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Egito

Mesopotâmia

MAT216 – Tópicos em História da Matemática


Egito e Mesopotâmia

Edson Santos

Departamento de Matemática (IME) - Universidade Federal da Bahia

Março 2019

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Egito
Mesopotâmia

Introdução

A matemática certamente existiu em praticamente todas as


civilizações antigas das quais existem registros. Mas em cada uma
dessas civilizações, a matemática estava no domı́nio de sacerdotes
e escribas especialmente treinados e funcionários do governo cuja
função era desenvolver e usar a matemática para o benefı́cio desse
governo em áreas como coleta de impostos, medição, construção,
comércio, elaboração de calendário e práticas rituais.

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Egito Equações Lineares e Proporcionalidade
Mesopotâmia Geometria

Fontes Matemáticas Registradas do Egito Antigo

Evidência para as técnicas desenvolvidas no Egito vem da


educação e trabalho diário dos escribas, particularmente como
relacionado em dois papiros contendo coleções de problemas
matemáticos com suas soluções,

o Papiro Matemático Rhind (85 problemas), nomeado graças


ao escocês A.H. Rhind (1833-1863), que o comprou em Luxor
em 1858 e

o Papiro Matemático Moscow (25 problemas), comprado em


1893 por V.S. Golenishchev (1856-1947) que depois o vendeu
ao Museu de Belas Artes de Moscou.

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Egito Equações Lineares e Proporcionalidade
Mesopotâmia Geometria

Equações Lineares

Os papiros egipcı́os apresentam dois procedimentos diferentes


para resolver uma equação linear.
Primeiro, a resolução do problema 19 do Papiro Moscow usa
”nossa” técnica usual para encontrar o número tal que quando
1
tomado 1 e então adicionado 4 resulta em 10. Em notação
2 
1
moderna, 1 x + 4 = 10. O escriba procede como segue:
2
”Calcule o excesso de 10 em 4. O resultado é 6. Você multiplica
1
1 para obter 1. O resultado é 2/3. Você toma 2/3 de 6, o
2
resultado é 4, portanto 4 é a solução.”

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Egito Equações Lineares e Proporcionalidade
Mesopotâmia Geometria

Posição Falsa

Contudo, a técnica egı́picia mais comum para resolver equações


lineares era o que atualmente é chamado de método da posição
falsa. O método assume um valor conveniente (e muito
provavelmente errado) e encontra a resposta correta por
proporcionalidade.
Por exemplo, o problema 26 do Papiro Rhind pedia para
encontrar a quantidade tal que quando adicionada 1/4 de si mesma
o resultado é 15. Em notação moderna, x + (1/4)x = 15. A solução
do escriba é como segue:
”Assuma (que a resposta seja) 4. Então 1/4 de 4 adicionado a 4
é 5. Multiplique 5 para obter 15. A resposta é 3. Multiplique 3 por 4.
A resposta é 12.”

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Egito Equações Lineares e Proporcionalidade
Mesopotâmia Geometria

Falsa Posição Para Além de Equações Lineares

No Papiro Berlin é pedido para dividr um quadrado de 100


côvados quadrados de área em dois outros quadrados, onde a
razão de lado entre esses dois quadrados é de 1 para 3/4.
O escriba assume que os lados são de fato 1 e 3/4, então
calcula a soma das áreas destes quadrados sendo
9
12 + (3/4)2 = 1 . Mas a soma das áreas deve ser 100. O escriba
16
percebe que ele não deve comparar áreas diretamente, mas sim os
9 1
lados, então ele toma a raiz quadrada de 1 , sabidamente, 1 , e
16 4
compara com a raiz quadrada de 100, a saber, 10. Dado que 10 é 8
1
vezes 1 , o escriba conclui que os lados dos quadrados devem ser
4
8 vezes os palpites iniciais, e portanto 8 e 6 côvados
respectivamente.

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Egito Equações Lineares e Proporcionalidade
Mesopotâmia Geometria

π =?

Quanto à geometria, os escribas egı́pcios certamente sabiam


como calcular a área de retângulos, triângulos e trapézios
pelos ”nossos métodos normais”. Contudo, no que tange a
área de um cı́rculo há uma particularidade interessante.

O problema 50 do Papiro Rhind diz: “Dado um campo redondo


de diâmetro 9. Qual é a área? Tire 1/9 do diâmetro; o restante
é 8. Multiplique 8 vezes 8; faz 64. Portanto, a área é 64.”

Em notação moderna, o escriba usou a expressão


A = [(8/9)d]2 para calcular a área do campo de formato
circular, sendo d o diâmetro do campo. Uma comparação com
a fórmula A = (π/4)d 2 mostra que os egı́pcios acreditavam
que o valor para a constante π era 256/81 ≈ 3, 16049...

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Egito Equações Lineares e Proporcionalidade
Mesopotâmia Geometria

Sólidos

O uso da expressão acima não foi limitado ao problema 50 do


Papiro Rhind, há diversos problemas no Papiro Rhind em que o
escriba usa a fórmula V = Bh para calcular o volume de um
cilı́ndro de base B e altura h.

Os escribas também sabiam calcular o volume de um


paralelepı́pedo dados comprimento, largura e altura. Mas
mesmo com as famosas e proeminentes pirâmides egı́pcias,
não há em nenhum documento existente a fórmula do volume
de uma pirâmide.

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Mesopotâmia Geometria

Volume do Tronco da Pirâmide

No entanto, o problema 14 do Papiro Moscow tem uma


fascinante fórmula relacionada às pirâmides, a saber, o volume
do tronco de uma pirâmide.

