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= Abrino M. Catani / José 1. de Melo Souza ‘wamento da exibicio de 2* linha, atingindo, por duas veres, ts cinemas de bairo simultaneamente ‘Como chanchada trazia todos os predicados: Grande Otelo sem Osearito depunha que 0 filme ‘havi sido rodado as pressas; a revists catia ent cata o excesso de musieas cantadas por Orlando Silva, Joel © Gaticho e muitos outros. Seena Muda: reconbecia porém que Walson Macedo possula "qua lidides de um verdadeire diretor", enguanto que enunciava que 38 piadas enceaadas por Grande Otelo, Mesqultinha ¢ Catalano eram adapladas com, propriedade de filmes americanos. O primeiro fato reembecia o status justo de Macedo, dois anes de- pois elevado a0 pedestal de plria eterna por Carne val do Fogo. 0 acerto de diregao de Watson atrai a3 atengGes do virulento ertco B. J, Duarte, que se assustou com a auséncia na file de tresitos, saraco= teies, de letras grosseiras © malicoras em sambs carnavalescose da fotogratia maltrapitha — marcas. Tegatradas dos “aventureitos” realizadores de Cal dos do Clu © Cem Garotas ¢ Uin Capote. 3h 0 se- sando ponto denotava o carinho que a fita norte. americana reeebia do diretor, primeinss sinais do ‘decalque que evoluiria das gogs As seatencias inte. +48 copiadas — gritescartegados com alegria. 1946 foio ano de Segura Este Mulher, enguanto 1947 seria mareado por um fato que consolidaria Atlantida como produtora nacional defies. Chianti, Aydin L fot Fuditin ds Milo bow, PPandade the anus monic iS Fanuc, (48 A ATLANTIDA SOBE De 1941 2 1947 a Atlantida consolidou-se como ‘a maior produtora carioea , conseqUentemente, do Brasil. Ao contrario da Cinédia e da Brasil Vita Filmes, empresas mergulhadas em ciclotimias em- perradoras, a Atlantida desenvolvia seguides em- preendimentos derivados de linhas de producd0 com- plementares, quais sejam, 2 chanchada as fitas *secializantes", forras condutoras da perenidade da empresa, Em razio da estratégia adotada pela com- pashla, permancsiam anuneiadas em alguns eine. ‘mas dos grandes centros durante todo 0 ano as suas fitas, possbiltando ans espectadores a escolha con- veniente a qualquer ‘empo. Trés ov quatro filmes anuais forgavam a convivéncia benéfica entre 0 ck nema brasileiro e o pico, fat inovador eformador as primeras patéias cativas dafita nacional. ritmo produtor imposto pela Atlantida, con- frariamente 20 imaginavel, nfo desaguow na Holly- & [od Afinio M, Cotani / Jot I. de Melo Souca wood tropical. A agradivel impressio oferecida pelos incertos dados que eeteavam a sua constitugdo, so- ‘naa 90s minguadosIuerosresultantes de fraudades borderds dos filmes colocades no mercado exibidor indicariam um crescimento fisico da empresa, 0 que ‘também nao se revelou verdadeiro. Os informes pre. sentes nos artigos de revistas nes livros de cinema configuram a prectria situaedo da firme cariocs, tanto quanto ou pior que ma sus fundacto, Pedro Lime, eserevendo para O Cruzeiro (marge de 1947), que das trés pmodutoras importantes do Rio 8 Atlintida era a mals credenciada, mesmo funcio. ‘nando num antigo boliche — fonte de ptorescas historias. Pedro Lima, © decano da critica cinemato. srdfica, contava que se peda silncio A vzinhance wando se flmava de dia; José Sanz, desfiando os apuros da empresa no seu artigo italiano, nio esque «ia de incluir no relato a anedota do homem postado, em cima do telhado do edifco,sinlizador da spro- ximacto de trens on avides que interfeiriam nas Sravapbes dnetas dos didlogesclniecs. A improprie. dade dos estiios foi taxativamente anunciada em 1949 quando Alberto Cavalcanti os visitou: “Isto alo um estidio.. uma fogueira” bradou, mas nto fol ourido. 