Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MOSSORÓ – RN
2016
2
MOSSORÓ – RN
2016
Catalogação da Publicação na Fonte.
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
128 f.
Orientador(a): Prof. Dr. Lemuel Rodrigues da Silva
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................4
3.2 A DIVISÃO DOS ROSADOS COMEÇA A SER TEMA NOS JORNAIS .....................64
CONCLUSÃO ........................................................................................................................120
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................124
4
INTRODUÇÃO
A mídia tem forte ligação com os fatos políticos. É a partir dela que a sociedade
passa a conhecer os acontecimentos. Para a história, os meios de comunicação servem
como fonte de pesquisas. É revisitando as fontes do passado que o historiador busca as
informações. A narrativa começa a ser feita a partir dos acontecimentos relatados nos
jornais do passado. É a análise sobre as notícias que permite conhecer uma sequência de
acontecimentos históricos.
Um deles é: o que leva um fato político histórico e relevante para uma cidade a
ser tratado com manipulação e sendo omitido o que de mais importante estava por
acontecer? O outro é: a manipulação da mídia por agentes políticos existe em favor de
interesses de grupos? A pesquisa em tela tem o objetivo de estudar um período de
mudanças da estrutura política da cidade de Mossoró (RN) durante a década de 1980,
mudança essa que delineou o cenário político da cidade durante a virada do segundo para
o terceiro milênio. O estudo visa a analisar esses fatos pela ótica da cobertura midiática
dos jornais O Mossoroense e Gazeta do Oeste no período entre 1980 e 1988, quando a
divisão política se iniciou (1982), foi sacramentada (1985) e se consolidou (1988).
Augusto Rosado dos tios Vingt Rosado e Dix-huit Rosado. A separação se deu por um
longo processo de distanciamento entre eles. O grupo político familiar, a partir dos filhos
do paraibano Jerônimo Rosado, se mantinha unido até então. O surgimento dos Rosados
enquanto grupo político de fato se deu após a redemocratização iniciada em 1945/46. Em
menos de dez anos eles já comandavam a Prefeitura de Mossoró e chegaram ao Governo
do Estado com a eleição de Dix-sept Rosado, pai de Carlos Augusto Rosado, em 1950. O
governo dele durou apenas sete meses por causa de sua morte em um desastre aéreo.
O mesmo caminho percorrido por Sarney foi feito pelos Rosados. Durante a
Ditadura Militar (1964/85), eles estiveram unidos dentro de um único partido: a Aliança
Renovadora Nacional (ARENA), que dava sustentação política ao regime. Com a
redemocratização, a Arena, que se tornara Partido Democrático Social (PDS), e com a
instalação do pluripartidarismo em 1980, foi abrigo da oligarquia uníssona. Foram as
eleições de 1982 que ligaram o sinal de alerta para os Rosados com a expressiva votação
do professor João Batista Xavier, que assustou o prefeito eleito naquele pleito, Dix-huit
Rosado. Era preciso dividir para somar. Mas foi preciso aguardar o momento certo.
6
Estava claro que não existia interesse em expor o racha político da família. Ao
longo da pesquisa é identificado, principalmente a partir de 1983, que os jornais não
davam como um fato consumado a cisão. Sempre tratavam o deputado estadual Carlos
Augusto Rosado como um dissidente, e só a partir de 1985 ele é reconhecido como
integrante de um outro grupo político. A percepção de ruptura só se configura a partir de
1988, quando os dois grupos de uma mesma oligarquia duelam nas urnas pela Prefeitura
de Mossoró. Nos dois jornais, é possível perceber um silêncio sobre o fato histórico que
foi a divisão política da oligarquia. Foi esse racha político local que garantiu poder ao clã
durante a virada do século e contribuiu para que o projeto maior, o de conquistar o
Governo do Estado, após 60 anos, se concretizasse.
Trata-se de uma das oligarquias mais antigas do Rio Grande do Norte e teve na
divisão uma estratégia para conservar o poder na virada do milênio sem sequer ser
ameaçada pelas forças sociais que sempre terminaram sendo cooptadas. Dentro dessa
lógica, é inevitável não perceber o fato histórico silenciado nos jornais, os quais
preferiram resumir tudo a uma simples mudança de partido. A falta da reflexão sobre o
momento histórico mostra claramente que houve algo proposital, é isso que esse trabalho
se dispõe a fazer. Para Abramo (2003, p. 23), o jornalismo brasileiro é caracterizado pela
manipulação, e isso sofre grande influência dos interesses políticos.
Charadeau (2006, p. 253) afirma que a “máquina midiática” tem três lugares: o de
produção, o produto e a recepção. Essas três fases da produção jornalística são passíveis
de manipulação ao longo do seu processo. O autor classifica as mídias como
“manipuladoras”. Para isso, ele afirma que, para contar os acontecimentos, a mídia se
divide em três critérios: tempo, espaço e acidente.
Até que ponto um político consegue ter sucesso quando usa a mídia para impor
sua liderança? Para Maigret (2008, p. 321), essa capacidade é relativa.
Waiberg (2005, p. 116) lembra que o terrorismo político para fins de manipulação
tem caráter messiânico ideológico e vem desde os anos de 1960. Nessa perspectiva, a
11
Os jornais enquanto fonte serão de suma importância para uma pesquisa histórica
e ao mesmo tempo relacionada à práxis dos estudos da comunicação. O trabalho vai aliar
o resgate de um passado recente, porém esquecido por interesses políticos, mas que
precisa vir à luz para que a sociedade conheça o que esteve por trás de um fato histórico
que foi tratado com desdém pela mídia.
12
Os jornais sempre são fontes de pesquisa, seja qual for a orientação ideológica e
o tipo de área do conhecimento em que se está fazendo análise. Tanto a história como a
comunicação estão dentro de um contexto no qual Chartier (1991, p. 173) explica que as
ciências sociais estão em crise por falta de um paradigma dominante desde o
enfraquecimento do marxismo e do estruturalismo, os quais não conseguiram se impor
perante o capitalismo liberal. Dentro desse contexto, o autor entende que a história ainda
é sadia e vigorosa dentro das ciências humanas. Mas faz uma ressalva:
Talvez por esses conflitos a história política tenha vivido seu apogeu durante o
século XIX e entrou em declínio a partir do surgimento da Escola dos Annales, na França.
Somente a partir da década de 1980 essa área da historiografia voltou a ganhar força.
parceiros desses estudos. Ao unir essas visões de mundo, pode-se atualizar a visão sobre
componentes do mundo político como partidos, eleições, biografias e comportamento
midiático em relação aos fatos. Para Rémond (1991, pp. 18 e 19), a história política
precisou de um período de ostracismo para se renovar.
Mais à frente o autor (op. cit., p. 49) explica que as campanhas eleitorais são uma
forma de entender o pensamento de uma época e descobrir quais as demandas de uma
sociedade.
A campanha é parte integrante de uma eleição, é seu primeiro ato. Não é apenas
a manifestação das participações dos eleitores ou a explicação dos programas
dos candidatos e dos temas dos partidos, é a entrada em operação das
estratégias, a interação entre os cálculos dos políticos e os movimentos de
opinião. Sobretudo, ela modifica a cada dia as intenções e talvez a relação de
forças. Não seria, pois, desinteressante prestar atenção a esses diversos
aspectos e reconstituir o desenrolar circunstancial de algumas campanhas.
Indo além das campanhas, ainda é possível estudar a história política por meio dos
partidos. Berstein (op. cit., p. 61) entende que as agremiações políticas funcionam como
mediadoras das ideias perante a sociedade. Para ele, o historiador tem como uma de suas
tarefas compreender os fenômenos históricos entre a realidade e o discurso.
15
No parágrafo seguinte ele complementa defendendo que nunca uma pesquisa deve
se limitar a apenas um jornal:
Isto não resolve, é claro, o problema do papel dos jornais, de reflexo ou guia,
e seria tolice ignorar que eles não são apenas o meio de expressão de espíritos
independentes, mas também, e com muito mais frequência, de grupos de
pressão diversos, políticos ou financeiros. Contudo, tudo isso tem pouca
importância se não pretendermos extrair uma abordagem quantitativa da
exploração dos jornais e não nos contentarmos com um único jornal: tudo o
que “juntarmos” ilustra a opinião pública.
O fato foi noticiado em outubro de 1985 como uma mera filiação partidária dos
irmãos Dix-huit (prefeito de Mossoró) e Vingt Rosado (deputado federal), ignorando que
16
Difícil estabelecer a distância no tempo que coloca um fato como ainda sendo
história do tempo presente ou não. Schurster (2015, S/N) explica que a história do tempo
presente ainda se encontra em construção, e dentro desse processo o primeiro
compromisso deve ser com a verdade. Tudo isso com forte importância dos fatos políticos
em torno das pesquisas sobre o presente.
Schurster (op. cit.) acrescenta que estudar o tempo presente não leva em conta a
periodização, mas os acontecimentos.
Isso demonstra que a história do tempo presente trouxe uma nova dimensão ao
político, não dando a ele o posto de interpretação soberana na história, mas mostrando
que ele age como agente dinamizador deste mesmo processo. A teoria do tempo presente
configura uma forma de interpretação do mundo. Esta interpretação configura um diálogo
do historiador com suas fontes e este só ganha significado através do leitor, que traz o
acontecimento de novo à vida, o faz sair do campo linguístico através da compreensão.
17
É a imprensa que reproduz os fatos sob influência do poder estatal, seja apoiando-
lhe ou lhe fazendo contraponto. Cabe ao historiador ter a perspicácia de separar essas
questões. Até porque as missões do jornalista e do historiador, ainda que do tempo
presente, são diferentes. O primeiro tem o compromisso com o imediatismo; o segundo,
em explicar os fatos dentro de um contexto histórico e apontar as consequências daquele
acontecimento. Chaves e Ogassawara (op. cit.) reforçam esse pensamento:
Mais adiante, Rémond (op. cit., pp. 8 e 9) explica que uma das questões que mais
preocupam a pesquisa em relação à história do presente diz respeito à proximidade do
historiador com o período em que ele viveu e, em alguns casos, com o fato de ele ter feito
parte dos acontecimentos. Para ele, esse obstáculo está totalmente superado.
Ao se utilizar dos dois jornais até então em circulação na cidade para omitir a
informação de que estava dividindo-se politicamente, os Rosados tinham interesse em
não propagar a quebra da unidade familiar por se tratar de um período histórico de
transição política no Brasil. Os cenários ainda eram indefinidos e o momento exigia uma
estratégia discursiva.
Para Brandão (2013, p. 27), o discurso não existe sozinho, é heterogêneo e está
em constante interação com outros discursos. Ao analisar discurso e informação,
Charaudeau (2006, p. 42) afirma que quem tem uma informação detém um conhecimento,
e ao informar o faz para alguém que não tem esse conhecimento.
Dentro dos estudos sobre o discurso, não se pode deixar de estudar a questão do
discurso político. Ainda mais em uma pesquisa que enfoca os estudos sobre o
comportamento de dois jornais dentro de uma cobertura de um fato político e histórico.
É preciso compreender o contexto desses discursos bem como a influência deles sobre os
jornais.
A política não existe sem discurso, e este se manifesta de várias formas. Desde o
gestual até a própria ação de fala, passando pelos símbolos. Mas é nos veículos de
comunicação que o discurso político melhor se manifesta. É a partir dessa avaliação que
é possível interpretar até que ponto esses discursos políticos estavam concatenados com
a linha editorial dos veículos de comunicação. A questão do contexto no discurso político
é tão importante que Courtine (2006, p. 64) explica que quando se entra nessa seara o
debate se torna muito mais complexo do que se costuma afirmar nas teorias linguísticas.
Foucault (2010, pp. 217 e 218) explica que o discurso político cumpre uma função
estratégica.
Charaudeau (2008, p. 16) explica que a linguagem e a ação são dois componentes
da troca social. Sobre esse aspecto, ele cita a questão da influência, tão importante em um
discurso político.
