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Indíce

1 – Introdução ............................................................................................ pág 3

2 – Globalização ........................................................................................ pág 5

3 – Soberania ............................................................................................. pág 7

4 – Efeitos da Globalização nos Estados Soberanos ............................... pág 10

5 – Conclusão .......................................................................................... pág 12

6 – Bibliografia ........................................................................................ pág 15


Globalização e Soberania

1. Introdução

A soberania de um Estado define-se pelo “poder reconhecido ao Estado, face a


outros Estados ou organizações internacionais, de tomar as decisões e empreeder as
acções que julgue necessárias à realização dos fins da comunidade estatal” (Moreira,
1995: 144).
Parece da mais elementar importância estudar o conceito de soberania, isto numa
altura em que muitos autores anunciam já a sua extinção, culpando a globalização cada
vez mais acentuada na cultura moderna. Fernandes afirma que “as transformações
espaciais, os acordos e os tratados celebrados entre os Estados, na mais diversas áreas,
levam a que se proceda a uma revisão crítica do conceito clássico de soberania”
(Fernendes, 2014: 70).
A justificação para essa situação assenta numa clara mudança de paradigma, em
que o controlo das fontes de produção normativa, algo considerado como primordial
para a existência de uma nação soberana, deixam de pertencer ao Estado, passando esse
controlo para organismos internacionais. “A evolução do direito internacional comum
ou geral e o aprofundamento da interdependência dos Estados impõem, com efeito,
crescentes limitações da soberania nacional” (Moreira, 1995: 145).
Visto assim, facilmente se depreende que os Estados perderam a sua autonomia
e independência, se bem que há quem defenda, como são os casos de Hirst e Thompson
(cit em Held xxxxxx, “que a organização política dos Estados é favorecida pela
existência de um sistema mundial de direitos, ou seja, a globalização amplia e
aperfeiçoa a cooperação entre os Estados soberanos sem inviabilizar a independência
das nações.” Posto isto, urge apurar se o processo de extinção da soberania como
consequência da globalização se comprova.
A palavra “globalização” tornou-se comum no vocabulário dos cientistas sociais,
uma máxima central nas prescrições dos economistas, um slogan tanto para jornalistas
como para políticos. Vivemos numa era em que a maior parte da vida social é
determinada por processos globais, em que culturas, economias e fronteiras nacionais
estão constantemente em processo de mutação e expansão.

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Globalização e Soberania

Contudo, e embora haja alguma resistência por parte de alguns países,


nomeadamente os países em desenvolvimento, estes acabam por se sentir indefesos
contra movimentos irreversíveis, restando-lhes apenas aceitar e sujeitar-se, mesmo que
de forma passiva, às imposições de uma cultura cada vez mais globalizada. “Trata-se de
um fenómeno complexo e pluridimensional” (Teixeira, 2000: 19).
O mundo pós-moderno caracteriza-se pela queda das barreiras geográficas. “Este
é um novo dado com que o Estado se vê confrontado e tem profundas impicações na
área da segurança” (Fernandes, 2014: 121).
Na sua grande maioria, os problemas dos Estados são considerados de
responsabilidade global, as deliberações estabelecidas por governos são baseadas em
tratados internacionais ou sob pressão de órgãos internacionais não estatais.
A informação transmitida através dos meios de comunicação, que também tem
abrangência global, é outro factor na mundialização das deliberações de âmbito
internacional.
Presentemente, um dos grandes debates que se trava é a elaboração de um
equilíbrio, de uma justificativa ou de uma alternativa para essa nova ordem mundial. O
desafio contemporâneo é elaborar uma estrutura que corrija a discrepante disparidade
entre a soberania (formal) dos Estados e a globalização (material) que impera na política
internacional, através de “uma dinâmica de difusão, de desconcentração e de
descentralização do poder nas relações internacionais” (Teixeira, 2000: 19).
O objectivo desse equilíbrio é buscar uma forma de inserir os Estados no âmbito
global das relações preservando a sua soberania, que, como veremos no decorrer deste
estudo, é pressuposto básico para a consolidação do Estado democrático de direito. A
preservação dessa soberania tem como objectivo uma maior democratização dos
Estados no contexto local e global.

