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Santo Antônio de Lisboa: a construção da santidade e suas fontes hagiográficas

Cesar Augusto Tovar Silva∗

Resumo: A vida do português Fernando de Bulhões, conhecido na história como Santo Antônio
de Lisboa, parece ter seguido os moldes da própria história da construção da santidade no
Ocidente medieval: de linhagem nobre, buscou inicialmente a perfeição cristã na vida monástica
e, posteriormente, como franciscano, transitou para a pobreza e a renúncia, conforme o padrão de
santidade próprio de seu tempo. A presente comunicação pretende refletir sobre alguns aspectos
que caracterizaram a construção da hagiografia de Santo Antônio de Lisboa entre os séculos XIII
e XVII.
Palavras-chave: Santo Antônio – hagiografia – franciscanos

Abstract: The life of Fernando de Bulhões, historically known as Saint Anthony of Lisbon,
seems to have followed the patterns that characterized the history of the construction of holiness
in the medieval West: of noble lineage, he originally searched Christian perfection in monastic
life and later, as a Franciscan, moved into poverty and renunciation, as the standard of holiness of
his own time. This presentation intends to reflect on some aspects that characterized the
construction of the hagiography of St. Anthony of Lisbon between the thirteenth and seventeenth
centuries.
Keywords: St. Anthony – hagiography – Franciscans

Santo Antônio não nasceu Antônio. De origem fidalga, o santo veio ao mundo em Lisboa no dia
15 de agosto de 11951, sob o reinado de D. Sancho I (1154-1211). Batizado como Fernando
Martins de Bulhões e Taveira, estudou com os padres da Sé lisboeta em cujas paredes ainda se
encontra um sinal de cruz que, conforme a tradição, o jovem estudante traçara com o dedo diante
de uma constante tentação, que lhe perseguia sob a forma de uma bela mulher. Do episódio

Mestre em História Social da Cultura (PUC-Rio).
1
Conforme a tradição firmada no século XVI por Frei Marcos de Lisboa nas Crônicas da Ordem dos Frades
Menores de S. Francisco.
2