0 resultado vei trés anos depois, com um incEndio que devastou o antigo barracto, ‘Mal instalada, ela era também mal equipada, Pedro Lima critcava a sun aparethagem radimentar ® seu quadro téenico povco muimeroso e desprepar tado. Descuidava-se da montagem dos estidios, da ‘compra de aparelhamentes, que lo conduriam nem A Charchade no Cinema Brasileiro ‘uma produgio aprimorada nem & formas téx de novos quadros. Completaade 0 panorama nega, tivo da Atifntida infere-s, pelos poucos dados, que la era também péssima remuneradora do trabalho de seu pessoal. Watson Macedo entrou para a em, Presa na fungio de montador e mesmo passade ‘ireedo continuou a receber o seu saléio anterior Nos seus dois limos filmes’ “melhorou de vida", ‘ubindo seus ganhos para Cr 10.000,00. A sva So: brinha Eliana Macedo, futuraintegrante do sistema estelar da empress, entrou recebendo Cr8 8,000,00 ha chanchads F'o Mundo se Diverte (1949). Contra. ada para figurar em dois filmes anuais passou para CxS 10.000,00. Para termot uma idéia do pouco que ‘epresentava 0 seu salério, Eliana, quando saiu da Atlantida acompanhando o seu tio em 1952, pulou ara 100 mil eruzcitos na Watson Macedo Produgies Cinematosrificas. Adelaide Chioazo depois de anos ‘de contrato passou a pereeber Cr$ 25.000,00 quando s60,estido que saya num filme valia Cr¥ 38.000,00. O aspecto reativo ao guarda-roupa dos atores & interesante, lembrando as produedes entre amigos, onde o préprio artista confeceiona sua vestimenta, José Lewgoy no seu primeirofilme, Carnaval no Fego (1949), quase esteve impedido de contracenar com Oscarito ¢ Grande Otelo por nto possuir o smoking ‘xigido no roteiro. Foi salvo pelo de José Sanz. & pritice hollywoodians da exclusividade con tratual fambém foi empregads pela Atlantida: Oscarto ¢ Grande Otelo, para citarmos apenas dois exernplos, ram atoresexclusivos. A estratégia revelou-se per a AfrinioM. Ctani/José I de Melo Souza A Chanchade no Cinema Bratiiro o ener cae od Gets tetocinipame soon tno corti pi cer etre sees ptr, Coches poate veneer eas FadifOnica,comentava sobre a vida profisional do Dee Gin eo tae ic tnichiinl & nin eueon ob ga Se et ange eae rate Serene eeserian Nae ep retserrnracaeeue Ste cura er ce Seeded cee neees tea (Teeter appre Becks tar ae es eee fea pee eect eet Sore diese beta ates ener er ae ea: Ce ee en cane one een {emporidapaulistens de Grande Otlo em 1945. Por se eae see Gaerne See ae an eet eae ore eect (Ste ie Si Ant cSt Cooney vane | capital para terminar 0 roteiro nos cines Rialto ¢ Ban eit raha he cette ns (meade tel et Oba aia ie ‘sucesso com a revista “Homem N&ol”, que 0 critico Rade eb eo ete eee alone ‘uma critica & pega “Desejo”, de O'Neill. O teatro de revista era uma fonte importante de trabalho para ‘Osearito. Quando a ditadura estago-novsta impedia 4 caricatorizaeto politica, ou quando 0 cinema tio ra capital na sua vida profssional, Oscarto passou ‘grandes temporadas em Sao Paulo encenando, jun: