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O "Dia do Senhor" 1

O "DIA DO SENHOR"

S PÁGINAS 81 e 82 da livro O Sabatismo à Luz da Palavra de


À Deus, afirma o autor: "O primeiro dia da semana ou domingo tomou
tanta importância, pelas coisas que se deram nele, especialmente pela
ressurreição de Jesus, que se tornou comum entre as apóstolos e os
cristãos primitivos chamá-lo 'dia do Senhor.' A linguagem de João 'Eu fui
arrebatado em espírito no dia do Senhor' (Apoc. 1:10) revela o fato que
qualquer pessoa no seu tempo, que lesse esse seu escrito saberia a que
dia se referia, isto é, qual o dia que pertencia ao Senhor Jesus Cristo."
Há nesse trecho nada menos que três afirmações destituídas de
qualquer fundamento:
a) "...o domingo tomou tanta importância..." Não tomou importância
nenhuma. Tanto assim que os evangelistas sinóticos, escrevendo seus
evangelhos sempre depois do ano 60, mais de 30 anos após a
ressurreição, referem-se ao dia meramente como "o primeiro dia da
semana", sem nenhum título de santidade, sem nenhum caráter especial.
Nos escritos apostólicos não se vê esta "tanta importância" que o autor
pretende. E o mesmo João, escrevendo seu evangelho, perto do ano 100
de nossa era, também se refere ao dia como sendo "o primeiro dia da
semana." Quer dizer que no fim do primeiro século, o dia não tinha a
tanta importância" que lhe atribuem os dominguistas. E isto nos vai ser
confirmado pelo pastor batista Alberto C. Pittman (da Primeira Igreja
Batista de Dayton, Ohio, EE. UU.):
"Primitivamente reuniam-se [os cristãos] no domingo de manhã,
porque o domingo não era um dia feriado, mas sim um dia de trabalho
normal como os demais. ... Partilhavam de uma merenda religiosa e em –
seguida retornavam ao seu trabalho, para os labores da semana." – The
Watchman Examiner, 25 de outubro de 1956.
b) "... se tornou comum entre os apóstolos ... chamá-lo 'dia do
Senhor'." Aí está outra ficção. Quais apóstolos? Onde? Quando? Como
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se prova que se tornou comum entre OS APÓSTOLOS designar o
domingo como "dia do Senhor?" Apontem-se seus escritos, por favor!
c) "A linguagem de João: 'Eu fui arrebatado no 'dia do Senhor'
revela o fato..."
Primeiramente o arrebatamento nada prova (aliás a nova versão
bíblica diz "Achei-me em espírito," indicando apenas que o apóstolo teve
as visões) em favor da guarda do dia. João teve outras visões e, com
relação a estas, não se menciona o dia em que ocorreram. A segunda
visão se deu em dia não especificado (Apoc. 4:2), e a fato de um profeta
ter visão em determinado dia, não significa que tal dia deva ser
guardado. A santidade de um dia repousa em base mais sólida,
fundamenta-se num claro e insofismável "'assim diz a Senhor.
A afirmação de que "dia da Senhor" nessa passagem se refira
indiscutivelmente ao primeiro dia da semana é baseada em presunção
sem nenhum valor probatório. O fato de em fins do segundo século da
era cristã surgirem escritos aludindo ao primeiro dia da semana como
sendo "dia do Senhor", não autoriza a dogmatizar que João também se
referia ao domingo. Antes do ano 180 A. D., quando surgiu um falso
Evangelho Segundo S. Pedro que afirmava ser o primeiro dia da semana
o "dia do Senhor," nada, absolutamente nada se pode invocar para dizer
que João se referia ao domingo. O próprio Justino Mártir que alude a um
costume que se implantava entre os cristãos, de se reunirem no primeiro
dia da semana, ao dia refere como "o dia do Sol" e não como "dia do
Senhor". A partir daqueles tempos, o título "dia do Senhor" aparece
profusamente na literatura patrística. Mas é preciso provar que João tinha
em mente o primeiro dia da semana quando escreveu "dia do Senhor".
Autoridades evangélicas afirmavam que João escreveu seu
evangelho depois do Apocalipse, situando-o entre 96 a 99 A. D.: Albert
Barnes, em suas Notas Sobre os Evangelhos, John Beatty Howell em sua
tabela de datas, W. W. W. Rand, em seu Dicionário Bíblico, e
comentaristas Bloomfield, Dr. Rales, Horne, Nevinse Olshausen,
Williston Walker e muitos outros. Isso é importante, pois se João, no
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Apocalipse, escrito antes, se refere ao domingo como "dia do Senhor",
como então no seu evangelho, escrito posteriormente, volta a referir-se
