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Operagées de Hedge no Agronegécio — Uma Analise Baseada no Hedging Accounting’ Maria José de Camargo Machado De Zen, Sérgio Seidiyu Yatabe ¢ Luis Nelson Guedes de Carvalho” Resumo O mercado de derivativos vem ganhando importancia no contexto econémico mundial, demandando procedimentos contabeis que evidenciem corretamente os riscos e os beneficios envolvidos em tais operagdes. Desta maneira, este artigo mostra e discute aspectos da contabilizagao de operagées de hedge, utilizando como base para andlise, dois instrumentos utilizados com a finalidade de hedge no agronegécio brasileiro: a Cédula de Produto Rural (CPR) ¢ os contratos futuros agropecuarios. Através de pesquisa bibliogréfica, foram estudados os procedimentos do Hedging Accounting, segundo a normatizagio do FASB, e da CVM., Através do desenvolvimento de um exemplo tedrico foram analisados e discutidos estes procedimentos, comparando as divergéncias de critérios entre as normas dos dois érgios citados, e 0 impacto destes na andlise das demonstragdes financeiras tanto do produtor rural como da agroindistria, Esta andlise demonstra que ha divergéncias significativas na evidenciagao destes instrumentos, principalmente dos contratos futuros, entre as normas analisadas. J4 para a CPR, foi proposta uma contabilizagdo segundo 0 conceito de “derivativo embutido”, conceito este contemplado pelo proprio FASB para alguns contratos com caracteristicas hibridas. Existe uma necessidade de adequa¢ao das normas da CVM ao FASB, visto a importancia de evidenciar estas operagées no “corpo”do balango, tanto no aspecto de exposi¢ao ao risco, como para a comparagdo de estratégias diferentes de protegao. No entanto, analisando somente dois titulos, fica evidente a dificuldade da adequagao das normas brasileiras ao FASB. Palavras chave: Contabilizagiio do Hedge. Mercado futuro. Cédula do Produto Rural (CPR). Teoria da Contabilidade. * Artigo apresentagio no 6° Congresso USP de controladoria ¢ contabilidade. “Maria José de Camargo Machado De Zen € mestre em controladoria ¢ contabilidade pela FEAJUSP, e-mail: mjzen@usp.br. Sérgio Seidiyu Yatabe é mestre em controladoria contabilidade pela PUC/SP, e-mail: ssyatabe@superig.com.br, Luis Nelson Guedes de Carvalho é professor doutor no Departamento de Contabilidade e Atudria da Universidade de Sao Paulo - FEA/USP, e-mail: Inelson@usp.br. ‘UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n° 2, Jul-Dez 2006 277 Hedge Operations in Agribusiness - An Analysis Based on Hedging Accounting Abstract Derivatives have been became more important in the global economic context requiring accounting procedures that accurately show the risks and benefits involved in these instruments. In this context, this article show and examine aspects about hedging accounting, using as a support to analysis, two financial hedge instruments used in Brazilian agribusiness; the Rural Product Bill (CPR) and the Future Contracts (Contracts of Brazilian Mercantile Exchange Board). Through the bibliographic review, was searched the procedures of hedging accounting, according to FASB, and to CVM. Supplementary, through the theoretical example’ development, was done analysis about these procedures, comparing standard’s differences between these two boards, and the impact of those in the agro industry’ and farmer's Jinancial statements analyses. This analysis shows that there are expressive relevant differences in these instruments’s disclosure, mainly in the Future Contracts, between the standards analyzed. To the CPR, was proposed the embedded derivative’s concept, the same using by FASB in some contracts with hybrid’s characteristics. There is a fit’s necessity of the CVMss standards to the FASB, due to the importance of these operations s disclosure in the balance sheet body, considering the exposure risk’s aspect, and the comparison of distinct hedge’s strategies. However, analyzing two financial instruments only, is evident the fits difficulties of Brazilian’ standards to the FASB. Keywords: Hedging Accounting. Future Markets. Rural Product Bill (CPR). Accounting Theory. 278 ‘UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez 2006 1 INTRODUCAO As operagées com derivativos tem adquirido importancia no ambiente econémico mundial, envolvendo negocios de alguns trilhdes de délares anuais. Apenas no Brasil, em 2004, a BM&F (Bolsa de Mercadorias ¢ Futuros) movimentou US$ 6,4 trilhdes, um aumento de 58,8% em relag&o ao ano anterior (Resenha BM&E, n° 162, 2004 e 158, 2003). E inegavel a relevancia dessas operacdes no conjunto da economia. Cabe ressaltar que elas causam impactos na situagio econémico-financeira de cada empresa que utiliza tais instrumentos. Os anos 90 foram marcados por grandes colapsos financeiros envolvendo derivativos, como por exemplo, o caso da Orange Country, do Barings Bank, entre outros, levando a crer que a evidenciagdo destas operagdes nas demonstragées contabeis das companhias é relevante. Diante desse cendrio, os érgdos normativos tomaram precaugdes para que as operagdes que envolvem derivativos fossem evidenciadas nas demonstragdes financeiras de uma forma clara e¢ uniforme. No entanto, as regras causaram grande desconforto nos mercados, quebrando antigos paradigmas contabeis. Especialmente no caso brasileiro, ha ainda uma grande defasagem das normas vigentes, j4 que, somente as instituigdes financeiras ¢ afins regidas pelo Banco Central do Brasil (Bacen) apresentam a contabilizacio das referidas operagdes de forma semelhante as normas internacionais, emanadas pelo IASB (Internacional Accounting Standards Bord), ¢ norte-americanas, emanadas pelo FASB (Financial Accounting Standards Bord). Saito e Schiozer (2004) mostram que das empresas brasileiras nao financeiras que utilizam