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DOI: 10.5433/1679-0359.

2014v35n4Suplp2415

Conhecimento sobre a utilização segura de agrotóxicos por


agricultores da mesorregião do Norte Central do Paraná

Knowledge about the safe use of pesticides by farmers from Central


Northern Paraná State

Janaína Zorzetti1*; Pedro Manuel Oliveira Janeiro Neves2; Patrícia Helena Santoro3;
Kelly Christiane Constanski1

Resumo
Os agrotóxicos são considerados um importante fator de riscos para a saúde humana e têm sido objeto de
vários estudos, tanto pela sua toxicidade como pela degradação ambiental. Este trabalho teve por objetivo
diagnosticar o nível de conhecimento de agricultores da mesorregião do Norte Central do Paraná sobre a
utilização segura de agrotóxicos. Para isso utilizou-se um questionário que abordou temas relacionados
à intoxicações, uso de equipamento de proteção individual (EPI) e conhecimento sobre bulas e rótulos.
Foram entrevistados 100 agricultores filiados às cooperativas da região. Após a análise das respostas, foi
possível observar que a maioria dos agricultores fazia o uso incompleto do EPI em suas atividades diárias,
ou não o utilizavam como foi constatado em todos os casos de intoxicação. Os termos utilizados nas bulas
e rótulos de agrotóxicos não são adequadamente compreendidos pelos agricultores, contribuindo para
aumento dos problemas no manuseio seguro desses produtos. O estudo permite concluir que é necessário
um processo de capacitação e orientação por parte dos órgãos reguladores e das empresas envolvidas,
tais como, empresas de insumos, cooperativas e órgãos de assistência técnica, para que a utilização mais
criteriosa dos produtos possa diminuir os riscos à saúde das populações rurais e ao meio ambiente.
Palavras-chave: Intoxicação, exposição ocupacional, bulas e rótulos de agrotóxicos

Abstract
Pesticides are considered an important risk factor for human health and have been the subject of several
studies, both for its toxicity and environmental degradation. This study aimed to diagnose the knowledge
level of farmers from the Central Northern Paraná State on the safe pesticides use. For this we used a
questionnaire that addressed issues related to intoxication, use of personal protective equipment (PPE)
and knowledge about inserts and labels. We interviewed 100 farmers affiliated to cooperatives in the
region. After analyzing the responses, we observed that most farmers did an incomplete use of PPE in
their daily activities, or did not use it, as it was found in all cases of poisoning. The terms used in the
pesticides inserts and labels are not properly understood by farmers, contributing to increased problems
in the safe handling of these products. The study concludes that it is necessary to have a process of
training and guidance from regulators and the companies involved, as inputs companies, cooperatives and
technical assistance agencies aiming more judicious use of the products and decreasing the risks to health
of rural populations and environment.
Key words: Poisoning, occupational exposure, inserts and pesticides labels
1
Discentes do Curso de Doutorado em Agronomia, Universidade Estadual de Londrina, UEL, Londrina, PR. E-mail: jzorzetti@
hotmail.com; kconstanski@hotmail.com
2
Prof. Dr., Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Fitossanidade, Deptº de Agronomia, UEL, Londrina, PR. E-mail:
pedroneves@uel.br
3
Pesquisadora Drª, Instituto Agronômico do Paraná, IAPAR, Londrina, PR. E-mail: ph_santoro@yahoo.com.br
*
Autor para correspondência
Recebido para publicação 19/09/13 Aprovado em 08/04/14
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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 35, n. 4, suplemento, p. 2415-2428, 2014
Zorzetti, J. et al.

