Cabe destacar que a maioria dos casos de cyberbullying rompem os limites do
que consideramos lícito e facilmente se enquadram nos tipos penais. Quando
isso ocorre, nascem os crimes cibernéticos propriamente ditos. E que podem ser definidos como qualquer atividade ilegal que se usa a internet, uma rede pública ou privada ou um sistema de computador doméstico.
O cyber crime abrange toda ação criminosa onde se utiliza os computadores e
suas redes a fim de obter informações confidenciais para uso não autorizado e invasão de privacidade e consequentemente obtenção de dados de cartões de crédito, bancos, identidade entre outros.
Importante destacar os principais tipos penais que se enquadram na pratica do
cyberbullying, graças à conduta praticada pelos agentes:
A) Calúnia: afirmar que a vitima praticou algum fato criminoso. Um exemplo
comum seriam as mensagens deixadas no perfil de determinado usuário de uma rede social ou site de relacionamento, imputando a ele a pratica de determinado crime, como por exemplo, que certa pessoa praticou o crime de furto ou estupro.
b) Difamação: é imputar um fato a alguém, que ofenda sua reputação, pouco
importando se o fato é verdadeiro ou não, o que importa é que atinja a sua honra objetiva. Ex: Fulana de Tal é devedora.
c) Injúria: é ofender a dignidade ou o decoro de outras pessoas, atingindo a sua
honra subjetiva. Geralmente se relaciona a xingamentos que são postados no Facebook da vítima. Esclareço ainda que pratica o delito, aquele que filma a vitima sendo agredida ou humilhada e divulga no youtube. Nessa linha se a injúria for composta de elementos relacionados, a raça, cor, etnia, religião ou condição de pessoa idosa ou portadora de necessidades especiais, o crime se agrava e a pena a passa ser de reclusão de um a três anos e multa.
d) Ameaça: ameaçar a vitima de mal injusto e grave. O mais comum seria a
vitima informar a Autoridade policial que está recebendo ameaças de morte via SMS, mensagens in Box, telefonemas entre outras. Neste caso a pena será de detenção de um seis meses ou multa.
e) Constrangimento ilegal: em relação ao cyberbullying, esse crime se
consuma no momento em que a vítima faça algo que não deseja fazer e que a lei não determine. Por exemplo, se um garoto envia uma mensagem instantânea para a vítima dizendo que vai agredir um familiar da mesma, caso não aceite ligar a câmera do seu computador (webcam), neste caso a pena é de detenção de três meses a um ano ou multa.
f) Falsa identidade: ação de atribuir-se ou atribuir a outra pessoa falsa
identidade para obter vantagem em proveito próprio ou de outro individuo ou para proporcionar algum dano. Por exemplo, a utilização de profiles fake (perfis falsos) em sites de relacionamento, no caso uma mulher casada, que se passa por solteira para conhecer outros homens e vice versa, ou até mesmo utilizar a foto de um desafeto para criar um perfil falso e proferir ofensas contra diversas pessoas, visando colocar a vitima em situação embaraçosa e constrangedora. A pena prevista para esse caso é de três meses a um ano ou multa.
g) Molestar ou perturbar a tranquilidade: Neste caso não estamos diante de um
crime, mas sim, de uma contravenção penal, que permitirá que seja punido aquele que molestar a tranquilidade de determinada pessoa por acinte ou motivo reprovável, como por exemplo, o indíviduo que envia mensagens desagradáveis, incomodando a vítima. A pena neste caso é de quinze dias a dois meses ou multa.
Sendo assim decorre certa sensação de impunidade que, vem diminuindo já
que as vítimas podem ajudar e muito na descoberta agressor, tomando medidas simples como imprimir imediatamente as páginas onde constam as agressões, identificarem as comunidades que são criadas com o intuito de denegrir a imagem da vítima, enfim, produzir provas da agressão virtual vem a ser o primeiro passo.
Aliado as providências acima, a Polícia Civil e a Polícia Federal, possuem
equipamentos adequados bem como profissionais qualificados, para que através da persecução penal, comprovem a autoria e materialidade do delito.