lamente com Beatriz Costa, espeticulos teetrais Gragas & prjegio nacional alcangida pelas suas par- ‘icipagdes nas chanchadas da Atlantida (um exetnplo vivo € Este Mundo é um Pandeiro, de 1947), Oscarto. viajava o Brasil com suas revistas satticas. Por falar em Este Mundo é um Pandeiro, subia ‘ocartaz de Watson Macedo na Atlantida, embalado pelo éxito erescente de suas fitas, A pelicula no Rio PPermaneceu em cartaz duas semanas além dos sete sias obrigatirios nos cinemas presos & rede exibi- ‘dora de Severiano Ribeiro. A ultrapassagem da se- ‘mana obrigatiriaestava se tornando um atestado de qualidade para os filmes — assim 0 entendia Rai mundo de Magalhies Jr, pela Seene Muda. Pedro Lima citava Recife, terrtério de exibiglo de Seve- ano, onde o mesmo fato ocorrera, suspendendo so ‘as projegdes somente na entrada da Semana Santa. ‘Quanto a critica, a coluna de Seene Muda achava a ‘nova fita de Watson Macedo inferior a Segura Esta ‘Mulher, que estava em reprise. De Este Mundo ¢ um Pandeiro savavam-se um espanol de Milaga cha. ‘mado Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Con. epcién Tereza Diaz, apelido do Rei Osearito, mais Marion © os quadros de bailados de revista cond +idos pelo bailarino Yuco Lindenburgh © seu corpo Afrinio M. Catan José 1. de Melo Sousa A Chanchada no Cinema Brasileiro sn ée baile, ‘0 fimo sucesso das chanchadas da Atlantida cencontraram em 147 0 ano da saturasto transfor. ‘madora. Impelidos pela seqiéncia de boas perfor- ‘mances da firma, novos investidores entraram no ‘mercado produtor, eumentando consideravelmente volume de produtores ede produebes. A Cinegrafice ‘Sto Lutz, aCinelindia Filmes, Tapuis, 9 Atlantida ¢ 2 tradicional Brasil Vita Filmes preparavam nove fies para 0 ano, dado que levou Pedro Lima i ‘culrica e angostosa conclusto de que apbs os das chanchadas da Atlantida e de O Ebr, da Ciné dia, “todo mundo passoua ser cineasta”. Mas nto fois de cineasas e produtores que fencheu 0 cinema brasileiro. 1947 presenciou a en- trada do truste exibidor de Luis Severiano Ribeiro J, camo produtor ¢e filmes, integrando-se 20 mercado 44 dominado por ele nos setores de exibieao e dist- Duigdo. A estratégin da partcipagao do exibidor na producto tinha a sua ldgica. A segio “Cinegrifica”™ de O Cruzeiro aeusava, aris da anfnima assinatura ‘de “Operador’, que Severiano durante « guerra ha- via comprado cotas da Dstribuidora de Filmes Bra- sileros (DFB) e da Distribuidora Nacional (DN), que fram doas das trfs firmas especializadas na distri- Dbuigto de filmes brasileizos no eixo Rio-SdoPaulo, ‘Sererianotrazia 0 cabedal dos terttrios de exibigto do Rio-Leste-Nordeste-Norte do pais, agora acres: ido de um laboratério cinematogrifico que preten: dla ser o melhor do Brasil. O passo seguinte da estra- {gia do exibidor foi sproveitarse da exibigto cor Catolano © as boazudas er O Pett & Nosso (1984). (Chhematea Brasileira — Tote do score) AfrinioM. Catan / José I. de Mel Souza rente no meio cinematogréfico, propondo co-produ- hes @ quantos projetos houvesse. “Opecador” fi ia as contas dos Iucro: do magnata da exibigio: entrava com 50% do capital na produgto que om parte seria coberto por trabalho de laboratbri; ter- ‘minada, a fitaentrava em exibicao nos seus cinemas, de onde retirava uma partcipacto de S0% da renda ‘ruta que Ihe cabia na