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Nomenclatura

𝑐𝑝 = coeficiente de potência 𝑅𝑒 = número de Reynolds

𝑇 = Torque instantâneo 𝑦 + = distância adimensional normal do primeiro nó em


relação à superfície da parede
∆𝑡 = intervalo de tempo
𝜈 = viscosidade cinemática
𝑅 = raio
𝑉𝜏 = velocidade de atrito
𝐴𝑣𝑎𝑟 = área varrida pela turbina
𝜌 = densidade do fluido
𝑉∞ = velocidade do vento em corrente livre
∆𝑦 = altura da primeira célula normal à parede
𝑉𝑤 = velocidade do vento relativo
∆𝜃 = ângulo de passo da turbina
𝜆 = razão de velocidade na ponta da pá
Subescrito
𝑐𝑚 = coeficiente de torque
𝑚 = Grandeza medida durante o experimento
𝑐 = corda do perfil aerodinâmico da pá

Modelo numérico
A geometria gerada em CAD para a simulação consiste em dois domínios, um interno rotativo e
outro externo estacionário. Logo, as simulações realizadas são baseadas na técnica de malha
dinâmica deslizante, onde não há a necessidade de ajustes para a deformação de malha ou utilização
de interação fluido-estrutura. O modelo experimental é baseado no trabalho da referência [1], onde
foram testadas duas turbinas de eixo vertical, uma do modelo H e outra troposkien, cujo formato
assemelha-se à uma batedeira de ovos (faz jus ao nome). Este trabalho utiliza a turbina H como
modelo de referência, discretizada computacionalmente em uma malha estruturada com a maior
qualidade possível. Após a geração de malha, realiza-se o estudo de independência de quantidade de
elementos e de passo de tempo, para então construir a curva de performance da turbina, caracterizada
pela relação 𝑐𝑝 × 𝜆.
Características do modelo experimental
A geometria base tem as seguintes características:

Modelo do perfil NACA 0021


Espessura do perfil 0,018 m
c 0,085 m
Número de pás 3
R 0,514 m
Comprimento das pás 1,460 m
Diâmetro do eixo 0,050 m
Momento de inércia 1,5 kg m2
Tabela 1: Dimensões base para o desenho da geometria.

A turbina no experimento foi testada em um túnel de vento com características apresentadas no


trabalho-base [1] com seção aberta. A turbina foi testada com uma velocidade angular fixa de
aproximadamente 400 RPM e com velocidade de vento variante entre 6,09 m/s e 16,18 m/s. Logo o
𝜆 varia conforme a velocidade de vento, crescendo à medida que o vento magnitude de velocidade
menor e vice-versa. O modo como o experimento foi conduzido foi crucial para a escolhas de
condições de contorno no modelo computacional.
Domínio computacional
A malha foi gerada no software do pacote ANSYS, o ICEM CFD [2]. O programa permite a criação
de uma malha estruturada através da manipulação de blocos que geram uma grade de elementos, cuja
qualidade é ditada conforme a angulação dos blocos (quadrilaterais). Quanto mais paralelos forem as
arestas opostas dos blocos, maior é a qualidade, e quanto mais agudo é o ângulo entre as ditas
arestas, menor é a qualidade. A qualidade em geral, teve um fator maior que 0,6 em uma escala entre
0 e 1, onde 0 é a menor qualidade e 1 a maior qualidade possível. Os elementos podem ter elementos
de qualidade negativa, caso tenham atravessado a fronteira do volume de outros elementos.
Foi utilizada para as simulações a técnica de malha deslizante. Esta técnica consiste na utilização de
um domínio rotativo e um domínio estacionário, onde busca-se captar as alterações dos campos sem
alterar o formato dos elementos de malha, diferentemente do que é feito no método de Interação
Fluido Estrutura. Em contrapartida, inevitavelmente no método utilizado, existe o desencontro de nós
na transição entre o domínio estático e o dinâmico, o que causa perturbações localizadas nas
interfaces entre esses domínios, normalmente geradas por uma baixa diferença no balanço de
pressão.
As condições de contorno buscam reproduzir as condições do experimento. Na Figura 1, é
apresentado o domínio e as devidas condições de contorno.
Figura 1: Domínio computacional com cotas e condições de contorno.

