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PEDAGOGIA
São Paulo
2019
SERGIO RICARDO DOS SANTOS
São Paulo
2019
SERGIO RICARDO DOS SANTOS
São Paulo,
BANCA EXAMINADORA
Caetano Veloso
RESUMO
The objective of this research is to understand the Education of Young and Adults
(EJA) in the prison context, based on the testimony analysis, of an individual who
experienced the context addressed. The research methodology starts from a guiding
question: The importance of EJA in prison space. The collection of the statement
aims to understand the contribution of the EJA as a transformative and effluent object
of change. It is assumed that the prison system is a citizen's right and relies on the
deponent's speech to understand whether there is no public policy aimed at this
public, especially those trained in high school to work with the EJA. The State of the
Art was developed on the prison EJA based on the theoretical assumptions of
Silvana Cortada: The Experience of Being a Teacher of the EJA; Prison Education:
CEREJA discusses - Reference Center on Youth and Adult Education (2010);
Antônio Pereira: Education of young people and adults in the Brazilian prison system:
what do state prison education plans say? (2018)
Keywords: Youth and Adult Education (EJA), Prison Education, Social vulnerability.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
IC Iniciação Cientifica
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 10
2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................ 11
2.1 ESTADO DA ARTE ................................................................................. 13
2.1.1 DEPOIMENTO ........................................................................................ 14
2.1.1.1 ANÁLISE E RESULTADOS .................................................................... 22
3 CONCLUSÃO ......................................................................................... 29
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 30
GLOSSÁRIO .............................................. Erro! Indicador não definido.
APÊNDICE A — Subtitítulo do apêndice .... Erro! Indicador não definido.
ANEXO A — Subtitítulo do anexo .............. Erro! Indicador não definido.
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1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
2.1.1 DEPOIMENTO
Carlos- Olá! Então vamos lá meu querido (né). Eu vou começar aqui, a
história é meio longa e porém tem muitos detalhes, (né) e eu acho que esses
detalhes de cada episódio, de cada etapa (né) dessa minha trajetória, eles fazem
muita diferença (né), pra o que vocês desejam demonstrar, apresentar e até uma
ideia (né), uma teoria (aí) a comprovar (né), por mais utópica que ela seja (né).
Estamos falando de um ex-prisional, estamos falando (né) de pessoas que
viveram no crime, então parece que são rivais (né), e a educação, ela perde muito
pra criminalidade hoje em dia devido a miséria de cultura, de educação, até de
condição que o sistema não oferece pra que os pais possam estar mais atentos (aí)
aos seus filhos que acabam ficando desligados sem uma supervisão pra haver
sentido (né), na educação, pra haver significado em você aprender e no que que
aquilo vai ser tão útil pra a sua vida (né), como jovem.
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Eu sou o Carlos (né), eu aos dezenove anos eu fui expulso da casa dos meus
pais (né), minha família deu as costas pra mim, eu acabei ficando numa situação de
rua com dezenove anos e isso aconteceu devido ao seu ser um pouquinho rebelde
(né), todo adolescente é, e não gostava de seguir regras e achava que meu Pai não
tinha cacife pra colocar um jeito em mim, até porque ele era muito ausente (né) e
então isso aconteceu.
E minha tia também com quem eu morava com ela me colocou pra fora de
casa, e eu acabei ficando na rua.
E aí você sabe (né)? Se a família rejeita a rua abraça (né). E eu acabei
entrando numa parada devido a ter, a ser... aí, apreendido pela Polícia (né) com
drogas (né), usando drogas, eu usei muita droga na adolescência e nessa ocasião
eu fui preso (né), com dezenove anos.
E ai foram dias bens ruins, foram dias bem pesados e uma tristeza que não
acaba (né), uma tristeza que não acaba com o passar dos dias, você dormir, acordar
e perceber que tá naquele lugar gera muita agonia, logo de manhã cedo e eu tava lá
naquele contexto junto com várias outras pessoas que enfim, ficaram a margem da
sociedade de alguma forma.
Mas quando eu tive minha transferência pra Penitenciária (né), eu lá na
Penitenciária você já tem emprego lá dentro (né), então você pode trabalhar, tem a
escola que você pode estudar (né), ter a oportunidade de pelo menos usar aquele
tempo que você tá ali pra algo que te enriqueça mais.
