mara Fernandes, nascida a 26 de Abril de 1985.
 Alexandre Tafner, nascido a 12 de Fevereiro de 1989.
Com Mariana de Morais.

472
o Esmeralda, nascida a 11 de Dezembro de 1922, falecida a 13 de Agosto de 2014
(com a idade de 91 anos) .
Com Clinton Morbeck, nascido a 15 de Setembro de 1921, falecido
a 12 de Maio de 2000 (com a idade de 78 anos)
... tiveram :
 Nathan Aparecido Novelli, nascido a 8 de Dezembro de 1944.
Com Ivete NN, nascida a 18 de Setembro de 1949
... tiveram :
 Vinícius, nascido a 28 de Abril de 1972.
Com Tatiana NN, nascida a 6 de Outubro de 1975
... tiveram :
 Matheus, nascido a 19 de Janeiro de 2004.
 Alexandre, nascido a 19 de Abril de 1975.
Com Tatiana NN, nascida a 27 de Julho de 1975.
 Thais, nascida a 20 de Setembro de 1977.
Com Junior NN
... tiveram :
 Isabella, nascida a 18 de Setembro de 1997.
 Ana Beatriz, nascida a 23 de Outubro de 2005.
 Joâo Vitor, nascido a 20 de Maio de 2008.
 Clinton Pessoa Morbeck Filho, nascido a 3 de Junho de 1947, falecido
a 13 de Outubro de 2003 (com a idade de 56 anos) .
Com Janete NN, nascida a 3 de Novembro de 1951
... tiveram :
 Tânia Morbeck, nascida a 10 de Abril de 1974.
Com Fernando NN.
 Raquel Morbeck, nascida a 30 de Junho de 1976.
o Gaspar Novelli Filho, nascido a 10 de Julho de 1934.
Com Maria Cecília Nayme, nascida em Junho 1940
... tiveram :
 José Marcos Nayme Novelli.
Com Andréia NN
... tiveram :
 Victor NN Novelli.
 Julia NN Novelli.
 José Gaspar Nayme Novelli, nascido a 6 de Março de 1962.
Com Ana Lúcia Romero, nascida a 14 de Junho de 1966
... tiveram :
 Ana Beatriz Romero, nascida a 11 de Agosto de 1991.
 Isabele Romero, nascida a 15 de Dezembro de 1993.
 José Luiz Nayme Novelli.
Com Nicolle NN
... tiveram :
 Noah NN.
o Nathan.
Com Maria Aparecida Colucci
... tiveram :
 Heloísa.
Com Ruy Pereira Oliveira
... tiveram :
 Marina Novelli.
Com Murilo Ribeiro
... tiveram :
 Pedro Oliveira.
 Lucas Oliveira.
 Gabriela Novelli.

473
 Amélia Marcia.
Com Marco António Ruiz Lopes
... tiveram :
 Marco António Novelli.
Com Maria Simoni
... tiveram :
 Isabella Simoni.
 Moacir Ubiratâ Novelli.
Com Marcia Mancuzzo
... tiveram :
 Victoria Mancuzzo.
 Melissa Mancuzzo.
o Ada.
Com Antônio Guimarâes
... tiveram :
 José Carlos Guimarães, nascido a 17 de Março de 1938.
Com Maria Iris Torres, nascida a 17 de Outubro de 1939
... tiveram :
 Moacir, nascido a 6 de Março de 1964.
Com Evange NN, nascida a 13 de Outubro de 1965.
 Paulo, nascido a 29 de Setembro de 1965.
Com Kaline NN, nascida a 20 de Outubro de 1981
... tiveram :
 Gui, nascido a 20 de Agosto de 2005.
 Alexandre Huady, nascido a 3 de Janeiro de 1970, falecido
a 15 de Fevereiro de 2017 (com a idade de 47 anos) .
Com Valéria NN, nascida a 27 de Fevereiro de 1977
... tiveram :
 Pedro, nascido a 23 de Fevereiro de 2017.
 Antônio Carlos Guimarães.
Com Vanilde NN
... tiveram :
 Cristina.
Com Gerson Mendonça
... tiveram :
 Erica.
Relacionada com ? ?
... tiveram :
 Joâo Victor NN.
 Antônio Carlos.
Com Neuse Aparecida Mazarini
... tiveram :
 Talita.
Com NN NN
... tiveram :
 Mary.
 André.
Com Marilene NN
... tiveram :
 Luciano.
 Andréia.
Com Julio NN
... tiveram :
 Raquel.
 Leandro.

