Você está na página 1de 23

GEOMETRIA HIPERBÓLICA: MODELO DO

DISCO DE KLEIN-BELTRAMI
Ana Júlia Siqueira do Amorim

Julho, 2019

Resumo

Neste artigo abordaremos sobre a Geometria Hiperbólica(em alguns artigos,


também conhecida como Geometria de Lobachesyky), é a geometria em que
o quinto postulado de Euclides não se verifica. Esta geometria é dita uma
geometria não-euclidiana, entre os matemáticos que se destacam na geometria
hiperbólica temos Gauss, Lobachevsky e Bolyai entre outros matemáticos.
Alguns modelos foram desenvolvidos posteriormente por Beltrami, Poincaré e
Klein. Trabalharemos um breve resumo do contexto histórico da geometria
euclidiana bem como algumas definições da geometria hiperbólica plana e
suas consequências, o principal objetivo é trabalhar com o modelo do Disco de
Klein-Beltrami, onde visualizaremos todos os entes dessa geometria dentro do
modelo.

Palavras-chave: Quinto postulado de Euclides. Geometria Hiperbólica. Disco


de Klein-Beltrami.

1 INTRODUÇÃO
O surgimento da geometria Hiperbólica, juntamente com as outras geometria
não-euclidianas foi um capítulo importante da história da matemática, pois durante
muito tempo os conceitos da geometria euclidiana eram tomados como verdade
absoluta. Estas geometrias só foram ser aceitas como legítimas no século XIX.
A geometria euclidiana foi mostrada ao mundo por Euclides da Alexandria,
em suas treze obras "Os elementos", nestes livros Euclides organizou e formulou todo
conhecimento de geometria da sua época, embora não houvesse dúvidas da geometria
de Euclides, havia certa insatisfação com seus fundamentos por causa do caráter não
intuitivo do postulado das paralelas. E então foi diante da necessidade de provar
o quinto postulado que surgiu as geometrias não euclidianas, muitos matemáticos
tentaram provar por anos, muitos abdicavam do seu tempo para se dedicar á prova
desse quinto postulado, achavam que era impossível mostrá-lo.

1
Playfair conseguiu substituir o postulado das paralelas, pelo seu próprio
postulado, e a partir disso os matemáticos Gauss, János Bolyai e Lobachevsky
conseguiram essa prova através da negação do postulado de Playfair, onde descobriram
uma nova geometria, a geometria hiperbólica. Onde na época, o primeiro a publicar
algo foi Lobachevsky, mas quem reconheceu primeiro essa geoemtria foi Gauss,
ao mesmo tempo que Bolyai. Como ainda surgia dúvida dessa geometria. Alguns
modelos foram desenvolvidos posteriormente por Beltrami, Poincaré e Klein„ para
garantir a consistência dessa nova geometria.

2 UM POUCO SOBRE GEOMETRIA EUCLIDIANA


Para iniciarmos o estudo na história da Geometria Hiperbólica, devemos
primeiro conhecer um pouco sobre a Geometria Euclidiana. Esta geometria foi
apresentada por Euclides (por volta de 300 a.c.), em seus treze livros intitulados “Os
Elementos”.

Figura 1 – Euclides da Alexandria- Geômetra

Estes livros já eram considerados o primeiro tratado cientifico, modelo con-


siderado para todos os outros em qualquer rumo da ciência. Os dez axiomas de
Euclides foram divididos em dois grupos, noções comuns e postulados,dividindo em
cinco noções comuns e cinco postulados. A distinção entre as duas é basicamente,
as noções comuns foram aceitas como hipóteses aceitáveis para todas as ciências,
enquanto os postulados seriam específicos para a Geometria. De acordo com Staib
[9], temos as seguintes noções e postulados.

Noções Comuns de Euclides:

N1) Coisas que são iguais a uma mesma coisa são iguais entre si.
N2) Se iguais são adicionados a iguais, os resultados são iguais.
N3) Se iguais são subtraídos de iguais, os restos são iguais.
N4) Coisas que coincidem uma com a outra são iguais.
N5) O todo é maior do que qualquer de suas partes.