qualidade de exibidor. Abo: ‘canhava de 20 a 30% da renda do filme como redis- ‘sibuidor para outros teritrios através de sua coe sada Unido Cinematogrifica Brasileira (UCE), por ‘ltimo, retirava SO% ds Iucros do filme como o- produtor. Coniclusto de “Operador”: "B por isso que além do seu laboratrio, erm pensando também na ‘ringdo de um pequeno e moderno estdio, onde no ‘6 poderia realizar os seus filmes, como oalugark 208 ‘produtores independents, que por sua vez Ihe entre- fario as distribuigées, continuando 0 complicado ireulo vieiso do qual sara sempre o mais benef: ‘ciado” ““Operador” destacavaasintengOes do truste em setembro. Non? 9 da sua see, datada de 18-10-47, ele nos informou que Severiano Ribeiro inverters 2 sva rota de construgio de estidios proprios pela ‘compra de cotas da Aténtida, omando-se seu acio- nista majoritério. A agitasto foi imediata, evelando- ‘se grandes expectativas pela entrada de Severiano, ‘uma vez que ele daria novo dinamismo ao tring da roduplo—distribuicio—eribipto organizados har- rmonicamente, e que fora o sustenticulo da produgio {ilmica dos primeiros anos do cinema brasileiro, O ‘A Chamchada no Cinema Brasileiro fato instgava no Rio especulagbes sobre.o aumento ‘da produsdo em bases séidss. "Operador”salientow 9 descjo de boas intengBes por parte de Severiano, pols assim seriam introduridas’ “possibilidades de serem criados novos diretores, novos operadores, gente nova para a técnica para novas equipes, a fim dde que o ndmero de produgbes aumente...". Para 0 articulista sefazia necessiioo abandono pela Atlan- tds da caracteristica de "diversdo de familia” para se orientar na direso de uma indGstria, Era o fim das “burladas” (referéncia 20s irmios Bure). Mas isso nfo ocorreu. Os estidios continuaram. precarissimos e a divisto de trabalho interna aos filmes sepuiu reduzida a um fio de elementos impres- cindiveis continuidade ¢ finalizaglo das peliculas, ‘Trocado em mide, isto significava que Waldemar "Noya continuou na funelo do eterno montador: Am leto Dissé e Edgard Brasil fotografaram uma boa parte dos filmes produzides ¢ os mesmos diretores Fevezavam-se na direst das fits. As mudangas na Aléntida aconteceram ou por morte (Edgerd Bra- si, ov por incompatibilidade com o truste (Fene- Jon), ou quando Severiano ineptamonte nko segurcu 4 comnue6pia de dinheiro representada por Watson Macedo, que preferiu ganhar pouco mas na sua pré- pria firma. Outro fato negatvo foi a queda na pro- ‘dueto, instante em que se esperava o inverso, decres- ‘endo 0 nivel de dois filmes por ano — geralmente, ddoas chanchadas. © pés-guerra anunciara um movimento ascen ‘dente do cinema brasileiro, O nosso crescimento nao 3 “AftinioM, Catan / Jost I. de Melo Sousa A Chanchade no Cinema Brasileiro ra isolado, refletindo, entre outras razBes, wm recuo {cinema norte-americano e avaneo dos cinemas de ‘utros pases, como o mexicano eo argentino. Incen- sava-se o meio cinematogrifico: 1948 seréo ano do ‘inema brasileiro”, previa Luiz Alipio de Barros pela ‘Scena Muda. Em outro nimero da revista, Rube Braga, comentando o balango de uma produtora ppublicado mo Jornal do Commerco, dia que, com ‘penas dois fimes produzidos em 1947, a firma apu> ‘ata 835 mil cruzcires de iucro, deduzidos despesas serais ¢ imposto de renda. Corn otimismo, Rube [Braga assinalaya que