Dentro desse aspecto, é preciso levar em conta o fato de o discurso político não
atingir a meta de persuadir, mas o de provocar reação contrárias, gerando embates ou
provocando uma conciliação dentro do princípio da regulação destacado por Charaudeau.
O autor (op. cit, p. 40) explica que mesmo com um enunciado apolítico, um discurso pode
ser, sim, político. Tudo está relacionado ao contexto.
Há, pois, diferentes lugares onde se fabrica o pensamento político, que não está
reservado apenas aos responsáveis pela governança nem aos solitários
pensadores da coisa política. A produção de sentido é, uma vez mais, uma
questão de interação e é, portanto, segundo os modos de interação e a
identidade dos participantes implicados que se elabora o pensamento político.
Assim, propomos distinguir três lugares de fabricação desse pensamento, que
correspondem cada qual a um desafio de troca linguageira particular: um lugar
de elaboração dos sistemas de pensamento, um lugar cujo sentido está
relacionado ao próprio ato de comunicação, um lugar onde é produzido o
comentário.
O não dito pode dar mais informações que a comunicação pela fala ou na
linguagem escrita. Tudo depende da interpretação. Habermas (1990, p. 66) aborda o
conflito entre o falar e o agir e explica que ambas dependem de condições específicas de
22
Ele efetua sua crítica à tradição metafísica denunciando que este pensamento,
ao se impor como “fundamentação última”, fechou-se num círculo totalizante
com pretensões de legitimar todas as premissas a partir de si mesmo. Assim,
direciona seus questionamentos não só à racionalidade em sua constituição
especificamente metafísica, mas também a toda tradição filosófica que a
sustenta. Seu pensamento desenvolve-se no sentido de demonstrar os aspectos
que marcaram o estremecimento deste modo de pensar e, consequentemente,
minaram a razão como pretensão universal de saber
Habermas (op. cit. 53) explica que a passagem da filosofia da consciência para
a da linguagem trouxe vantagens objetivas. Mais adiante, aborda a questão da guinada
linguística, surgida inicialmente no interior dos limites do semanticismo, fazendo com
que fosse impossível explorar o potencial da solução do novo paradigma.
Para ele, a filosofia não se esvai na autorreflexão das ciências. O que liberta o
olhar científico da fixação em seu próprio sistema é a reversão desta perspectiva, limitada
ao do mundo da vida, é uma filosofia que se liberta do logocentrismo. Assim, a ciência
descobre uma razão já operante na própria prática comunicativa cotidiana.
Ao citar o exemplo de uma pessoa correndo na rua, Habermas (op. cit, p. 65)
explica que podemos identificar ação, mas não percebemos qual é a intenção dessa pessoa
24
ou o que motiva a corrida. O autor explica que ao observar uma ação não temos condições
de descrever as motivações dela com segurança. Somente os atos de fala conseguem
descrever e revelam o que se quer saber.
Quando eu capto uma ordem que uma amiga me dá (ou outrem), ao dizer que
devo (ou ele deve) deixar cair a arma, então eu sei com bastante certeza, qual
foi a ação que ele realizou: ela proferiu esta ordem. Essa ação não carece de
interpretação no mesmo sentido que as passadas do amigo apressado. Pois no
caso exemplar, do significado verbal, um ato de fala revela a intenção do
falante; um ouvinte pode deduzir do conteúdo semântico do proferimento o
modo como a sentença proferida é utilizada, ou seja, saber qual é o tipo de ação
realizada através dele. As ações linguisiticas interpretam-se por si mesmas,
uma vez que possuem uma estrutura auto-referencial
Para o autor, ações linguísticas e não linguísticas são atividades orientadas para
um devido fim, dividindo-se em duas categorias: “compreensão” do ouvinte e
“reconhecimento” do que se diz como verdadeiro.
Ele cita três fatores para explicar a relação do significado de uma expressão
linguística: o que se diz com ela; o que se diz nela; o modo de sua utilização no ato de
fala.
25
Mais adiante ele explica que as teorias do significado mais conhecidas dão luz ao
aspecto global.
A semântica funcionalista toma como ponto de partido aquilo que o falante pensa
ou procura dar a entender. A semântica forma parte do ponto de vista sob os quais uma
proposição é verdadeira. Já a teoria do significado trata dos contextos das interações
apontada por Habermas (op. cit., p. 78).
Cada uma destas três teorias do significado concorre umas com as outras,
ligando-se precisamente a único processo do entendimento. Elas pretendem
esclarecer o significado de uma expressão linguística numa única perspectiva,
seja na perspectiva do que é pensado, como significado pensado, seja na
perspectiva do que é dito, como significado textual, seja na perspectiva no uso
em interações como significado de proferimento.
Há também em Habermas (op. cit., p. 80) a influência das razões do falante diante
do ouvinte que exercem influência sobre o que será interpretado.
Com esse entendimento, o autor entende que há uma sugestão de que não se deve
mais definir a semântica como condição de verdade ou reduzi-la à perspectiva do falante.
Ele afirma que a guinada pragmática da semântica da verdade trouxe consigo a
transformação de “força ilocucionária”. Para Habermas, a eficiência do agir comunicativo
depende da forma como a informação é repassada e de como isso é interpretado pelo
ouvinte.
Na linguagem verbal, isso depende das razões e do que está por trás do que se diz.
Surge aí a dependência de quem está recebendo uma determinada informação. Já na
linguagem não verbal, está aberto um vasto campo para as interpretações de quem está
recebendo uma informação. Tudo depende de um contexto em torno do fato, e o autor
cita como exemplo o cidadão que é visto na rua correndo. Ele pode estar fugindo, atrasado
ou se exercitando.
Dentro da lógica da análise do discurso, Orlandi (op. cit. pp. 82 e 83) explica que
o dizer está relacionado ao não dizer, e que na hora de se estudar o assunto deve se ter um
cuidado metodológico. Ela explica que o não dizer se manifesta de várias formas. Uma
delas é o que está implícito na frase “deixei de fumar”, que pressupõe que o emissor já
26
fumava. Mas o que fica subentendido é o motivo que leva o sujeito a tomar essa decisão.
Tudo depende do contexto em torno da informação.
Outro ponto dentro da análise do discurso que pode ser usado em relação ao não-
dito é o silêncio. Orlandi (op. cit. p. 83) explica que, calar-se pode significar um recuo
necessário, e é a partir de como isso é interpretado que se pode encontrar um sentido no
silêncio. “É o silêncio como horizonte, como iminência de sentido. Esta é uma das formas
de silêncio fundador: silêncio que indica que o sentido pode ser outro. Mas há outras
formas de silêncio que atravessam as palavras que “falam” por elas, que as calam”. Dentro
da política, o silêncio fundador se manifesta de maneiras variadas. Pode ser o silêncio
constitutivo no sentido de que uma palavra apaga outras palavras ou silêncio local, que é
a censura. Esse segundo ponto está relacionado intrinsecamente às relações de poder.
(...) podemos conferir ao discurso histórico o estatuto de uma prática que visa
à interpretação do real. Elementos discursivos dessa atividade interpretam e
constituem também a linguagem jornalística, manifestando-se, por exemplo,
em comentários, editoriais, colunas assinadas, crônicas e matérias
interpretativas, nas quais o jornalista expõe suas opiniões e versões diferentes
de um mesmo fato. O conhecimento histórico produzido pela escrita
jornalística não se confunde, certamente, com o acontecimento tal como
ocorreu na atualidade, pois é construído em um tempo diferente (tempo da
escrita e da edição do texto jornalístico) do tempo real, em que os fatos
irromperam na sociedade. Esse conhecimento é, pois, um produto que
envolveu escolha da abordagem, reflexão sobre as informações e sua
organização, problematização, interpretação, análise, ordenação temporal de
uma série de acontecimentos e localização espacial na folha do jornal ou da
revista. É um conhecimento que envolve, portanto, memórias individuais (a do
jornalista) e memórias coletivas emolduradas pelo conjunto de acontecimentos
organizados pela narrativa histórica.
Assim sendo, o jornalismo colabora e ao mesmo tempo precisa ser tratado com
cuidado enquanto fonte de pesquisa. O contexto da produção midiática precisa ser sempre
levado em consideração com a finalidade de se conhecer o que está por trás daquela
notícia pesquisada e a forma como ela foi usada para influenciar a sociedade.
28
Dentro da ótica do confronto pelo poder, Foucault (2005, p. 21) explica que este
não é dado nem cedido. Mas, é exercido, e vai mais além, afirmando que quem o detém,
oprime.
O poder não se dá, nem se troca, nem se retorna, mas que ele se exerce e só
existe em ata. Dispomos igualmente desta outra afirmação, de que o poder não
é primeiramente manutenção e recondução das relações econômicas, mas, em
si mesma, primariamente, uma relação de força. Algumas questões, ou melhor,
duas questões: se o poder se exerce, o que é esse exercício? Em que consiste?
Qual é sua mecânica? Temos aqui algo que eu diria era uma resposta-ocasião,
enfim, uma resposta imediata, que me parece descartada finalmente pelo fato
concreto de muitas análises atuais: o poder é essencialmente que reprime. É o
que reprime a natureza, os instintos, uma classe, indivíduos. E, quando, no
discurso contemporâneo, encontramos essa definição repisada do poder como
o que reprime, afinal de contas, o discurso contemporâneo não faz uma
invenção.
Mas a questão do poder vai além da disputa política em si. Por influência da
própria política, o poder pode ser exercido através da cultura e de sua influência. Quem
exerce o mando tem a oportunidade de se utilizar da produção cultural para legitimar-se.
Bourdier (op. cit., p. 51) entende que a cultura é um campo de representação do poder e
da dominação burguesa.
Quanto à noção de campo de poder, precisei criá-la para dar conta de efeitos
estruturais que não podiam ser compreendidos de outro modo: especialmente
certas propriedades das práticas e das representações de escritores ou de
artistas que apenas a referência ao campo literário ou artístico não permitia
explicar inteiramente, como, por exemplo, a dupla ambivalência em relação ao
“povo” e ao “burguês”, encontrada entre escritores ou artistas que ocupam
posições diferentes nesses campos e que só são inteligíveis se levarmos em
conta a posição dominada que os campos de produção cultural ocupam no
espaço mais amplo.
O campo do poder (que não deve ser confundido com o campo político) não é
um campo como os outros: ele é o espaço de relações de força entre os
diferentes tipos de capital ou, mais precisamente, entre os agentes
suficientemente providos de um dos diferentes tipos de capital para poderem
dominar o campo correspondente e cujas lutas se intensificam sempre que o
valor relativo dos diferentes tipos de capital e posto em questão (por exemplo,
30
Como posto acima, o autor também entende que o campo do poder não está restrito
à política. Dessa forma, a mídia também se insere. Ao propagar discursos, ela serve de
intermediária para a legitimação de diversas formas de poder, e nesse contexto também
se inserem (além da política, claro) a economia, as artes e a religião. O uso do discurso é
uma importante estratégia para legitimar o poder político, e a mídia é o principal meio
para a propagação de uma ideia. Foucault (2010, pp. 8 e 9) entende que o discurso tem
um poder de coerção.
Para o autor (op. cit., p. 40), o discurso nem sempre é explícito em suas intenções.
“Mas que ninguém se deixe enganar; mesmo na ordem do discurso verdadeiro, mesmo
na ordem do discurso publicado e livre de qualquer ritual, se exercem ainda formas de
apropriação de segredo e de não permutabilidade”.
E isso acontece na mídia, a qual nem sempre cumpre o seu papel social por ser
uma empresa privada com seus próprios interesses e que muitas vezes possuem interesses
diferentes dos da democracia. Charaudeau (2005, p. 59) entende que a informação sofre
influências das ideologias.
Ele acrescenta mais à frente (op. cit., p. 63) que o discurso informativo das mídias
está relacionado ao imaginário de poder.