2
Postulados de Euclides:

P1) Pode-se traçar uma (única) reta (segmento) por quaisquer dois pontos.

P2) Pode-se continuar (de modo único) uma reta infinitamente.

P3) Pode-se traçar uma circunferência com quaisquer centro e raio.

P4) Todos os ângulos retos são iguais.

P5) Se uma reta corta duas outras retas formando ângulos colaterais internos
cuja soma é menor do que dois retos, então as duas retas, se continuadas
infinitamente, encontram-se no lado onde estão os ângulos cuja soma é menor
do que dois retos.

Esses axiomas e postulados pretendiam deduzir todas as 465 proposições de


"Os elementos".

2.1 A história do 5o Postulado de Euclides


Podemos observar que o quinto postulado diferencia-se dos demais, para
muitos matemáticos Euclides tentou evitar ao máximo do uso desse postulado em
suas proposições, pois somente na proposição 29 que Euclides usou o quinto postulado,
onde os demais postulados já tinham sido utilizados para as demonstrações de outras
proposições.
Por quase dois mil anos muitos matemáticos questionaram-se, se o quinto
postulado poderia ou não ser obtido a partir dos outros quatro, e então começaram
as tentativas da prova do quinto postulado, retirado de Schena [8] um quadro com a
cronologia dos matemáticos que tentaram provar o postulado.

Figura 2 – Cronologia das tentativas de prova do quinto postulado

3
Em 1795, o enunciado do quinto postulado de Euclides foi substituído por
um outro que é o mais conhecido, chamado atualmente de postulado das paralelas.
Tal formulação é devida ao geólogo e matemático escocês John Playfair(1748- 1819).
Axioma de Playfair. “Por um ponto fora de uma reta pode-se traçar uma única
paralela à reta dada.”

3 GEOMETRIA NÃO-EUCLIDIANAS
Como observamos anteriormente o quinto postulado de Euclides deixou em
dúvida inúmeros matemáticos que tentaram encontrar a prova do mesmo, após
observarem a independência do quinto postulado aos demais postulados conseguiram
chegar a conclusão que era impossível prová-lo como um teorema, e então perceberam
que com uso da negação do quinto postulado através da forma de Playfair, seria
possível assim descobrindo duas novas geometrias, nota-se que há duas maneiras
para negar o axioma de Playfair:

1. Por um ponto fora de uma reta não passa nenhuma paralela á reta dada.
2. Existe pelo menos duas retas paralelas passando por um ponto á reta dada.

Assim dando surgimento por 1. a Geometria Elíptica, no qual a Geometria


Esférica é um caso particular, e por 2. a Geometria Hiperbólica, que é o tema deste
trabalho.

4 HISTÓRIA DA GEOMETRIA HIPERBÓLICA


Em 1829, o matemático russo Nikolai Lobatchevsky(1792-1856) negando o
quinto postulado de Euclides, criou a Geometria Hiperbólica, conhecida por alguns
autores como Geometria de Lobatchevsky, onde admitiu que por um ponto fora de
uma reta passam pelo menos duas retas paralelas. Lobatchevsky foi o primeiro a
publicar sobre a teoria, por consequência é considerado um dos fundadores dessa
nova geometria.
Embora o primeiro a descobrir de fato sobre essa nova geometria foi o
matemático físico e astrônomo alemão Gauss (177-1855) em 1824, já sabia da
possibilidade dessa nova geometria mas não publicou nada, ele apenas enviava
cartas aos seus amigos matemáticos sobre o assunto, quando descobriu que o seu
sobrinho Franz Adolph Taurinus (1794 - 1874) também tinha interesse e determinado
conhecimento sobre o assunto, Gauss então pediu a Taurinus para que se mantivesse
em silêncio, pois achava que um trabalho sobre uma nova geometria que não fosse
a geometria euclidiana, não seria bem aceito pelos cientistas da época. Trecho da
carta de Gauss ao sobrinho Taurinus:

