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M3 ~Agora facgo eu WESREEE (Miguel Toraa) Leia o poema. SiSIFO' Recomega... Se puderes, ‘Sem angustia e sem pressa E 0s passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro, Dé-os em liberdade. Enquanto nao alcances Nao descanses. De nenhum fruto queiras s6 metade. E, nunca saciado, Vai colhendo llusGes sucessivas no pomar. ‘Sempre a sonhar E vendo, Acordado, © logro? da aventura. Es homem, nao te esquecas! $6 6 tua a lououra Onde, com lucidez, te reconhegas. Questées-tipo de exame ‘Miguel Toga, Anoiogl Postion, Diéro XI, 1977, Coimbra, p. 46. (0 mito de Sif, consierado oma asta dos mortals, narra a historia de um homem condenado a um trabalho rot ei efnterminsvelempurra una pede até ao cume de rma montana, as, quase ating ose objetivo, peda rola pela montana abainoe Sisifo tem de waltara execstar trabalho. Fengane, sel Relacione o titulo com o sentido do poema, Explique a relacéio sonho/realidade presente na segunda estrofe. Explicite 0 sentido dos dois uitimos versos, tendo em conta a globalidade do poema. A Exercicio 2 MUseerees Leia o poema, ODE" PARA 0 FUTURO Crepdisculo dourado, Frases calmas. Gestos vagarosos. Miisica suave. Pensamento arguto. Subtis sorrisos. Paisagens deslizando na distancia, Eramos livres. Falavamos, sablamos, @ amévamos serena e docemente. Uma angiistia delida’, melancdiica, sobre ela sonhareis. Eas tempestades, as desordens, gritos, 10. violencia, escérnio, confuséo odienta, primaveras mortendo ignoradas has encostas vizinhas, as prises, as mortes, 0 amor vendido, as lagrimas e as lutas, 15 o desespero da vida que nos roubam —apenas uma angistia melancélica, sobre a qual sonhateis a idade de olro. E, em segredo, saudosos, enlevados, falareis de nés — de nds! — como de um sonho. sJowpe de Sena, Possia |, 2" 06, Lisboa: 1977p. 14%, ‘composiio podtca de assuntedlvado; canto 2 desranssia 1. Indique o tema do poema, fundamentando a sua resposta, 2. Caracterize a geragao do sujeito postico tal como ela é apresentada no poema, 3. Explique 0 titulo do poema, relacionando-o com a ultima estrote. FESR (ecenio de Andrade ) Lela o poema, AS PALAVRAS So como um cristal, as palavras. i Algumas, um punhal, uum ine8ndio, | 5 Outras, 1 orvalho apenas. { | Secretas vém, cheias de meméria. Inseguras navegam: barcos ou beljos, io as Aguas estremecem, Desamparadas, inocentes, eves, Tecidas sao de luz e sdo a noite. 15 Emesmo pailidas verdes parafsos lembram ainda. Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras? Eugério de Andtade, Corapdo do Dis ~ Mar do Soler, [Usboa: Asso & Alvin, 2073.13. 1. Explicite a forma como 0 poema esta estruturado. | |" 2, Identifique @ explique o valor do recurso expressivo presente nos versos 1 @ 2. 3. __Indique os aspetos formais que aproximam este poema das formas tradicionais da poe- sia portuguesa { ( i SSD Exerci 2. BG Alexandre O'Neil) Lela o poema. AUTORRETRATO ‘O'Neill (Alexandre), moreno portuguas, cabelo asa de corvo; da angiistia da cara, rrariguete que sobrepuia de través a forida desdenhosa e ndo cicatrizada. Se a visagem de tal sujelto € 0 que vés {omita-se o olho triste a testa luminada) © relralo moral também tem os seus qués (aqui, uma pequena frase censurada...) No amor? No amor eré (ou no fosse ole O'Neil!) jg tema veleidade de o saber fazer (pois amor nao ha feito) das manefras mil que so a semovente estatua do prazer. ‘Mas sore a ternura, bebe de mais e tse do que neste soneto sobre si mesmo disse. ‘Aerandre ONell, Poesias Comletas (7951/1986), Lisbca: INCOM, 1096, p. 18. A partir da leltura dos seis versos iniciais do poema, caracterize fisicamente 0 sujeito posto. Explicite dois tragos morais do “eu a partir da leitura do poema. Explique os dois versos finais do poema. EEE tonic Ramos Reval] Leia o poema, NAO POSSO ADIAR 0 AMOR PARA OUTRO SECULO. No posso adiar o amor para outro século ndio posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que écio estale @ crepite ¢ arda sob montanhas cinzentas © montanha cinzentas Nao posso adiar este abrago que é uma arma de dois umes amor e édio 253 2 3. 