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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0309.16.002258-3/002 Númeração 0022583-


Relator: Des.(a) Ana Paula Caixeta
Relator do Acordão: Des.(a) Ana Paula Caixeta
Data do Julgamento: 30/11/0017
Data da Publicação: 05/12/2017

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. DIREITO DO


CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. CEMIG
DISTRIBUIÇÃO S/A. ATRASO INJUSTIFICADO E DESARRAZOADO PARA
A INSTALAÇÃO DE PADRÃO ELÉTRICO EM IMÓVEL RURAL.
FRUSTRAÇÃO DE EXPECTATIVA LEGÍTIMA. QUEBRA DO PRINCÍPIO DA
BOA FÉ OBJEITVA. ESSENCIALIDADE DOS SERVIÇOS DE ENERGIA
ELÉTRICA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTIFICAÇÃO.
ATUALIZAÇÃO DO DÉBITO.

- A concessionária de energia elétrica responde, objetivamente, pelos danos


decorrentes de serviços defeituosos prestados a seus consumidores (arts. 14
e 22, ambos do Código de Defesa do Consumidor e art. 37, § 6º, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988).

- Comprometendo-se a prestadora de serviço público na instalação de


padrão elétrico em imóvel rural, estabelecendo data determinada para o
cumprimento da obrigação, o desatendimento injustificado do prazo,
acarretando atraso considerável e desarrazoado, frustra a legítima
expectativa do consumidor e infringe o princípio da boa fé objetiva,
acarretando-lhe danos morais, que devem ser reparados.

- Na mensuração do quantum reparatório por danos morais, deve o Julgador


se ater aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, para que a medida
não represente enriquecimento sem causa da parte que busca a
indenização, bem como para que seja capaz de atingir seu caráter
pedagógico, coibindo a prática reiterada da conduta lesiva por seu causador.

- Na atualização do valor da indenização por danos morais, a correção

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monetária deverá incidir a partir da data de seu arbitramento (Súmula nº 362


do Colendo Superior Tribunal de Justiça).

- Cuidando-se de responsabilidade civil contratual, não há razão para


aplicação da Súmula nº 54 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, devendo
fluir os juros de mora a partir da data da citação da parte ré, nos moldes do
art. art. 240 do Código de Processo Civil de 2.015 (art. 219 do Código de
Processo Civil de 1.973) e do art. 405 do Código Civil.

V.V. - 1- O dano moral indenizável é aquele capaz de atingir profundamente


a esfera subjetiva da pessoa, causando-lhe grave dor interna, angústia ou
sentimento de impotência, capaz de lhe subtrair a própria dignidade. O mero
dissabor ou aborrecimento não configura dano moral indenizável; 2- O
descumprimento de contrato somente enseja indenização por danos morais
quando desse decorrerem consequências excepcionais de maior severidade,
ou seja, uma ofensa anormal à personalidade, de modo que não há dano
moral indenizável.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0309.16.002258-3/002 - COMARCA DE INHAPIM -


APELANTE(S): VANDERLEI ALEIXO DE VASCONCELOS -
APELADO(A)(S): CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda a 4ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado


de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e na forma do art.
942 do Código de Processo Civil de 2.015, em DAR PROVIMENTO AO
RECURSO, VENCIDOS OS DESEMBARGADORES 1º E 3º VOGAIS.

DESA. ANA PAULA CAIXETA

RELATORA.

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DESA. ANA PAULA CAIXETA (RELATORA)

VOTO

Cuida-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de f.


89/91, proferida pela MM.ª Juíza de Direito da 2ª Vara Cível, Criminal, da
Infância e Juventude e do Juizado Especial Cível da Comarca de Inhapim,
Dra. Solange Borba Reimberg, que, nos autos da ação de obrigação de fazer
c/c indenização por danos morais ajuizada por Vanderlei Aleixo de
Vasconcelos em desfavor de CEMIG Distribuição S/A, julgou parcialmente
procedentes os pedidos iniciais, nos seguintes termos:

"Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido


formulado por VANDERLEI ALEIXO DE VASCONCELOS contra CEMIG
DISTRIBUIÇÃO S/A para condenar a parte ré na obrigação de fazer já
determinada na decisão de ff. 30/31-v, proferida pelo egrégio TJMG quando
do julgamento do agravo de instrumento interposto, a qual ratifico.

