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MSA quarta edição - Análise dos Sistema de Medição

Em junho 2010 foi lançada a 4ª edição do manual de análise de sistemas de medição. Esta
versão traz mudanças significativas em relação a terceira edição. Na nossa opinião, as
principais mudanças se concentram nos critérios para análise dos resultados. Porém, também
tivemos mudanças em técnicas estatísticas. A seguir, apresentamos uma breve discussão sobre
as principais mudanças.

O MSA 4ª edição apresenta algumas alterações em relação à terceira edição. As principais


mudanças referem-se ao:

 Sistema de Calibração;
 Critério e forma de análise da tendência e lineraridade dos sistemas de medição;
 Critério para analisar o RR;
 Melhor interpretação e análise de sistemas atributivos (passa/não passa);
 Uso de técnicas alternativas para avaliar sistemas de medição não replicáveis;

A seguir, comentamos as principais modificações da quarta edição:

1. Na página 10 da quarta edição foi adicionado um tópico específico sobre o sistema de


calibração. Em resumo, uma organização deve ter um laboratório interno de calibração ou
uma organização externa que controle e mantenha os elementos dos eventos de calibração. O
sistema de calibração é parte do escopo do sistema de gestão da qualidade da organização e
deve constar nos requisitos de auditoria interna. Quando o evento da calibração é realizado
por um fornecedor externo (comercial ou não) este pode (ou deve) ser acreditado conforme
ISO/IEC 17025. Quando não existir um laboratório acreditado, o serviço de calibração deve ser
realizado pelo fornecedor do equipamento.

2. Na página 77 da quarta edição foi alterado os critérios de análise dos resultados (seção D).
Primeiro, foi adicionado um critério para análise do processo de fixação e montagem do
dispositivo de medição. Os critérios para análise da tendência e linearidade são similares, com
algumas alterações na forma de cálculo e interpretação dos resultados. Os critérios para
análise da variabilidade (RR) mudaram na sua essência:

Ao iniciarmos uma análise nos sistemas de medição de uma organização, é útil identificarmos
as prioridades para os quais os sistemas de medição devem, inicialmente, focar. Desde que a
variação total (ou final) é baseada na combinação da variação do processo e do sistema de
medição

quando o CEP está sendo aplicado para controlar o processo ou coletar dados, e o gráfico de
controle indica que o processo está sob controle estatístico (estável) e a variabiliade total é
aceitável, o sistema de medição pode ser considerado aceitável para o uso e não requer uma
re-análise separada. Se uma condição de fora de controle ou uma não conformidade for
detectada, devemos primeiro analisar o sistema de medição.
Comentários: Se temos um gráfico de CEP em determinada característica, que está estável e
com boa capacidade, NÃO É NECESSÁRIO APLICAR O MSA para avaliar o sistema de medição. A
não ser que seja detectado um ponto fora de controle ou uma não conformidade.

A seguir, temos a tabela de análise do RR.

RR Decisão Comentários

Sistema de
medição
Abaixo Recomendável, especialmente útil quando tentamos ordenar ou classificar
geralmente
de 10% peças ou quando for requerido um controle apertado do processo.
considerado
aceitável

Poder ser A decisão deve ser baseada primeiro, por exemplo, na importância da
Entre
aceito e para aplicação da medição, custo do dispositivo de medição, custo do
10% e
algumas retrabalho ou reparo. O sistema de medição deve ser aprovado pelo
30%
aplicações cliente.

Todos os esforços devem ser tomados para melhorar o sistema de


medição. Esta condição pode ser resolvida pelo uso de uma estratégia
Acima Considerado
apropriada para a medição; por exemplo, utilizar a média de diversas
de 30% inaceitável
medições da mesma característica da mesma peça a fim de reduzir a
variabilidade da medida final.

A análise do NDC é a mesma, ou seja, o NDC deve ser maior ou igual a cinco.Temos uma
pequena modificação no cálculo deste índice para evitar valores iguais a zero.

Cuidado: O uso do RR como único índice para avaliar um sistema de medição não é
aceitável.

Ao aplicar os critérios de aceitação como simples valores de corte (thresholds), assumimos que
as estatísticas são estimativas determinísticas da variabilidade do sistema de medição (o que
não são). Especificar os valores de corte como critério pode levar a um comportamento
inadequado. Por exemplo, o fornecedor pode ser "criativo" ao encontrar um determinado valor
de RR, eliminando as principais fontes de variação (como a interação peça X operador) ou
simplesmente manipular o estudo.