1 3, 10 Nao posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas, © a aurora indecisa demore no posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor 15 nemo meu grit de libertacao Nao posso adiar 0 coragao Aniénio Ramos Rosa, Viagem através dma Nebulosat in Poesia Prosente ~Antloga, Usbow Asiio& Av, 2014, 0.39. Explicite a concego de poeta construfda no poema, Indique o valor expressivo das varias repetig6es, ao longo do poema. Identitique dois recursos expressivos presontes nos versos 3 @ 4 @ explique o respetivo valor exprassivo. [ReGen (Herbero Helder) Leia o poema, AUTORRETRATO hoje, que eu estava conforme ao dia fundo, fume a reler alguns dos meus poemas, @ entéo caf abaixo de mim mesmo, e era $6 0 que faltava: 5 safara’ safra® nem as mos me serviam, nem a dor escrita @ lida me serve para nada Herberte Holter, Sawidtes, Lisboa: Assiro & Alm, 2013, 9.64 "terreno chen de pesdegutbo mio 2 eabalhe inten Caracterize 0 sujeito poética no contexto do poema apresentado. Indique duas particularidades deste texto que o caracterizam como um pooma do séoulo XX. Identifique uma marca de intertextualidade presente no poema, Lela o poema, © PORTUGAL FUTURO © portugal futuro é um pais aonds 0 puro passaro possivel @ sobre oleite negro do asfalto da estrada as profundas criangas desenhardo a giz esse peixe da infancia que vem na enxutrada ‘@ me parece que se chama sével Mas desenhem elas 0 que desenharem 6 essa a forma do meu pais e chamem elas o que he chamarem 10 portugal serd e Id serel feliz Poderd ser pequeno como este tor a oeste o mar @ a espanha a leste tudo nele serd novo desde os ramos & raiz A sombra dos platanos as criancas dangartio | 1s. ena evenida que howver & beira-mar pode o tempo mudar sera verdo Gostaria de ouvir as horas do relégio da matriz. ‘mas isso era o passado e podia ser duro | edificar sobre ele o portugal futuro uy Bolo, dos ae posmas, Lisboa: Asso & Alvin, 2000, p.3, 4. Indique uma razao para o facto de a palavra “portugal” surgir no poemna grafaca com mindscula, Explicite a simbologia da “orlanga; explicando o papel que the 6 atribuido no poema & relacionando-o com o verso 2. Explique 0 sentido do verso 16 dentro do contexto do poema. 256 Leia o poema, SOBRE UM MOTE DE CAMOES Se me desta terra for 6u vos levarei amor. 0 Nem amor deixo na terra, que deixando levarei. Deixo a dor de te deixar nna terra onde amor no vive na que levar levarel 6 ‘amor onde sé dor tive. Nom amor pode eer livre se nao hé na terra amor, Deixo a dor de nao levar @ dor de onde amor no vive. E levea terra que deixo ‘onde deixo a dor que tive. Na que levar levaret este amor que é livre livre. Manuel Alsgre, $0 anos de poesia, Lisboa: Dom Quixote, 1997p. 78 Explique o titulo, tendo em conta o sentido global do poema. Indique dois aspetos da tradigdo tIrica portuguesa presentes no texto, Identifique quatro recursos que contribuem para a masicalidade do poema, (Luiza Neto Jorge) Leia o poema, DESINFERNO It Cafsse 2 montanha @ do oito 0 britho © meigo jardim abolisse a flor ‘Amae desmoesse as carnes do filho Por botéo de video se fizesse amor 5 © livro mortesse, a obra parasse ‘Soasse a granizo o que era alegria A porta do ar se calafetasse Que eu de amor apenas ressuscitaria Lulza Nelo Jorge, Poesia, 2 ed, Lishos:Aasto & Alm, 2001.9. 247 Explique a wlayau que se eslabulavy erie v Uiluly € 0 poeta Catacterize 0 cenétio deserito, apoiando-se em elementos textual. Explicite relagdes intertextuais que o poema estabelece com a tradigao literéria portuguesa. PEGI (Vasco Graca Moura) | | Leia © poem. vei SONETO DO SONETO catorze versos tem este soneto : de dez silabas cada, na contagem : métrica portuguesa; de passagem, ‘o esquema abba da esqueleto 0s versos do comego: a engrenagem i podia ser abab, mas meto | aqui baab: destarte, preto | i no braneo, instabilizo a sua imagem, : teria, isabelino!, uma terceira s 10 quadra cde ee final, | : em vez de dois tercetos, com quilate ' : sempre de ouro no fim, de tal maneira P porém o engendrei continental, que em duplo cde tem seu remate. ‘Vasco Graca Moura, Poesla 2001/2006, Lisbea:Cloulo de Lelores, 2007. 