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Pau-rosa Aniba rosaeodora Ducke Lauraceae

Chapter · September 2003

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Paulo de Tarso Barbosa Sampaio Isolde Ferraz


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José Luís Camargo


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Pau-rosa
Aniba rosaeodora Ducke
Lauraceae

MANUAL DE SEMENTES DA AMAZÔNIA


ANO 2003 FASCÍCULO 3
Aniba rosaeodora Ducke
Sampaio, P. T. B., Ferraz, I. D. K. & Camargo, J. L. C. Lauraceae

NOMES VULGARES: pau-rosa, pau-rosa-itaúba (Brasil), cara-cara,


“rosewood” (Guiana), “bois-de-rose”, “bois-de-rose-femelle”
(Guiana Francesa), “enclit-rosenhout” (Suriname).

ESPECIES RELACIONADAS: o gênero Aniba é constituído por 41


espécies neotropicais (Mabberley 1990) e a fitoquímica de 18 destas
espécies é suficientemente conhecida para permitir a classificação
sistemática baseada em compostos secundários (Gottlieb & Kubitzki
1981). Baseado em evidências bioquímicas e similaridades
morfológicas, Kubitzki e Renner (1982) incorporaram Aniba duckei
em Aniba rosaeodora, apesar da presença específica de cotoína em
A. duckei Kosterm e pinocembrina em A. rosaeodora Ducke. Ambas
são caracterizadas pela presença do álcool linalol, que fornece um
odor forte e perfumado em todas as partes da planta. São
2 cm
consideradas sinonímias para Aniba rosaeodora Ducke: Aniba
rosaeodora Ducke var. amazonica Ducke e Aniba duckei Kostermans.
Aniba parviflora e A. coto são consideradas espécies relacionadas
com A. rosaeodora pela presença do pseudo-alcalóide anibina. A.
parviflora é uma árvore de pequeno porte com a madeira de cor
esverdeada clara.

DESCRIÇÃO BOTÂNICA:
Baseada em Ducke (1938) e Kubitzki & Renner (1982).

Árvore: de grande porte, podendo atingir até 30 m de altura por 2 m


de diâmetro, com um tronco reto e cilíndrico e uma casca pardo-
amarelada ou avermelhada que se desprende facilmente em grandes
placas. A copa estreita ou ovalada ocupa o dossel intermediário ou
superior da floresta.

Folha: obovada-elíptica ou lanceolada, com uma grande variação Frutos em diferentes estádios de maturação e sementes.
em tamanho, geralmente medindo de 14 (6-25) cm de comprimento
por 5 (2,5-8) cm de largura. Base obtusa e imediatamente
arredondada, ápice bastante acuminado, com margens planas ou de 45 a 60 graus. Pecíolo grosso e glabescente, canaliculado com
levemente recurvadas. A superfície superior é glabra, coriácea e 0,8 a 1,7 cm de comprimento. As folhas se distribuem
verde escura e a inferior levemente pubescente e amarela pálido. As alternadamente ao longo dos ramos menores ou se concentram em
nervuras secundárias divergem das nervuras primárias em um ângulo suas pontas.

Inflorescência: Panícula sub-terminal com múltiplas flores


localizadas nas axilas das brácteas caducas ou das folhas
persistentes, densamente ferrugínea-tomentosa, com 4 a 17 cm de
comprimento.

Flor: hermafrodita, pequena (1,5 mm de comprimento), de cor


ferrugínea-tomentosa. O perianto tem 6 sépalas eretas iguais, ou às

A B C D E
Aniba rosaeodora Ducke: (A) fruto imaturo. (B) fruto maduro. (C) fruto cortado visualizando a polpa amarela e a semente com tegumento. (D) semente sem
tegumento visualizando os dois cotilédones. (E) vista frontal após a retirada de um dos cotilédones, mostrando a posição basal do eixo embrionário.
(ilustrações: M. Nakajima)

1 Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke


vezes, as externas podem ser menores. Comumente 9 estames, com
filamentos da mesma largura ou menores do que as anteras. As
anteras possuem válvulas que se abrem geralmente para cima
liberando o pólen. Pistilo minutamente tomentoso. Ovário
elipsóide ou ovóide, glabro ou piloso, incluído no tubo floral.
Pedicelos pouco evidentes.

