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Orientações didáticas
Conrado Paulino

Roteiro para estudar as escalas:

1) Escolha uma tonalidade. Fale as notas da escala , ascendente e descendente, sem tocar,
o mais rápido possível. Pratique muitas vezes até ficar mais rápido do que a fala.
2) Falar os intervalos fora da ordem (número e nome) sem tocar. Tentar faze-lo o mais
rápido possível.
3) Tocar a escala linearmente (uma oitava apenas) falando as notas , ascendente e
descendente, de preferência sem olhar para o instrumento.
4) Tocar as notas fora da ordem, falando o nome imediatamente. Experimentar o inverso,
ou seja, falar o nome da nota e toca-la imediatamente. O ideal é fazer este e todos os
passos seguintes sem olhar para o instrumento. Note que o objetivo não é memorizar o
“desenho” da escala e sim saber o nome de cada uma das notas automaticamente, sem
ter que olhar.
5) Criar frases, combinando as notas aleatoriamente. Por exemplo, em Dó maior falar “mi,
lá, sol, si, do” e a seguir tocar imediatamente essa série de notas. Repetir várias vezes
cada frase.
6) Tocar os intervalos fora da ordem, falando o número imediatamente. Experimentar o
inverso, ou seja, falar o número da nota e toca-la imediatamente.
7) Criar frases, combinando os intervalos aleatoriamente. Por exemplo, em C falar “7a, 2a,
6a , 1a, 5a “ e a seguir tocar imediatamente essa série de intervalos. Repetir várias vezes
cada frase.
8) Escrever, ler e tocar frases compostas dentro de uma determinada escala. Este exercício
é similar aos passos 4 e 5, mas em lugar de reagir a um comando oral, o estudante
praticará reagir o mais rápido possível a um comando escrito.
9) Tirar frases (ou melodias conhecidas) de ouvido. No início, faça este passo com o
instrumento, tentando achar as notas intuitivamente. Porém, o objetivo a longo prazo é
tirar as frases sem o instrumento, deduzindo cada intervalo da melodia e,
consequentemente, o nome de cada uma das notas.

OBJETIVO: Criar um “reflexo condicionado” associando o nome da nota com o intervalo


que ela representa, o lugar onde escreve, o lugar onde toca e, o mais importante, o som
que ela tem.

NOME INTERVALO

{SOM}

ESCRITA LUGAR

Qualquer um destes cinco itens tem que "entregar" os quatro restantes ou, em outras palavras,
sabendo apenas um deles temos que deduzir imediatamente os outros quatro.
Não desanime se encontrar dificuldade quando partir do som. Dos cinco itens associados às
notas ele é, sem dúvida, o mais difícil e o último a ser dominado.

Obs: É possível aplicar este roteiro para qualquer tipo de escala. Porém, é aconselhável
começar apenas com as maiores e menores naturais.

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Obs:
• nome, intervalo e escrita são itens relativos à teoria,
• o lugar da nota e o dedo da mão esquerda utilizado para tocar essa nota são itens
relativos à técnica
• reconhecer o som é uma questão de ouvido (ou “musicalidade”)

Esses são os três itens que devemos trabalhar e, principalmente, equilibrar: teoria, técnica e
ouvido, ou, falando formalmente, conhecimento formal, habilidade motora e
musicalidade.
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Exercício para reconhecer intervalos:

Para a maioria dos estudantes, é difícil saber o intervalo e o nome de uma nota tendo como referência
apenas o seu som. Um bom exercício para começar a identificar rapidamente os intervalos e tirar
melodias sem o instrumento é o seguinte:
Toque um acorde maior qualquer, de preferência, um simples Dó maior. Escute bem o tom e cante
uma melodia conhecida simples (como "Asa Branca", "Atirei Um Pau No Gato", "Cai Cai Balão",
"Mamãe Eu Quero", "Noite Feliz", "Parabéns Pra Você" ou hino de um time) e descubra o intervalo e o
nome da primeira nota da melodia que você está cantando (ou seja, o intervalo que a primeira nota
representa em relação ao tom).
Achar apenas a primeira nota é um excelente começo. Para isso, vai precisar cantar a escala do tom
que está tocando e, comparando a nota da melodia com cada nota da escala, deduzir qual é grau da
escala dessa nota.

Se tocar um C e cantar "Parabéns", por exemplo, a primeira nota será o quinto grau. Isso significa que
essa composição começa no Sol (exemplo 5). O ideal é fazer o exercício sem buscar a nota do
instrumento, deixando para executar depois, apenas para conferir. Mas se não for possível (e acabar
achando “na manha”), pelo menos, guarde o intervalo. No caso de "Asa Branca", a altura inicial será o
Dó. Ou seja, lembre que essa melodia começa na tônica.

Faça um banco de referencias, isto é, uma lista de músicas que se iniciam por determinado intervalo e
em breve terá exemplos para todos os graus da escala, inclusive os cromáticos.
Comece, por exemplo, fazendo uma relação de composições cuja primeira nota é a quinta da escala,
como "Jardineira", "Hino Nacional", "Blue Moon", "Parabéns Para Você", "Casinha Branca" etc.