Não são todos que tem essa visão lá dentro (né), mentalidade, por mais que
eles estejam ali, a mentalidade ainda de viver o crime (né) e de, enfim não dá pra
julgar a escolha deles, porque eles não perceberam também (né) que o melhor era
isso, o meio em que eles viviam faz crer que essa é a lei, essa é a direção e esse é
o caminho.
Nós sabemos que não, então eles dividiam as tarefas lá no pavilhão que a
gente ficava (né), tinha um pessoal que cuidava (né) da liderança (né) daquele lugar
por que senão vira uma zona (né), vira bagunça um monte de, enfim de detentos
(né), tem que ter uma norma, tem que ter uma lei, tem que ter uma ética, por mais
irônico que seja, e eles tem uma ética muito apurada, que eu considerei até muito
mais aplicada, bem aplicada do que a ética daqui de fora que é totalmente hipócrita
(né).
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em aprender algo, eram pessoas que não sabiam escrever, não sabiam discernir o B
do F (né), e eles tinham muita sede disso, eu reparei isso quando eu fiz os testes de
observação. Observando o professor que eu iria substituir.
Ele foi me passando todas as táticas, todos (né), as didáticas que ele usava, a
forma de se portar diante do pessoal (né), pra inspirar sempre o respeito, um
ambiente de respeito, e eu tinha muito medo (né), eu tinha muito medo porque eu
pensei, eu com vinte anos (né), e na condição de professor como quem quer ensinar
algo para alguém que tem as vezes, tem até o dobro da minha idade, o dobro da
minha experiência, e eu fiquei com receio da pessoa ter um pensamento tipo quem é
esse cara para me ensinar alguma coisa (né).
E não ter aquela confiança (né), não ter aquele respeito e eu encontrar
problemas, dificuldades pra ensiná-los porque eu lembro que meus professores (né),
na escola sempre tiveram muita dificuldade com a indisciplina dos alunos, a
indiferença dos alunos, então eu tive muito receio de passar por isso nessa
experiência.
E ai, eu acabei ficando (né) como professor, e desenvolvi meu próprio meio
de didática, planos de aula, então eu tive essa experiência bem antes da faculdade
(né), planos de aula, como eu iria ensinar, o objetivo do que que a gente ia aprender
ou não (né), enfim tava me trazendo muito prazer aquilo (né), eu estava bem
empolgado, bem animado e foi um santo remédio ai pra ansiedade que eu sentia lá
dentro (né), melancolia, aquele ócio naquele lugar, não é nada sadio (né) pra mente
nem pro coração.
E ai, comecei a ensinar e tudo mais, e ai eles começaram a formar as
primeiras palavras por conta própria, e perguntavam (né), tinham dúvidas e queriam
esclarecer (né), via alunos muito dedicados mesmo, com o dobro da minha idade
(né), e ai consegui ensinar pra eles o primeiro passo no alfabeto, depois separando
consoantes de vogais (né), discernimento, depois a formação das consoantes com
as vogais formando sílabas (né), essa foi a ideia que eu pensei em fazer e depois é
colocar lá as bolinhas pra ver as palavras que eles poderiam formar (né).
Então eu vi que eu nem tinha lido Paulo Freire, nem tinha visto Paulo Freire,
ele tinha muito essa estratégia (né), mais foi algo que eu pensei em fazer lá e deu
super certo também (né), depois eu vi que Paulo Freire deteve (né) esse método tão
eficaz (né), que educou pessoas de uma hora pra outra.
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E eles também, com eles também foi dessa forma lá, mas naquela época eu
não sabia, nem sonhava quem era Paulo Freire. Aí eu resolvi passar um ditado (né),
passar um ditado, ver como eles estavam escrevendo (né), ver o que que eu poderia
melhorar pra alvos (né), pra passar, repassar aulas, revisões e aí ir complementando
(né) essas partes baseadas nas dificuldades deles.
Ai eu tinha uma aluno que sentava bem perto da minha mesa, e ele era um
dos mais dedicados (né), e ai quando eu passei por ele e olhei na folha dele, as
cinquenta palavras que eu passei no ditado ele tinha acertado todas, aquilo ali me
comoveu profundamente, aquilo ali mexeu com meu coração, mexeu com a minha
cabeça, foi uma sensação de emoção muito boa, muito positiva (né). Ele lá com a
mãozinha trêmula lá, escrevendo as palavras e todas elas escritas corretamente,
aquilo ali foi muito gratificante, e foi uma descoberta (né).