Introdução estimativas do Ministério da Saúde, para cada


caso notificado de intoxicação, há cerca de 50 não
Os agrotóxicos começaram a ser difundidos
notificados (CASADO, 2005).
no Brasil a partir da década de 1960, sendo
considerados como solução científica para o controle Apesar da existência de regulamentações quanto
das pragas que atingiam lavouras e rebanhos à comercialização e manejo dos agrotóxicos, muitos
(PERES; MOREIRA; DUBOIS, 2003). Entretanto, usuários não respeitam todas as regras impostas
o maior consumo se deu a partir de 1975, com o pela legislação, e não tomam os devidos cuidados
Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que durante o manuseio desses (FERNANDES et al.,
condicionava a concessão de crédito rural à aquisição 2012). Um meio de se evitar riscos de contaminação
de agrotóxicos, ou seja, para obter os recursos do e intoxicação seria a leitura e entendimento das bulas
crédito rural, a cada financiamento requerido, era e rótulos dos produtos, que trazem informações
automaticamente incluída uma cota definida desses necessárias para que possam ser utilizados
produtos (GARCIA, 1996). Em 2008, o Brasil adequadamente (ANDEF, 2001). Contudo, a
ultrapassou os Estados Unidos e assumiu o posto de maioria dessas informações não é seguida devido à
maior consumidor mundial de defensivos agrícolas, falta de compreensão pelos trabalhadores (PERES;
posição que ainda ocupa atualmente (ANVISA, MOREIRA; LUZ, 2007).
2010). Dentre os estados brasileiros, o Paraná Muitos casos de intoxicação poderiam também
é o terceiro maior consumidor, principalmente ser evitados com a utilização de proteção adequada,
de produtos considerados “perigosos” e “muito como o Equipamento de Proteção Individual (EPI)
perigosos”, segundo a Classificação do Potencial de que é destinado a proteger a integridade física
Periculosidade Ambiental (IBGE, 2012). do trabalhador (AGOSTINETTO et al., 1998).
Os agrotóxicos auxiliam no controle de diversas Entretanto, não é utilizado por todos os agricultores,
pragas, o que pode proporcionar o aumento da e quando utilizado, geralmente é feito de maneira
produtividade (DOMINGUES et al., 2004). incorreta (ÁVILA et al., 2009).
Entretanto, o uso inadequado e indiscriminado vem O objetivo desse trabalho foi avaliar o
trazendo prejuízos ao homem e ao meio ambiente, conhecimento dos agricultores da mesorregião do
além da seleção de populações de insetos resistentes e Norte Central do Paraná sobre informações básicas
eliminação de inimigos naturais (SILVA; NOVATO- para a utilização segura de agrotóxicos; investigar
SILVA; PINHEIRO, 2005; DOMINGUES, 2010). os casos de intoxicação e as suas principais causas;
Atualmente, os agrotóxicos são considerados levantar possíveis sugestões para reduzir a utilização
como um sério problema de saúde pública tendo inadequada desses produtos.
em vista relatos de casos graves de intoxicação por
exposição direta ou indireta a esses agentes (FARIA
et al., 2004; ARAUJO et al., 2007; FARIA; ROSA; Material e Métodos
FACCHINI, 2009). Os últimos dados lançados A pesquisa foi realizada entre os meses de janeiro
pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico- a dezembro de 2007 em municípios situados na
Farmacológicas (SINITOX, 2013) informaram mesorregião do Norte Central Paranaense (Rolândia,
que somente no ano de 2010, houve um registro Arapongas, Cambé, Pitangueiras, Alvorada do
de 5463 casos de intoxicação e/ou envenenamento Sul, Bom Sucesso, Sertanópolis, Jaguapitã,
por produtos de uso agrícola. Provavelmente este Florestópolis, Tamarana, Mauá da Serra e Faxinal).
número deve ser muito maior se forem considerados Essa região concentra, no Paraná, o maior número
os casos não notificados, pois, de acordo com de pessoas ocupadas em atividades agrícolas.

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Na última década houve grande modernização sobre as cores contidas nos rótulos, as quais definem
agropecuária e desenvolvimento do processo a classe toxicológica, e também os pictogramas, que
de agroindustrialização. Sua base agropecuária indicam os cuidados que devem ser considerados
é de grande competitividade, apresentando na utilização desses produtos. Eles foram
importante expansão dos níveis de produtividade e questionados também sobre a ocorrência de casos
relacionamentos com o mercado internacional, com de intoxicações e providências tomadas, utilização
méritos às culturas de soja, milho e cana-de-açúcar correta de EPI, compreensão dos termos contidos
e a criação de bovinos e aves, responsáveis pelo nas bulas e rótulos dos produtos, conhecimento
crescimento do setor na região (IPARDES, 2004). sobre métodos de controle alternativo de pragas,
grupos de agrotóxicos mais utilizados, transporte
Foi utilizado como instrumento de coleta
e armazenamento dos produtos e destino final de
de dados, um questionário aplicado a 100
embalagens vazias.
agricultores escolhidos ao acaso, abordados nas
propriedades, encontros de produtores e nas sedes Os dados foram coletados por um único
das cooperativas. Como pré-requisito para ser entrevistador, anotados fielmente, tabulados e
entrevistado, o agricultor deveria habitualmente transformados em médias e porcentagens para
realizar a leitura dos rótulos e bulas de agrotóxicos melhor interpretação dos mesmos. Para a realização
antes de sua utilização, sendo ele encarregado ou não da análise estatística descritiva, foram utilizados
da aplicação. A amostra foi probabilística dentro do os recursos do programa Microsoft Excel 2007
conjunto de agricultores associados às cooperativas, (Windows-Microsoft®).
considerando como fator de exclusão os cooperados
que não liam os rótulos e bulas de agrotóxicos.
Resultados e Discussão
Inicialmente, uma carta de apresentação foi
fornecida ao entrevistado para o esclarecimento 1. Perfil sócio econômico: A faixa etária dos
do objetivo do trabalho. As questões aplicadas entrevistados variou entre 16 a 73 anos, com a
foram divididas em dois segmentos. No primeiro, maioria (37%) entre 46 a 55 anos. A maior parte dos
foram abordados os aspectos sócios econômicos, agricultores (44%) possuíam propriedades acima de
como o perfil do produtor e da propriedade. No 100 ha, caracterizadas principalmente pelo cultivo
segundo, investigaram-se as práticas e os cuidados de soja, milho, trigo e cana-de-açúcar. Esse tipo de
na utilização de agrotóxicos, e os conhecimentos cultura prevaleceu em toda a região estudada, até
e percepção dos riscos inerentes à utilização dos mesmo nas pequenas propriedades (5 ha), entretanto
mesmos. Essa pesquisa foi realizada com produtores essas diferiam quanto a disponibilidade de recursos
filiados as cooperativas da região a fim de abordar financeiros e tecnológicos (Figura 1).
um universo onde supostamente os agricultores Cerca de 50% dos agricultores contratavam
seriam orientados por responsáveis técnicos sobre funcionários fixos para a realização das tarefas
manejo correto de agrotóxicos e contassem com agrícolas e 48% contavam apenas com mão de obra
melhores condições de trabalho mediante ao auxílio familiar, que era composta predominantemente por
das cooperativas. quatro pessoas. Todos os agricultores eram filiados a
O questionário foi composto por 37 questões, cooperativas, variando o tempo de cooperação entre
estruturadas (múltipla escolha) e não estruturadas 5 a 43 anos. Em relação ao grau de escolaridade,
(discursivas), incluindo questões práticas onde observou-se que 37% possuíam o 1° grau completo
diferentes rótulos de agrotóxicos foram apresentados ou incompleto, 35% o segundo grau e 28% curso
aos entrevistados a fim de testar seu conhecimento superior completo ou incompleto.

