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2014\2015
Economia Política II
Dr. João Nogueira de Almeida
Bibliografia utilizada:
João Assunção
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Economia Política II | João Assunção
Capítulo XI – A Moeda
1. Origem
-Depois de, numa fase primitiva, os homens terem sido autossuficientes, com os primórdios
da vida social passou a verificar-se alguma especialização, produzindo, cada um, para além
do requerido para o seu sustento e o seu bem-estar. Passou-se, deste modo, de um estado de
autossuficiência, para um estádio de relações de troca, mas de troca diretas, de produtos
por produtos.
A troca direta tinha enormes dificuldades, pressupondo que quem tivesse produtos
materiais excedentários encontrasse, em cada momento, quem os quisesse e dispusesse,
por seu turno, dos bens desejados pelo primeiro.
Determinados bens começaram, então a ser utilizados como intermediários nas trocas.
No entanto, nenhum destes bens poderia oferecer as vantagens proporcionadas por
alguns metais.
Trata-se de produtos divisíveis em qualquer quantidade, imperecíveis e
homogéneos. Para além disso, sendo metais raros, como o ouro e a prata, podem
concentrar grandes valores em pesos e volumes modestos.
3.1. Motivo-Transações
-Um primeiro motivo de detenção de moeda prende-se ao facto de não existir coincidência
entre os recebimentos e os pagamentos. Por exemplo, o trabalhador por conta de outrem
recebe ao mês mas tem de despender diariamente dinheiro com as suas despesas. O mesmo
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se passa com os empresários, que recebem pela venda das mercadorias uns tempos depois
mas têm de fazer pagamentos com mais frequências.
No primeiro caso manter-se mais ou menos moeda em saldo líquido depende,
naturalmente, do rendimento do trabalhador, sendo maior a detenção média por um
cidadão com grandes rendimentos do que por um cidadãos com rendimentos modestos.
Chama-se, por isso, ao motivo-transação dos indivíduos “motivo-rendimento” de
preferência pela liquidez.
No segundo caso, dependerá do volume de negócios da empresa, sendo maior a
necessidade de detenção por quem tenha uma grande atividade. Chama-se, por
consequência, “motivo-negócios” ao motivo-transações dos empresários.
Para além disso, a procura de moeda pelo motivo-transações dependerá da
frequência dos pagamentos, tendo, o trabalhador ou empresa, de deter mais
moeda se for menor a frequência dos recebimentos.
3.2. Motivo-precaução
-Pode também guardar-se dinheiro para se fazer face a pagamentos a que não possa
corresponder-se com os rendimentos regularmente recebidos. Não tem de se tratar
necessariamente de despesas imprevistas, poderá tratar-se de uma despesa prevista mas não
comum;
-Ser maior ou menor a detenção da moeda dependerá, também, do rendimento do indivíduo.
Para além disso, dependerá, também, de circunstâncias pessoais e institucionais:
Circunstâncias pessoais: Dependerá, em grande medida, do temperamento das
pessoas – Enquanto uma pessoa pessimista se prevenirá guardando somas avultadas de
dinheiro, já uma pessoa otimista nem pensará nessas eventualidade, preferindo gastar
o seu rendimento em consumo;
Circunstâncias institucionais: Dependerá, em grande medida, da não existência de
instituições que correspondam às situações imprevistas (Ex: Sistema hospitalar
eficiente e grátis).
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3.3. Motivo-especulação
-Este motivo está ligado à possibilidade de se ganhar dinheiro com alterações nas cotações
de títulos comprando-os quando a cotação é baixa e vendendo-os quando a cotação é alta;
-Revela-se, por este motivo, atrativo ter dinheiro em carteira para comprar os títulos quando
a sua cotação é baixa, na expectativa de os vender mais tarde, quando a cotação for mais
elevada;
-Passa-se a preferir o dinheiro a títulos quando o juro está baixo e a cotação alta. Começa,
então, a recear-se que o juro, depois de atingido o ponto mais baixo, comece a subir, fazendo
baixar a cotação dos títulos. Os especuladores apressam-se, por isso, a vendê-los, preferindo
a moeda, que será mantida até que volte a ser a atrativo comprar títulos.
3.4. Motivo-financiamento
-Trata-se, neste caso, de procurar moeda na expectativa de se fazer um investimento num
projeto que se julga atrativo. Quando se pondera a realização de um investimento comparam-
se os ganhos com os custos previsíveis, sendo os ganhos avaliados pela taxa interna de
rentabilidade e os custos pela taxa de juro do mercado.
As expectativas de ganho acabam por depender do rendimento disponível na
sociedade, que influencia a preferência pela liquidez;
No que respeita ao custo, sendo dinheiro aforrado pelo próprio há um custo de
oportunidade, ou seja, a remuneração que seria conseguida com a sua colocação no
mercado financeiro, através do recebimento de juros, podendo-se concluir que a taxa
de juro do mercado também influencia a preferência pela liquidez.
3.5. Motivo-colocação
-Temos este motivo, de acordo com o qual se detém moeda como mera forma de detenção de
riqueza, da mesma forma que se detém riqueza em jóias, quadros ou imóveis. Trata-se de
“ver” a moeda na sua função de reserva de valor;
-Todavia, não será atrativo deter moeda com este objetivo numa época de inflação, dado que
se trata de um bem que perde valor na medida da subida dos preços;
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-A procura de moeda pelo motivo-colocação depende da taxa de juro do mercado, dado
que quem guarda moeda renuncia ao juro que poderia obter emprestando-a.
4. Espécies de moeda
-Existem, basicamente, 4 tipos de moeda, por seu turno com subdivisões, com relevos que se
foram alterando ao longo do tempo.
4.1. Moeda de metal
-O primeiro tipo de moeda a surgir foi a moeda metálica, com a cunhagem de metais raros e,
por isso, de alto valor. Há que considerar, neste ponto, dois tipos de moeda.