286 ‘Referénca a cone inglés ou shakespearians com més quadeas¢ wm dsticerimado (cf. “sonetoisbelino” vr “tone continent, Explique 0 titulo @ relacione-o com 0 contetido do poema, 2. Identifique no poema marcas de intertextualidade. i 3. __Indique o sentido das expressdes em itdlico, | EGER (uno Juice) Anélise de um poema Lela o poema. F POETICA Quero que 0 meu poema fale de barcos e de azul, fale do mar e do corpo que o procura, fale de passaros € do céu em que habitarn. Quero um poema puro, impo do lixo das coisas banais, das contaminagdes de quem ‘6 olha para o chao; um poema once o sublime nos toque, o postico seja a palavra plena. E este poema que escrevo na pagina branca como a parede que acabou de ser calada, com as suas imperfeigdes apagades pela luz do dia, ¢ um reflexo de sol 10 agritar pela vida. E quero que este poema desoa as caves onde a miséria se acumula, aos bancos onde dormem os que no tém teto nem esperanca, 5 mesas sujas dos restos da madrugada, as | ‘esquinas onde a mulher da noite espera o uitimo 15. cliente, ao desaspero dos que nao sabem para onde fugit quando a morte hes bate & porta. E canto i j a beleza que sobrevive as frases comuns, as palavras sujas pelo contemporaneo dos mediocres, aos versos desiavados de quem nunca ouviu 20 0 grito do anjo. E digo isto para que fique, no poema, como a peda esculpida por um fogo divino. Nuno Jisiee, A Marla do Poama, Lisbos: Dom Quiet, 2008, p. 11 Explicite a rolagdo que se estabelece entre o sujeito postico e 0 poema. Identifique os versos que demonstram a elevagao do poema ¢ justifique a sua escolha. 3. Explique como o sujeito concebe o ato de construcéo do poema. ! | ase ‘Andlise de um poema Lela o poema SONETO CIENTIFICO A FINGIR Dar 0 mote ao amor. Glosar o tema | tantas vezes que assuste o pensamento, Se for antigo, seja. Mas & belo como a arte: nem titil nem moral. Que me interessa que seja por soneto ‘em vez de verso ou linha devastaca? O soneto é antigo? Pois que seja: também o mundo é e ainda existe. 86 ndo vejo vantagens pela rima. Dir-me-&o que ¢ limite: deixa ser. ‘Se me dobro demais por ser muther (esta rimou, mas fol s6 por acaso) Se me dobro demais, dizia eu, néio consigo falarme como devo, 15 ou Seja, na mentira que é 0 verso, ou seja, na mentira do que mostro. E se 6 soneto coxo, nao faz mal. E se ndo tem tercetos, paciéncia: j dar 0 mote ao amor, glosar 0 tema, | @ depois desviar. Isso 6 ciéncial | ‘Ana Lutea Amaral, E mufos os cambios, Port: Posts das Less, 1995, p. 95 1. Identifique das marcas de registo coloquial no poema. Explique a utiizaao do discurso parentético no poema, Explicite a concagao de arte poética presente no poema. Propostas de resolugao Exercicio 1 - Miguel Torga 1 CO titulo deste poema evoca uma personagem mitica. No mito de Sisifo, a personagem 6 condenada a realizar eternamente uma ago sem qual- quer resultado, pois devera transportar uma pedra até ao cimo de uma montanha que, de imediato, caird. A referéncia a este mito simbo- liza a inutllidade do esforgo, o constante rein’ cio infrutifero, 0 trabalho ingléro. Neste poema, faz-se uma aproximagao entre o trabalho de Sisifo e a condigao humana, pois, & semelhanga de Sisifo, o Homem 6 obrigado reiniclar constantemente os seus desatios e, muilas vezes, fracassa. Contudo, 6 a capaci- dade de superagao e de persecugao do sonho que deve alimentar 0 ser humano; “Es homem, no te esquecas!” Este poema 6, assim, um incentivo para o Ho- mem ultrapassar os obstéculos e continuar a sonhar, pois 6 essa condigo que Ihe confere a dignidade. ‘Ao longo da segunda estrofe deste poema, en- contramos referéncias & oposicao sonholreali- dade que se consubstanciam na dualidade: dosojo de vencer / superagio do fracasso. Efetivamente, no poera, esta bem expresso 0 facto de o sonho constituir 0 motor que faz 0 Homem lutar @ contornar os obstéculos para atingi © que aspira: “Sempre a sonhar! No en- tanto, a realidade, no texto, é conotada com a concretizagio € com 0 fracasso: "O logro da aventura Em suma, 0 pooma veicula a ideia de que a vida humana é um constante recomego a cada momento. A condigéo humana é a superagao do ciclo sonho/fracasso/sonho. (Os versos finais do