O domínio computacional foi construído conforme o esquema experimental, que pode ser consultado
na referência [1] e comparado com a geometria computacional.
Figura 2: Malha próxima à superfície da pá

O software ANSYS CFX [3] não realiza simulações utilizando malhas bidimensionais planares como
o ANSYS Fluent. Então, para este trabalho, a malha planar utilizada foi extrudada em 0.01 m, com
apenas dois nós no eixo z, caracterizando assim uma “falsa” simulação bidimensional.
Devido ao modelo de turbulência utilizado, o 𝑘 − 𝜔 𝑆𝑆𝑇 [4], a geometria deve ter um tratamento
especial próximo à superfície de paredes. Próximo à superfície das pás, o valor de 𝑦 + adotados foi
igual a 1, resultando em um valor de ∆𝑦 = 1,15 × 10−5 m. Este valor foi obtido utilizando como
referência o 𝑅𝑒 na pá calculado com a maior velocidade gerada pelo túnel de vento (16,18 m/s). A
taxa de crescimento de elementos próximo às superfícies das pás e do eixo foram de 1,1. A Figura 2
ilustra a densidade de elementos próximos à região de parede.
O bordo de fuga do perfil é pontiagudo, sem arredondamentos ou chanfros. Isso pode ajudar a evitar
o surgimento de falsos gradientes de pressão nessa região.
As malhas estruturadas hexaédricas de boa qualidade como as utilizadas neste trabalho são muitas
vezes de difícil construção, mas possuem a vantagem de, na maioria dos casos, atingirem a
independência da quantidade de grade com uma quantidade reduzida de elementos, se comparada à
uma malha tetraédrica. A primeira malha a ser testada teve um total de 38894 elementos.
Independência de grade
Esta é uma importantíssima etapa no processo de simulação computacional. Aqui, sistematicamente
é aumentada a densidade de elementos no domínio e realizada uma simulação em comum para todas
as geometrias discretizadas em diferentes quantidades de elementos. A independência de grade é
alcançada à medida que o refino sistemático da malha deixa de alterar o resultado da simulação.
Para esta etapa, seis malhas “M” diferentes foram testadas, coletando o 𝑐𝑝 da quinta volta com
𝜆 = 3,54. Na tabela 2 é possível conferir a quantidade de elementos de cada malha, bem como o
fator de multiplicação aproximado relativo à malha M1. Como o intuito é realizar simulações
próximas ao caso 2D, a quantidade de elementos foi alterada apenas no plano XY.
Malha Quantidade de Fator de Erro de
elementos multiplicação malha (𝐸𝑚 )
M1 38894 × 1,00 17,48%
M2 55735 × 1,43 10,61%
M3 95373 × 2,45 3,29%
M4 114226 × 2,94 1,92%
M5 148248 × 3,81 0,36%
M6 187746 × 4,83 0,00%
Tabela 2: Especificação das malhas testadas.

Onde o erro da iésima malha corresponde ao erro de 𝑐𝑝 em relação à grade de elementos mais densa
(M6), ou seja:
𝑐𝑝
𝐸𝑚𝑖 = [1 − ( 𝑀𝑖 )] × 100 %
𝑐𝑝 𝑀6

Graficamente, a independência de grade pode ser visualizada através da Figura 3, onde é mostrada a
variação de 𝑐𝑝 normalizado em relação à malha mais densa, M6.
Figura 3: Gráfico de independência de grade

