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Corte por cisalhamento Força de corte

Corte por cisalhamento é um processo relativamente simples. Porém, A força de corte reflete sempre pelo menos duas coisas , a) a área ou o volume de
indispensável aos processos de conformação. Isto porque o corte ocorre sempre deformação - parece óbvio que quanto maior a área ou o volume de deformação maior
ou no início ou no final de toda operação de conformação. o esforço ou o esmero necessário nesse processo e b) no caso do corte, a fratura da
peça no gume.
A Figura abaixo mostra alguns detalhes da operação, dentre elas a questão da folga
Logo, a força de cisalhamento depende da tensão de fratura
existente entre as facas (corte guilhotina) ou entre punção/matriz (corte blanking)
. Em geral, a fratura ocorre sempre que a estricção aparece, ou seja a força máxima de
corte será

Fmáx  (0,6~0,8)  ue L
u = Limite de resistência da peça
e = espessura da chapa
L = comprimento total ou perímetro da região cortada

Em termos da curva de fluxo, deve-se lembrar que o limite de resistência é dado pela
expressão

 u  KH un
sendo que  u  n logo
 u  K H nn
De um modo geral, o valor do expoente de encruamento (n) para metais se encontra
próximo de n  0.2. A excessão fica por conta do aço inoxidável da série 300,
18Cr-8Ni e no caso do cobre onde esse valor é o dobro.
No caso de um aço baixo carbono, uma relação do tipo σ ( ε) = 600MPa ε 0.2 , logo
o valor do limite de resistência será σ (0.2)  434.868MPa.
Se um blank (blanque) quadrado com aresta ao 100mm for cortado de uma chapa com
Figura 4: a) Corte sendo executado por uma lâmina em metal apoiado sobre uma lámina
estática com uma certa folga suficiente para executar a operação sem b) superpor as
 
espessura ho  1mm, a força de corte seria F  0.7 4 ao ho  σ ( 0.2)  122 kN.

laminas e inviabilizar a operação ou c) com folga superior a ideal (rebarba acentuada).


Algumas operações de corte têm designação própria que as definem. São elas:
A operação de corte implica em fraturar a peça num corte "limpo". Isso porque qualquer  Blanking: corte de contornos fechados em que o contorno fechado é a peça desejada.
excesso se converte em perdas de metal e ineficiência da transformação. É uma operação muito usada na conformação de pré-formas para operações de
A folga e a morfologia da superfície cisalhada são assuntos para os práticos, aqueles estampagem;
que observam e aprendem com o dia de trabalho. O assunto, entretanto escapa ao  Puncionamento ou perfuração: corte de contornos fechados em que esses são
meio acadêmico e não se encontra tratado de modo didático nas referências habituais. descartados;
 Slitting : corte sem remoção de material, como no corte de uma folha de plástico
É fundamental, entretanto, entender que a) a operação de corte por cisalhamento é deslizando uma tesoura sobre esse plastico. É uma operação muito usada na produção
importante, apesar de não parecer e b) que caso seja necessário o estudante deveria de fitas de aço a partir de uma chapa laminada;
estar apto a dimensionar um equipamento em termos de carga ou de potência folha de plásticodeslizando uma tesoura sobre esse plástico. É uma operação
requeridas, especialmente nos casos existentes na indústria metalúrgica.  Rebarbagem
muito usada na ou Trimming:
produção operação
de fitas de corte
de aço parade
a partir acerto
umadechapa
borda, por
exemplo, acerto de bordas de bobinas laminadas a frio ou descare do excesso
de metal (rebarba) em peçs forjadas a frio ou a quente.
Exemplos Dobramento
Nomenclatura de dobramento
Cálculo da força de corte
Suponha corte de um blank redondo com diâmetro ϕ  100mm. A chapa tem espessura
ho  1.5mm. Calcule a força de corte caso a curva de fluxo possa ser calculada pela
expressão σ(ε) = 1400 MPa ε0.44.