derivativos, os principais fatores de preocupacao dos gestores sdo as questées tributarias e contabeis. Os autores compararam as respostas encontradas no Brasil com as dos Estados Unidos, e embora 0 grau de disclosure do uso de derivativos exigidos na empresas brasileiras seja muito menor que o das norte-americanas, ndo ha diferenca significativa UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n° 2, Jul-Dez 2006 279 Operagces de Hedging Accounting DEZEN,M.J.C.M; entre a propor¢do de gestores dos dois paises preocupados quanto CARLA L, N.g;20 tratamento contabil. Nao sé os agentes dos mercados financeiros aumentam 0 uso dos derivativos nas suas operagdes. Muitas instituigdes nZo financeiras objetivando a redu¢ao da volatilidade de seus resultados e fluxos de caixa utilizam freqiientemente estes instrumentos para © gerenciamento de risco. Saito e Schiozer (2004) utilizando dados do Bank for Internacional Settlements (BIS), mostram que as empresas nio financeiras so responsaveis por 20% dos volumes dos contratos de cambio, 10% dos contratos de taxas de juros e 25% dos derivativos ligados a commodities, aqui entendidas como mercadoria padronizada e de baixo valor agregado, produzida e comercializada em varios paises. Uma particularidade desse setor é que as__ anizagdes geralmente operam com pouca variedade de commodities, estando sujeitas as freqiientes oscilagdes de produgio, qualidade e prego. Este “sobe e desce” faz com que os fluxos de caixa das empresas mencionadas também sejam volateis e, para diminuir esta condicao, os setores competitivos buscam instrumentos no mercado financeiro. Um dos setores da economia sujeito 4 estas oscilagdes € que vem aumentando o volume de negécios junto 4 BM&F ¢ 0 agronegocio. Bignotto, Barossi Filho e Sampaio (2004), mostram que a atividade do agronegécio esta sujeita ha dois tipos basicos de risco: de produgao e de prego. Muitas empresas fazem uso dos derivativos a fim de efetuarem hedging de suas operagdes no mercado fisico, visando proteger o capital, fixar pregos e amenizar os efeitos inesperados provenientes das oscilagdes de ativos e taxas. Alguns dos instrumentos utilizados pelas empresas do agronegécio com a finalidade de garantia de preco futuro, é o mercado futuro de commodities agricolas e a Cédula de Produto Rural (CPR). Tal escolha nao impede que a empresa utilize também. outros instrumentos financeiros, como as opgdes e€ os contratos a : termo, nem mesmo que operem no mercado futuro de outros 280 UnB Contabil — UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez 2006 produtos, como juros, moedas ¢ swaps. Este artigo, no entanto, vai se ater 4 discussio sobre 0s objetivos e as operagées dos dois instrumentos especificos citados inicialmente, quando utilizados com a finalidade de hedge. Hoje existem no Brasil varias modalidades de CPR, com diferentes niveis de exposigdo ao risco. Grande parte destes titulos, esté sendo negociado juntamente com contratos do mercado futuro, objetivando garantir a melhor protegdo das margens operacionais. Dado que a evidenciagao das referidas operagdes é um fator de preocupac&o nao sé dos gestores como de outros agentes da economia, faz-se necessaria uma discusstio das formas de utilizag&o ¢ da evidenciagdo nas demonstragées financeiras destes instrumentos. O objetivo principal do presente trabalho é mostrar como a contabilizagio da CPR e do mercado futuro de commodities deveria ser feita segundo as normas de contabilidade emanadas pelo FASB, mostrando as diferengas em relacgéo as normas brasileiras e principalmente, discutindo as dificuldades envolvidas na evidenciagdo destas operagdes nas demonstracées financeiras. “Para tanto serfo apresentados os dois instrumentos ¢ discutidas as suas principais finalidades, bem como, as normas que versam sobre a contabilizacdo dos derivativos, A fim de ilustrar os conceitos discutidos, serd apresentado um exemplo tedrico de contabilizagao da CPR e do mercado futuro de commodities. No que se refere 4 metodologia de pesquisa, quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratéria, visto que esta sendo abordado um tema pouco explorado: contabilizagao de derivativos, ainda n&o contemplado na legislag4o brasileira. Quanto aos procedimentos, é uma pesquisa bibliografica, onde o tema pesquisado é analisado através de um exemplo tédrico. Jé a abordagem do problema é qualitativa, onde sera analisado e discutido através de um exemplo teérico, a comparagao da contabiliza¢ao dos instrumentos escolhidos segundo o FASB e a CVM. O artigo esté organizado da seguinte forma: na se¢ao 1, introducio e justificativa do tema; secdo 2, histérico normativo e Un8 Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n? 2, Jul-Dez 2006 281 Hedging Accounting TARVALHO, L.N. Ms procedimentos aplicados aos derivativos; na segao 3, sao ,APresentados as operacdes, o ambiente da Cédula do Produtor Rural e suas interagdes com o mercado futuro; na secdo 4, ¢ construido um exemplo teérico para discussdo das normas de contabilizagdo e propostas sugeridas; a secfo 5 traz as consideragdes finais do trabalho, 2 HISTORICO NORMATIVO E PROCEDIMENTOS CONTABEIS APLICADOS AOS DERIVATIVOS Num primeiro momento, as operagSes com derivativos foram consideradas itens fora do balango (off-balance sheet). Em 1986, o principal érg&o normativo da contabilidade nos Estados Unidos, o FASB, iniciou um projeto de pesquisa voltado para estas operagdes. Este foi conclu{do somente em 1998 como SFAS 133, Accounting for Derivatives Instruments and Hedging Activities, documento que regulamenta a contabilizag&o e a evidenciacfo das operagdes mencionadas em empresas daquele pais. Segundo Cardozo e Costa Junior (2001), o SFAS 133 quebra uma série de paradigmas da contabilidade, causando uma turbuléncia no sistema norte-americano de