pooma podem ser associa~ dos & oposi¢ao sonho/realidade. Assim, a “loucura” do Homem 6 a sua capaci- dade de superacdo, que se consubstancia no facto de no desistir de sonhar. O Homem deve, pois, assumir essa “loucura’ com “luci- dez! com a noo concreta da realidade para ser bem-sucedido, $6 esse percurso Ihe permi- tira conhecer-se a si prdprio e superar as suas limitacdes, Concluindo, 0 sujeito, neste poema, rellete so- bre a condigao humana e apresenta a forma de ‘0 Homem se “reconhecer’ na sua hurhanidade, Exercicio 2 - Jorge de Sena 1 © poema apresentado glorifica a gera que pertence o sujeito postico e reflote g feito das suas agdes na geragao futura, Assim, podemos considerar que o tem: poema 6 um louvor & sua geracéo, coma, monstra a repetigao da expressao: "Falarsig 1n6s" no inicio e no final do poema. Na 1g dade, 0 sujeito enaltece a sua geragdio e: gra-se nela, através da utlizacéo da pr pessoa do plural, realgando a nostalgia q sentird a geraco futura por nao ter vivide mesma luta pela liberdade. Em suma, a imagem do poeta ¢ a de alg que luta contra um pais opressivo e sem li dade, ‘A geragao do sujeito postico ¢ caracteri no pooma, pela sua excecionalidade na vi cia de uma situacao de profunda crise de at séncia de liberdade, Mesmo numa situagao adversa, apesar de das as lutas, angiistias @ tormentos, 0 % rico earactoriza a sua goracao como a Nid de oiro! visto que foi uma geragao que lute pela liberdade e soube viver livremente m periodo de ditadura: “Eramos livres. Fala mos, sabfamos, / @ amvamos serena e do mente? Em suma, 0 facto de a geragao do suieito po tico ter vivido um periodo adverso, como di monstra a terceira estrofe do poema coi releréncias a luta politica, & violéncia, & pris a0 exilio @ & "vida" roubada, tornou-a uma @ rago exemplar e emblemética para as ge (Ges futuras. titulo deste poema é extremamente expr sivo, na medida em que o sujeito recorte forma tradicional da ode, poema de elogio exaltagéo, para enaitecer a sua geracio, val zando a visdo que a geraglo futura teré dela Deste modo, o titulo constitui uma fuséo et passado (‘ode’) futuro ("para o futuro’) 0.4 confere interporalidade & mensagem d0 poema. Assim, como realga a sitima este serd com enlevo @ saudade que as geraga futuras recordarao a agao da geragao do % ‘evocando-a “como de um sonho! No fundo, & poema realga a importancia da vitalidade forga da sua geracdo enquanto construtora uma sociedade live. Em suma, 0 sujeito reclama essa lembranga e repete orguihosamente “falareis de nés — de nos! rcicio 3 - Eugénio de Andrade ‘apse a leitura do poema, podemos verificar que © texto constitui uma procura de sentidos & uma interrogagao reflexiva sobre o que as pa- lavras sf, a partir da metafora do cristal ‘Assim, 0 pooma comega com uma definigdo termina com varias interrogagdes. A medida que © sujeito reflete sobre as palavras que to em © poema, vai-se apercebendo do que as palavras mostram @ do que escondem: "Teci- das S80 do luz / @ so a noite” (vy. 13-14). As interrogagses finais perspetivam a relagao do ser humano com as palavras. Em suma, 0 poema estrutura-se numa légica progressiva e de reflexdo a partir de uma defi- igo que se pretende provar como verdadeira. Estes versos constituem uma tentativa de defi- rigdo das palavras através de uma metafora Através deste recurso expressivo, pretende-se realgar 0 caréter multifacetado e contraditério das palavras. Na realidade, perante a dificul- dade de definir “as palavras’ o sujeito recorre 20 cristal e ao seu efeito perante a projecao de luz para evidenciar 0 carater polissémico das palavras. Coneluindo, a palavra possui varios sentidos, tal como o cristal possul varias faces. ‘Apés a leitura do poema @ conhecendo 0 seu autor, verificamos tratarse de um texto de um poeta contemporéneo. Sabemos, no entanto, que a poesia do século XX revisita constante- mente temas e formas abordados na tradigaio literaria portuguesa. Deste modo, este pooma inscreve-se nas for mas tradicionais da poesia portuguesa pela estrofe escolhida, nomeadamente a quadra, & pelos versos curtos, pelo ritmo e pela musical- dade. Em suma, a estrutura