Fruto: do tipo baga com uma cúpula. A cúpula é cônica, espessa,


com superfície externa áspera marrom-esverdeada e superfície
interna glabra e marrom. A baga é de forma obovóide a ovóide, de
cor verde quando imatura, tornando-se roxa-escura quando madura, folhas simples
alternas espiraladas
contendo apenas uma semente. .

Semente: ovóide, tegumento delgado, liso e opaco; de cor marrom


clara com estrias longitudinais marrom-escuras. O tegumento
quando seco é quebradiço. A semente tem dois cotilédones
grandes, convexos, duros, lisos, de cor creme. O eixo embrionário é
reto, central, próximo à base, com 3 mm de cumprimento, e também
de cor creme.

DISTRIBUIÇÃO, ABUNDÂNCIA E ECOLOGIA: Aniba rosaeodora


Ducke ocorre na Guiana Francesa, distribuindo-se ao longo do
escudo das Guianas, Suriname e a região amazônica da Venezuela,
Colômbia e Peru (Ducke 1938). No Brasil, ocorre desde o estado do
Amapá no nordeste amazônico, seguindo as duas margens do Rio
Amazonas e tributários até o Peru à noroeste (SUDAM 1972); como
também desde a região centro-sul do estado do Pará até a bacia do
Rio Purus no sul do estado do Amazonas (Ducke 1938; Mitja &
Lescure 1996). A espécie pode ser encontrada tanto em floresta de
terra firme úmida como também em área de campinarana, presente
nas regiões norte e central da Amazônia, com habitat preferencial
3 cm
em platôs e nascentes de igarapés (Kubitzki & Renner 1982).
A densidade de árvores adultas (>10 cm DAP) nas florestas de terra
firme ao norte de Manaus é de 2 árv/ha (Loureiro et al. 1979) ou até

Muda de Aniba rosaeodora com 6 meses.


BIOMETRIA (ilustração: M. Nakajima)

FRUTOS

Comprimento: 2,8 (2,4-3,1) cm; 4 cm ;


B
3,5-4cm
C 7,5 árv/ha (Mitja & Lescure 1996). Na Reserva Ducke, vizinha à
Manaus foram encontradas 3 a 4 árv/25 ha com DAP >20 cm (Alencar
B
Diâmetro: 2,0 (1,8-2,3) cm; 2 cm & Fernandes 1978). Apesar da presença de indivíduos
espacialmente dispersos, a distribuição das árvores adultas, nas
Peso: 6,6 (4,3-8,4) g
poucas áreas que não foram exploradas, parece ser agregada em
Teor de água da polpa: 39,5 (32,8-48,1) % grupos de 5 a 8 árvores, com espaçamento de 50 a 100 m entre
árvores e 300 a 400 m entre grupos (Alencar & Fernandes 1978;
No. de sementes/fruto: 1
Araújo 1970).
A regeneração natural do pau-rosa é irregular e pouco freqüente e,
SEMENTES não segue um modelo clássico de distribuição espacial, no qual
espera-se que a probabilidade de ocorrer plântulas estabelecidas é
Comprimento: 2,4 (1,9-2,9) cm maior com o aumento da distância em relação à árvore-mãe. Um
estudo com 80 árvores de pau-rosa (>10 cm de DAP), realizado ao
Largura: 1,7 (1,4-2,0) cm
norte de Manaus, mostrou que nos locais circunvizinhos para 70%
Espessura: 1,5 (1,2-1,9) cm das árvores foram encontradas plantas jovens. Aproximadamente
50% destas plantas jovens se distribuíram em um raio de até 10 m da
Peso: 3,5 (1,8-5,5) g árvore-mãe. A baixa freqüência da regeneração natural se
No. de semente/kg:
A
272-392; 320 ; 750
D caracterizou pelo fato que em apenas 35% destas árvores foram
encontradas mais do que 10 plântulas (Mitja & Lescure 1996). Em
Teor de água: 48,5 (36-64) % outro estudo, também ao norte de Manaus, Santana (2000)
encontrou a maior densidade de plântulas em uma distância de 4 a 5
Reserva Principal: cotilédones
m da árvore-mãe e nenhum outro indivíduo além dos 23 metros. Os
(A) Loureiro et al. 1979; (B) Parrotta et al. 1995; sítios regenerativos mais comuns de plântulas de pau-rosa estão
(C) van Roosmalen 1985; (D) Lorenzi 1998. associados com clareiras e bordas de clareiras (Mitja & Lescure
1996).