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Os dados obtidos estão, em partes inseridos no No momento da escolha do agrotóxico, 71%


perfil da região, onde é evidenciada a importância dos agricultores priorizaram a eficiência do produto
da agricultura familiar pelo predomínio de pequenas utilizado na safra anterior. O preço do produto
(até 48 ha) e médias (48 a 180 ha) explorações influenciou na escolha de 61% e a recomendação da
agrícolas, com mão de obra composta em sua maioria cooperativa foi decisiva para 58% dos entrevistados.
pelos próprios membros da família, enquanto os Apenas 17% levaram em consideração a toxicidade
assalariados representam cerca de 30%. Em geral os e ainda 4% fizeram suas escolhas baseadas em
agricultores são os proprietários da terra, utilizam conversas com vizinhos e trocas de informações
praticamente toda a área que possuem e tem na sobre o rendimento e eficiência do produto.
exploração das lavouras a sua atividade principal,
O conhecimento sobre métodos de controle
a qual está concentrada basicamente no cultivo de
alternativo de pragas foi citado por 66% dos
cinco produtos principais (soja, milho, cana-de-
entrevistados. Desses, 87% afirmaram já ter utilizado
açúcar, rebanho bovino e aves) (IPARDES, 2004).
o vírus Baculovirus anticarsia (AGMNPV) no
2. Utilização de agrotóxicos: Os produtos mais controle da lagarta da soja Anticarsia gemmatalis,
utilizados pelos entrevistados foram os herbicidas e interromperam o uso, devido à falta de eficiência
com 40%, seguidos pelos inseticidas com 36% e observada. E 15% dos agricultores citaram a
fungicidas com 24%. Essa proporção se deve ao liberação de inimigos naturais como Cotesia flavipes
grande número de áreas cultivadas com cana-de- (Cameron, 1981) (Hymenoptera: Braconidae).
açúcar, que é uma cultura mais exigente em tratos
3. Cuidados realizados na manipulação
culturais com herbicidas.
de agrotóxicos: Do total de entrevistados, 60%
Os locais de maior aquisição de agrotóxicos realizavam as aplicações de agrotóxicos na
citados foram as cooperativas e as revendas propriedade e 40% repassavam a atividade a
de insumos com 90 e 18% respectivamente. funcionários. Todos os entrevistados afirmaram
Aproximadamente 98% dos produtores consultaram saber o que é o EPI e 77% responderam que faziam
um engenheiro agrônomo na hora da compra, e os o uso, porém 23% dos que realizavam a aplicação
outros 2% eram os agricultores com graduação em não o utilizavam.
agronomia. Esse elevado número de agricultores
Dentre os entrevistados que afirmaram adotar
que receberam assistência técnica no momento da
o uso de EPI como método de proteção, 54% o
compra de agrotóxicos se deve a sua vinculação
faziam de maneira incompleta, e apenas quando
com as cooperativas, que disponibilizam técnicos
consideravam o produto muito tóxico, procuravam
para avaliar as áreas e recomendar os produtos.
utilizar todo o equipamento. Dos que responderam
Muitas vezes essa assistência não é realizada em
não utilizam EPI, 20% alegaram que a aplicação dos
algumas propriedades, especialmente para pequenos
agrotóxicos era realizada em tratores com cabine
agricultores, como observado por Monqueiro,
fechada, e se consideravam protegidos de qualquer
Inácio e Silva (2009), onde 28% dos produtores
intoxicação.
de hortaliças e frutas da região de Araras/SP
não contavam com orientação de engenheiros Os agricultores que utilizam o EPI de forma
agrônomos. Lima et al. (2009), também verificaram incompleta geralmente optavam por proteger
que 43% dos agricultores de pêssego no Estado as partes mais expostas aos agrotóxicos, e por
do Rio Grande do Sul não receberam nenhum tipo onde consideravam serem os maiores meios de
de assistência técnica durante a safra 2007/2008, contaminação. Os itens mais utilizados e citados
e desenvolveram as atividades baseados no senso pelos entrevistados foram a máscara e as luvas
comum. (Tabela 1). O mesmo foi constatado por Ávila et