4.1.1. Moeda-mercadoria
-A moeda-mercadoria é a moeda de metal que vale pelo seu peso, sendo indiferente ter o
metal amoedado ou não. Neste tipo de moeda existe uma equivalência entre o valor facial e o
valor do metal correspondente no mercado dos capitais.
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-Querendo os depositantes das moedas ficar com provas do seu depósito, os depositários
entregavam-lhes certificados dos depósitos feitos. Precisando de fazer pagamentos, o
depositante levantava as suas moedas, contra a apresentação desse mesmo certificado.
-Começou, contudo, a acontecer com frequência que os credores depositavam, novamente o
pagamento, contra o recebimento de um novo certificado. Passou-se, então, a considerar que
seria preferível que os depositantes iniciais passassem a entregar os certificados dos
depósitos aos seus credores;
-Apareceu, deste modo, a moeda representativa, assim chamada porque os certificados
representavam os montantes correspondentes, em moedas metálicas ou outros valores, que
estavam depositados.
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porque se confie na sua conversão, mas porque foram decretadas como moeda legal.
Atualmente, é a única forma de moeda de papel.
M1
Massa Monetária M2
M3
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que no fim de um determinado prazo este deverá pagar, ao credor ou a um terceiro, o
montante da dívida;
Reconhecendo a dívida, o devedor assina a letra, passando a figurar como aceitante.
-Acontece, todavia, que, com grande frequência o tomador da letra (a pessoa a quem o
pagamento deve ser feito), não pode aguardar até ao vencimento do prazo para receber o
montante. É o que acontece com as empresas que, tendo que ir pagando as suas despesas
frequentemente, não podem aguardar tanto tempo pelos recebimentos. É em correspondência
a esta necessidade que aparece a operação de desconto.
O tomador da letra dirige-se ao banco e solicita o seu desconto, que consiste no banco
ficar com a letra contra a entrega da verba mencionada, deduzida de um determinado
montante;
Para o banco trata-se de uma operação com garantia reforçada, uma vez que, em caso
de incumprimento do devedor (aceitante ou sacado) responde, também, o sacador (ou
mesmo o tomador se for uma pessoa diferente);
É, além disso, uma operação que lhe proporciona um ganho. O desconto é, no fundo,
o juro cobrado pela cedência do dinheiro ao tomador da letra.
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No segundo caso, o banco empresta apenas a sua assinatura, aceitando uma letra. Só
sairá dinheiro se o beneficiário do negócio não cumprir com o seu compromisso,
assumindo o banco a sua responsabilidade.
6. A criação de moeda
6.1. A criação da moeda metálica e da moeda de papel
6.1.1. A criação da moeda metálica
-Quando se tratava de moeda mercadoria, o próprio mercado encarregava-se de encaminhar
as coisas no sentido desejável, não havendo o risco de o valor facial se afastar do valor do
metal incorporado em cada espécie monetária.
Assim acontecia como consequência da cunhagem livre e a venda a peso das moedas
(fundidas ou não).
Se o valor do metal descesse, passando a valer menos que o valor facial, os
detentores do metal procediam à cunhagem do metal, ganhando a diferença
entre o valor facial e o valor do metal. Fruto disto, passava a haver menos oferta
no mercado dos metais, subindo consequentemente o seu preço, até,
aproximadamente, o valor facial da moeda, deixando de valer a pena continuar a
proceder à cunhagem;
Se o valor do metal subisse, passando a valer mais que o valor facial, os
detentores das moedas passavam a vendê-las a peso, recebendo a diferença entre
os dois valores. Fruto disto, passava a haver uma oferta de metal no mercado,
que levava à diminuição do seu preço, até ao ponto em que o valor do metal e o
valor facial correspondiam.
-Não tendo sentido manter esta moeda, atualmente a única hipótese que pode pôr-se é a de
haver uma moeda com um valor facial superior ao valor metálico.
É, por isso, uma atividade muito rentável, cujos ganhos passaram a reverter para os
Estados, que detêm o monopólio da emissão das moedas metálicas.
Com a adoção do Euro a tarefa de cunhagem pode caber aos Estados-membros,
tendo, todavia, a emissão de ser autorizada pelo Banco Central Europeu.
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6.1.2. A criação da moeda de papel
-Quando a moeda de papel era convertível, designadamente nos tempos da moeda
representativa e fiduciária, levantava-se a questão de saber como garantir dois objetivos
em simultâneo: O objetivo da segurança da convertibilidade e o objetivo da elasticidade
da oferta da moeda, adequando-a às necessidades de pagamento. Duas escolas:
De acordo com a escola monetária (em que se distinguiu Ricardo), defensora do
princípio monetário, a circulação das notas deveria cingir-se estritamente a uma
reserva-ouro, ou seja, deveria haver, apenas, moeda representativa. Além da razão de
segurança de conversão, só assim se evitariam inflações duradouras;
De acordo com a escola bancária (em que se distinguiram Tooke e Thornton),
defensora do princípio bancário, não haveria esse risco, dado que as notas não chegam
ao público por capricho das autoridades, mas sim na sequência das operações ativas
solicitadas pelo público, de acordo com a evolução da economia.
Numa das escolas tinha inteira razão. No que respeita à escola monetária, era
criticável pela sua rigidez excessiva, levando à escassez de meios de pagamento.
Quanto à escola bancária, não tinha razão na desvalorização do receio de
inflação, que, de facto, pode surgir, designadamente como consequência de
políticas menos corretas das autoridades.
No reconhecimento destes erros veio a consagrar-se a exigência de
reservas nos bancos emissores, com as quais tinha-se que evitar os dois
tipos de riscos apontados
Não poderiam ser reservas limitativas da emissão necessária;
Não poderiam ser demasiado permissivas, talvez mesmo
incentivadoras de um exagero de emissão, levando a inflações.
o A solução encontrada foi a de haver reservas
proporcionais, com uma percentagem de ouro ou
valores-ouro e a percentagem restante de títulos. Com a
primeira evitavam-se excessos e com a segunda assegurava-
se o interesse na emissão, evitando-se situações de escassez.