O discurso informativo não tem uma relação estreita somente com o imaginário
de saber, mas igualmente com o imaginário do poder, quanto mais não seja,
pela autoridade que o saber lhe confere. Informar é possuir um saber que o
outro ignora (“saber”), ter a aptidão que permite transmiti-lo a esse outro
(“poder dizer”), ser legitimado nessa atividade de transmissão (“poder de
dizer”). Além disso, basta que se saiba que alguém ou uma instância qualquer
tenha a posse de um saber para que se crie um dever de saber que nos torna
31
O discurso midiático atua como sendo uma das instâncias de exercício do poder
por influenciar toda a sociedade e, dependendo do caso, fortalecer quem detém o poder
ou agir conforme os interesses de quem luta para ter o poder. Os veículos de comunicação
estão intimamente relacionados ao poder. E isso acorre de várias formas. Primeiro pelo
próprio poder de influência que estes exercem sobre a sociedade; segundo pela
necessidade de quem exerce o poder, seja político ou não, de recorrer à mídia para que
esta intermedeie o contato com a sociedade. Isso pode acontecer com diversas intenções.
Uma delas é a de legitimar um discurso; outra é de propagar uma informação de seu
interesse. Inspirada em Foucault, Gomes (2003, pp. 76 e 77) afirma que o papel da mídia
vai muito além do trabalho de manipulação, cumprindo um papel de disciplinar e
controlar.
Mas existem autores que minimizam o poder da mídia perante o público receptor.
Trata-se de pesquisadores que, a partir dos anos 1940, passaram a colocar em desuso a
teoria da agulha hipodérmica1. Para Medeiros (2011, p. 43), não se pode exagerar no
entendimento de que os meios de comunicação de massa, cuja sigla utilizada por ele é
MCM, não atinge seus objetivos nem deve ignorar o seu poder de manipulação.
1
Surgida no período Entre Guerras (1914-39), consiste num entendimento de que o emissor sempre
sobressai diante do receptor influenciando em suas opiniões e decisões. Essa teoria entende que os objetivos
dos meios de comunicação sempre são atingidos porque o público consumidor de informação não oferece
resistência ao que lhe é dito ou escrito pelas mídias.
32
Essa tese dos MCM é, de fato, criticável, pois os receptores possuem senso
crítico, experiências de vida marcantes e recebem outros tipos de influência,
que apenas não os da indústria cultural2. No entanto, não se pode cair no lado
oposto, igualmente criticável, de achar que não existe manipulação. A
manipulação existe, só que ela é sutil, subliminar e não chega a ser formadora
de padrões de comportamento e conduta definitivos.
2
Termo cunhado pelos sociólogos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer com a finalidade de situar
a produção artística dentro do contexto do capitalismo industrial.
33
Os jornalistas são apenas agentes do poder midiático, como bem atesta Signates
(2011, p. 78):
3
Os critérios de noticiabilidade são os aspectos levados em conta pelos veículos de comunicação quando
se decide publicar uma informação. São levadas em consideração questões como amplitude, frequência, o
inusitado e o interesse público e do público.
34
De acordo com Traquina (2001, p. 53), o trabalho deles teve influência da Teoria
dos Efeitos Limitados, de Lazarfeld. Ainda conforme Traquina (op. cit., p. 19), os estudos
sobre agendamento (ou agenda-setting) se dividem em três componentes: estudos da
agenda midiática (media agenda-setting), localizados nos estudos sobre o conteúdo da
mídia; os estudos sobre a agenda pública (public agenda-setting), definidos como
pesquisas que conceituam a relativa importância dos diversos acontecimentos e assuntos
35
por parte dos membros do público; e estudos sobre a agenda das políticas governamentais
(policy agenda-setting), que se debruça sobre a agenda das entidades governamentais.
Conforme Kunczik (2001, p. 314), a mídia influencia no que pensamos, mas não
decide como devemos raciocinar.
Para Wolf (1999, p. 144), o agendamento está a caminho para se tornar uma
teoria.
Mas esse trabalho não começa no editor. Ele é quem dá a palavra final. Tudo
depende do sistema de cada veículo de comunicação. Numa TV, a seleção começa no
produtor que escolhe a pauta e passa ao repórter que, junto com o cinegrafista, dá o seu
próprio enfoque até a versão final, que é editada antes de chegar ao público. Em um jornal,
é o repórter quem faz o seu recorte da realidade.
Nesse aspecto, entra em cena a teoria do espelho, que está em rota de colisão com
o gatekeeper. Nessa corrente de pensamento, entende-se que o jornalismo reflete a
realidade, retratando fielmente os fatos como eles foram, e esse trabalho de coleta de
informações é feito pelo repórter. Mas essa teoria tem um aspecto de ingenuidade por
ignorar os aspectos subjetivos de uma informação e o olhar individual do profissional que
as apura.
Pena (op. cit., pp. 127 e 128) faz uma espécie de “metáfora da metáfora” utilizando
a física – mais precisamente a óptica - para mostrar que, mesmo ao refletir uma imagem,
um espelho pode apresentar distorções.
O jornalismo não reflete a realidade nua e crua, mas faz um recorte desta. A teoria
do newsmaking avança em relação à do espelho por mostrar que o jornalismo, ao invés
de refletir uma realidade, promove uma construção social do real.
Para chegar a essa construção social de uma realidade, vários aspectos são levados
em consideração, e são estes quem formatam a construção de uma determinada linha
editorial Citando Mauro Wolf e Nelson Traquina, Pena (op. cit., p. 128) as enumera:
“noticiabilidade, valores-notícia, constrangimentos organizacionais, construção da
audiência e rotinas de produção”. Tudo isso está por trás do que chega ao público.
O gatekeeper vai além dessas duas teorias por privilegiar a ação pessoal do
comunicador. Trata do poder de decisão de quem define o que vai abrir passagem
chegando ao grande o público e o que será barrado no baile do espetáculo midiático. Os
críticos do gatekeeper entendem que os critérios de seleção da notícia vão além de uma
avaliação individual. Para estes, pesa muito mais os critérios profissionais relacionados
às rotinas de produção da notícia, eficiência e velocidade da informação. Mas por outro
lado, mesmo quem faz a crítica a esse paradigma pondera que o mérito desses estudos foi
apontar a existência de um filtro que faz a seleção do que se tornará notícia.
O argumento acima pode até ser visto como surpreendente. Mas faz todo o
sentido. Kovach e Rosenstiel apontam a importância de se conhecer o contexto de um
acontecimento ou fenômeno para poder compreender o que está por trás de um fato. Fazer
uma narração limpa e seca de um acontecimento atendo a um critério radical de
objetividade também tem seus riscos. Para reforçar isso, eles apontam um documento de
39
Kovach e Rosenstiel (op. cit., p. 70) ainda argumentam que o público não quer
somente uma notícia limpa e seca. Quer mais. Deseja a interpretação dos fatos. E isso
depende da capacidade de interpretação dos jornalistas. Eles exemplificam o almoço do
prefeito com autoridades em que ele elogia a polícia mesmo esta estando envolvida em
escândalos de corrupção. É missão do jornalista explicar que o prefeito está na verdade
se defendendo dos críticos. Mas eles alertam para que esse posicionamento não sirva de
argumento para o desprezo à busca da verdade:
Outra questão que existe dentro do saber jornalístico é o do controle social que
existe dentro das equipes jornalísticas e entre elas. Nas Redações, os profissionais trocam
informações e costumam socializar suas coberturas sugerindo e recebendo sugestões
sobre o que vai noticiar.
Em outro aspecto, é preciso assinalar que a seleção da notícia pode começar até
mesmo nos critérios de contratação de um profissional. Kunczik (2001, pp. 168 e 169)
explica como isso acontece, ponderando que isso não se trata de uma censura:
contas, é nessa seção midiática que se encontra a cobertura dos bastidores do poder e
forma-se opinião sobre os acontecimentos.
Para que os políticos tenham o apoio do que se compreende por opinião pública,
é preciso ter endosso dos veículos de comunicação que exercem a função de mediar a
propagação de informações. A opinião pública se modifica na mesma velocidade da
informação. Parceiro na formação da opinião pública tão importante para os políticos, o
jornalismo político é base do poder de persuasão de quem está no exercício do poder ou
almeja chegar a esse posto. É na transmissão do que os analistas e repórteres dessa área
dizem que os políticos buscam influenciar a população e receber o apoio da opinião
pública.
O jornalista que atua na área política tem um duplo papel, para o bem e para o
mal, o de tornar compreensíveis as decisões explicando o que está por trás do discurso e
apresentando todo um contexto sobre o tema em discussão. Por outro lado, por má fé
(motivada por interesse pessoal ou determinação editorial) ou incapacidade de
interpretação, ele pode tornar-se obstáculo para o discernimento, por parte do público, em
relação aos acontecimentos que envolvem o mundo dos políticos. Kunczik (2001, p. 92)
levanta a hipótese de que na sociedade moderna e democrática o poder é refém da mídia.
Mais à frente, Kunczik (op. cit., p. 95) pondera que a hipótese de que a política se
tornou dependente dos meios de comunicação não significa que apenas os jornalistas
fixem os temas políticos. Há uma série de fatores para isso, como a linha editorial do
veículo de comunicação, interesses comerciais e o interesse dos políticos, que são as
fontes primárias de informação.
Embora muita gente pudesse gostar de tomar suas decisões de voto para
candidatos a cargos nacionais, estaduais e municipais com base no contato
interpessoal, a maioria dos cidadãos não tem oportunidade de conversar
diretamente com candidatos. O processo eleitoral é estruturado de maneira tal
que os candidatos têm, gostem ou não, de depender da mídia como veículo
primário de comunicação com os cidadãos. O sistema de mídia é mais do que
42
Por força do jornalismo político, a mídia passou a ser tratada como o “quarto
poder”. A expressão é antiga. Foi usada pela primeira vez em 1828 pelo deputado inglês
MacCaulay. Sua origem é no entendimento de que a mídia tem utilidade moderadora nas
relações do Estado classicamente dividido entre os poderes Judiciário, Executivo e
Legislativo. A entrada da mídia como sendo mais um poder está inserida dentro de um
contexto de regime democrático em que ela fiscaliza os três poderes constituídos. Boa
parte desse entendimento decorre, no jornalismo moderno, por causa das matérias
investigativas e por meio do senso comum de que o profissional de comunicação deve se
comportar como defensor do interesse público.
De acordo com Lucas (2001, p. 53), o fenômeno rosadista se encaixou com o perfil
de Mossoró: uma cidade de caráter urbano, comercial e industrializada precocemente. A
despeito do ufanismo e das descrições dos historiadores apologistas, a autora reconhece
um perfil diferenciado dos Rosados em relação aos conceitos do coronelismo clássico.
O patriarca dos Rosados, que nunca chegou ser um líder político, faleceu em 1930.
Sem ele, a família seguiu a orientação política dos Fernandes, cuja maior liderança era
Rafael Fernandes Gurjão, o qual assumiu o comando das ações políticas em Mossoró após
a morte de Almeida Castro, o mentor de Jerônimo. Lucas (op. cit., pp. 60 e 61) explica
como era o posicionamento de Jerônimo Rosado na política local.