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al. (2009), em entrevistas com trabalhadores rurais quanto à aplicação dos defensivos. As informações
em Minas Gerias os quais acreditavam que apenas que consideravam mais importantes na orientação
o uso de máscara ou luvas poderia prevenir possível dos funcionários eram os cuidados na aplicação e a
intoxicação e que esta só era ocasionada por ingestão dosagem dos produtos (Tabela 2).
ou respiração e não por via dérmica.
Ao repassar as atividades de aplicação de
agrotóxicos para outros, 90% dos entrevistados
afirmaram disponibilizar o EPI para os funcionários.
Tabela 1. Equipamentos de proteção individual Os demais alegaram que não o faziam, pois
utilizados pelos agricultores. os funcionários não achavam necessário e
Componentes do Equipamento não o utilizavam. Entre os agricultores que
Entrevistados (%)
de Proteção Individual disponibilizavam o equipamento, 57% exigiam o
Máscara 62 seu uso e 43% não, deixando claro que passavam
Luvas 56 orientações quanto à importância, mas que a
Roupa 37 responsabilidade da utilização cabia ao aplicador.
Bota 30
Avental 17
Boné árabe 15
Tabela 2. Informações contidas em bulas e rótulos de
Chapéu 11 agrotóxicos lidos pelos agricultores e que são repassadas
Óculos 9 aos responsáveis pela aplicação.
Fonte: Elaboração dos autores.
Informações mais citadas Entrevistados (%)
Informações sobre cuidados na
47
aplicação
Os principais motivos apresentados pelos
Dose recomendada 25
entrevistados para o não uso ou uso incompleto do Uso de EPI 17
EPI foram o desconforto e o calor com 61 e 43% Regulagem correta dos
respectivamente. Além desses motivos, 12% não 17
pulverizadores
consideravam importante a utilização de EPI. Essa Preparo da calda 11
crítica sobre o incômodo em trabalhar com o EPI Aplicação correta 11
também foi relatada em diversas entrevistas com Perigos 11
agricultores que realizaram a aplicação de produtos Grau de periculosidade 8
químicos, sendo um problema tecnológico conhecido Modo de manusear o produto 8
e que deveria ganhar mais atenção ou até mesmo Toxicidade 5
uma versão mais confortável que estimulasse o uso Horário de aplicação 5
completo desse equipamento (LIMA et al., 2009; Destino das embalagens 5
Evitar desperdício 3
ÁVILA et al., 2009; MONQUEIRO; INÁCIO;
SILVA, 2009; MARQUES; NEVES; VENTURA, Fonte: Elaboração dos autores.

2010).
Dentre o grupo de entrevistados que não O armazenamento de agrotóxicos em local
realizavam a aplicação de agrotóxicos, 90% exclusivo e fechado, sem riscos de contaminação
afirmaram que repassavam as informações lidas é estabelecido pela Lei 7802 (BRASIL, 1989),
para os responsáveis pela aplicação, e 10% entretanto apenas 28% dos entrevistados o
alegaram que seus funcionários eram submetidos realizavam de maneira correta. Cerca de 30% faziam
a cursos informativos ou já eram bens instruídos o armazenamento em barracões não apropriados,