Sampaio, Ferraz & Camargo 2


FENOLOGIA observado que o período de floração individual variou entre 45 e 75
dias; o tempo de maturação dos frutos de 13 até 14 meses e o
período de frutificação se estendeu por 3 a 4 meses. Neste mesmo
estudo, observou-se uma alta incidência de abortos dos frutos para a
maioria das árvores estudadas (10-76%, n=10) e uma grande
variação numérica na produção de frutos que oscilou entre 210 a
DEZ JAN
1620 frutos maduros por árvore. Apesar da espécie ser perenifólia
S
OVA

FL
S

NOV FEV
QUEDA DE SEMENTE

ocorre uma maior mudança foliar durante a estação seca (Araújo

OR
FOLHAS N

1970; Magalhães & Alencar 1979).

AÇÃO
OUT MAR
PREDAÇÃO: A predação dos frutos de pau-rosa, no plantio da
Reserva A. Ducke apresentou uma alta incidência tanto em frutos
SET ABR abortados (58-86%), quanto em frutos maduros (70-96%), e foi
causada por larvas de vários insetos. O nível de infestação foi
AGO MAI independente da produtividade da árvore. Um coleóptero
JUL JUN (Curculionidae) ataca os frutos durante a fase intermediária de
desenvolvimento; enquanto que uma segunda espécie de coleóptero
do gênero Heilus sp. (75% dos casos) e lepidópteras (20% dos casos)
FRU atacam os frutos na fase final de desenvolvimento até a maturação
TIFICAÇÃO
(W. Spironello, com. pers.). A proporção de infestação foi maior em
frutos abortados, sugerindo que o coleóptero, que consome os
cotilédones, pode estar induzindo estes abortos. Os frutos de pau-
rosa também são severamente procurados por aves das famílias
Psitacídeos e Ranfastídeos, que os comem mesmo antes da
Fenofases observadas na região de Manaus - AM maturação. (W. Spironello, com. pers.).

COLETA E EXTRAÇÃO DE SEMENTES: Os frutos quando maduros se


desprendem da cúpula e caem ao chão, mas como visto acima,
FENOLOGIA: Na Amazônia Central, estudos fenológicos mostraram podem ser comidos tanto na copa das árvores como após a
uma grande variação para as fenofases floração e frutificação entre dispersão, o quê torna a disponibilidade das sementes um dos
os indivíduos, não apresentando necessariamente uma frutificação pontos mais difíceis para a propagação da espécie. Quando
anual. Nesta região, a floração ocorre entre outubro e março e a coletados nas árvores antes da maturação, os frutos imaturos devem
frutificação apresenta um pico entre fevereiro e junho (Magalhães & ser transportados em recipientes plásticos e armazenados a
Alencar 1979). Em um estudo mais recente, Spironello e temperatura ambiente até atingir uma coloração escura, indicando
colaboradores (2001), observaram dois picos de floração para as um melhor ponto de maturação. Deve-se evitar qualquer
árvores de um plantio na Reserva A. Ducke: o primeiro no final de dessecamento. Após alguns dias, inicia-se o processo de
abril e início de maio e o segundo no final de julho. Também foi decomposição da polpa facilitando a extração das sementes que

TESTE DE GERMINAÇÃO

Tempo para
Local Substrato Condição Critério de Germinação Tempo de germinação (dias) germinação de 50%
de estudo das sementes germinação final Inicial Médio Final das sementes
germináveis (dias)

viveiro areia e vermiculita recém dispersas emergência 42% 35 54 97 43


com tegumento

viveiro
A 50% silica-argila emergência 37-91% 30-40 n.d. 60-120 n.d.