474
 Maria Aparecida Guimarães, nascida a 17 de Agosto de 1939.
Com César Fernandes, nascido a 14 de Dezembro de 1938
... tiveram :
 Glaucia, nascida a 16 de Maio de 1964.
Com Luciano Rezende
... tiveram :
 Vinicius Fernandes de Rezende, nascido
a 19 de Março de 1992.
 Joâo Fernandes de Rezende, nascido
a 1 de Janeiro de 1996.
 Débora, nascida a 18 de Março de 1967.
Com Nelson Brunelli
... tiveram :
 Manuela Fernandes, nascida
a 29 de Novembro de 1994.
 Gabriel Fernandes, nascido a 28 de Julho de 1998.
 Rodrigo Guimarães, nascido a 17 de Setembro de 1971.
Com Ninfa E Fernandes, nascida a 1 de Dezembro de 1965
... tiveram :
 Maria Eduarda, nascida a 29 de Junho de 2000.
 Sofia, nascida a 23 de Setembro de 2005.
o Ofélia.
Com Clovis Negreiros
... tiveram :
 Maria José.
Com NN NN
... tiveram :
 Milton Fernando.
 Maria Fernanda.
 José Maria.
Com Denise NN
... tiveram :
 Tatiana.
 Diogo.
 João, nascido a 2 de Agosto de 1891, São José do Rio Pardo, Sâo Paulo, Brasil, falecido
a 5 de Novembro de 1960, Campinas, São Paulo, Brasil, enterrado
a 6 de Novembro de 1960, Cemitério da Saudade, Campinas, Sâo Paulo, Brasil (com a idade
de 69 anos) .
Casado cerca 1912, Itapira, São Paulo, Brasil, com Rina Spaloni, nascida em 1896, Itapira,
São Paulo, Brasil, falecida a 15 de Outubro de 1989, Campinas, São Paulo, Brasil, enterrada
a 16 de Outubro de 1989, Cemitério da Saudade, Campinas, Sâo Paulo, Brasil (com a idade
de 93 anos)
... tiveram :
o Moacy, nascido a 11 de Abril de 1914, Ribeirão Prêto, Sao Paulo, Brasil, falecido
a 25 de Abril de 1961, Campinas, São Paulo, Brasil (com a idade de 47 anos) .
Casado com Maria ...
... tiveram :
 Tereza.
Casada com N Flamínio.
o Desdemona Esther, nascida a 31 de Março de 1917, Ribeirão Prêto, Sao Paulo,
Brasil, falecida a 12 de Novembro de 2000, Espírito Santo do Pinhal, SP, Brasil
(com a idade de 83 anos) .
o Juraci, nascida a 4 de Outubro de 1921, Poços de Caldas, Minas Gerais, Brasil,
falecida a 17 de Junho de 1999, Campinas, São Paulo, Brasil (com a idade de
77 anos) .
Relacionada com ? ?
... tiveram :

