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Siegfried Kracauer O ornamento da massa los Eduardo J. Machado € Marlene Holzhausen Tircice bce chen OS ve gor Bowes Anns ({iele = /ches) Be Tal, 4246-0015 Y —— J COSACNAIFY 5 33 63 81 31 105 ” 13 49 163 0 PREFACIO Miriam Hansen ntRoDUGRO: GEOMETRIA NATURAL Garotoe touro Dois planos Anélise de um mapa de cidade ‘OBJETOS EXTERNOS E INTERNOS A fotografia Aviagem ea danca ©omamento da massa Sobre livros de sucesso e seu piiblico A biografla como forma de arte da nova burguesia Reb iio dos estratos médios Aqueles que esperam consreucdes © grupo como portador de Ideias O saguio de hotel Sobre livros de sucesso e seu pitblico ratura do Frankfurter Zeitung sob o titulo "Como se explicam Jes sucessos de livros?” suscitou grande interesse nos c{rculos de leitores ¢ edjlares. Nela foram incluidos até agora ensaios que tratam das obras de sucesto de Richard Vols Stefan Zweig, Erich ‘Maria Remarque e Frank ‘Thiess; 2 estes acrescentou-se ainda Jack London, embora nio pertenga ekatamente & série.’ A lista poderia prosteguir ¢ eu, por exemplo, imaginar que em seu ambito se discutiria a popularidade das obras biogréficas* ou se perguntaria sobre as razdes pelas quais um bom niimero de Astrie de romances, public jornais ilustrados Em todo caso, penso que esses estuddos acima mencionados sto sufi cesclarecer a intengio ligada a essa série. O ponto de vista que perpassa todos esses artigos foi, contudo, mal entendido. Assimn pareceu-nos apropriado desta- cé-lo do material e examing-lo separadamente, Para a apresentagio deste ponto de vista sero utilizados os resultados obtidos pelas anilises publicadas. -ncontrada para os best-sellers jf aponta para o objetivo da série. Uma ‘quantidade desses livros jé foi de antemao exclufda. Logo de inicio, nfo foram tratados exemplates deliteratuta barata e de gosto duvidoso (Kolportage]:seja aquela dbvia, seja ¢ dissimulada. A Kolportage indiscutivelmente sempre des- ‘com certeza, por razdes que permane- frutou de uma grande circulagéo, ms em as mesmas e ndo servem exatamente para esclarecer a presente situagéo. Bla retine contetidos significativos sob uma forma alterada e responde a ten- dncias que evoluem tao pouco quanto o seu esquema de composigio. Se 0 sucesso desses romances est ligado A satisfagao de instintos de longa duragdo € de expectativas profundas, o sucesso dos outros best-sellers depende da sua relacio com acontecimentos sensacionais que, naquele momento, cativam a conscitncia geral Aqueles hits literdrios,cuja relevancia é puramente momen- Do mesmo modo, também foram pouco consideradas aquelas publicagdes voltadas desde o inicip para determi- nados citculos de interesse ~ isto &, obras marcadas por tal ou qual tendéncia, politica, livros que devem sua divulgacao pelo fato de atenderem ao mundo das representagbes catdlicas ou aos modos de pensamento do proletariado. De onde vim essas tiagens massivas? A respdsta é facil. Em principio, o sucesso c no pertencem a nenhum dos generos acima mencionados po- fundamentalmente § abundancia de conteiidos em geral verdadeiros ¢ universalmente convincentes. Se assim fosse, uma andlise sb teria de tornar estes contetidos visiveis para explicar 0 sucesso das obras em questéo, No entanto,o fato € que os contetidos lembram as estrelas: luz que delas erana 86 nos alcanga muitas décadas depois. Houve épocas na histéria da humanidade durante as quais muitas dessas estrelas pareciam ter sido des- cobertas definitivamente e, assim, nao era necessério procuré-las. Mas hoje 0 uum telescépio gigante. Das obras de Franz Kafka muitas ainda nfo alcancaram 5 Augares eram saerdotes da antign Rosa que, diante de a9 mil exemplares.A popularidade de certos produtos literdrios precisa, portanto, ser buscada em outros fatores que aqueles dos contetidos encapsulados. Ao contrétio: quanto mais pepitas de ouro eles ocultam em seu interior, mais si0 em geral desprezados pela massa, que nfo possui varinha magica, mas apenes desejos.’ Uma vex. que 0 processo de desintegracio fez 0 seu trabalho, os con- ‘tetidos que emergiram nesse meio tempo podem facilmente ser acessados ou entdo citados por qualquer pessoa. Seo sucesso das obras aqui tratadas na verdade nio pode ser deduzido dos significados que elas transmitem, entéo de quais fontes ele nasce? A questéo de saber quaissio estas fontesjustifica-se mais ainda, jé que ela também causa embaragos aqueles diretamente interessados em sua resposta. Apesar ~ ou tal- vez em razio - da sua rotina, 0s leitores e os editores experientes se abstém de fazer profecias sobre o destino dos livros. Eles habitualmente dizem que © sucesso de publico é imprevisivel ese eles se arriscam a fazer uma previsio, ela no é menos problemitica do que uma estimativa meteorol6gica sobre 0 tempo. Até que ponto é grande a perplexidade dos especialistas em relacdo as variagdes climéticas na esferaliterdria, €0 que mostra de maneira particular- ‘mente notavel o caso Remarque, O mannscrito do seu romance sofreu as mais indignas rejeigbes por parte de excelentes editoras ~ para as quais teria, sem diivida, sido bem-vindo um sucesso de vendas para 0 saneamento de suas fi- rnangas. Quando enfim, apés uma longa viagem, 0 seu romance atracou com sucesso no porto 0s seus inspetores portuétios também néo reco- nheceram o valor quantitativo correto de sua tiragem. As vezes os augures se sti caver faz aqui um Jogo de palavras entre Wiischelrate[varinha magica] e Witnsche tore Uilstein, que publicouo romance de Remarque im Westen nichts Neues {Nads de nove no font. A obra foi publicada em inglés no mesmo ano era 9300 fmada por Lewis Milestone [ed, bras: Nada de nove no front. Trad, Helen Rumjanek. ‘tay, 8d]. Vera resena de Kracauer Im Westen nichts Neves Zam, [Nada de novo no front: Do filme sonoro sobre Remazque].Schrfe, vol ‘antes do Esti, indagavam a ontade das deuses, Para tanto. 