Resolvo, por consequência, o mérito do presente processo, com fundamento


no artigo 487, inciso I, do novo Código de Processo Civil.

Condeno a parte autora ao pagamento de 50% (cinquenta por cento) das


custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o
valor atualizado da causa, com fulcro no art. 85, § 2º, do Código de Processo
Civil, suspensa a exigibilidade, nos termos do artigo 98, § 3º, do mesmo
diploma legal.

Condeno a parte ré ao pagamento de 50% (cinquenta por cento) das

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custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o


valor atualizado da causa, com fulcro no art. 85, § 2º, do Código de Processo
Civil, vedada a compensação (art. 85, § 14, do NCPC).

Com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com as cautelas de praxe e


respectiva baixa".

Em suas razões recursais de f. 97/105, o autor, doravante denominado


apelante, afirmou ser proprietário de uma pequena propriedade rural, na qual
reside com seus familiares; que, por não ser provido o imóvel com energia
elétrica, preencheu formulário de solicitação de atendimento rural,
entregando-o à ré, que, em notificação, informou que o pleito seria atendido
até a data de 09 de junho de 2.015.

Aduziu que, não obstante o prazo estabelecido, a ré não o cumpriu,


deixando-o "às escuras em sua propriedade rural, sendo impossibilitado de
ter uma vida digna por culpa exclusiva do Apelado por nada menos que
cerca de dois anos"; que "a energia elétrica (...) é serviço de primeira
necessidade, essencial ao desenvolvimento da propriedade rural do Apelante
bem como para garantir as mais simples necessidades básicas e confortos
em uma residência, sendo imprescindível para uma vida digna nos dias
atuais".

Pugnou, ao final, fosse conhecido e provido o recurso, reformando-se a


sentença para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos
morais, no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais).

Regularmente intimada, a ré, doravante denominada apelada, trouxe as


contrarrazões recursais de f. 121/126.

Desnecessária a remessa dos autos à douta Procuradoria-Geral de


Justiça.

Conheço do recurso interposto, porquanto presentes os seus

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pressupostos de admissibilidade.

Cinge-se a questão controversa, devolvida à apreciação desta Superior


Instância Mineira, à averiguação da configuração do dano moral suportado
pelo apelante, decorrente de descumprimento contratual atribuído à apelada,
que deixou de providenciar a instalação de padrão de energia elétrica em
propriedade rural, na data aprazada.

Considerando a essencialidade dos serviços prestados pela apelada, a


lide deverá ser apreciada à luz dos ditames da Lei nº 8.078/90, tendo em
vista, ainda, a natureza consumerista da relação estabelecida entre as
partes. Mais especificamente, observem-se as regras trazidas pelo art. 14,
caput e pelo art. 22:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das


obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a
cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Não é demais lembrar, também, que a própria Constituição da República


Federativa do Brasil de 1.988 consagra, em seu art. 37, §

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6º, a responsabilidade civil objetiva das concessionárias de serviços públicos:

Art. 37. (omissis)

(...)

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Assim, a responsabilidade civil da apelada, objetiva que é, prescinde da


demonstração do elemento subjetivo (culpa em sentido lato), bastando, para
o surgimento do dever indenizatório, da configuração dos seguintes
requisitos: I) conduta antijurídica, representada pelo serviço defeituoso; II)
dano moral e/ou material suportado pelo consumidor; III) nexo de
causalidade.

Na hipótese dos autos, o serviço defeituoso prestado pela apelada,


consistente no descumprimento do prazo por ela mesma estabelecido no
documento de f. 15, restou reconhecido judicialmente, operando-se, em
relação a tal aspecto, a coisa julgada, já que não houve inconformismo
quanto a este capítulo da sentença. Veja-se, a respeito, a seguinte
passagem da decisão meritória de primeiro grau (f. 90-verso):

"Quanto ao ponto, o documento de f. 15 demonstra que o prazo estabelecido


para o término da obra seria de até 270 dias, findando em meados de 2015.

