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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DOUTORADO
SEMINÁRIO AVANÇADO: CIDADANIA E POLÍTICASPÚBLICAS

Acadêmico: Rudy Heitor Rosas


Obra analisada: SINGER, Paul. A cidadania para todos.

O autor inicia com uma importante distinção entre quem pode ser
considerado trabalhador, quem está na categoria autônomo e quem figura como
proprietário ou capitalista. Em geral, um proprietário pode ser na verdade
autônomo e, assim, aproximar-se na classe trabalhadora, o que irá diferenciar
essas posições é a necessidade ou não te ter que trabalhar para se sustentar.
Enquanto autônomos e trabalhadores necessitam empregar suas forças para
sobreviver, o capitalista trabalha somente se quiser, não precisando empreender
esforços.
Isso se faz importante mais a frente, quando a questão central do texto
é trabalhada, quando se parte para a análise do início da proteção social mais
integral e substancial, ampliada e fortalecida no fim do século XIX.
O início dos direitos sociais aparece primeiramente atrelado à noção
de caridade exercida pela Igreja e também pela formação das work houses
inglesas, porém, o que parece ser um caminho para proteger as pessoas mais
necessitadas, acaba logo sendo percebida como uma nova forma de conseguir
um trabalho gratuito (especialmente nas casas de trabalho).
O autor prossegue numa importante evolução histórica, que vai
passar pelos “quebradores de máquinas” como forma de reinvindicação; pelas
Revoluções Americana e Francesa como marcadores da implantação dos
direitos civis, porém com enfoque eminentemente burguês, que não muitos mais
tarde irá demonstrar suas facetas; pela revolução industrial, a proibição dos
protestos/greves, até o retorno da possibilidade sindical na Inglaterra e o
surgimento da teoria marxista.
Porém o ponto central começa com a “generalização dos direitos
sociais” e a “instituição do bem-estar como direito”. O processo é longo e não
acontece de uma só vez, transitando inicialmente pela negação dos
empresários, na manutenção do sistema ortodoxo de economia e pela
coparticipação no custeio, até chegar ao keynesianismo, à universalização e ao
estado de bem-estar social custeado estatalmente como forma de garantir o
pleno emprego.
Bismarck, no fim do século XIX, temeroso com a ascensão dos
partidos operários, implementa na Alemanha medidas de ampliação das redes
de seguro social, inicialmente com a lei se seguro contra acidentes de trabalho
(1881), lei do seguro-enfermidades (1883) e a lei de seguro contra velhice e
invalidez (1889), que em 1911 acabam por ser codificadas como Código de
seguros sociais. Esse período é marcado pelo custeio de parcela desses seguros
pelo próprio trabalhador e pelo empregador e, quase nunca, pelo Estado.
Na Inglaterra, após uma elevação dos direitos sociais, em 1911 nasce
de fato o estado de bem-estar, pois todo custeio acontece por parte do Estado,
focalizando os direitos na busca da cidadania.
Ainda que essa ampliação de direitos sociais estivesse sendo
percebia no mundo, são dois os fatores principais dessa escalada: a Primeira
Guerra Mundial e a vitória bolchevique. A guerra porque esgota a população e
faz com que os governos necessitem “pagar” o débito de ter colocado as pessoas
em posição de perigo, isso favorece o fortalecimento dos direitos sociais; a
revolução porque era uma ameaça socialista verdadeira, logo, os empresários
preferiram ceder, por medo do socialismo se alastrar entre os trabalhadores. Isso
pode ser comprovado pelo crescimento da fatia do PIB destinado ao gasto
público social, por exemplo: entre 1913 e 1929 a Alemanha passou de 4,1% para
11,8%.
As Constituições desse período pós-guerra começam a inserir no
texto os direitos sociais, podendo ser apontado como exemplo a própria
Alemanha, com a Constituição de Weimar e o México.
Após a quebra de 1929 e o surgimento do New Deal americano, outro
ponto surge como central: o deslocamento da ortodoxia econômica para o
sistema de Keynes. Qual é o grande ponto de mutação? O ortodoxo acredita que
o desemprego é sempre voluntário, ou seja, o trabalhador faz um cálculo
utilitarista e opta por não trabalhar, logo, impulsionar o emprego seria gerar
inflação. Já Keynes apontava a necessidade da demanda efetiva, ou seja,
quando não há compra começa a existir o desemprego involuntário, logo, estar
desempregado não é uma escolha, mas sim uma falta de trabalho. Michal
Kelecki completa apontando a necessidade de pleno emprego.
A OIT surge num contexto paradoxal de garantir de um lado o direito
do trabalhador, mas ao mesmo tempo conferir certa concorrência entre os
Estados, já que pagar direitos sociais e trabalhistas encarece os produtos e
coloca setores inteiros em situação desfavorável em relação aos países não
seguidores da OIT.
Porém é com a Declaração da Filadélfia, baseada no Plano
Beveridge, que a OIT se afirma como garantidora do pleno emprego e da luta
pelos direitos sociais. Seguia assim o combate aos cinco gênios malditos da
história: a enfermidade, a ignorância, a dependência, a decadência e a habitação
miserável, através da afirmação e busca dos três “U”: universalidade, unicidade
e uniformidade; tudo isso sob o custeio do Estado. Essa afirmação eleva os
direitos sociais ao patamar de direitos humanos.
Inicia-se assim os 30 anos de ouro do estado de bem-estar social.
O declínio começa com a ascensão do neoliberalismo e o regresso da
ortodoxia econômica. No Brasil, apesar de em 1988 ter sido construída uma
Constituição amplamente social, no início dos anos 90 ela perderia fôlego com o
governo Collor.
Isso se deu pelo monetarismo que, ao trabalhar com o argumento do
aumento da inflação e de que o trabalho deve se regular por ele mesmo no
mercado e não por intervenção estatal, não devendo recair sobre os ombros de
poucos o custeio de muitos, acaba por enfraquecer a esquerda defensora do
keynesianismo.
O neoliberalismo sufoca o estado de bem-estar social.

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