Eu não temo um homem que se revelou a mim como uma mente matemá-
tica pensante, que ele poderia interpretar erroneamente o que é dado aqui
(uma breve descrição dos resultados e conjecturas de Gauss): todavia,

4
para todos os efeitos, você deve considerar isso como uma informação
privada, a qual não deve, em hipótese alguma, usar de maneira pública
ou que leve à publicação. (SCHREIBER, 2015, p.427, apud, )

Em 1832, o matemático húngaro János Bolyai(1802- 1860) filho do matemático


Farkas Bolyai(1775-1856), também fez importante descobertas e na mesma época
que Gauss sobre essa nova geometria, Farkas era amigo de Gauss e então encaminhou
o trabalho do seu filho para que ele avaliasse,onde obteve a seguinte resposta de
Gauss:

Se eu começasse dizendo que sou incapaz de elogiar este trabalho (de


János), você certamente ficaria surpreso por um momento. Mas não posso
dizer o contrário. Louvá-lo seria elogiar a mim mesmo. De fato, todo
o conteúdo do trabalho, o caminho tomado por seu filho, os resultados
para os quais ele é conduzido, coincidem quase inteiramente com minhas
investigações, que ocuparam parte da minha mente nos últimos trinta ou
trinta e cinco anos. Então, fiquei bastante estupefato. No que diz respeito
ao meu próprio trabalho, do qual até agora coloquei pouco no papel,
minha intenção não era publicá-lo durante minha vida. Na verdade, a
maioria das pessoas não tem ideias claras sobre as questões de que estamos
falando e eu encontrei muito poucas pessoas que poderiam considerar
com especial interesse o que lhes comuniquei sobre isso. Para poder ter
tal interesse, é necessário, antes de mais nada, dedicar cuidadosa atenção
à natureza real do que é desejado e, sobre esse assunto, quase todos são
incertos. Por outro lado, tive a ideia de escrever tudo isso mais tarde,
para que pelo menos não perecesse comigo. Portanto, é uma agradável
surpresa eu ter sido poupado desse problema, e estou muito feliz por
ser o filho do meu velho amigo que toma a precedência de maneira tão
notável.(BONOLA, 1912, p.100, apud, tradução nossa)

János não ficou satisfeito com a resposta de Gauss, suspeitando até que seu
pai já havia mostrado seus resultados a Gauss, János criou certa aversão de Gauss
e continuo seus estudos,as ideias de J. Bolyai foram revividas no livro Absolute
Geometrie, do matemático austríaco Johannes von Frischauf (1837 - 1924).
Portanto, Lobatchevsky e Bolyai são ditos os fundadores dessa nova geometria
que até então só se conhecia a geometria euclidiana, essa nova geometria passou a
ser chamada em 1871, por Klein de Geometria Hiperbólica.
De acordo com Staib [9] após esta descoberta surgiram dúvidas á respeito da
consistência da geometria hiperbólica,ou seja, se possui contradições ou não. O ma-
temático italiano Eugenio Beltrami (1835-1900) sugeriu o teorema metamatemático:
"Se a geometria euclidiana é consistente, então a geometria hiperbólica também é"e
assim provou a consistência em 1868, usando artifícios da geometria diferencial.
Os matemáticos Beltrami, Klein e Poincaré também demonstram a consistên-
cia desta nova geometria pelo método dos modelos, onde continuaram os estudos
sobre a geometria Hipérbolica.

5
5 GEOMETRIA HIPERBÓLICA
Como vimos na seção anterior, o axioma das paralelas de Playflair, é substi-
tuído na geometria hiperbólica pelo Postulado de Lobachevsky:
Postulado 5. (Postulado de Lobachevsky) "Por um ponto P não pertencente a uma
reta n, pode se traçar pelo menos duas retas m e m’ paralelas que não se encontram
a reta n dada.dada”.(BARBOSA, 1995, p. 47)

Figura 3 – Ilustração do Postulado de Lobachevsky

É necessário dizer que existe inúmeras retas paralelas que passam por esse
ponto P dentro do espaço hiperbólico, além disto o único postulado a qual se modifica
é o quinto postulado, os outros quatros postulados são validos para esta geometria.