normatizacao contabil. Uma das inovacdes propostas foi o registro contabil de todos os instrumentos financeiros derivativos (offe on-balance-sheet risk), a fair value (valor justo de um ativo ou passivo), Nesse caso, 0 fair value é representado pelo montante por meio do quai um instrumento financeiro pode ser negociado em uma transagfo corrente entre partes interessadas, que nfo seja proveniente de uma venda forgada ou derivada de processos de liquidagdo, Se o prego de mercado do instrumento estiver disponivel, este sera o fair value. Outros fatores que dificultaram a adogao imediata de tal instrumento referem-se a complexidade da norma, ja que, a precificagdo de derivativos financeiros requer modelos matematicos complexos, e os conceitos utilizados, nem sempre s&o usuais pata os profissionais da contabilidade. Por essas € outras dificuldades, a adogao do documento foi prorrogada para 2001, com outros dois ja emitidos retificando o 282 Un Contabll ~ UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jui-Dez primeiro: o SFAS 137 - Accounting for Derivatives Instruments and Hedging Activities — Deferral of Effective Date of FASB Statement 133, ¢ 0 SFAS 138, Accounting for Certain Derivative Instruments and Certain Hedging Activities. Também no cenario intemacional, o IASB (International Accounting Standards Board), emitiu, em 1998, o IAS 39, Financial Instruments: Recognition and Measurement, que também produziu efeitos somente a partir de janeiro de 2001. A Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades por AgSes) néo trata desse assunto e a Comissao de Valores Mobiliarios (CVM) nao se pronunciou sobre a contabilizagéo das operacgdes com derivativos, mas emitiu a Instrugdo n° 235/95, que trata da evidenciagdo destes instrumentos em notas explicativas, JA as instituigdes financeiras regulamentadas pelo Banco Central encontram-se numa situaco diferente. O Cosif' contempla essas operagdes e os normativos do exercicio de 2002 alcancam uma forma bem semelbante ao SFAS 133 ¢ ao JAS 39. Apesar da importdncia de uma evidenciacao clara dos instrumentos que s4o base deste estudo nas demonstracgdes financeiras e da preocupacao do mercado com o risco envolvido nessas operagdes, so evidentes as dificuldades de uma normatizago tinica que envolva todos eles. Primeiramente é necessdrio que se defina 0 que é um derivativo. Para Hull (1998, p.13), trata-se de “um instrumento financeiro cujo valor depende dos valores de outras variaveis basicas que o referenciam” (no mercado financeiro, elas sdo os pregos dos titulos negociados). Um contrato derivativo nado apresenta valor préprio, mas originado de outros ativos (juros, moedas, commodities, agdes etc). Para o FASB, é necessdria uma defini¢do abrangente, mas que consiga enquadrar todos os instrumentos derivativos existentes e outros que s&o freqilentemente langados pelo mercado financeiro. Segundo a definig¢do dada pelo FASB no documento SFAS 133, um derivativo € um instrumento financeiro ou outro contrato ' Cosif - Plano Contébil das instituigdes Financeiras do Sistema Financeiro Nacional do Banco Central do Brasil UNnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez 2006. 283 Operacées de Hadge no ‘Agronegécio- Uma Andlise Baseada no Hedging Accounting DEZEN,M.J.C.M, YATABE, 8.8. CARVALHO, L.N.G; que tenha as seguintes | caracteristicas (LOPES; LIMA, 2001; CARDOZO; COSTA JUNIOR, 2001; MOREIRA, 2003): ° = Possuem um ou mais ativos objetos (taxa de juro, moeda, aco, commodities, etc.) e um ou mais valores nocionais (unidades de negociacdo dos contratos) ou provisées de pagamento ou ambos, = Nao ha investimento liquido inicial na operag4o ou este é significativamente menor que 0 necessdrio em outros tipos de contratos nos quais é esperada uma resposta similar as variagdes nas varidveis principais do mercado; = Os termos do contrato permitem ou exigem a liquidagao em bases liquidas (net settlement) ou ocorre 2 transagao ou sacrificio de um ativo que nao apresente diferenca significativa em relagdo a liquidacdo em bases liquidas (caixa ou algo. que se transforme rapidamente em caixa). A intengdo de uso do instrumento ¢ a “pega-chave” de sua correta contabilizagao, pois grande parte destes instrumentos pode ser utilizada com a finalidade de hedge ou de negociagao (trading) financeira. A definigao dessa intengdo de uso do instrumento financeiro (nao sé derivativos, mas outros titulos e valores mobilidrios) é 0 ptimeiro desafio para os profissionais da contabilidade, pois aqui comega 0 subjetivismo. Outro ponto é a definicdo do que. é uma operacao de hedge. Silva, Oliveira e Aragao Junior (2003, p. 2), discorrem sobre o arcabougo conceitual do hedge e o definem como “uma estratégia defensiva ou de protegao para que se evitem perdas futuras, em posigdes j4 assumidas”. As variagdes de precos do ativo objeto de hedge sio compensadas pelas ocorridas no preco do instrumento utilizado para proteger 0 referido ativo. Desta maneira, como o objetivo do hedge é neutralizar o risco, minimizando as perdas, ele também anula as possibilidades de ganhos. Tanto o FASB, quanto o IASB e o Banco Central, tém as suas normas vinculadas a intengdo de uso do instrumento financeiro. Primeiramente, se o objetivo é hedge ou nao (trading), ¢ posteriormente, qual a finalidade deste hedge, ou seja, 0 que ele 264 ‘UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez esta protegendo. Desta maneira, a classificacao quanto a finalidade para o qual o instrumento foi adquirido é feita da seguinte forma: (LOPES; LIMA, 2001; CARDOZO; COSTA JUNIOR, 2001; MOREIRA, 2003, SILVA;OLIVEIRA; ARAGAO JUNIOR, 2003): «Fair Value Hedge: é o hedge feito para proteger ativos ou passivos ja reconhecidos, ou compromissos firmes nao reconhecidos, contra variagdes de pregos do ativo; " Cash Flow Hedge: ¢ 0 hedge