Isso contraria a tese formatada por seus descentes de que Jerônimo era um herói
mítico, empreendedor e chefe de um clã político. A família Rosado só surge como
oligarquia anos após a sua morte. Até a década de 1940, a família ficou acéfala
politicamente. Apenas dois genros de Jerônimo, Aldo Fernandes e Lavoisier Maia,
mantiveram alguma atuação política sem obter sucesso. Seus descendentes só entraram
para o cenário político em 1936, quando o farmacêutico Lahyre Rosado se elegeu
47
vereador, exercendo o cargo por pouco tempo porque a Câmara Municipal fechou as
portas após o Golpe do Estado Novo, em 1937. A força política da família vinha dos
negócios sempre voltados para o comércio e a exploração de gipsita e dos laços familiares
constituídos pelos descendentes de Jerônimo. Bem diferente do coronelismo clássico que
era exercido por proprietários de terras. Lima (2006, pp. 64 e 65) explica isso:
sept Rosado pôr em prática o seu populismo. É nesse momento que Dix-sept
incorpora também o populismo de Vargas e se apresenta como defensor da
classe operária, e isso não vai ocorrer só na campanha de 1948: na campanha
de 1950, na qual se elegeu governador, a estratégia usada com a classe operária
seria a mesma: discurso de mudanças, populismo, cooptação e a velha prática
do assistencialismo. Dix-sept foi um que se prontificou muito, e disse se o
Ministério do Trabalho fechasse a sede ele arranjaria um local para os
trabalhadores se reunirem, nem que fosse debaixo das árvores. Ele queria era
estar com o povo, ao lado do povo.
sempre mostrou grande capacidade de adaptação. Quando caiu o Estado Novo, em 1945,
os filhos de Jerônimo Rosado estrearam na política sob o discurso da democracia e da
renovação pelo voto. Quando caiu a democracia, com o golpe militar de 1964, lá estavam
os Rosados apoiando a “Revolução”; quando caiu o Regime Militar, em 1985, os Rosados
se dividiram politicamente num longo processo o qual, mais à frente, iremos detalhar
neste trabalho. Silva (op. cit., p. 122) explica que esse domínio se dá com a força da
Coleção Mossoroense, que edita livros e provoca um imaginário que confunde a história
de Mossoró com a da família Rosado, a utilização de velhos mecanismos das oligarquias
(empreguismo, clientelismo, nepotismo, cooptação e até mesmo coerção) e a capacidade
da oligarquia de se adaptar à conjuntura nacional:
com o apoio integral dos Rosados. A partir de 1974, os militares fortaleceram os Maias
como forma de implantar uma nova oligarquia no Rio Grande do Norte. Isso aconteceu
com a chegada de Tarcísio Maia ao poder após ser escolhido indiretamente para o cargo
naquele ano.
Primo dos Rosados (que também são Maias), ele acabou rompendo politicamente
com a família Rosado, que ficou 12 anos afastada do poder estadual.
A Coleção Mossoroense foi fundada em 1948 por Jerônimo Vingt-un Rosado com
o objetivo de fomentar a produção cultural da cidade de Mossoró. Conhecida como a
maior responsável pela publicação de livros do país, o órgão é mantido pela Fundação
Vingt-un Rosado.
51
No entanto, o autor (op. cit., p. 109) alerta na sequência que é preciso entender
que os autores que colaboraram com a Coleção Mossoroense não inventaram nada:
Fica bem claro que ao recontar a história de Mossoró, foi feito um trabalho para
dar um ar de “heroísmo” aos Rosados e assim fomentar a imagem da missão civilizadora
que tanto caracteriza o discurso em torno dessa oligarquia. Fernandes (2014, p. 125) relata
que tudo que era publicado na Coleção Mossoroense passava pelo crivo de Vingt-un.
Ainda nos anos 1960, com a saída de circulação de O Mossoroense, cuja última
edição seria em 7 de julho de 1963, a cidade ainda contou com o jornal Diário de Mossoró,
54
Assim, seguia o único jornal da cidade sendo alinhado aos Rosados e tendo
atuação importante ao influenciar a opinião pública nas eleições de 1976, vencida por
João Newton da Escóssia, cunhado de Vingt Rosado.
O novo impresso nasceria ligado aos Maias, que disputavam espaços políticos em
Mossoró. Era um tempo em que os Rosados estavam apartados das duas oligarquias que
disputavam o poder estadual: os Maias e os Alves.
Gerson (2005, p. 20) explica que a Gazeta do Oeste surgiu em meio a uma crise
no único impresso da cidade. “A crise de O Mossoroense desperta Canindé Queiroz. Em
abril de 77 surge o jornal, no governo Tarcísio Maia. Num primeiro momento o periódico
foi semanário”.
Queiroz, reconhece isso em depoimento a Gerson (op. cit., pp. 22 e 23), ao comentar
sobre o período de crescimento do jornal no final dos anos 1970:
Já no fim dos anos 1980, Mossoró passou a contar com duas rádios FMs. A
primeira é a Santa Clara (105 FM), ligada à Igreja Católica, e a FM Resistência, de
propriedade do deputado federal Vingt Rosado. Ambas foram implantadas em 1988,
sendo a primeira em 18 de maio e a segunda em 13 de junho.
Esse rearranjo político é mostrado como algo que aconteceu em fins dos anos
1980, mas na verdade essas mudanças transcorreram a partir de um longo processo e já
estava consumada na metade da década de 1980. Nascimento (op. cit., pp. 11 e 12)
identifica que, ao se dividirem, cada uma das duas alas precisou marcar posição junto ao
público consumidor de informações:
Para este estudo, três pontos são importantes dessa breve análise sobre a
história política do município: a importância dada pela família Rosado ao uso
de instituições de cunho “cultural” como estratégia de consolidação de
domínio político; o processo de “ruptura” que ocorre entre as lideranças
políticas da família no fim dos anos 1980; e a ideia de ressignificação do poder
local associada à noção de ideologia do profissionalismo, que aparece nos
discursos dos jornalistas locais quando se referem a sua prática profissional.
57
A Gazeta do Oeste não surgiu por acaso. O jornal de Canindé Queiroz nasceu
vinculado ao então governador Tarcísio Maia e fazia a linha governista em âmbito
estadual e oposicionista, ainda que de maneira leve nos primeiros anos, em âmbito
municipal. Logo que os Rosados se dividiram, a ala que se opôs ao deputado federal Vingt
Rosado encontrou morada dentro da Gazeta.
Para que haja manipulação, é preciso alguém (ou uma instância) que tenha a
intenção de fazer crer a outro alguém (ou uma outra instância) alguma coisa
(que não é necessariamente verdadeira), para fazê-lo pensar (ou agir) num
sentido que traga proveito ao primeiro; além disso, é preciso que esse outro
entre no jogo sem que o perceba. Toda manipulação se acompanha então de
uma enganação cuja vítima é o manipulado. Ora, não se pode dizer que as
coisas acontecem exatamente assim entre as mídias e os cidadãos. Nem se pode
dizer que os primeiros tenham a vontade de enganar os demais, nem que estes
engulam todas as informações que lhes são dadas sem nenhum espírito crítico.
A coisa é bem mais sutil, e diremos, para encurtar, que as mídias manipulam
de uma maneira que nem sempre é proposital, ao se autoproclamarem, e,
muitas vezes, são elas próprias vítimas de manipulações de instâncias
superiores.
O processo de separação dos Rosados não foi simples nem muito menos fruto de
uma conjuntura momentânea de fatores. Foi uma sucessão de fatores que antecedem até
mesmo o período utilizado nesta pesquisa, que foca o período entre 1980 e 1988.
A divisão dos Rosados sofreu influência da conjuntura nacional dos anos 1970,
quando o Brasil vivia o auge da ditadura militar, a qual durou entre 1964 e 1985. Como
atores políticos, os Rosados estavam sofrendo influência disso.
No entanto, Dix-huit acabou sendo vetado, como explica mais adiante Machado
(op. cit., p. 22):
de Cortez. E a missão Rondon Pacheco concluía que Cortez era o melhor nome
porque não sofria restrições ou vetos de ninguém.
Essa seria a primeira das três tentativas de Dix-huit Rosado chegar ao Governo do
Estado com apoio dos militares. Até 1974, os Maias eram inexpressivos no Rio Grande
do Norte. O máximo conseguido foi uma eleição de Tarcísio Maia para deputado federal,
com apadrinhamento político dos Rosados nas eleições de 1970. Antes, ele tentara se
eleger em 1955 sem sucesso, sendo acomodado como secretário estadual de educação no
governo de Dinarte Mariz (1955-60). Em 1962, tentou ser reeleito sem sucesso, mas
assumiu uma vaga na Câmara dos Deputados algumas vezes na condição de suplente. De
primo/agregado dos Rosados, Tarcísio Maia alçou o posto de governador do Rio Grande
do Norte num raro lance de sorte política.
Na sucessão de Cortez Pereira, mais uma vez estava lá Dix-huit Rosado cotado
para assumir o cargo de governador. Novamente, ele contava com o endosso de Dinarte
Mariz, que dessa vez tinha como alternativa Moacir Duarte. A lista ainda contava com
Osmundo Faria, um dinartista histórico, empresário e presidente do Banco de
Desenvolvimento do Rio Grande do Norte (BDRN). Por meio de um parente, Gustavo
Faria, sobrinho do ministro do Exército Dale Coutinho, foi feito o lobby em favor de
Osmundo.
De azarão, Osmundo se tornara o favorito, e quando tudo estava acertado para sua
indicação, falece Dale Coutinho, que tinha recebido o compromisso do presidente Ernesto
Geisel. Machado (op. cit., p. 45) resume bem a situação: “A morte do general sepultou as
chances de Osmundo e a lista sêxtupla foi para o cesto...”.
É aí que entra em cena um dos pivôs da separação dos Rosados na década seguinte:
Tarcísio Maia, que estava fora da vida pública havia quase dez anos reaparecia numa
articulação que contou com o apoio de Dinarte Mariz sob aos auspícios do senador
Petrônio Portela, o qual foi encarregado pelo Palácio do Planalto de sondar os políticos
potiguares sobre a sucessão de Cortez Pereira. Ele entra na disputa na condição de azarão,
e num momento em que Dix-huit já estava enfraquecido. Machado (op. cit., p. 52) relata:
Nascia ali uma convivência difícil entre os Rosados e os Maias, que perduraria até
a década seguinte, quando uma ala da oligarquia se comporia com os Maias. Adversários
dos Maias e dos Alves, distantes do senador Dinarte Mariz, durante o governo Tarcísio
Maia, os Rosados viveram um período de isolamento político em âmbito estadual. A
situação não era pior porque haviam retomado o comando da Prefeitura de Mossoró com
a vitória de Dix-huit Rosado, em 1972.
Assim, após acalorados debates da elite política potiguar, foi montada uma lista
sêxtupla composta por Dix-huit, Jessé Freire, Antônio Florêncio, Genibaldo Barros,
Lavoisier Maia e Ulisses Potiguar. O sexteto logo se tornou o trio Dix-huit, Jessé e
Lavoisier.
A eleição de 1978 deixaria muitas feridas abertas entre Rosados e Maias, o que
mais à frente teria um peso decisivo na divisão da oligarquia mossoroense.
Vingt Rosado terminou eleito deputado federal e Carlos Augusto Rosado estreava
em disputas eleitorais, sendo eleito deputado estadual após uma passagem na Secretaria
Municipal de obras entre as gestões de Dix-huit Rosado e João Newton da Escóssia.
Àquela altura, o filho de Dix-sept Rosado era visto como o nome a ser preparado para
63
suceder os tios na década seguinte. Costa (2012, p. 83) explica que a frustração de 1978
foi a mais sentida das três tentativas de levar Dix-huit ao Governo do Estado.
Aliado de Dinarte, Dix-huit Rosado havia sido indicado pelo senador para o
Executivo estadual em 1970 e 1974. No processo de escolha de 1978, mais
uma vez Dinarte insistira no nome de Dix-huit, que mais uma vez teve seu
nome preterido.
Sobre os Rosados pesava a imagem de revanchistas e radicais em matéria de
política. Contava também o fato de serem adversários e, até então, inimigos
pessoais de Aluízio Alves, que possuía influência nos altos escalões da cúpula
militar e não queria ter adversários tão ferrenhos no comando do poder
estadual.
Entretanto, com base na linha de raciocínio que tem orientado a descrição do
processo, o representante da família Rosado estava destituído da possibilidade
de comandar o Governo do Estado pelo fato de representar exatamente o tipo
de liderança tradicional que a inteligência militar, se não podia eliminar, pelo
peso eleitoral que representava, procurou manter afastada do comando político
das máquinas estaduais.
Dessa forma, a terceira derrota em 1978 fora especialmente dura para o grupo
mossoroense pelo fato de que o então governador, criado em Mossoró, tinha
vínculos com o grupo Rosado, com a cidade e com a região .