5.1 Consequências da Geometria Hipérbolica


Segundo Martinez [6] ao assumir o quinto postulado, surgem alguns teoremas
como consequência:

• Assume-se a hipótese do ângulo agudo no quadrilátero de Saccheri.


• A soma dos ângulos de um triângulo é menor do que 180◦ . O ângulo suplementar
dessa soma é chamado de defeito.
• Os ângulos superiores do quadrilátero de Saccheri são agudos.
• O segmento de topo do quadrilátero de Saccheri é maior que a base.
• Retângulos não existem.
• Se dois triângulos tem os ângulos iguais, então eles são congruentes.
• O ângulo de um quadrilátero de Lambert é sempre agudo.
• O segmento que une os pontos médios de ambos (base e topo) no Quadrilátero
de Saccheri é a única perpendicular a ambos e é o menor segmento entre eles.

Vários matemáticos fizeram diferente demonstrações para as consequências


da geometria hiperbólica, demonstraremos algumas dessa proposições, usando como
base Inedio [1] onde possui mais demonstrações sobre as consequências.

6
Proposição 1. Os ângulos do topo de um quadrilátero de Saccherri são congruentes.

Demonstração: Considerando um quadrilátero ABCD. Tomando M o ponto


médio de DC e N o ponto médio de AB.

Figura 4 – Quadrilátero para apoio da demonstração

Analisando 4ADN e 4BCN , temos que eles são congruentes pelo critério
LAL(lado, ângulo,lado):
4ADN ≡ 4BCN ⇒ DN ≡ N C.

Agora, observando 4DN M e 4CN M , temos que eles são congruentes pelo
critério LLL(lado,lado,lado):
4DN M ≡ 4CN M ⇒ N M ≡ DC.

Portanto, teremos que:


cD ≡ B N
AN cM ≡ C N
cC e D N cM ⇒ M N ⊥ AB.

Logo,
c ≡ B CN
ADN b e N DM
c ≡ N CM
b ⇒D
c ≡ C.
b

Então os ângulos do topo do quadrilátero de Saccheri são congruentes.


Proposição 2. Os ângulos congruentes do quadrilátero de Saccheri são agudos.

Demonstração: Considerando ABCD um quadrilátero de Saccheri conforme


a figura abaixo.
←→ ←→ ←→
Prolongando BD até um ponto ideal Ω e prolongando AC tal que E ∈AC
c = 90◦ e AB ≡ CD, temos que triângulos generalizados com
Sabendo que Bb ≡ D
b ≡ D CΩ
mesma altura e ângulo reto são congruentes, logo B AΩ b =α

Chamamos ΩCE
b = δ e ΩAC
b = γ, temos que δ > γ, pois δ é ângulo externo
de 4ΩAC.
Como ABCD é um quadrilátero de Saccheri, então sabemos que os ângulos
do topo são congruentes pela proposição anterior, temos que Ab ≡ Cb ⇒ Cb = α + γ
Temos então α + γ + α + δ = 180◦ , sabendo que α + δ > α + γ ⇒ α + γ < 90◦ .
Logo Ab e Cb são ângulos agudos.

7
Figura 5 – Quadrilátero para apoio da demonstração

Proposição 3. O ângulo não conhecido do topo do quadrilátero de Lambert é agudo.