feito para proteger um fluxo de caixa futuro de um ativo ou passivo, ou uma transa¢ao esperada (forecasted transaction), » Foreign Currency Hedge: hedge de exposigado a mudangas nos negécios (investimento em operagao internacional, um compromisso ainda nao reconhecido, um titulo destinado a trading ou uma transagao esperada) em moeda estrangeira, realizados por uma entidade; "= No designation hedge: aqueles instrumentos adquiridos com propésito de resultados positivos com as flutuagdes de precos e taxas (trading). O FASB. o JASB classificam as operacdes de forma semelhante, nestas quatro finalidades apresentadas. Ja 0 Banco Central utiliza a classificagao em trés categorias, seguindo a mesma idéia das duas primeiras apresentadas, e acrescentando as operagdes por conta propria que nao tém finalidade de hedge. A Comissao de Valores Mobilidrios nao atribui classificagdes, mas pede que as empresas demonstrem nas notas explicativas o valor de mercado de tais instrumentos, as politicas de atuagdo e de controle e a exposigdo aos riscos. Isto ocorre porque a CVM restringe-se ao reconhecimento dos ganhos e perdas com derivativos quando se efetivarem, direto no resultado, além da evidenciagao em notas explicativas. Nao ha reconhecimento destes como ativos ou passivos. A classificacao da operagdo quanto a sua finalidade, é que determina a contabilizag4o desses instrumentos ¢ a evidenciago apropriada nas demonstra¢des financeiras, sendo: " Fair Value Hedge: os ganhos e perdas no instrumento UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n° 2, Jul-Dez 2006 285 Operagies de no ‘Agronegéclo~ Uma Andiise Baseada no Hedging Accounting DEZEN,M.1.C.M; de hedge e nos instrumentos protegidos sao contabilizados .g,0 resultado corrente; *" Cash Flow Hedge: a parcela efetiva dos ganhos e perdas com 0 instrumento de protegdo é contabilizada em Other Comprehensive Income (conta do PL), ficando 14 até que o fluxo de caixa que est4 sendo protegido se realize. Neste momento, a parcela dos ganhos ou perdas com o derivativo sera transferida para o resultado; = Foreign currency hedge: segue a contabilizac4o do Fair Value Hedge ou do Cash Flow Hedge, dependendo da finalidade de protecdo em moeda estrangeira. Se o ganho ou a perda se referirem ao hedge de um investimento liquido em uma operagao estrangeira, deverd ser contabilizado no patriménio liquido, em rubrica denominada Other Comprehensive Income (OCI); "= No designation hedge: ganhos e perdas reconhecidos no resultado corrente. E importante ressaltar, com essa comparac3o, que o FASB reconhece todos os derivativos como ativos ou passivos eliminando a figura dos elementos off-balance sheet (LOPES; CARVALHO, 1999).Outro ponto importante salientado pelos autores é a mensuragao destes instrumentos pelo Fair Value, alvo de controveérsias entre os profissionais da contabilidade. O FASB reconhece que o Fair Value é a melhor medida para avaliag&o de instrumentos financeiros e a unica possivel para os derivativos (LOPES; LIMA, 2001). Quando o titulo é negociado em bolsa ou em instituigdes similares, a melhor aproximag4o do Fair Value é 0 valor de mercado. O problema existe quando nao existe mercado para este titulo e a obtengdo do Fair Value é dada pelo uso de varios modelos de precificag4o ou o valor presente dos fluxos de caixa futuros esperados. Nestes casos, ha subjetividade na determinago do valor do titulo. A contabilizagao especifica prescrita pelo FASB para as operagées envolvendo derivativos, quando utilizados como instrumento de proteg4o (hedge), é chamada de Hedge Accounting. Segundo Carvalho (2002), a definig4o refere-se ao 286 UnB Contabit — UnB, Brasilia, Vol. 9, n* 2, Jul-Dez 2006 reconhecimento dos ganhos ou perdas sofridos pelo item protegido ¢ compensados pelas perdas ou pelos ganhos incorridos pelo particular instrumento derivativo utilizado como proteg4o. Esta contabilizacdo serd tratada na seco 4, na exposicao do exemplo tedrico, 3 A CPR E O MERCADO FUTURO DE COMMODITIES AGRICOLAS O esgotamento do modelo de politica agricola brasileira no final dos anos 80 ¢ inicio da década de 90 fez surgir um conjunto de instrumentos financeiros que buscam oferecer ao produtor dois objetivos: crédito e protegdo com relacdo aos riscos de precos, Nesse contexto, surgiu em 1994, a Cédula de Produto Rural (CPR) como uma altemativa de financiamento a producdio agricola. Com este titulo, os produtores podem vender a produg&o antecipadamente, recebendo de imediato o respectivo valor e se comprometendo a entregé-la na quantidade, qualidade, local e data estipulados no titulo, A CPR, segundo a defini¢ao do Banco do Brasil (www.bb.com.br), “é a Cédula de Produto Rural criada pela Lei 8,929/94 e alterada pela Lei 10,200/2001, Trata-se de um titulo cambial, negociavel no mercado e que permite ao produtor rural ou suas cooperativas, obterem recursos para desenvolver sua produgao ou empreendimento, com comercializagdo antecipada ou no”, As modalidades da CPR foram criadas 4 medida que se necessitava fomentar o crédito rural ¢ inserir novas fontes de recursos para esta demanda, Na sua criagdo, em 1994, a unica modalidade vigente era a CPR Fisica, O produtor rural emitia este titulo com desdgio financeiro, avalizado pelo Banco do Brasil, comprometendo-se a entregar futuramente parcela da sua producdo ao comprador da CPR. Normaimente, esse comprador era uma agroinddstria interessada em garantir aquele insumo negociado no titulo ¢ a instituigéo financeira funcionava apenas como avalista da UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol, 9, n® 2, Jul-Dez 2006 287 1B ZEN,M.J.C.M. ‘ATABE,S.S5, "ARVALHO, L.N.G; operacdo. Apesar de ser um titulo financeiro, essa modalidade de CPR é€ no fundo uma compra antecipada, em que o comprador e o vendedor garantem a negocia¢ao da mercadoria fisica ¢ 0 