Comentários: Infelizmente este é um fato que ocorre em muitas empresas no Brasil. O cliente
impõe um RR abaixo de 10% e o fornecedor manipula os dados. NÃO DEVEMOS TER UM
CRITÉRIO SIMPLES (ÚNICO) PARA TODOS OS SISTEMAS DE MEDIÇÃO. Cada aplicação deve ser
avaliada individualmente.

Quando analisamos a variação de um sistema de medição é importante olhar para cada


aplicação individualmente, para sabermos o que é requerido e como esta medição será
utilizada. Por exemplo: a precisão requerida da medição de temperatura poder ser diferente
para aplicações não similares. Um termostato para sala pode regular a temperatura para
conforto de um humano e ser barato, porém tem um RR acima de 30%. Isto é aceitável para
esta aplicação. Mas, em um laboratório, no qual pequenas variações de temperatura podem
impactar nos resultados dos testes, uma medição e controle de temperatura mais sofisticados
devem ser requeridos. Este termostato será mais caro e também vamos requerer uma menor
variabilidade (menor valor de RR).

Estudos de Sistema de Medição por variável:

1. Estabilidade: Nada mudou.

2. Tendência (página 88): Neste estudo, tivemos algumas alterações. Primeiro, foi introduzido o método da amostra

independente (teste t-Student) para avaliar a tendência. O método da média e amplitude não consta na quarta edição.

Como critério, podemos analisar o P-valor ou o intervalo de confiança. Segundo, para relizarmos a análise da tendência,

precisamos validar variabilidade associada com a repetitividade (o desvio padrão dos dados),

no qual é o desvio padrão dos dados e a variação total é baseada na variação


do processo (preferível) ou na tolerância do processo dividida por 6. Se a for alta (ver
tabela acima), então o sistema de medição pode ser inadequado. Desde que a análise de
tendência admite que a repetitividade é aceitável, continuar com a análise pode nos levar a
um resultado contraditório ou errado, isto é, a análise pode indicar uma tendência
estatisticamente nula, enquanto que seu valor absoluto pode ultrapassar o que é aceitável
para o equipamento.

Comentario: Finalmente retiraram o método da média e amplitude. Apenas no método do


gráfico de CEP para análise da tendência temos referência ao método da média e amplitude,
caso tenhamos avaliado a estabilidade com o gráfico Xbar e R. Outro ponto é a validação da
repetitividade antes de concluirmos sobre a tendência. Aqui, na nossa opinião, é melhor
realizar o estudo de RR antes da tendência. Ao realizarmos o RR podemos validar a
repetitividade.

3. Linearidade: Também precisamos validar a variabilidade associada com a repetitividade,


antes de concluirmos sobre a linearidade.

4. Repetitividade e Reprodutibilidade: Foram mantidos os três métodos: amplitude, média e


amplitude e ANOVA. Porém, o método da ANOVA é o recomendado (página 101), pois este é
mais completo e flexível.

4.1 Método da Amplitude: Nada foi alterado.

4.2 Método da Média e amplitude: Primeiro, o número mínimo de peças mudou de 5 para 10
peças. A principal alteração está na determinação da variabilidade do processo. Em geral,
temos quatro métodos para determinar a variação de processo (página 121):

 Variação de processo atual


o variação de processo obtida através peças utilizadas no estudo de RR;
o utilizar quando as peças selecionadas representam a variação de processo
esperada;
 Variação de um processo alternativo
o utilizar quando não temos um número suficiente de peças que representam o
processo, mas existe um processo cuja variação de processo é similar;
 Valor alvo do Pp (ou Ppk)
o utilizar quando não temos um número suficiente de peças que representam o
processo e não temos um processo com variação similar, ou o novo processo é esperado ter
uma variabilidade menor do que o processo atual;
 Tolerância
o quando o sistema de medição é utilizado para um tipo de processo e o processo
tem Pp menor que 1;
Comentário: Um dos principais pontos para determinarmos os índices do RR é a variação do
processo. Em geral, as 10 peças selecionadas para o estudo do RR não representam bem a
variação do processo. Neste sentido, a quarta edição enfatiza o uso do histórico do processo,
do valor alvo do Pp ou da tolerância.