Eu nunca tinha tido outras experiências que tivessem mexido comigo dessa
forma, que tivessem, que me deixassem tão inspirado (né), então eu pensei muito
em me tornar um professor lá dentro, através dessa experiência com o EJA (né),
com o EJA prisional com aqueles alunos, ensinando eles e era sensacional, era
sensacional.
Os alunos gostavam muito de mim, me chamavam de professor (né), aquilo
ali era muito gratificante pra mim, contribuir pro crescimento, contribuir pra, contribuir
pra que um novo mundo se desvendasse diante deles (né), uma coisa eu creio seja,
que deva ser a gente não saber ler, e ai de repente você sabe ler.
Um novo mundo se é revelado, desde uma placa que você lê, desde um
itinerário de ônibus que agora você consegue ver sozinho, até mesmo uma carta
que você deseja escrever pra alguém, hoje nós vivemos na era das mensagens (né),
através do “WhatsApp”, do “Twitter” e do “Facebook”, então imagina a grandeza
(né), a grande proporção que uma simples alfabetização, simples não, porque você
tem ai uma alfabetização bem consistente, você não ser, não só decodificar o que tá
escrito, mas perceber o significado e aquilo ali mexer um pouco com a sua
subjetividade, somar a sua subjetividade (né), e formar conceitos com base no que
você já tem de experiência de vida (né).
Mas você tem um contato direto com aquilo é muito importante, e desvenda
um mundo novo para eles e modifica totalmente a vida de cada um deles,
transforma (né) a vida deles e ai eles ficam apto de construir coisas muito maiores,
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Eu sai de um presídio (né), e a maioria das pessoas que saem voltam para lá
(né), grande parte delas, mas eu pude felizmente ter o privilégio de estudar esse
curso. E aí resumidamente é mais ou menos isso (né).
Depois eu tive alguns problemas pessoas (né), minha esposa ficou grávida e
aí eu tive que parar de fazer o curso (né). Eu tava fazendo um estágio no CEFAI
(né), eu amava aquele estágio, amava muito meu aluno também, ele era genial (né),
e ai tive que ficar dois anos, isso daí a professora Manuela pode atestar pra você,
afinal ela me ligava bastante (né) pra conversar, pra dar forças, pra não desanimar,
pra eu não ficar triste (né), e ela teve essa presença nesse momento, ai que foi
sensacional ela ter lembrado de mim, ela ter tido esse encargo (né) pra comigo, foi
muito bom. E olha que ela também passava um momento bem difícil.
E ai de repente, aí me indignei depois muitas vezes, dificuldade para arrumar
algum emprego (né), e sempre empregos em condições muito precárias,
trabalhando muito por pouco dinheiro.
E ai teve um dia que eu vi minhas coisas, minhas apostilas (né), minhas
provas (né) tudo com dez, nove, era difícil ter uma prova minha que eu tirasse
menos que oito e aquilo ali me fervia sabe, tanta dedicação, tanto esforço, um sonho
acabado assim (né), e ai queimei tudo, taquei fogo em tudo, o resto joguei fora
também, apostilas e tudo mais.
Mais aí eu pude voltar, de repente (né) encontrei uma pessoa que acreditou
em mim, que investiu em mim, e aí essa pessoa não se decepcionou.
Consegui me formar com excelentes notas, no primeiro semestre que eu
voltei foi o boletim inteiro com média dez, em todas as notas, todas as matérias, eu
fechei com dez, isso ali, aquilo ali pra mim foi, eu voltei com muita sede (né), muita
garra, com muito gana e ai eu pude colher ótimos resultados. E ai me formei super
feliz (né), meu Pai tava lá (né), meu Pai poxa que deu as costas pra mim, não
acreditou em mim, agora ele tava lá naquele momento vendo eu com o diploma na
mão, com a beca (né), e independente de qualquer coisa ele ficou muito orgulhoso
(né). Então até a minha família naquele presente momento se rendeu a mim (né).
Eu tinha tudo pra dar errado e realmente a experiência com o EJA
transformou a vida das pessoas que estudavam comigo (né), naquela questão que
eu falei pra você dá autonomia, do mundo que se desvenda quando elas aprendem
a ler e interpretar as coisas (né) e eles ficam cada vez mais sedentos, elas gostam
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cada vez mais, quanto mais eles aprendem, mais eles querem aprender (né).