parece nascer a tradição à pureza do santo representada pelo lírio em várias de suas
representações iconográficas.
Por volta de 1210, o jovem Fernando entrou para o Mosteiro de São Vicente de Fora da Ordem
dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho onde permaneceu por quase dois anos. A
proximidade do lar e dos amigos, “importunos para os espíritos piedosos” (FONTES v. 1, 1998:
36), o levaram a solicitar sua transferência para o Mosteiro da Santa Cruz, em Coimbra, onde,
provavelmente, foi sagrado sacerdote (LISBOA, 2001: 141). Aí, na então capital do jovem reino,
teve acesso a uma das mais importantes bibliotecas da Europa, onde se aprofundou no estudo das
obras dos doutores da Igreja, cuja erudição fundamentaria suas pregações nos anos futuros
(FONTES v. 1, 1998: 37).
Em 1219, como porteiro do mosteiro, Fernando conheceu os missionários franciscanos –
Bernardo, Otton, Pedro, Adjuto e Acúrsio – que, a caminho da África, se hospedaram em Santa
Cruz. Ao que parece, o encontro provocou em Fernando profundo interesse pela causa
franciscana. O martírio desses missionários no Marrocos e o retorno de suas relíquias a Santa
Cruz, em 1220, teriam sido determinantes a um novo pedido de transferência do religioso, dessa
vez para a Ordem de São Francisco.
A trajetória até então trilhada por Fernando parecia seguir os moldes da própria história da
construção da santidade no Ocidente. Conforme André Vauchez, entre os vários modelos de
santidade que vigoraram na Europa medieval, nos séculos VI e VIII havia se estabelecido uma
crença segundo a qual “um santo só pode ser nobre e de que um nobre tem mais possibilidades de
vir a ser santo do que qualquer outro homem”. Entre os séculos X e XI, desenvolvera-se entre os
clérigos um ideal de santidade cujo caminho era a vida monástica. O claustro era, então,
considerado “a antecâmara do paraíso”. Contudo, nos séculos XII e XIII – contexto no qual
Antônio viveu –, desenvolveu-se no mundo mediterrânico uma concepção de santidade
identificada com um tipo de vida e um modelo de comportamento cujas bases se encontravam na
pobreza e na renúncia (VAUCHEZ, 1989: 215-220). Ora, Fernando, de linhagem nobre por
nascimento, havia inicialmente buscado a perfeição cristã na vida monástica. Sua transferência
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para a ordem franciscana, porém, significava a opção pela pobreza e pela renúncia, conforme
propunha o novo padrão de santidade.
Como franciscano, Fernando passou a se chamar Antônio. Conforme a Assidua, a mudança de
nome prenunciava sua ação pregadora nos anos que viriam, pois Antônio “significa por assim
dizer aquele que atroa os ares. E na realidade a sua voz, qual trombeta portentosa, quando
expressava entre os doutos a Sabedoria oculta no mistério de Deus, proclamava com ênfase tais e
tão profundas verdades das Escrituras, que mesmo, e nem sempre, o exegeta poderia
compreender a eloquência da sua pregação” (FONTES v. 1, 1998: 39).
Após um breve período na ermida de Santo Antão, nos Olivais, frei Antônio partiu para o
Marrocos em companhia de frei Filipino de Castela, pois segundo a tradição franciscana, eram
aos pares que viajavam seus missionários. A “sede de martírio” o motivava (Ibid.). Contudo, seu
trabalho missionário não chegou aí a se concretizar, uma vez que, acometido de uma
enfermidade, decidiu voltar à terra natal. Uma tempestade, porém, acabou por conduzir sua
embarcação à Sicília.
Em terras italianas, Antônio procurou outros franciscanos. Após seu restabelecimento numa
ermida próxima a Messina, partiu com os outros frades para Assis onde seria realizado um
Capítulo Geral da Ordem. Nessa grande reunião franciscana, realizada no final de maio de 1221,
por ocasião de Pentecostes, seria apresentada uma nova Regra à Ordem.
Nos anos seguintes, designado para o eremitério de Montepaolo, no norte da península, Antônio
se notabilizou como orador e combatente às heresias, o que lhe valeria a notabilidade popular
como Martelo dos Hereges e a nomeação de mestre de teologia da Ordem pelo próprio Francisco
de Assis, conforme atesta a curta carta: “Frei Francisco a frei Antônio, meu bispo, saudação.
Apraz-me que leias a sagrada teologia aos irmãos, contanto que, nesse estudo, não extingas o
espírito da oração e da devoção, como está contido na regra” (ASSIS, 1999: 187).
Ainda na Itália, Antônio teria escrito os esboços de seus sermões, nos quais demonstrou a
erudição adquirida nos anos de estudo em Coimbra. Foi também o responsável pela fundação das
primeiras escolas franciscanas destinadas à preparação de frades.
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Em 1224, com a missão de renovar os estudos teológicos dos irmãos franciscanos, bem como
combater a heresia albigense, Antônio foi enviado à França onde permaneceu até 1227. Seu
retorno à Itália justificou-se pela convocação ao Capítulo Geral que nomearia o sucessor de
Francisco, que havia morrido no ano anterior.
Seus últimos anos foram vividos na Itália, onde crescia sua fama de orador e taumaturgo. Em
1231, Antônio morreu a caminho de Pádua. No ano seguinte, a 30 de maio, foi reconhecido santo
pela bula Cum dicat Dominus, que estabeleceu o dia 13 de junho como data de sua festa
celebrativa. Foi o mais rápido processo de canonização da Igreja. Como santo, passou a ter como
referência as cidades do início e do fim de sua jornada, conforme atestaria Antônio Vieira: “A um
português italiano, e a um italiano português, celebra hoje Itália e Portugal. Portugal a Santo
Antônio de Lisboa; Itália a Santo Antônio de Pádua. De Lisboa, porque lhe deu o nascimento; de
Pádua, porque lhe deu a sepultura.” (VIEIRA, 1997: 279)
Em Pádua, a sepultura que os italianos deram a seu santo se converteu na construção de uma
grande basílica, para onde, em 1263 foram transferidos os restos mortais de Antônio. Conta-se
que, ao abrir o caixão, encontraram a língua do santo incorrupta, vermelha como viva. Esta,
guardada em um relicário, passou a simbolizar o grande pregador que Antônio foi enquanto vivo.