No entanto, as rejeições de Dix-huit não passam apenas pelo fato de os Maias não
o aceitarem no Governo do Estado. Havia também consultas ao ex-governador Aluízio
Alves que, embora com os direitos políticos cassados, tinha forte atuação nos bastidores.
Além de Aluízio, havia um plano dos militares de apostar em novos nomes para
governar os Estados, afastando o poder das oligarquias, e o que aconteceu com os
Rosados no Rio Grande do Norte se repetiu em outras unidades da federação com as elites
políticas tradicionais atendidas pelo Governo Federal, mas alijadas do poder de mando
nos governos estaduais, fazendo surgir novas forças dentro da política de “descompressão
do regime” adotada por Ernesto Geisel.
Esses fatores convergiram para que os Rosados não chegassem ao poder, mas
conseguissem enquanto bloco monolítico proteger seus espaços na Assembleia
Legislativa, Câmara dos Deputados e, principalmente, a Prefeitura de Mossoró.
64
Foi nesse quadro que se iniciou o ano de 1980, quando começaram a surgir os
primeiros rumores de aproximação dos Rosados e Alves, e na mesma época surgem ainda
que discretamente as primeiras informações de que a oligarquia mossoroense poderia se
dividir. É nesse contexto que entram em cena os dois jornais da cidade: O Mossoroense
e Gazeta do Oeste, que, ao seu modo, cada um ajudou a documentar a história que definiu
os rumos da segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.
Nesse período, Vingt Rosado organizava o PDS na região Oeste. Mesmo com a
autonomia para esse trabalho na região, as notas nas colunas dos jornalistas Jaime
Hipólito Dantas, Luís Fausto e Dorian Jorge Freire, em O Mossoroense, deixam claro o
distanciamento político entre Rosados e Maias.
E por que não interessava a exposição dessa questão? Tanto os Rosados como os
Maias estavam bem acomodados dentro do Regime Militar. Logo não tinha necessidade
de fomentar o conflito, principalmente pelo lado dos Maias, que tinham o controle do
Governo do Estado através da imposição do Regime Militar. Já os Rosados tentavam
enfraquecer o poder dos Maias e usavam bem a imprensa nesse quesito, bem como
66
Sobre a questão da divisão política dos Rosados nas páginas dos dois jornais, é
preciso entender que ela passa pela crise de relacionamento com os Maias, que já em 1980
trabalhavam para atrair o jovem deputado estadual Carlos Augusto Rosado para o lado
deles. Era um trabalho que, ao mesmo tempo os fortalecia e criava problemas internos na
oligarquia adversária. Carlos Augusto, àquela época, já mostrava sinais de que buscava
autonomia em relação aos tios Vingt e Dix-huit. Carlos Augusto já tinha o discurso
pronto: o da coerência. Ele não aceitaria fazer política junto aos Alves. Na construção
dessa narrativa, Canindé Queiroz (edição de 16 a 22 de fevereiro) especula uma aliança
entre os Rosados e Aluízio. Na edição de 23 a 29 de fevereiro, Kleber Barros, em sua
coluna na Gazeta do Oeste, prevê uma ruptura – sem dizer qual seria – provocada pela
aliança entre Rosados e Alves. Mas por enquanto essa insatisfação seria provocada pelos
aliados de Aluízio em Mossoró, como o então vereador Manoel Mário. Na mesma edição,
Canindé Queiroz especula a união entre Rosados e Alves. Para ele, o entendimento é
viável. Na edição de 1º de março a 7 de março, Kleber Barros analisa os rumos que os
grupos políticos podem tomar a partir do pluripartidarismo. Na edição de 29 de março a
4 de abril, Canindé Queiroz mostra que a maioria nas vitórias dos Rosados para a
Prefeitura de Mossoró diminuiu entre 1972 e 1976 e que o surgimento do
pluripartidarismo provocaria o aparecimento de novas forças, e isso provocaria uma nova
recomposição política, palavras proféticas. Enquanto isso, as relações entre Maias e
Rosados cada vez se desgastavam mais e a oligarquia que comandava o Governo do
Estado sentia a necessidade de enfraquecer Vingt e Dix-huit por meio da cooptação de
aliados. Assim foi feito quando a vereadora Raimunda do Couto Nogueira, a “Dodoca
Nogueira”, deixou o rosadismo para integrar o sistema maísta. O Mossoroense deu amplo
destaque ao assunto nas edições de 2 e 3 de abril com as notícias sobre a tentativa de
cooptação da vereadora “Dodoca Nogueira” para o lado do governador Lavoisier Maia
Sobrinho. O jornal deixa bem claro que, mesmo estando dentro do mesmo partido,
Rosados e Maias são adversários.
Em meio à crise interna do PDS entre Maias e Rosados, Kleber Barros (edição de
19 a 25 de abril) traz declarações enigmáticas de Carlos Augusto. O jovem parlamentar
defende a união do PDS e lembra o compromisso que os dois grupos têm com o presidente
da República, o então presidente João Figueiredo. As declarações são reforçadas na
coluna de Canindé Queiroz. Carlos afirma também que o objetivo dele é ser reeleito
deputado estadual em 1982. Mas nas entrelinhas fica o comportamento diferente dos tios
que conversavam politicamente com os Alves. Carlos, mais à frente, se manifestaria
contra essa aliança.
Desse modo distinguimos o silêncio fundador (que como dissemos, faz com
que o dizer signifique) e o silêncio ou a política do silêncio que, por sua vez,
se divide em: silêncio constitutivo, pois uma palavra apaga as outras palavras
(para dizer é preciso não-dizer: se digo “sem medo” não digo com “coragem”)
e o silêncio local, que é a censura, aquilo que é proibido dizer em uma certa
conjuntura (é o que faz com que o sujeito não diga o que poderia dizer: numa
ditadura não se diz a palavra ditadura não porque não saiba mas porque não se
pode dizê-lo).
É preciso observar que à medida que os Rosados se aproximavam dos Alves estes
se apartavam da “Paz Pública” firmada com os Maias, e no meio disso, Carlos Augusto
era assediado pelo grupo de Tarcísio Maia e ia se afastando aos poucos dos tios, abrindo
uma dissidência.
Canindé Queiroz traz a informação de que Carlos Augusto reclama da falta de prestígio
junto à Prefeitura de Mossoró, em mais um episódio que mostra as dificuldades internas
da oligarquia Rosado.
A situação interna nos Rosados era muito difícil para manter o grupo como um
bloco monolítico diante da falta de espaços para acomodar todos e com os constantes
assédios de Tarcísio Maia sobre Carlos Augusto Rosado. Curiosamente, O Mossoroense
traz em 10 de junho uma declaração de Tarcísio Maia em tom de recado para Ving: “Se
ele apoiar Aluízio Alves para o Governo em Mossoró surgirá uma situação nova”. O
posicionamento se encaixa politicamente com o posicionamento externado em 1980 por
Carlos Augusto de que não seguiria o grupo em uma eventual aliança com os Alves, e
mostra que Tarcísio estava na espreita, esperando a aliança se concretizar para mudar o
status quo da política mossoroense. Já Carlos Augusto tinha o discurso pronto para
justificar a decisão de não seguir a família em caso de formalização da aliança. Miguel
(op. cit., p. 62) explica que a política é um espetáculo e que a encenação ajuda a justificar
as decisões.
73
Com Carlos Augusto cada vez mais ligado aos Maias, e por consequência a união
da família Rosado cada vez mais em risco, seria necessário um fato que estremecesse as
relações do deputado estadual com o grupo que comandava o poder estadual. E o “Pacto
74
Está claro pelo contexto do cenário político que o texto faz referência ao fato de
Carlos manter-se alinhado aos tios Vingt e Dix-huit sem se afastar politicamente dos
Maias. Na edição de 19 a 25 de setembro, a coluna “O Que se Diz” assinada pelo jornalista
Crispiniano Neto, aborda a existência de duas alas dentro do grupo Rosado: uma
favorável a Carlos Augusto e outra a Laíre na sucessão de Vingt.
conhecem muito bem os caboclos da aldeia, é facílimo constatar que até pouco
tempo sempre que se falava num candidato a governador da família Rosado o
nome era o do ex-senador Dix-huit Rosado. Agora fala-se em Carlos Augusto
e nas entranhas do sistema alguns pequenos cataclismas então poderão estar
ocorrendo. Sintetizando: a rápida evolução do presidente Carlos se tornando
em pouco mais de dois anos em um nome estadual não é aceito por ponderáveis
e poderosos setores da estrutura Rosado. Sua resistência a um possível acordo
Alves-Rosado também o coloca na mira desses segmentos não sem influência
naquele sistema político. Neste enfoque se encontra uma das razões
ponderáveis da resistência ao nome do jovem parlamentar e embora porta-
vozes do grupo digam em contrário, é para inglês ver e não para quem
acompanha e conhece a política da aldeia.
CARLOS AUGUSTO
A única coisa que se sabe ao certo é que o deputado e presidente da Assembleia
Legislativa conseguiu se fortalecer e se espelhar. Seu nome tem sido cogitado
para todos os cargos. Pode ser candidato a prefeito, a governador (numa
sublegenda) ou a senador. Suas relações com o Governo do Estado são bastante
amistosas. Tem ligações comerciais com o grupo Maia e tem se posicionado
contra o acordo Rosados/Alves. Tem tomado posições incômodas ao grupo e
a família e já começa a se divisar em torno do seu nome, um polo que escuta
mais a ele que o deputado Vingt.
O mesmo texto ainda coloca Laíre Rosado como o sucessor de Vingt e o nome
para a Prefeitura de Mossoró, caso Dix-huit seja colocado numa chapa majoritária para o
Governo do Estado. O jornal tentava mostrar que os planos do rosadismo eram por Dix-
huit numa disputa pelo Governo do Estado ou Senado, deixando, nesse caso, a Prefeitura
de Mossoró. Nas páginas da Gazeta, Carlos Augusto sempre seria um nome a ser
excluído.
dos Rosados é noticiada como uma possibilidade concreta. A apartação política ganha
força no noticiário, e Carlos Augusto segue dando margem para especulações ao não
assinar a carta do “Pacto Solidão”. Para conter o noticiário, O Mossoroense (edição de 25
de outubro) apresenta uma declaração atribuída a Carlos Augusto Rosado em que ele se
manifesta sobre o “Pacto da Solidão”, afirmando que a assinatura dele na carta do grupo
está representada na de Vingt Rosado de quem se diz representado. O parlamentar evita
declarações contra a candidatura de José Agripino ao Governo do Estado.
Com a posição dúbia, ele deu uma satisfação ao grupo Rosado e mostrou-se ainda
liderado de Vingt Rosado. Por outro lado, ele manteve-se firme no acordo de bastidores
com os Maias. Ele se escondeu atrás do discurso da legitimidade e da identidade política
ao repassar ao tio a procuração para endossar o “Pacto Solidão”. Charadeau (op. cit., p.
64) explica como essa encenação funciona:
Após a crise do “Pacto Solidão”, a crise dos Rosados volta a ter mais um episódio
registrado na Gazeta do Oeste (edição de 7 a 13 de novembro), que especula um possível
confronto interno no PDS entre Carlos Augusto e Laíre para saber qual dos dois seria o
candidato dos Rosados a prefeito de Mossoró. Na matéria publicada na página 15, Laíre
é apontado por Vingt como o sucessor dele na liderança do grupo, enquanto Carlos reage
afirmando ser o sucessor natural. Em matéria publicada na edição de 26 de dezembro de
1981 a 1º de janeiro de 1982, Carlos Augusto defende um entendimento no PDS, e ao ser
questionado sobre o futuro político, repete um mantra de outras entrevistas: “Estou
cuidando da minha reeleição”.
77
Em 1982, tivemos um pleito totalmente atípico, que funcionou quase que como
uma eleição geral. O eleitor votou para vereador, prefeito, deputado estadual, deputado
federal, senador e governador. Menos para presidente da República, cujo mandato só se
encerraria em 1985. A regra era um escudo da ditadura militar para coibir o crescimento
da oposição e manter-se forte nos grotões do país.