Demonstração: Seja ABCD um quadrilátero de Lambert, como ilustrado


abaixo

Figura 6 – Quadrilátero para apoio da demonstração

Como sabemos por definição o quadrilátero de Lambert possui três ângulos


retos, logo Ab = Bb = Cb = 90◦
Prologando a base AB desse quadrilátero e tomando um ponto médio E do
segmento AB, temos que AB ≡ AE.De maneira análoga,prolongamos o topo CD e
tomamos um ponto médio F onde F ∈ CD, portanto F C ≡ CD. Teremos a seguinte
figura:

Figura 7 – Quadrilátero para apoio da demonstração

Por congruência de triângulos podemos mostrar facilmente que Eb = 90◦


FE=BD, ou seja, EBFD é um quadrilátero de Saccheri. Pela proposição 2, temos
c = 90◦ .
que D

8
Proposição 4. A soma dos ângulos internos de qualquer triângulo retângulo ordi-
nário é menor do que 180◦ .

Demonstração: (de Lobachewsky) Seja um triângulo retângulo ABC, sendo


C o ângulo reto.

Figura 8 – Triângulo como base para demonstração

Prologando uma reta do vértice A até D, de tal forma que DAB


b = α = ABC.
b
Tomemos um ponto médio M do segmento AB, sendo P o pé da perpendicular baixada
←→
de M a CB. Seja Q ∈AD, de tal forma que AQ ≡ P B. Portanto, AQM ≡ BP M ,
pelo critério de congruência de triângulo LAL(lado, ângulo, lado).
←→
Assim temos que, MQ ⊥ AD, concluímos então que P, M e Q são colineares.
Portanto, AQCP é um quadrilátero de Lambert, como já definido anterior-
mente Lambert possui três ângulos retos e o quarto é agudo, então α + γ < 90◦ .
Logo, temos que a soma dos ângulos internos de um triângulo hiperbólico é menor
que 180◦ .

Proposição 5. A soma dos ângulos internos de qualquer triângulo ordinário é


menor do que 180◦ .

Demonstração: Seja um triângulo retângulo ABC qualquer.

Figura 9 – Triângulo como base para demonstração

Tomamos D como o pé da perpendicular de A, então obteremos dois triângulos


retângulos ABD e ACD. Usando a demonstração da proposição anterior, teremos
que α + β < 90◦ e γ + δ < 90◦ . Tendo assim que α + β + γ + δ < 180◦ .

9
5.2 Modelos da Geometria Hiperbólica
Com o intuito de verificar a consistência da nova geometria, vários modelos
foram desenvolvidos para poder visualizá-la:

• Modelo do Disco de Poincaré

• Modelo do Semipleno de Poincaré

• Modelo do Disco de Klein-Beltrami

Esses são os principais modelos dentro da geometria hiperbólica, mas existem


outros modelos. Neste trabalho será abordado apenas um modelo, o Modelo do
Disco de Klein-Beltrami, onde vamos visualizar dentro deste modelo pontos, retas,
triângulos, os quadriláteros, horocírculos e curvas equidistantes. Mas antes disso,
falaremos um pouco sobre os dois matemáticos responsáveis pela criação desse
modelo.

6 MODELO DO DISCO DE KLEIN-BELTRAMI


Eugenio Beltrami (16 de novembro de 1835 - 18 de fevereiro de 1900) foi um
matemático italiano, com reconhecimento em seu trabalho sobre geometria diferencial
e física matemática.

Figura 10 – Eugenio Beltrami

Ele foi o primeiro a provar a consistência da geometria não-euclidiana ,


modelando-a numa superfície de curvatura constante , ou seja, uma rotação completa
da tractriz em torno de uma reta gerando uma superfície chamada pseudo-esfera e
no interior de uma esfera unitária n-dimensional.

10
Figura 11 – Tractriz

.
Christian Felix Klein (25 de abril de 1849 - 22 de junho 1925) foi um alemão
matemático e educador matemático, reconhecido por seu trabalho com a teoria do
grupo , análise complexa , geometria não-euclidiana.