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juntamente com outros implementos e insumos. rigor se houvesse uma fiscalização eficiente, que
Outros 16% armazenavam em barracões abertos também faria o papel de instrução e conscientização
e sem segurança adequada, 6% em garagens, e para muitos produtores rurais.
18% retiravam os produtos nas cooperativas e
O descarte correto de embalagens vazias
revendas no momento da aplicação, alegando
era realizado por 100% dos entrevistados, que
maior comodidade e segurança. A armazenagem
afirmaram armazenar na propriedade até somar uma
incorreta também foi verificada em outros estudos,
quantidade apropriada para a devolução. O grande
onde cerca de 50% dos agricultores entrevistados
incentivo para a destinação correta das embalagens
armazenavam os produtos incorretamente, até
vazias era a forma de devolução facilitada pelas
mesmo dentro de suas casas, o que expande o risco
cooperativas e pela ANPARA (Associação Norte
de exposição e contaminação a um maior número de
Paranaense de Revendedores de Agroquímicos),
pessoas (MONQUEIRO; INÁCIO; SILVA, 2009;
por meio de locais próprios para recebimento das
FERNANDES et al., 2012).
embalagens em cidades próximas às propriedades.
O transporte dos agrotóxicos até a propriedade
Em muitas regiões do Brasil, como Araras/SP e
ou local de aplicação, era realizado de maneira
Rio de Janeiro, onde não existe esse tipo de incentivo
incorreta por 20% dos entrevistados, que afirmaram
para a devolução das embalagens, os agricultores
transportar os produtos em seus carros fechados,
não realizavam o descarte correto, alegando
juntamente com pessoas ou outros materiais,
excesso de burocracia e a falta de locais apropriados
correndo assim grandes riscos de contaminação.
próximos às propriedades, o que acarreta gastos
O transporte de maneira correta, em utilitários
com o transporte (CASTRO; CONFALONIERI,
com carroceria aberta ou fechada, como disposto
2005; MONQUEIRO; INÁCIO; SILVA, 2009).
no Decreto-Lei n° 4074, de 4 de janeiro de 2002,
que regulamentou a lei n.º 7.802, de 11 de julho de 4. Conhecimento sobre rótulos e bulas de
1989, (BRASIL, 2002), era realizado por 80% dos agrotóxicos: Segundo o Decreto-Lei n° 4074, de 4 de
produtores. janeiro de 2002 (BRASIL, 2002), rótulos e bulas de
agrotóxicos devem conter, entre outras informações,
Isso demonstra a conscientização dos agricultores
a procedência do produto, grau de toxicidade, forma
sobre os perigos do transporte incorreto e representa
de utilização, recomendações para que a bula seja
também o maior desenvolvimento da região objeto
lida antes da aplicação do agrotóxico, frases de
dessa pesquisa, onde a maioria dos entrevistados
advertência e símbolos de perigo padronizados
possuíam meios de transporte adequados à
de acordo com sua classe toxicológica além de
atividade rural. Além disso, muitos agricultores
instruções para o caso de acidentes. Dentre essas,
relataram que realizavam o transporte correto em
as que foram consideradas mais importantes pelos
função da fiscalização que polícia rodoviária federal
entrevistados foram a dosagem (64%) e a praga para
realizava frequentemente na região, aplicando
qual o produto foi recomendado (34%). Apenas
as punições necessárias a quem infringir a lei.
20% afirmaram ler informações sobre a toxicidade
Esse fato demonstra a eficiência da fiscalização e
do produto, e os perigos que ele oferece, bem como
aplicação de punições no cumprimento das leis.
os cuidados que devem ser tomados ao utilizá-lo
Muitas exigências e cuidados com a utilização dos
(Tabela 3).
agrotóxicos poderiam ser realizados com maior

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Tabela 3. Informações contidas nos rótulos de agrotóxicos A maioria dos entrevistados afirmou
consideradas de maior importância pelos agricultores. compreender facilmente as informações contidas
Informações contidas nos nos rótulos, entretanto, diante da apresentação de
Entrevistados (%)
rótulos de agrotóxicos alguns termos como intervalo de reentrada, período
Dosagem 64 de carência, classe toxicológica, antídoto e sintomas
Indicação de uso 34 de alarme apenas 21% acertaram o significado de
Toxicidade 20 todos eles. A maior dificuldade com o vocabulário
Cuidados e Precauções 20 foi com o significado de ‘intervalo de reentrada’,
Modo de usar 16
onde apenas 31% deles responderam corretamente.
Modo de aplicar 14
Os demais entrevistados acreditavam que esse seria
Carência 14
o intervalo de tempo até a próxima aplicação do
Composição 8
agrotóxico na lavoura. A classe toxicológica foi o
Validade 6
termo mais conhecido pelos agricultores, onde 87%
Primeiros socorros 5
responderam de maneira correta (Figura 2).
Cuidados com o ambiente 4
Sintomas de Alarme 3 A compreensão sobre a toxicidade dos produtos
Fonte: Elaboração dos autores. indicada pelas diferentes cores dos rótulos, e a
periculosidade que elas demonstram foi analisada ao
apresentar aos agricultores os rótulos dos agrotóxicos
Apesar da disponibilidade de informações
com diferentes faixas (classe I - vermelha, classe
contidas em todas as bulas e rótulos de
II - amarela, classe III - azul e classe IV - verde).
agrotóxicos, nem todas são lidas e compreendidas
Dos entrevistados, 86% afirmaram serem capazes
pelos agricultores. Dentre os entrevistados,
de diferenciar a toxicidade dos produtos pelas
55% afirmaram entender o conteúdo das bulas e
diferentes cores dos rótulos, entretanto, apenas 24%
rótulos de agrotóxicos sem dificuldades, e 45%
desses acertaram as quatro classes toxicológicas.
confessaram não haver uma boa compreensão. A
maior dificuldade citada foi o tamanho da letra A utilização de pictogramas nos rótulos dos
(95%) seguida pela compreensão dos termos agrotóxicos tem a intenção de superar as barreiras
técnicos utilizados nas explicações (42%). impostas pela linguagem escrita, podendo ser
O tamanho e a falta de objetividade do texto compreendidos por pessoas não alfabetizadas e por
também foram empecilhos citados por 35% dos estrangeiros (IIDA, 2005). Dentre os entrevistados,
entrevistados, que alegaram não ter paciência para 70% afirmaram conhecer e observar os pictogramas
ler completamente e encontrar as informações na hora da leitura e manuseio dos agrotóxicos.
necessárias. Para esses, foi apresentado uma lista com seis
pictogramas diferentes e 83% deles responderam
Para que estas informações sejam compreendidas,
corretamente toda a sequência.
elas devem ser legíveis, pois a dificuldade em ler o
texto e distinguir as palavras atrapalha a organização Para 30% dos entrevistados que afirmou
das ideias e dificulta sua compreensão (IIDA, não observar, ou não conhecer os pictogramas
2005). A falta de entendimento sobre os riscos estampados nos rótulos, a maior dificuldade
aos quais os agricultores se expõem ao aplicar tais relatada estava na compreensão dos desenhos.
produtos demonstra que as advertências nos rótulos Além disso, não davam muita importância a eles
e bulas de agrotóxicos não têm eficácia e não por considerarem que as figuras não chamavam
cumprem totalmente o papel ao qual se destinam muito a atenção sobre os perigos relacionados aos
(YAMASHITA; SANTOS, 2009). produtos, exceto quando era imagem representada

