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NONO SEMESTRE

Tema: Fontes do Direito Processual do Trabalho. Princípios


Constitucionais e Infraconstitucionais do Processo do Trabalho.

Noções Gerais
Fontes do Direito Processual do Trabalho:
Fonte1 surge do latim fons, que significa nascente, manancial. É a
causa primária de um fato, a sua verdadeira origem.
As fontes do direito processual do trabalho podem ser classificadas
em materiais e formais. Importante salientar que as fontes do Direito
Processual não se confundem com as fontes do Direito do Trabalho (que serão
estudadas em momento oportuno).
As fontes formais são as disposições jurídicas que disciplinam o
processo do trabalho e a Justiça do Trabalho.
A Constituição Federal de 1988 é a fonte formal de hierarquia
superior no ordenamento jurídico, as leis, em sentido amplo regulam diversos
aspectos do Direito Processual do Trabalho, sendo a CLT – Consolidação das
Leis do Trabalho – o principal diploma legal sobre a legislação trabalhista.
A jurisprudência pode ser compreendida como o entendimento
reiterado e uniforme dos tribunais, ao decidir casos concretos, em sua atividade
de aplicação e integração das normas jurídicas, com destaque para as Súmulas
e Orientações Jurisprudenciais do Tribunal Superior do Trabalho, bem como as
Súmulas dos Tribunais Regionais do Trabalho.
Cabe ressaltar que por não apresentarem natureza obrigatória, não é
pacífico o entendimento de sua inclusão como fonte formal do Direito Processual
do Trabalho.
Os usos e costumes, no Direito Processual, caracterizam-se por
certas condutas e práticas dos juízos e tribunais, presentes de forma reiterada
nos processos. Sendo assim, os usos e costumes são considerados fontes
formais também no Direito Processual do Trabalho.
Já as fontes materiais constituem o complexo de fatores que
influenciam o surgimento de normas jurídicas, envolvendo fatos sociais,
psicológicos, econômicos, históricos e valores.

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Martins ensina que as fontes podem ainda ser classificadas em
heterônomas e autônomas.
Heterônomas são as fontes impostas por agente externo, como por
exemplo: a constituição, as leis, os decretos, as sentenças normativas, e os
regulamentos de empresa, quando unilateral.
Autônomas são as elaboradas pelos próprios interessados, como os
costumes, as convenções, os acordos coletivos, os regulamentos de empresas
(quando bilateral), e os contratos de trabalho.