de posse daqueles nieros io se podia negar quo tinhamos urna indGstria cinema ‘oprifica ao inyés de aventuras, de sucessBes de gol- pes. Dentro da efervescncia do meio cinematogré- feo carioea ¢ sentindo no ar os sintomas de uma virada, a eritica pedia a cabera de muitos dretores, ternoscultores da chanchada, Fred Lee, na mesmis- Sima Scena Muda, gritata pelo ttrmino da aventura (palavea que obteria muito sucesso dali para frente), ‘dh improvisaclo da cavagio. O pablico deveria Yar 25 peliculas, advertia, abandonando-se 0 pa {riotismo do aplauso sem rerervas. Ele chegava.a ‘igerit a aplicagao no cinema do “Clube da Vala”, A moda de similar comportamento criado para 0 teatro por Pascoal Carlos Magno. O que era antes, ‘orriqueiro, cotidiano, meres agora ertiea corro- siva. J. Arnaldo soltava os cachorros pela revista ex $oca: "Pilmes sto feitos is press, pobres de técnica ‘carte, com o Gnico fim de, sob qualquer rétulo car navalosco,atrair o pablico amigo de Momo, que 6 0 Sinico que nto pode'ser scusado de inimigo do ci rnema'nacional”. Infelizmente, terminava 0 artion lista, jamais o cinema brasileiro melhorou seus celu- ides, embora 0 piblico correspondesse com boas rendas, ‘Aié Sto Paulo, saindo da longa ausincia, en srossava 0 cordio de eitica A conjuntura cinemato- ‘rifica nacional, Sto Paulo renascia para 0 cinema pela sua critica, pelos cineclubes emergentes, onde radieais eeltstas dedicavam-se-a0 culto do cinema cstrangeiro, local em que o belo fremia epidermes ansiosas. O produzido no Pais era visto de viés ou entio, mais freqlentemente, negado. Em 1949 os cineelubes desconheciam o cinema brasileiro e B. Duarte, em O Euzado de 5. Paulo, sintetizava 0 nio- reconbecimento & cidadania pela famosa frase ‘i- ‘nema nacional & cosa que no existe". O alvo prin- cipal era a chaachada e seu sistema de producao, [Na visto do eritico paulista fazer cinema compreen- dia outras coisas além de atores a frente de uma cimara. O bom cinema exigia de seus reelizadores aifabetizagio na gramitica cinematogrética, no co- hecimento dos grandes nomes & pegas do cinema ‘mundial, bebendo-se este saher nas filmotecas ¢ nos livros. Faltava cultura para termos um grande ci nema, antes do aparclhamento e do capital, isto tstava ao aleance daqueles que passassem pelos Chi bes de Cinema e Grupos de Estudos Cinematogri- ficos — escolas de cinema possiveis na épcca. Dentro sdestas premissasB. J. Duarte considerava ridicula & nossa cinematografa, indigna de cotejo com a mex Aftinio M. Caton / lsd I de Melo Souza ‘A Chonchade no Cinema Brasliro 7 ‘cana que em Enamorada e Flor Silvestre tinha dois filmes contemporineos de classe internacional. AS exceg6es no Brasil cram Limite, Una Aventura cos Quarenta e Estrefa da Mani, ete ‘timo sinda em flmagens mas que, no su entender, prometia muito. ‘A fcida imvestida da crt paulista contra a ‘Produpio de chanchadas mestrava mais desejoscoul- ‘5 do_que uma compreensto exata do fendmeno ‘earioca. Sto Paulo erescia vassaladoramente desde a ‘Segunda Guerra Mondial, dando margem a invengto dp slogan “a cidade que mais cresoe no mundo", A sua burguesia estava dvida Ge compensagbes cul: frais que a salvassem ds aridez proviniana, Estola de Arte © Museus de Arte Moderna, 0 Teatro Brasi- Ieiro de Comédia et. proviam Fifi, Olivia ® Mimi — ‘tlebradas figuras