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-Sendo agora a moeda de papel-moeda, moeda legal, a problemática acabada de referir
perdeu grande parte do relevo, não se pondo o problema de os bancos terem de pagar notas
apresentadas a conversão. No entanto, mantém-se a prática da exigência de reservas, que
constituem uma âncora em relação a eventuais excessos e, além disso, uma disponibilidade,
de meios de pagamento ao estrangeiro.
No caso do Euro, é o Banco central Europeu que tem o direito exclusivo de autorizar a
emissão de notas na União.
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8. A política Monetária
-A política monetária pode utilizar diferentes instrumentos, a ponderar de acordo com as
circunstâncias da cada ocasião. É tradicionalmente uma política nacional. No entanto, deixou
de o ser com a criação da moeda única.
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Operações principais de refinanciamento;
Operações de refinanciamento a prazo alargado;
Operações ocasionais de regularização;
Operações estruturais.
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pelos depósitos que recebem, sob pena de também, neste caso, estarem a perder
dinheiro.
As taxas anunciadas pelo Eurossistema para a cedência e absorção de liquidez
funcionam como limite superior e inferior para todas as restantes operações.
Nenhum banco estará disposto a obter fundos a uma taxa de juro superior
àquela a que o BCE se dispõe a fornecer nem cederá fundos a uma taxa inferior
àquela a que o BCE se dispõe a pagar.
9. O euro
9.1. As razões da sua criação
-Vejamos os benefícios da criação da moeda única:
a) Em primeiro lugar são de referir os efeitos de eficiência resultantes da existência de
uma moeda única:
Num plano microeconómico, destacam-se os ganhos de eficiência:
Menores custos de transação, resultado de já não haver necessidade
proceder ao câmbio de espécies monetárias e divisas para a concretização
de todos os tipos de relações económicas entre os países da União;
Menores custos de incerteza, por ter deixado de haver imprevisibilidade
em relação a possíveis variações cambiais;
Maior transparência, por não haver a necessidade de se estar sempre a
consultar e a calcular câmbios para se saberem os preços dos bens e dos
fatores nos vários países, evitandos custos de informação e de cálculo.
O afastamento de tais custos tem um impacto extremamente
positivo na taxa de crescimento das economias.
Num plano macroeconómico, tem sido apontada a estabilidade de preços,
proporcionada pela União Monetária.
Com a aceitação desta vantagem, verifica-se a renúncia dos Estados e da
Comunidade a recorrerem à política cambial como mecanismo de
ajustamento conjuntural.
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O grau de integração hoje verificado entre as economias da União
afastou a possibilidade de se manterem políticas monetárias
independentes. Com o mercado único, há, entre os países da União,
liberdade de circulação dos capitais e de prestação de serviços
financeiros; a possibilidade de um país desvalorizar a sua moeda
poderia ser motivo para se verificarem fugas de capitais com graves
implicações.
Num plano financeiro, dever-se-á referir as vantagens provenientes da
necessidade muito reduzida de reservas com uma única moeda no conjunto
comunitário.
No reverso da medalha poderá dizer-se que, deixando os países de cunhar
e emitir a própria moeda, pelo menos, alguns deles, perderam uma
importante fonte de receita. Todavia, podendo esta fonte de receita ser
uma forma de tributação, penalizando a atividade económica dos países e
o conjunto dos cidadãos, pode-se dizer que não se trata de uma vantagem
para a sociedade em geral.
Num plano Económico mundial, com a moeda comunitária, a Europa passa a
poder ter um papel de maior relevo no contexto mundial.
Deste modo, há um ganho para a União, reduzindo-se os custos de
transação, de incerteza e de informação e cálculo na medida do acréscimo
dos pagamentos de transações comerciais com países terceiros que são
feitos em euros e passando a ser maior a capacidade de influência da
União.
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Capítulo XII – A Inflação
1. Noção
-A inflação é a subida continuada e apreciável do nível geral dos preços. Para que haja
inflação não basta uma qualquer subida de preços. Tem que se tratar de um processo, não
bastando uma elevação momentânea, ainda que de grande expressão.
2. Medição
-Levantam-se dificuldades na medição da inflação:
A inflação calcula-se mediante a utilização de índices de preços, que constituem
o modo mais comum e mais prático de comparar níveis de preços no tempo
(sendo o mais utilizado o índice de preços ao consumidor);
Quanto à sua subida, calcula-se através de valores médios ponderados, pois nem
todos os preços se alteram na mesma medida.
Graças a estes dois pontos levantam-se dificuldades na medição da
inflação, dificilmente ultrapassados.
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No que respeita aos bens que se justificam medir as variações de preços, há, ainda,
que os definir bem, quando, sob o mesmo, podem aparecer artigos de qualidade
muito diferente;
Exige-se o apuramento de médias ponderadas. Se uma família comprasse dois
bens – Comida e espetáculos – e os seus preços subissem, respetivamente, de 20
e 100%, uma média não ponderada induzir-nos-ia na ideia de que haveria um
agravamento do custo de vida de 60%. No entanto, de um modo geral, uma
família gastará 90% em comida e 10% em espetáculos. Terá, então, que ser
determinado através do apuramento da média ponderada, onde se tem em conta
quanto a compra de cada bem pesa nas despesas familiares.
Neste ponto recorre-se ao “índice de preços no consumidor” (IPC).
Este índice é calculado através da média ponderada dos preços dos bens
consumidos por uma família típica. Este índice quantifica o custo de um
determinado cabaz fixo de bens de consumo, em diferentes momentos.
