Você está na página 1de 4

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA FREQUÊNCIA CRÍTICA DA CAMADA F –

(fOF2) DA IONOSFERA COMPARANDO COM O MODELO GLOBAL IRI –


INTERNATIONAL REFERENCE IONOSPHERE NO ANO DE 2012

A. M. M. FERRAZ1, W. L. C. LIMA2
1
Acadêmica do curso de Engenharia Civil no Centro Universitário Luterano de Palmas. Voluntária no PROICT do CEULP/ULBRA. E-mail:
annamaria_1992@hotmail.com
2
Físico. Doutor em Física com ênfase em Materiais Magnéticos e Propriedades Magnéticas. Coordenador do Centro de Física Espacial e
Atmosférica do CEULP/ULBRA

XV Jornada de Iniciação Científica do CEULP/ULBRA

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar o comportamento da frequência crítica (foF2) da
camada F–da ionosfera comparando com o Modelo Global IRI – International Reference Ionosphere
no ano de 2012. Serão analisados parâmetros críticos ionosféricos para o meses de Março e Setembro,
respectivamente cobrindo duas estações anuais, inverno e verão, ambos em dias geomagneticamente
calmos. O estudo da ionosfera é importante quando se trata de comunicação de dados via satélite –
satélite e satélite - terra, pois os sinais eletromagnéticos quando se propagam através da ionosfera
podem ser absorvidos, atenuados, refratados e refletidos. O comportamento da ionosfera na região
equatorial tem sido de grande interesse para a comunidade científica, a cidade de Palmas-TO tem sua
localização estratégia devido à proximidade do equador, região onde se evoluem os principais
fenômenos e processos físicos que afetam a dinâmica da Ionosfera (ABDU, 2001). Neste trabalho, os
dados dos meses já citados recolhidos pela Ionossonda Digital CADI localizada em Palmas- TO,
foram analisados e comparados com o Modelo Global IRI, este último foi desenvolvido a partir de
dados observados em vários lugares do mundo e é a principal ferramenta para prever as propriedades
da Ionosfera em uma determinada região, fornecendo o comportamento médio da camada analisada.
Tais comparações e resultados do Modelo global IRI são importantes para o contínuo aperfeiçoamento
do Modelo. O estudo ainda demonstra quais as previsões do modelo para as variações das frequências
de pico da região F e se estas variações estão próximas das variações observadas.

PALAVRAS-CHAVE: ionosfera; modelo global IRI; frequência da região F.