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pela caveira. Isso expõe a falta de funcionalidade com antídotos específicos, tornam-se casos graves,
dos pictogramas para muitos agricultores, pois, de e muitas vezes levam a óbito. Em um estudo
acordo com Sanders e McCormick (1993), o uso realizado por Martins et al. (2012), apenas 28% dos
dessas imagens deve retratar fielmente de forma trabalhadores rurais entrevistados que consideraram
visual o que se pretende dizer com o texto. ter sofrido intoxicação, procuraram ajuda médica
Os estudos que avaliam o grau de entendimento pelo menos uma vez na vida para tratar os sintomas.
dos agricultores em relação às bulas e rótulos dos O restante afirmou ter o costume da automedicação
agrotóxicos são de grande importância na elaboração e/ou recorrer a algum amigo ou balconista de
de estratégias para uma manipulação segura desses farmácia.
produtos e para a viabilização de programas visando O conceito de intoxicação não está bem claro
à redução de intoxicações (CASTELO BRANCO, para os trabalhadores, que consideram casos de
2003). Dessa forma, é fundamental compreender intoxicação somente aqueles que precisarem
a necessidade dos agricultores em relação às realmente de socorro médico. Mal-estares durante
alterações que devem ser realizadas nas bulas e ou após aplicações não são considerados sinais
rótulos de agrotóxicos. Dentre os entrevistados, de intoxicação na opinião dos entrevistados. Com
95% sugeriram que algumas modificações deveriam isso, 35% afirmaram já ter sentido algum tipo de
ocorrer na escrita das bulas e rótulos a fim de mal-estar, como dores de cabeça (37%), tontura e
facilitar sua compreensão. As mais citadas foram vômito (23%), fraqueza (6%), sangramento, ânsia
o aumento no tamanho das letras, especialmente de vômito, dores de estômago e até mudança na cor
quando descrevem os riscos que o produto oferece; da urina, (3%).
uso de uma linguagem mais simples para facilitar o Essa falta de entendimento sobre toxicidade
entendimento e busca de informações, com instruções também foi analisada por Monqueiro, Inácio e Silva
mais objetivas, que possam ser compreendidas por (2009), onde o conceito que as pessoas geralmente
agricultores e não apenas por técnicos e pessoas com possuem sobre o assunto é de que a toxicidade oral
elevado grau de escolaridade. Alguns agricultores aguda é o caso mais perigoso. Entretanto, esse não é
consideraram a importância de incluir nos rótulos o maior risco de intoxicação, pois raramente alguém
dos agrotóxicos algum tipo de aviso que fosse capaz irá ingerir o produto. Na realidade, os casos mais
de transmitir medo aos agricultores, para que estes preocupantes de intoxicação estão relacionados
ficassem cientes sobre a real existência dos perigos ao contato do produto ou da calda com a pele.
de intoxicação. Assim, os trabalhadores que aplicam rotineiramente
5. Avaliação dos casos de intoxicação por agrotóxicos devem se submeter periodicamente
agrotóxicos: Casos de intoxicação foram registrados a exames médicos, a fim de analisar os efeitos
por 13% dos entrevistados, sendo que 92% desses crônicos da intoxicação.
recorreram ao auxílio médico e 8% recorreram As intoxicações podem ocorrer de três formas.
à automedicação, ingerindo leite, refrigerante, e A primeira é pela exposição a um determinado
outros recursos que julgavam combater os efeitos produto químico em grandes dosagens por um curto
tóxicos dos venenos, mesmo não estando citados período, o que leva aos efeitos agudos. A associação
entre os antídotos contidos nos rótulos. Do total causa/efeito é, geralmente, fácil de ser estabelecida,
de entrevistados que buscou auxílio médico, 15% podendo ser caracterizado por náusea, vômito,
permaneceram internados. cefaleia, tontura, desorientação, hiperexcitabilidade,
A automedicação é extremamente perigosa, irritação de pele e mucosas, fasciculação muscular,
e muito comum no meio rural. Muitos casos de dificuldade respiratória, hemorragia, convulsões,
intoxicação, que poderiam ser atendidos e tratados coma e morte. A segunda forma pode ser leve ou
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Conhecimento sobre a utilização segura de agrotóxicos por agricultores da mesorregião do Norte Central do Paraná