externa apresenta algu- mas marcas da tradi¢ao postica. Exercicio 4 - Alexandre O’N 1 A partir da leitura dos versos inicias do poema, odemos inferir alguns tragos psicolégicos do sujeito postice, embora a caracterizacao seja predominantemente fisica Assim, 0 "ou" afirma ser moreno e ter uma ma- deixa negra no cabelo ("cabelo asa de corvo"), um nariz mal delineado, um olhar triste @ uma testa “iluminada Na verdade, este autorretrato mais se aproxima de uma caricatura, 0 que re~ vela a pouca importancia alribuida pelo sujeito a0 seu retrato fisico. Em conclusao, 0 autorretrato acaba por ter ‘uma conotagio cémica, quase ridicula, © poema, come o titulo indica, traga um retrato do sufeito postico, muito mats psicolégico do que fisico, embora sejam enumeradas varias caracteristicas fisicas. Assim, na aparente autodescrig&o fisica do “eut transparecem caracteristicas psicolégicas: na cara parece surgir a angustia, desdenha de si proprio © 0 sou olhar 6 triste. Na realidade, este retrato desvenda caracteris- ticas morais do sujeito entrevistas nos aspetos fisicos destacados. O facto de 0 “eu” se autoa- nalisar de forma jocosa realga um sentimento de uma certa superioridade e até desdem. Dito de outro modo, 0 “eu nesta caricature, evidencia a capacidade de se analisar @ de se rir de si proprio. Nos versos finais 0 sujeito adota uma postura explictamente irénica ao evidenciar que se ri do autorretrato que acabou de esbocar. Assim, alerta 0 leitor para o facto de este re- trato nao corresponder inteiramente a verdade, uma vez que foi extremamente autocritico na descricao que fez de si proprio. E de notar, ainda, a antitese presente na expresso “sotre de ternura’ Desta forma, 0 “eu” explica que & uma pessoa sensivel e que valoriza o afeto dos outros, mas que este posicionamento Ihe ‘raz, muitas vezes, sofrimento, Em suma, estes versos condensam a mensa- gem final do poema e a visao critica e reflexiva ue 0 sujeito tem de si proprio. 261 Propostas de resolucao Propostas de resolucao Exercicio 5 - Anténio Ramos Rosa 1. Ossujeito poético assume-se, neste texto, como um poeta, Assim, 0 “eu’ lirico, pela sua condicao de posta, 6 alguém que nao pode pactuar com si- tuagdes de injustica, tem obrigagao de intervir socialmente e ndo se pode demitir de gritar, “ainda que o grito sufoque na garganta’ Deste modo, 0 poema e a palavra séo as suas armas de combate. ‘Ao longo do poema deparamos com varias re- petigBes, frequentemente, na forma negativa. Autlizagao da frase na negativa realga 0 posi- clonamento de dentncia @ de intervencao que 0 sujeito adota, como parece ser evidente em “nao posso adiar para outro século a minha vida’ Para além disso, embora a expressao ‘Ao posso adiar" se mantenha, ao longo do pooma, salientando a urgéncia da intervengao, ‘a expresséo vai variando de forma gradativa, ‘em crescendo, para culminar em “Nao posso adiar 0 coragao? Em conclusaio, as constantes repetigées neste pooma reforgam a urgéncia © a necessidade de valorizar os sentimentos @ 0 que verdadei- ramente é importante, numa sociedade cada vez mais automatizada e alhela aos valores ticos e morais, (Os versos 3 @ 4 apresentam uma construgao anatérica e simbdlica que enfatiza a mensa- gem do poema, Assim, 0 sujeito realca a importancia da exis- téncia do “grito” de dentincia. Mesmo tendo cconsciéncia de que 0 efeito nao serd imediato, ‘como comprova a repetigao da expressao “ainda que? o poeta tem de assumir a sua fun- go de delator. Na expressao 0 “édio estale 6 crepite e arda’ esta ainda presente uma grada- ‘edo crescente, marcada pela utiizagao do po- lissindeto, que simboliza o facto de 0 édio estar disseminado pela sociedade e esse processo ‘ser muito répido, facto que é sugerido pela me- téfora do fogo a espalhar-se numa floresta. Em suma, sao varios os recursos expressivos presentes nestes dois vorsos que realgam a ecessidade imperiosa de mudar de rumo e 0 papel privilegiado do poeta nessa mudanca. Exercicio 6 - Herberto Helder 1 A partir da leitura do poema, podemos carsot rizar 0 sujeito poético como alguém que sume 0 papel de construtor do préptio poo Assim, 0 “eu” lirico apresenta-se