Este cabaz é constituído por diversos tipos de bens, sendo atribuído aos
respetivos preços uma ponderação de acordo com os hábitos de consumo
da população. A utilidade do IPC reside no facto de ser, através dele, que
é calculada a taxa de inflação: algebricamente, a taxa de inflação é
calculada como a taxa de variação do IPC entre dois períodos.
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Certos bens muito consumidos, num certo momento, podem deixar de ser gastos
num momento posterior. Tinha sentido incluí-los mas atualmente a sua inclusão já
não se justifica;
A decomposição das despesas familiares vai-se alterando, em relação a bens que
continuam a ser comprados. O facto dos preços de alguns bens subirem mais do que
os preços dos outros leva a que se substitua o consumo dos primeiros pelo consumo
dos segundos. Também as alterações nos rendimentos das famílias, dos seus gostos,
etc., podem levar a diferentes escolhas de bens.
3. Causas
-Ainda hoje não há uma teoria pacificamente aceite acerca do que origina a inflação, a qual,
em muitos casos concretos, parece ser consequência de diferentes fatores Vejamos as
explicações mais comuns.
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O agravamento dos preços verificar-se-á quando já não houver braços desempregados
ou quando, mesmo antes disso, houver insuficiência de equipamento fixo ou de
matérias-primas, não podendo a oferta continuar a responder às exigências da procura.
4. Desenvolvimento
-O desenvolvimento do processo inflacionista não tem que ficar necessariamente marcado
pela causa ou pelas causas que estão na sua origem. Assim, ainda que na sua base esteja uma
subida autónoma de custos, um processo continuado de subida de preços só se verificará se
houver pressões do lado da procura. Para além disso, sem dúvida alimentam a inflação as
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subidas salariais conseguidas pelos trabalhadores como resposta a pressões iniciais da
procura;
-À nova subida de salários segue-se uma nova subida dos preços estabelecidos pelos
empresários, e assim sucessivamente: Temos a chamada espiral preços-salários
-Numa época de inflação o comportamento dos empresários pode ser inflacionista, ainda, por
duas vias:
Passam a fixar os preços em função, não dos custos efetivamente suportados, mas dos
custos atuais ou mesmo futuros dos elementos utilizados;
Em certos casos começam a substituir a aplicação dos seus lucros em mais
investimento por aplicações puramente especulativas, por exemplo em terrenos ou em
jóias, que passam a ser mais atraentes quando as subidas de custos de tal forma se
antecipam que tornam pouco rendosa ou mesmo deficitária a atividade empresarial.
-Também o comportamento dos consumidores tende a ser agravador da inflação. Quando há
expectativas de subidas próximas e acentuadas de preços, compra-se hoje o que, de outro
modo, se compraria mais tarde, deixando-se de aforrar, desentesourando-se recursos ou
recorrendo-se ao crédito.
-Podemos falar de três tipos de inflação:
Inflação moderada: Caracteriza-se pelo ritmo lento da subida dos preços. Podemos
dizer que ela abrange as inflações com taxa anual não superior a um dígito. Neste caso,
o valor da moeda é relativamente estável e as suas variações são, em regra, previsíveis.
As pessoas acreditam na moeda, conserva a sua riqueza em ativos monetários, cujo
valor real esperam que se mantenha estável;
Inflação galopante: É uma inflação com taxas de dois ou três dígitos. Esta gera
distorções económicas perigosas. A moeda desvaloriza rápida e acentuadamente,
quebrando-se a confiança das pessoas, que passam a deter moeda apenas para as
transações diárias, preferindo comprar e armazenar bens. O sistema de preços perde
influência. Muitos contratos passam a ser indexados a um índice de preços ou à
cotação de uma moeda de referência. Esta inflação faz disparar as taxas de juro
nominais, de modo a que os prestamistas não recebam taxas negativas. Receosos da
desvalorização da moeda nacional, muitos capitais fogem para o estrangeiro.
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Hiperinflação: A inflação explode, com taxas anuais que podem atingir até mil
milhões por cento ao ano. A moeda perde todas as suas funções, deixando as pessoas
de a utilizarem como meio de pagamento e como e a evitarem, por completo, a sua
detenção, dado que as pessoas deixam de aceitar ou guardar algo que horas ou minutos
depois já têm um muito menor poder de compra.
5. Efeitos
-Se absolutamente todos os preços subissem exatamente nos mesmos momentos e na mesma
medida, a inflação não teria o significado que, efetivamente, tem. Por exemplo, se subissem
os preços dos bens alimentares e, na mesma proporção, o preço da mão-de-obra, a inflação
não teria qualquer implicação séria na vida das pessoas. No entanto, assim não acontece,
tendo a inflação importantes efeitos, que veremos nos pontos seguintes.
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trabalhadores, beneficiando, por outro lado, os capitalistas ativos, ou seja, os
empresários.
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Num regime de moedas próprias e câmbios flutuantes, um país que visse os seus
preços subir, importaria mais e exportaria menos, logo haveria maior procura e menor
oferta de divisas estrangeiras e menor procura e maior oferta das suas divisas, o que
levaria a que o preço daquelas se elevasse e o destas baixasse. Os produtos
estrangeiros ficavam de novo mais caros em moeda nacional e os produtos nacionais
mais baratos em moeda estrangeira pelo que tendencialmente se restabeleceria o
equilíbrio.
O regime de câmbios flutuantes tem os inconvenientes de tornar o comércio
internacional mais arriscado e de levar a uma grande instabilidade interna.
Compreende-se, por isso, que os países optem por estabelecer sistemas
internacionais que visam a estabilidade cambial, como é o caso do Sistema do
FMI.
Dentro da zona euro não se põe, obviamente, o problema da
desvalorização monetária e cambial. No entanto, também não se prevê
uma política intervencionista cambial por parte da zona euro em relação a
terceiros, antes se optando por uma política de negligência benigna.
