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SENTENÇA
Vistos.
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instalações, celas e veículos do CCZ/canil, mantendo o ambiente livre de infecções; j) não ceder animais
abrigados para realização de vivissecção ou de qualquer forma de experimento cruel; l) dar destinação ambiental
adequada a carcaças e resíduos de saúde animal; m) inserir animais em programa de doação após obervação por
tempo clínico razoável, feita a castração, vermifugação, vacinação e registro.
É o relatório.
DECIDO.
Ab initio, insta consignar a legitimidade ativa do Ministério Público para propositura da demanda,
diante do contido nos arts. 127 e 129 da Constituição da República.
Do mesmo modo, o Município de Além Paraíba é parte legítima para figurar no polo passivo da
ação, uma vez que a Constituição prevê a responsabilidade do Poder Público para “proteger a fauna e a flora, vedadas,
na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais
a crueldade” (CR/88, art. 225, §1º, VII).
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Sabe-se os animais podem atuar como reservatórios, hospedeiros e/ou vetores de agentes
patogênicos. Daí o interesse público envolvido e a consequente razão para o controle das populações animais,
com adoção de medidas de profilaxia das zoonoses.
No caso dos autos, a Associação Protetora dos Animais de Além Paraíba, declarada de utilidade
pública (fl. 16), fazia as vezes do poder público quanto às ações dirigidas em favor dos animais
doentes/abandonados (ff. 04/05 e 07), recebendo subvenções do Município (ff. 20/25).
Todavia, a entidade tem limitações próprias e não tem condições de fazer frente a demanda de um
Município do porte de Além Paraíba (ff. 56/57, 67/69 e 97).
Muito bem.
A partir da Medida Cautelar na ADPF 45, o Supremo Tribunal Federal deixou assentado que não
é defeso ao Poder Judiciário determinar a implementação de políticas públicas com previsão constitucional/legal,
ante a omissão das instâncias governamentais, violadora dos direitos assegurados pelo ordenamento jurídico.
Vejamos:
- O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia
governamental. A situação de inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo do Poder
Público, que age ou edita normas em desacordo com o que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim, os
preceitos e os princípios que nela se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um facere
(atuação positiva), gera a inconstitucionalidade por ação.
- Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em
ordem a torná-los efetivos, operantes e exeqüíveis, abstendo-se, em conseqüência, de cumprir o dever de
prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional. Desse non
facere ou non praestare, resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma
a providência adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público.
- A omissão do Estado - que deixa de cumprir, em maior ou em menor extensão, a imposição ditada pelo
texto constitucional - qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis
que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição, também ofende direitos que nela
se fundam e também impede, por ausência de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos
postulados e princípios da Lei Fundamental." (RTJ 185/794-796, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) É
certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário - e nas desta
Suprema Corte, em especial - a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ CARLOS
VIEIRA DE ANDRADE, "Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976", p. 207, item n.
05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo
e Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder
Judiciário, se e quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que
sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos
individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas
de conteúdo programático. Cabe assinalar, presente esse contexto - consoante já proclamou esta Suprema
Corte - que o caráter programático das regras inscritas no texto da Carta Política "não pode converter-se em
promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele
depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever,
por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do
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Estado" (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO)" (ADPF 45 MC, Relator(a): Min. CELSO
DE MELLO, julgado em 29/04/2004, publicado em DJ 04/05/2004 PP-00012 RTJ VOL-00200-01 PP-
00191)
Art. 34 - Para os efeitos desta lei, entende-se por controle de zoonoses o conjunto de ações que visam a
prevenir, diminuir ou eliminar os riscos e agravos à saúde provocados por vetor, animal hospedeiro,
reservatório ou sinantrópico.
II - doença transmitida por vetor a doença transmitida ao homem por meio de seres vivos que veiculam o
agente infeccioso, tendo ou não os animais como reservatório;
III - animal sinantrópico o que provavelmente coabita com o homem, no domicílio ou peridomicílio.
§ 2º - Nas ações de controle de zoonose, serão consideradas as alterações no meio ambiente que interfiram
no ciclo natural das nosologias envolvidas.
§ 3º - As campanhas que tenham como objetivo o combate a endemias com uso de inseticidas serão
precedidas de estudos de impacto ambiental e de eficácia e efetividade.
I - definição e utilização dos critérios epidemiológicos para a organização dos serviços de controle e
diagnóstico de zoonoses;
II - desenvolvimento de ações de combate e controle dos vetores, animais reservatórios e sinantrópicos e dos
agravos à saúde, de forma integrada com a vigilância epidemiológica, de saneamento, meio ambiente,
educação, comunicação social e saúde do trabalhador, ressaltando o caráter de complementaridade do
combate químico. (Vide Lei n° 19.482, de 12/1/2011.)