INTRODUÇÃO: A ionosfera é uma parte parcialmente ionizada da alta atmosfera terrestre e tem um
papel muito importante na radiocomunicação de longa distância. Em relação a sua altitude, a ionosfera
está localizada entre 60 km até várias centenas de quilômetros de altitude e é constituída de regiões
(camadas) distintas. As principais camadas da ionosfera são divididas em três regiões: D, E e F. A
primeira camada é a D, está localizada entre 60 e 90 km de altitude, esta fica mais próxima ao solo e é
a que mais absorve energia eletromagnética, seu comportamento é predominantemente diurno por
aparecer no momento em que as moléculas começam a adquirir energia vinda do sol, permanecendo
somente alguns instantes durante a noite. A camada E, acima da camada D, está localizada entre 90 e
150 km de altitude e possui natureza semelhante à camada abaixo, durante o dia forma- se, e ao chegar
a noite se dissipa. A camada-F, objeto de estudo desta presente pesquisa, é subdividida em F1,
localizada entre 150 e 200 km de altitude e a camada-F2 entre 200 e 1000 km de altitude. A região
F1, está acima da camada E e abaixo da camada F2, esta camada torna- se refletora em determinadas
frequências, sendo que sua reflexão varia conforme a espessura que adquire ao receber incidência
solar. A parte superior da camada-F, a região F2, é a mais importante para as rádio-comunicações
porque possui elevada densidade eletrônica entre 250 e 400 km dependendo do tempo e do lugar, sua
altitude varia conforme a hora do dia, época do ano, condições de vento e ciclos solares. Este trabalho
tem o objetivo de estudar a Frequência crítica da camada F – foF2, a partir de ionogramas gerados pela
ionossonda situada em Palmas- TO, reduzidos pela ferramenta computacional UDIDA (UNIVAP
Digital Ionosonde Data Analysis), e comparados com o comportamento médio da ionosfera obtidos
pelo Modelo global IRI (International Reference Ionosphere – IRI ).
MATERIAL E MÉTODOS: Neste trabalho foram utilizados dados coletados por uma ionossonda
tipo CADI (Canadian Digital Ionossonde) localizada em Palmas/TO(PAL; 10.2_S,48.2_W; dip
latitude 6.6_S ), dos meses de Março e Setembro de 2012, tomando- os por abranger as estações
inverno e verão. A CADI é um radar que transmite e recebe pulsos eletromagnéticos de frequência
variável entre 1 e 20 MHz. A CADI é responsável por coletar dados de 5 em 5 minutos em forma de
ionogramas, que são representações gráficas da frequência emitida em função da altura de reflexão
que ocorre na ionosfera. Os dados coletados na forma de ionogramas são analisados utilizando o
programa UDIDA (UNIVAP Digital Ionosonde Data Analysis). A ferramenta UDIDA possui várias
funcionalidades como: análise de ondas gravitacionais, ondas planetárias, iso frequências, entre outras.
Neste trabalho a vertente utilizada do programa UDIDA foi a ferramenta de redução de dados, que
possibilita extrair os parâmetros críticos que caracterizam a ionosfera. Os parâmetros ionosféricos da
região-F utilizados neste trabalho são frequência máxima de reflexão (foF2) e a altura mínima virtual
(h'F ). Depois da redução dos parâmetros de estudo desta pesquisa através do programa UDIDA, foi
possível compará-los aos resultados obtidos pelo modelo padrão de simulação da Ionosfera que é o
Modelo Global IRI (International Reference Ionosphere – IRI ), disponível no modo online pelo
endereço: https://iri.gsfc.nasa.gov/. O modelo IRI é utilizado para prever o comportamento da
ionosfera em uma determinada região geográfica/geomagnética e foi desenvolvido utilizando dados
observados em vários lugares do mundo por diversas fontes de dados de sondas espaciais e terrestres.
O modelo é aprimorado pelo Committeon Space Research (COSPAR) e pela International Union of
Radio Science (URSI) em conjunto com membros de várias nações, com a intenção de obter
componentes que descrevem a ionosfera, tais como densidade dos elétrons e íons, temperatura,
composição iônica e velocidade do plasma.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: Na figura 01 são apresentados os gráficos dos valores observados


para o parâmetro f0F2 (vermelho) e os resultados da simulação do modelo IRI (preto) para o mês de
março de 2012. . Os dados mostram a variação diurna do parâmetro em função do horário local, para
dois dias do mês, correspondendo a estação de outono na estação de Palmas/TO. Vários outros dias
foram analisados, com resultados semelhantes.

12/Março/2012
08/Março/2012 16
16
14
14

12
12

10
10
foF2 (MHz)
foF2 (MHz)

8
8

6
6

4
4

2 2

0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

LT(h ) LT(h)

Figura 1: Variação do parâmetro f0F2 da ionosfera em função da hora local. Comparação entre os dados
observados pela CADI (vermelho) e o Modelo Global IRI (preto) para dois dias do mês de Março de 2012.

Em geral, se observa que o modelo é capaz de reproduzir o comportamento frequência crítica da


camada F, mostrando o aumento significativo a partir do nascer do sol (6 LT), estabilizando no
período da tarde e diminuição contínua no período noturno. No entanto, os resultados do modelo,
embora muito próximos no horário diurno, tendem a subestimar os valores observados no período
noturno. Alguns dias no mês de Março mostraram algumas variações mais rápidas na frequência
crítica, como por exemplo, o observado entre 09:00 e 14:00LT no dia 12, correspondendo a região
hachurada na figura 1-b. Observa-se uma oscilação em f0F2 com um pico de aproximadamente 13
Mhz às 10:00 e outro mais baixo às 13:00 aproximadamente. Essas variações rápidas no
comportamento da camada F não são ser prevista pelo modelo. Foi analisada a atividade
geomagnética solar para verificar a sua influencia nesses eventos. A variação do indíce Dst
(disturbance storm time) mostra que só houve atividade magnética relevante entre os dias 08 e 11,
sendo um mês considerado geomagneticamente calmo. Como estas oscilações não estão relacionados
com alguma energia na ionosfera de fonte solar, podemos concluir que são devido a interações
localizadas (originados em torno da região observada) que não é refletido no modelo. Isto é coerente,
pois o modelo é baseado em parâmetros observados globalmente e fornece media mensais das
características da ionosfera.