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Assim, como a obra somente foi realizada após o ajuizamento da ação,


passados quase dois anos do prazo estabelecido, tenho por evidente a falha
na prestação dos serviços por parte da concessionária ré".

E, mais: no julgamento do Agravo de Instrumento nº 1.0309.16.002258-


3/001, esta 4ª Câmara Cível reconheceu, também, o descumprimento da
apelada frente ao compromisso assumido perante o apelante:

"Noutro norte, a Resolução de nº 414/2010, da ANEEL, ao dispor sobre a


realização de obras necessárias ao fornecimento de energia elétrica,
prescreve, in litteris:

Das Obras de Responsabilidade da Distribuidora

Art. 40. A distribuidora deve atender, gratuitamente, à solicitação de


fornecimento para unidade consumidora, localizada em propriedade ainda
não atendida, cuja carga instalada seja menor ou igual a 50 kW, a ser
enquadrada no grupo B, que possa ser efetivada:

I - mediante extensão de rede, em tensão inferior a 2,3 kV, inclusive


instalação ou substituição de transformador, ainda que seja necessário
realizar reforço ou melhoramento na rede em tensão igual ou inferior a 138
kV; ou

II - em tensão inferior a 2,3 kV, ainda que seja necessária a extensão de rede
em tensão igual ou inferior a 138 kV.

Da análise dos citados dispositivos da norma, vê-se que a distribuidora é


responsável pela realização das obras necessárias ao fornecimento de
energia elétrica em propriedade ainda não atendida, de forma gratuita.

No caso dos autos, observo que a própria parte Agravada, no dia

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09/09/2014, enviou comunicação ao Agravante noticiando que "concluiu os


estudos necessários para viabilizar a realização dos serviços" e que "estes
ficarão a cargo e por conta da CEMIG", tendo em vista que o atendimento a
ser realizado "enquadra-se nos critérios do Plano de Universalização da
Cemig para eletrificação rural" (f. 23, TJ).

Além disso, por meio da comunicação expedida pela parte Agravada, restou
expressamente consignado, em caráter compromissório, que a propriedade
rural do Agravante seria "atendida em até 270 dias" (f. 23, TJ).

No entanto, mesmo depois de transcorrido o prazo de 01 (um) ano e 08 (oito)


meses do término do prazo para atendimento da solicitação, a parte
Agravada, sem qualquer justificativa, não iniciou as obras de eletrificação da
propriedade do Agravante".

Portanto, não há dúvidas quanto à conduta antijurídica praticada pela


apelada.

Relativamente aos danos morais, imprescindível que se verifique se


algum direito da personalidade do apelante restou desrespeitado pelo serviço
defeituoso prestado pela apelada. Isso porque o prejuízo extrapatrimonial se
caracteriza, justamente, pela violação a um dos direitos da personalidade,
legalmente consagrados e protegidos (integridade física, honra, imagem,
privacidade, nome, tranquilidade, dentre outros).

In casu, evidente que a apelada, ao se comprometer em providenciar o


fornecimento de energia elétrica ao imóvel rural do apelante, com a fixação
de prazo, criou, no consumidor, uma legítima expectativa de que o seu
requerimento seria atendido e de que, na data estabelecida, sua residência
estaria guarnecida com o referido serviço.

Ao frustrar a expectativa legítima gerada no apelante, a apelada acabou


por infringir o princípio da boa-fé objetiva e seus deveres conexos, quais
sejam, informação, esclarecimento, cooperação,

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lealdade, proteção e cuidado.

O serviço prestado pela apelada, como já ressaltado em passagem


anterior desta decisão, é essencial (art. 10, inciso I, da Lei nº 7.783/89 c/c art.
11, inciso I, da Resolução nº 414/10 da ANEEL) e, como tal, deve ser
disponibilizado ao usuário de forma adequada, regular, contínua, eficiente,
segura, atual, genérica, cortês na sua prestação e módica em suas tarifas
(artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor c/c art. 6º, caput e seus §§1º
e 2º, da Lei nº 8.987/95).