O advogado do escritório Posocco & Associados Advogados e
Consultores, Fabricio Sicchierolli Posocco,retrata que já atendeu junto ao seu escritório vários casos de cyberbullying dentre eles o C. R. L – 14 anos – C. Era uma menina de classe média alta que estudava em colégio particular na cidade de São Paulo. Adolescente muito bonita tinha cabelos negros cacheados, usava óculos e aparelho nos dentes, e, mas por praticar esportes, tinha um corpo diferenciado em relação às demais meninas de sua idade e da sua classe. Aluna exemplar tirava boas notas e era elogiada pelos professores. Contudo C. era uma garota tímida e não era considerada “popular” em sua vida escolar, seus colegas de turma a consideravam uma “extraterrestre”, pois além de não conversar muito, a questão do aparelho e do cabelo cacheado era motivo de chacota na sala. Como que por ironia do destino, C. Passou a gostar de L., um menino de 16 anos, muito bonito e popular da classe, sendo que ambos acabaram fazendo uma fotografia juntos e postado no Facebook da turma da escola, com a legenda “amigos para sempre”. Foi o que bastou para algumas meninas da sala, enciumadas com a foto, passarem a fazer “montagens” com essa fotografia, colocando a “cabeça” de C. Junto ao corpo do personagem principal do filme “ET”, bem como em dinossauros do filme “Jurassic Park”, disseminando várias imagens da adolescente para as contas de Facebook dos amigos. Não contente com isso, o rosto de C. ainda foi parar em “fotonovelas sexuais” com animais, e em propagandas de venda de campas em cemitérios. A velocidade com que se “viralisaram” essas fotos e foram compartilhadas, fizeram com que C. desenvolvesse problemas de depressão, bem como abandonasse os esportes e trocasse de escola. C. também mudou seu visual, cortando os cabelos bem curtos e retirando o aparelho, tudo para que não mais a relacionassem com as fotografias. Os agressores foram identificados como sendo M. e A. Através do IP de seu computador, um casal de irmãos de classe média alta, e que aparentemente praticavam esse bullying contra C., porque A. gostava do mesmo garoto que C. o processo movido foi criminal/ECA (para apuração de ato infracional pelas condutas), além de um processo civil de reparação de danos materiais e morais contra os pais dos adolescentes. No âmbito do ECA, foi aplicada advertência aos menores, no limite civil, foi aplicado uma indenização de R$ 50.000,00.
Caracterizando-se a efetiva prática do cyberbullying, devem os pais dialogar
com seus filhos e levar o fato ao conhecimento da escola (professores, coordenadores e diretoria). Além dessa conduta, importante se faz que tal fato seja noticiado a uma delegacia de polícia especializada ou não em crimes virtuais, e de posse da cópia conteúdo ofensivo disponibilizado e acessado, comunicar a ocorrência do delito.
Se eventualmente a ofensa estiver no email da vítima, e a mesma estiver
acessando o conteúdo na presença da autoridade policial, importante se faz que seja solicitada a elaboração de uma certidão sobre o fato.
Ainda é possível registrar uma Ata Notarial, em um Cartório de Notas. E se
eventualmente o acesso se der por conta do cartorário o mesmo deverá imprimir o conteúdo ofensivo e lavrar a certidão já que possui fé pública.
Após esses procedimentos preliminares necessários se faz acionar um
profissional do direito (advogado) para que sejam propostas medidas que visem identificar o agente causador do dano, ou seja, o responsável por postar o conteúdo na internet, afim de que sejam adotadas medidas judiciais nas esferas cíveis e criminais. O menor poderá ser responsabilizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Apesar dos provedores de acesso terem meios de denúncia de conteúdos
abusivos, bem como, políticas próprias para monitorar a ocorrência ou não do cyberbullying, não há que se terceirizar aos prestadores de serviços o dever de monitorar tais conteúdos. Caberá principalmente aos pais, fiscalizar o uso diário da internet e as escolas implementarem rigorosos programas de conscientização e educação digital sobre a utilização segura da web, de forma que não venha prejudicar ou agredir outras pessoas. No mundo tecnológico, da internet da interatividade, assim como em tantas outras áreas deve-se ter cuidado com o que é passado do pessoal para o público afim de que não tragam conseqüências posteriores.