prego futuro de negociacao. Com a liquidagao fisica do titulo, as negociagées ficavam restritas ao produtor e 4 agroindistria, restringindo a oferta de tecursos ao crédito rural. Com o objetivo de aumentar a oferta de crédito e sanar os problemas relativos a entrega fisica, em 2001 surgiu a CPR com Liquidagdo Financeira, um titulo que pode ser transferido a outro comprador por endosso e é negociavel no mercado secundario, como um ativo financeiro enquanto vincendo. Isto fez com que os negécios com a CPR quadruplicassem. Entretanto a CPR nao € somente uma alternativa de financiamento, mas serve também como um instrumento de protecdo contra movimentos adversos de precos, tanto para os produtores como para a agroindustria. Na realidade, a CPR constitui um instrumento hibrido, representando ao mesmo tempo um ativo financeiro e um contrato a termo com entrega diferida e prego ajustado. Ela é uma varia¢do das modalidades tradicionais deste tipo de contrato. Segundo Hull (1998), os contratos a termo sdo semelhantes aos futuros, diferenciando-se principalmente por serem um acordo entre duas partes, ndo necessitando da negociagao em bolsa. Em cada operacio descrita anteriormente, deve-se notar a exposi¢ao ao riscos dos agentes envolvidos e se ha, em algum momento, a finalidade de hedge da operagao. Mudando agora o enfoque, outro instrumento que sera abordado neste trabalho é 0 mercado futuro que, para Lozardo (1998), tem cinco fungdes basicas: administragao de risco de pregos futuros, difusdo de precos, minimizar o impacto negativo de novas informagdes econémicas, diminuir a sazonalidade de pregos entre safras e indicar 0 prego futuro do ativo objeto, Por essas fungdes é que o mercado futuro de commodities agricola vem crescendo e conquistando novos interessados, nao somente os produtores ¢ a agroindistria, cujo principal interesse é 288 UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n* 2, Jul-Dez 2006 a minimizagao:de riscos, {hedge de precos},; mas também. especuladores que: visam ganhos fiaanceirps.Difereatemente da _ CPR, a disponibilizacao total do montante financeiro.da contrato. ocorre somente na liquidagdo da posi¢o. No entanto, durante a vigéncia da posipSo, ocorrem desembotsos-reférentes a: ' ~ * = Ajustes didrios: a'diferenca qué a parte vetidédora'retebe da parte comipradora quando o preco de vénda cai olrpaga quaiido: © prego de venda sobe, permitindo a transferéncia desta obrigacao’ aum terceiro a qualquer momento, sem préjuizo de‘nenhuina das partes, além de garantir que qualquer uma delas ‘possa‘ cumprit suas obrigagdes, minimizando os riscos de ambas; . : = Margens de garantia: sio as exigéncias' dos ‘contratos’ fututos é representam percentuais ‘pequends' sobre o valor do conitrato. Nos contrates a termo, elds nfo-sfo exigidas, configurando como‘garantia a propria mercadotia. « aa Segundo Marques ¢ Mello (1999), os séguitités agentes: (hedgers) tém interesse em procurar protecAo nos meréados futuros: os produtores rurais que buscam defender-se da queda de pregos de sua producio, as agroindustrias que necessitam se protegerem de aumentos de matérias-primas, os exportadores que precisam garantir precos sobre contratos de exportagAo ja firmados € os importadores que também precisam garantir pregos dos contratos jé firmados. Além desses agentes, outro de fundamental importéticia estratégica para a liquidez dos negécios é 0 especulador, que esta interessado nos ganhos com a compra e venda dos contratos, nao se importande com a mercadoria fisica. Para Lozardo (1998), a razio de ser dos mercados derivativos é a existéncia de incertezas ¢a volatilidade dos prégos, sendo a transferéncia de riscos dos hedgers para o especulador sua principal caracteristica. Tanto a CPR quanto os contratos futuros agropecuarios tém sido vistos pelo mercado como alternativas de investimentos, proporcionando ganhos financeiros aos investidores. UnB Contabil - UnB, Brasflia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez 2006 289 Hedging Accounting DezeN.M.).c.M; 4 PROCEDIMENTOS CONTABEIS APLICADOS A YATABE.S.6; | CPR E AOS CONTRATOS FUTUROS DE COMMODITIES AGRICOLAS Para analisar a contabilizaco das operagdes de CPR ¢ dos contratos futuros de commodities agricolas e o seu necessdrio disclosure, seré construido um exemplo teérico das referidas operagdes. Suponha que um produtor rural que esteja formando sua lavoura de milho em abril de um determinado ano ¢ tenha uma Pprevis&o dos seus custos de producdo, procure um instrumento de hedge que possa garantir o prego de venda futuro do produto em setembro, assegurando uma margem satisfatéria ao seu negécio, Na outra ponta, tem-se uma agroindistria que utiliza esse milho como insumo e, conhecedora dos precos de venda de seu produto final, também quer manter uma margem satisfatéria da sua produgao em setembro. Tanto o produtor rural quanto a agroindistria podem vender € comprar contratos futuros de milho, Caso o produtor precise de recursos de terceiros para financiar a sua produgdo, uma das formas de financiamento disponiveis no mercado ¢ a emissdo de uma CPR, Neste exemplo, o produtor pode emitir uma CPR em abril, para liquidac4o em setembro do mesmo ano, e este titulo é compra pela agroindastria. E importante verificar que ambos os agentes t¢m 0 objetivo de proteger suas margens futuras e tanto a CPR quanto os contratos de mercado futuro servem a este objetivo. No entanto, na falta de recursos préprios o produtor encontra na CPR um instrumento de financiamento, lastreado no seu produto, Na realidade a CPR, neste caso, representa tanto um instrumento de hedge como um financiamento, Para a agroindistria, a CPR se apresenta atrativa porque, além de servir como um instrumento de hedge dos seus insumos Pproporciona ganho financeiro. Outro ponto importante é que, com a falta