”Se alguém diz a você: o tronco de uma pirâmide mede 6 de


altura, 4 na base e 2 no topo, você eleva 4 ao quadrado; o
resultado é 16. Você dobra o 4; o resultado é 8. Você eleva o 2
ao quadrado; o resultado é 4. Você soma o 16 e o 8 e o 4; o
resultado é 28. Você toma 1/3 de 6; o resultado é 2. Você toma
28 duas vezes; o resultado é 56. Portanto o volume é 56. Você
verá que isto é correto.”

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Egito Equações Lineares e Proporcionalidade
Mesopotâmia Geometria

Volume do Tronco da Pirâmide

Se este algoritmo é traduzido para a linguagem moderna com o


comprimento da base inferior denotado por a, o da base
superior por b e a altura por h, então o volume V é dado por
h
V = (a2 + ab + b2 ).
3
1 2
Apesar de nenhum papiro ter a fórmula V = a h para uma
3
pirâmide completa de base quadrada de lado a e altura h, é
trivial derivar tal fórmula impondo b=0 na fórmula do volume do
tronco de uma pirâmide. Portanto é assumido que os egı́pcios
conheciam o volume de uma pirâmide visto que é necessário
um nı́vel mais elevado de habilidades algébricas para encontrar
o volume de um tronco de pirâmide do que o volume de uma
pirâmide inteira.

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Egito Geometria
Mesopotâmia Resolvendo Equações

Considerações

Enquanto os egı́pcios usavam o papiro para fixar registros, os


povos mesopotâmicos usavam tabletes de argila úmida que
depois de gravados os registros eram expostos para secarem
ao sol.

Esta última técnica preservou os registros de modo muito mais


eficiente do que a técnica egı́pcia. Nos últimos dois séculos
foram escavados milhares destes tabletes, muitas centenas
deles de conteúdo matemático.

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Egito Geometria
Mesopotâmia Resolvendo Equações

Considerações

Os babilônios tinham uma ampla gama de problemas aos quais


aplicavam seu sistema de numeração de base sexagesimal. Por
exemplo, eles desenvolveram procedimentos para determinar áreas
e volumes de vários tipos de figuras. Eles elaboraram algoritmos
para determinar raı́zes quadradas. Eles resolveram problemas que
interpretarı́amos em termos de equações lineares e quadráticas,
problemas frequentemente relacionados à agricultura ou à
construção. De fato, os próprios tablets matemáticos estão
geralmente preocupados com a solução de problemas, aos quais
várias técnicas matemáticas são aplicadas.

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Egito Geometria
Mesopotâmia Resolvendo Equações

3 =?

Consideremos os procedimentos para determinar


comprimentos e áreas. Em geral, no lugar de ”nossas”fórmulas
para calcular tais quantidades, os babilônios possuiam listas de
coeficientes e constantes que compunham relações
matemáticas entre certos aspectos de diversas figuras
geométricas.

Por exemplo, o número 7/8 era o coeficiente da altura de um


triângulo equilátero em relação ao seu lado. Já o número 7/16
era o coeficiente da área de um triângulo equilátero em relação
ao quadrado do seu lado.

Notemos que estes resultados são√apenas aproximadamente


corretos e que ambos aproximam 3 por 7/4.

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Egito Geometria
Mesopotâmia Resolvendo Equações

π =?

Se tratando de um cı́rculo, normalmente expressamos as


relações em função do raio r ou do diâmetro d, os babilônios
por outro lado tomavam o comprimento da circunferência como
elemento principal do cı́rculo.

Eles apresentavam o diâmetro do cı́rculo como 1/3 do


comprimento da circunferência e a área era tomada por 1/12
do quadrado do comprimento da circunferência.

Notemos que estes resultados são apenas aproximadamente


corretos e que ambos aproximam π por 3.

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Mesopotâmia Resolvendo Equações

Medidas no cı́rculo

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Egito Geometria
Mesopotâmia Resolvendo Equações

Sólidos

Os babilônios também trabalhavam com volumes de sólidos.


Eles sabiam encontrar o volume de paralelepı́pedos e também
sabiam como calcular o volume de prismas mais complexos se
dado a área da base.

Mas assim como no Egito, não existe documento que dê


explicitamente a fórmula do volume de uma pirâmide, mesmo
que os babilônios também tenham construı́dos estruturas
piramidais.

Contudo, no tablet BM96954. Há problemas envolvendo formas


piramidais que se assemelham a ”telhados alongados”.

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Mesopotâmia Resolvendo Equações

Volume da Pirâmide

 
hw t
V = l+
3 2
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Egito Geometria
Mesopotâmia Resolvendo Equações

Equações Lineares

Equações lineares da forma ax=b eram geralmente resolvidas


multiplicando cada lado pelo inverso de a.

Em situações mais complicadas, tais como sistemas de duas


equações lineares, os babilônios, como os egı́pcios, usavam o
método da posição falsa.

Exemplo no quadro, (2/3)x − (1/2)y = 500 e x + y = 1800.

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Mesopotâmia Resolvendo Equações

Equações Quadráticas

Geometria é a base da solução que os babilônios encontraram


para resolver equações do segundo grau, baseava-se no
método de cortar e colar.
Por exemplo,
p para b > 0, a equação x 2 + bx = c tem solução
x = c + (b/2)2 − b/2.

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Mesopotâmia Resolvendo Equações

Teorema de Pitágoras?

Figura: Plimptom 322 Figura: Tradução Plimpton 322

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