Observando o gráfico, nota-se que a variação entre M5 e M6 é muito baixa, menor que 1 %. Então,
para este estudo, considerou-se que 148248 elementos (M5) é uma quantidade satisfatória para a
realização das simulações.
Configurações para as simulações
As simulações de turbinas eólicas de eixo vertical geram resultados altamente dependentes das
configurações do software responsável por calcular as equações de transporte. Essas máquinas são
geradoras de uma grande quantidade de vórtices e estão sujeitas à uma considerável variação de
gradientes de pressão em suas pás. Logo, o esquema de advecção escolhido foi de 2ª ordem,
conhecido no CFX como high resolution. Com esse esquema, uma convergência mais rápida e fácil é
sacrificada, mas em compensação, um melhor cálculo para a difusão numérica é feito, gerando assim
um amortecimento mais próximo do real e consequentemente, calculando o torque gerado na turbina
de maneira mais apropriada (desde que os requisitos de malha sejam atendidos). Mais detalhes sobre
o cálculo dos esquemas envolvidos em simulações transientes podem ser encontrados no arquivo de
ajuda do CFX [5]. Para ajudar no alcance da convergência, uma simulação de 300 timesteps foi feita
em estado permanente e utilizada como condição inicial para as simulações transientes, isto ajuda o
campo inicial transiente a ter oscilações periódicas menos diferentes das que são obtidas quando a
simulação entra em convergência. Outra boa maneira de se iniciar uma simulação transiente de
turbinas eólicas de eixo vertical sem a grande perturbação numérica normalmente obtida, é partir de
uma rotação zero ou quase zero, como foi feito no trabalho da referência [6]. No CFX, esta última
alternativa pode ser mais cômoda caso o usuário esteja habituado ao uso de rotinas em FORTRAN,
linguagem aceita pelo CFX para o acoplamento de sub-rotinas.
A física envolvida na geração de energia utilizando o tipo de turbina aqui abordada é um tanto
complicada. A produção de torque nas pás em downwind depende do comportamento do escoamento
após passar pela região em upwind, ou seja, considerando a mesma direção do escoamento, todos os
elementos que estão antes do eixo da turbina e o próprio eixo, geometria dos elementos da turbina,
velocidade de vento e possíveis perturbações, influenciam diretamente no torque gerado na(s) pá(s)
que está(ão) atrás do eixo. Todos estes fatores modelam a forma como o escoamento é desprendido
dinamicamente das pás da turbina, caracterizando assim um stall dinâmico. Em análises numéricas
de turbinas eólicas de eixo vertical, a predição do estol (stall) dinâmico é o maior gargalo na
validação do modelo computacional e consequentemente, da confiabilidade de predição de
desempenho dessas máquinas. Para este trabalho, é necessário que o comportamento do escoamento
seja bem calculado em zonas próximas às superfícies sólidas e também em regiões onde não existam
fortes gradientes de pressão, mas exista advecção que acabe por influenciar nesse gradientes. Sendo
assim, o modelo de turbulência 𝑘 − 𝜔 𝑆𝑆𝑇 foi utilizado em todas as simulações, pois este calcula o
escoamento em zonas afastadas da parede com o modelo 𝑘 − 𝜀 e próximo às superfícies sólidas, com
o modelo 𝑘 − 𝜔, adequando-se ao problema aqui abordado. Informações sobre a modelagem
matemática do modelo podem ser encontradas na referência [4].
Quanto as condições de contorno, as laterais do domínio e a saída são todas do tipo Opening, com
pressão estática igual à zero, já que a pressão de referência para todo o domínio é 1 atm. Contudo
existe uma diferença entre as laterais e a saída: na saída, a condição de turbulência é de fluxo
totalmente desenvolvido (zero gradient), já que esta seria a reentrada do fluxo de ar no túnel de
vento, onde espera-se que o escoamento já não mais venha a interferir no torque gerado na turbina,
enquanto nas laterais, a condição de turbulência adotada foi de baixa turbulência igual à 1 %. Nas
faces superiores e inferiores a condição de simetria (symmetry) foi adotada, se assemelhando muitas
vezes à condição de parede com escorregamento (free-slip wall), onde as forças viscosas são nulas.
Essas condições de contorno são idênticas, porém a condição de simetria força um gradiente normal
à superfície de qualquer parâmetro a ser igual à zero, enquanto a condição de parede lisa não
necessariamente faz isso. Ainda é válido dizer que qualquer superfície de simetria deve ser
necessariamente planar, enquanto a parede lisa pode ser de qualquer forma. Uma superfície de
simetria não planar induz ao erro durante a execução do CFX-solver. A velocidade de entrada tem
um valor fixo para cada diferente 𝜆. Estes valores podem ser consultados na Tabela 4. A partir dos
valores de velocidade de entrada e da rotação de aproximadamente 400 RPM, os valores de 𝜆 são
calculados, valores estes que compõem o eixo das abcissas no gráfico de desempenho da turbina,
essencial para a validação das simulações. Foi ainda adotada a condição de paredes sem
escorregamento (no-slip wall) nas laterais da entrada do domínio (mesma condição das superfícies
das pás e do eixo), com o intuito de concentrar o fluxo no centro da entrada do domínio estacionário,
para melhor reproduzir a condição da saída do fluxo de massa de ar do túnel de vento.
O torque é gerado a partir das forças de pressão e viscosas sobre as pás da turbina, calculado pelo
CFX. Com o valor do torque, 𝑐𝑚 é calculado da seguinte forma:
𝑇
𝑐𝑚 =
0,5𝜌𝐴𝑣𝑎𝑟 𝑅𝑉∞2
Onde 𝑇 é o torque resultante das três pás, que é dependente da posição angular da turbina, ou seja,
2𝜋
𝑇 = 𝑅 ∫ 𝐹𝑡 (𝜃)𝑑𝜃
0