No que tange à vida de Santo Antônio e seus milagres, a Idade Média nos legou cinco legendas
de maior interesse, seja pela proximidade temporal à vida do santo ou pelo fato das demais se
constituírem em resumos dessas primeiras. A primeira delas, a Legenda Assidua, também
conhecida como Legenda Antiquissima, Legenda Prima, ou Vida Primeira de Santo Antônio, foi
assim designada pela palavra que dá início a seu texto.2 Escrita por volta de 1232, pouco depois
da morte de Antônio, por um frade anônimo da ordem dos menores, trata-se de documento de

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Assidua fratrum postulatione deductus nec non et obedientiae salutaris fructu provocatus, ad laudem et gloriam
omnipotentis Dei, vitam et actus beatissimi patris ac fratris nostri antonii caritati fidelium et devotioni scribere
dignum duxi. (Levado por insistente pedido dos irmãos e incitado pelo merecimento da salutar obediência, houve por
bem escrever a vida e os actos do beatíssimo padre e nosso irmão António, para honra e glória de Deus omnipotente
e incremento da caridade e devoção dos fiéis).
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fundamental importância para o estudo da vida do santo, pois além de ter sido construída a partir
de testemunhos contemporâneos a Antônio, todas as demais legendas da época tiveram na
Assidua sua principal fonte de informações. Apesar de sua indiscutível importância, seu texto só
foi amplamente divulgado a partir do século XIX, devido à tradução feita por frei Fortunato de
São Boaventura, cisterciense de Alcobaça, publicado em 1830 sob o título de “Vida e milagres de
Santo António de Lisboa”. Segundo Francisco da Gama Caeiro, a redação da Assidua pode ter
sido uma determinação do papa Gregório IX, por ocasião da canonização do santo (CAIERO,
1995: 6-7). A urgência de sua escrita pode também justificar a ausência de informações acerca do
tempo que Antônio esteve na Itália, cujas informações o autor parece não ter tido oportunidade de
reunir. (FONTES v. 1, 1998: 15)
A Assidua foi construída em três partes organizadas num total de 44 capítulos3. A primeira delas,
que corresponde aos capítulos I a XIV, trata da vida de Antônio. A segunda parte, dos capítulos
XV a XXVII, narra sua morte e canonização, seguida por uma oração final ao santo. Frei
Henrique Pinto Rema, responsável pela introdução à edição portuguesa comemorativa aos 800
anos do nascimento de Antônio (1998), chama a atenção ao minucioso relato sobre a morte e
sepultamento do santo, sugerindo que o anônimo autor da Assidua tenha presenciado esses fatos.
É interessante registrar que os capítulos que tratam da vida do santo não tratam de seus milagres.
Esses só lhe foram atribuídos após a sua morte, conforme atesta também a Bula “Cum dicat
Dominus” que canonizou Antônio: “Enquanto viveu no mundo, possuiu grandes méritos; agora,
vivendo no céu, brilha com muitos milagres, que demonstram de forma evidente a sua santidade.”
(FONTES v. 1, 1998: 24) Na Assidua, somente em sua terceira parte, que compreende os
capítulos XXVIII ao XLIV, é que foram relatados os milagres atribuídos a Antônio. A obra
elenca cinquenta e três milagres – em sua grande maioria relativos à cura –, que justificavam o
seu rápido processo de canonização.

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A primeira e a segunda parte são precedidas por breves prólogos.
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A Vida Segunda, ou Vida de Santo Antônio Confessor, foi escrita por frei Juliano de Spira por
volta de 1235.4 O autor baseou-se na Legenda Assidua, a qual resumiu (em 17 capítulos) com
pouco acréscimo de outras informações. Trata-se, contudo, de um texto cujo bom estilo literário
foi elogiado por Vergilio Gamboso, antonianista que também lhe atribui motivações de ordem
religiosa e política, visto ter sido escrito num momento de tensões dentro da ordem franciscana.
(FONTES v. 1, 1998: 121)
A Legenda Benignitas, cujo nome também se deve à primeira palavra de seu texto em latim, foi
provavelmente escrita por frei João Peckham em cerca de 1280. Foi a primeira legenda a
informar que Antônio contava com trinta e seis anos por ocasião de sua morte, o que permitiu a
datação de seu nascimento. Sua narrativa foi a fonte de hagiógrafos modernos como Lourenço
Súrio que, por sua vez, conforme frei Clarêncio Neotti, foi a provável fonte usada por Antônio
Vieira em seus sermões dedicados a Santo Antônio (VIEIRA, 1997: 22). Além do relato da
inauguração da Basílica de Pádua e da exumação dos ossos do santo, a Benignitas privilegiou o
relato dos milagres operados em vida e incluiu o registro de dois milagres póstumos ocorridos em
Portugal, a saber, a ressurreição de um sobrinho de Antônio e o fato dos sinos das igrejas tocarem
sozinhos durante a canonização.
A Legenda Raimondina, escrita pouco depois de 1293, foi atribuída ao frei Pedro Raymond de
Saint-Romain. Assim como a Legenda Assidua e a Vida Segunda, a Raimondina privilegiou os
milagres póstumos do santo. Dos vinte capítulos que formam a legenda, os seis últimos foram
dedicados a tais milagres.
Na passagem do século XIII para o XIV, frei João Rigauld escreveu a Legenda Rigaldina, a partir
de testemunhos de frades que conheceram pessoalmente o santo. (FONTES v. 3, 1998: 13) Esta
privilegiou a narrativa dos milagres de Antônio, sobretudo aqueles realizados em vida. Segundo
Vergilio Gamboso, “com a Rigaldina assiste-se a uma viragem nítida para o culto do
maravilhoso, mediante o qual Santo António se torna, antes de mais, o Taumaturgo” (Ibid.: 14)