Após 16 anos, o Rio Grande do Norte voltaria a ter eleições diretas para
governador. O embate seria entre José Agripino Maia, que venceu uma forte resistência
dos Rosados e do senador Dinarte Mariz dentro do PSD, e o ex-governador Aluízio Alves,
que era unanimidade dentro do PMDB. Em Mossoró, Dix-huit era favorito para vencer a
Prefeitura de Mossoró e foi o candidato que acalmou um possível embate entre Laíre
Rosado e Carlos Augusto Rosado. O primeiro, inclusive, abortou qualquer tipo de projeto
político para manter a frágil unidade rosadista. Os principais adversários dos Rosados
eram João Batista Machado, que era o nome do PMDB, e o jornalista Canindé Queiroz,
que fora inscrito candidato pelo PDS graças ao artifício da sublegenda. Ele tinha o apoio
dos Maias e era o dono da Gazeta do Oeste.
Na Gazeta do Oeste não foi diferente. Destaque para a coluna de Canindé Queiroz
(edição de 2 a 8 de janeiro), que crava como certa a candidatura de José Agripino ao
Governo do Estado pelo PDS e afirma que os integrantes do “Pacto Solidão”, no qual um
dos integrantes era o deputado Vingt Rosado, serão prejudicados. Na mesma edição, uma
matéria que mostra uma possível disputa entre Laíre e Carlos Augusto para ser candidato
do PDS à Prefeitura de Mossoró caso Dix-huit não entrasse na disputa. Estava claro que
os primos disputavam internamente o posto de líder do rosadismo, com clara predileção
de Vingt pelo genro, Laíre. Esse posicionamento é explicitado por Canindé Queiroz
80
(edição de 26 de fevereiro a 5 de março), quando ele afirma que Laíre Rosado se credencia
para disputar a Prefeitura de Mossoró pela atuação como porta-voz de Vingt Rosado.
Por isso, Canindé Queiroz seguia mostrando o que viria a acontecer dentro da
família Rosado nos anos seguintes. Na edição de 13 a 14 de março, ele informa que uma
ala dos Rosados não acompanharia Vingt Rosado na recusa em apoiar José Agripino. Já
na edição de 15 a 19 de março, Canindé Queiroz avalia a rejeição do rosadismo a José
Agripino como nociva à reeleição de Carlos Augusto Rosado à Assembleia Legislativa.
Isso desenhava o cenário favorável ao afastamento de Carlos Augusto e os tios já a partir
do pleito de 1982.
As disputas nos bastidores eram tensas, e isso emerge para o público quando O
Mossoroense anuncia que está declarada nova guerra entre Vingt e os Maias. Na edição
de 25 de abril, a manchete dá conta de um plano da oligarquia para derrotar o parlamentar
mossoroense nas eleições. A manchete é “Maias começam guerra para derrotar Vingt”.
O texto aponta uma articulação para tirar apoios do deputado federal em Mossoró e região
em prol do candidato Jessé Freire Filho. Carlos Augusto, com que ainda se colocava como
um liderado de Vingt, não é citado. Um trecho da matéria afirma que o mesmo foi feito
sem sucesso quatro anos antes. “Trata-se de uma repetição do acontecido em 1978,
quando os dois Maia, Tarcísio e Lavoisier, procuraram de todas as formas impedir a
reeleição do único deputado federal de Mossoró.”
A crise entre os Maias e os Rosados estava apenas tendo mais um episódio àquela
altura do processo eleitoral de 1982. A Gazeta do Oeste, na edição de 9 a 16 de abril, traz
uma análise que explica bem como Rosados e os Maias se mantinham no mesmo partido
mesmo com tantas divergências. Os Rosados, mesmo rompidos com os Maias, contavam
com a estrutura do Governo Federal. Vingt tinha no ministro da Justiça, Ibrahim Abi-
Ackel, um interlocutor no governo de João Figueiredo. Mas isso era insuficiente para
manter os Rosados unidos por muito tempo. As informações sobre o afastamento de
Carlos Augusto Rosado sempre surgiram no noticiário, levando os articulistas de O
Mossoroense a se posicionarem descartando a cisão. Foi assim na edição de 13 de junho,
Diran Amaral relata na coluna dele uma conversa com Carlos Augusto Rosado. Afirma
que quem tentar intrigar o deputado estadual com Vingt perderá tempo. Carlos teria
declarado que o grupo Rosado é “indivisível”.
81
11.098 21.037
56
487
17.571
15.277
14.206
54
411 11.767
468
873
FONTE: O Mossoroense.
84
Basta observar que o “Voto Camarão” seria o terceiro em Mossoró para o Governo
do Estado e o segundo para o Senado. Como nesse pleito Vingt Rosado obteve 17.483
votos, fica evidente que mais da metade dos eleitores dele seguiu a orientação. O resultado
das eleições de 1982 mudaria para sempre os destinos da família Rosado, que estava
fadada à divisão política.
A partir de 1983, começaram a surgir nas colunas dos jornais a informação de que
Carlos Augusto já se apartara dos tios Vingt e Dix-huit Rosado. O assunto era sempre
tratado em nível de especulação e informações de bastidores sem nunca se tornar
manchete de objeto de análises mais aprofundadas. O noticiário em O Mossoroense em
janeiro de 1983 só retomou na segunda quinzena daquele mês por conta da mudança de
sede do impresso. O jornal passaria o primeiro semestre inteiro, praticamente, sem
abordar assuntos relacionados aos Rosados, que seguiam em beligerância com os Maias.
Somente na edição de 12 de junho, Diran Amaral cobra o retorno de Carlos Augusto
Rosado ao noticiário. Reclama do silêncio do parlamentar. Àquela altura, Vingt seguia
em beligerância em relação a José Agripino.
O deputado Carlos Augusto, que anda sumido após ter feito seu sucessor, está
sendo solicitado pelos inúmeros amigos a voltar ao palco dos acontecimentos
políticos estadual. Afinal seu prestígio foi posto à prova nas últimas eleições e
saiu-se brilhantemente com a excelente votação conseguida. Não há motivo,
portanto, para se ausentar do tabuleiro, numa hora em que os homens de seu
nível muito poderão fazer em benefício do nosso Estado. Fica o convite de um
dos seus amigos. E sincero.
85
Ao longo das edições de junho e julho, Canindé Queiroz observa com constância
a ausência de Carlos Augusto Rosado do noticiário. Na edição de 20 de julho, Canindé
afirma que os Rosados devem lançar no máximo duas candidaturas a deputado estadual
em 1986. Seriam o ex-prefeito João Newton da Escóssia e Carlos Augusto. Canindé
afirma que os planos de Carlos são voltados para a Prefeitura de Mossoró “se Laíre não
atropelar os planos”. Não se cogita a divisão dos Rosados nesse momento. Na edição de
26 de julho, Canindé afirma que existe uma disputa velada pela hegemonia futura do
sistema Rosado. Não cita Carlos Augusto, mas afirma que Laíre leva grande vantagem
para ser deputado estadual e prefeito em 1988. Na edição de 30 de julho, Canindé declara
que se saírem três candidaturas a deputado estadual no sistema rosadista a prioridade é
para Laíre Rosado. Sobraria João Newton ou Carlos Augusto.
86
Está clara nessa notícia que os Rosados estavam juntos apenas do ponto de vista
formal, mas não interessava tornar isso público naquele momento. E O Mossoroense
seguia fazendo o trabalho de manter as aparências. No entanto, o próprio jornal deixava
escapar que havia algo que não caminhava bem dentro da oligarquia, como na edição de
24 de agosto de 1983, quando reproduziu matéria do Semanário Dois Pontos, que
circulava em Natal, cujo assunto é o reforço da liderança de Vingt na família Rosado e
afirma que não será Carlos Augusto Rosado o sucessor dele na Câmara dos Deputados,
mas Laíre Rosado. O título da matéria é “Vingt Rosado continua liderando grupo e
reeleição é certa”. A publicação da matéria soou como um recado a Carlos Augusto, que
estava cada vez mais próximo de um entendimento com os Maias.
A nota deixa também claro que àquela altura o próprio Carlos Augusto não tinha
interesse em expor qualquer rusga com a família. Seguia oficialmente integrando a
oligarquia que lhe pôs na política. Quem fazia o trabalho de expor a crise na família
Rosado era a Gazeta do Oeste, que seguia mostrando que Carlos estava cada vez integrado
aos Maias e Vingt organizava uma aliança com Aluízio Alves. Vide edição de 2 de
setembro, quando a Gazeta do Oeste traz manchete apontando que os vereadores do
PMDB passam a seguir a orientação de Vingt Rosado, que está cada vez mais próximo
de migrar para o aluizismo. Na edição de 6 de setembro, Canindé volta a especular para
1986. Ele informa que Carlos Augusto está excluído dos planos de Vingt, que deixa
patente a ruptura dos laços políticos. Uma candidatura de Carlos em faixa própria e sob
apoio do grupo de Tarcísio Maia.
De fato, havia uma disputa interna pela sucessão de Vingt Rosado na liderança da
família. O prefeito Dix-huit Rosado não se manifestava sobre o assunto. Estava claro que
o sobrinho/genro Laíre Rosado era o preferido do deputado federal. Se havia predileção
do prefeito por Carlos Augusto, esse assunto não chegou aos jornais.
Augusto, mas pode ser uma forma de reforçar o grupo político. Ele afirma que se não
houver esse entendimento, cada um deve buscar outras alternativas.
Todo político sabe que lhe é impossível dizer tudo a todo momento e dizer
todas as coisas exatamente como ele as pensa ou as percebe. Pois não é preciso
que suas palavras entravem sua ação. A ação política desenvolve-se no tempo
e no momento em que o político pronuncia suas promessas ou seus
compromissos; ele não sabe de quais meios disporá nem quais serão os
obstáculos que se oporão à sua ação.
Especula-se nos meios políticos do Estado que o deputado Carlos Augusto será
mesmo o representante político do Palácio Potengi aqui na região,
especialmente em Mossoró. Condições não lhe faltam, porém temos que
considerar alguns aspectos de maior importância. O primeiro é se saber o
porque (sic) do “rompimento” do ex-governador Tarcísio Maia, com o atual
governador, isso porque enquanto for proprietário da Fazenda São João, o
“homem” do governo aqui será o próprio. Segundo porque o afastamento
(temporário) do deputado do grupo Rosado não é em decorrência da
candidatura, vitoriosa pois não, do seu primo Laíre Rosado, logo seu espaço
continua existindo, por ter passado suficiente para se manter. Terceiro tem que
se aferir o posicionamento das forças tarcisistas locais, considerando-se que
ninguém tem condições de transferir voto do deputado Vingt Rosado, por mais
prestígio que possa ter. Onde finalmente, a veracidade desta especulação e do
real interesse do Sr. José Agripino, pelo ilustre deputado?
eleições de 1982. Ele ainda faz parte do grupo de Vingt Rosado, mas ao contrário do tio
mantém um bom relacionamento com Tarcísio Maia. Na coluna de 16 de agosto, Canindé
Queiroz informa que Carlos Augusto caminha para voltar a ser presidente da Assembleia
Legislativa com apoio de Maias, Alves e Rosados. No entanto, o jornalista pondera que
a relação do deputado com o tio não é das melhores.
POLÍTICA EM MOSSORÓ
A sucessão presidencial, como seria de se esperar, vem trazendo no seu bojo
uma profunda transformação política desde altos escalões decisórios do país
até o mais insignificante município. Obviamente Mossoró não está imune a
este fenômeno perfeitamente natural. Aqui os posicionamentos dos deputados
Vingt Rosado e Carlos Augusto dirão bastante o comportamento futuro de
nossa política interna afetada que está sendo pelos fatos a nível nacional e
estadual. Pelo que é dado a traduzir do noticiário na imprensa, o líder do
sistema Rosado estaria de marcha batida para a candidatura de Paulo Maluf.