Princípios Jurídicos
Princípio é um mandamento nuclear de um sistema, seu verdadeiro
alicerce, é a disposição fundamental que se irradia sobre as mais diferentes
normas, servindo de critério para sua compreensão e inteligência.
Segundo a doutrina clássica, os princípios têm 4 funções: a)
integração ou suprimento de lacunas; b) interpretativa; c) inspiradora do
legislador; d) sistematização do ordenamento.
A primeira função dos princípios é a de integração ou suprimento de
lacunas do ordenamento jurídico. Ou seja, uma vez observada a ausência de
disposição específica para regular o caso em questão, pode-se recorrer aos
princípios gerais de direito. Essa é a disposição do art. 4º da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
O artigo 8º, caput, da CLT reforça esse entendimento, determinando
que:
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na
falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais
de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos
e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse
de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.
A segunda função dos princípios é a de interpretação, orientando o
juiz e o aplicador ou intérprete das normas jurídicas quanto ao seu real sentido
e alcance.
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Mauro Schiavi ensina que: “na função interpretativa os princípios
ganham especial destaque, pois eles norteiam a atividade do intérprete na busca
da real finalidade da lei e também se ela está de acordo com os princípios
constitucionais. Segundo a doutrina, violar um princípio é muito mais grave do
que violar uma norma, pois é desconsiderar todo o sistema de normas”.
Exercem ainda a função inspiradora do legislador, em sua atividade
de elaboração de novas disposições normativas. O legislador costuma buscar
nos princípios inspiração para a criação de normas.
Por fim, os princípios têm a função de sistematização do ordenamento
processual trabalhista, dando-lhe suporte, sentido, harmonia e coerência.
Segundo a moderna teoria geral do direito, os princípios são
disciplinados pela Constituição. Sendo assim, deve o interprete, ao estudar
determinado princípio ou norma, deve interpretá-los a partir da Constituição
Federal e dos Direitos Fundamentais.
São Princípios Constitucionais:
a) Devido Processo Legal (Due processo of law ou law of theland) -
CF, art. 5º, LIV: refere-se à observância das disposições que regulam o processo
judicial, estabelecendo a segurança jurídica às partes, de modo que o processo
seja um instrumento legítimo para solucionar os conflitos sociais;
b) Juiz Natural – art. 5°, inciso LIII e XXXVII, da CF/88: o processo
deverá ser julgado por juiz competente, não send permitida a criação posterior
de um tribunal especial, ou “tribunal de exceção”
c) Inafastabilidade do Controle Jurisdicional – art. 5º, inciso XXXV, da
CF/88: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito. É o livre acesso ao Judiciário, o qual é previsto de forma ampla e
incondicional na Constituição;
d) Princípio do contraditório e da ampla defesa – art. 5°, inciso LV, da
CF/88: significa a necessidade de dar ciência as partes, de todos os atos
praticados no processo, permitindo sua participação,bem como defesa;
e) Publicidade dos atos processuais (CF, arts. 5º, LX, e 93, IX): os
atos praticados no processo devem ser públicos, sendo o sigilo excepcional,
decretado pelo juiz;
f) Princípio da persuasão racional do juiz, ou do livre convencimento
motivado do juiz - art. 93, IX, da CF/88: o juiz tem a liberdade para decidir o

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processo, levando em conta as provas e alegações existentes, mas tem o dever
de fundamentar o seu convencimento, ou seja, apresentar a devida motivação
para suas decisões;
g) Garantia da assistência judiciária (aos economicamente
impossibilitados de arcar com as despesas do processo) - art. 5º, LXXIV, da
CF/88;
h) Duplo grau de jurisdição (revisão da sentença por órgão colegiado)
- CF, art. 5º, LV, da CF/88;
i) Celeridade processual – art. 5º, LXXIII, art. 93, XII, XV, da CF/88: tal
princípio tem por escopo garantir a razoável duração do processo, mormente nos
feitos laborais, donde se tutela direito de cunho alimentar, eis que voltado à
subsistência do obreiro e de seus respectivos familiares;
j) Segurança jurídica — art. 5º, XXXVI, da CF/88: pelo respeito à coisa
julgada, de modo a estabilizar as relações sociais, afastando a preocupação com
a mudança da situação jurídica assegurada por decisão judicial já transitada em
julgado.
São, por sua vez, Princípios Infraconstitucionais do Processo do
Trabalho, segundo o professor Leone Pereira:
1. Princípio da simplicidade;
2. Princípio da informalidade;
3. Princípio do jus postulandi;
4. Princípio da oralidade;
5. Princípio da subsidiariedade;
6. Princípio da celeridade.

Princípio da simplicidade:
Com base nesse princípio, privilegiou-se a facilitação do acesso do
trabalhador ao Judiciário Trabalhista, bem como o trâmite processual
simplificado.
Princípio da informalidade:
O Processo do Trabalho apresenta basicamente um procedimento
mais complexo e completo, que é o comum (ordinário), e dois procedimentos
céleres (sumário e sumaríssimo). Em todos eles, percebemos a preocupação
com a informalidade, se compararmos com os procedimentos do Processo Civil.