Quiséramos nós, quiséssemos nós, que nossos alunos, nossos pequenos,
principalmente os jovens do ensino médio eles tivessem essa consciência.
E ai é mais ou menos isso que eu tenho para falar, acho que além disso, só
que eu continuo na luta (né), é um pouco ansioso ((né)), eu passei no Concurso
Público em Osasco recentemente mas por questões burocráticas eu não pude
assumir minha vaga, é já tô com o diploma um ano na mão (né), enviando
currículos, buscando oportunidades e elas são bem escassas, ocorrem raramente,
então ficar com o diploma na mão mais de um ano assim me deixa um pouco
apreensivo, um pouco ansioso.
Mas tô aí, tô aceso na luta e com muito prazer de viver a vida, e essa
experiência aí que eu tenho pra falar pra vocês. A luta não acaba (né), a luta não
acaba porque a gente corre atrás, conquista alvos, mas a gente tem que saber
manter aquele alvo, a gente tem que saber cultivar aquele alvo para que agora ele
evolua, cresça te torne uma pessoa melhor, mais qualificada, mais capacitada, mais
corajosa (né), e os problemas, as dificuldades eles vêm pra isso mesmo (né), no
meio deles que a gente consegue uma superação que nos dá esse recurso de ser
mais forte, por desafio diferente que a gente vai enfrentar lá adiante.
E é isso, eu to no meio disso também e tenho expectativa de que logo, logo
eu já vá também estar com uma sala junto com meus pequenos (né), tenho o alvo
de ensinar de primeiro a quarto ano, de primeiro a quinto ano, essa é minha
vontade, ou então uma ONG (né), onde eu possa trabalhar com jovens e difundir as
ideias que eu tenho, que eu defendo (né) em nome deles, que eles possam ter uma
consciência, possam sair pessoas críticas (né), isso as que não fiquem tão
suscetíveis as influências negativas da sociedade (né).
E eu sei que quando eu tiver fazendo isso, aí sim eu vou estar totalmente
realizado.
Amém meu irmão sem problemas, não foi dificuldade nenhuma tá.
Espero que consigam desenvolver aí um ótimo trabalho e fico contente em
ajudar, e eu autorizo tá, eu (...x...x...) autorizo (né) a divulgação da minha história, da
minha trajetória, meu depoimento pra esse trabalho acadêmico e fico grato em
ajudar.
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aí você sabe, (né) se a família rejeita a rua abraça, (né). E eu acabei entrando
numa parada devido a ter, a ser (ai) apreendido pela Polícia, (né), com
drogas, (né), usando drogas... eu usei muita droga na adolescência e nessa
ocasião eu fui preso, (né), com dezenove anos. [...] naquele contexto junto
com várias outras pessoas que, enfim, ficaram a margem da sociedade de
alguma forma. [...]”
1. Para Foucault (1997,p.29) a educação nas prisões “quer dizer que pode
haver um ‘saber’ do corpo que não é exatamente a ciência de seu
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3. Segundo José Carlos Sebe Bom Meihy, "a história de vida oral pretende
ser um campo multidisciplinar em que, independentemente das várias
tradições disciplinares, diferentes linhas de trabalhos possam dialogar sobre
maneiras de abordagem das entrevistas e trocar experiências." (BOM MEIHY
1998 p.35). Partindo dessa análise despertou-se a curiosidade em aprofundar
dados estátiscos sobre a questão que envolve a empregabilidade dos
apenados. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgados neste dia 31 de maio de 2019, a taxa de desemprego no
Brasil ficou em 12,5% no trimestre de fevereiro a abril, e notadamente o
depoente contribuiu para esta estatística. Através da fala de Carlos, podemos
identificar que, a história de vida oral, proposta por Bom Meihy, pode
contribuir factualmente para traçarmos um panorama sob perspectivas de
inclusão social do apenado. Dentro deste contexto, o instrumento de
aplicação e análise desse depoimento objetiva, sobretudo, a compreensão de
mundo no que se refere a correlação da pesquisa científica e a situação real
do apenado em questão. A importância da história de vida oral de Carlos é a
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CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
GADOTTI, Moacir. Educar para um outro mundo possível. São Paulo: Publisher
Brasil, 2017.