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-Numa linha do pensamento Keynesiano, pensava-se que, enquanto houvesse desemprego,
ainda que fosse diminuindo, os salários iam-se mantendo relativamente estáveis. Estes só
subiriam de um modo abrupto quando se chegasse próximo da situação de pleno emprego;
-Passou a entender-se que a baixa inflação e pleno emprego eram objetivos conflituantes.
Resulta disto que a estabilidade de salários monetários (e de preços) só poderá ser
conseguida à custa de um determinado nível de desemprego. Em caso contrário, se se
pretende lutar contra o desemprego, será necessário aceitar alguma subida salarial, tanto
maior quanto menor for a taxa de desemprego que se pretenda alcançar. De qualquer modo,
mesmo com altas subidas de salários não será possível evitar por completo algum
desemprego.
Se se quer controlar a inflação aumenta-se o desemprego, se se pretende
diminuir o desemprego aumenta-se a inflação.
-A opção por um ou por outro destes objetivos é, no fundo, uma opção política. Esta deve ser
tomada considerando os efeitos benéficos do controlo de inflação (estabilidade de preços;
melhor cálculo económico) com os seus efeitos nefastos (desemprego).
-No entanto, o que é que um Estado poderá fazer quando tem, ao mesmo tempo,
desemprego elevado, inflação e desequilíbrio externo? Duas políticas possíveis:
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Política orçamental: Com o aumento da despesa, tende-se a agravar o desequilíbrio
externo e a inflação mas diminui-se o desemprego. Pelo contrário, com a diminuição
da despesa, tende-se a diminuir o desequilíbrio externo e a inflação mas agrava-se o
desemprego;
Política monetária: Esta política, como já vimos, é da competência do Eurossistema e
tem por objetivo promover a estabilidade de preços em toda a zona euro.
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a) Com base nos pressupostos referidos defendeu Smith que haveria comércio
internacional se (e apenas se) houvesse diferenças absolutas nos custos de produção,
ou seja, se um dos bens fosse produzido com menos horas de trabalho num dos países
e o outro bem com menos horas no outro país.
Deste modo, haveria um ganho geral com o comércio internacional, dependendo
a sua repartição pelos países dos termos de troca entre os dois bens.
a) A formulação da teoria
-Trata-se de uma teoria formulada com base nos seguintes pressupostos:
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Dois fatores de produção (ex: trabalho e capital), com mobilidade completa, sectorial e
geográfica, dentro de cada país, mas sem mobilidade entre os países;
Funções de produção iguais nos dois países, mas diferentes na produção de cada um
dos bens, sendo, por exemplo, a produção de A relativamente trabalho-intensiva e a
produção de B relativamente capital-intensiva;
Países diferentemente dotados dos fatores de produção, sendo, por exemplo, um país
mais dotado em trabalho e outro país mais dotado em capital, resultando, naturalmente
que no primeiro, o trabalho mais barato e o capital mais barato no segundo;
Condições tecnológicas dadas, acessíveis nos dois países;
Condições de procura dadas, sendo as preferências dos consumidores idênticas nos
dois países;
Ausência de restrições ao comércio.
O teorema de Hecksher-Olhin distingue-se da teoria clássica ao considerar
funções de produção com dois fatores, iguais nos dois países, diferindo, todavia,
de um bem para o outro. Sendo os países diferentemente dotados nesses fatores,
o preço do trabalho será mais baixo no país onde é mais abundante e o preço do
capital mais baixo no país onde é maior a sua oferta;
Assim, um país conseguirá produzir a um preço mais baixo o bem que seja
trabalho-intensivo e o outro conseguirá produzir a um preço mais baixo o bem
que seja capital-intensivo.
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igualar, ou seja, até ao ponto em que deixe de haver razão para o comércio
internacional.
b) O paradoxo de Leontief
-Leontief, procurando testar o comércio internacional dos Estados Unidos, veio a deparar
com a surpresa de apurar que este país exportava bens mais trabalho-intensivos e importava
bens mais capita-intensivos. Não era este o resultado esperado, dado que os países
considerados no comércio com os EUA eram países menos desenvolvidos, que se esperaria
que exportassem, predominantemente, bens mais trabalho-intensivos. O resultado a que se
chegou veio a ficar conhecido como o “paradoxo de Leontief”
1. Como primeira hipótese para explicar o paradoxo, admitiu-se que este se devia à
circunstância de os cálculos terem sido feitos em relação a um ano excecional (1947),
quando as economias sofriam ainda os efeitos da II Guerra Mundial.
Uma nova realização de testes com base num outro ano veio dar resultados
idênticos, afastando, por isso, esta primeira hipótese.
2. Uma segunda hipótese foi a de o “paradoxo” resultar da grande agregação com que os
setores foram considerados.
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Cálculos feitos com uma maior desagregação levaram ao apuramento de
resultados idênticos;
Sentiu-se a necessidade de encontrar outras explicações, designadamente
através do afastamento de alguns dos pressupostos em que se baseia o
teorema Hecksher-ohlin.
3. Uma primeira ordem de diferentes explicações tem sido a de que o teorema se baseia
na existência de fatores de produção homogéneos (ex: capital e trabalho), não tendo
em conta que são muito diferentes as qualificações do trabalho, podendo, aliás,
considerar-se no capital o investimento feito na formação dos trabalhadores (capital
humano).
Uma correta avaliação da utilização dos fatores deveria ser, ou multiplicando o
trabalho norte-americano por um fator correspondente à sua maior
produtividade, apurando-se que os EUA são um país com grande intensidade de
trabalho, ou calculando no capital humano, podendo chegar-se, assim, à
conclusão de que eram, afinal, mais capital-intensivos os produtos exportados
por esse país.
4. Uma outra explicação do paradoxo pode estar no pressuposta da existência de, apenas,
dois fatores de produção.
Pode acontecer que os EUA importassem produtos com grande intensidade de
capital, não por serem capital-intensivos, mas por terem um conteúdo muito
importante de elementos naturais.