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Globalização e Soberania

2. Globalização

Segundo Teixeira, globalizaçao “corresponde a um conjunto de processos


políticos, económicos, societários e culturais, cujo sentido geral se traduz numa redução
acelerada das distancias que separam os indivíduos, os agentes sociais, os Estados e os
grandes espaços regionais, criando novas formas de interação estratégica, de
interdependencia económica e de interpenetração social e cultural” (Teixeira, 2000: 19).
O termo Globalização é normalmente utilizado a propósito de um conjunto de
transformações socioeconómicas que têm vindo a atravessar as sociedades
contemporâneas em todos os cantos do mundo. Tais transformações constituem um
conjunto de novas realidades e problemas que parecem implicar acrescidas dificuldades
e novos desafios aos Estados. Nas suas formas mais visíveis, estas transformações estão
frequentemente associadas a inovações tecnológicas. (Campos, 2007).
Uma dimensão essencial da globalização é a crescente interligação e
interdependência entre Estados, organizações e indivíduos do mundo inteiro, não só na
esfera das relações económicas, mas também ao nível da interacção social e política. Ou
seja, acontecimentos, decisões e actividades em determinada região do mundo têm
significado e consequências em regiões muito distintas do globo. “A globalização é um
processo que se tornou uma característica e realidade, na maioria, se não em todos os
domínios, incluindo o político, daí que a compreensão global da intervenção em
assuntos internacionais é condicionada pela forma como foi moldada em termos
funcionais e normativos” (Fernandes, 2014: 117).
Uma característica da Globalização é a desterritorialização, ou seja, as relações
entre os homens e entre instituições, sejam elas de natureza económica, política ou
cultural, tendem a desvincular-se das contingências do espaço. Como nos transmite
Fernandes “embora seja exagerado afirmar ou falar-se no “fim dos territórios” não há
dúvida que espaço nacional e territorial, tal como era conhecido tem cedido terreno para
uma territorialidade difusa, incerta e mutável” (Fernandes, 2014: 121).
Na verdade, o modo como se pensa e define globalização está bastante associado
a um processo complexo e abrangente. A Globalização surge como uma entidade

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Globalização e Soberania

sagrada, do domínio estritamente económico, que existe de um modo independente da


actuação dos homens e mulheres e que deve ser aceite porque é inevitável.

Ao nível dos Estados-Nação e dos seus responsáveis políticos, a ideia da


Globalização como dinâmica inevitável funciona como legitimação para uma atitude de
desresponsabilização face a eventuais consequências negativas do processo de
Globalização em curso.
Algumas perspectivas sobre a Globalização tendem a negar a possibilidade de
intervir e governar o processo. “A controvérsia sobre as virtudes e os vícios da
globalização é bem conhecida. Naturalmente, os seus efeitos podem representar
benefícios para uns e malefícios para outros” (Teixeira, 2000: 20).
Embora o termo Globalização (com o sentido que hoje conhecemos) seja
relativamente recente e só se torne recorrente já na última década do século XX (anos
90), a origem do processo a que chamamos Globalização parece ser bastante mais
remota. A verdade é que já no século XIX alguns intelectuais adoptaram o termo
Globalização para traduzir a ideia de que o processo de modernização implicava uma
crescente integração do mundo (Campos, 2007).
Ao inserir o processo de Globalização na história podemos descortinar
contextos, tendências e acontecimentos que contribuíram para o que hoje denominamos
de Globalização, e tentar perceber o que é realmente novo e o que não o é. Muitos
autores sublinham que as principais dinâmicas socioeconómicas deste fenómeno podem
e devem inscrever-se em processos históricos, não constituindo, portanto, algo de
completamente novo mas sim o progressivo desenvolvimento de tendências anteriores
(Campos, 2007).
No fundamental, a Globalização pode entender-se como o produto do
desenvolvimento do capitalismo à escala mundial e pode, pois, entender-se como
continuidade de uma lógica civilizacional que tem sido designada por modernidade, um
fenómeno social total (multidimensional) que não é completamente recente, nem
inteiramente novo. No entanto, sublinhar que a Globalização está inserida num processo
histórico e é portadora de continuidade, não significa retirar-lhe a sua dimensão de
novidade. Na verdade, a Globalização contemporânea compreende novas dinâmicas
(económicas, políticas e culturais) com importante dimensão e impacto, e que
constituem uma verdadeira transformação do mundo em que vivemos.