como uf poeta que revisita os seus texlos € 05 [8 6 rel hum processo individual de producao @ ‘ecg (40 de texto circular: “ful-me a reler alguns dg meus poemas” Esta releitura confronta-o com poema escrito, “puzzle” resultante de um tray Iho drduo que nao acalma a sua inguietag “safara safra /—nem as maos me serviamn? Concluindo, o sujeito, consciente da comp dade da escrita do poema, revisita 0 que escre veu anteriormente, no entanto, de pouco | serve: “nem dor escrita e lida me serve par nada’ Neste texto encontramos varias marcas que caracterizam como um poema do século XX. Assim, a poesia deste século caracterizas pela revistagao da tradigao literaria © con: quente subversao de modelos. Deste mode neste poema, encontramos a procura da ino G40 formal com a predomindncia da irregula dade; a transgressao na lingua com a auséne da maiiscula inicial do verso; e a reflexao tapoética. Em suma, 0 sujeito poético, a medida que constréi 0 poema, assume-se como um que relé @ reflete sobre o seu proprio poem: No final deste poema, encontramos um marca intertextual que remote para a po pessoana e se inscreve numa reflexao met poética, Na verdade, 0 sujeito, no ultimo verso, refer “dor escrita e lida” numa alusdo ao poema topsicogratia de Fernando Pessoa, e & 3 arte postica. Deste modo, 0 “eu lrico assur neste poema, a reflexio sobre a sua arte pos tica, retomando a tradigao litica nacional. Este poema constitul, entéo, uma revisitaga do fingimento podtico assumido pelo ort6nil como a sua arte postica, cicio 7 - Ruy Belo O pals referido neste poema nao existe no mo- nto da escrita, mas vird a existir no hori- nite futuro do sujeito postico. “eu” acredita num pais “novo; onde gr ‘verio" @ onde se pode ser “feliz? por opo- ico ao pais imerso na opressao da ditadura selazarista. Deste modo, Portugal surge no poema grafado com mindscula porque esse pais evocado no poema seria outro. Desta forma também se sugere que nao se trata de ssenhar uma imagem idealizada e grandiosa pais, & semelhanga da vertente propagan- d{stica do Estado Novo, mas antes atribuir a portugal’ uma imagem verdadeira e merecida por todos os portugueses. :m suma, 0 poema apresenta uma vertente de intervengao civica importante que se pode in- ferir a partir da grafia subvertida da palavra *portugatt Este pooma esté carregado de valores simbol Fos, como € 0 caso das referéncias a “crian- gas! ao longo do poema, ¢ a “puro péssaro’ no verso 2 Deste modo, a crianga representa a garacdo futura de portugueses que vai construir um pais mais justo, mais livre e melhor do que ‘aquele que existe aquando da ditadura do Es- ado Novo: ‘portugal sera e Id serei feliz” refe- ‘Encia a0 "puro passaro” sé serd possivel no futuro, pois no momento da escrita Portugal 6 autoritario e imperfeto. Esta ave representa a lberdade no seu sentido mais amplo e étic. Assim, 0 sujeito recorre a estes elementos sim- bolicos para realcar a valorizagao da pureza, da inocéncia e da liberdade como verdadeiros valores fundadores de uma sociedade mais equilibrada e melhor para todos. © verso 16 (“pode o tempo mudar serd verao") ‘raduz a verdadeira mensagem do poema. 0 "ou Irico realga o imperative de mudanga de ue 0 pais necessita. O “vedo” neste contexto apela & bonanga, ao conforto, & harmonia en- tre os homens. A mensagem do sujeito é que ‘Sera sempre verao, mesmo que as estacdes mudem, Em conclusdo, na perspetiva do “eu 0 novo “portugal” deveré ser construldo com novas ideias, com novas instituigdes e novos cida- dos, Exercicio 8 - Manuel Alegre 1 © titulo do pooma apresenta uma leitura inter- textual com a lirica tradicional de Luis de Ca- moes. O titulo permite de imediato ao leitor perceber a recuperacio de um mote desenvalvido por Camées numa das suas redondilhas. Os dois primeiros versos do poema constituem 0 mote que o titulo anuncia: "Sobre um mote de Ca- mbes! Assim, este poema do século XX, de uma forma subversiva, retoma um mote camoniano @ desenvolve 0 poema de uma forma total- mente diferente, embora mantenha o jogo de palavras caracteristico dos vilancetes ¢ canti- gas, Conciuindo, 0 titulo ajuda o leitor mais incauto