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Nesse sentido, Koch, Bentes e Cavalcante (2007) afirmam que “a comparação dos

textos produzidos em dada cultura permite depreender as propriedades formais, estilísticas e temáticas
comuns”. Assim, partem da noção de que há intertextualidade em todos os textos. Seja por
meio da estrutura, do estilo ou da temática. Entende-se, desse modo, que a intertextualidade se
faz presente em todos os discursos. Assim, a apreensão do elemento intertextual é necessária
para construção do sentido pretendido.
A intertextualidade pode se apresentar em duas formas: ampla ou restrita. Na
primeira forma, a intertextualidade aproxima-se da ideia de dialogismo. Os textos relacionam-
se por meio do tema, estilo, ou estrutura, sem que haja uma inserção por meio de citação ou
alusão. Na segunda forma, de outro modo, um texto utiliza trechos de outros textos.
Cavalcante (2010) cita os principais tipos de uso da intertextualidade em um
quadro, baseado no esquema de Piegay-Gross (Apud CAVALCANTE, 2010):

Quadro ?????? – Relações intertextuais

Fonte: Cavalcante (2010)

Desse modo, as relações intertextuais dividem-se em dois grupos gerais:


copresença e derivação. No primeiro, há quatro subtipos de intertextos: dois explícitos e dois
implícitos. No segundo grupo, há três subtipos de intertextos.
É preciso assinalar que a intertextualidade explícita se dá com a menção direta do
texto fonte, “como acontece nos discursos relatados, nas citações e referências; nos resumos,
resenhas e traduções” (KOCH, 2007, p. 87). Por meio desse recurso, o leitor tem acesso
direto ao texto original e não precisa fazer esforço para encontrá-lo ou reconhecê-lo.
Diferentemente, na intertextualidade implícita não há a menção do texto fonte.
Assim, o leitor precisa recuperar por meio da memória o texto original, “como nas alusões, na
paródia, em certos tipos de paráfrases e ironias” (KOCH, 2007, p. 92). Este tipo de intertexto
instiga, portanto, a memória do leitor.
a) Citação

A citação é um intertexto explícito, que pode se manifestar direta ou


indiretamente. Se configura como o uso, efetivo, de um texto ou trecho em outro texto. O
modo direto apresenta o trecho literal, sem alterações. No indireto, o trecho apresenta algumas
diferenças, ou sintáticas ou lexicais, mas sem alteração semântica. Esse intertexto aparece
geralmente assinalado por sinais tipográficos (aspas, itálico, recuo de margem).
A seguinte charge exemplifica o uso da citação:

Figura 1 - ????? Cartum

Fonte: Google imagens

O cartum Vida de Passarinho, de Caulos, tem como texto fonte o poema A


Canção de Exílio, de Gonçalves Dias. Em quatro quadros o autor faz uso de algum trecho do
poema. Para marcar até onde vão as citações, o autor faz uso de aspas. Assim, o cartum
relaciona-se ao poema porque são usados trechos literais, para fins específicos. No poema,
assinala-se a presença de palmeiras na paisagem brasileira, para demonstrar a beleza do país.
Por outro lado, no cartum, assinala-se a ausência de palmeiras para demonstrar o
desmatamento.

b) Referência
O intertexto nomeado de referência, por sua vez, “diz respeito ao processo de
remissão a outro texto, sem, necessariamente, haver citação de um trecho [...] por meio da
nomeação do autor do intertexto, do título da obra, de personagens literárias”
(CAVALCANTE, 2018, p. 150). Pode-se usar esse subtipo intertextual para usar autoridade
discursiva ou identificar o autor do intertexto, como exemplificado abaixo:

Figura 2 -

PROVÉRBIOS – BÍBLIA
1. Provérbios de Salomão. O filho sábio alegra a seu pai,
mas o filho louco é a tristeza de sua mãe.
PROVÉRBIOS 10:01.

Fonte:

No exemplo acima, há duas referências. No início do versículo, explicita-se o


autor dos provérbios: Salomão. Nesse ponto, o intuito é identificar o autor. Abaixo do
provérbio, referencia-se o livro (provérbios), o capítulo (dez) e o versículo (um), para indicar
a autoridade discursiva, indicando que o trecho foi retirado de um texto respeitado na
comunidade cristã.

c) Alusão

Tem-se ainda o intertexto de copresença implícito: alusão. Para Cavalcante (2018,


p. 152):

A alusão é uma espécie de referenciação indireta, como uma retomada implícita para
o coenunciador de que, pelas orientações deixadas no texto, ele deve apelar à
memória para encontrar o referente não dito. Diferentemente da referência, que
apresenta marcas explícitas (como nome do autor, título da obra) [...] a alusão é mais
implícita, isto é, não apresenta marcas diretas e, portanto, seu reconhecimento
demanda maior capacidade de inferência.