Sendo 𝐹𝑡 a força tangente resultante em um período na turbina.


Embora o CFX utilize esquemas implícitos, o que dá uma maior estabilidade aos cálculos dos
campos e permite uma certa folga no que diz respeito ao ∆𝑡 utilizado (já que utiliza outras variáveis
do tempo atual para realizar os cálculos), é importante adotar um passo de tempo adequado para que
o resultado de uma determinada variável não venha a ser muito errôneo e influencie negativamente
na evolução de forças atuantes sobre as pás da turbina. O passo de tempo ∆𝑡 foi controlado de acordo
com o ângulo de passo da turbina, de acordo com a equação da velocidade angular instantânea:
∆𝜃 ∆𝜃
𝜔= → ∆𝑡 =
∆𝑡 𝜔
Onde ∆𝜃 corresponde ao número de passos de tempo por período da seguinte maneira:
𝑛𝑡𝑠𝑝𝑠
∆𝜃 =
360
Para início das simulações transientes, o número de passos de tempo por volta da turbina adotado foi
de 𝑛𝑡𝑠𝑝𝑠 = 120, o que acarreta em ∆𝜃 = 3° e ∆𝑡 = 0,00125 𝑠. O critério para a mudança de
𝑡𝑖𝑚𝑒𝑠𝑡𝑒𝑝 foi que o resultado para um cálculo de resíduo médio seja menor que 0,0001. Para cada
timestep, no máximo 10 𝑙𝑜𝑜𝑝𝑠 de interação poderiam ser feitos, afinal, pelo que foi observado, não
havia necessidade de mais do que isso.
Resultados e pós-processamento
Um ∆𝜃 = 3° e ∆𝑡 = 0,00125 𝑠 não se mostraram muito satisfatórios para a validação numérica.
Então o ângulo de passo da turbina foi reduzido para 1°, diminuindo o passo de tempo para
0,0004167 𝑠, aumentando assim de 120 timesteps por período para 360 timesteps. Para não tornar o
processo computacional muito dispendioso, continuou-se utilizando os 300 timesteps em estado
permanente, 4 períodos de rotação de 120 timesteps em estado transiente e 2 períodos de 360
timesteps em estado transiente, onde a simulação anterior serve de campo inicial para a próxima.
Estas três partes compõem a simulação de um ponto da curva 𝑐𝑝 × 𝜆, onde cada parte tem o tempo
computacional descrito na tabela 3.
Tempo
Dependência
Timesteps da etapa computacional
temporal
(aproximado)
300 timesteps Permanente 25 min
4×120 timesteps Transiente 2 h e 20 min
2×360 timesteps Transiente 3h
Tabela 3: Tempo aproximado nas estápas de uma simulação

Esses tempos são para simulações executadas em uma máquina relativamente boa, com um
processador de 8 cores e 16 threads, 3,40 GHz de velocidade nominal e 16 GB. Todas as simulações
foram feitas utilizando 4 partições em paralelo locais (na mesma máquina), cerca de 37 mil
elementos por partição. O restante das configurações de particionamento foram mantidas as padrões
do CFX-solver. O sistema de etapas de simulações foi estabelecido para encerrar em cada ponto com
6 voltas porquê de fato o critério de convergência foi alcançado na 6ª volta. Na figura 4 é possível
visualizar a evolução da curva de 𝑐𝑝 para 𝑉∞ = 9,02 m/s e a estabilização da 5ª para a 6ª volta.
Figura 4: convergência de uma simulação.