Figura 2: Variação do índice DST para o mês de março de 2012. Fonte: http://wdc.kugi.kyoto-
u.ac.jp/dst_provisional/201203/index.html

13/Setembro/2012
08/Setembro/2012 16
16

14
14

12
12

10
10
foF2(MHz)
f0F2(MHz)

8
8

6
6

4 4

2 2

0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
LT(h) LT (h)

Figura 3: Variação do parâmetro f0F2 da ionosfera em função da hora local. Comparação entre os dados
observados pela CADI (vermelho) e o Modelo Global IRI (preto) para dois dias do mês de Setembro de 2012.

Na figura 03 são apresentados os gráficos dos valores observados para o parâmetro f0F2 (vermelho) e
os resultados da simulação do modelo IRI (preto) para o mês de Setembro de 2012. Os dados são
análogos ao da figura 01, porém para a estação de primavera na estação de Palmas/TO. Novamente,
são mostrados exemplos de comportamento típico do parâmetro analisado. Para a primavera
novamente temos que o modelo representa bem a forma como a frequência crítica varia diurnamente.
No entanto, no período da tarde, o modelo claramente subestima o valor observado. Esse resultado é
mais acentuado no outono que na primavera, mostrando a sazonalidade do modelo. Esses resultados
estão de acordo com os observados por Bertoni (2006) e de Jesus (2011). Novamente foram
observados alguns dias em que a ionosfera apresentava variações bruscas no valor de f0F2, conforme
indicado na figura 2.b na parte hachurada. Para essa estação do ano também foi verificado a atividade
geomagnética, sendo que todos os dias do mês foram considerados calmos. Portanto, os eventos são
devido a perturbações locais que não são simuladas pelo modelo.

CONCLUSÃO: Neste trabalho foram comparados os valores observados da parâmetro foF2 da


ionosfera na região de Palma/TO com os previstos pelo modelo global IRI. Em geral podemos dizer
que: 1- O modelo simula bem os dados observados na região equatorial; 2- Apesar de concordância
geral, o modelo subestima os dados observados no período da tarde, sendo mais acentuada a diferença
durante o equinócio de outono; 3 – Não houve influência de atividade geomagnética durante o período
estudado; 4- O modelo não reproduz variações bruscas da ionosfera, sendo adequado apenas para
valores médios, conforme é a proposta do próprio modelo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BERTONI, F. C. P. ; LIMA, W. L. C. ; FAGUNDES, P. R. ; SAHAI, Y. ; PILLAT, V. G. ; BECKER-
GUEDES, F. ; ABALDE, J. R. . IRI-2001 IRI-2001 model predictions compared with ionospheric
data observed at Brazilian low latitude stations. Annales Geophysicae (Berlin) , 2006. Disponível
em:http://www.ipd.univap.br/fisica_astronomia/mestrado_fis_astr/docs/dissertacoes/dissertacaoRodolf
o.pdf.Acesso em 31 de Agosto de 2015.
JESUS, R.; Estudos de eventos do tempo espacial ("space weather") e a ocorrência de bolhas de
plasmas ionosféricas no setor brasileiro e japonês usando sondagem ionosférica. Dissertação de
mestrado pela UNIVAP- Universidade Vale do Paraíba. Disponível em:http://www.ipd.univap.br/
fisica_astronomia/mestrado_fis_astr/docs/dissertacoes/dissertacaoRodolfo.pdf. Acesso em 31 de
Agosto de 2015.
ABDU, M.A. Outstanding problems in the equatorial ionosphere–thermosphere electrodynamics
relevant to spread F. Journal of Atmospheric and Solar-Terrestrial Physics, v. 63, n. 9, 2001.

Você também pode gostar