475
 Tarcisio ....
o Dulce, nascida em 1923, falecida a 21 de Março de 1925, Campinas, São Paulo,
Brasil (com a idade de 2 anos) .
o Joâo Baptista, nascido a 6 de Junho de 1935, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil.
Casado a 21 de Maio de 1960, Campinas, São Paulo, Brasil, com Arminda
Botignon Fracini, nascida a 25 de Novembro de 1927, Campinas, São Paulo,
Brasil
... tiveram :
 Marco Antônio.
Com Rosa Maria Gut
... tiveram :
 Giovanni Gut.
 Mel Gut.
o Leonel, nascido a 21 de Maio de 1928, Itapiratiba, Sâo Paulo, Brasil.
Com Alzira de Souza, nascida a 6 de Junho de 1927, Canoas, Sâo Paulo, Brasil
... tiveram :
 Luiza, nascida a 29 de Janeiro de 1949.
Com Adilson Sanches Aguiar
... tiveram :
 Joâo Marcelo, nascido a 18 de Fevereiro de 1982.
 Ana Paula, nascida a 22 de Abril de 1985.
 Wilson de Souza Noveli, nascido a 5 de Novembro de 1951.
Com Elisabete Kurozawa
... tiveram :
 Gustavo Kurozawa Novelli, nascido a 1 de Maio de 1982,
Bauru, Sâo Paulo, Brasil.
 Camila Kurozawa Novelli, nascida a 29 de Junho de 1985,
falecida em 2002 (com a idade de 17 anos) .
 Marcelo Kurozawa Novelli, nascido a 8 de Junho de 1988.
Com ? ?
... tiveram :
 Valentina Kurozawa Novelli.
 Julia Kurozawa Novelli.
o Luiz Gonzaga, nascido a 14 de Maio de 1929, Mococa, São Paulo, Brasil, falecido
a 22 de Dezembro de 1948, Mococa, São Paulo, Brasil (com a idade de 19 anos) .
o Luis.
o Elsandro, nascido a 18 de Janeiro de 1916, Ribeirão Prêto, Sao Paulo, Brasil,
falecido a 3 de Setembro de 2012, Campinas, São Paulo, Brasil (com a idade de
96 anos) .
Com Teltina de Paula, nascida a 22 de Julho de 1917, Itamogi, Minas Gerais,
Brasilien, falecida a 11 de Setembro de 2004, Campinas, São Paulo, Brasil (com a
idade de 87 anos)
... tiveram :
 Eleaquina.
Com Walter Espíndola
... tiveram :
 Rogério Novelli.
Com ? ?
... tiveram :
 Lucas.
 Matheus.
 Leandro Novelli.
Com ? ?
... tiveram :
 Julia.

476
 Pedro.
 Luis Fernando Novelli.
Com ? ?
... tiveram :
 Letícia.
 João Novelli Neto.
Com Eidi Franco
... tiveram :
 Alexandre Franco Novelli.
 Sandro Franco Novelli.
Com X Gisele
... tiveram :
 Bianca.
 Livia.
 Alessandra Franco Novelli.
Com William "Novelli".
 Elisabeth.
Com Tércio Vicentin
... tiveram :
 Thiago Novelli.
Com Angela Perez Freitas Novelli Vicentin
... tiveram :
 Miguel Novelli.
 Fábio Novelli.
Com Andréa
... tiveram :
 Beatriz Novelli.
 Larissa Novelli.
 Daniel Novelli.
Com Nicole Bognone Simi
... tiveram :
 Luiza Bognone.
o Ivo.
o Ivone.
o Washington, nascido a 30 de Janeiro de 1919, Igarapava, Sao Paulo, Brasilien,
falecido a 4 de Janeiro de 1995, Mogi Guacu, Sâo Paulo, Brasil (com a idade de
75 anos) .
Casado, São Pedro da União, Minas Gerais, Brasil, com Olga Rodrigues, nascida
a 21 de Janeiro de 1923, Monte Belo, Minas Gerais, Brasil, falecida
a 5 de Abril de 2005, Paulínia, Sao Paulo, Brasil (com a idade de 82 anos)
... tiveram :
 Nanci Rodrigues.
Relacionada com ? ?
... tiveram :
 Juliana Bittencourt de Mello, nascida
a 30 de Janeiro de 1979.
Com Rodrigo Heydrich Ignacio, nascido
a 15 de Julho de 1979
... tiveram :
 Rafael Bittencourt Heydrich.
Com X Sielichow
... tiveram :
 Gabriel Bittencourt.
 Isabel Bittencourt.