Atualmente, não se é mais possível conceber o desenvolvimento das


mais corriqueiras atividades diárias sem a presença da energia elétrica. A
disponibilização e utilização do mencionado serviço está relacionada a
momentos de lazer (assistir programas televisivos, utilizar computadores,
acessar a internet, ouvir músicas), a melhorias que são implementadas na
vida humana (conservação de alimentos em refrigeradores, disponibilidade
de água quente em chuveiros, descongelamento de alimentos em micro-
ondas) e à própria segurança.

Além disso, a prestação desse tipo de serviço público, essencial por


excelência, deve ser averiguada sob o prisma dos princípios constitucionais,
dentre os quais se destaca o da dignidade da pessoa humana, que é um dos
fundamentos da República, conforme previsto na Constituição Federal.

Com efeito, o apelante permaneceu, após o término do prazo


estabelecido pela própria apelada, por, aproximadamente, 02 (dois) anos
sem energia elétrica, não podendo o referido fato ser tido, simplesmente,
como mero dissabor ou aborrecimento cotidiano, já que o descumprimento
da obrigação, além de injustificada, acarretou consequências desarrazoadas
e que ultrapassam os liames conceituais daqueles institutos jurídicos.

Sobre o tema, já se pronunciou o Colendo Superior Tribunal de Justiça,


mutatis mutandis:

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RECURSO ESPECIAL. CIVIL. CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL.


SINISTRO. REPARAÇÃO DE VEÍCULO. DEMORA ANORMAL E
INJUSTIFICADA. CIRCUNSTÂNCIA INCONTROVERSA. DANO MORAL.
RECONHECIMENTO. SEGURADO. EXPECTATIVA LEGÍTIMA.
FRUSTRAÇÃO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. VIOLAÇÃO. EXISTÊNCIA.

1. O atraso anormal na reparação de veículo sinistrado gera a frustração


de expectativa legítima do consumidor contratante, situação que revela
violação do dever de proteção e lealdade existente entre segurador e
segurado, promovendo irreparável quebra da confiança, ato ilícito grave e
passível de reparação.

2. No caso concreto, a prestação de serviço foi manifestamente


intempestiva, pois a previsão de 60 (sessenta) dias para efetivação dos
reparos do veículo, exposta inicialmente pela seguradora, foi superada em
inexplicáveis 180 (cento e oitenta) dias. Não há, portanto, como
prevalecer o entendimento adotado no acórdão recorrido de reduzir o
abalo e o transtorno sofrido pela recorrente ao patamar do mero
aborrecimento.

3. A ponderação entre a cláusula geral da boa-fé, especialmente o dever


de probidade - compreendido como a honestidade de proceder-, e a
legítima expectativa do consumidor que contrata seguro de automóvel,
revela como razoável o prazo geral de 30 (trinta) dias para a reparação de
veículos sinistrados, contados da data de entrega dos documentos
exigidos do segurado, nos termos do art. 33 da Circular Susep nº 256, de
16 de junho de 2004, incluídos na esfera do simples inadimplemento
contratual e do mero aborrecimento apenas os pequenos atrasos
decorrentes de circunstâncias excepcionais e imprevisíveis no momento
da contratação.

4. Recurso especial provido para restabelecer a condenação da


seguradora ao pagamento de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), a título de
danos morais.

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(REsp 1604052/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,


TERCEIRA TURMA, julgado em 16/08/2016, DJe 26/08/2016)

Resta, agora, o arbitramento da indenização. Na mensuração do


quantum reparatório por danos morais, deve o Julgador se ater aos critérios
de razoabilidade e da proporcionalidade, para que a medida não represente
enriquecimento sem causa da parte que busca a indenização, bem como
para que seja capaz de atingir seu caráter pedagógico, coibindo a prática
reiterada da conduta lesiva por seu causador.

A respeito do tema, colhe-se a lição de Rui Stoco:

"Assim, tal paga em dinheiro deve representar para a vítima uma satisfação,
igualmente moral, ou seja, psicológica, capaz de neutralizar ou 'anestesiar'
em alguma parte o sofrimento impingido.