5. Mesmo não considerando mais nenhum fator de produção, o pressuposto da igualdade
das funções de produção nos dois países é outro parâmetro que, quando afastado,
poderá explicar o paradoxo.
Quando os testes foram feitos, não se dispondo de matrizes dos países que
comercializavam com os EUA, procedeu-se ao cálculo com a matriz deste país,
pressupondo-se que as funções de produção (a intensidade na utilização de cada
um dos fatores) fossem as mesmas nos países de onde se importava e para onde
se exportava.
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Economia Política II | João Assunção
Assim sendo, terá acontecido que produtos importados pelos EUA tenham sido
produzidos por processos trabalho-intensivos, mas que nos cálculos feitos
tenham sido considerados como capital-intensivos por ser capital-intensivo o
processo nos EUA.
6. Foi sugerido, ainda, que o paradoxo se explicaria como consequência do pressuposto
da identidade das preferências dos consumidores, podendo acontecer que os
consumidores dos EUA tenham uma maior preferência por bens capital-intensivos,
sendo esta preferência a determinar a procura no exterior, dos bens de tal natureza.
7. Por fim, o paradoxo poderá ser explicado ainda pela circunstância de haver restrições
ao comércio, podendo acontecer que os EUA protegessem mais os bens trabalho-
intensivos, como forma de proteger o emprego no país.
a) Explicações tecnológicas
-Estamos, agora, a analisar teorias que se afastam do pressuposto da imutabilidade das
condições tecnológicas, sendo mesmo o progresso tecnológico o fator desencadeador do
comércio internacional, na medida em que o progresso feito não seja imediatamente
acessível a todos os países.
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Economia Política II | João Assunção
-Neste quadro o comércio seria desencadeado pelo aparecimento de uma inovação
tecnológica num determinado país, levando ao aparecimento de um novo produto, de uma
nova qualidade de um produto ou de uma nova maneira de produzir um produto já existente.
Haver comércio internacional ou não dependeria do intervalo de reação verificado no
outro país, maior ou menor com a “imitação” na produção do bem.
Assim, se no outro país houver uma reação de imitação mais rápida, levando à
produção do produto novo ou melhorado ou à utilização do novo processo produtivo
antes de se verificar uma reação de procura, não chegará a haver comércio
internacional. É, todavia, possível que o intervalo de procura seja menor do que o
intervalo de imitação, começando, por isso, por se importar do país onde se verificou a
inovação. Depois, a evolução poderá dar-se de modos diferentes:
Hipótese de o país não reagir no sentido de imitar a produção iniciada,
continuando a satisfazer o seu consumo com importações;
Hipótese de o país reagir, sendo o intervalo de imitação menor do que a
procura, satisfazendo o seu consumo interno. Depois disto poderá acontecer:
O país inovador volte a fazer uma inovação, reagindo no segundo a
procura primeiro que a imitação;
Cada país continua a abastecer-se a si próprio;
O segundo país ter vantagem comparativa na produção do bem,
tornando-se, por isso, um exportado do produto
Hipótese intermédia, em que o segundo país tem uma reação de imitação que
não chega, todavia, a anular a vantagem comparativa do primeiro, o qual, por
seu turno, volta a inovar, voltando a ter o nível de exportação que tinha antes
da reação de imitação do segundo país.
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-Depois, o autor considera uma sucessão de fases, com a prevalência de países diferentes de
acordo com a dotação e os preços relativos dos fatores de produção.
Um produto novo aparece no país dotado com mais capital, não havendo, aliás, numa
primeira fase, senão um pequeno consumo em outros países;
Estes países começariam, por seu turno, a produzir o produto na fase de “maturidade”,
sendo, no entanto, a produção insuficiente para corresponder à totalidade da procura,
satisfeita, em grande medida, com importações do país inovador.
Esta situação inverte-se na fase de estandardização do produto, tornando-se o segundo
país exportador e o primeiro um importador líquido, a partir de determinado momento.
Acontece, nesta fase, que ganha relevo a produção de países pobres em capital e
salários baixos, que já desde a segunda fase consumiam o produto em causa e nesta
terceira passam a ser seus exportadores líquidos.
b) Economias de Escala
-A existência de economias de escala, com custos médios mais baixos quando são
produzidas grandes quantidades, pode levar também ao comércio internacional, neste caso,
independentemente de haver diferentes dotações de fatores e de haver alguma inovação
tecnológica;
-Sendo indiferente, por não se verificar nenhuma destas circunstâncias, que um país se
especialize num dos produtos e o outro noutro produto, pode acontecer, todavia, que
produzindo cada um dos países os dois bens nunca chegue a ser atingida a escala que lhes
permitiria produzir com custos médios mais baixo, escala essa que já poderá ser atingida
com a especialização de cada um em, apenas, um dos bens, produzido para o mercado
conjunto dos dois países.
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-Teorias recentes vieram tentar explicar o comércio pelo lado da procura, dando relevo às
preferências evidenciadas pelos consumidores;
-Acontecerá, de facto, que numa primeira fase as produções correspondam a estas
preferências, conhecidas, naturalmente, em primeira mão pelos empresários dos respetivos
países;
-Já a médio prazo, não havendo dificuldades no comércio internacional, acaba por se
verificar uma especialização entre os países de acordo com as vantagens comparativas do
lado da oferta, não deixando, por exemplo, os consumidores de um país com preferência por
produtos de alta qualidade de procurar estes produtos num país mais pobre se forem
produzidos, aqui, em melhores condições (de qualidade e/ou preço).
3. As restrições ao comércio
-Vejamos, agora, a temática das restrições, vendo primeiro as formas que podem revestir,
depois os seus efeitos e, por fim, que, estando em causa um objetivo no plano interno, deve
atuar-se neste plano, não se prejudicando a liberdade de comércio.