477
 Carolina Bittencourt de Mello Alves.
Com Sergio Oliveira
... tiveram :
 Sergio Bittencourt.
 Karina Bittencourt de Mello.
 Norandir Rodrigues Novelli.
 Neise Rodrigues Novelli.
Com Marco Godoy.
 Nerci Rodrigues Novelli, nascida a 30 de Outubro de 1943.
Casada com Luiz Carlos Martins, nascido a 13 de Março de 1943
... tiveram :
 Fernando Augusto Novelli Martins, nascido
a 19 de Setembro de 1967.
Casado com Elaine Mari Moreno, nascida
a 19 de Fevereiro de 1972
... tiveram :
 Marcelo Moreno Martins, nascido
a 19 de Setembro de 1989.
Casado com Marina Nascimento, nascida em 1990
... tiveram :
 Eduardo Nascimento Martins, nascido
em 2020.
 Guilherme Moreno Martins, nascido
a 27 de Abril de 1995.
 Luiz Renato Novelli Martins.
 Marcelo Henrique Novelli Martins.
 Simone Cristina Novelli Martins, nascida
a 10 de Novembro de 1975.
Casada com Eder Muller Risso, nascido
possivelmente a 9 de Julho de 1978
... tiveram :
 Lucas Martins Muller Risso, nascido
a 6 de Setembro de 1995.
Casada com Welington Pereira do Nascimento, nascido
a 24 de Março de 1975
... tiveram :
 Marcela Martins do Nascimento, nascida
a 15 de Maio de 2003.
Casada com ? ?
... tiveram :
 Olívia Martins Ferreira, nascida
a 10 de Novembro de 2020.
 João Pedro Martins do Nascimento, nascido
a 1 de Julho de 2009.
 Nelson Ernesto Rodrigues Novelli, nascido a 27 de Julho de 1954,
Guaxupé, Minas Gerais, Brasil, falecido em 2021, Campinas, Sao Paulo,
Brasil (com a idade de 67 anos) .
Casado a 7 de Novembro de 1977, Campinas, Sâo Paulo, Brasil,
com Maria Cecilia Monteiro, nascida a 15 de Junho de 1953, Campi-
nas, Sâo Paulo, Brasil
... tiveram :
 Adriano Monteiro Novelli, nascido a 10 de Outubro de 1979,
Campinas, Sâo Paulo, Brasil.
Casado a 13 de Maio de 2006, Campinas, Sâo Paulo, Brasil,
com Roselaine Camargo do Nascimento, nascida em 1982,
Campinas, Sâo Paulo, Brasil
... tiveram :

478
 Layra Evelyn do Nascimento Novelli, nascida
a 2 de Agosto de 2006, Campinas, Sâo Paulo, Bra-
sil.
 Karen Heloisy do Nascimento Novelli, nascida
a 15 de Novembro de 2010, Campinas, Sâo Paulo,
Brasil.
 Alexandre Monteiro Novelli, nascido
a 10 de Outubro de 1984.
Casado com Marcela Marques, nascida
a 7 de Setembro de 1994
... tiveram :
 Miguel Marques Novelli, nascido
a 23 de Dezembro de 2013.
 Rafael Marques Novelli, nascido
a 7 de Dezembro de 2018.
 Ariene Cecília Monteiro Novelli, nascida
a 2 de Setembro de 1985, Campinas, Sâo Paulo, Brasil.
Casada, Nova Odessa (Campinas), SP, Brasil, com Giovane
da Cruz Moreira, nascido, Sao Paulo, SP, Brasil
... tiveram :
 Theodoro Novelli Moreira, nascido
a 11 de Julho de 2018, Nova Odessa (Campinas),
Sâo Paulo, Brasil.
 Norivaldo Rodrigues Novelli.
 Nerli Rodrigues Novelli.
Relacionada com ? ?
... tiveram :
 Monika Godoy Marcondes.
 André Godoy.
Com Vanessa Barbosa Godoy
... tiveram :
 Bruno.
Com Maria de Lourdes de Carvalho E Silva.
o Antonio.
Com Anildes Monteiro
... tiveram :
 Luiz Sérgio.
Com ? ?
... tiveram :
 Victor.
 Beatriz.
o Francisco Alexandre Arnaldo.
Com Cecilia Pereira
... tiveram :
 Dulce Valeria Pereira.
Com José Celli
... tiveram :
 Júlia Novelli.
 Valentim Sobrinho, nascido a 23 de Abril de 1893, São José do Rio Pardo, Sâo Paulo, Bra-
sil, falecido a 18 de Agosto de 1967, Ribeirão Prêto, Sao Paulo, Brasil, enterrado, Ribeirão
Prêto, Sao Paulo, Brasil (com a idade de 74 anos) .
Com Bibiana Alves
... tiveram :
o Vilma Therezinha.
Relacionada com Carlos Alberto Ribeiro da Nóbrega
... tiveram :
 Maria Helena Novelli de Oliveira.