da reportagem de Joel Silveita, “Gricfinos em Sio Paulo”, Eo cinema? Bem, para ‘Sio Paulo © cinema era Rio e 9 Rio em termos de A agitacto do cinema carioca no ano de 49 fobteve um balango extremamente positivo por parte de Alex Vinny nas paginas de Scena Muda Ele real- ‘sara o niimero de produstes (18), a qvalidede t6c nica (conseguia-se entender quase 90% do som das fitas), bem como a revelagio de valores (Ruth de Souza, Orlando Vilar, Maria Della. Costa, Maria Fermanda, Anselmo Duarte). A. produgio diversifc ccava-se, preenchendo os novos diretores a lacuna deixads pela saida dos filmes “séros” da Atlantida. Para Sa0 Paulo, que naquele ano de 1949 produzit ‘duas fitas — Luar do Sendo de Tito Batini e Mario Girellie Quase no Céu de Oduvaldo Vianna —, © cinema brasileiro permanecia em decadéncio de= vido exelusivamente an cinema caroca, eruificando- Se, independentemente de valores préprios, todos 03 filmes sob o estigma da chanchads, O que Sto Paulo compreendia como cianchada esti no livro Burgue- sia ¢ Cinema, de Maria Rita Galvdo: “A sensibii- ade burguess, noentanto, epugnava na chanchada aguilo que ela'tinha de mais aparente: 8 produga0 rapids © descuidads, alguns cOmicos earctetes, 0 hhumor chulo, a improvisasto, a pobreza de cenogr fine indumentiria, todas as decorréncias do baixo orgamento, O que repel, fundamentalmente era cchanchada enquanto tipo de espeticulo, exatamente ‘como teatro ligeiro da época, e muito parecida com ele, Sobretudo como tipo de espetéculo, porque & pouco provavel que as pessoas tivessem alguma noc do que representava a chanchada em termes de pro~ ‘dugio”. Dito isto, entendese © aft da burevesia Paulistanaem tra o cinema brasileiro do abismo em ‘que se encontava. E para tal criou-se a Companhia, Cinematogrfica Vera Criz, na tarde de 3 de novem. trode 1948, ‘A Vera Cruz cio para dividir. O que aconteceu antes €o que aconteceria depois da data de sua fen dacio estavam totalmente dissociados como se, jus- ‘amente naquele dia, regado pelos brindes eplausos 4 burguesia freqGentadora do Museu de Arte Mo- ern, nascesse 0 cinema brasileiro, ‘Na esteira da Vera Cruz vieram outras grandes produtoras como a Marisela e a Multiflmes, e mais Afrinio M. Catan /Jes 1. de Melo Sousa ‘A Ghanchade mo Cinema Brailiro % 40 ou $0 pequenas produtoras independents, acu ‘shadas por Benedito Jungusira Duarte pelas paginas e Anliembi de “cogumeos de uma s6 manlit". Do ‘Rio muitos vieram tentar a sorte na canta cinema. ‘ogra paulista, O @xodo contou com Alex Viany, ‘Anselmo Duarte, José Carlos Bure, técnicos of mals Aiversos, © 36 nfo importamos Oscarito pelo seu de- sagrado com 0 contrato oferecido pela ‘Vera Cruz © boom cinematogrifico transformou-se um cadinho de déias sumamente entrelagadas &histéria do periodo: Getslio vita ao Catete nos bragos do ovo, portando ma bagagem uma politics nacione lista que provoearis aritos com a burguesia © 0s nilitares; a8 esquerdas, encabecadas pelo Partido Comunista Brasileiro, desfraldavam diversas bande. 