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Frei Juliano de Spira também compôs o Ofício Rítmico de Santo Antônio (c. 1235).
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Por fim, na lista das principais fontes hagiográficas antonianas medievais, cabe acrescentar às
cinco legendas acima referidas o Liber Miraculorum, também conhecido como I Fioretti de
Santo Antônio (Florinhas de Santo Antônio). Seu texto, composto por 66 narrativas de milagres,
integrou a Chronica XXIV Ministrorum Generalium Fratrum Minorum, crônica franciscana do
século XIV provavelmente compilada por frei Arnaldo de Serrano, mas não há certeza se o Liber
Miraculorum se tratava originalmente de obra independente. (FONTES v. 3, 1998: 65-70)
Em Portugal, as principais fontes hagiográficas antonianas remetem aos tempos modernos. As
Chronicas da Ordem dos Frades Menores, de frei Marcos de Lisboa, publicadas em três partes,
respectivamente em 1557, 1562 e 1570, constituíram não apenas a primeira grande crônica
monástica portuguesa, mas também a primeira crônica geral da ordem franciscana. Sua
importância ultrapassou as fronteiras do mundo lusitano, recebendo 85 edições entre os séculos
XVI e XIX, várias delas traduzidas para o espanhol, o italiano, o inglês, o alemão, o francês e o
polonês. Na introdução da edição facsimilada de 2001, pela Universidade do Porto, José Adriano
de Freitas Carvalho registrou: “E sem receio de desmentido, poderá dizer-se que, apesar de
crônicas e anais posteriores visando a história da Ordem, a Europa dos ‘tempos modernos’
conheceu S. Francisco – e dele construiu a sua imagem – através, fundamentalmente, das páginas
de Fr. Marcos de Lisboa.” (LISBOA, 2001: 14)
Às palavras de José A. F. Carvalho tendo a acrescentar que também a imagem que se construiu
acerca de Santo Antônio, e não apenas na Europa, mas também nas colônias, sobretudo
portuguesas, deve muito à obra de frei Marcos de Lisboa. Como exemplo da importância como
fonte de informações que as Crônicas rapidamente assumiram, cito outra obra hagiográfica sua
contemporânea. Trata-se do Flos Sanctorum de frei Diogo do Rosário (1567).5 Essa obra,