a perceber a intertextualidade com a obra do poeta do século XVI Este poema recupera varios aspetos da tradi- a0 lirica portuguesa, nomeadamente o jogo de palavras e de opostos: “deixar'/evar “amor’rdor’ © poema, pela recuperacdo do mote @ pelo proprio tema, o amor, esté na linha da tradigao ‘trovadoresca e da poesia camoniana, Por outro lado, sob 0 ponto de vista formal, 0 verso de redonditha constitui também uma recuperagao da métrica utilizada por Camoes. Em suma, este poema constitui um bom exern- plo de intertextualidade entre a poesia do sé- culo XX e a tradigao literéria nacional. A partir da leitura do poema, verificamos que existem varios fatores que contribuem para a sua musicalidade. Assim, a utilizagao da quadra rimada e do verso curto de redondilha conferem ao poema um ritmo dangante. Para além destes aspetos, 0 jogo de palavras (‘deixo a dor de te deixar’), as repetigoes (‘amor’ “dor’ “terra’) @ a alter- nancia entre rima cruzada e emparelhada contribuem para um jogo de sonoridades ca- denciado. Em conclusao, o ritmo deste poema evoca as. cantigas da lirica trovadoresca, que sempre estiveram associadas & misica. Propostas de resolucao Propostas de resolucdo Exercicio 9 - Luiza Neto Jorge 1 CO titulo deste poerna apresenta com 0 desen- volvimento uma relagio de aparente oposicao. A palavra que constitui 0 titulo € um neolo- cgismo construido a partir de um prefixo que in- dica negacao (des-) e da palavra inferno. Assim, 0 vocdbulo “desinferno” sugere um co- nério que se afasta do conceito de inferno. No entanto, 0 cenario descrito no poema é caético. Nesta descoincidéncia consiste a oposigao entre 0 titulo e 0 contetido do texto. Por outro lado, no final do poema, 0 “eu” inverte 0 caos descrito, cantando 0 poder do amor ressusci tado: “Que eu de amor apenas ressuscitaria’ Em conclusao, podemos considerar que se estabelecem relagdes complexas entre titulo ccontetido do texto, sendo a sua ligagao essen- clalmente irénica, uma vez que comeca por ser antagénica para se revolar de identificagdo, no verso final Todo o poema é constituido pela enumeragao de situagdes desastrosas ¢ calamitosas que excedem o entendimento humano. 'S6 0 titimo verso da segunda estrofe escapa a essa enumeracdo de desgracas impensadas que o poema enumera. A lista de inforttinios abrange areas diversas @ 0 cenario de caos & generalizado: “montanhas’ *jardins! relagées. familiares, inversao de valores. ‘No fundo, o poema anuncia uma série de acon- tecimentos desastrosos que o posta pode im: pedir pela ago do amor. Este poema do século XX, subvertendo a construgdo postica, retoma temas ¢ t6picos da tradigdo iteréria nacional (© tema do desconcerto do mundo versado por Camoes esta aqui bem presente. O ditimo verso revisita um verso (‘que para mim bastava amor somenie") do soneto camoniano “Erros ‘meus, mé fortuna, amor ardente!’ A mensagem do pooma retoma ainda o contetido do soneto de Luis de Camdes “Transforma-se 0 amador na cousa amada’ Em suma, este poema tdo inovador permite um didlogo intertextual com a tradigAo lirica portuguesa. Exercicio 10 - Vasco Graga Moura 1 O titulo deste poema é muito sugestivo e map tém com 0 contetido do texto uma relagao identidade. Assim, 0 titulo antecipa 0 contetido do posr a0 indiciar que se trata de um soneto que fe fore como se faz 0 proprio soneto. Efeth mente, estamos perante um caso de metapoema. Neste caso em particular, 0 te do $6 reflete sobre 0 modo de construir u soneto, mas analisa a construcao deste sonel ‘om particular. Dai a adequagao do titulo: eto do soneto’ Concluindo, & medida que lemos o poema, mos a sensagao de estar a assistir ao trabe de elaboracao do préprio texto, partihanda diividas © as opgées do sujeito que assume papel de posta: “mas meto/aqui bab’ "por ‘© engendrei continental" © poema apresenta varias marcas de inter tualidade. Rotoma 0 género soneto que remonta 86 culo XII italiano © XVI portugués © que, atualidade, é revsitado por muitos postas, Pa além de consituir uma visita ao soneto, 0 jeito revé a estrutura formal do género: numer de estrofes e esquema rimatico.Paralelement “eu Irico compara o soneto que