moderada, dependendo da quantidade de veneno Os trabalhadores rurais participam praticamente


absorvido, o que leva a efeitos subagudos. A de todas as atividades envolvendo os agrotóxicos,
terceira forma de intoxicação é mais preocupante, desde a mistura/preparação da calda, aplicação e
devido ao seu difícil reconhecimento clínico. Ela lavagem do maquinário, o que aumenta o risco de
está relacionada com exposições aos agrotóxicos intoxicação devido ao maior contato (MARTINS et
por longos períodos e em baixas concentrações, al., 2012; SILVA; NOVATO-SILVA; PINHEIRO,
e leva a efeitos crônicos. A intoxicação crônica 2005). Além disso, segundo Agostinetto et al. (1998),
caracteriza-se por surgimento tardio, em meses ou a aplicação de agrotóxicos na presença de ventos
anos e pelo acarretamento de danos irreversíveis, do provoca deriva, que é uma das principais causas de
tipo paralisias e neoplasias (PERES; MOREIRA; intoxicação do aplicador e demais pessoas no meio
DUBOIS, 2003). rural, podendo também causar contaminação de
ambientes adjacentes.
Os agrotóxicos podem penetrar no corpo
humano através da ingestão, respiração, olhos ou A absorção dérmica pode variar conforme a
absorção pela pele (THUNDIYIL et al., 2008; formulação empregada, temperatura, umidade
VITALI et al., 2009; FARAHAT et al., 2010; relativa do ar, regiões do corpo, tempo de contato
NGO; O’MALLEY; MAIBACH, 2010). Quando com o produto, existência de feridas e outros
foi questionado aos agricultores sobre as vias de (MOREIRA et al., 2002). Considerando que a
absorção de agrotóxico pelo ser humano, somente maior parte dos agrotóxicos é absorvida através da
14% dos entrevistados citaram todas elas. As mais pele a proteção corporal pelo uso completo do EPI
citadas foram a dérmica (78%), oral e respiratória é fundamental para reduzir a absorção e o risco de
(60%) e ocular (21%), e 6% deles desconheciam as intoxicações (CATANO et al., 2008; VITALI et al.,
principais formas de absorção. 2009).
A exposição aos agrotóxicos pode se dar de Em todos os casos de intoxicações relatados pelos
diversas maneiras durante o contato dos agricultores entrevistados, foi constatado que os aplicadores não
com os produtos, e assim aumentar as chances de utilizam EPI, ou o utilizavam de forma incompleta,
intoxicação. As atividades onde houve os maiores o que comprova a importância do equipamento
casos de intoxicações foram no momento da para a proteção do agricultor. A ausência do EPI
aplicação dos produtos ou durante o preparo da ou utilização ineficiente representa grande perigo à
calda e no tratamento de sementes. O manuseio saúde do aplicador, causando elevação significativa
de agrotóxicos e a deriva vinda de aplicações por no número de intoxicações (MONQUEIRO;
vizinhos também foram citadas (Tabela 4). INÁCIO; SILVA, 2009).
Os inseticidas foram responsáveis por 62% das
Tabela 4. Atividades citadas pelos agricultores onde intoxicações, 31% herbicidas e 8% fungicidas;
ocorreram os casos de intoxicações. o que está de acordo com diversos trabalhos, que
Atividades em que ocorreram Casos de Intoxicação se referem aos inseticidas como responsáveis
as intoxicações (%) pelo maior número de intoxicações (MARQUES;
Aplicação de produtos 54 NEVES; VENTURA, 2010; JACOBSON et al.,
Preparo da calda 31 2009; CERQUEIRA et al., 2010; FARIA, ROSA,
Tratamento de sementes 31 FACCHINI, 2009). As intoxicações por inseticidas
Manuseio dos produtos 23 estão provavelmente associadas ao modo de ação
Deriva 8 destes produtos, a maioria neurotóxicos, que em
Fonte: Elaboração dos autores. seres humanos tem ação semelhante.

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Zorzetti, J. et al.