10 vo0 dos pisetos ou 0 comportamento ae galinhas go se alimentarem no cerco sagrado 107 "108 encorajam e eles mesmos tentam produzir bom tempo. Bu conheco um livro cujo sucesso subsequente se deveu ao empurido que recebeu na largada. seu langamento estava previsto para logo apés as leigbes de setemibro, antes das uais ele jé estava pronto para ser distribuido. Mas, diante dos resultados da leizdo,o livro foi retido e algumas partes, que aparentemente poderiam ofen- der o sentimento das massas ~ claramente inluenciadas pelo nac foram rapidamente modificadas. Estes fatos ndo 6 confirmam mais uma ver que 0 niimero de edig io & um crit io de valor, como também indicam 08 verdadeiros motivos que fazem de um livro um grande sucesso, Ele & 0 si- nal de um experimento so ico bem-sucedido, a prova de que, mais uma ver, ‘uma mistura de elementos obteve éxito ao corresponder ao gosto da massa de leitores anénimos. O sucesso de um livzo particular pode ser explicado s0- mente pela necessidade desses leitores, que, de modo voraz, devorarm certos Componentes 20 mesmo tempo que recusam decididamente outros, mas ndo pelas qualidades da propria obra ou melhor, s6 na medida em que satisfazem aquelas necessidades. E caso essas qualidades ainda contivessem tragos reais de substAncia, nao ¢ na qualidade de contetidos que estaria assegurada a fama o livro, mas muito mais na capacidade de respostas a tendéscias difundidas espago social. O sucesso de um livro como mercadoria depende em iltima instancia da sua habilidade de satisfazer a demanda de amplas camadas sociais de consumidores. Uma demanda ¢ muito geral e muito constante para se dei- xar influenciar em sua direcdo por preferéncias privadas ou por mera sugestao. Ela deve repousar sobre as condigdes sociais dos consumidores. Qual é a posicao social do puiblico que suporta o sucesso das edigées? De ‘maneia alguma o sucesso esté fundado em uma clientela dentro do prole tariado. O consumidor proletério I principalmente aquilo cujo contetdo jé recebeu um carimbo de aprovagéo ou entio Ié 0 que a burguesia jé leu. Nos dias de hoje ainda é a burguesia que concede celebridade e riqueca indiscut vel para alguns autores. Mas ela ndo é mais, como antes, uma classe rel mente fechada em si mesn sociais que se estendem da a ‘mas compreende uma pluralidade de camadas burguesia ao proletariado, Estas camadas se formaram nos tiltimos cinquenta anos e ainda se encontram no meio de um rocesso de transformacio radical. O que se sabe delas? O fato de que nao sabemos nada ou quase nada sobre elas explica facilmente porque ¢ impossi- vel verificar as chances de sucesso de um livro jé de antemao. Nos possuimos ‘uma espécie de instinto de classe, mas este também é falho, Como resultado, toda criacio literdria que alcanga a aceitacao do mercado assemelha-se a um bilhete premiado de lotera 3 [As transformagées nas estruturas econdmicas que ocorrem no presente afetam, sobretudo, a antiga classe média, incluindo a pequena burguesia. Esta classe, outrora portadora da cultura burguesa e braco principal do piblico leitor, se encontra em um estado proximo da dissoluedo. Dentre os acontecimentos que desencadearain essa situagio se poderia citar a inflagdo ¢, por conseyuinte, a pauperizagao dos pequenos acionistas,a concentragéo do capital ea racionali- zagio crescente, para néo se mencionar a ctise,que conduza novas substanciais. Como resultado de todos esses fatores, aqueles que ocupam a posigio de claste média faltam certos pressupostos ~ tais como a autonomia limitada, a pensio modesta etc. - que caracterizavam. classe média. A nova classe média se tornou dependente e desceu ao nivel de existéncia ‘proletaroide’, A demonstracio de sua proletarizagio foi objeto do ‘meu livro Die Angestellten [Os empregados]*, una tentativa de demarcar todo ‘0 espaco ocupado pelos filhos ¢ os filos dos filhos da parte mais modesta da classe média no periodo anterior & guerra. Do ponto de vista econdmico, entre eles ¢ 08 operitios no hé mais que a distancia de um passo. De fato, @ transformagio das condigées de produgao exerce sem diivida influéncia sobre a alta burguesi, Parte desta classe consist agora em empregados¢ funcioné- rios pablicos e encontra-se no meio de uma reorganizagao cujos ef dificeis de avaliar. 