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Globalização e Soberania

No essencial, pode dizer-se que o termo Globalização se tornou recorrente


quando se assistiu à passagem de uma internacionalização de certas instituições
económicas de raiz nacional, ou seja, ancoradas em determinados Estados-Nação, para
um processo mais generalizado de integração económica à escala mundial (Campos,
2007).

3. Soberania

O termo “soberania” era utilizado na Idade Média de uma forma distinta da que
foi interpretada no século XVI. A noção de soberano, que qualificava a pessoa do rei,
passa, na Idade Moderna, a caracterizar o Estado moderno, apresentando um novo
significado.
Durante o século XVII abre-se a fase de Estado comercial ou económico, onde
se afirma uma entidade económica autónoma, com um mercado livre interior que se
relaciona com o exterior através de fronteiras aduaneiras, mas que também é a fase
onde, nas relações internacionais, se establece o princípio do livre acesso às fontes de
matéria-prima (Teixeira, 2000: 59).
Já no século XVIII na Inglaterra, aparece o desenvolvimento do Estado Liberal,
onde a afirmação do poder político fica subordinado ao direito e à Contituição, sendo
reconhecidos os direitos jurídicos objectivos e as pretensões jurídicas subjectivas dos
cidadãos. É a fase da consolidação do Estado de Direito como regulação interna dos
poderes do Estado soberano. Só nos séculos XIX e XX se pode falar do Estado nacional
como comunidade popular nacional, com uma origem e memória comuns (Teixeira,
2000: 60).
Com a contínua mutação no panorama internacional, surgem constantemente
novas ameaças “qualitativa e quantitativamente diferentes dos desafios convencionais e
tradicionais dos séculos anteriores, em especial do Séc. XX” (Fernandes, 2014: 68).
Como nos ensina Fernandes, após o término da Guerra Fria e a subsequente
alteração no carácter dos conflitos internacionais, “o debate sobre a responsabilidade
internacional assume novos contornos. Os meios tradicionais de resolução de conflitos,
como as forças de paz, as organizações não governamentais de assistencia humanitária e

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Globalização e Soberania

mesmo as regras de direito humanitário deixam antever insuficiências em algumas das


crises actuais” (Fernandes, 2014: 68).
A urgência em encontrar novas formas de organização política também foi um
factor para a desenraização da noção tradicional de soberania. “Este conceito
intimamente associado ao Estado, tem, tal como este, evoluído através dos tempos,
reflectindo-se esta evolução nas várias formas que o conceito de soberania foi tendo ao
longo da história” (Fernandes, 2014: 69) .
O termo soberania, pode também adquirir variadas dimensões, consoante os
“olhares” de quem a caracteriza ao longo do tempo. Juridicamente falando, “a
soberania-independência do Estado, exprime-se pela subordinação directa e imediata ao
Estado ao direito internacional” (Moreira, 1995: 143).
Neste âmbito o conceito de soberania abarca “a ausência de qualquer vínculo de
subordinação tanto em relação a outros Estados como em relação a qualquer
organização internacional” (Moreira, 1995: 144).
Para a política, a soberania é o exercício da autoridade que reside num povo e
que se exerce por intermédio dos seus órgãos constitucionais representativos.
Aos olhos de Jean Jacques Rousseau, soberano é o povo. Porém, cada cidadão é
soberano e súbdito em simultâneo, uma vez que contribui para a criação da autoridade
(como tal, faz parte da mesma) embora, por sua vez, esteja submetido a esta mesma
autoridade e seja obrigado a obedecer a esta.
Desta forma, para Rousseau, todos os cidadãos são livres e iguais, tendo em
conta que não são mandados por um indivíduo em concreto, recebendo antes ordens de
um sujeito indeterminado que representa a vontade geral (Sousa, 2014).
Ainda que Rousseau tenha sido o maior responsável do conceito de soberania
popular, foi Emmanuel-Joseph Sieyès quem tratou de desenvolver a noção de soberania
nacional. Para Sieyès, a soberania está radicada na nação e não no povo, já que também
se deve ter em conta o legado histórico e cultural e os valores sob os quais foi fundada a
dita nação.
No âmbito do direito internacional, a soberania refere-se ao direito de um Estado
para exercer os seus poderes.