A falta de instruções e a necessidade de maiores Deste modo é premente que haja uma
esclarecimentos em relação ao uso de EPI, além dos fiscalização dos órgãos reguladores governamentais
perigos que os agrotóxicos oferecem foram relatadas e que esses tomem medidas que obriguem os
por 60% dos entrevistados como as principais causas fabricantes, revendedores e técnicos a esclarecer os
da ocorrência de intoxicações. Eles afirmaram que perigos para a saúde humana da utilização destes
os fabricantes de agrotóxicos, as cooperativas, produtos. É também primordial que sejam feitas
revendas, e os agrônomos responsáveis pela campanhas para o uso correto e consciente destes
assistência técnica, deveriam dar mais atenção a produtos, utilizando-os apenas quando necessário.
isso, não apenas recomendando o produto, mas Estas campanhas deveriam ser realizadas através
também explicando outras informações como os de cursos, palestras, folhetos explicativos e até
perigos, riscos de intoxicação, modo de atuação dos mesmo conversas informais entre os técnicos e os
agrotóxicos no organismo humano e os efeitos das agricultores, ou seja, utilizando uma forma mais
intoxicações em longo prazo. dinâmica de chamar a atenção do agricultor.
Essa necessidade de informação foi observada
durante a entrevista, onde alguns agricultores
Considerações finais
acreditavam que os agrotóxicos lançados
recentemente são formulados com novas tecnologias, A utilização de agrotóxicos ocorre de forma
o que os torna menos perigosos ou “mais fracos” inadequada por parte dos agricultores entrevistados.
em relação aos produtos que existiam antigamente. Falta maior conscientização para um manuseio
A falta de esclarecimento sobre a manipulação de seguro e instruções sobre os perigos que os
agrotóxicos contribui para casos de intoxicações agrotóxicos oferecem, pois não souberam responder,
que poderiam ser evitados se houvessem maiores ou responderam de forma incorreta às perguntas de
informações e uma conscientização de que os fundamental importância à sua própria segurança.
agrotóxicos, quando não utilizados de modo A maioria dos produtores leem os rótulos,
correto, podem gerar um grande dano à saúde de mas a compreensão é comprometida por aspectos
quem entrar em contato com eles (MONQUERIO; relacionados ao tamanho de letra e falta de
INÁCIO; SILVA, 2009). objetividade do texto. Dessa forma, sugeriram
Os dados obtidos no presente estudo indicam que, modificações para um melhor entendimento, como
apesar da necessidade de uma maior conscientização rótulos e bulas com letras maiores, texto com maior
a respeito da utilização segura desses produtos, a clareza, linguagem voltada ao produtor rural e
maioria dos agricultores se preocupava em realizar formas mais chocantes de alertar sobre os perigos
os procedimentos corretos a fim de evitar casos de causados pelo uso incorreto dos agrotóxicos. Os
intoxicações, e demonstraram algum conhecimento entrevistados acrescentaram ainda que deveria
sobre o assunto abordado. Entretanto, devemos haver maior empenho de técnicos das cooperativas
considerar que a região onde a pesquisa foi e das empresas responsáveis pelos agrotóxicos
efetuada, Norte Central do Estado do Paraná, pode em esclarecer sobre os perigos causados pelos
ser considerada como uma das mais produtivas agrotóxicos e a maneira correta de utilizá-los a fim
e de melhor nível sócio econômico no meio rural de evitar acidentes.
(IPARDES, 2013). Os casos mais preocupantes O EPI não é utilizado de forma completa por todos
encontram-se nas regiões rurais remotas e carentes os agricultores, que o consideram desconfortável ou
onde o nível de instrução é menor, o que aumenta a desnecessário. As partes mais utilizadas são as luvas
limitação de cuidados e probabilidade da utilização e máscara, consideradas de maior importância pelos
incorreta dos agrotóxicos. entrevistados.
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Conhecimento sobre a utilização segura de agrotóxicos por agricultores da mesorregião do Norte Central do Paraná

Em todos os casos de intoxicações e mal-estares AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA


relatados pelos entrevistados, foi constatado SANITÁRIA - ANVISA. Reavaliação de agrotóxico: 10
anos de proteção à população. Brasília: ANVISA, 2010.
que não faziam o uso adequado de EPI e não Disponível em: <http://www.anvisa. gov.br>. Acesso em:
compreendiam informações contidas nos rótulos. 27 out. 2012.
A pesquisa foi realizada em um universo BRASIL. Decreto-Lei no 4074, de 4 de janeiro de 2002.
limitado a produtores que recebem orientações dos Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que
dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
engenheiros agrônomos das cooperativas e muitas embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento,
vezes não as seguem ou não as compreendem. a comercialização, a propaganda comercial, a utilização,
Assim, para se obter uma visão mais ampla dos a importação, a exportação, o destino final dos resíduos
fatos abordados seria necessário a realização e embalagens, o registro, a classificação, o controle,
a inspeção e a fiscalização de agro tóxicos, seus
de novas pesquisas focando agricultores não componentes e afins, e dá outras providências. Diário
filiados a cooperativas, com assistência técnica Oficial [da] União, Brasília, 08, jan. 2002. Seção 1, p.
proveniente de outra fonte ou sem nenhum tipo 1. Disponível em: <http://www.sindag.com.br>. Acesso
de assistência, pertencentes a regiões menos em: 10 mar. 2013.
tecnificadas ou pequenas propriedades com ______. Lei nº. 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe
cultivos diferenciados. sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a
embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento,
a comercialização, a propaganda comercial, a utilização,
a importação, a exportação, o destino final dos resíduos
Referências e embalagens, o registro, a classificação, o controle,
AGOSTINETTO, D.; PUCHALSKI, L. E. A.; a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
AZEVEDO, R.; STORCH, G.; BEZERRA, A. J. A.; componentes e afins, e dá outras providencias. Diário
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