6 Siegitied Kracauer, Die Angestller: Aus dem nevesten Deutschland (Os empregedos: da 109 As transformagbes estruturaip acima sugeridas, diga-se de passagem, deram origem a tendéncias que por enquanto ainda precisam permanecer dissimu- ledas, pois contradizem os conceitos tradicionais. Trata-se aqui daquel: déncias que correspondem a nossa situagio dificeis de ser realizadas, mas que nio coi pios fandamentais da empresa privada. Assinh, por exemplo,o direito pi invade cada ver. mais a esfera individual e conquista novas competéncias: a ideia de obrigagio social adquiriu na verdade contomos to sélidos, que néo pode mais ser suprimida; urbanismo e planejamento do te transcen- dem o egofsmo individual; a coletivizagio da vida esté aumentando. No en- em exatamente com os prin lidade social tanto, até 0 momento, essas correntes ~ que levam em conta a: © as necessidades materinis ~ estio longe de determinar o si sma no qual se desenvolvem, Elas, em certa medida, se ocultam sob um incégnito e, mesmo que se materializem de fato, nfo se afirmam por aquilo que sio, pois « cons- cincia dominante esté habituada a outros esquemas. Hiaveria lugar disponivel para essas tendéncias, pois muitos dos conteidos de consciéncia da burguesia foram to desmantelados quanto 0s seus portado- res, Privados de seus fumdamentos econémicos e sociais, eles nao podem se manter por muito mais tempo, Penso no desaparecimento gradual da cons: ciéncia de classe nos indimeros circulos de funcionatios e de empregados: no abandono de atitudes individualistas, perceptivel com frequéncia na préticas ‘mas, sobretudo, na falta de ilusdo dos homens que dirigem a economia, Um {grande desencantamento se instalou precisamente nos cargos mais altos € as ideia ‘ormamentos retéricos para discursos em dias de festa. A reniincia aos contei- dos, agora destronados pelas circunstancias atuais, é um indicio de que aque- les ameacados de enipobrecimento espiritual tém certo sentido de realismo. Contudo, somente poucos olham para além do seu préprio umbigo. A maioria reverencia na arte, na ciéncia, na politica etc. 08 ideais que ha muito percebe- ram no seu proprio dominio. © desmascaramento de algumas ideologias (ainda nao claramente ad. rmitidas) é um indicio do enfraquecimento da consciéncia burguesa? O mu tismo que se instalow nas camadas mais altas contribui, em todo caso, para a te uma vez serviram para impulsionar a economia, sio agora apenas radicalizagdo da geracio mais nova. Nao se pode viver s6 de po, muito menos quando nao se tem nenhum, Mesmo os radicais de direita se emanciparam em parte do modo de pensar burgués, pois acreditam que ele ndo Ihes serve ‘mais. Mas esta é uma emancipagio em nome de forcas irracionais, capazes de estabelecer a todo momento um compromisso com os poderes burgueses. A maioria da classe média e dos intelectuais, no entanto, ni participa desse le- ‘ante mitico, que com razdo Ihe parece uma regressio. Ao invés de se deixar coibir pelo vaio espiritual - que domina nas esferas mais altas ~ para fugir do esparo fechado da consciencia burguesa, ela busca ao contrério conservar esta consciéncia por todos 0s meios. Menos por crenca positiva do que por medo~ maedo de se afogar no proletariado, de ser desclassificada espiritualmente e de perder 0 contato com os verdadeiros contetidos culturais. Contudo, onde en- Contrar reforco para a superestrutura ameacada? Ela dispensa diferentes apoios materiais e as novas camadas — que se consideram parte da burguesia ~ ndo sfo 0s seus suportes naturais. pertencem, e apenas defendem pr importante: como é que se fortalecem em sua posigdo? Uma vez que nas cir- cunstancias atuais nao podem simplesmente adotar o inventirio da conscién- cia burguesa como tal, precisam recorrer a toda espécie de alternativas para assegurar a sua antiga posicZo de poder espiritual/intelectual em mesmo tém uma ideia do lagar a que jos, talver tradigdes, Surge a pergunta 4 “As anélises de livros mi jidos’, escrevi em meu ensaio sobre Frank Thiess, “Sdo um artficio para a investigagao de camadas sociais, cuja estrutura nao poile ser determinada pela abordagem direta”” De fato, em nossas investiga sGes anteriores, obtivemos informagdes decisivas sobre o comportamento das 7. Siegfred Kracauer,“Bemerkungen 2 Frank Thies (Ai Sehrfen, volaane 5, parte 2, eensalos ‘Zsolnay gy. Ver“Zwischen Blut und Geist [Entre sangue © Part 3, p. 93-96. classes burguesas que entraram em efervescéncia e, em particular, sobre as ‘medidas (predominantemente inconscientes) que elas tomaram para sua auto roteao, Por isso, pode-se presumir que aqueles livros que fazem um grande sucesso so precisamente os que representam ou sustentam essas medidas. Um individualismo s6lido garante boas chances. Em relacio aos herbis do romance de Voss se diz 0 seguinte: “Eless80 dois individuos adultos que, como tais, fo suporte moral para o protesto contra as tendéncias de golet- vizacio que, no presente, se manifestam de maneira cada vez mais clara. Eles se opGem a grande parte do povo alemao (...}: contudo, a popularidade do romance indica que “personalidades’ do formato de Judith ou do padre Pau- lus tém no minimo a mesma forga de atracto que os portats de homens da massa" Thies e Zweig também colocam o individuo no centro. Onde o indi ‘viduo aparece, a tragéda ¢inevitavel. Bsa dima enterraa existéncia burguesa profundamente na metafisicae exerce, assim, uma forte atracdo sobre o pi blico mesmo em sua forma distorcida, ou exatamente em razao dessa forma “O homem acomodado, amedrontado de nossa época’,diz-sea propésito das novelas de Zweig, “e em particular aquele das camadas mais alts que na Iuta frequentemente va para manter o seu standard de vida, quase sempre neces- sita encobrir 0s seus sentimentos, busc trofe” Visto que as classes médias percebem a sua posi- ‘Go intermediria como uma calamidade,mas querem manté-la sob quaisquer Circunstancias, tendem naturalmente a elevar todas as calamidades ao hivel de acontecimentos trégicos. O individuo que ~ confirmando a ideia - motze tragicamente é também parte consttutiva dessa