de recursos oficiais direcionados ao financiamento agricola, a CPR se mostra uma alternativa vidvel para os dois agentes, 290 UNB Contabil ~ UnB, Brasilia, Vol. 8, n® 2, Jut-Dez 2006 Levando em conta os dois mecanismos de protegaio (CPR e mercado futuro), sera analisada a evidenciagdo destas operagdes e demonstradas as diferengas que a classificag4o pode trazer na anélise das demonstragées financeiras. Para isto, considere que tanto o produtor quanto a agroindistria fecham suas demonstragdes trimestralmente. Os dados de mercado nas referidas datas constam na Tabela 1; ‘Tabela 1: Dados de mercado da negociagho em diferentes datas Deserigdo Data Prego —RS/saca | Muntante Tots |— R$ mid (Contrate ~ 450 sucas) Colagdo atual da saca de milo Abril 1H aK 7.3001 Cage do sereado Touro pars | — Abel 3.08 W380 setgmbr Totagio sda mereute Toiora pata] ino aor TOR _ etembey { Cotagi cltivnsetembre Setembro 2 iis Fonts: elaboraco propria, Tniciando o exemplo, suponha que um determinado produtor no necessite de financiamento, e escolhe proteger sua margem vendendo um contrato futuro de milho em abril. Como seu custo de produgo est previsto em R$ 20,00/saca, ele tera uma margem _ de RS 3,00 em setembro (R$ 23,00 — RS 20,00 = R$ 3,00). Da mesma forma, a agroindiistria estaré comprando um contrato futuro de milho para setembro para garantir uma margem de R$ 2,00 (prego de venda R$ 25,00). Aqui cabe a primeira discuss4o sobre a contabilizag4o do hedge. Pelas regras da CVM, 0s instrumentos detivativos devem constar apenas nas notas explicativas, e o reconhecimento das perdas e ganhos com este se dara somente no encerramento da posig&o. J4 pelo FASB e IASB, primeiramente deve-se classificar este instrumento quanto 4 sua finalidade de uso. Nesse exemplo, a finalidade do instrumento derivativo é a protegdo da margem futura dos agentes. No entanto, neste momento, 0 item protegido (milho) n&o consta como ativo (passivo) no balango dos agentes. F Neste exemplo, para fins didaticos, nfo estio sendo considerados os custos da operagdo junto 4 BM&F ¢ corretoras. Todas as despesas devem imediatamente ser reconhecidas na contabilidade. UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol, 9, n° 2, Jul-Dez 2006 291 Operagses de Hedge no Agronegéelo~ Uma Anilise Bassads no Hedging Accounting BLENM GM; ATABE, SS: ARVALHO; by N.G: f ; Dessa maneira, conclui-se que a finalidade do instrumento .€ protegao de fluxo.de caixa (Cash Flow Hedge) futuro e, portanto, “os ganhos e perdas devem ses reconhecidos no patriménio liquido numa. conta especial de Other Comprehensive Income até que, as vgriagbes do item protegido ocorram, Neste momento, o.saldo. destas:variagées. ¢ transferido para. resultado corrente,para que haja a confrontagdo da receita com a despesa (matching principle), | O conceito de Comprehensive Income (lucro abrangente) segundo Héndrisen e Van Breda (1999, p. 208): B definido como sendo a variagao total do valor do capital, reconhecido pelo registro de transagdes ou pela reavaliago da empresa durante um periodo determinado, excetuando-se pagamentos de dividendos ¢ as transagdes de aumento e redugdo do capital. A norma SFAS 130 “Reporting Comprehensive Income” usa 0 termo Other Comprehensive Income para designar todos os itens do lucro abrangente exceto o lucro liquido. Antes do SFAS 133, esta conta inclufa entre outras transagdes: ganhos/perdas nao realizados de titulos negociaveis, ajustes decorrentes da tradugao de dados em moeda estrangeira, e custos ndo realizados nos ajustes dos passivos de plano de pensdo. Com a publicagaio da norma supracitada, esta conta foi acrescentada com os ganhos/perdas nio realizados do derivativo, quando este é classificado como cash flow hedge ou foreign currency hedge. Na verdade a manuteni¢do destes itens nao realizados numa conta do Patriménto Liquido tem uma conotagao parecida com uma conta de reserva, por exemplo, Estes ganhos/perdas permanecem nesta conta até a sua realizacio, Retomando o exemplo, no momento da contratagao das operagées do mereado futuro em abril nao hé registro contabil, pois o valor do derivativo nesta data é zero. Nos fechamentos do balango em junho e setembro, pelas regras do FASB, faz-se necessério 0 ajuste a Fair Value dos instrumentos derivativos. A 292 UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n° 2, Jul-Dez 2006 ‘contabilizag&o conforme os dois érgaios nonmativos 8 (CV FASB) esto descritas na'Tabela 2:° ‘hela & Contabilizeeto das operasbes ae meredios futuros Produtor Rural . Periodo | CVM [FASB lustes Didtios Junho _[D [Conta Corrente BM&F 450 | 50 [Conta Corrente BM&F [Dcrivativo [Hedge Accounting. Fechanento ther Comprehensive Inéome (PL) Res.-Aplic, no Mere: Futuro (DRE) [Resultado da aplicaghio (CVM) | [Conta Corrente BMaF 225 [Res. Aplic. no Merc. Futurs (DRE) + 225 Resgatando 0 saldo da. C.C. BM&E [Caixa [Conta Corrente BM&F Fonie:elaboragdo propria : \ Em setembro o produtor também estar vendendo o milho no mercado fisico, realizando, desta maneira o fluxo de caixa planejado. Supondo que nao haja diferengas entre o prego do mercado fisico e o da BM&F, o prego de venda do produto sera de R$ 22,50/saca. Como a operacio tem a finalidade de protegdo de fluxo de caixa (Cash Flow Hedge), nao ha diferenga na DRE (Demonstra¢o de Resultado do Exercicio) segundo os principios brasileiros e os norte-americanos. Jé se a finalidade fosse Fair Value Hedge, pelo FASB, o ganho/perda do derivativo estaria sendo apropriado diretamente no resultado da mesma forma que © ganho/perda do item protegido, diferenciando-se da contabilizagao UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Juk-Dez 2006 293, Operagtes de tho Agronegéclo~ Uma Andlise Baseada no Hedging Accounting DE ZEN, M. J, YATABE, 8, $. CARVALHO, | Ms proposta pela legislagAo brasileira, onde os