479
 Pedro Aluísio Novelli da Nóbrega.
 Luis Valentim Novelli da Nóbrega.
Com Sandra Regina Ellio da Nobrega
... tiveram :
 Nathália Novelli.
Com Marcos NN.
o João.
Com Izolina NN
... tiveram :
 Jair.
 Rute.
o Ruth.
Com Francisco Carbone Calabres
... tiveram :
 Marco Antônio Novelli Carbone.
Com Elisa Schiavetto
... tiveram :
 Matheus Schiavetto.
 Erika Cristina Schiavetto.
Com Alex Rafael
... tiveram :
 Victor Schiavetto Carbone.
 Lucas Schiavetto Carbone.
 Alessandra Schiavetto.
 Luciana Schiavetto.
Com Fabio José Silva
... tiveram :
 Fabio Schiavetto Carbone.
Com N NN
... tiveram :
 Isis NN.
 Sandra Schiavetto.
Com N NN
... tiveram :
 José Miguel.
o Milton.
Com Ivana NN
... tiveram :
 Fernando.
 Fatima.
 Cristina.
o Odete.
Relacionada com Aristides Medeiros
... tiveram :
 Eugenio Novelli.
Com Neuza Maria Franzon
... tiveram :
 Jean Franzon.
Casado com Daniela Bednarczyk
... tiveram :
 Eduardo de Melo Medeiros.
 Jaqueline Franzon.
Casada com Murilo Scarulis
... tiveram :
 Gabrielly Medeiros.
 Enzo Scarulis Medeiros.

480
 Viviane Franzon.
 Cristiane Franzon.
o Edith.
Com Geraldo Fernandes de Oliveira, falecido antes de 2019
... tiveram :
 Sandra Maria de Oliveira Silva.
Com Claudio Silva
... tiveram :
 Andréa Claudia de Oliveira.
 Sandro Renato de Oliveira.
 Andressa Oliveira.
Relacionada com ? ?
... tiveram :
 Vinícius Oliveira Navarro.
 Sonia Maria.
Com Pedro Celso de Oliveira
... tiveram :
 Ricardo Celso.
Com Heloisa Rocha
... tiveram :
 Júlia Rocha.
 Mateus Rocha.
 Karla Luzie.
Com Alberto Lucio Cansado
... tiveram :
 Rayanne Novelli de Oliveira.
 Kauan Novelli de Oliveira.
 Otávio Lucio.
Com Karina Sanches
... tiveram :
 Henrique Sanches.
 Joâo Pedro Sanches.
 Karina Erica Oliveira Silveira.
Com Eduardo Silveira
... tiveram :
 José Roberto de Oliveira.
 Luanna de Oliveira.
 Ada Maria Brasilina, nascida a 1 de Junho de 1894, Bientina, Pisa, Toscana, Italia, falecida
cerca 1970, Bientina? Pisa, Toscana, Italia (com cerca de 76 anos) .
 Antônio, nascido a 18 de Junho de 1895, São José do Rio Pardo, Sâo Paulo, Brasil, falecido
a 15 de Junho de 1983, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil (com a idade de
87 anos) , Empregado e telegrafista na Companhia Mogiana, negociante e oficial de justiça
do Forum de Monte Santo.
Casado a 25 de Dezembro de 1915, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil, com Maria
Dolores Do Carmo, nascida cerca 1896, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil,
falecida a 8 de Junho de 1921, Ipoméia, Sâo Sebastiâo do Paraíso, Minas Gerais, Brasil
(com cerca de 25 anos)
... tiveram :
o Irene, nascida a 6 de Outubro de 1917, Casa Branca, São Paulo, Brasil, falecida
a 22 de Março de 2001, Pratápolis, Minas Gerais, Brasil (com a idade de 83 anos) .
Com Castorino de Sousa, Prefeito de Pratápolis, Minas Gerais
... tiveram :
 Francisco Novelli de Sousa, nascido a 3 de Julho de 1945, Pratápolis,
Minas Gerais, Brasil, falecido a 11 de Abril de 1992 (com a idade de
46 anos) , Veterinário, deputado estadual e prefeito de Pratápolis, Minas
Gerais.