Figura 12 – Christian Felix Klein

Klein buscava uma representação de maneira plana das retas dessa pseudo-
esfera denominadas geodésicas, obtendo assim este modelo considerando apenas o
interior de um círculo. As retas da pseudo-esfera formam cordas neste círculo. E assim,
foi descoberto as primeiras regras do que se chamaria de modelo de Klein-Beltrami.
O disco de Klein-Beltrami, possui algumas vantagens e desvantagens, que
estão listadas a seguir:

• sob o ponto de vista euclidiano, as retas neste modelo se comportam como


retas euclidianas, diferente do modelo de Poincaré , por exemplo;

• este modelo não é conforme, ou seja, ângulos e áreas são distorcidos, onde se
torna mais difícil de se trabalhar e obter as métricas deste modelo.

Antes de verificarmos alguns significados e entes no modelo, vamos definir o


conceito de paralelismo no espaço hiperbólico, que é dado da seguinte forma:

Definição 1. Duas retas são paralelas no espaço hiperbólico, se estas retas encontram-
se em um ponto no infinito(ponto ideal).

11
Após a definição de paralelismo, conseguimos mostrar o quinto postulado
dentro deste modelo, que será dado da seguinte maneira:

Postulado 5. (Postulado de Lobachevsky) “Dados uma reta qualquer t e um ponto


P fora desta reta, existem pelo menos duas retas r e s paralelas à reta dada, passando
por este ponto, ou seja, r e s vão encontrar t num ponto no infinito, r encontrando t
em Ψ e s encontrando t em Ω.”

Figura 13 – Postulado de Lobachevsky aplicado no disco de Klei-Beltrami

Para o modelo do Disco de Klein-Beltrami veremos o significados de alguns


elementos e o comportamento dos mesmos inserido neste modelo.

6.1 Disco de Klein-Beltrami


Definição 2. Sendo C o círculo unitário euclidiano e centro O e seja φ a sua
circunferência. O plano hiperbólico deste disco, pode ser definido da seguinte forma
Dk = {(x, y) ∈ R2 x2 + y 2 = 1}, podemos dizer que será a bola aberta de raio 1.

Figura 14 – Modelo do Disco de Klein

12
6.2 Pontos
De maneira geral na geometria hiperbólica exitem dois pontos:

Definição 3 (Pontos Ideais). São pontos pertencentes a fronteira do disco, é o


conjunto do pontos no infinito, representamos na geometria hiperbólica com letras
gregas maiúsculas. Na figura 8 nossos pontos ideais estão representados por Φ,Ω,Ψ.

Figura 15 – Pontos Ideais

Definição 4 (Pontos Ordinários). São os pontos pertencentes ao interior do disco, re-


presentamos igualmente na geometria euclidiana por letras maiúsculas. Representado
na figura 9 por A e B.

Figura 16 – Pontos Ordinários

6.3 Retas
Definição 5. Neste modelo as retas têm uma dimensão infinita dentro de uma área
limita, sob o ponto de vista euclidiano e têm comprimento infinito, tendo em vista o
espaço hiperbólico. As retas neste modelo são cordas do círculo limitante, sendo o
diâmetro também uma reta.

13
Figura 17 – retas

6.4 Triângulos
Na geometria hiperbólica possui dois tipos de triângulos.

Definição 6 (Triângulos generalizados). Pelo menos um dos três vértices são pontos
ideais:

1. Três pontos ideais;

Figura 18 – Triângulo com 3 pontos ideais

Neste exemplo de triângulo podemos observar a distorção da métrica, pois a


soma dos ângulos internos neste triângulo é 0◦ , ainda podemos analisar sobre
a área, na figura 19 os três triângulos possuem a mesma área.

14
Figura 19 – Três triângulos ideais

2. Dois pontos ideais e um ponto ordinário;

Figura 20 – Triângulo com 2 pontos ideais

3. Um ponto ideal e dois pontos ordinários

Figura 21 – Triângulo com um 1 ponto ideal

Definição 7 (Triângulo ordinário). Os três vértices do triângulo são pontos ordiná-


rios, ou seja, estão no interior do círculo.