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Melhorando o ouvido e o raciocínio: como reconhecer intervalos
(esta lição foi originalmente publicada na revista Acústico n° 14 de maio de 2007)

A maioria dos alunos vê o estudo das escalas como um desafio técnico: apenas uma seqüência de dedos
que precisa ser memorizada e executada o mais rapidamente possível. O estudante se preocupa somente
em decorar “onde se deve apertar”. Mas, embora comum, é uma forma errada de estudar porque prioriza
a “decoreba”. O mais eficiente é encarar esse aprendizado como um meio e não um fim, aproveitando a
oportunidade para saber o nome de cada nota, o intervalo que ela representa, o lugar no instrumento e na
partitura e, o mais importante, o som. Por isso, a grande dica é: não faça do estudo das escalas um estudo
de técnica; estude na velocidade da sua cabeça e não do dedo. Não permita que seu dedo vá na frente do
seu pensamento. Afinal, é a cabeça quem comanda os dedos, e não o inverso.

O grande desafio não é memorizar os desenhos das escalas. Isso é fácil, além de ser uma habilidade que
necessita apenas de adestramento, a chamada “decoreba”. O desafio é saber os nomes das notas –
todas elas e na velocidade que for – e, acredite, isso é perfeitamente possível.
Como dito anteriormente, o mais complicado é saber o som de cada nota. Mas não é preciso saber se
aquilo que se está ouvindo é um Lá ou um Fá. Na verdade, a maioria dos instrumentistas não sabe. O
importante é saber o intervalo que ela representa no contexto harmônico da canção e, com esse dado,
deduzir o seu nome e o lugar no instrumento. Isso ainda possibilita transportar qualquer música para outra
tonalidade.
Neste ponto, precisamos fazer um esclarecimento muito importante: não se deve confundir a análise
melódica tradicional, aquela que compara duas notas entre si, com a análise melódica moderna, que
compara a nota em relação à tonalidade da música. Para fazer a análise tradicional, é necessário ter pelo
menos duas notas e descobrir o intervalo entre elas, independentemente do acorde (exemplo 1). Na
análise moderna, o objetivo é descobrir o intervalo de cada nota em relação ao tom (exemplo 2)
A análise tradicional tem utilidade limitada na música popular, sendo importante para verificar as
modulações (é possível dizer que “Lamentos” modula uma 3ª maior acima, por exemplo), conferir a
movimentação de alguma voz em particular ou reconhecer as notas quando a melodia é atonal. Mas o que
realmente interessa é a nota em relação ao tom ou ao acorde, dependendo do caso. Veja um exemplo:
pela análise tradicional, as quatro primeiras notas iniciais de “Garota de Ipanema”, no tom de Fá maior
(ignorando as repetições), seriam: de Sol para Mi, 3ª menor descendente; de Mi para Ré, 2ª maior
descendente; e de Ré para Sol, 4ª justa ascendente (exemplo 3). Mas o que gera o efeito dessa
composição não é isso, mas o fato delas serem 9ª (Sol), 7ª maior (Mi) e 6ª maior (Ré), voltando para 9ª
(Sol) (exemplo 4).
Note a vantagem: há muitas chances de existir um intervalo de, por exemplo, 3ª menor descendente entre
duas notas de uma composição. Mas somente uma é a 5ª dessa tonalidade. Sempre que a melodia
passar por ela, esse será o intervalo, independentemente da distância entre a nota anterior e posterior.
Até o leigo utiliza esse tipo de análise ao cantar acompanhado de violão, reconhecendo intuitivamente
qual o intervalo da primeira nota em relação ao tom. Em outras palavras, para cantar o Hino Nacional, nós
percebemos, sabendo ou não teoria, que começa no quinto grau da tonalidade. Saber que entre as duas
notas iniciais há uma quarta justa ascendente não ajuda em nada para pegar o tom.

Mas como saber o intervalo e o nome de uma nota tendo como referencia apenas o som? Um bom
exercício para identificá-los é o seguinte: toque um acorde maior qualquer, de preferência um simples C
(do maior). Escute bem o tom e cante uma melodia conhecida simples, como “Asa Branca”, “Atirei Um Pau
No Gato”, “Cai Cai Balão”, “Mamãe Eu Quero”, “Noite Feliz”, “Parabéns Pra Você” ou hino de um time. O
desafio é descobrir o intervalo e o nome da primeira nota da melodia que você está cantando (ou seja, o
intervalo que a primeira nota representa em relação ao tom). Achar apenas a primeira nota é um excelente
começo. Para isso, vai precisar cantar a escala do tom que está tocando e, comparando a nota da melodia
com cada nota da escala, deduzir qual é grau da escala dessa nota.
Por exemplo, se tocar um C e cantar “Parabéns”, a primeira nota será o quinto grau. Isso significa que
essa composição começa no Sol (exemplo 5). O ideal é fazer o exercício sem buscar a nota do
instrumento, deixando para executar depois, apenas para conferir. Mas se não for possível (e acabar
achando “na manha”) , guarde pelo menos o intervalo.
No caso de “Asa Branca”, por exemplo, a altura inicial será o Dó, ou seja, memorize que essa melodia
começa na tônica.
Faça um banco de referencias, isto é, uma lista de músicas que se iniciam por determinado intervalo e em
breve terá exemplos para todos os graus da escala, inclusive os cromáticos
Comece, por exemplo, fazendo uma relação de composições cuja primeira nota é a quinta da escala,
como “Jardineira”, “Hino Nacional”, “Blue Moon”, “Parabéns Para Você”, “Casinha Branca” etc.

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