ganhos ¢ perdas sao , apropriados somente no encerramento da posigao. Em contrapartida, no balango as diferengas ficarao evidentes, pois o derivativo ¢ contabilizado como um ativo (passivo) ¢0 ganha (perda) do instrumento permanecem no patrimdnio lfquido (Other Comprehensive Income) até que ocorra a realizagio do fluxo de caixa. A contabilizag&o na agroindistria é andloga a feita pelo produtor rural. Na DRE também nfo hé diferenga entre as duas legislagdes abordadas, no entanto, como a agroindistria esta comprando milho no futuro, pelas regras brasileiras nao ¢ contabilizado o direito de recebimento da margem de garantia sobre a variagdo de prego (R$ 23,00 — R$ 24,00/saca). Nesse caso nfo hé evidenciagdo do derivative no “corpo” do balango, a empresa deve apresentar os dados do instrumento nas notas cxplicativas (Instrugdéo CVM n° 235). Pelas regras do FASB ¢ IASB, o derivativo est4 registrado como ativo, evidenciando desta forma os riscos envolvidos na operagao. As demonstragdes da agroindustria constam nas tabelas 3 ¢ 4: ‘Tabela 3 : DRE Agroinddstria - PCGA Brasil e USGAAP - Mereado Futuro ‘Setembro 11.250) 10.135) 1a a CN | Ts PS Nee Tay ee | 14 = Principins Contibels Geraknents Acsiton Fonte: elaboraglo pedpria 294 UnB Contabil ~ UnB, Brasilia, Vol. 9, n° 2, Jul-Dez 2006 Tabels 4 Bulango agroladdatria - mercado futuro Totul Passive Fonte: slaborago propria, Como exposto no inicio deste tépico, se o produtor rural necessita de recursos para financiar a sua produgio, ele pode emitir uma CPR. Relembrando, a CPR é uma variag4o do contrato a termo, mas com o desembolso da parte compradora ocorrendo no momento da emissao do titulo. Apesar de o t{tulo ter o valor nocional numa commodity, a CPR, em princfpio, configura-se como uma operagiio de financiamento, Dessa maneira, o lancamento contabil seria o mesmo tanto pelas regras brasileiras quanto pelas norte-americanas. Continuando com 0 exemplo, assume-se que foi emitida uma CPR financeira indexada a BM&F, com um desagio de 10% cobrado pela agroindustria. Note que o produtor emite a CPR ¢ a agroindustria compra este titulo. O resultado da agroindistria é bastante afetado pela atualizacfo do saldo credor, No entanto, verifica-se que o lucro acumulado do perlodo (abril a setembro) ocorre como o planejado, confirmando a eficiéncia do instrumento na funcio de protecio de margem. A tinica diferenca no lucro acumulado da agroindustria com a emissdo da CPR é a obtengfo da receita financeira de R$ 1,035,00°. A tabela 5 mostra os resultados trimestrais da agroindustria > Para simplificaglo do cxcfhplo, esta dexpesa serd apropelada integralmente no mds du emisstio da CPR. UnB Contébil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n¥ 2, Jul-Daz 2006 295 iging Accounting ‘Tabela 5 : DRE Agroindistria ~ CPR Absil_| Junno [Setembro| Acumi- 11.250 | 11280- 0.125) Gods fas [1 : (678) () Reteitas Fi ness 1035 a0 (=) Revatindo Final — Tas] ass [aso [ aso Fonte! elaboragio prépria Os valores de R$ 450,00 (R$ 24,00 - R$. 23,00 = RS. 1,00/ saca x.450 sacas) em junho ¢ R$ 675,00 (R$ 22,50 - 24,00,= 1,50/ saca x 450 sacas) em setembro, referem- Se i atualizagao do saldo Aa. some antgcipada, (ative) na agroindast a forma, a DRE do produtor rural também] hay uma ic Reese inanecias /(2) Resuttado Final Ponte elibotasdo prépria , ‘As oscilagées fazem com que a comparabilidade de resultado entre os periodos seja prejudicada. Note que estas atualizacdes so decorrentes unica e exclusivamente do valor nocional da divida (prego futuro do mitho). Nesse caso, deve-se refletir novamente no objetivo basico de uma CPR: financiamento e protegao de margem. Se a empresa tivesse outras opgdes de financiamento, ela estaria pagando uma despesa financeira proxima de R$ 1.035,00, mas n&o teria nada que assegurasse sua margem. Assim, pode-se descrever a CPR como um instrumento hibrido, um financiamento com um derivativo embutido. No préprio SFAS 133 ha a citagaéo dos embedded 296 UnB Contabil - UnB, Brasflia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez 2006 derivatives (derivatives embutidos), onde deve ser feita uma split accounting (contabilizac4o por partes), separando o instrumento eo-derivative. uin derivative ‘Esta norma define. o embedded derivatives, como que: est4 embutido num contrato principal. Este contrato pode ser um instrumento de divida, ou patriménio, um lease, um seguro ou um conttato de compra, sendo qliealgum dos termos. deste contrato (ex] icitamente ou. no) afetam o fluxo de nilar a um derivative, D | Compra para entvega futura “10.350 * sb Gs] Fornevedatres™ 10.350 5. |: [pagamento da CPR com desigio Forecedores, 10,350" “Pesvonto recebido »: | Caixa /Derivativo Ponier Comprehensive tcome = 61S DB C | Derivative 675 Encerramento do Derivativo g [| Derivative 225 € — [| Compra para entrega futurn 225 & — [ [hiquidagio da Opcracéo [D | Caixa 10.125 [| Compra para entrega futura 10.125 [7 Tapropriagio no Resultado D | Resultado de Derivativo 225 C | Other Comprehensive Income 225 Fonte: elaborarto propria, UnB Contdbil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez 2006 297 - Operestes de Hedge no ‘Agronegécio- Uma Anilise Baseada no Hedging ‘Accounting E ZEN, M.J.C.M.; Os dados demonstram que o resultado da agroindistria em cada ANAL BOL ng, fechamento nao seria afetado pelas variagdes do instrumento derivativo eos ganhos e perdas deste instrumento seriam apropriados no resultado, juntamente com o fluxo de caixa protegido. A tabela 8 mostra o resultado da agroindustria nos fechamentos trimestrais: Tabela 8 : DRE conforme contabiliza¢io proposta para CPR - Agroindistria Acum. Receita de Vendis feYena (=) Margem Brut (o)Despesay Finanveiras (10,125) | (10.125) 112s [1.128 (=) Resets Fina 1.035 (52) Rees, Deriva C 225)_[ 225) (©) Resultado Final 1935__| 1.038 0 909 ]1938 Fonte: elaboragdo propria Do mesmo modo que a operagao de mercado futuro, o derivativo deveria ser evidenciado no “corpo” do balango (vide Tabela 9): ‘Tabela 9 : Balanso Agroindastria - Proposta contabilizacio da CPR Junho Caixa 9.315) ‘Compra para Entrega Futura 10,350 [10.350 0 Derivativo 450. 