concepeao idealista do mundo, assim é compreensivel que os textos favoritos assumam certo idealismo, Nao © auténtico, aquele que jé passou, mas certamente as suas imitagées confusas. {8 Siogfried Kracauer, "Richard Voss Zwei Menschen’ Frankfurter Zeltong x ma ado em Schifter, volums Stefan Ziveigs Novell” [As novelas ds p1 Pobli- Em relagdo & prosa de Stefan Zwéig também se tonstata que algumas de suas el sobre muitos escritores contemporineos, frases exercem “um efeito irresis| que querem manter um idealismo empalidecide a qualquer preco, cialmente nas camadas mais altas, que exigem estilo e distanc imisica e Zweig ~ tal como podemos ver em suas novelas ~ vados, preocupados com o bom gos exato, que ressoa nos circulos mais. exigem, no a distancia, pela qual se paga caro, mas 0 coracdo, que € gratuito. O sentimento é tudo quando todo o resto falta, Ele humaniza a tragédia sem extingui-la e obscurece a critica, que poderia se tornar perigosa para a con- servagio de contetidos envelhecidos. Para a auséncia de tensio Voss trata de encontrar uma compensagao em um modo de representacio que, em grande parte, éo responsével pela ressonancia do livro. Hle esté repleto daquela ¢s- pécie de sentimentalidade (destitufda de qualquer forma iteréria) ‘as massas an6nimas, Remarque alcanga, portanto, os seus efeitos porque sabe ‘cémo comover. “Esta qualidade comovente”explica o ensaio consagrado a0 seu romance,“aponta [..] sociologicamente para aquelas classes sobre as quais exerce um efeito mais forte e que determinam 0 sucesso do livro.E a expressio de uma posigio intermediiria entre aceitagdo ¢ rebelido ~ uma posigéo que corresponde & atitude da classe m ‘Com frequéncia, os contetidos que precisam ser estabilizados ndo sio ex- jos de modo indireto fu- plicitamente invocados, mas procura-se preserv ‘gindo para um lugar distante qualquer para evitar entrar em conflito com eles. Se nao so tocados, eles nfo se esfacelam com facilidade. Eles sio colocados dde vidro e seus pateBes saem para um passeio de carro, Um dos stadores desscs passcios foi'e peémanece sendo o erotismo. A sob um destinos mais . prop6sito de Thiess, que o procura com frequéncia, hé a seguinte observacdo: Eu creio que muitos letores sio atraidos pela iza em abundancia e contra a qual néo se pode fazer a ménor objecio, uma 10 Ider, them 1 Bphraim Frisch, Brich Mla Remarque: In We Nada de novo no front) Frankfurter Zeiting 5 ab. vex que para a representacéo da atitude fundamental ela é completamente apropriada ao que se destina’* Do mesmo modo, as aventuras geogrificas so populares, pois em parte elas desviam a atengdo do espiritual/intelectual Denire os autores que entregam estas aventuras a domicilio ests Jack London, A andlise de sua obra mostra, contudo, que no seu caso aqui que é decisive 6a intima ligagao com a natureza. Ela é, como provam os livros de sucesso, 0 grande refigio pelo qual aspiram as massas de leitores. Se eles confiassern na razio [ratio], que ndo coincide com a natureza, entdo as construges de suas con ' poderiam estar ameacadas; no tetorno para a natureza, por sua todos os contetidos prodle tragica ou demoniaca ~ nao importa: em ambos os casos ela é um doce retiro para todos aqueles que nao desejam ser despertados. “Os hertis das novelas de Zwcig so Amok.” Eles séo loucos, enfeiticados ou encantados, nfo res- ponsiveis por seus atos, mas através destes desejam com certeza demonstrat alguma coisa, algo indeterminado, misterioso..° A natureza nas obras de Jack London é até mesmo muito bem-intencionada em relacdo a0 homem, & ‘uma natureza jdeal, a qual ele pode ouvit despreocupado. Ele jd sobrevivey a iticos permanecem intocados. Seja a natureza todos os perigos p tal como os vagabundos de Hamslin, o conduz & beira do abismo; ee segue apenas » sua ‘natureza”* Insondas re de toda justificagdo, € muda, Uma vantagem que justpmente garante o sucesso, Pois 0s atuais detentores de grandes sucessos de livrot, guiados petos seus inst tos de autopreservacio,nio desejim nada mais intensamente que o pre s embaracosas no abismo dé siléncio, Usha vez que - com ou sem vax ~ temem a resposta, insistem para que sejam levantadas barreiras para bloquesr o avango do conheciniento. A sua exigéncia chama-se:indiferenga. E is - “mas nao hé nenhum deménio que o persegue e, |, a natdreza é finalmente 0 ufen, que significa perder o cont romance Amok, de Zweig. Leiptg: Ins! Vetag, perder as la que sem diivida alguma pequena burguesia intern cussio sobre a guerra em seu limita a constatar que'O melhor mesmo é ndo ter guerra algumat Quando aqui ‘ou ali se manifesta indignacao, ela se volta contra a autoridade subalterna,e 0 6dio ¢ ditigido contra aqueles patriotas& paisana automotivados ~ por exem- plo, contra um professor que & censurado de modo violento por encorajar os ‘menos dotados ase dlistarem voluntariamente”* As nossas andlises fornecem, portanto, um quadro bastante abi ddessasestruturas da consciéncia nas novas estratos da burguesia, Esta esto engajadas em tentar amparar certos contetidos que, ‘mais suporte suficiente, Usando de todos os meios possiveis, elas querem tara confrontacio de ideais absolutos com a realidade social contempo: se esquivam desta acareagao fugindo em todas as diresdes e para todos os esconderijos. Elas preferem residir no seio da natureza, onde podem renun- ‘base do sucesso de Remarque dentre a Naan ise do romance se diz:"A tinica dis- ion |, que visa destruigio das Instituigoes, e formas sobreviventes de consciéncia, mitolégicas, 5 -Aquele que deseja modificar alguma coisa precisa estar informado sobre aquilo que deve ser modificado. O valor dos artigos publicados em nossa série reside exatamente em sua habilidade de facilitar a intervengo na realidade social.” 