A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal


satisfação em justa medida, de modo que tampouco signifique um
enriquecimento sem causa da vítima, mas está também em produzir no
causador do mal impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado.

(...)

O estabelecimento do quantum debeatur deve ser entregue ao prudente


arbítrio do Juiz, ante a falta de parâmetros, salvo aqueles estabelecidos
expressamente pela Legislação de Regência". (in Tratado de
Responsabilidade Civil, 6ª edição, p. 1.683/1.684. Editora Revista dos
Tribunais: 2.004).

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Para a quantificação, deve ser verificada, ainda, a regra trazida pelo art.
944 do Código Civil, segundo a qual "a indenização mede-se pela extensão
do dano".

Nessa perspectiva, sopesadas todas as circunstâncias específicas que


envolveram o caso em questão, parece-me que a importância de R$
7.000,00 (sete mil reais), requerida pelo apelante, revela-se suficiente a
indenizar os danos morais por ele sofridos.

O referido valor deverá ser corrigido monetariamente, a partir da data de


seu arbitramento (Súmula nº 362 do Colendo Superior Tribunal de Justiça),
com a incidência de juros de mora, desde a data da citação. Com relação a
este último termo, não se desconhece que, cuidando-se de relação de
consumo, pouco importa, para a solução da questão meritória central
controvertida, se a responsabilidade se afiguraria como contratual ou
extracontratual, uma vez que a Lei nº 8.078/90 adotou a teoria unitária da
responsabilidade civil, sob a perspectiva da teoria da qualidade, em razão da
imprescindibilidade de uma atuação mais eficiente de suas medidas
tutelares.

Lado outro, a distinção entre a natureza contratual ou extracontratual da


responsabilidade civil lançará efeitos sobre o termo inicial para a contagem
dos juros moratórios. Isso porque a Súmula nº 54 do Colendo Superior
Tribunal de Justiça é bastante específica ao tratar do tema, fazendo-o em
relação à responsabilidade civil extracontratual. Veja-se:

"Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de


responsabilidade extracontratual".

Na hipótese dos autos, entendo que a responsabilidade da


concessionária de serviços públicos é contratual, uma vez que o

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fornecimento de energia elétrica é um serviço colocado à disposição do


consumidor, mediante, contudo, a celebração de um contrato. Vale dizer: os
serviços apenas são prestados, quando existente um contrato previamente
firmado entre as partes, ainda que redigido de forma ampla e geral.

Dessa forma, tratando-se de relação contratual, os juros moratórios


devem fluir a partir da data da citação da apelada, aplicando-se, por
conseguinte, o regramento trazido pelo art. 240 do Código de Processo Civil
de 2.015 (art. 219 do Código de Processo Civil de 1.973) e pelo art. 405 do
Código Civil.

A respeito do aludido ponto, colacionam-se os seguintes julgados do


Colendo Superior Tribunal de Justiça, a título de grata exemplificação:

PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE.
RECUSA DE COBERTURA SECURITÁRIA. DANO MORAL. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. VALOR RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. TERMO
INICIAL DOS JUROS DE MORA. DECISÃO MANTIDA.

1. A jurisprudência do STJ pacificou entendimento no sentido de que a


recusa injusta de plano de saúde à cobertura securitária enseja reparação
por dano moral, ainda que se trate de procedimentos não emergenciais,
uma vez que gera aflição e angústia para o segurado, o qual se encontra
com sua higidez físico-psicológica comprometida, em virtude da enfermidade.
Precedentes.

2. No caso, a recorrente teve negado o fornecimento de material


necessário para a realização de procedimento cirúrgico, embora
formulado oportunamente o requerimento perante a operadora do plano de
saúde. Indenização fixada de acordo com as peculiaridades subjetivas
do caso.

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3. Na linha da jurisprudência do STJ, tratando-se de


responsabilidade contratual, o termo inicial dos juros de mora e da correção
monetária incide, respectivamente, nas datas da citação e do arbitramento.
Precedentes.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AgRg no REsp 1372202/PR, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS


FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 02/02/2016, DJe 10/02/2016) -
grifei.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE


CIVIL. ERRO MÉDICO. QUADRO DE ALGIA CRÔNICA. PERDA PARCIAL E
PERMANENTE DOS MOVIMENTOS DE UMA DAS PERNAS DA
PACIENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO MÉDICO
RECONHECIDA NA ORIGEM. JUROS DE MORA.

RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. CONTAGEM A PARTIR DA


CITAÇÃO.

INDENIZAÇÃO. OBSERVÂNCIA DOS PARÂMETROS DESTA CORTE.


DECISÃO AGRAVADA MANTIDA.

1. Reconhecimento da responsabilidade civil subjetiva do médico e objetiva


da Cooperativa e do Hospital, com apoio na prova produzida dos autos.

2. O termo inicial dos juros de mora, na responsabilidade contratual, é a data


da citação, nos termos do art. 405 do CCB.

3. A relação entre o profissional liberal (fornecedor de serviços) e o seu


cliente (consumidor) nasce, em regra, de um contrato de prestação de
serviços, tendo, por isso, a sua responsabilidade natureza
predominantemente contratual.

4. Inviável a esta Corte revisar o valor da pensão fixado na origem,


providência que não dispensaria o revolvimento do contexto fático probatório.

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5. Não se mostra irrisório o valor das indenizações arbitrado pelos julgadores


em R$ 200.000,00, pelos danos morais, e R$ 100.000,00, pelo dano estético.
Impossibilidade de revisão em face do enunciado 7/STJ.

6. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no REsp 1537273/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO


SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/11/2015, DJe
01/12/2015) - grifei.

Emerge, por fim, o nexo de causalidade, vinculando os danos morais


suportados pelo apelante à conduta antijurídica atribuída à apelada.

Diante do exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, para condenar a


apelada ao pagamento de indenização por danos morais ao apelante, no
valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais), que deverá ser corrigido
monetariamente pelos índices da tabela da Corregedoria-Geral de Justiça do
Estado de Minas Gerais, a partir desta data, com a incidência de juros de
mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir da data da citação.

Condeno a apelada ao pagamento da integralidade das custas


processuais e dos honorários advocatícios, que arbitro, já considerada a
atuação recursal, em 15% (quinze por cento) do valor atualizado da
condenação.

DES. RENATO DRESCH

Trata-se de apelação cível interposta por VANDERLEI ALEIXO DE


VASCONCELOS, contra sentença que, nos autos da ação de obrigação

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de fazer c/c indenização por danos morais, que move em face da CEMIG
DISTRIBUIÇÃO S/A, julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais
para determinar à Ré o cumprimento da obrigação de fazer consistente na
prestação do serviço de instalação e fornecimento de energia elétrica na
propriedade do Apelante, tal como determinado por este TJMG no
julgamento do Agravo de Instrumento nº 1.0309.16.002258-3/002, julgando
improcedente o pedido de indenização por dano moral.

A e. Relatora deu parcial provimento ao recurso para condenar a Apelada


no pagamento de indenização por danos morais ao Apelante, no valor de R$
7.000,00, corrigido monetariamente pelos índices da tabela da Corregedoria-
Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, a partir da data do arbitramento,
com incidência de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação.

Inicialmente é de se ressaltar que inexiste controvérsia acerca da


obrigação da prestação do serviço de fornecimento de energia elétrica à
propriedade do Autor, limitando-se a discussão quanto ao pagamento de
indenização por dano moral.

Peço "venia" à e. Relatora para divergir, por não vislumbrar danos morais
indenizáveis no presente caso, reiterando entendimento adotado em situação
semelhante, na relatoria da Apelação Cível nº 1.0232.14.001151-0/0001 (DJe
16/02/2017).

Dos danos morais

A reparação financeira do dano moral visa uma compensação pecuniária,


e não ressarcimento para o dano ou valor aflitivo causado pelo autor do fato.

No que pertine à possibilidade de ser exigida reparação do dano moral


não há dúvidas, sendo que sua reparação decorre do fato por si só,
independentemente de haver ou não reflexos financeiros ou patrimoniais.

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O dano moral é fixado tanto pelo caráter pedagógico, para compensar


financeiramente a dor, o abalo moral sofrido, quanto para evitar que os atos
dolosos ou culposos não se repitam.