Assim, compreende-se a alusão como uma marca, uma orientação que deve ser
subentendida pelo leitor, ao fazer a relação dessa marca com seu texto fonte. O seguinte
trecho exemplifica esse recurso intertextual:
Figura 3

Fonte:

Nessa charge, percebe-se que há uma referência implícita à história de João e


Maria. Cebolinha tenta marca o caminho com pipocas, do mesmo modo que João tentou
marcar com migalhas de pão. E Magali come as pipocas do mesmo modo que os pássaros
fazem na história original. Desse modo, o autor faz com que o leitor subentenda a alusão, pois
não faz referência ao texto fonte.

d) Plágio

Em relação aos intertextos de derivação, o plágio é um intertexto considerado


proibido. Por esse motivo, Koch, Bentes e Cavalcante (2007) o definem como o uso indevido
de um texto. Ou seja, quando um autor usa um texto ou parte dele (excertos, citações sem
referências, personagens, episódios de romances) fingindo ser o seu criador, isso é plágio.
Para tanto, camufla-se as referências, esperando que o interlocutor não tenha memória do
texto fonte. Diferentemente da alusão é usada no intuito de fazer o interlocutor encontrar as
referências. A exemplo disso, tem-se o caso abaixo:

Figura 4

Fonte:
Os cartazes acima mantém semelhanças entre si, embora haja uma diferença de
posicionamento da imagem principal. A imagem do primeiro cartaz, que é colorida, é copiada
em negrito e depois é espelhada (colocada ao contrário). Mesmo assim, é perceptível as
semelhanças do terno com todas as formas, além da imagem ao lado da gravata. Como na
internet é mais difícil encontrar o autor de uma imagem, tornou-se comum apropriar-se da
obra de outros indivíduos.

e) Paródia

No grupo de intertextos da derivação, a paródia se configura como a construção


de um texto por meio da transformação de outro. Essa transformação tem o intuito de atingir
propósitos diferentes daqueles que foram pretendidos pelo autor do texto original. Essa
derivação ocorre por meio de uma subversão (em que o sentido é alterado). Portanto, a
paródia é um recurso intertextual que se distancia do sentido original.
Para Genette (2010), a paródia é um hipertexto, que pode aparecer ou no regime
lúdico ou no regime sério. As paródias e pastiches leves que buscam entretenimento
pertencem ao grupo lúdico. Já as paródias que fazem parte do grupo sério tratam de temáticas
sem o propósito de ridiculariza, mas enfocam na reflexão do leitor, sem entretenimento.
Koch, Bentes e Cavalcante (2007) também afirmam que a paródia tem muitas
formas, ou seja, pode ter muitos propósitos, não se resumindo ao propósito satírico. Pode
também ter finalidade crítica, humorística e até poética. No exemplo, abaixo, percebe-se o
efeito cômico.
Figura 5

Fonte:
O quadro expressionista, O Grito de Eduard Munch, é parodiado pelos autores de
Bob Esponja para marcar um tom cômico com personagens do desenho animado Bob
Esponja. Embora a obra original represente o lado negativo dos dramas da sociedade, o autor
da paródia usa a estrutura do quadro e suas cores para demonstrar o tormento de Lula
Molusco com o protagonista da série e seu amigo. Para tanto, a imagem da cidade ao fundo
pode indicar que Lula Molusco tenta fugir de Bob Esponja e Patrick, mas nunca tem sucesso.

f) Travestimento burlesco

O travestimento burlesco, tal qual a paródia, é um recurso de subversão que se


configura como uma mudança de estilo em um dado texto, para satirizar personagens,
cidades, instituições. Percebe-se isso no exemplo abaixo:
Figura 6

Fonte:

Na imagem acima, a ideia de currículo é usada para criticar Lula, quando era
presidente. Não é usado nenhum texto específico, mas apenas o modelo de um: o currículo. O
texto é composto na estrutura de um currículo, demonstrando, segundo o autor, a
incapacidade do ex-metalúrgico para ser presidente. Para tanto, o texto recorre a palavras com
erros ortográficos e alguns hábitos e características do indivíduo citado.

g) Pastiche
O pastiche, por sua vez, é uma derivação imitativa. Ele se caracteriza por imitar o
estilo de um autor e não por transformar um texto fonte. Pode ser realizado por meio da
montagem de vários trechos, como uma colagem, ou pela seleção vocabular. Por exemplo, um
texto em que se imita a fala dos mineiros:

Figura 7

Fonte:

Nesse trecho, observa-se que o autor usa dois estilos: a fala comum, da maior
parte do Brasil e a fala própria dos mineiros. O aspecto imagético reforça a diferença entre o
português (a bandeira do Brasil representa a maior parte) e o chamado mineirês (a bandeira de
Minas Gerais delimita o vocabulário apenas para a região).

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