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Há uma tendência em confundir o ano da primeira edição do Flos Sanctorum de frei Diogo do Rosário, atribuindo-
lhe erroneamente o ano de 1513 quando, por ordem real, mandou-se imprimir um outro Flos Sanctorum. Sobre isso,
esclareceu Aires do Nascimento, da Universidade Clássica de Lisboa: “A hagiografia conta com exemplos
relativamente abundantes em língua portuguesa. (...) No final do século XV, aos textos soltos e individuais sucedem-
se as colectâneas. Dessa data é o Flos Sanctorum que haveria de ser impresso em 1513; P.e Paulo de Portalegre (m.
1510) compusera também um outro Flos Sanctorum em 4 volumes; em Braga, no ano de 1567 sai o Flos Sanctorum
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organizada por dias de celebrações aos santos, traz como título ao dia 13 de junho (dia de Santo
Antônio): “História da vida do glorioso Santo Antonio de Lisboa, portuguez, da ordem dos
Menores, resumida da que escreveu o bispo D. fr. Marcos de Lisboa, liv. 5o da I parte da
Chronica da dita ordem” (ROSARIO, 1870: 141).
Frei Marcos de Lisboa dedicou todos os trinta e três capítulos do Livro Quinto da Primeira Parte
de suas Crônicas à “vida & maravilhosas obras do padre sancto Antonio de Lisboa, honra de
Padua & de Italia”. (LISBOA, 2001: 47) Além disso, nos demais livros da obra, acrescentou
várias outras informações acerca do santo, sobretudo a respeito de seus milagres.
No século XVII, a hagiografia portuguesa teve como principal produto a obra intitulada
Agiologio Lusitano dos sanctos e varoens illustres em virtude do reino de Portugal e suas
conquistas. Publicada em 4 partes, a autoria das três primeiras pertencem a Jorge Cardoso,
clérigo secular licenciado em teologia pela Universidade de Coimbra. Estas, que correspondem
aos santos e portugueses notáveis celebrados nos bimestres de janeiro-fevereiro, março-abril e
maio-junho, foram publicadas respectivamente em 1652, 1659 e 1666, e dedicadas “aos gloriosos
S. Vicente, e S. Antonio, insignes Patronos desta inclyta cidade Lisboa”.
Ao comparar as fontes hagiográficas medievais às lusitanas, percebe-se que as informações
acerca da vida e dos milagres do santo foram sendo acrescentadas e reelaboradas ao longo dos
séculos. Tampouco o Santo Antônio que a América portuguesa viria a conhecer pode ter sido o
mesmo ao longo dos séculos XVI a XVIII. No início da colonização, a ideia e a imagem
construídas no imaginário dos fiéis provinham, sobretudo, das informações fornecidas pelas
legendae medievais. No entanto, estas, em latim, dependiam da mediação tradutora dos padres.
Na segunda metade desse século, as Crônicas de Frei Marcos de Lisboa, bem como sua versão
resumida no Flos Sanctorum de frei Diogo do Rosário, aproximaram o santo ao mundo
português, na medida em que disponibilizaram o conhecimento de sua vida e seus milagres em
língua nacional. Contudo, coube ao século XVII o mérito de valorizar a nacionalidade de Santo

de Fr. Diogo do Rosário; em 1612 saiu o I vol. (e único) do Hagiológio Lusitano, de Jorge Cardoso.”
(NASCIMENTO, 1988: 16)
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Antônio. A época em que Jorge Cardoso produziu seu Agiologio Lusitano correspondia à época
de afirmação da Restauração portuguesa após o período de domínio espanhol da União Ibérica
(1580-1640). Cabia, portanto, enaltecer os “heróis” da pátria, categoria que incluía os santos
protetores, entre os quais Santo Antônio se tornaria o principal.

Referências bibliográficas:

ASSIS, Francisco de. Escritos. 2 ed. Santo André: Mensageiro de Santo Antônio, 1999.

CAIEIRO, Francisco da Gama. Santo António de Lisboa. 2. v. Lisboa: Imprensa Nacional /


Casa da Moeda, 1995.

CARDOSO, Jorge. Agiologio Lusitano dos sanctos e varoens illustres em virtude do reino de
Portugal e suas conquistas. 5 v. Edição facsimilada (1652 / 1659 / 1666 / 1744). Porto:
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2002.

FONTES FRANCISCANAS III. Santo António de Lisboa. 3 v. Braga: Editorial Franciscana,


1998.

LISBOA, Marcos de (OFM). Crónicas da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco. 3 v.


Edição facsimilada (1614-1615). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001.

NASCIMENTO, Aires do. “Língua portuguesa e mediações religiosas”. Revista ICALP, Lisboa,
v. 14, p. 82-99, dez. 1988.

ROSÁRIO, Diogo do. Flos Sanctorum ou Historia das vidas de Christo e Sua Santissima
Mãe e dos Santos e Suas Festas. Lisboa: Typographia Universal de Thomaz Quintino Antunes,
1870.

VAUCHEZ, André. “O Santo”. In: LE GOFF, Jacques. (Dir.) O homem medieval. Lisboa:
Editorial Presença, 1989. p. 211-230.

VIEIRA, Antônio (SJ). Santo Antônio, luz do mundo: nove sermões. Petrópolis: Vozes, 1997.

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