481
Com Dineia Malaguti, nascida, Sâo Sebastiâo do Paraíso, MG,
Advogada e proprietária de cartório em Pratápolis
... tiveram :
 Francisco Antônio Novelli de Sousa Jr., nascido
a 14 de Setembro de 1975, Pratápolis, Minas Gerais, Brasil,
advogado.
 Fernanda, nascida a 19 de Maio de 1977, Pratápolis, Minas
Gerais, Brasil, Psicóloga.
Com Leonardo Tamaso
... tiveram :
 Maitê Malaguti Novelli, nascida
cerca Fevereiro 2013, São Paulo, São Paulo, Brasil.
 Luiza Malaguti Novelli.
 Franco, nascido a 4 de Fevereiro de 1982, Pratápolis, Minas
Gerais, Brasil
o Areocely, nascida a 19 de Julho de 1919, Jardinópolis, Sao Paulo, Brasil, falecida
a 11 de Julho de 2011, Campinas, São Paulo, Brasil (com a idade de 91 anos) .
Casada a 4 de Dezembro de 1940, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil,
com Luiz Monzo, nascido a 18 de Outubro de 1915, São Paulo, São Paulo, Brasil,
falecido cerca 1990, Campinas, São Paulo, Brasil (com cerca de 75 anos)
... tiveram :
 Marilene Novelli Monzo, nascida a 31 de Agosto de 1941, São Paulo,
São Paulo, Brasil.
Casada a 30 de Agosto de 1962, Campinas, São Paulo, Brasil,
com José Carlos Luporini, nascido cerca 1942, Campinas, São Paulo,
Brasil, falecido a 3 de Novembro de 2012, Campinas, São Paulo, Brasil
(com cerca de 70 anos)
... tiveram :
 Antonio Carlos Monzo Luporini, nascido
a 6 de Julho de 1963, Campinas, São Paulo, Brasil.
Com Luciana NN
... tiveram :
 Livia.
 Anna Celia.
 Maria Fernanda Monzo Luporini, nascida
a 6 de Julho de 1963, Campinas, São Paulo, Brasil, Zahnärz-
tin.
Com Marcos NN
... tiveram :
 Marcos Luporini, nascido a 19 de Julho de 1999.
 José Luiz Monzo Luporini.
Com Leila NN
... tiveram :
 Lucas.
 Tiago.
 Caio.
 Maria Elena Monzo Luporini.
 Maria Paula Monzo Luporini, nascida a 22 de Junho de 1966,
Campinas, São Paulo, Brasil.
 Magali Novelli Monzo, nascida a 28 de Fevereiro de 1947, São Paulo,
São Paulo, Brasil, Rechtsanwältin.
Com Joel Mendes Rennó, nascido, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
... tiveram :
 Joel Mendes Rennó Jr,, nascido a 21 de Maio de 1980, Rio
de Janeiro, Brasil, advogado.
Casado a 22 de Agosto de 2015, Rio de Janeiro, Brasil,
com Larissa Brito Nuzman.