15
Figura 22 – Triângulo Ordinário

6.5 Quadriláteros
6.5.1 Ângulo reto

Definição 8. Traçando duas retas tangentes pelos pontos do infinito Ω e ∆ a


circunferência C, por Ω e ∆ traçaremos uma reta unindo os dois pontos. As retas m
←→
e l tangentes se encontram em Z, dizemos que Z é polo do da reta Ω∆ , qualquer reta
←→
que passa por Z e intersecte a reta Ω∆, formará o ângulo reto de Beltrami. Como
por exemplo as retas s e t, formando o ângulo de 90◦ , em A e B.

Figura 23 – Ângulo reto no disco

16
6.5.2 Quadrilátero de Saccheri

Definição 9. É um quadrilátero no qual dois de seus lados opostos são congruentes


e perpendiculares a um outro lado, chamado base. O lado oposto à base é chamado
de topo.

Agora vamos mostrar o quadrilátero de Saccheri dentro desse modelo, utili-


←→
zando a definição do ângulo reto, vamos tomar o ponto médio M sobre a reta Ω∆ e
traçar uma reta por o ponto M e Z, o ponto M é a mediatriz pois a reta u passa por
←→
Z e pela reta Ω∆, logo formando um ângulo reto em M. Tomando outros dois pontos
←→
do infinito Ψ e Σ, traçando por estes dois pontos uma nova reta ΨΣ, obteremos as
retas tangentes á C pelos pontos Ψ e Σ, onde a interseção dessas retas tangentes se
encontrará em W, sendo W ∈ a reta u, a mesma reta de Z.
Por simetria euclidiana, tomamos A e B pontos de tal maneira que AM ≡ M B,
logo obteremos ABCD um quadrilátero de Saccheri, pois esse será um quadrilátero
de Saccheri, pois AD ≡ BC e Ab = Bb = 90◦

Figura 24 – Quadrilátero de Saccheri no Disco de Klein-Beltrami

6.5.3 Quadrilátero de Lambert

Definição 10. É um quadrilátero com três ângulos internos retos

17
conseguimos mostrar facilmente o quadrilátero de Lambert neste modelo
←→
através da figura 24, pois sabemos que M
c=B b = 90◦ , como N ∈ ΨΣ e N ∈ u que
←→
c = 90◦
passa por o ponto polar W da reta ΨΣ, logo pela definição 8, temos que N

Figura 25 – Quadrilátero de Lambert no Disco de Klein-Beltrami

6.6 Círculo
Definição 11. Uma figura geométrica limitada por uma circunferência, conjunto de
todos os pontos do plano hiperbólico equidista do centro. E está contido no disco, na
área limitante.

O círculo centrado na origem no modelo do disco de Klein-Beltrami, sob o


ponto visto euclidiano é um círculo, á medida que o centro é deslocado e aproximando-
se da fronteira do disco, o círculo será uma elipse.

1. Comportamento do círculo centrado na origem:

18
Figura 26 – Círculo centrado na origem

2. Comportamento do círculo deslocado da origem, se aproximando da fronteira


do disco:

Figura 27 – Círculo afastado do centro

3. Comportamento dos círculos:

Figura 28 – Comportamento dos círculos

6.7 Horocírculos
É a curva limite que é obtida a partir de circunferências, cujo o centro tende
ao infinito.

19
Figura 29 – Horocírculo

6.8 Curva Equidistante


Definição 12. São trechos das elipses que interceptam o bordo do disco, os dois
pontos de interseção são pontos ideais, onde formam uma reta t. Logo t vai equidistar
da elipse, em qualquer ponto de t até a elipse.