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Todavia, vale ressaltar que essa informalidade não é absoluta, e sim
relativa, uma vez que dependerá da documentação do procedimento.
O procedimento escrito é fundamental para a observância do princípio
constitucional do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), trazendo aos
operadores do direito e ao jurisdicionado maior segurança e estabilidade nas
relações jurídicas e sociais.
Na verdade, a mencionada informalidade refere-se ao fato de que o
procedimento judicial na Justiça do Trabalho não é tão solene e rígido quanto
aos demais, justamente para garantir o pleno atendimento à justiça, mas sempre
conforme os limites da lei.
Princípio do jus postulandi:
O jus postulandi é uma das principais características do Processo do
Trabalho, uma vez que traduz a possibilidade de as partes (empregado e
empregador) postularem pessoalmente na Justiça do Trabalho e acompanharem
as suas reclamações até o final, sem necessidade de advogado (art. 791 da
CLT).
Princípio da oralidade:
O processo do trabalho é essencialmente um procedimento oral,
acentuando-se a concentração dos atos processuais em audiência, maior
interatividade entre juízes e partes, irrecorribilidade das decisões interlocutórias
e identidade física do juiz.
São características do princípio da oralidade no Processo do
Trabalho:
a) primazia da palavra:
• arts. 791 e 839, a, da CLT — apresentação de reclamação
trabalhista diretamente pelo interessado;
• art. 840 da CLT — possibilidade de apresentação de reclamação
trabalhista oral;
• arts. 843 e 845 da CLT — as partes deverão comparecer
pessoalmente na audiência trabalhista, independentemente do comparecimento
de seus representantes legais;
• art. 847 da CLT — apresentação de defesa oral em audiência;
• art. 848 da CLT — interrogatório e depoimento pessoal das partes
em audiência;

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• art. 850 da CLT — razões finais orais em audiência;
• art. 850, parágrafo único, da CLT — sentença após o término da
instrução;
b) imediatidade (arts. 843, 845 e 848 da CLT);
c) concentração de atos processuais em audiência (arts. 843 a 852 da
CLT);
d) identidade física do juiz;
e) irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias (art. 893, §1º,
da CLT);
f) maiores poderes instrutórios ao juiz (arts. 765, 766, 827 e 848, da
CLT);
g) maior interatividade entre o magistrado e as partes;
h) possibilidade de solução conciliada.
Princípio da subsidiariedade:
Na fase de conhecimento, o art. 769 da CLT aduz que o Direito
Processual Comum será fonte subsidiária do Direito Processual do Trabalho,
contanto que preencha dois requisitos cumulativos: omissão da CLT; e
compatibilidade de princípios e regras.
Princípio da celeridade:
Trata-se do princípio da celeridade processual ou da razoável duração
do processo (art. 5º, LVIII, da CF). Corrobora a efetividade processual e o acesso
à ordem jurídica justa.
Vale dizer que existem ainda outros princípios referentes ao Processo
do Trabalho, como exemplo:
Princípio da conciliação:
Com a edição da Emenda Constitucional 45 de 2004, houve a
supressão do termo "conciliar e julgar" constante do artigo 114 da Constituição
Federal, alterando a redação do referido artigo para o termo "processar e julgar".
Por expressa disposição legal, constante da CLT, o magistrado
deverá propor a conciliação em dois momentos distintos: na abertura da
audiência (art. 846 CLT) e após o termino da instrução. (art. 850 CLT).
Princípio da busca da verdade real:
Este decorre do princípio da primazia da realidade, aplicada ao direito
material do trabalho.

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Há divergência doutrinária quanto a especificidade deste princípio no
direito processual do trabalho.
Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite, é “inegável que ele é
aplicado com maior ênfase neste setor da processualística do que no processo
civil”
Tal entendimento baseia-se no art. 765 da CLT que diz, in verbis:
Art. 765 - Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na
direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo
determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.
Princípio da normatização coletiva:
Está baseada no art. 114, § 2º, da CF que diz, in verbis:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e
julgar:
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à
arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo
de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito,
respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como
as convencionadas anteriormente.
Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite:
“A Justiça do Trabalho brasileira é a única que pode exercer o
chamado poder normativo, que consiste no poder de criar normas e condições
gerais e abstratas (...), proferindo sentença normativa (...) com eficácia ultra
partes, cujos efeitos irradiarão para os contratos individuais dos trabalhadores
integrantes da categoria profissional representada pelo sindicato que ajuizou o
dissídio coletivo.”
Há argumentos favoráveis e desfavoráveis ao poder normativo da
Justiça do Trabalho.
Dentre os favoráveis temos o acesso à garantia do acesso à Justiça
do Trabalho, a garantia da efetividade dos direitos trabalhistas, a garantia de
equilíbrio na solução do conflito coletivo, a redução da litigiosidade e pacificação
social, a tendência universal do acesso à Justiça para a defesa dos interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos.
Dentre os argumentos desfavoráveis à existência do Poder
Normativo, podemos apontar a interferência indevida do Poder Judiciário na