482
 Juliana Mendes Rennó, nascida a 29 de Março de 1982, Rio
de Janeiro, Brasil.
Casada a 15 de Março de 2013, Rio de Janeiro, Brasil,
com Eduardo Postlethwaite Valle, nascido, Mexico
... tiveram :
 Filippa Postlethwaite.
 Eduardo Postlethwaite.
o Nelson, nascido a 4 de Janeiro de 1921, Aguaí, Sao Paulo, Brasil, falecido
a 1 de Julho de 2000, Campinas, São Paulo, Brasil (com a idade de 79 anos) ,
Restaurantbesitzer und Händler.
Casado a 27 de Maio de 1957, São Paulo, São Paulo, Brasil, com Luzia
Lanfranchi, nascida a 18 de Julho de 1930, Boa Esperança do Sul, Sao Paulo,
Brasil
... tiveram :
 Wilson Tadeu, nascido a 18 de Julho de 1955, Sâo Paulo, Brasil,
falecido, Rio de Janeiro, Brasil.
Com Nadir NN.
 Roberto Tadeu, nascido a 14 de Agosto de 1958, Sâo Paulo, Brasil,
falecido a 25 de Maio de 2020, Monte Santo de Minas, Minas Gerais
(com a idade de 61 anos) .
Com Renata Franco
... tiveram :
 Pedro Tadeu Franco-Novelli, nascido a 28 de Julho de 1983,
Campinas, São Paulo, Brasil.
Com Sanas Adham, nascida a 4 de Novembro de 1984, Hil-
desheim, Niedersachsen, Deutschland
... tiveram :
 Noah Pedro, nascido a 29 de Março de 2016, Berlin,
Deutschland.
 Maximilian Pedro, nascido
a 27 de Setembro de 2017, Berlin, Deutschland.
Com Eduvirges (Duda) NN
... tiveram :
 Isabella, nascida a 19 de Dezembro de 1996, Campinas, São
Paulo, Brasil.
 Dolores Aparecida, nascida a 12 de Outubro de 1960, Sâo Paulo, Bra-
sil.
Com Renato Bortolotto, nascido cerca 1960
... tiveram :
 Tamara Novelli Bortolotto, nascida a 17 de Outubro de 1991.
 Renato Novelli Bortolotto, nascido em 1998.
Casado a 22 de Abril de 1922, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil, com Antonieta
Lattaro, nascida a 2 de Junho de 1895, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil, falecida
a 12 de Março de 1971, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil (com a idade de
75 anos)
... tiveram :
o Galzoinda Lattaro, nascida cerca 1923, Monte Santo de Minas, Minas Gerais,
Brasil, falecida cerca 1923, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
o Jole, nascida a 29 de Janeiro de 1925, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Bra-
sil, falecida a 17 de Junho de 1981, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil
(com a idade de 56 anos) , professora.
Casada a 20 de Janeiro de 1964, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil,
com Armando da Cruz
... tiveram :
 Cristina Novelli da Cruz, nascida a 8 de Novembro de 1965, Monte
Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
Com Marcelo Bustos
... tiveram :

483
 Marcela Bustos Novelli da Cruz, nascida
a 18 de Fevereiro de 1986, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil.
Casada, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil,
com Daniel Vasconcellos
... tiveram :
 Maria Eduarda Bustos Novelli de Vasconcellos,
nascida a 4 de Novembro de 2002, Monte Santo de
Minas, Minas Gerais, Brasil.
 Marilia Bustos Novelli de Vasconcellos, nascida
a 16 de Março de 2007, Monte Santo de Minas, Mi-
nas Gerais, Brasil.
Com Rafael do Nascimento Silva
... tiveram :
 Hellena Novelli do Nascimento, nascida
a 30 de Agosto de 2019, Passos, Minas Gerais, Bra-
silien.
Com Adilson Rodrigues Cunha, nascido, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil
... tiveram :
 Paula Novelli da Cruz, nascida a 14 de Janeiro de 1990,
Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
Com Paulo Silas Ribeiro Junior
... tiveram :
 Lorenzo Novelli Ribeiro, nascido
a 15 de Fevereiro de 2017, Itaú de Minas, Minas
Gerais, Brasilien.
o Zilfa Lattaro Novelli, nascida a 23 de Novembro de 1926, Monte Santo de Minas,
Minas Gerais, Brasil, falecida a 14 de Maio de 2018, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil (com a idade de 91 anos). Diretora de escola.
o Zilda, nascida a 20 de Março de 1929, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Bra-
sil, falecida a 11 de Abril de 1993, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil
(com a idade de 64 anos).
Casada, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil, com Valdomiro Cecilio
... tiveram :
 Maria Antonieta Novelli Cecilio, nascida a 25 de Fevereiro de 1962,
Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
 Luiz Carlos Novelli Cecilio, nascido a 22 de Janeiro de 1963, Monte
Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
Com Rosa Castillo Puertas, nascida, Lima, Peru, Lebensmitteltechnike-
rin.
 Daniela Novelli Cecilio, nascida a 6 de Agosto de 1970, Monte Santo
de Minas, Minas Gerais, Brasil.
Com Marcos Francisco Caieiro, nascido a 13 de Dezembro de 1973,
Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil, Autozubehör-Händler
... tiveram :
 Gabriella Novelli Caieiro, nascida a 13 de Maio de 1995,
Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
o Maria José, nascida em Abril 1930, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil,
falecida em Agosto 1930, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil (com a
idade de 4 meses) .
o Luiz Carlos, nascido a 24 de Janeiro de 1934, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil, falecido a 23 de Novembro de 1934, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil (com a idade de 9 meses).
o Heider, nascida a 24 de Maio de 1935, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Bra-
sil, professora e supervisora.
o Luiz Antônio, nascido a 2 de Junho de 1937, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil, baptizado, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil, falecido