viveiro
B 50% silica-argila recém dispersas emergência 39-75% 17-43 98-127 126-168 n.d.
com tegumento

germinador 30oC papel de filtro com tegumento raiz primária 81% 24 37 47 34


(2 mm)

germinador 30oC papel de filtro sem tegumento raiz primária 84% 14 22 29 19


(2 mm)

germinador 30oC vermiculita sem tegumento raiz primária 94% 9 19 37 16


(2 mm)

germinador 30oC vermiculita sem tegumento plântula normal 76% 18 34 61 32

(A) Loureiro et al. 1979; (B) Araújo 1967

3 Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke


GERMINAÇÃO: A germinação de Aniba rosaeodora é do tipo
ARMAZENAMENTO DE SEMENTES
hipógea-criptocotiledonar. O grau de maturação dos frutos
Classificação recalcitrante influencia no processo germinativo; sementes provenientes de
frutos mais maduros, de coloração roxa escura, apresentam uma
maior porcentagem de germinação (Rosa et al. 1999). As sementes
Tolerância ao dessecamento não toleram secagem; um teor
não apresentam dormência, apesar de que o tegumento apresenta
de água < 20% é letal
uma certa resistência física à emissão da radícula. A retirada do
Teor de água recomendado o teor de água da semente tegumento reduz à metade o tempo de germinação em relação às
deve ser mantido > 40% sementes intactas. Quando as sementes sofrem um leve
dessecamento, o tegumento enrijece, aumentando a sua resistência
Tolerância à refrigeração das não toleram refrigeração < 10 ºC física. Recomenda-se assim, a retirada manual do tegumento após
sementes embebidas um corte longitudinal cuidadoso com um estilete para sementes com
Atualmente o melhor resultado manter as sementes entre 15 e baixo vigor e aquelas que sofreram um leve dessecamento (Ferraz
obtido através do método de 20 ºC em sacos plásticos finos
1996). Em condições controladas, a germinação das sementes é
alta entre as temperaturas de 20 0C e 35 0C. Mas, observando a
conservação e perfurados (com agulha) com
velocidade do processo de germinação, as temperaturas entre 25 0C e
vermiculita úmida
30 0C podem ser consideradas como ideais (Ferraz 1996).
Maior período de conservação 30 dias / 70%
(tempo / % de germinação)
PRÁTICAS DE VIVEIRO E PLANTIO: A produção de mudas de Aniba
rosaeodora pode ser feita por semeadura direta em sacos plásticos
Teor de água da semente baseado em porcentagem da massa fresca individuais ou em sementeiras para posterior repicagem. A semente
pode ser colocada a uma profundidade de 1 a 2 cm sem interferir na
taxa de germinação (Rosa et al. 1999). O pau-rosa não requer um
substrato específico, Rosa e Ohashi (1999) não encontraram
resultados diferenciados de germinação em sementes colocadas em
areia, terra preta ou mistura de pedrisco com terra preta. Assim
A B como, diferentes coberturas para sementeiras, como vermiculita,

Plúmula

Ponto de
inserção do
cotilédone

Radícula
primeiro
3 mm par de eófilos
opostos

Cotilédone Cotilédone Cotilédone


catáfilo
Tegumento

Morfologia do eixo embrionário: (A) vista frontal, depois de retirado um


dos cotilédones. (B) Vista lateral visualizando a inserção dos dois
cotilédones. (ilustrações: M. Nakajima)

epicótilo
catáfilo
epicótilo
deve ser feita manualmente devido ao tegumento ser muito frágil.
Resíduos ainda persistentes podem ser eliminados através da
lavagem das sementes em água corrente, deixando-as prontas para a
semeadura (Ferraz 1993).

ARMAZENAMENTO DE SEMENTES: As sementes de pau-rosa são


recalcitrantes pois não toleram dessecamento e devem ser raíz primária
armazenadas com um teor de água acima de 40%. Um teor de água
de igual ou menor do que 20% foi considerado letal para a semente e
mesmo 30% pode ser considerado crítico, porque 50% das sementes
já perdem a germinabilidade. Em laboratório com condições
ambientais as sementes perdem a germinabilidade em um período de
7 dias. As sementes de pau-rosa também são intolerantes à Processo germinativo
refrigeração. Atualmente, para armazenar as sementes por um (ilustrações: M. Nakajima)
período curto à temperatura de 15 oC a 20 oC sugere-se utilizar sacos
plásticos finos e perfurados com vermiculita úmida.