Figura 30 – Curvas Equidistantes

6.9 Distância hiperbólica entre dois pontos


A distância de um ponto P e Q, pertencentes ao modelo de Klein, é dada por:
!
1 BΩ A∆
d(B, A) = log ·
2 AΩ B∆

Onde Ω e ∆, são os pontos ideais e A e B os pontos ideais dessa reta hiper-


bólica.
Decorre daí que se B se aproxima da fronteira da circunferência, temos que:

d(B, A) −→ ∞

20
Figura 31 – A métrica do modelo de Klein

7 CURIOSIDADES
Nas pesquisas deste artigo, foi encontrado um ladrilho de uma esfera de Klein
em formato de pentágonos onde a representaram de forma artística, é interessante
ressaltar aqui que para um ser do ambiente do espaço hiperbólico o pentágonos
possuem o mesmo tamanho mas sob o nosso ponto de vista euclidiano não conseguimos
visualizar.

Figura 32 – Esfera de Klein

É interessante comentar que um holandês Maurits Escher(1898-1972), Escher


trabalhou com várias obras utilizando geometria hiperbólica, o modelo o qual mais
Escher trabalhou foi o modelo do Disco de Poincaré.
Outro fato interessante na realização dessas pesquisas, descobriram um site
de mulheres da USP, com a exposição "Ela está em tudo", onde mostram trabalham
de mulheres na ciência, o que nos dias atuais é uma pauta debatida na universidade,
por a quantidade de mulheres em comparação a quantidade homens nos cursos de
ciências exatas. E investigando neste site, foi obtido a informação que uma professora
de Universidade de Cornell, Daina Taimina, trabalha com crochês de geometria
hiperbólica, assim a visualização destes conceitos rebuscados se tornam mais claros.

21
Figura 33 – Professora Daiana Taimina, Universidade de Cornell

Figura 34 – Crochê do espaço hiperbólico

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a leitura do texto, vemos que a geometria euclidiana é usada para
garantir a consistência da geometria hiperbólica, utilizando muitos teoremas e
definições da geometria euclidiana, afim também de facilitar a leitura.E que a
geometria hiperbólica ainda há muito que ser estudada, pois o processo de aceitação
dessa geometria foi lento, e principalmente aqui no Brasil pela falta de trabalhos
na língua nativa sobre esta geometria e no modelo do Disco de Klein-Beltrami.
Os artigos encontrados para essa pesquisa não eram de fácil acesso á um leitor
leigo, ou um aluno do ensino fundamental e médio, necessitado de uma matemática
mais avançada. O objetivo neste texto, é facilitar a leitura para todos, utilizando a
geometria euclidiana para verificarmos alguns conceitos da geometria hiperbólica.
Neste trabalho, foi apresentado de maneira objetiva e resumida a história da
geometria hiperbólica, bem como algumas de suas consequências, aprofundando mais
no modelo do Disco de Klein-Beltrami. Quando iniciamos um estudo da geometria
hiperbólica, usualmente recorre-se a um dos modelos para ganhar alguma intuição
do que se está acontecendo, por isso utilizamos um dos modelos principais dessa
geometria para obtenção de resultados, mas existem muitos outros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Inedio Arcari et al. Um texto de geometria hiperbólica. 2008.

[2] Joao Lucas Marques Barbosa. Geometria hiperbólica. IMPA, 2002.

22
[3] Fernanda Martins BRAZ. História da geometria hiperbólica. Geometria Hiperbó-
lica, Belo Horizonte: UFMG, 2009.

[4] Gracielle Simoes de Carvalho. Geometrias nao euclidianas: Uma proposta de


inserçao da geometria esférica no ensino básico.

[5] José Erinaldo Martins. Modelos para geometria hiperbólica. 2012.

[6] Carlos Martinez Perez. Fundamentos de geometria hiperbólica. 2015.

[7] Wellington Tavares dos Santos. A história do quinto postulado, as geometrias


não-euclidianas e suas implicações no pensamento científico. B.S. thesis, 2016.

[8] Fernanda Mochellin Schena. A história do surgimento da geometria não euclidiana:


o despertar para novos mundos e os modelos de beltrami. 2019.

[9] Armando Staib et al. Geometria hiperbólica= uma proposta para o desenvolvi-
mento de atividades utilizando o software livre noneuclid. 2010.

23

Você também pode gostar