16m, ibider Ese parsg ment der Mase do ivr, em 197, final do artigo, que Kracauer ome bsequentementereinserido p iso de 196 de obra Das Orne len Wite na reedigdo péstema 22 Acredito que exista somente uma tinica obra biogréfica que difere funda- ‘mentalmente de todas as outras. & a biografia de Trotsky.’ Ela viola as con- digbes impostas a biografa literdria, Aqui a descricio da vida do individuo histérico nao é um meio para se esquivar da compreensio de nossa propria situagdo; ao contrétio, ela serve apenas para reveli-la & por isso que nesta autorrepresentago se delineia um individuo diverso daquele visado pela li- teratura burguesa. & um tipo de individuo que jé se superou, na medida em que somente se torna real pela sua transparéncia em face da realidad, e néo pela afirmacio da sua propria realidade. Este novo tipo de individuo situa-se fora da nebulosidade das ideologias: ele existe somente na medida em que se anula no interesse das necessidades atuais, reconhecidas 3 Leon Trotsky, Mota Zien: Opyt Autoblofafi. Belin: Ledvo Grenit, 193 [ed brat: Minha id Tia. Livi Xavier Sto Paulo: Paz e Tere, Rebeliao dos estratos médios Uma discussio com 0 Circulo Tat © Jornal Die Tat tem hoje em dia um ntimero significative de leitores, parti- ‘cularmente dentre os intelectuais da classe média, Isto se explica nao s6 pelo fato de que o Circulo Tat defende conscientemente os interesses priticos e ideolbgicos dessas classes, como tembém pela sua propria forma de lata. 0 seu formato é do tipo que a intligéncia alema no esté acostumada, ublicagio tornou-se érglo do Cirulo Tat, um grupo de esrtores que, como iscipulos| os trabalhos tcrtos de Cael Schmit, defendia uma doutrna de Estado atiparlamentarsts, 14 “Ougaa javentude que hoje em dia segue os nacional-socialistas ou 0s co- munis feve"* Uma decla- ragio como esta demonstra que os artigos publicados em Die Tat se baseiam emunia ample auténtica experincia:a da solidariedade do necesstado povo alemao, Nesse sentido, eles se diferenciam de numerosas outras andlises da situagso contemporanes, que ora sto dominadas por imperativos partidarios e preferéncias de grupos de interesse, ora por construgées tebricas que nio Jevam em consideragio vinculos existenciais particulares, Partindo de suas (0s colaboradores de Die Tat se esforgam para com- so melhor material humano que a Alemenka r concretamente a situago concreta.E por mais questionaveis que sempre sejam as interpretagoes de Fried sobre a ec has sio uma co- mida caseira saudavel (embora nio quando comparadas com a ostentagao idealist, que ainda é constantemente servida & geragdo nova em smo ¢ se envolver propriamente com as coisas di origem, em as tentativas de solugdes que estdo fora do alcance do mero problemas titicos, mas que, baseadas em uma posigéo geral, procuram com: preencera situagdo mais ou menos estrategicamente, Ainda se poder verificar se estas solugbes sf0 realmente solugdes. No entanto,o certo é que um grande -miimero de pessoas, que v80 declinio material e de ideias ocorrendo diante de seus olhos, acredita poder se animar com as reflexes atuais de Die Tat Em razio da seriedade e relevncia de iplamente importante: no interesse de seus leitores assim como no interesse do circulo de seus colaboradores. De antemio, no entanto, quero me abster fe Tat, um exame deste jornal & de dar import especial que, como se sabe, exige que a Alemanha adot \cia central As posigdes econdmicas de Fried e ao programa ‘uma forma particular de economia dirigida [Planvvirtschafi], « autarquia, a orientacio para o sudoeste europeu e o apoio da Russia soviética. Muito mais decisiva € uma andlise da postura que dé origem aos virios pensamentos ¢ [Stimmigkeit] dos resultados est ligada a coerén- cia desta postura mesma, Em um de seus ensai houve um novo movimento que, em sua fase inici ad absurd pela racionalidade aparente de uma velha linguagem, a servico dos interesses de poderes conservadores e tradicionais!"? Esta observacio & inteiramente aprapriada se ela pretende rejeitar objegBes que acreditam atin- gir o cere de um movimento criticando as suas expressées conceituais. Ela ho poderd ser usada, no entanto, para isentar a linguagem de Die Tas, cujas formulagées fluentes sio qualquer coisa diferente do balbucio desamparado que, de acordo com Zel tica de todo novo ento, Por bem ou por mal nés temos de atribuir a esta linguagem certa ropostas, pois coer 3s, Zeer escre nao tivesse sido levado € supostamente uma caract importincia.., Infelizmente, é do mesmo modo imposstvel evitar trazer os pontos de vista defendidos pelo jornal para uma confrontagéo com a razéo, Para.a qual o Circulo Tat, como se sibe, nfo é um bom interlocutor. Eu creio, contudo, que é possivel se expor sem medo ao perigo que envolve o emprego da razio, De um lado, porque a argumentagio 86 é possivel se os direitos da razio sto reconhecidos; de outro, porque, no importa se, intencionalmente (0u nfo, Die Tat também tem com muita frequéncie recorrido e mesmo ape- lado expressamente & tio menosprezada razao. Antecipemos algumas das principais conclus6es da andlise a seguir, que esté baseada nos cadernos do jornal publicados no iltimo ano, As ideias ~ guias do Circulo Tat so o reflexo preciso da situacto dificil da classe média, Blas apontam para uma postura que ¢essencialmente irreal e cheia de contradigbes. chefe do Taglche Rundichau de saat 1953, quando fol forado pelos naists a renanciar 208 dois timos cargos. 