I - planejar, estabelecer normas, coordenar, acompanhar, avaliar e executar as ações de controle de zoonoses;
II - analisar o comportamento das zoonoses, das doenças ou dos agravos causados por vetor, animal
hospedeiro, reservatório ou sinantrópico e a projeção de tendências de forma a subsidiar o planejamento
estratégico;
III - analisar o impacto das ações desenvolvidas, das metodologias empregadas e das tecnologias
incorporadas;
IX - incentivar e orientar a organização dos serviços de zoonoses, garantindo fácil acesso da população aos
serviços e às informações.
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Art. 37 - Os atos danosos cometidos por animal são da inteira responsabilidade de seu proprietário.
Parágrafo único - Quando o ato danoso for cometido por animal sob a guarda de preposto, estender-se-á a
este a responsabilidade de que trata o "caput" deste artigo. (Vide Lei nº 16.301, de 7/8/2006.).
III - mantê-lo distante de local onde coloque em risco o controle da sanidade dos alimentos e outros
produtos de interesse da saúde ou comprometa a higiene e a limpeza do lugar;
IV - permitir, sempre que necessário, a inspeção pela autoridade sanitária, no exercício de suas funções, das
dependências de alojamento, das condições de saúde e das condições sanitárias do animal sob sua guarda;
V - acatar as medidas de saúde decorrentes das determinações da autoridade sanitária que visem à
preservação e à manutenção da saúde e à prevenção de doenças transmissíveis e de sua disseminação.
§ 1º - A inspeção a que se refere o inciso IV deste artigo compreende a execução de provas sorológicas e a
apreensão e o sacrifício do animal considerado perigoso à saúde.
Art. 39 - O proprietário que já não tiver interesse em manter seu animal solicitará ao órgão responsável
orientação sobre sua destinação, não podendo abandoná-lo .
Parágrafo único - Compete ao poder público definir os locais adequados para a destinação do
animal a que se refere o "caput" deste artigo. (Vide Lei nº 16.301, de 7/8/2006.)
Art. 40 - A criação e o controle da população animal serão regulamentados por legislação municipal,
no âmbito de sua competência, na defesa do interesse local, respeitadas as disposições federais e
estaduais pertinentes.
Parágrafo único. A comercialização de animais domésticos e sua criação para fins de reprodução dependem
de licença do poder público municipal (Parágrafo acrescentado pelo art. 10 da Lei nº 21.970, de 15/1/2016.)
(Vide Lei nº 16.301, de 7/8/2006.)
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Cabe lembrar da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da Unesco, celebrada na Bélgica
em 1978, dispõe em seu art. 3º, que: "Artigo 3º 1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis. 2.Se
for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia."
5 - Os §§1º e 2º do art. 120 da Lei nº. 681/78, do Município de Bambuí, ao prever o sacrifício
indiscriminado de cães vadios, não foram recepcionados pela ordem constitucional de 1988,
porquanto em conflito com o disposto no art. 225, §1º, VII, da CR/88.
6 - Conforme já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça (REsp 1115916/MG, DJe 18/09/2009), apenas
em situações extremas, nas quais a medida se torne imprescindível para o resguardo da saúde humana, é que
o extermínio de animais deve ser permitido. (TJMG - Apelação Cível 1.0051.14.001570-5/001, Relator(a):
Des.(a) Jair Varão , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/02/2016, publicação da súmula em
04/03/2016)
Continuando.
Para tanto, o Município deverá incluir dotação no primeiro projeto de Lei orçamentária após o
trânsito e início do cumprimento da sentença, abrindo-se o competente processo licitatório e concurso público,
caso necessário.
III – DISPOSITIVO
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido inicial para condenar o Município de Além
Paraíba:
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Para cumprimento dos itens “a” a “b”, deverá o município incluir dotação no primeiro projeto de
Lei orçamentária após intimação para cumprimento da sentença transitada em julgado.
Os competentes processos licitatórios serão iniciados em até 45 (quarenta e cinco) dias da sanção
da lei; os processos licitatórios deverão ser concluídos em no máximo 90 (noventa) dias, com homologação e
adjudicação dos contratos. O início da execução das obras deverá ocorrer em até 30 (trinta) dias, contados da
adjudicação do contrato. As obras deverão estar concluídas nos 180 (cento e oitenta) dias seguintes. Qualquer
atraso no cronograma aqui estabelecido determinará multa diária de R$1.000,00, limitada a R$50.000,00,
revertida em favor do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente – CMDCA, sem prejuízo de eventual
majoração caso se revele insuficiente.
O não cumprimento das obrigações relacionadas nos itens “c” a “l”, determinará a incidência de
multa de R$1.000,00, limitada a R$50.000,00, por cada ato de descumprimento, revertida em favor do Conselho
Municipal da Criança e do Adolescente – CMDCA, sem prejuízo de eventual majoração caso se revele
insuficiente.
P. R. I.
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Juiz de Direito
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