12 de Ita; 0 golpismo dos partides conservadores rondava oespectro police. O cinema contaminovse es lutas do tempo. Um grande nimero de intelec: tuais de extragio esquerdists, da qualidade de Alex Viany, Carlos Ortiz, Saivyano Cavaleanti de Pairs, J0s6 Ortiz Monteiro, Mauro de Alencar e Artur Ne es, entre outros, fizeram do cinema um campo de combate (onde demonstraram bom aguerrimento) e ‘de experincias tericas ou fllmicas, constrafdes na Imaioria dss vezes com menos garra¢ inspiragio. Ao lado do brilho téenico das produgtes da Vera Cruz ¢ Sicedineos, formulou-se um corpo de idéias dedi ‘cadas critica destas realizagBes que escamoteavam, segundo as esquerdas, as condigbes do homem brast- Jeiro. Ultrapassando a palavra publicada e falada, ‘les investiram na produsBo de seus filmes, vindo &s telas,entdo, Agulha no Palhsiro (1953), Rua Sem Sol (1954), 0 Seo¥ (1983) « Rio, 40 Graus (1955). Diante do quadro transformador em que vivia 0 cinema brasileiro entrechocavam-se, no interior do campo cinematogréfico, noves tendéncias votadas ‘0 para o cosmopolitismo ou para 0 aacioaalism, Do debate a Scena Muda extralaalento para a demo ligdo da chanchada, reconhecendo todavia a inutii dade de seus esforgos. AI Vere 0 Bardo (1951), de Watson Macedo, tinka o seu conientério na revista, finalizado com as seguintes palavras: “Nio recomen ddamos # ninguém, mas temos exrteza que os fis de Oscarito.¢ do cinema brasileim irko de qualquer ‘maneira”. Salyyano Cavalcanti de Paiva em extudo sobre a comédia internacional e a brasileira desti- nava a primeira o reinado dos astros edmicos e, & segunda, 0 deserto. No Brasil mio havia “um come- liante que constituisse, com dignidade, um tipo, luma figura de arrebatar, pela atuaeto imediata ¢ pelo que de universalismo contivesse, As platéas po polares @ elie intelectual eapaz de ele reconhecer Orepresentante de uma clase, de uma casta, de uma nagdo”. A sugesito do nome de Oscarto, Salvyan recusa, pois ele no seria jamais “esse ‘tipo, este clemento que representasse nacionalmente uma for- ‘ma e universalmente na esséncia, o correspondente 4e Carlitos’. No Brasil coméia signficava 0 pior ‘ipo delas, qual seja, a chanchada: “E 0 disparate vulgar combinado a um posco de sexo’ de frases de 4Nosio"reforc a vagn nacional a 40 Graut © ‘Re, Zona Norte sneavam os temas da aenagbo [3 edaconscientizacio que frtficriam com o Cinema Novo, Correndo contra 0 reli, Jusclino queria remodelaro Bra com sua fis “S0 anos ein > Els Presley, o DKW, Basi, Niemeyer O Reptr, ter sso, a Revlugdo Cubans, Nikita Recher ¢ John Kennedy nism adevs i chanchada 8 a0 Pedi pasagem para oupar 0 Toga. © Brasil ex tava na década da "Revohigio” ea chanchada sala das las para entrar ma stra, ee 5% Youko ee Caron, MiBanto: Goze, Jose luaiio 4 badd. A Chau dade OPOVAONAS TELAS Ls Severiano Ribeiro Knior, tendo nas mas a partir de 1947 — quando se torna 0 acionista majo Fitirio da Atlantida — a produgdo, a distribuigdo e cexibigio de filmes, resolveu incrementar a produgao das chanchadas, ao percsber que elas poderiam ser ‘uma fonte quaseinesgotével de polpudos Tucros, Tiro © queds: até 1962 a companhia coloeu ne mercado ‘uma quantidade incerta de filmes (40 segundo al runs, 60 de acordo com outros e perio de 80 para os mais exagerados), nos quais Oscarito, Grande Otel, Derey Goncalves, Cylt Farnes, Eliana Macedo, An- sclmo Duarte, Violeta Ferraz, José Lewgoy, Wilson Gres, Renato Restir, entre outros, fizeram as delt iss do grande pablo. Aates de prosseguirmos, merécem ser destaca- das vas fasesdistintas na evolugdo dos filmes mis cais ou de chanchadas, como bem lemibra Miguel Chaia, um dos