No meu entender, existe um açodamento neste ponto de vista. Para se ter uma
ideia do comportamento de Vingt Rosado, torna-se vital conhecer bastante o
panorama de Mossoró e a trajetória deste segmento político nos últimos anos.
II
O acampamento rosadista sobreviveu nos últimos anos em função de sua
estrutura local constituída de trincheiras como a Prefeitura Municipal, Escola
Superior de Agricultura, Universidade Regional, sem esquecer a forte máquina
instalada na Previdência. Num primeiro momento pode-se concluir com toda
facilidade que estes suportes dependem para sua manutenção no Governo
Federal e, efetivamente, assim ocorreu quando principalmente o ministro Abi-
Ackel serviu de ponte entre o rosadismo e os ministérios da república. Daí ser
91
Carlos Augusto teria afirmado numa roda que em 1982 o líder do rosadismo
teria sugerido uma divisão de votos e acredita ser o futuro pleito o momento
apropriado. Não há como bem analisar o pensamento do ex-presidente da
Assembleia. Dividir votos significa não apoiar Vingt para deputado federal,
estruturando sua reeleição para Assembleia sedimentada em outros esquemas
ou pode ser traduzido como uma disputa de votos para deputado federal entre
ambos?
A proposta de divisão dos votos tanto pode referendar o censo comum de que os
Rosados se dividiram para evitar o surgimento de novas forças políticas como pode ter o
significado de aumentar a ocupação de espaços políticos da família. É preciso lembrar
que o contexto em 1982 era diferente do de 1984, quando a informação emergiu na mídia
como notícia de bastidores. Essa é a única menção a uma eventual combinação familiar
na análise sobre os jornais em toda a pesquisa. A nota não deixa claro em que termos
ocorreria essa divisão dos votos e como seria.
condição de interino de Jaime Hipólito Dantas, analisa o noticiário em Natal que coloca
Carlos Augusto como tendo que reagir as invasões de Laíre às bases do deputado. Dias
depois, Canindé Queiroz (edição de 6 de outubro) escreve que a dissidência de Carlos
Augusto está armada e que ele levaria consigo pelo menos três vereadores. Ele afirma que
é questão de tempo uma erupção.
Não havia necessidade, pelo menos do ponto de vista político, de Carlos Augusto
ou os tios darem satisfação sobre o tema. A imprensa não estava criticando a ruptura, a
repercussão era discretíssima e a imprensa ainda oscilava entre a confirmação da ruptura
política e o entendimento de que se tratava de algo temporário. As edições seguintes da
Gazeta do Oeste confirmam essa interpretação confusa, como em 6 de novembro, quando
Jaime Hipólito afirma que Carlos Augusto está se distanciando de Vingt, enquanto se
engaja no projeto do governador José Agripino. Repare no termo “distanciando”. É como
se ainda estivesse um processo em curso e não uma decisão tomada, como anunciado em
outubro de 1984. Na mesma edição, Canindé traz uma interpretação oposta e mais dentro
da realidade daquele contexto político, quando afirma que é mais fácil J. Belmont, então
deputado estadual, estar na mesma chapa que Carlos Augusto do que com Laíre e o
primo/deputado. Os Rosados estavam unidos apenas pela formalidade de estarem no
mesmo partido. No segundo semestre de 1984, o rompimento político estava consumado.
um ingrato. Afinal de contas, foi por meio de um convite para ser secretário de Serviços
Urbanos na década de 1970 que Dix-huit Rosado deu a Carlos Augusto a chance de entrar
na política. O gesto evoca o esforço da Coleção Mossoroense citado no capítulo 2 deste
trabalho voltado para criar a imagem do comprometimento dos Rosados com Mossoró.
Ao adotar esse “método do apagamento”, Dix-huit tentara excluir o sobrinho desse
legado, era como ele tivesse deixado de ter um compromisso com a cidade. Charadeau
(op. cit., p. 214) explica que o imaginário de tradição pode servir para fortalecer
argumentos.
E não demorou muito para ter o primeiro embate entre Carlos Augusto e Vingt
Rosado. O sobrinho levou a melhor sobre o tio na eleição de presidente da Câmara
Municipal de Mossoró. Está estampado na manchete da Gazeta do Oeste de 1º de março.
Contando com cinco vereadores na Frente Liberal – que ainda era um bloco dentro do
PDS –, Carlos ajudou o PMDB a eleger Janúncio Soares, que não era o nome preferido
de Vingt Rosado.
CARLOS II
O ex-governador Tarcísio Maia, sentindo o desejo de Carlos em aderir ao seu
grupo e na sua tradicional tentativa de dividir os Rosados em Mossoró, para
poder vencê-los, sentiu naquele desejo do deputado, a oportunidade esperada.
Abriu então seu grupo para o recém-chegado, sob a promessa de dar-lhe os
instrumentos necessários para a consecução de seus objetivos.
O articulista fez um relato do que tem sido constatado nessa pesquisa. Carlos
Augusto, durante todo o processo, esteve oscilando entre as oligarquias Maia e Rosado,
até que, chegada a redemocratização, ele teve que se definir.
O ano de 1986 começa pronto para ser marcado como o primeiro da história de
Mossoró em que os Rosados se enfrentariam entre si. Ainda não foi um confronto direto
como numa chapa majoritária, mas seriam dados os rumos da família na política
mossoroense na virada para o Século XXI.
A calmaria no noticiário político indica que o grupo Rosado não queria confronto
com o dissidente. Em O Mossoroense, um pequeno traço de como Carlos Augusto era
tratado pelos familiares: na edição de 31 de julho, começam a ser publicados os
“santinhos” dos candidatos Vingt e Laíre Rosado. O slogan de Laíre é “Lealdade e
Renovação”. Carlos era visto como um traidor da família e a mensagem era clara nesse
sentido.
O ano de 1986 foi marcado pelas eleições, as primeiras para governador sem voto
vinculado e fidelidade partidária. Para Mossoró, foi o primeiro embate entre as duas alas
da família Rosado que se dividiram oficialmente um ano antes.
Nos jornais, o clima de confronto entre as duas alas foi morno. O Mossoroense
fazia campanha aberta a favor de Vingt, Laíre e Geraldo Melo. A Gazeta do Oeste teve
um comportamento mais distanciado do pleito. Era favorável a João Faustino e,
principalmente, à candidatura de José Agripino ao Senado. Pelo menos em um primeiro
momento. Depois o jornal ficou mais neutro.
Não houve troca de ataques diretos entre os grupos nem nos jornais. Era como se
fosse um cessar fogo sem interromper a guerra. Ficou clara uma estratégia de um combate
101
político sem ataques de lado a lado. No máximo, algumas insinuações de que candidatos
do PFL estariam comprando votos sem indicar quem seriam os responsáveis.
Na primeira disputa política dos Rosados divididos não houve confronto direito
nem troca de ataques. O radicalismo passou longe, pelo menos na cobertura dos jornais
que passaram a sensação de que não havia dois grupos políticos na mesma família.
Nas urnas, Laíre Rosado foi mais votado que Carlos Augusto, tanto no Estado
como em Mossoró. O genro de Vingt foi o deputado mais votado do Rio Grande do Norte,
com 24.702 sufrágios. Já Carlos Augusto foi o oitavo, com 19.051. Em Mossoró, Laíre
recebeu 14.213 sufrágios contra 10.670 de Carlos. Aparentemente, o dissidente ainda não
era uma ameaça real, tendo em vista que os candidatos votados pelo restante da família
foram os mais votados em Mossoró, como mostra a tabela abaixo:
Tabela 1 – Votação
FONTE: O Mossoroense.
possibilidade não vingue por conta da “síndrome de Carlos Augusto”. Na prática, ele
alertou a possibilidade de um sobrinho no poder provocar uma nova cisão. Dois dias
depois (edição 16 de maio), pela primeira vez a médica Rosalba Ciarlini Rosado – esposa
de Carlos Augusto Rosado - é citada como uma possível candidata numa especulação
feita por Dorian Jorge Freire de que, se Dix-huit se desincompatibilizar para Noguchi
Rosado ser o candidato do grupo – a regra eleitoral da época impedia candidaturas de
sobrinhos para suceder tios prefeitos ou governadores que estavam no exercício do
mandato –, Carlos Augusto ou a esposa Rosalba Ciarlini se lança candidato. Na edição
de 10 de junho, Dorian Jorge Freire afirma que se Noguchi Rosado ou qualquer membro
da família for lançado no sistema rosadista, Carlos Augusto ou Rosalba Ciarlini
disputarão a Prefeitura de Mossoró. A possibilidade de Tasso ou Noguchi, filhos de Dix-
neuf Rosado –irmão de Vingt e Dix-huit – serem candidatos a prefeito é levantada com
frequência ao longo de 1987. Mas sempre é seguida de um recuo com base na história
que envolve Carlos Augusto, à época considerado um traidor.
Mas é a partir do segundo semestre de 1987 que começam a surgir as notícias dos
acontecimentos que dariam o norte das eleições de 1988 e que culminaram com a
consolidação da divisão política da família Rosado. Cada vez mais surgem especulações
de que a médica Rosalba Ciarlini seria candidata, mas ela negava, como na capa da edição
de 11 de outubro (Gazeta do Oeste), numa matéria que mostra a negativa de Rosalba
Ciarlini em disputar a eleição municipal. O texto cita a mobilização dela a partir das
eleições de 1986, o que lhe credenciaria para a disputa. Mas a reação dela não poderia ser
diferente, o quadro não permitia se expor num momento em que a Assembleia Nacional
Constituinte estava se formando e não era possível saber quais seriam as regras para o
pleito.
entre Dix-huit e Vingt começa a ser debatido nos jornais, com outro grupo já formado,
Carlos Augusto acompanhava silenciosamente o desenrolar dos fatos.
sentido pelo público-alvo como a própria realidade, e não como uma versão
dela. Isso acontece geralmente – vamos reforçar mais uma vez – quando o
jornalista e público, por exemplo, partilham dos mesmos valores. E também,
obviamente, quando o texto foi bem sucedido na maneira de apresentar
argumentos que sustentam determinada tese.
Durante o mês de abril, tanto Canindé Queiroz como Dorian Jorge Freire cravaram
que a chapa do PMDB estaria fechada. Seria formada por Laíre Rosado e Rose Cantídio
(o que de fato se confirmou). A partir daí, Canindé Queiroz passou a especular uma
separação política entre Dix-huit e Vingt Rosado. Ele aponta que o “maior eleitor” da
cidade estaria sendo dispensado pelo “lairismo”. Na outra frente, destaque para as
declarações do senador Lavoisier Maia, que lançou Rosalba Ciarlini candidata a prefeito
de Mossoró, provocando reação de Carlos Augusto Rosado, que seguia negando o
projeto.
Enquanto isso, na Gazeta do Oeste, tanto Dorian Jorge Freire como Canindé
Queiroz fizeram relatos de que na tentativa de acalmar os ânimos de Dix-huit, Vingt teria
prometido apoio a uma candidatura de deputado federal de Mário Rosado em troca do
apoio para Laíre se eleger prefeito. O próprio Mário chegou a declarar na Gazeta que não
aceitaria a proposta nem o pai deixaria a vida pública, indicando que o convite teve
endereço errado.
19,90%
2,50%
43,30%
3,50%
6,90%
8,50%
15,40%
Fonte: O Mossoroense
Na edição de 2 de maio, Diran Amaral relata que Laíre só entrou para a política
por causa da “defecção” de Carlos Augusto Rosado, que seguia sendo tratado como um
dissidente. Enquanto isso, a Gazeta do Oeste (edição de 4 de maio) segue mostrando a
crise dos Rosados. Canindé Queiroz comenta que Carlos Augusto começa a ser absolvido
da decisão de ter rompido com a família por conta dos episódios envolvendo Dix-huit
Rosado e Vingt.