Cahali ensina acerca da matéria:

A indenização deve ser arbitrada pelo juiz com precaução e cautela, de modo
a não proporcionar enriquecimento sem justa causa da vítima; a indenização
não deve ser tal que leve o ofensor à ruína nem tanto que leve o ofendido ao
enriquecimento ilícito. (CAHALI. Yussef Said. Dano moral. 2. ed. São Paulo :
RT, 1995, p. 263)

O dano moral se constitui de sofrimento interior que não se demonstra ou


se apura materialmente sendo, em certas situações, suficiente a explicitação
dos fatos danosos bastando, pelo fato narrado, imaginarmos que nos
encontremos em situação semelhante, como bem elucidado por Yussef Said
Cahali:

Ademais, ninguém pode sentir as dores de outrem, mas ninguém ignora que
as sofreria, em condições idênticas. (Op. Cit. p. 245).

No caso dos autos, o Apelante alega que a demora no fornecimento de


energia em sua residência "acabou desencadeando reações pessoais de
indignação e revolta, acarretando lesão aos valores sentimentais, culminando
na sensação de insegurança social e de inferioridade frente a seus pares na
sociedade" (fls. 07/08).

Todavia, o descumprimento de contrato somente enseja indenização por


danos morais quando desse decorrerem consequências excepcionais de
maior severidade, ou seja, uma ofensa anormal à personalidade. Isso não
está evidenciado nestes autos (AgInt no AgRg no AREsp 742861/BA, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, DJe 01/12/2016).
Veja-se:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. MERO DESCUMPRIMENTO
CONTRATUAL NÃO ENSEJA DANO MORAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DE

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

SERVIÇO NO CUMPRIMENTO DO CONTRATO PARA PASSAGEM


"LIVRE" EM PEDÁGIOS CREDENCIADOS. NÃO COMPROVAÇÃO DE
FATOS QUE ENSEJAM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SÚMULA
7/STJ. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Segundo a jurisprudência do STJ, em
regra, o mero descumprimento contratual não enseja danos morais.
Precedentes. 2. Mediante análise do conjunto fático-probatório dos autos,
tem-se que o eg. Tribunal de origem concluiu que não foram comprovadas as
circunstâncias por que passaram os autores por ocasião do bloqueio da
cancela do pedágio para a configuração do dano moral. Na hipótese, é
inviável rever tal conclusão, tendo em vista o óbice da Súmula 7/STJ. 3. A
incidência da Súmula 7 do STJ é óbice, também, para a análise do dissídio
jurisprudencial, o que impede o conhecimento do recurso pela alínea "c" do
permissivo constitucional. Precedentes. 4. Agravo interno a que se nega
provimento. (AgInt no AREsp 784206/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, DJe 20/03/2017)

Assim considerando, em que pese o inegável transtorno experimentado


pelo Apelante, não vislumbro tratar-se de dano injusto ou lesão a direito, a
justificar a condenação da CEMIG no pagamento de indenização por danos
morais. Não se vislumbra, no presente caso, como afastar a orientação da
jurisprudência, diante da ausência de prova de que houve repercussão
extrapatrimonial no descumprimento do contrato em questão.

Ainda que o Autor tenha feito o requerimento do fornecimento de energia


em sua propriedade e a CEMIG informado a possibilidade de atendimento do
pedido no prazo de "até 270 dias" (fl. 15), isso em 09/06/2014, sendo que até
a data da propositura da ação (15/06/2016) não o tivesse prestado, fazendo-
o somente por força do deferimento de liminar (fls. 79/80), em sede de
agravo de instrumento (fls. 30v./31v.), não vislumbro danos morais
indenizáveis no presente caso.

Portanto, pedindo "venia" à e. Relatora, entendo que deve ser

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mantida a sentença integralmente.

Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO e mantenho a


sentença recorrida.

É como voto.

DES. KILDARE CARVALHO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. MOREIRA DINIZ

Com a divergência.

DES. DÁRCIO LOPARDI MENDES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDOS OS


DESEMBARGADORES 1º E 3º VOGAIS"

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