4.3 ANOVA: Nenhuma alteração. Porém, vale as mesmas observações sobre a estimativa da
variação do processo que fizemos no método da média e amplitude.

Estudos de Sistema de Medição por atributo:

Inicialmente foi dado ênfase na detrminação da área cinza (página 132). Considere um sistema
de medição por atributo que compara cada peça com os limites de especificação, o sistema
aceita a peça se a mesma está entre as especificações e rejeita caso contrário (conhecido
como sistema passa não passa). Como qualquer sistema de medição, existe uma área cinza em
torno dos limites de especificação no qual o sistema de medição comete erros de
classificação.

Desde que não conhecemos, a priori, a área cinza, devemos realizar estudos do sistema de
medição. Entretanto, para determinarmos as áreas de risco em torno dos limites de
especificação, precisamos escolher aproximadamente 25% da peças "próximas" ao limite
inferior e 25% da peças "próximas" ao limite superior. Nos casos em que é difícil fazer tais
peças, a equipe pode decidir utilizar uma porcentagem menor, apesar de reconhecer que esta
atitude pode aumentar a variabilidade dos resultados. Se não for possível fazer peças
próximas aos limites de especificação a equipe deveria reconsiderar o uso de um sistema de
medição por atributos para este processo. Para cada característica, as peças devem ser
medidas por um sistema de medição por variáveis com variabilidade aceitável. Quando uma
característica não pode ser medida por um sistema de medição por variáveis (exemplo,
visual), utilizamos outros meios, como a classificação por especialistas. Três operadores são
escolhidos e cada operador realiza três medições de cada peça.

Comentário: Dentre as peças escolhidas (por exemplo 50) que utilizamos para realizar o
estudo de um sistema de medição por atributo, devemos escolher 25% (em torno de 12)
"próximas" ao limite inferior de especificação e 25% (em torno de 12) "próximas" ao limite
superior de especificação.
Tamanho da amostra (página 140):

Outro ponto interessante da quarta edição em relação a sistemas de medição por atributo é o
tamanho da amostra. Qual a quantidade de peças que devemos utilizar para realizar o estudo
de sistema de medição por atributo? Para desespero dos usuários a resposta é o "suficiente". O
propósito de se estudar um sistema de medição (atributo ou variável) está em conhecer suas
propriedades. Um número suficiente de amostras deve ser selecionado para cobrir uma
amplitude esperada de operação. No caso de sistema por atributo, a região de interesse são as
áreas cinza. Se a capacidade do processo é boa, então uma amostra pequena pode não conter
muitas peças na área cinza. Isto signficia que um processo com boa capacidade requer uma
amostra maior.

No exemplo citado na quarta edição, para um Pp=Ppk=0,5 (no qual esperamos 13% de peças
não conformes), foi selecionado 50 peças para realizar o estudo do sistema de medição por
atributo.

Um alternativa para evitarmos amostras grandes, consiste em escolher as peças diretamente


na área cinza para assegurar que o efeito da variabilidade do avaliador será visualizado.

Método da detecção de sinais (página 143): Um procedimento alternativo para avaliar um


sistema de medição por atributo e que foi dado bastante ênfase. Na quarta edição, temos uma
descrição bem mais detalhada do que encontramos na terceira edição.

Método analítico: Foi corrigido algumas contas. Por exemplo, na página 146, o valor da
estatística t foi corrigido.

Neste módulo, vamos apresentar as principais ferramentas para análise dos sistema de
medição conforme manual de análise de sistema de medição da indústria automobilística (MSA
quarta edição). Apesar de seguirmos a indústria automobilística, os métodos apresentados
neste módulo se aplicam a qualquer sistema de medição.

Sistema de Medição: o conjunto de operações, procedimentos, dispositivos de medição e


outros equipamentos, software e pessoal usado para atribuir um número à característica que
está sendo medida; o processo completo usado para obter as medidas.

A seguir encontramos os tópicos com o conteúdo sobre MSA:

 1 - Análise dos Sistemas de Medição

 2 - Sistema de Medição Replicáveis

 3 - Análise de Sistema de Medição - Não Replicáveis

 4 - Sistema de Medição por Atributo

 5 - Aplicações do MSA

 6 - Apêndice

 7 - Referências

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