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VII.

A ORGANIZAÇÃO DA IGREJA

1 - O Governo da Igreja.

É evidente que o propósito do Senhor era que houvesse uma sociedade


de seus seguidores que comunicasse seu Evangelho aos homens e o
representasse no mundo. Mas ele não moldou nenhuma organização
ou plano de governo; não estabeleceu nenhuma regra detalhada de fé e
prática. Entretanto, ele ordenou os dois singelos ritos de batismo e
comunhão. Ao mesmo tempo, ele não desprezou a organização, pois
sua promessa concernente ao Consolador vindouro deu a entender que
os apóstolos seriam guiados em toda a verdade concernente a esses
assuntos. O que ele fez para a igreja foi algo mais elevado do que
organização: ele lhe concedeu sua própria vida, tornando-a em
organismo vivo. Assim como o corpo vivo se adapta ao meio
ambiente, semelhantemente, ao corpo vivo de Cristo foi dada
liberdade para selecionar suas próprias formas de organização,
segundo suas necessidades e circunstâncias. Naturalmente, a igreja
não era livre para seguir nenhuma manifestação contrária aos ensinos
de Cristo ou à doutrina apostólica. Qualquer manifestação contrária
aos princípios das Escrituras é corrupção. Durante os dias que se
seguiram ao Pentecoste, os crentes praticamente não tinham nenhuma
organização, e por algum tempo faziam os cultos em suas casas e
observavam as horas de oração no templo. (Atos 2:46.) Isso foi
completado pelo ensino e comunhão apostólicos. Ao crescer
numericamente a igreja, a organização originou-se das seguintes
causas: primeira, oficiais da igreja foram escolhidos para resolver as
emergências que surgiam, como, por exemplo, em Atos 6:1-5;
segunda, a possessão de dons espirituais separava certos indivíduos
para a obra do ministério.
As primeiras igrejas eram democráticas em seu governo, circunstância
natural em uma comunidade onde o dom do Espírito Santo estava
disponível a todos, e onde toda e qualquer pessoa podia ser dotada de
dons para um ministério especial. É verdade que os apóstolos e
anciãos presidiam às reuniões de negócios e à seleção dos oficiais;
mas tudo se fez em cooperação com a igreja. (Atos 6:3-6; 15:22; 1Cor.
16:3; 2Cor. 8:19; Fil. 2:25.) Pelo que se lê em Atos 14:23 e Tito 1:5,
poderá entender-se que Paulo e Barnabé nomearam anciãos sem
consultar a igreja; mas historiadores eclesiásticos de responsabilidade
afirmam que eles os "nomearam" da maneira usual, pelo voto dos
membros da igreja. Vemos claramente que no Novo Testamento não
há apoio para uma fusão das igrejas em uma "máquina eclesiástica"
governada por uma hierarquia. Nos dias primitivos não havia nenhum
governo centralizado abrangendo toda a igreja. Cada igreja local era
autônoma e administrava seus próprios negócios com liberdade.
Naturalmente os "Doze Apóstolos" eram muito respeitados por causa
de suas relações com Cristo, e exerciam certa autoridade. (Vide Atos
15.)
Paulo exercia certa supervisão sobre as igrejas gentílicas; entretanto,
essa autoridade era puramente espiritual, e não uma autoridade
oficial tal como se outorga numa organização. Embora que cada igreja
fosse independente da outra, quanto à jurisdição, as igrejas do Novo
Testamento mantinham relações cooperativas umas com as outras.
(Rom. 15:26, 27; 2Cor. 8:19; Gál. 2:10; Rom. 15:1; 3João 8.) Nos
séculos primitivos as igrejas locais, embora nunca lhes faltasse o
sentimento de pertencerem a um só corpo, eram comunidades
independentes e com governo próprio, que mantinham relações umas
com as outras, não por uma organização política que as reunisse todas
elas, mas por uma comunhão fraternal mediante visitas de delegados,
intercâmbio de cartas, e alguma assistência recíproca indefinida na
escolha e consagração de pastores.