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Globalização e Soberania

Segundo Costa e Silva, o conceito de soberania passa, nos dias actuais, “por uma
completa transformação. Em razão da sua marcada natureza política, das implicações
económicas que lhe são incidentes, das mudanças e dos processos históricos que hoje
gravam, sobremaneira, as ordens interna e externa dos Estados, tornou-se um conceito
jurídico de conteúdo indeterminado, sujeito às circunstâncias políticas do momento
histórico, em suma, uma das noções mais obscuras e mais polémicas no âmbito do
Direito Público e da Ciência Política” (Costa, 2004: 64).
São vários os acontecimentos na política internacional que colocam o princípio
da soberania dos Estados e a sua legitimidade como um assunto de crescente relevância
e discussão em tempos não muito distantes da nossa história.
Em qualquer dos casos, “é a soberania – quer como princípio a limitar em
função de outros valores, quer como objectivo que se persegue – que tem estado no
centro da agenda” (Costa, 2004: 64).
O problema da soberania tem também vindo a ser particularmente discutido por
um conjunto de autores comprometidos com uma visão normativa sobre a política
internacional, no campo do direito internacional, da teoria política e das relações
internacionais.
A soberania, também apresenta duas faces: a interna e a externa. A soberania
interna é a que confere ao poder do Estado a supremacia sobre qualquer outro poder
social existente em seu território. O governo é o responsável pela aplicação do bem
comum a todo o povo, ao passo que os outros poderes sociais representam certa parcela
de pessoas, certa categoria de gentes. Ora, nada mais natural que o interesse da
coletividade se sobreponha o de um grupo. Assim, o termo soberania significa que o
poder do Estado é o mais alto existente dentro do seu território. É chamada, também,
autonomia.
Por outro lado, a soberania externa designa a igualdade entre os Estados, sendo
também chamada independência. a soberania é una, indivisível, inalienável e
imprescritível. É una pois dentro do Estado só vigora um poder soberano, que sobrepõe-
se aos demais. É indivisível pois é o mesmo poder que se aplica a todos os fatos
ocorridos dentro do Estado. É inalienável, uma vez que desaparece aquele que a detém

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quando fica sem ela. E, finalmente, é imprescritível, pois um poder superior não seria
superior se tivesse prazo certo de duração.

Do exposto, podemos concluir que, seguindo a orientação tradicional, a


soberania é a qualidade do poder político que o torna supremo dentro do Estado e torna-
o igual ao poder de outros Estados, sendo tal soberania una, indivisível, inalienável e
imprescritível, não sendo, contudo, arbitrária; ao contrário, é autolimitada pela ordem
jurídica e limitada pela existência de outros Estados (Costa, 2004).

4. Efeitos da Globalização nos Estados Soberanos

O fenómeno da globalização, com a sua amplitude voraz, tem vindo a restringir


a grande velocidade, a legitimidade dos estados, passando estes a adoptar padrões
globais, tanto comportamentais como ideológicos, minando assim a individualidade e as
diferenças intrínsecas à identidade nacional dos países e, por conseguinte, a soberania
inerente ao indivíduo membro destas nações.
O conceito e aplicação do termo soberania têm vindo a sofrer modificações. “As
transformações espaciais, os acordos e os tratados celebrados entre os Estados, nas mais
diversas áreas, levam a que se proceda a uma revisão crítica do conceito clássico de
soberania” (Fernandes, 2014: 70).
Verifica-se uma atual tendência à limitação da soberania dos Estados Nacionais.
Com o fortalecimento das empresas e instituições internacionais, das organizações
supranacionais e daquelas de carácter de integração regional, bem como através do
surgir contínuo e sucessivo de novas regras, através de tratados, convenções, acordos e
instrumentos jurídicos internacionais em geral, o Estado tem visto o seu poder
francamente restringido. “As leis e os tratados do Direito Internacional acabam assim,
por limitar o carácter tendencialmente absoluto da soberania dos Estados” (Fernandes,
2014: 70).
Com efeito, a questão crucial apresentada pela globalização aos Estados
nacionais é se eles se manterão independentes e autónomos. Para alguns estudiosos
entusiastas, a globalização colocaria a soberania no museu da História. Outros, no
entanto, afirmam que o sistema mundial de direitos contribui para o fortalecimento dos
Estados.