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atividade legislativa, a morosidade do judiciário, a falta de efetividade da
sentença normativa, despreparo técnico dos juízes, dentre outros.

Aplicação supletiva e subsidiária do Código de Processo Civil ao


Processo Trabalhista.
Dispõe o artigo 15 do Código de Processo Civil:
Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais,
trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão
aplicadas supletiva e subsidiariamente.
Dessa forma, o Código de Processo Civil será aplicado ao Processo
do Trabalho de forma supletiva e subsidiária, na ausência de norma que
disciplinem o processo trabalhista.
Mauro Schiavi ensina que supletiva e subsidiária, devem ser
aplicadas do seguinte modo:
a) Supletivamente: significa aplicar o CPC quando, apesar da lei
processual trabalhista disciplinar o instituto processual, não for completa. Sendo
assim, o CPC será aplicado de forma complementar, aperfeiçoando e
propiciando maiores efetividade e justiça ao processo do trabalho. Como
exemplos temos: hipóteses de impedimento e suspeição do juiz, pois o CPC é
mais completo do que a CLT; ônus da prova previsto no CPC, uma vez que o
artigo 818 da CLT não resolve algumas questões, entre outras hipóteses;
b) Subsidiariamente: implica em aplicar as leis processuais do CPC
quando a CLT e as leis processuais trabalhistas não disciplinarem determinado
instituto processual. Como exemplos, temos: tutelas de urgência, ação
rescisória, ordem preferencial da penhora, entre outros;
Recentemente o TST editou a Instrução Normativa n. 39/16, que
dispõe sobre as normas do Código de Processo Civil de 2015 aplicáveis ao
Processo do Trabalho:
Art. 1° Aplica-se o Código de Processo Civil, subsidiária e
supletivamente, ao Processo do Trabalho, em caso de omissão e desde que haja
compatibilidade com as normas e princípios do Direito Processual do Trabalho,
na forma dos arts. 769 e 889 da CLT e do art. 15 da Lei nº 13.105, de 17.03.2015.
§ 1º.

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Observar-se-á, em todo caso, o princípio da irrecorribilidade em
separado das decisões interlocutórias, de conformidade com o art. 893, § 1º da
CLT e Súmula nº 214 do TST. § 2º O prazo para interpor e contra-arrazoar todos
os recursos trabalhistas, inclusive agravo interno e agravo regimental, é de oito
dias (art. 6º da Lei nº 5.584/70 e art. 893 da CLT), exceto embargos de
declaração (CLT, art. 897-A).

BIBLIOGRAFIAS
• BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Curso de Direito Processual
do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
• BRASIL. Vade Mecum Trabalhista e Previdenciário: CLT, CPC,
Legislação previdenciária e Constituição Federal. São Paulo: Saraiva, 2018.
• DONIZETTI, Elpídio. Curso de Didático de Direito processual
Civil. 19. ed. Rev. e Reformulada conforme o novo CPC - Lei 13.105, de 16 de
março de 2015 e atualizada de acordo com a Lei 13.256, de 04 de fevereiro de
2016. São Paulo: Atlas, 2016.
• PEREIRA, Leone. Manual de Processo do Trabalho. 5. ed. De
acordo com o novo CPC – Lei 13.105/2015 e a Reforma Trabalhista - Lei
13.467/2017. São Paulo: Saraiva, 2018.
• SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 14.
ed. De acordo com o novo CPC – Lei 13.105/2015 e a Reforma Trabalhista - Lei
13.467/2017 e atualizada de acordo com a IN.N. 41/2018 do TST. São Paulo:
LTr, 2018.

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