5 ldem, “Recht oder links os concets) Die Ta ie Verwirrung der Begrif” [Dirt ox exquerda? A confusto LP 507 126 Dada a sua confusto improdutiva,essas ideias nfo apresentam nenhum tipo de solugao. Aeexperitncia fornece a Die Tat o conceito de povo [Volk], que ele postula como sm um momento fala-se do “pensa- ‘mento étnico [vélkisch] de totalidade’,e logo a seguir as instituigdes pablicas so inspecionadas para determinar a sua "prokimidade ao povo" De acordo com este conceito empregado romanticamente, povo refere-se aalguma coisa que cresceu organicamente ¢ se opée tanto a todas as teorias que sio liberais no seu sentido mais amplo ~ aquelas que adotam o individual como a base da ‘comunidade ~ quanto ao conceito moderno de massa. "Nos no pensamos ém termos de massa, mas em termos de pessoas ¢ povos ‘quilo que tem a ver com as pessoas 6 0 que ser4 explorado mais tarde A luz desta orientacao inicial, nfo causa surpresa o papel importante que ‘o-conceito de espago [Raum) desempenha. Um povo se apresenta fisicamente no espaco. Isto explica a satisfagao mal dissinmulada com a qual se observa que 10 mundo se desintegra em espagos nacionai a convocagdo programatica de autarquia. A nogéo de espago domina Die Tat de tal modo, que Zehrer ainda fragmenta o espago total do povo em subdivi- s6es, as quais cle ~ assim como Nadler*~ atribui um poder formativo, Como Zebrer explica: “Nés afirmamos a paisagem como um espago fechado emi si “ker. Exatamente Konigsberg e Viena durante « Repiblice de Weimas A sua obra incl um esd «em quatro volumes inttuledo Literaturgeschichte der desc Stamme und ia da iteratura das raasepasagens le terrae ao destino”? A menor célula yeogréfica é, sem divide a casa familiar. Em todo caso, também o conceito de espago expressa um desejo para 0 orgi- nico que se opoe diretamente as tendéncias de atomizagdo do liberalisino e seu tipo de internacionalismo, Em termos temporais,o povo se declara como um Estado. le se man ‘como em Hegel, como “Estado total” ~ um conceito adotado por Catl Sch- ‘mitt, que perceptivelmente extrai o seu pathos da reeigao do “Estado noturna’” © povo e suas organizagbes, de acordo com a citaglo de Die devem ser “integrados” dentro desse Estado total. Na formulacio trata-se da “troca da primaria da economia pela primazia do Esta tum outro ponto hi a seguinte observacéo sobre a proissio: "Para nds fissio & uma tarefa de vida, que propriamente abarca em um esparo zo Estado" Similarmente, 0 ta, ‘0 Estado ideal nfo como uma unidade construtiva, racional, mas como uma unidade vi mal, cujos elementos se juntam para constitu-lo, por as- sim dizer, por si mesmos. Esta € una concep¢io romantica de Estado, que dé grande énfase ao elemento organice. ‘Aquilo a que se aspira, portanto, é uma ordem das coisas praticarnente posta aquela exigida na Aufklérung (Esclarecimento]. Ao menos ela & extre- ‘mamente antiliberal. Aquele que, tal como 0 Circulo Tat, considera “calami. toso" ter uma s6“gota de liberalismo no sangue'y* naturalmente precisa odiar o intelecto, o qual, antes de tudo, e dependendo das necessidades, também & ©. Refertnia née localizada, 1a Ferdinand Pred, °Der Weg der Releheinanzen” [0 camiaho das finangas do Re 4jl931 p29. estandspolii Stetepoitk” [Politica de asse mba, potica de Estado} op uy 28 ‘identficado com a razio. 0 intelecto é considerado a principal arma do li- smo e, uma vez que Die Tit teme ~ com razio ~ nio conseguir barrar ° muité mais violentas."A esta razio’, escreve Zehrer, “antes de mais nada, s6 alismo combatendo-o com suas préprias armas, prefere usar outras, le opor uma nova crenga,¢ uma crenga jamais pode discutir com o seu oponente dialeticamente, pois se ela 0 petsegue em seu terreno, sempre ser a ais fraca” Mas como se. 10 mundo real, se ela se recusa a uma explicago? A resposta primitiva de Zehler €:"O dnieo argumento que indo se ajusta na estrutura do sistema libe! espacla.A espada eo punhot”. Em fesjimo, os agentes [Teter] de Die Tat se blin- dam contra a razio, abaixam as suas viselras para nao observarem nenhum de seus argumentos e buscam a salvagao na barbarie, Em seu édio cego, eles con- 1em responsabilizr a razao por acontecimentos nos quais ela é realmente inocente. "Raza, brada Zehrer,"Em nome desta razao milhies de pessoas morreram, Uma investigagdo mais precisa revelaria certamente que foram as forcas da irracionalidade (Unvernunyf], invocadas por Zehrer,exatamente as responséveis pelo desencadeamento da Guetra Mundial. ‘Assim, se Die Tat ndo luta sob o signo da razao, persegue entio uma outra da razio e da discussio é a estrela-guia, Zehrer dé a seguinte definicéo:"Uma nova crenga, um novo mito substituirso 9 sistema liberal” © conecito de mito, que nas publicagées do Circulo Die Tat é tio fortemente enfatizado quanto a ideia de uma economia ida, emerge das éguas da Lebensphilasophie e& desenvolvido com base em. Sorel.” Ele atribui o grande significado do conceito de mito evidentemente ao fato de que, a0 nao confiarem mais nos efeitos reprimidos do conhecimento xacional,as pessoas se sentem compelidas