Sampaio, Ferraz & Camargo 4


palha de arroz ou serragem não influenciaram a germinação de derrubada, início da destilação e a procedência da árvore. Em geral
sementes de pau-rosa (Marques et al. 1999). Um substrato organo- uma tonelada de madeira produz 9 a 12 litros de óleo (Alencar &
arenoso, aliado ao sombreamento entre 30 ou 50% são favoráveis ao Fernandes 1978; Prance 1987). Após a destilação, este óleo passa
desenvolvimento das mudas em viveiros (Rosa et al. 1997; Marques pelo processo de decantação e coagem para eliminar impurezas. O
et al. 1999). Tais condições são similares aos sítios preferenciais de transporte é feito em tambores de até 180 kg (SUDAM 1972).
regeneração natural encontrados nas clareiras e bordas de clareiras Um estudo sobre o impacto da exploração de pau-rosa, em uma área
das florestas de terra firme (SUDAM 1972; Rosa et al. 1997). de 490 ha ao norte de Manaus, mostrou que para o abate de 66
Sombreamento (50%), adubação com NPK e irrigação diária árvores houve um impacto direto de 1,2% da área total. Cada
favoreceram a sobrevivência (95%) e maximizaram o crescimento indivíduo abatido e transportado perturbou uma área de até 1000
em altura das mudas (30 cm/ano) desta espécie em viveiro (Rosa et m2, duplicando assim a área que anualmente espera-se ser afetada
al. 1997). Santana e Barros (1997) ainda propõem a inoculação de naturalmente pela formação de clareiras (Mitja & Lescure 1996).
micorriza para acelerar o crescimento das mudas em viveiros. O volume de óleo de pau-rosa exportado na década de 60 atingiu
O pau-rosa também pode ser propagado por estaquia (Vieira 1972). mais de 500 t/ano, com cerca de 50 destilarias instaladas na região
Um estudo realizado por Sampaio (1987) revelou que estacas de amazônica, extraindo aproximadamente 50 mil t/ano de madeira de
pau-rosa obtidas de ramos juvenis sem nenhum tratamento pau-rosa de florestas nativas. Segundo Heinsdijk (1958), mais de
enraízaram 70% em média. Esta técnica oferece grandes 10 milhões de hectares foram explorados. Entre 1966 e 1986, a
possibilidades de seleção de material de alta qualidade para exportação através do porto de Manaus, diminuiu de 137 a 17 t e ao
plantações experimentais. mesmo tempo, o número de destilarias na Amazônia diminuiu de 103
Os plantios de pau-rosa sob sombra parcial (50%) da floresta madura a 20. Em 1988, observou-se um aumento da exportação de 57 t
indicam que é possível o cultivo desta espécie em sistemas agro- associado a um aumento do preço de FOB que passou US$ 14 o kg em
silviculturais. O pau-rosa cresce em latossolos amarelos e 1984 a US$ 21 por kg em 1988 (Lescure & Castro 1992). Em 1995, o
vermelhos, em solos arenosos e argilosos, exclusivamente na terra estado do Amazonas exportou 41 t de óleo, a um preço de US$ 29,31
firme. Trabalhos de melhoramento genético deverão selecionar o kg. No ano de 2000, somente 4 t de óleo foram exportadas
procedências ou progênies de maior produtividade em óleo o quê (Sampaio 2000). Fatores como a substituição do óleo natural de
contribuiria para elevar a produtividade atual, tornado o cultivo “ex pau-rosa por correspondentes sintéticos e a inexistência de uma
situ” desta espécie atrativa para o agricultor (Sampaio et al. 2000). política florestal para o setor também contribuíram para o declínio
Um estudo realizado pela SUDAM (1979) mostrou que esta espécie da exportação do óleo nas últimas décadas (Sampaio 2000; Richards
apresenta bom índice de sobrevivência (80%), com incrementos 1993). Atualmente, os principais importadores do pau-rosa são os
médios anuais de 0,83 m em altura, 0,79 cm em diâmetro e 9,1 Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha, Países Baixos e Reino
m3/ha/ano em volume em condições de sombra parcial na floresta Unido e alguns projetos de pesquisa interinstitucionais investigam
primária (30% de luminosidade). Em solo argiloso amarelo e as possibilidades de manejo sustentável do pau-rosa (ver Ohashi et
espaçamento de 10 x 5 m, o pau-rosa apresentou um incremento al. 1997).