Solução

2
A área de corte é Ac  ( π ϕ)  ho  471.239 mm

O limite de resistência é igual a


σ ( 0.44)  509.145 MPa
A carga de corte será então Fc  0.7Ac σ ( 0.44)  167.950 kN Figura 4: Nomenclatura da operação de dobramento de chapa. O dobramento se realiza
através de um ângulo de dobramento, α, e um raio de dobramento, R. O comprimento de
dobramento, B, é o comprimento do arco compreendendo o ângulo α, medido na linha
Cálculo da força de corte em operação de slitting central da espessura da chapa.
Observe que o valor de B é medido na linha que divide a espessura da chapa.
Suponha chapa laminada a frio com espessura igual a ho  1.2mm é cortada para se
formarem fitas de 10mm de largura. A máquina de corte tem 10 navalhas fixas sobre as
quais a bobina é passada. Qual seria a força de corte por metro linear de bobina? Qual é a
potência de corte se a velocidade de passagem da bobina for de 1m/s? Tome uma lei de Exemplo
encruamento como sendo σ(ε) = 600 MPa ε0.21 ?
Cálculo do comprimento
Suponha chapa de espessura de dobramento
igual a h  1mm sendo dobrada de um ângulo
o
Solução
α  45deg . Calcule o comprimento de dobramento se o raio de dobramento for igual a
Rd  300mm.
A área de corte é
2
Ac  10 1000mm ho  12000.000 mm Solução
O limite de resistência é Note que a distância do centro de dobramento à metade da espessura da chapa é igual a
σu  σ ( 0.21)  439.132 MPa
 ho 
A força de corte nas dez navalhas é RB  Rd     300.500 mm
Fc  0.7Ac σu  3688.709 kN
2
Logo, o comprimento de dobramento é B  α RB  236.012 mm
m
e a potência necessária ao corte dessas fitas seria W  Fc 1  3688.709 kW por
s Observe que se o comprimento fosse equivocadamente calculado usando o raio de
metro linear de bobina. dobramento, seu valor seria menor, isto é
B  α Rd  235.619 mm
Deformação no dobramento Raio mínimo de dobramento
A deformação na parte externa do dobramento é de tração portanto as fibras externas da O raio mínimo de dobramento é calculado em relação a espessura da chapa, conforme se vê
chapa se esticam. Por outro lado, na parte interna do dobramento, o contrário ocorre, isto abaixo
é, a chapa se contrai. Dessa forma a espessura da chapa diminui da linha central até a
parte externa e aumenta a espessura da linha central até a superfície interna. Rmín 1
  1 no caso em que q  0.2 e
h 2q
A deformação na linha central é nula e, por isso, ela se denomina linha neutra.
Rmín 1  q 
2

  1 no caso em que q  0.2


A deformação pode ser calculada pela expressão abaixo. O estudante deve demonstrar h 2q  q 2
essa fórmula.
A  Af
A deformação de engenharia no dobramento lembrando que q  o sendo Af medido na fratura.
Ao
é dada por
1
ea  eb  Se q for menor que 0,2, por exemplo q  0.1, o valor de Rmin/h é da ordem de
2 R h 1
 1   1  4.000 e se o valor de que for maior que 0,2, por exemplo, q  0.3, essa
Note que a deformação cresce com a espessura da chapa e com o decréscimo do raio de  
 2 q 
dobramento.
relação passa para
 1  q2  1.784 . Observe que valores de q menores que 0,2,
Exemplo  2q  q2
Cálculo de alguns valores típicos no dobramento de chapas isto é, no caso de metais relativamente frágeis, o raio mínimo de dobramento é da ordem
de 4 vezes a espesura da chapa. Já no caso de metais mais dúteis, o dobramento poderia
Suponha duas chapas: uma laminada a frio e outra laminada a quente. As espessuras ser maior pois o raio mínimo poderia ser da ordem de duas vezes a espessura da chapa.
dessas chapas são ho_BF  1mm e ho_BQ  3mm respectivamente para a bobina
Um ponto interessante seria realizar um teste de dobramento para verificar a ductilidade de
laminada a frio, BF e a bobina laminada a quente, BQ. Calcule as deformações externa e um determinado metal. Muitas vezes, esses testes são realizados no campo, bastando tentar
interna no caso de se dobrar essas chapas de um ângulo α  45deg e um raio de dobrar a chapa sobre si mesmo. Nesse caso, o valor do raio mínimo seria zero e q seria
curvatura igual a Rd  30mm. 100%, como mostrado pela expressão acima.
Exemplo
Solução
Suponha duas chapas de um mesmo metal. A primeira tem uma espessura igual a a
1 h1  1mm, e no caso da chapa mais espessa, a espessura é h2  3mm. A dutilidade
No caso da BF, ea_BF   0.016
 Rd  do metal é q  60%. Calcule o raio mínimo de dobramento nos dois casos.
 2 1
 ho_BF  Solução
Observe que essa deformação é maior que 0.2% mas, próximo da linha neutra essa No caso da chapa mais fina o raio mínimo é
deformação será abaixo da deformação plástica e portanto, alguma deformação elástica   1  q2 
existirá. Ao se descarregar a chapa, essa deformação elástica será recuperada e a posição Rmin  h1   0.762 mm
  2 q  q  
final da chapa será a um ângulo menor que 45 deg. Esse efeito é denominado por retorno  2 
elástico.
No caso da chapa mais grossa o raio mínimo é
No caso da BQ, ea_BQ 