0 Total Ativo 1.035 1.485, 1.935 0 Other Cromprehensive Income Lucros Acumulados. ‘Total Passive Fonte: elaboragdo propria Nota-se que ndo se perde a comparabilidade das demonstragdes financeiras de empresas que utilizam diferentes estratégias de protecao. O objetivo da proposta de contabilizagao apresentada neste trabalho é analisar a figura do financiamento em separado da figura da prote¢iio de margem deste instrumento (CPR), para que seja possivel verificar onde a emppresa € ou nko 298 UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez eficiente. Este racioc{nio vale também para as exportadoras, que buscam financiamentos em délar. Finalizando, o hedge accounting proposto pelo FASB133 € baseado no matching principle, sob o qual ganhos e perdas de itens relacionados devem ser reconhecidos no mesmo periodo. Outro ponto que deve ser percebido no exemplo tedrico é 0 reconhecimento do derivativo no “corpo” do balango. Tanto 0 .derivativo quanto os ganhos ¢ perdas associados devem ser avaliados pelo Fair Value. Isso faz a evidenciag&o dos riscos da empresa ficar mais clara, da mesma forma que os investidores podem acompanhar a evolugdo destas operacdes no decorrer das publicagdes das demonstragdes. Mesmo que a CPR nfo seja um instrumento derivativo classico, existe nela um derivativo embutido e, por isto, no presente trabalho é proposto um tratamento diferenciado do financiamento e do derivativo, considerando que a contabilidade deve buscar primeiramente a esséncia e depois a forma. Vale também ressaltar que 0 exemplo abordou de forma bastante simplificada essas operagdes e com a crescente utilizacio desses instrumentos e a sofisticag&o de outros instrumentos em desenvolvimento no mercado financeiro, cabe discutir 0 quanto a SFAS 133 pode ser esclarecedor na evidenciagao dos riscos. 5 CONSIDERACOES FINAIS As opera¢des envolvendo derivativos ganham importincia no ambiente das empresas, criando grandes obstdculos para a ciéncia contabil, no que se refere ao disclosure destes procedimentos. O conjunto de conceitos existente na contabilidade brasileira que trata do assunto, mesmo com as aproximagées das normas do Banco Central ao FASB, carece de muitas adequagées, ainda mais considerando que a CVM restringe a evidenciagdo destas operagdes ds Notas Explicativas. Essas operagdes, sem duvidas, geram um ativo ou um passivo, dependendo da posigao do hedger e é inegavel a UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Ju-Dez 2006 299 Operacies de Hedge no Agronegdcio~ Uma Anilise Baseada no Hedging Accounting DEZEN.M.J.C.M,; importancia de evidencié-las ne. corpo.do.balango patrimonial, conto, CARVALHO i.n.aqi4 Ocorre Nas empresas norte-ameriganase-,: yu isnt Wsvecd Fica evidente neste trabalho-a difiquldade; de adequar as normas brasileiras a0 SFAS 133. Analisando apenas dois tipos.de; instrumentos financeiros, relativamente.simplea,petante.ai variedade de opera¢des encontradas no mercado, foi:gerada ume? série de dividas ¢ reflexdes.. | coaily Quanto 4 mensuracao, o fair.val#e quebra todos:-08, paradigmas existentes até entio, baseados ho-custo histérico como base de valor. Neste ponto, paira umasdiivida: se os contadores esto prontos para absorverem este. conceita,.considerando que em alguns casos este fair valué 6 determinada por. estimnatiyas de valores (na inexisténcia de valor de-mercada),;0 que,gonfere;um: carater subjetivo na avaliacio.de umative, «. 4 Fils Outro ponto levantado neste trabalho é oprapasitode hadge embutido num instrumente!cema.a CPR. Mesnto.que.o primeird; propésito seja o financiamento.de. recursog,, li. que s¢-levar.ent- conta o instrumento de -hedge.embutida,:.para queiseja possivel analisar separadamente os, ganhos..e perdas do iderivative,..dos! custos financeiros de uma operacdo-de-financiamenta.normal,...i; Dessa forma ¢ possivel.comparar.estratégias diferentes de, prote¢ao. No entanto, tendo em vista.as difiouldades de se provar, a finalidade de hedge na utiliza¢do de um instrumento financeiro, ha que considerar que a andlise..de: unr derivatino embutidos adotando a esséncia sobre a forma, carece de muita discussdo entre os profissionais da 'contabitidade, pois ada ver" ‘fhais se aproxima da esfera do subjetivismo responsavel. : Este estudo limitou-se a comparag4o das normas emitidas pela CVM e o FASB. Tendo em vista a harmonizag4o contabil, prevista para 2010, cabe citar aqui uma limitagdo deste trabalho em relagdo as normas emitidas pelo IASB. Como sugest&o para estudos posteriores, sugere-s¢ uma analise mais aprofundada das normas emitidas pelo IASB, bem como o entendimento/andlise de outros instrumentos disponiveis no mercado financeiro brasileiro. 300 UnB Contabil - UnB, Brasilia, Vol. 9, n® 2, Jul-Dez RERERENCIA vine Lg ko olved ate BANCO "DO BRASIL. hetp//: swww.bb. com.| n.br seessado em 20/ 11/2003. 2CCT MAR os: gente bend . o BIGNOTHO,:E. G AROSSI FILHO, M.; SAMPAIO, R, Gestio doRiscq ‘de Mercado, em. Organizagdes.do Agronegocio. Res ha BMP. Sto Paulo, n.161, 6-32, 2004. TA: IYNIO, ‘h V. Instrumentos Berivativer \Contabilidade, dq. Risce: a imperiosa busca pelo subjetivismo responsavel. Resenha BM&F;. Sto Paulo, 0.146, setembro/outubro 2001 hae iesk ph ofan clasts By . CARVALHO, N. M._ “Hedge Accounting” de atives iros, | segundo o pronunciamento SFAS 133: andlise oh jecimento de receita em ‘fase do principio fod ‘onfrontagae das despesas. Sio ~ Facilldade de Economia, mae 00 eConi tilidade "FEA: USP, 2002. 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