A curva de 𝑛𝑡𝑠𝑝𝑠 =360 corresponde ao processo de simulações adotadas, de 𝑛𝑡𝑠𝑡𝑝𝑠 =120 para as
primeiras 4 voltas e 360 na quinta e sexta volta. Para a curva alaranjada, todos os 6 períodos foram
calculados com 120 timesteps. O intuito desse gráfico é mostrar que a quantidade de timesteps
modifica os valores de 𝑐𝑝 (caso a simulação já não tenha entrado em independência de timestep),
mas não necessariamente facilita ou dificulta a convergência da simulação. Entre os dois últimos
pontos, a discrepância no valor de 𝑐𝑝 foi menor que 2,1 %.
Para as simulações necessárias para compor a curva de validação 𝑐𝑝 × 𝜆, foram utilizados os dados
mostrados na tabela 4, retirados da tabela 8 da referência [1]:
𝑉∞ m/s 𝜌𝑚 (kg/m3) 𝜔𝑚 (RPM)
6.09 1.160 398.47
6.53 1.155 400.21
7.99 1.157 400.31
9.02 1.155 400.97
10.01 1.157 401.09
12.00 1.154 400.75
14.13 1.154 400.52
14.36 1.153 401.20
16.18 1.153 400.08
Tabela 4: dados medidos durante a campanha experimental

Feitas as simulações para todas as velocidades de vento, o resultado da curva 𝑐𝑝 × 𝜆 obtido foi o
mostrado na Figura 5. O gráfico numérico pode inclusive ser comparado com o experimental,
produzido por Battisti et al [1](2018).
Figura 5: Comparativo do gráfico de desempenho numérico x experimental

Os resultados apresentados se mostraram bastante satisfatórios, pois como Howell et al.[7](2010)


relatou em seu trabalho, simulações bidimensionais apresentam uma grande discrepância do
experimento, e geralmente, os resultados numéricos bidimensionais apresentam resultados de torque
mais elevados, diferentemente da média aqui apresentada. Em quase todos os pontos da curva, as
simulações apresentaram resultados médios de 𝑐𝑝 muito próximos ao experimental ou estavam
contidos na barra de erro do experimento numérico, como pode ser visualizado na Figura 5,
excetuando os pontos de 𝜆 = 2,15 e 𝜆 = 3,54. O procedimento numérico aqui feito não tem caráter
bidimensional, já que existem dois nós no eixo Z. Contudo, as condições de simetria nas superfícies
superiores e inferiores do domínio restringem o fluxo apenas nas direções X e Y (ver figura 6), não
sendo assim capturados vórtices gerados nos planos ZX ou ZY, o que na realidade acontece em uma
Figura 6: Campos de velocidade nos panos XY e ZX.
dimensão 3D. Esses vórtices contribuem para o valor do torque gerado na turbina e,
consequentemente, interfere na curva de desempenho.

Figura 7: Comparativo gráfico de potência numérico x experimental.

O modelo numérico apresentou deficiências de predição de desempenho em dois pontos: em


𝜆 = 2,15 e 𝜆 = 3,54. Provavelmente dois fatores podem ser a causa: a falsa estabilidade numérica
nesses pontos, que seria revelada com mais algumas rotações da turbina, ou talvez fosse necessário
um passo de tempo menor, pois apesar de 𝑛𝑡𝑝𝑡𝑠 = 360 atender a outros pontos, estes em particular
poderiam ter um nível de exigência maior. O erro afetou a similaridade das curvas de potência,
mostradas na Figura 7. Contudo, graças ao bom resultado obtido, estas investigações serão feitas
futuramente.
Na Figura 8, nota-se que a entrada com paredes sem escorregamento afunila bastante as linhas,
mostrando a contribuição do efeito da camada limite nestas paredes. Também é possível perceber os
efeitos do estol e como ele influencia no escoamento sobre às pás. Uma percepção mais detalhada do
Figura 8: Streamlines geradas no domínio com uma velocidade de entrada de 7.99 m/s.
Figura 9: Escoamento sobre uma pá da turbina na posição (a) 0 grau, (b) 45 graus, (c) 135 graus, (d) 180
graus, (e) 225 graus e (f) 315 graus.