1
Rd 
 0.048 maior que no caso da BF,  1q
Rmin  h2 
 2 
 2.286 mm
como esperado.
 2
ho_BQ
1  
 2 q  q2  
 
Retorno elástico após o dobramento Força de dobramento
Como visto anteriormente, a deformação próxima da linha neutra é menor que a mínima para
Uma esttimativa da força de dobramento pode ser dada pela expressão abaixo
se deformar plásticamente o metal. Assim, sempre haverá uma certa recuperação elástica ao
se descarregar a peça. Esse recuo elástico é definido como se mostra abaixo  o Lh 2  
Pb  tan  
2  R  h 2 2

Suponha que se dobrasse uma chapa de um ângulo α  60deg


.
Um valor típico de força de dobramento seria, no caso de BFs de aço baixo carbono

180MPa 80mm ( 1mm) 2   tan  α  


Pb    2    41.362 N
2 100mm  ( 1mm) 
  
  2 

Figura 5: Geometria de chapa antes e depois de dobramento. A chapa foi dobrada de um e se a chapa fosse uma BQ,
ângulo αo e após o descarregamento o ângulo é αf, maior que o inicial.
180MPa 80mm ( 3mm) 2   tan  α  
Uma estimativa desse recuo elástico pode ser calculada da expressão abaixo
Pb    2    0.369 kN
2 100mm  ( 3mm) 
R 
3
R 
  
Ro
 4  o   3 o  1   2 
Rf  Eh   Eh 
onde  é a tensão de escoamento do metal. Algumas observações devem ser feitas a respeito do uso dessa equação.
 A carga cresce consideravelmente com a espessura da chapa a ser dobrada;
No caso de um aço doce, a tensão de escoamento é σ  180MPa e o módulo de
 A carga também depende da metade do ângulo de dobramento mas a equação
elasticidade é igual a E  2.1GPa. Logo, uma chapa laminada a frio com espessura irá prever carga infinita caso uma chapa seja dobrada sobre si mesma, o que,
igual a ho  1mm e dobrada de um raio inicial igual a Ro  10mm teria um recuo obviamente não é verdadeiro;
elástico e ao final deste o raio de dobramento seria  Logo, há limites para uso desta expressão pois, do contrário, ela fará previsões
Ro sem sentido; veja o exemplo abaixo
Rf  ou seja, Rf  10.554 mm.
  R  σ  3   R  σ   Suponha que a chapa de aço doce mais fina fosse dobrada de um ângulo α  160deg
 o  o  , ou seja, quase um dobramento completo sobre si mesma. Neste caso a carga de
4  E h    3 E h   1 dobramento seria
    
o 
o 
Essa fórmula é empírica e o termo ao cubo domina o valor do denominador. Portanto, ela 180MPa 80mm ( 1mm) 2   tan  α  
deve ser usada com cuidado. Pb    2    406.301 N
2 100mm  ( 1mm ) 
Uma relação de recuo elástico pode ser definida como   
  2 
B   Ro  h 2   o   R f  h 2   f
ou seja quase dez vezes maior que a carga no caso de um dobramento com um ângulo
 f Ro  h 2 2 Ro h  1
 KS    de 60o.
o R f  h 2 2R f h  1

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