estudiosos do género. A primeira vai ‘Afrinio M. Catan /José I. de Melo Souza _aproximadamente até inicio dos ancs 40, caracteri= ando-se por motives, argumentose situagbes sim- ples ¢ com niimeros muscais homogtneos, carnava- lescos ou jumines, sendo Al6, A16, Brail, AIS, lB, Carnaval! & Banana da Terra filmes tpices dessa fase, 'A partir dos anos 40 fem lugar uma nova etapa, ‘cujo prolongamento vai sté 0 comego da década de 60, Nessa ctapa os argumentos, enredos e sitagdes tomam-se mais complesos e os nimeros musicals, mais heterogénees. F também o perfodo em que a ‘chanchada alinge seu auge, devido i empatis com 0 piiblico e & conseqdente produgto continua de uma ‘grande quantidade de fimes. Garante- ‘um mer- «ado préprio para esst produsio e os temas carna- valeseos¢ juninos vio sendo aos poucos abandonados (ou fomnando-se sevundiios), substituldes por ou- ‘tos que se referem ao eatidiano de homem urbano ddaépoca, a aspectos politicos e a preblemas da reali date sécio-econtmica viinha — sempre, & claro, ‘com muito humor e marotes, A produto cinematografica brasileira desen- volve-se, om boa part, eriando certs lagos de de- pendéacia com 4 indGstra cinematografica interna: ional ~ principalmente «norte-amerieana —, quer ‘nonfvel tenico, quer no nivel da inguagem. No caso ‘das chanchadas, estas acsbam gravitando ao redor ‘dos géneros norte-americanos te ilmes, como ex imusicais, 0 polial, 0 western, a reconstrugto de épccas, ete, desiacando-s, entre outros, Mavar ou Gorrer, O Barbeiro que se Vira, Nem Sansao Nem A Ohanchada no Cinema Brasileiro “Transviada hallywoodesco cendrio de A Baronesa (W957) (Cinematace Brasileira for do acerne) Dersi Gonalves e Catalano no o Afrinio M. Catan / José I. de Melo Souza A Chanchada no Cinema Brains e Dalila, muito préximos dos originais made in Holly. wood. ses lagos de dependéncia com a inddsteia ‘ematogrifica norte-americana que é « dominant) ‘efleem-se em termos de dominio econémici e, tam, ‘bém, na esfera propriamente cultural, gerando nests Llkimo caso attudes colonizadas por parte Jos real zadores, do piblico e da critica cinematogrifica, Nesse sentido, através da parédia € que se procura atrair 0 grande péblico, tetanto capitalzar 0 sir cvss0 do filme estrangeiro, Apesar de boa parte da cinematografia brasileira fundar-se na copia ou $a Imitagdo, tenta-se — por meio desses recursos ‘etomar parte dos espacos do ccupante, do produto estrangeiro, devolvendo a0 pablico © original adap. {ado as peculiaridades losis e made in Jacurepagu, © ‘critico Paulo Emil Salles Gomes, em’ seu «léssco artigo “Cinema: Traietria no Subdesenvol vimento”, pondera que no Brasil 0 fenémeno cine matngrafico desenvolvido no Rio de Jeneizo-a partis dos anos 40 6 um verdadelro marco. Isto porque durante cerea de vinte anos a produgaoininterrupta 4e filmes musicais e de chanchada (ou a combinagdo 4 ambos) “se processou dewvinculada do. gosto'do ‘eupante © contraria ao gosto do estrangeiro”, 0 pblicojoveme das camadas mais modestas garanth © sucesso destas fila, pois nelas encontrava aquilo ‘due no estaa presente'no modelo estrangeiro: ovea, reduzido. formas superficais de comportamento em mogas ¢ *apazes vineulados aos oeupantes; em contrapartide 4 woedo, pela plebe, do malandro, do pilentea, Jo

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