3.1. Formas
-As restrições tradicionais de comércio podem revestir as seguintes formas:
Impostos alfandegários: Impostos que recaem sobre os bens que são importados.
Estes impostos podem ser utilizados com dois objetivos principais e conflituantes:
Um objetivo protecionista plenamente atingido quando, com a elevação do
preço, nada é importado;
Um objetivo de cobrança de receitas, requerendo um grande volume de
importações efetivamente realizadas.
Restrições quantitativas: podem revestir diferentes formas:
Proibições, proibindo-se, por exemplo, a entrada de determinados produtos por
razões de saúde pública, de segurança ou morais;
Licenciamentos, sujeitando-se as importações à outorga de uma licença,
condicionada por alguma das razões acabadas de referir ou, ainda, por um
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propósito protecionista, sendo concedida a licença se não estiver em causa uma
produção doméstica que se queira proteger;
Quotas, estabelecendo os limites dentro dos quais podem ser feias as
importações;
Restrições ao pagamento: Forma clássica de impor restrições ao comércio
internacional, não se disponibilizando ou limitando-se as disponibilidades de divisas
para pagar as importações, o que leva a que estas deixem de ter lugar, dado que os
empresários dos países exportadores têm, de um modo geral, de fazer, nas suas
moedas, os pagamentos dos fatores de produção, das matérias-primas, dos bens
intermediários e dos equipamentos utilizados na produção.
Variação da taxa de câmbio: O país desvaloriza a moeda como forma de diminuir as
importações e promover as exportações.
-Para além dos obstáculos mencionados, muitos outros se poderiam referir. Trata-se de
obstáculos que ganharam especial relevo aquando do surto protecionista dos anos 70,
conhecido por “novo protecionismo”. Este caracterizou-se, por um lado, por ter
preocupações sectoriais, de defesa de sectores trabalho-intensivos especialmente sensíveis às
importações de produtos vindos de países de mão-de-obra barata, e, por outro lado, pelo uso
de meios de intervenção diferentes dos tradicionais.
Assim aconteceu porque o uso destes meios tradicionais deixou de ser possível ou
fácil face aos compromissos assumidos nas organizações internacionais do que os
países faziam parte.
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3.2.3. Sobre a balança dos pagamentos
-Antes da aplicação da restrição, o volume das importações, onerando em tal montante a
balança de pagamentos, era de AB, sendo o consumo do país, OB, satisfeito por bens
importados e em AO através da produção interna;
-Levando o imposto a uma diminuição do consumo para OB’ e a um aumento da oferta
interna para OA’, na soma destas diferenças (B’B+AA’) há uma diminuição das
importações, que constitui o efeito positivo sobre a balança de pagamentos. É uma
situação em que se mantém alguma importação (A’B’), ou seja, em que o imposto
alfandegário não é proibitivo.
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-Teremos, todavia, uma situação equiparada à de um imposto alfandegário, constituindo
FGJV uma receita fiscal para o Estado, se a quota da importação é atribuída aos
importadores em contrapartida de um pagamento equivalente.
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3.2.6. De bem-estar. A diminuição da “renda dos consumidores”
-Com o aumento do preço acabado de analisar há, contudo, uma diminuição da renda dos
consumidores, renda que consiste no produto das unidades compradas pela diferença entre o
preço por que cada consumidor admitiria comprar o produto e o preço pelo qual consegue
comprá-lo;
-O somatório de todas as rendas é-nos dado pelo triângulo WLM. Esta renda ficará
diminuída na medida de um imposto alfandegário que seja aplicado (O imposto WO/TO),
passando a corresponder ao triângulo TVM;
-Esta perda (WLVT) corresponde a uma perda de bem-estar dos consumidores e a um ganho
do Estado (FGVJ) e dos produtores (WKJT). Desta forma, a renda perdida pelos
consumidores é superior aos ganhos dos produtores e do Estado, na medida em que existe:
O custo da distorção na produção (KFJ), como consequência de se renunciar a uma
produção que, em termos sociais, teria sido mais eficiente,
O custo de distorção no consumo (GLV), como consequência de os consumidores se
verem forçados a comprar os bens mais caros.
São prejuízos que a ninguém interessam, constituindo perdas líquidas da
intervenção alfandegária.
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utilizar um meio também interno e não a via protecionista, podendo evitar-se, desta forma, os
prejuízos de bem-estar a que esta conduz;
Diz-se que a via protecionista não é uma via de primeiro ótimo dado que a melhoria
conseguida é à custa de algum prejuízo,
Estaremos, já, numa situação de primeiro ótimo quando algo fique melhor sem que
nada nem ninguém fique pior, o que poderá ser conseguido com uma intervenção no
plano interno, atingindo, sem outras consequências, o objetivo que é almejado.
4. O protecionismo
4.1. Avaliação geral
-A teoria das divergências veio juntar-se a outros contributos teóricos, mostrando as
vantagens do comércio livre em relação ao protecionismo. Não fica em causa a necessidade
de intervenção pública, deve é tratar-se de uma intervenção correta, promovendo no plano
interno as condições de competitividade. Não há, por isso, consequências sociais e
económicas negativas, para os consumidores e para os produtores que se seguem na cadeia
de produção, tendo de suportar custos mais elevados.
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-Para além desta limitação, não é um argumento do ponto de vista do “bem-estar geral”,
dado que o ganho de quem fica favorecido com a melhoria dos termos do comércio é
prejuízo do país parceiro comercial.
A situação ainda poderá ficar agravada, na medida em que pode haver efeitos
negativos que se multiplicam, na sequência de medidas de represália tomadas pelos
que ficam prejudicados ou como mera consequência de efeitos de rendimento. A
multiplicação destes efeitos negativos acaba por levar a que todos fiquem
prejudicados.
