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SE EDUCO, LOGO, TRANSFORMO

Gostaria de iniciar esta reflexão sobre o papel da escola no mundo contemporâneo,


meio que plagiando um grande filósofo francês renascentista René Descartes, quando diante
de um momento de grandes e consideráveis transformações em função da mudança de
paradigma, em que a Terra deixa de ser o centro do Universo e dá lugar ao Sol, o que significou
uma nova visão de mundo, ele afirma de forma categórica diante das Dúvidas geradas em
relação ao Conhecimento dentro deste novo contexto, “Penso, logo, existo”.

E tenho, como resultado da minha prática em sala de aula, refletido e de uma certa
forma me preocupado, com a ação da Escola como Instituição educadora e espaço de
transformação.

Estamos vivendo um momento muito difícil na educação das nossas crianças e


adolescentes. E essa dificuldade está diretamente ligada a este contexto histórico em que
existe uma CRISE generalizada em todos os setores da nossa sociedade. E como a Escola não
pode ser vista de forma desconexa do todo neste contexto social o processo educativo foi
atingido de cheio por esta crise devastadora.

Qual o verdadeiro papel e qual o grau de colaboração da escola na formação integral


dos indivíduos nas suas relações sociais, uma vez que ela gera interferência no modo de ser e
agir das pessoas?

Para darmos uma resposta plausível à questão acima que motivo este artigo, e
entender melhor esse momento em que estamos vivendo, faz-se necessário analisar todo um
processo histórico anterior a este momento que estamos vivendo. É verdade afirmar que a
história é cíclica, e que a esta trajetória cíclica podemos chamar de períodos históricos, e que
no final de cada período, vamos encontrar momentos que podemos chamar de desconstrução,
como resultado de CRISES naturalmente geradas no final do ciclo. Estamos vivendo um final de
ciclo, no qual percebemos um caos instituído nas diversas áreas que compõem o nosso
contexto social econômico, político e, mais preocupante, familiar.

Voltando na História, mais precisamente no Século XV, nos deparamos com um


momento de desconstrução, qual seja, o final de um período de, aproximadamente, dez
séculos de história, o período Medieval, montado num modelo de sociedade estamental
extremamente obediente a sua hierarquia natural e aos preceitos e valores religiosos cristãos
que controlavam o processo de conhecimento da época, e numa economia predominante
agrícola, tal estrutura dava sustentação ao Sistema Medieval.

A partir do século XV, a história toma um novo rumo. Mudanças significativas geraram
um novo sistema sócio, político e econômico. O nascimento do sistema econômico Capitalista,
a instituição de uma sociedade baseada no desenvolvimento de pequenas indústrias
manufatureiras, a classe intelectual mais livre para pensar e, como consequência, o
desenvolvimento das Ciências como construção do saber humano, e aqui encontramos uma
característica que foi própria da época, um homem individualista baseado na ideia do EU
posso, no entanto, saber é PODER. E para acompanhar melhor esta linha de evolução da
história, faz-se necessário referenciar alguns acontecimentos importantes dentro deste ciclo,
tais como, a Primeira e Segunda Revolução Industrial, Primeira e Segunda Guerra Mundial,
Guerra Fria, Globalização Econômica, tudo isso como resultado da capacidade do homem de
pensar e transformar o mundo através da tecnologia, e para fechar, como resultado de tudo
isso, não podemos esquecer a instituição de novos Valores, uma necessidade inerente à
própria evolução, ou seja, novas relações entre o homem e suas crias tecnológicas, novas
relações do homem consigo mesmo e com o outro.

Creio que agora podemos falar da Escola como um espaço onde se aprende e onde se
transforma. Essa seria a Escola ideal. Afirmo seria, já que a resposta é fácil de ser dada: o
Sistema Educacional não acompanhou toda esta evolução antes elencada. Não conseguiu, em
momento algum da história, ser um espaço atrativo onde o aluno pudesse sentir prazer em
estar lá. Historicamente, a Escola foi usada como instrumento para formar alunos em vista de
interesses alheios, ou seja, exteriores e distantes dos seus projetos pessoais. Aqui está parte do
fracasso da escola. Uma Escola que não transforma e que não está preocupada com a
interioridade humana, mas uma Escola que privilegia os interesses exteriores ao próprio
homem. Uma Escola que não cria possibilidades, mas que possibilita a própria alienação dos
seus educandos, gerando limitações e falta de atitudes naqueles que a frequenta.

Outro aspecto importante que mostra este descompasso da Escola na sociedade


contemporânea, é que ela continua sendo uma mera reprodutora de um conhecimento que
não gera no aluno uma visão mais aberta do mundo que o rodeia, não conseguindo evitar que
o aluno faça perguntas do tipo: para que vou aprender este ou aquele conteúdo? O que
caracteriza o real desinteresse dos alunos.

Na verdade, a Escola está sobrecarregada. Como as famílias estão fragilizadas nas suas
relações estruturais, a Escola está tendo que assumir papéis que não fazem parte daquilo que
ela se propôs a fazer como instituição geradora de aprendizagem. O mundo continua num
processo constante de transformações e parece que a Escola não consegue acompanhar e, por
isso, não consegue atender às demandas da sociedade contemporânea gerando, assim, um
certo desencontro entre aquela que simplesmente repete as suas práticas internas e
estagnadas no tempo e uma sociedade dinâmica que se renova a todo instante.

É necessário, portanto, que a Escola repense a sua prática e sua dimensão social,
assumindo o seu papel de agente de transformação, de inclusão e não de exclusão. Para que
isso se torne uma realidade as mudanças devem começar pela construção de um novo
paradigma que vise uma formação mais integral e integrante dos seus educandos, capacitando-
os para enfrentar os reais desafios e exigências da sociedade contemporânea, entendendo que
a Nova Escola Contemporânea deve resgatar a imagem e valor dos seus formadores,
colocando-os não como meros transmissores de conhecimento, mas como um instrumento
necessário e imprescindível na construção de mentes pensantes e, assim, ajudar e incentivar os
seus educandos na busca e na valorização de um conhecimento que primeiro ajude-os a
transformar-se interiormente e, como consequência, provocar uma transformação exterior na
construção de uma sociedade mais humana e mais humanizante, em que a tecnologia seja um
instrumento de aproximação e não de isolamento entre as pessoas, uma Educação que não
retire da pessoas o direito de usufruir o direito maior de todos os direitos humanos, o de
PENSAR.

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