esté a con truir a0 modelo conhecido como o soneto s kespeariano @ opde-no ao “continental! q acaba por ser a sua opgao. Em suma, 0 sujeito parece hesitar na estrutu formal a adotar e acaba por construir um $9 neto tradicional estroficamente, embora Mi siga um esquema rimatico rigido. Ao longo do poerna, encontramos varios fra rmentos em italic. As letras que surgem destacadas nas vari estrofes constituem 0 proprio esquema rim tico de cada uma dolas ou as diferentes op G0es rimaticas que 0 sujeito poderia tel que seguisse. Concluindo, o sujeito assume, neste poem, 0 papel de poeta que esta a construir 0 sel poema, expde a estrutura do texto e torna @ leitor ctimplice do seu trabalho poético. io 11 - Nuno Judice ste poema insere-se numa temética caracte- {istica da lirica contemporanea, comummente ‘esignada como arte poética, como podemos infer logo a partir da leitura do titulo, ‘Assim, © Sujeito reflete sobre o fazer poético € ‘assume a sua condigéo de poeta que quer fa- zer um poema. Deste modo, 0 poema resulta de um ato de vontade do sujeito, como de- ‘monstra a repetigao da forma verbal “quer Jongo do poema, Em suma, entre o poeta e o poema estabe- lece-se uma relagao de dependéncia, pois 0 poema resulta da vontade do poeta, ‘Ao longo da leitura do poema, veriicamos que © sujeito valoriza o ato de criagao poética. Os versos que salientam a elevagao do canto ¢ a sublimidade da poesia sao também uma afir magao do designio do “eu” enquanto poeta: E canto / a beleza que sobrevive as frases comuns? Em conclusao, o sueito realga que, apesar da limitagao da linguagem ¢ da mediocridade da realidade, 0 poema 6 um canto de elevagao beleza, A partir da leltura do titulo do poema e dos pri- meiros versos verificamos de imediato que para o sujeito 0 pooma é um objeto de conhe- cimento e para 0 conhecimento, Assim, no poema, debate-se a tensdo entre 0 dizer ou o modo como se diz 0 mundo @ 0 mundo propriamente dito: "Quero um poema puro, impo / do Iixo das coisas banais” Por ou: tro lado, a questao da realizagao do poema também aparece aqui refletida. © sujelto con: cebe 0 poema como algo vivo, como “pedra eesculpida por fogo divino’ pois, através da fixa- ‘Gao em poesia do episédico e do momentaneo banal, ascende-se a vida. Coneluindo, 0 poema constiéi-se como reflexo do mundo extetior. Exerci 1 12 - Ana Luisa Amaral Este poema do século XX apresenta uma lin: guagem muito préxima do registo coloquial Assim, o sujeito utiliza a interrogagéio como forma de fixar a corrente do pensamento, recor rendo a express6es proprias de um uso cor rente da lingua: “Que me interessa que...?: Por outro lado, responde as questées que coloca ‘com marcas de oralidade, em expresses como “Pois que seja Encontramos ainda vocabulério pr6prio do quotidiano: *coxo; ‘paciénciat Deste modo, 0 poema fixa uma reflexdo pes- soal registada de uma forma aparentemente informal Na terceira estrofe do poema, verificamos a in- trodugao de um verso entre parénteses: “(esta rimou, mas foi $6 por acaso)" Este verso apresenta um desabafo do sujeito poético, num registo informal muito pouco ca- racteristico do texto postion tradicional. O verso constitui uma espécie de comentario, em aparre, reproduz uma marca de coloquialidade e realga 0 posicionamento subversive do su- jelto face & construgdo tradicional de um so- eto. Em suma, 0 “eu’ rico, na sua qualidade de poeta que constrdi um soneto que nao segue as regras obrigat6rias do género, parece admi- rado com o facto de ter escrito dois versos que rimam, © sujeito postico, neste poema, assume a fun- (edo de posta que vai construir um soneto. ‘A medida que o soneto vai sendo construido, © eu" reflete ironicamente sobre a sua constru- ‘940, uma vez que esté consciente do facto de nao estar a cumprir a rigidez das regras que ditam as caracteristicas formais do soneto: os versos néo rimam, nao tem tercetos, tem cinco estrotes. Assim, neste poema, o sujeito esboga uma arte postica em que tradigao e inovagao coinci- dem criativamente, pois adota o modelo do sonelo para o subverter. 265 Propostas de resolucao

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