simplesmente ao "primeiro dia da semana"? (S. João 20:1 e 19).
Temos fundadas razões para crer que S. João se referia ao sábado.
Porque, consoante a Bíblia, o único "dia do Senhor" que nela se
menciona é o sábado. Leia-se cuidadosamente Isaías 58:13: "santo dia
do Senhor". O mandamento (Êxo. 20:10) diz: "O sétimo dia é o sábado
do Senhor". Em S. Mar. 2:28 lemos: "O Filho do homem é Senhor até do
sábado." E a Revista de Jovens e Adultos para a Escola Dominical,
editada pela Convenção Batista Brasileira, relativa ao 4.º trimestre de
1938, pág. 15, assim comenta este versículo:
"... o Filho do homem é Senhor do sábado (S. Marcos 2:28); isto é...
o sábado é o 'dia do Senhor,' o dia em que Ele é Senhor e pelo Seu
senhorio Ele restaura o Seu dia ao seu verdadeiro desígnio."
O discípulo amado conhecia muito bem as palavras do Decálogo
(Êxo. 20:10) bem como as de Isaías (Isa. 58:13). À vista disso, não
precisamos ter dúvida quanto ao dia a que ele quis referir-se quando no
Apocalipse escreveu: "fui arrebatado em espírito no dia do Senhor."
Se posteriormente, com a fermentação da apostasia na igreja
primitiva, é que o domingo foi tomando corpo, e a designação "dia da
Senhor" lhe foi adjudicada.
Heylin, erudito de projeção intelectual, da Igreja da Inglaterra,
escritor bem informado, dá o seguinte testemunho:
"Tomai o que quiserdes, ou os pais [da Igreja] ou os modernos; e
não encontraremos nenhum dia do Senhor instituído por mandamento
apostólico; nenhum 'shabbath' [dia de repouso] por eles firmado sobre o
primeiro dia da semana.
"Vemos assim sobre que bases se assenta o DIA DO SENHOR:
primeiro sobre o costume e a consagração voluntária desse dia para
reuniões religiosas; tal costume continuou favorecido pela autoridade da
igreja de Deus, que tacitamente o aprovava; e finalmente foi confirmado
e ratificado pelos príncipes cristãos em todos os seus impérios. E como
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dia de descanso dos trabalhos e abstenção dos negócios, recebeu sua
maior força dos supremos magistrados civis enquanto detinham o poder,
e a seguir dos cânones, decretos de concílios, decretais dos papas, ordens
de prelados de categoria quando a direção das negócios eclesiásticos lhes
era exclusivamente confiada.
"Estou certo de que assim não foi com o antigo sábado, o qual nem
teve origem no costume – e o povo não se adiantara a ponto de dar um
dia a Deus – nem exigiu qualquer favorecimento ou autoridade dos reis
de Israel para ser confirmado ou ratificado. O Senhor falou que Ele
queria ter um dia em sete, exatamente o sétimo dia da criação da mundo,
para ser dia de repouso para todo Seu povo, e este nada mais tinha a
fazer senão de boa vontade submeter-se à Sua vontade e obedecê-la....
Assim, porém, não ocorreu no caso em tela. O Dia do Senhor [domingo]
não tem NENHUMA ORDEM para que deva ser santificado; mas foi
evidentemente deixado ao povo de Deus determinar este ou outro dia
qualquer, para uso notário. E assim foi adotado por eles, e tomado um
dia de reunião da congregação para práticas religiosas; contudo POR
TREZENTOS ANOS NÃO HOUVE LEI ALGUMA QUE O IMPUSESSE AOS
CRENTES E TAMPOUCO SE EXIGIA A CESSAÇÃO DO TRABALHO OU
DE NEGÓCIOS SECULARES NESSE DIA." – Dr. Peter Heylin, em History
of the Sabbath, parte 2.ª, capítulos I e III, seção 12.
Nos tempos apostólicos não se conhecia o novo "dia do Senhor".

"Quando os antigos pais da Igreja falam do dia do Senhor, eles, às


vezes, talvez por comparação, o ligam ao dia de repouso; porém jamais
encontramos, anterior à conversão de Constantino, uma citação
proibitória de qualquer trabalho ou ocupação no mencionado dia; e se
houve alguma, em grande medida se tratava de coisas sem importância,
pelas razões que apresentavam." – Smith's Dictionary of the Bible, pág.
593.
Depois de tudo isto, e ainda que se pudesse provar (o que é
absolutamente impossível) que João tivera a visão num primeiro dia da
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semana, isto em nada altera a observância do sétimo dia da semana, pois
não tem relação alguma com o dia de repouso do cristão, e muito menos
se destina a abolir o sábado do Decálogo.
Como é frágil este argumento!

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