484
a 12 de Julho de 2021, Füssen, Ostallgäu, Bayern, Deutschland (com a idade de
84 anos) , Pintor e historiador.
Casado a 30 de Junho de 1969, Hammersmith, London, England, com Waltraud
Pfeiffer, nascida a 4 de Março de 1944, Schwangau, Ostallgäu, Bayern, Deutsch-
land
... tiveram :
 Juliano Pfeiffer Novelli, nascido a 29 de Novembro de 1972, Monte
Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
Casado em 2011, Füssen, Ostallgäu, Bayern, Deutschland, com Susan
Braunsdorf Novelli, nascida, Pulsnitz, Kamenz, Sachsen, Deutschland
... tiveram :
 Orlando Jaala Novelli, nascido a 25 de Fevereiro de 1999,
Füssen, Ostallgäu, Bayern, Deutschland.
Relacionado com Hanna Becker
... tiveram :
 Yaron, nascido a 10 de Fevereiro de 2022, Hohen-
schwangau, Schwangau, Ostallgäu, Bayern.
 Finn Luciano Novelli, nascido a 8 de Outubro de 2001, Füs-
sen, Ostallgäu, Bayern, Deutschland.
 Clara Jorinde Novelli, nascida a 12 de Setembro de 2008,
Füssen, Ostallgäu, Bayern, Deutschland.
 Rainer Pfeiffer Novelli, nascido a 27 de Junho de 1974, Monte Santo de
Minas, Minas Gerais, Brasil.
Casado a 7 de Abril de 1994, Füssen, Ostallgäu, Bayern, Deutschland,
com Veronika Moslavac, nascida a 7 de Maio de 1960, Esseg, Osijek-
Baranja, Croácia
... tiveram :
 Lukas Haedon, nascido a 7 de Março de 1995, Füssen, Ost-
allgäu, Bayern, Deutschland.
Com Konstanze Mackert
... tiveram :
 Luna Theresia Mackert, nascida
a 16 de Janeiro de 2012, Füssen, Ostallgäu, Bayern,
Deutschland.
Com Lara Armaiti Philipp
... tiveram :
 Sraosha Widukind Hiltebold Philipp, nascido
a 26 de Abril de 2018, Pinswang, Österreich.
 Aurora, nascida a 18 de Março de 1996, Füssen, Ostallgäu,
Bayern, Deutschland.
 Jolanda, nascida a 29 de Novembro de 1997, Füssen, Ostall-
gäu, Bayern, Deutschland.
 Raphael Rodrigo, nascido a 27 de Fevereiro de 2002, Füs-
sen, Ostallgäu, Bayern, Deutschland.
Relacionado cerca Setembro 2014, Füssen, com Roxana Reyes,
nascida a 1 de Julho de 1985, Leipzig, Sachsen, Deutschland
... tiveram :
 Marimba Maria Borbeth Reyes, nascida
a 4 de Dezembro de 2015, Pinswang, Österreich.
 Shangawa Reyes, nascido a 11 de Junho de 2018, Pinswang,
Österreich.
 Rosula Regina Reyes, nascida a 17 de Outubro de 2020,
Füssen, Ostallgäu, Bayern.
o Edson Cleber, nascido a 21 de Agosto de 1940, Monte Santo de Minas, Minas
Gerais, Brasil, falecido a 18 de Agosto de 2013, São Sebastiâo do Paraíso, Minas
Gerais, Brasil (com a idade de 72 anos) professor e supervisor de ensino.
Casado cerca 1980, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil, com Maria do
Rosario Paulino da Costa, nascida a 26 de Dezembro de 1931, Monte Santo de

485
Minas, Minas Gerais, Brasil, falecida a 1 de Dezembro de 1987, Monte Santo de
Minas, Minas Gerais, Brasil (com a idade de 55 anos)
... tiveram :
 Maria do Rosario Paulino da Costa Novelli, nascida
a 14 de Janeiro de 1983, Monte Santo de Minas, Minas Gerais, Brasil.
Casada, London, England, com Philip Rose
... tiveram :
 Isabella Novelli Rose, nascida a 27 de Março de 2020, Lon-
don, England.
Total: 306 pessoas (cônjuges não incluídos).

486

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