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5. A integração económica
5.2. Formas. O caso da União Europeia
-Os movimentos de integração têm características diferentes, podendo distinguir-se várias
formas, consoante o maior ou menor aprofundamento verificado a diferentes propósitos:
Concessão de preferências, como as concedidas por antigas potências colonizadoras
a territórios que lhes ficaram ligados;
Integração de apenas um ou outro setor, como a Comunidade Europeia do Carvão e
do Aço;
Zonas de comércio livre: Há, entre os países membros, liberdade de movimentos da
generalidade dos produtos, mantendo, todavia, cada um deles a possibilidade de seguir
uma política comercial própria em relação ao exterior;
União aduaneira: Além da liberdade de circulação das mercadorias, há uma política
comercial comum, traduzida designadamente na aplicação de uma pauta única face ao
exterior e na negociação conjunta de qualquer acordo com países terceiros;
Mercado único: Caracterizado pelo afastamento, não só, das barreiras alfandegárias
ao comércio, como também pelo afastamento das “barreiras não visíveis” que
impedem a concorrência plena entre as economias (barreiras técnicas, fiscais, etc.);
Mercado comum: Há a liberdade de circulação dos fatores, designadamente do
trabalho e do capital.
União económica: Numa fase de maior integração, podemos ter a harmonização das
políticas seguidas ou mesmo a prossecução de políticas comuns, envolvendo, já,
alguma transferência de poderes para um âmbito supra-nacional.
União monetária: Há uma moeda comum e uma política monetária comum;
União política: Existe uma união política entre Estados, criando-se, deste modo, laços
estreitos entre os membros.
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-Esta teoria beneficia diretamente do contributo que foi dado pela teoria das divergências
domésticas, ou seja, da aplicação da teoria do bem-estar às intervenções no comércio;
-Na sua exposição teremos que considerar, não só, o que se passa em relação a um segundo
país, no qual podemos simbolizar todos os demais que se integram na união aduaneira, como
também o que se passa em relação a um terceiro país, representando todos os que ficam de
fora;
Podemos considerar que o país III tenha um preço menos elevado (S IIIO) do que o
preço (SIIO) do país II, país a que nos juntamos na União Aduaneira;
Antes da constituição da união aplica-se a mesma tributação às importações vindas de
todos os países, o que leva a que o preço no mercado interno seja o preço TIIIO, sendo
que este é o mais barato e, por isso, o produto escolhido para se importar;
Com a entrada do País II na união aduaneira deixam de ser-lhe aplicados impostos
alfandegários (ou outras restrições), não deixando, todavia, de tributar-se o que vem de
III. Passa, por isso, a importar-se do país II, chegando o bem aos consumidores pelo
preço SIIO;
Há um ganho de bem-estar, no entanto, os ganhos são menores (a e b) do que se
existisse uma extinção total das restrições alfandegárias, também, para o país III;
Por outro lado, a par do ganho referido há um prejuízo de bem-estar,
representado pelo retângulo FGG’F (c). Com a formação da união aduaneira,
passando os consumidores a comprar pelo preço do país II, decompõem-se a
realidade que era representada pelo retângulo FGVJ:
O sub-rectângulo F’G’VJ representa uma situação indiferente de bem-
estar, na medida em que a diminuição da receita fiscal é substituída,
nessa mesma medida, por uma melhoria da renda dos consumidores, que
passam a comprar o bem mais barato;
No entanto, é muito diferente a situação representada pelo sub-retângulo
FGG’F’ (c). Vindo o bem de um país da união aduaneira não é cobrada
receita nenhuma, mas em tal medida não existe um benefício para os
consumidores, obrigados a pagá-lo por SIIO. Trata-se, pois, do sub-
retângulo que corresponde a uma situação a que ninguém aproveita: Nem
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o Estado, que deixa de ter qualquer receita cobrada nas alfândegas, nem
aos consumidores, que suportam um preço mais alto que SIIIO.
Constata-se que a formação de uma união aduaneira, a par de um
ganho, representado pelo somatório dos triângulos a e b, há uma
perda, representada pelo retângulo c, constituindo o ganho o
chamado efeito de criação de comércio e a perda o chamado efeito
de desvio de comércio.
Na análise de uma união aduaneira, procurando ver se com ela há
uma melhoria ou não, há que contrapor o efeito de desvio de
comércio (havendo-o) ao efeito de criação de comércio, só se
verificando um ganho líquido se o segundo for maior do que o
primeiro.
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5.3.3. O aproveitamento de economias de escala
-Uma explicação para a criação de uma união aduaneira (ou de outro espaço de integração) é
a de poder conseguir-se, com ela, a dimensão suficiente para se produzir com custos médios
mais baixos;
-Em vez de cada país produzir todos os tipos de bens com custos mais elevados,
independentemente de qualquer fator de vantagem comparativa, haverá um ganho geral se
cada um se especializar na produção, apenas, de alguns podendo vender no mercado mais
alargado, que abrange o país e seus parceiros comerciais.
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5.3.5. Efeitos de criação de rendimento
-É de dar relevo, também, aos efeitos que uma união aduaneira pode ter no aumento do
rendimento, no período inicial e nos períodos seguintes, designadamente como consequência
dos efeitos do “multiplicador do comércio externo”;
o aumento das exportações do país A cria rendimento que, em parte vai ser
utilizado pelo país A em importações provenientes de outros países. Estes
outros países, com o rendimento das suas exportações vão, por sua vez,
importar mais ao país A que vê, assim, as suas exportações aumentadas ainda
mais.
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Deste modo, ficaria favorecido o espaço formado, mas à custa do prejuízo dos
países ou dos espaços que, na mesma medida, ficam com os termos do comércio
desfavorecidos, não se tratando, portanto, de uma perspetiva de bem-estar geral.
Uma estratégia de bloco pode, todavia, justificar-se se estiver em causa
obrigar-se países protecionistas a seguir as regras do jogo do comércio livre,
sendo, nesta situação uma perspetiva de bem-estar geral.
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