DE ABSOLVENDO
Ouvi de várias pessoas que o deputado Carlos Augusto está sendo entendido
agora por seu gesto em romper com o sistema familiar. Este segmento que
antes condenava o parlamentar está crente agora que se ele não cometesse o
gesto da época teria sido liquidado politicamente. Este novo posicionamento
surgiu após os últimos episódios onde o prefeito Dix-huit Rosado vem sendo
hostilizado abertamente por frações importantes do rosadismo que deseja
expurgá-lo da vida pública.
Estava claro que havia uma disputa de sucessão no comando da oligarquia e que
isso possibilitou a sua cisão.
A capa da mesma edição traz abaixo um artigo assinado por Laíre Rosado, cujo
título é “Combatendo a intriga – I: respeitem Vingt e Dix-huit”, em que ele relata que
“forças exógenas” tentam provocar uma nova fissura na família partindo o “elo fraco”. É
a primeira vez que um membro dos Rosados fala abertamente sobre o assunto ainda que
de forma indireta. O silêncio se rompera após três anos de divisão política. Já na edição
de 6 de maio, aparece a segunda parte do artigo “Combatendo a intriga – II: “lairismo e
rosadismo”. Mais uma vez Laíre, ao negar o termo “lairismo”, que na interpretação dele
foi criado para provocar divisões no grupo Rosado, afirma esperar que tenha sido um dia
único a data em que foi quebrado o “elo mais fraco” da família pela malícia dos que ele
classificou como prepotentes. No dia 7 de maio, a terceira e última parte do artigo
“Combatendo a intriga – III: o homem que esta terra não esquecerá”, em que Laíre Rosado
presta uma homenagem a Dix-huit. Desta vez o “elo fraco” não é citado. Na edição de 10
de maio, em uma entrevista exclusiva a O Mossoroense, o presidente estadual do PMDB,
Paulo de Tarso, descarta a possibilidade de divisão dos Rosados.
Num sentido particular, é possível considerar que, à incitação que procura fazer
surgir uma opinião ou fazer com que o interlocutor mude de opinião
acrescentam-se outras características. Uma é que o manipulador não revela sua
intenção ou seu projeto, e o disfarça sob um discurso contrário ou sob um outro
projeto apresentado como favorável ao manipulado.
O trabalho para tentar mostrar tanto para Dix-huit quanto para a opinião pública
que o melhor caminho para o rosadismo, e por consequência para Mossoró, conforme os
discursos apologéticos, seguia e alguns elementos nessa manipulação surgiam. Um deles
pode ser percebido na edição de 12 de maio de 1988 de O Mossoroense, cuja notícia
principal é que o vice-prefeito Sílvio Mendes estaria inelegível porque assumiu a
titularidade do cargo em virtude de uma viagem de Dix-huit, o que seria proibido na
legislação eleitoral da época. Já na edição de 13 de maio, nota na coluna de Roberto
Guedes e matéria de capa (baseada em análise do colunista) negam que a viagem de Dix-
109
huit seja para fortalecer o nome de Sílvio Mendes, e na página três, uma matéria informa
que Henrique Alves não crê em divisão. O Mossoroense fazia um esforço para manter as
aparências de que Vingt e Dix-huit Rosado permaneciam unidos, alternando com
demonstrações de que havia uma crise que precisava ser tratada com menos impacto. Mas
à medida que os irmãos entravam em conflito, Dix-huit se aproximava do sobrinho que
hostilizara no passado. Isso é demonstrado por Canindé Queiroz (edição de 14 de junho
da Gazeta do Oeste). Ele informa que a distância entre Dix-huit e Carlos Augusto tem
diminuído desde que o prefeito entrou em atrito com Vingt Rosado.
45,98%
54,01%
FONTE: O Mossoroense.
FONTE: O Mossoroense
112
18%
2,40%
43,80%
35,80%
Laíre Rosado (PMDB) Rosalba Ciarlini (PDT) Chagas Silva (PT) Indecisos
FONTE: O Mossoroense
21,40%
1% 44,30%
33,30%
Laíre Rosado (PMDB) Rosalba Ciarlini (PDT) Chagas Silva (PT) Indecisos
FONTE: O Mossoroense
20,30%
2,10%
43,80%
33,80%
Laíre Rosado (PMDB) Rosalba Ciarlini (PDT) Chagas Silva (PT) Indecisos
FONTE: O Mossoroense
Diante de um quadro em que seu grupo estava acuado, era necessária uma resposta
de Vingt, e ela veio no Observador Político. Canindé Queiroz (edição de 8 de outubro)
115
informou que o deputado retribuiu a alcunha de “traidor” a Dix-huit. Vingt disse que
Sílvio Mendes não contou com seu apoio porque não tinha respaldo popular.
14%
8% 40%
2%
28%
8%
1%
Laíre Rosado (PMDB) Rosalba Ciarlini (na época ainda inscrita no PFL)
Chagas Silva (PT) Outros
Brancos/Nulos Nenhum
Não opinaram
8,60%
6,70%
7% 39%
38%
Rosalba Ciarlini (PTD) Laíre Rosado (PMDB) Chagas Silva (PT) Branco/Nulo Não opinaram
6,50%
45%
35,80%
Ao longo de novembro, mês das eleições realizadas no dia 15, a Gazeta diminuiu
o radicalismo, passando a concentrar as notícias em torno das agendas dos candidatos.
Bem possível que por influência dos resultados da pesquisa IBOPE. Na edição de 12 de
novembro, O Mossoroense publica a última pesquisa sem citar o nome do instituto. O
quadro era o seguinte:
5,19% 8,66%
48,06%
38,09%
Laíre Rosado (PMDB) Rosalba Ciarlini (PDT) Chagas Silva (PT) Indecisos
118
Candidato Votação
Votantes 75.137
O chamado “elo fraco” mostrou que tinha força e venceu a eleição. A presença de
Dix-huit foi importante na campanha de Rosalba Ciarlini, mas quando ele anunciou o
apoio o quadro já estava favorável a ela. Estavam formados dois blocos, o de Vingt, ainda
com a maior parte da família Rosado, e o de Dix-huit, que tinha se unido a Carlos
Augusto.
CONCLUSÃO
A divisão política da família Rosado recebeu uma cobertura discreta dos jornais
O Mossoroense e Gazeta do Oeste. Os fatos ficaram muito mais registrados nas colunas
do que nas manchetes das respectivas publicações. As informações eram muito mais
tratadas como sendo notícias de bastidores e limitando-se muitas vezes ao campo da
especulação e das conjecturas.
Ligada aos Maias, a Gazeta do Oeste cumpriu um papel de mostrar que havia uma
crise interna, principalmente nas colunas de Canindé Queiroz, proprietário do jornal.
Mesmo assim, ele o fazia dando repercussões aos veículos de comunicação de Natal e
trazendo informações de bastidores sempre nas colunas e nunca nos espaços considerados
mais nobres, como as capas. Já O Mossoroense sempre fazia o papel inverso: o de
minimizar a possibilidade de cisão familiar. O jornal sempre buscava mostrar que a
oligarquia estava coesa e não seria dividida. Estava claro que a família Maia utilizava-se
da Gazeta para fomentar a divisão política dos Rosados, e o Jornal O Mossoroense
cumpria o papel de passar a imagem de que não havia discórdia.
Também não se pode tratar de divisão política dos Rosados sem levar em
consideração o contexto político estadual e a relação com a oligarquia Maia, que nos anos
1970 fez a indicação de dois governadores consecutivos em ocasiões em que Dix-huit
Rosado despontava como o nome a ser escolhido. Os Rosados não perdoaram os revezes
de 1974 e 1978 e romperam com os Maias. A convivência partidária dentro da Aliança
Renovadora Nacional (ARENA) e posteriormente no Partido Democrático Social (PDS)
se deu por mera conveniência política em um contexto de ditadura militar e da
necessidade dos Rosados de se manterem alinhados ao poder central.
Somente no fim de 1984 as coisas ficaram mais claras, quando Carlos Augusto
passou a acompanhar as agendas do governador José Agripino em Mossoró e seguiu a
orientação do governador de votar (na condição de delegado indicado pela Assembleia
Legislativa) em Tancredo Neves no colégio eleitoral. Vingt seguiu votando em Paulo
Maluf.
O segundo semestre de 1984 pode ser visto como o período de divisão política da
oligarquia, embora os jornais não tenham precisado uma data. Do ponto de vista formal,
a data correta seria 8 de outubro, quando Vingt Rosado e Dix-huit deixaram o PDS e
migraram para o PMDB (notícia em O Mossoroense, na edição de 9 de outubro). Naquele
momento, Carlos Augusto organizava o PFL, que viria a ser fundado na sequência. Foi
122
nesse momento que a família Rosado se apartou do ponto de vista partidário. Só naquele
momento, cada um seguiu seu rumo político de forma independente.
Apesar desse quadro, as hostilidades foram raras nas eleições de 1986. O clima de
acirramento só aumentou no pleito de 1988 e ganhou ares de consolidação quando Dix-
huit deixou o grupo de Vingt Rosado, fato que foi interpretado como a verdadeira divisão
familiar pelos jornais da época.
Porém, Dix-huit nunca formou um grupo próprio, como Carlos Augusto o fez ao
se afastar do tio. Ele oscilou entre o chamado rosalbismo (grupo de Carlos Augusto) e o
rosadismo (grupo de Vingt, que foi herdado por Laíre Rosado) com quem se realinhou
em 1992, e tendo a sobrinha Sandra Rosado (filha de Vingt) como vice derrotou o grupo
de Carlos. Ele morreu prefeito em 1996, rompido com as duas alas da família.
A formação dos dois blocos deu o tom da política mossoroense nos anos seguintes.
A ramificação de Dix-sept Rosado representada por Carlos Augusto manteve-se alinhada
à família Maia e o ramo de Vingt Rosado seguiu a política dos Alves no Estado.
REFERÊNCIAS
ALVES, Aluízio. O Voto Camarão. Mossoró - RN: Fundação Vingt-un Rosado, 1999.
p. 6 (Coleção mossoroense, série B; n. 1658).
BECKER, Jean-Jacques. A opinião pública. In Rémond René. Por uma história Política.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, 2 Ed.
BERSTEIN, Serge. In Rémond René. Por uma história Política. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2003, 2 Ed.
BONFIM, João Bosco Bezerra. Ideologia no Discurso da Mídia – O Poder das Palavras
e as Palavras do Poder. In MOTTA, Luiz Gonzaga (Org.). Imprensa e Poder. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 2002.
Bourdieu, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Corrêa, Mariza (trad.).
Campinas, SP: Papirus. 1996.
CARR, Edward Hallet. Que é História? Trad. Lúcia Maurício de Alvarenga. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2002, 3 Ed.
FARHAT, Said. O fator opinião pública: como se lida como ele. São Paulo: T. A.
Queiroz, 1992.
______. Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010, 7 Ed.
______. Microfísica do poder. Machado, Roberto (trad.). São Paulo: Edições Graal, 23
Ed, 2013.
126
GERSON, Mário. Gazeta do Oeste: 30 anos sem meias palavras. Nem meias verdades.
Mossoró: Queima Bucha, 2005.
HERNANDES, Nilton. A mídia e seus truques: o que jornal, revista, TV, rádio e internet
fazem para captar e manter a atenção do público. São Paulo: Contexto, 2006.
KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: norte e sul. Trad. Rafael Varela Jr. São
Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2011, 2 ed.
MIGUEL, Luís Felipe. Mito e discurso político: uma análise a partir da campanha
eleitoral de 1994. Campinas: Editora Unicamp, 2000.
SHUSTER, Karl. Ver e não ver: por uma história do tempo presente. Disponível em:
<http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=385
1:ver-e-nao-ver-por-uma-historia-do-tempo-presente&catid=36&Itemid=127>. Acesso
em 15 de jul. 2015.
128
RÉMOND, René. Por que a História Política? Rio de Janeiro: Estudos Históricos, vol.
7, n 13, 1994, p, 7-19.
______ Uma História Presente. In ______. Por uma história Política. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2003, 2 Ed.
______. Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. 2 ed. Florianópolis:
Insular, 2005.