2. O ministério da igreja.

No Novo Testamento são reconhecidas duas classes de ministério:


O ministério geral e profético geral, porque era exercido com
relação às igrejas de modo geral mais do que em
relação a uma igreja particular, e profético, por ser criado pela
possessão de dons espirituais.
O ministério local e prático local porque era limitado a uma igreja, e
prático, porque tratava da administração da igreja.
O ministério geral e profético.
1) Apóstolos. Eram homens que receberam sua comissão do próprio
Cristo em pessoa (Mat. 10:5; Gál. 1:1), que haviam visto a Cristo
depois de sua ressurreição (Atos 1:22; 1Cor. 9:1); haviam gozado
duma inspiração especial (Gál. 1:11,12; 1Tess. 2:13); exerciam um
poder administrativo sobre as igrejas (1Cor. 5:3-6; 2Cor. 10:8; João
20:22, 23); levavam credenciais sobrenaturais (2Cor. 12:12), e cujo
trabalho principal era estabelecer igrejas em campos novos. (2Cor.
10:16.) Eram administradores da igreja e organizadores missionários,
chamados por Cristo e cheios do Espírito. Os "doze" apóstolos de
Jesus, e Paulo (que por sua chamada especial constituía uma
classificação à parte), eram apóstolos por preeminência; entretanto, o
título de apóstolo também foi outorgado a outros que se
ocupavam na obra missionária. A palavra "apóstolo" significa
simplesmente "missionário". (Atos 14:14; Rom. 16:7.) Tem havido
apóstolos desde então? A relação dos doze para com Cristo foi uma
relação única que ninguém desde então pôde ocupar. Sem dúvida,
a obra de homens tais como João Wesley, com toda razão,
pode ser considerada como apostólica.
Profetas. Eram os dotados do dom de expressão inspirada. Desde os
primeiros dias até ao fim do século constantemente apareceram, nas
igrejas cristãs profetas e profetisas. Enquanto o apóstolo e o
evangelista levavam sua mensagem aos incrédulos (? 2:7,8), o
ministério do profeta, era particularmente entre os cristãos. Os
profetas viajavam de igreja em igreja, tanto como os evangelistas o
fazem na atualidade; não obstante, cada igreja tinha profetas que eram
membros ativos dela.
Mestres. Eram os dotados de dons para a exposição da Palavra.
Tal qual os profetas, muitos deles viajavam de igreja em igreja.
O ministério local e prático. O ministério local, que era nomeado
pela igreja, com base de certas qualidades (1Tim. cap. 3), incluía os
seguintes:
Presbíteros, ou anciãos, aos quais foi dado o título de "bispo",
que significa supervisor, ou que serve de superintendente. Exerciam a
superintendência geral sobre a igreja local, especialmente em
relação ao cuidado pastoral e à disciplina. Seus deveres eram,
geralmente de natureza espiritual. Às vezes se chamam "pastores".
(Efés. 4:11, Vide Atos 20:28.) Durante o primeiro século cada
comunidade cristã era governada por um grupo de anciãos ou
bispos, de modo que não havia um obreiro só fazendo para a igreja o
que um pastor faz no dia de hoje. No princípio do terceiro século
colocava-se um homem à frente de cada comunidade com o título de
pastor ou bispo.
Associados com os presbíteros havia um número de obreiros ajudantes
chamados diáconos (Atos 6:1-4; 1Tim. 3:8-13; Fil. 1:1) e diaconisas
(Rom. 16:1; Fil. 4:3), cujo trabalho parece, geralmente, ter sido o de
visitar de casa em casa e exercer um ministério prático entre os
pobres e necessitados (1Tim. 5:8- 11). Os diáconos também ajudavam
os anciãos na celebração da Ceia do Senhor.

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