fenômeno de estol dinâmico pode ser obtida com a visualização da Figura 9, onde uma pá se
encontra em diferentes posições angulares. Na posição de 0º e 180º, nas Figuras (a) e (d)
respectivamente, as linhas de corrente praticamente não são perturbadas, graças ao baixo ângulo de
ataque. Para as posições nas Figuras (b), (c), (e) e (f), é possível notar um desprendimento mais
acentuado, caracterizando um estol bem notado pela grande diferença de densidade de linhas de
corrente antes e depois do perfil. Para estas últimas posições citadas, a componente de força normal
se sobrepõe enormemente sobre a componente de força tangencial, contribuindo negativamente para
a geração de torque. Nessas situações o modelo do perfil deve ser trabalhado para minimizar os
efeitos do arrasto e maximizar a sustentação aerodinâmica, tentando sempre manter o mesmo ou
reduzindo o momento de inércia, afinal este também contribui no desempenho da turbina
principalmente em sua capacidade de auto-ativação, que é a maior deficiência das turbinas de
sustentação de eixo vertical.
Conclusão e trabalhos futuros
Com os resultados deste trabalho ficou demonstrado que, embora o CFX não seja um software
destinado a simulações bidimensionais, uma geometria esbelta e com dois nós na direção do eixo de
rotação de uma turbina de eixo vertical pode ser utilizada. Este estudo pode ser caracterizado como
um estudo inicial para futuras simulações 3D, onde são avaliadas também deformações no
escoamento em planos orientados normalmente ao eixo Z. Conclui-se também que o modelo de
turbulência SST é altamente capaz de predizer o desempenho de turbinas, mesmo que haja
escoamento complexo envolvido, como no caso aqui analisado, e mesmo que a geometria utilizada
na simulação seja apenas uma seção e não leve em consideração outros elementos construtivos,
como por exemplo os suportes de ligação das pás, ou as carenagens que cobrem o maquinário do
dinamômetro utilizado no experimento, que pode ser visto na referência [1].
Como estudo futuro, é desejada a implementação de rotinas em FORTRAN no CFX para a
calibração do modelo SST com transição de escoamento laminar-turbulento, que segundo Lanzafame
[6](2014), melhora bastante a predição do ponto real de separação do escoamento durante o estol
dinâmico. Verificadas as diferenças, vantagens e desvantagens relativas entre modelos SST padrão e
com transição de escoamento utilizando o CFX, a parte posterior à este estudo idealizado seria a
análise tridimensional apropriada, para a devida avaliação da contribuição de outros elementos da
turbina citados (suportes, carenagens, etc.). É prudente também um comparativo de desempenho
entre um modelo H e um modelo de pás helicoidais.
Referências
[1] L. Battisti et al., “Experimental benchmark data for H-shaped and troposkien VAWT
architectures,” Renew. Energy, vol. 121, no. 1–4, pp. 143–156, 2018.
[2] Ansys, “ANSYS ICEM CFD User’s Manual,” no. January. Canonsburg, p. 76, 2016.
[3] Ansys, “ANSYS CFX-Pre User’ s Guide,” no. November. Canonsburg, p. 368, 2011.
[4] F. R. Menter, “Two-equation eddy-viscosity turbulence models for engineering applications,”
AIAA J., vol. 32, no. 8, pp. 1598–1605, 1994.
[5] “ANSYS CFX-Solver Theory Guide ANSYS CFX Release 16.0,” no. December. 2015.
[6] R. Lanzafame, S. Mauro, and M. Messina, “2D CFD Modeling of H-Darrieus Wind Turbines
using a Transition Turbulence Model,” Energy Procedia, vol. 45, pp. 131–140, 2014.
[7] R. Howell, N. Qin, J. Edwards, and N. Durrani, “Wind tunnel and numerical study of a small
vertical axis wind turbine,” Renew. Energy, vol. 35, no. 2, pp. 412–422, 2010.

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