médio anual de 0,75 m no sétimo ano após o plantio (Alencar & O sucesso do manejo dos plantios de pau-rosa visando produção de
Fernandes 1978). Pelas exigências lumínicas, recomenda-se plantar óleo a partir de galhos e de folhas depende da capacidade de rebrota
as mudas de pau-rosa em consórcio com outras espécies que e do crescimento dos novos brotos. Em um estudo recente foi
propiciem um sombreamento de até 50% (Rosa et al. 1997). mostrado que a poda da copa estimulou o rebrotamento e a média do
peso verde destas rebrotas (60 kg) foi significativamente superior (p
USO E COMERCIALIZAÇÃO: O uso principal de Aniba rosaeodora é a > 0.001, teste t Student) ao peso verde da copa (37 kg) das árvores
extração do óleo de pau-rosa, constituído principalmente de um testemunhas, ou seja, não podadas anteriormente (Sampaio et al.
metabólito secundário conhecido como linalol, uma substância 2000, Spironello et al. 2001).
fixadora de perfumes. Apesar do linalol estar presente em todas as A capacidade de rebrota aliada a maior produtividade de óleo dos
partes da árvore e o rendimento para a extração do óleo ser de 1,1% galhos e folhas em relação à madeira das árvores, indicam que este
e 2,4% da biomassa de madeira e folhas respectivamente, o óleo é método pode ser considerado como uma alternativa para o manejo
basicamente extraído da madeira (Gottlieb et al. 1964; Araújo et al. sustentável de pau-rosa. Do ponto de vista econômico, a poda da
1971; Chaar 2000). Para produzir 200 l de óleo através dos métodos copa como fonte renovável de biomassa manteria por mais tempo o
tradicionais de destilação é necessário processar de 16 t a 30 t de plantio e disponibilizaria recursos que podem ser investidos, por
madeira (Lescure & Castro 1992). A idade do material vegetativo exemplo, em adubação, aumentando a eficiência da produção.
pode influenciar na proporção de linalol obtido, folhas e galhos Nos plantios de pau-rosa da Reserva Ducke, há uma grande variação
jovens são mais produtivos (Araújo et al. 1971). Na prática dos na dimensão das copas. Árvores da bordadura, expostas a maior
extratores, o pau-rosa extraído do estado do Amazonas pode ser luminosidade, apresentaram maior diâmetro, altura e biomassa de
classificado em três tipos segundo diferenças morfológicas e da copa. Em uma avaliação, aos nove anos de idade, Alencar e
produtividade do óleo: o pau-rosa mulatinho, cerne escuro, Fernandes (1978) sugeriram que as árvores que sombreavam o
densidade elevada, que submerge quando as toras recém cortadas plantio deveriam ser reduzidas progressivamente para oferecer uma
são postas nos rios, apresenta maior produtividade de óleo (15 l/t); maior luminosidade. Espaçamentos maiores, desbastes, limpezas,
o pau-rosa itaúba, de cor amarelada e menos densa (10 l/t) e o pau- adubação e podas periódicas certamente ajudariam maximizar a
rosa imbaúba, muito leve e fácil de rachar, de cor quase branca, com produtividade destes plantios.
menor rendimento em óleo. Empresários que desejam plantar pau-rosa visando maximizar a
A extração tradicional do óleo começa com a derrubada das árvores. produção de óleo poderiam optar por plantios consorciados do pau-
O tronco é reduzido a lascas de madeira de 2 a 3 cm de largura e 5 mm rosa com culturas como mandioca, pupunha, banana ou espécies
de espessura com um triturador (SUDAM 1972; Ohashi et. al. 1977). florestais de rápido crescimento, já que o pau-rosa exige
Este material é colocado em um alambique e o processo de sombreamento nos primeiros anos de plantio. Estas culturas de
destilação é feito em duas etapas a temperaturas de 1940C e 200 0C, ciclo curto contribuiriam na receita para manutenção do plantio,
com este processo, pode-se obter 75% de rendimento (Leitão 1939). pois os custos são elevados e o retorno financeiro viria apenas após
A quantidade de óleo depende do tempo transcorrido entre a o décimo primeiro ano (Sampaio 1999).

5 Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke


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