a substitut-lo por imagens resplan- dose «uma deter p-econdmicaalema, como fica caro ao longo do mann, “Moderne Sozilogen ie Tat 2,nimero 5, ag01930, pp.367-72 decentes, em relagio ds quais as forsas irracionais se comprimem de uma ma ira secreta, Além disso, a0 invés de revelar uma ou outra dessas imagens, ‘Zehter infortanadamente se limite a intimé-las, B, na verdade, a tinica coisa que é certa é que Zehrer simplesmente vé as classes médias como portadoras abalizadas do mito por ele proclamedo, “esas classes néo podem experimen- tara sua solidariedade com a grande comunidade, com 0 povo e a nagio, por ‘meio de uma unio, um clube, uma classe ou qualquer outro tipo de organiza- ‘lo.Elass6 podem experimentar essa solidariedade através do ideal, quer dizer, zo mito” Quando muito se poderia ainda acrescentar que este mito teria de ser nacional. A esse imperativo, rer, em uma referencia sem ambiguidade, explica que a tarefa do futuro écriar uma nova Volk-comunidade sob a égide do mito de uma nova nagéo! mito ~ estes conceitos fortemente interrelacionados se refe rem a uma realidade substancial, Em virtude da sua orientagio estar voltada para essa realidade, Die Tat etd portanto qualificado para realizar uma critica substaptiva des condicées dominantes. Na verdade, ele s6 se desvia do estado de coisas existentes pelo fato de que este & essencialmente insuportivel. Para ‘mint, sem sombra de divides, a influéncia que o Circulo Tat conquistou re- ppousa.na sua critica sobre esta época. Como néo poderia deixar de set na pos- ‘ura aqui caracterizada, ela atinge, sobretudo, 2 pobreza material (Substanzar- ,que se expande no regime atual. Deixo em aberto se, para aapresentacdo dessa pobreza se deveria necessariamente partir do denominador comum dos conceitos acima mencionados, ou se néo seria igualmente interessante partir de outros conceitos, como por exemplo aqueles de classe. No momento, que importa é somiente que com a ajuda das préprias categorias, Die Tat foi capaz de diagnosticar deficitncias significativas. E na verdade estou pensando no s6 em Fried, que forga de uma maneira certamente muito violenta as distor ‘90es contemporineas do management capitalsta nas suas pinturas em aftesco, ‘mas também em declaragbes de menores dimensdes, que atingem o cemne das cojidigdes atuais, Blas rtificam, por exemplo, nogo de profissio vulgar, excessivamente otimista, desmascetam os poderes que florescem sob a pro- 8 Hans Zehren,"Rechts der [Dirt on esquerdat), op. cit, pp 53,559 9 30 tecdo da fachada federalista, analisam cuidadosamente a situagao de alguns partidos. Provavelmente a critica mais contundente de Die Tat, no entanto, & ‘© seu protesto permanente contra o pensamento livre. Contudo, ele prejudica 4 sua propria posicio porque con} frequéncia se desvia ¢ trava uma batalha sob uma falsa bandeira. Qudo irresponsdvel éa sua afirmagao de que a inteli ‘géncia judaica carece de ose, 6a seguinte frase: to construtivo; quao maliciosa, ¢ nao mais que vidade para defender a néo-prestasto do servigo desses lapsos ~ indignos de um jornal 1 €0 sionismo” Atrés io ~ ha, portanto, « constante con- fuséo daquele pensamento com a “razdo liberalista” ou simplesmente com a propria razdo, com a qual jé ndo tem nada mais em comum. A linguagem de Die Tat ~ que Zehrer defende de anteméo como um produto de circuns- tncias atenuantes ~ néo é desojustad objeto atual dos seus ataques cinila através da neblina por ele mesmo produ- ida, Este objeto & ratio, que nega a sua origem e nao mais reconhece limites, em oposicio a razdo [Vernunft] em geral e &“razto liberalista” em particular, que, antes de tudo, se baseia na fé na humanidade. Esta ratio desatada, que de ‘modo algum pode simplesmente ser designada como intelecto,¢ apequenada como razd0 ¢ muito mais, tal como um deménio da natureza [Naturddmor], domina o razoavel.E é precisamente esta falta de poder da razdo que permi & ratio vigorar hoje em dia téo sem restrigd quele évido por bucro re imprecisa, es6 obscuramente 0 Ela, a ratio cega, € quem inspira ar suas transagdes; quem produ a irresponsa bilidade de certo tipo de jomnalismo de segunda categoria; quem ¢ a culpada pela precipitagio do processo de racionalizacio e por todos aqueles cilculos de uma economia degenerade, que levam em conta iniimeros fatores,exceto os homens. Assim como criou inconscientemente um aparato téenico, diante o qual nos encontramos como aprendizes de feiticeito, indbeis para exorcizar os elementos evocados, a ratio tambérh corroeu 0s lagos que até entéo man- ‘inham formalmente « coesdo da sociedade. As consequeéncias terrivels desta 19H. [pseuddaime jornlis Chap "Der Fall Chasie Chaplin desintegragdo induzida pela ratio ~ sobretudo para os estratos médios ~ pro- ccurei apresentar em meu livro Die Angestliten [Os empregados].” Ao serem dessubstancializadas, estes estratos agora nao dependem de natia mais a no ser da neutralidade obrigat6ria do pensamento sem conte(idos. na mudez deste pensamento que se refugia o sistema social e econdmico, severamente abalado, ao qual nés atualmente estamos submetidos. 