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Globalização e Soberania

Podemos afirmar que a soberania está em crise, muito por culpa da globalização
decorrente. A globalização “esvaziou” os Estados, enfraquecendo a sua autonomia e
soberania, uma vez que não têm capacidade para contrapor os ditames da economia
global, nem de proteger a comunidade do seu território. Os processos econômicos,
ambientais e políticos regionais e globais redefinem profundamente o conteúdo das
decisões nacionais. Como afirma Fernandes, “problemas como os da economia, do
ambiente, são problemas que actualmente superam muitas vezes as competências dos
Estados, e os fenómenos globais, parecem querer simbolizar o fim das fronteiras,
obrigando os Estados a novas fermas de inter-relacionamento” (Fernandes, 2014: 70).
A questão ambiental passa a ocupar a agenda do Estado na medida em que as
consequências dessas questões são globais, entre as quais se destaca a diminuição da
biodiversidade. Entendida como um problema transfronteiriço, cujo combate definirá o
futuro da humanidade, o reconhecimento da extensão do problema e do seu caráter
coletivo fez com que o Estado atuasse diretamente na solução da questão. Consoante
nos diz Teixeira, “os movimentos ecológicos são um perturbador irritante para Estados
permissivos e para industrias antiquadas, se bem que a sua acção contribua para a
inovação tecnológica e para a modernização económica” (Teixeira, 2000: 20).
Desta feita, o Estado, para responder aos novos padrões mundialmente
implantados, abdica de algumas funções e avoca outras, consolidando a sua autoridade e
seu poder soberano.
Assiste-se portanto ao declínio do Estado nação, em que o enfraquecimento do
Estado nacional dá-se de duas formas: voluntariamente, quando o Estado delega
competências deliberadamente a instâncias supranacionais, fortalecendo organismos
mundiais, e/ou de forma involuntária, decorrente do próprio processo de globalização.
Aceitar a soberania como poder ilimitado e absoluto do Estado no seu território é
não vislumbrar as mudanças sofridas pelo conceito para adaptar-se à realidade jurídica e
social.
Em sentido diametralmente oposto, o Estado permanece soberano, sem ser
omnipotente na base territorial. Ele é fortalecido pelos processos de internacionalização,
uma vez que é o Estado nacional, em última análise, que detém o monopólio das
normas, sem as quais os poderosos fatores externos perdem eficácia (Cambraia, 2015).

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Nesse sentido, as tendências integradoras e globalizadoras da economia


contemporânea colocam novos desafios para os Estados nacionais.
A resposta a tais desafios evidencia não uma suposta fraqueza dos Estados, mas,
pelo contrário, a sua força e vitalidade. Sendo assim, o Estado passa a atuar, em
algumas situações, com exclusividade como intermediário entre as aspirações políticas
externas e internas e deixa de desempenhar funções eminentemente locais. (Cambraia,
2015).

5. Conclusão

Recolhidas ideias de vários autores e confrontadas essas mesmas ideias,


facilmente se percebe que a globalização envolve países ricos, pobres, pequenos ou
grandes e atinge todos os sectores da sociedade. Por ser um fenómeno tão abrangente,
ela exige novos modos de pensar e analisar a realidade. As coisas mudam muito rápido
hoje em dia, o território mundial ficou mais integrado, mais ligado, numa
“territorialidade difusa, incerta, mutável” (Fernandes, 2014: 121).
Trata-se de um projecto desenvolvido com carácter económico e sob a
supervisão de alguns Estados a fim de garantir os seus interesses. As consequências no
âmbito social parecem claras. O grande agravante que se extrai da globalização é a
perda de poder decisório pelo Estado, a hierarquização entre os Estados acentuou-se,
como o evidencia a gravitação decisiva dos governos dos países mais ricos. Contudo
esta hierarquizaçao poderá significar uma “reforma de estruturas políticas arcaicas e
corruptas” (Teixeira, 2000: 20).
Não podemos negar que a globalização facilita a vida das pessoas, mas para
encarar de forma positiva essas mudanças, o cidadão precisa se manter actualizado e
informado, pois vivemos num mundo em que a cada momento somos bombardeados
com novas informações e recentes descobertas em todos os sectores de uma sociedade.
Importa ainda salientar que a globalização também pode desvalorizar a cultura
nacional de um determinado país, quando países mais ricos se instalam em países mais
pobres, explorando a matéria-prima, aproveitando-se assim da mão-de-obra barata.