3 Die Tat dé as costas para as condigdes criticadas. A critica néo o aleanca? Pode ele fazer justica & realidade substancial, almejada pelos seus conceitos, fundamentais? ‘A resposta para todas estas questdes no. A maneira pela qual os col boradores de Die Tat se referem constantemente ao povo, a0 Estado, a0 mito etc. comprova claramente que aqui nao se ttata de contetidos adquiridos pela experiencia, mas daqueles almejados. Como demonstrado pelo uso cesses contetidos, eles nao sio pressupostos, mas reivindicados; eles no sio 0 ponto de partida mas, ao contririo, o objetivo a ser alcangado. Em outras palavras:& realidade que tem tanto significado para:Di¢ Tut nao existe, exceto talver.como ido se eles podem ser revelados como existentes. Proclamé-los como um tipo de plano qual ser realizado pélo mero esforgo da vontade, significa fazer umd exigén de anteméo, é impossivel de ser atendida. Uma substanci nio existe. Aquele que emprega 0 conceito de tal substa atualmente em thos, nao 9 conguista totalmente diferente: ou seja, que © coricelto é uma pura reacdo. Todos 0s conceitos carregados positivamente e empregados pot Die Tat sio pouco mais, nente como uma stl de artigos no Frank sobce a clase de empregados surge na forms de livo pla Frankfurt Socgtats-Drickere, emis3o. a3 12 vale dizer eles ndo correspondem a realidade ~ que ja deveria existr ~ para imidade. E 0 significado desses con. 1¢ pode descrevér como romantico. fato de 0 Circulo Tat nao contar com o surgimento de um lider [Fier] or conseguinte, contar com a capacidade criativa de uma elite espi- que ele cré realmente existir,revela urha certa reflexio. E realmente provavel que, acima de tudo, ele se considere parte da genuina elite por ele da, e de fato o Circulo at realmente é a nata da javentude alema, Ainda assim ele nao se abstém de gloificar agora mesmo o eventual er, Zehrer sonha com aquele que ¢ esperado:“O anseio por este individuo esti latente no povo ha mais de uma década, Nés no queremos nos mesmo desi ho ‘momento em que a primeira palavra de comando severa, mas justa, de uma ‘vontade realmente pessoal atingir o povo aleméo, as pessoas entrario em for- macio e cerraraofileiras[...] eesterespirardaliviado, pois saber novamente para onde esté indo" © povo alemao certamente nao fara nenhuma destas coisas porque ~ ¢ enquanto ~ a prépria boa vontade politica se dispersa na fnsia de um lider. A vinda e a permanéncia deste lider depende nica e exclu- sivamenté de uma compreensio correta & construtiva da situacio, e ele desa parece novamente quando, epoiando-se somente em seu status de lider, nfo compreende a situacéo (Clemenceau, Lloyd Georg etc.)** Ao invés de criar ~ ‘na medida em que isto é possivel - as condigdes necessérias em que um lider im pode aparecer, Zehrer glorifica o lider eqmo tal logo de ini ‘uma estratégia muito difundida, que provém obviamente de uma averséo ao tae [ireita oy eshuer polio francs ejormalista contoides o eeu poder politico eo pratt fe § Franca imino durante a Primera Guerra impositao de sua voniade poles evidenciadacaramente no modo peo qual exclu Assembla Nail Franctsa dis nagocagbes de paz de Versailles, sig David Loyd Geonge (1863-1945) rmiltarita do Estado de Guecra antes de cm relagto a outros comandante eburocrata levou a au eolamelt crescente parlamentarismo da democracia liberal, mas que nao tem nenhuma conse- 4quéncia. Ao contririo! Pelo fato de gastar todo o tempo entoando hinos 20 lider, antes que ele tenha chegado, negligencia-se precisamente prepara caminho e, na pior das hipéteses, torna-se presa de charlatbes. A antecipacio de um lider nao apressa o seu advento, muito mais retarda a sua aproximagéo. A tinica coisa que possivelmente facilitaria esta chegada ¢ o questionamento Constante sobre o que seria necessério fazer para que isto acontega. E é s0- ‘mente o lider jé manifesto ~e no o antecipado - que pode aspirar a entrar na consciéncia do povo como uma imagem. A imagem de Lenin circundada por uma auréola€ 0 fim e nao o inicio de uma carreira de um lider, é0 produto de agbes baseadas em conhecimento, Mesmo © conceito de mito, sob cujo signo o novo Estado-Volk deve se tur, € um contraconceito sem poder. Nascido da rebelito contra o li- beralismo desnaturado, ele deseja estabelecer uma forca mais efetiva no lugar 4a ravio, que supostamente falhou. Mas 0 mito nao pode ser estabelecido. Ele 6, segundo Bachofen, “nada além do qué a representacio das experién- cias do povo a luz da fé rligio nos esclarecimentos de sua edi ode Bachofen:"0 mito ¢ vido ou imlido, dependendo de sus eficicia ou ndo-eficécia para nds. Em todo caso, see undo € depende do nosso mundo emocional (...)”*Tsto s6 aparentemente contradiz 0 discurso de Mussolini antes da marcha para Roma, no qual ele credita ao fascismo ter criado 0 mito da “nagio” De fato, mesmo Carl Schmitt ~ nao sem simpatia - em seu livro Die geistesgeschichtliche Lage des heutigen Parlamentarismus [A situagao hist6rico-espiritual do parlamentarismo atual) cita essa passagem do discurso, denomina os acontecimentosa ele ligados “um ‘exemplo do poder irracional do mito nacional” Antes, deveria ser examinado 23, Johann Jakob Bachofen, Ureigon und antike Symbol: Sytematsc angeordnete Auswahl sn Werken in drei Banden [Relgio pri orgunizada de mo Lage des hewtigenPaslamertarsmas (A stung histrico smo hoje). Munchen: Duncker & Humbot, 93, p. 472 33 134 até que ponto 0 assim denominado mito fascista nao é simplesmente a supe- restruturaideol6gica de relagbes materiaise sociais especticas e se ele poderia, sobreviver somente na base de sua propria forcairracional. O préprio Zehrer revela em certo ponto involuntariamente quio fraco ¢ o fundamento sobre o

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