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Como é possível verificar na obra de Darc Costa, “a globalização veio acentuar a


evidência de que o estado, como actor internacional, perdera parte da antiga importância
que lhe fora historicamente conferida. (…), e hoje, vê-se ameaçado no seu poder e
limitado na sua acção, - interna e externa- pelas forças económicas e pelas condições
resultantes da redução do seu papel pelo consenso neoliberal e pelas doutrinas
minimalistas, que subordinam os Estados nacionais a organismos multilaterais
interventores dotados de poder regulatório, como o Fundo Monetário Internacional, a
Organização Mundial do Comércio, O banco Mundial, etc.
“O processo que configura a perda gradual de poderes soberanos pelo Estado no
mundo globalizado destaca a questão económica, lembrando que, cada vez mais, num
mundo acima das fronteiras nacionais, os factores primários de produção e troca –
dinheiro, tecnologia, pessoas e bens – transitam à vontade, dentro e fora das fronteiras, o
que acaba limitando e dificultando o poder regulador do Estado – mesmo daqueles
dotados de maior capacidade de soberania – sobre esses mesmos fluxos e sobre a
economia” (Costa, xxxxxxxxxxxxxxxx).
A soberania sempre foi um direito socialmente construído, não apenas algo que
podia ser reivindicado simplesmente na base do poder, mas uma qualidade assente num
conjunto de entendimentos comuns, e em evolução, entre um grupo de estados.
Embora em declínio a soberania não está a passar por um processo de complexo
desprestígio. Trata-se sobretudo de um compromisso na ordem interncional e a adopção
de “um determinado comportamento, aceitando uma maior ou menor restrição das
competências discricionárias que até aí o Direito Internacional lhe reconhecia”
(Moreira, 1995: 145).
A soberania toma uma nova forma, uma vez que as funções, os controlos
políticos e os mecanismos reguladores do Estado continuam, a despeito de tudo, a
determinar o reino da produção e da permuta económica e social.
Foi possível retirar também a ideia de que há necessidade de se repensar o
conceito de soberania adaptando-o à realidade actual, moldando o conceito a fim de se
ver nele as características necessárias à soberania nos dias atuais. Não podemos perder
de vista que vivemos a era da informação e esta consideração é essencial para que se
possa compreender o novo papel da Soberania estatal.

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Desde os tempos mais remotos o poder tem suas bases no saber. A difusão deste,
a um número cada vez maior de pessoas, impõe a que se repense as estruturas de poder
existentes.
Assim, a soberania, que sempre esteve associada à noção de territorialidade, vê-
se à mercê de uma nova dinâmica. Uma dinâmica em que o controlo territorial se torna
mais difícil em muitos aspectos.

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Globalização e Soberania

6. Bibliografia

- Campos, L; Canavezes, S. (2007) Introdução à Globalização, Évora, Instituto Bento


de Jesus Caraça.
- Costa, D. (2004) Mundo Latino e Mundialização, Rio de Janeiro, MAUAD Editora.
- Fernandes, J. J. A (2014) OS DESAFIOS DA SEGURANÇA CONTEMPORÂNEA.
Estado, Identidade e Multiculturalismo, Lisboa, Pedro Ferreira-Artes Gráficas, LDA.
- Held, D. (2000) Prós e Contras da Globalização, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.
- Moreira, A. (1995) Estudos em homenagem ao professor Adriano Moreira, Volume I,
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa,
Artes Gráficas, Lda.
- Rousseau, J. J (2013) Do Contrato Social, Principios do Direito Político, São Paulo,
Editora Pillares.
- Sousa, C. S. (2014) Direito e Moral: Universo pós-metafísico da justiça, 2014, 1ª
Edição, Paripiranga, Faculdade AGES.
- Cambraia, H. O. A Globalização, seus reflexos na soberania dos Estados e na
institucionalização do Estado Democrático de Direito e os blocos internacionais: A
viabilização de uma alternativa possível. Consultado no site: www.fmd.pucminas.br em
04 de Janeiro de 2015.

Sites Consultados:

www.conceito.de

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