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POUSO ALEGRE
2018
MARINA DE OLIVEIRA SILVA
YAN DE CARVALHO NOGUEIRA
POUSO ALEGRE
2018
SILVA, M. O.; NOGUEIRA, Y. C. Segurança e saúde do trabalho em canteiros de obra:
Um comparativo entre as legislações brasileira e europeia. Pós-graduação em Engenharia
de Segurança do Trabalho – Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS).
Pouso Alegre, 2018.
RESUMO
Em todo o mundo, a segurança nos canteiros de obra constitui um problema sério, tanto no
que diz respeito a acidentes fatais, quanto a outros prejuízos ligados aos acidentes, como dias
parados, indenizações e outros. Para minimizar os danos causados pela ausência de segurança
e saúde no trabalho em canteiros de obras, diversos países contam com políticas e programas
especialmente voltados e concebidos para o setor da construção civil, como é o caso do Brasil
com a NR 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e da
União Europeia com a Diretiva 92/57/CEE: Disposições mínimas de segurança e saúde que
devem ser aplicadas em canteiros de obras temporários ou móveis. Neste contexto, o presente
trabalho tem por objetivo elaborar uma revisão bibliográfica comparativa entre a NR 18 e a
Diretiva 92/57/CEE no que tange os assuntos ligados à segurança e saúde do trabalho nos
canteiros de obras com o propósito de apresentar subsídios aos profissionais da área para o
aprimoramento das políticas e, consequentemente, o decréscimo dos altos índices de acidentes
do trabalho na indústria da construção civil. A metodologia escolhida para esse estudo baseou-
se em uma ampla revisão bibliográfica sobre os assuntos relacionados ao tema, o que
possibilitou a compreensão das correlações existentes entre as legislações analisadas, bem
como as suas disparidades. Constatou-se que ambas as legislações estudadas, NR 18 e a
Diretiva 92/57/CEE, são bastante abrangentes e ricas com relação à prevenção e combate aos
acidentes de trabalho em canteiros de obra, bem como são bastante parecidas em termos de
conteúdo. Do mesmo modo, tanto a legislação brasileira quanto a europeia propõem
programas de gestão de segurança e saúde do trabalho para os canteiros de obra, o Programa
de Condições e Meio Ambiente na Indústria da Construção (PCMAT) e Plano de Segurança e
Saúde (PSS) respectivamente.
Gráfico 2 – Estimativa da distribuição dos acidentes fatais na construção civil por ano. ...... 12
Gráfico 4 – Fatores que mais causam mortes nos canteiros de obra. ..................................... 35
LISTA DE TABELAS
Quadro 2 – Resumo dos principais pontos da pesquisa realizada pelo SESI. ........................ 24
$ Dólar
% Porcentagem
° Denotação de posição
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
1.1 Importância e Justificativa do Tema .................................................................... 11
1.2 Objetivos ................................................................................................................. 13
1.2.1 Objetivo geral............................................................................................... 13
1.2.2 Objetivo específico ....................................................................................... 14
1.3 Apresentação .......................................................................................................... 14
2. METODOLOGIA ............................................................................................................ 16
1. INTRODUÇÃO
O setor da construção civil ocupa um papel de destaque na economia da maioria dos países do
globo, alavancando o desenvolvimento e avanço da sociedade, bem como elevando a taxa de
emprego e de renda da população.
Contudo, o setor de construção civil também se destaca por apresentar elevados índices de
acidentes do trabalho. Segundo estimativas da Organização Internacional do Trabalho – OIT
(2005), dos aproximadamente 355 mil acidentes de trabalho fatais que acontecem anualmente
em todo o mundo, pelo menos 60 mil ocorrem em obras de construção. Sendo assim, cerca de
17% do total de acidentes mortais no trabalho (1 em cada 6) recaem sobre o setor da construção
(Gráfico1).
Gráfico 1 – Estimativa Global de Acidentes de Trabalho Fatais.
17%
Total - 355 mil
Construção Civil - 60 mil
Parcela da Construção Civil
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De acordo com Luiz Alves Dias (OIT, 2005), a distribuição desses acidentes de trabalho fatais
por ano em canteiros de obra ocorre da seguinte maneira: “64% para a Ásia e região do
Pacífico, 17% para as Américas, 10% para a África e 9% para a Europa, sendo que os países da
União Europeia são responsáveis por menos de 2% de todos os acidentes de trabalho fatais”.
Gráfico 2 – Estimativa da distribuição dos acidentes fatais na construção civil por ano.
Europa
9%
África
10%
Américas
Ásia e
17%
região do
Pacífico
64%
Segundo Konig (2015, apud KATUKI, 2016), a construção civil é o 5° setor econômico que
causa os maiores números de acidentes de trabalho e o 2° que mais mata trabalhadores no
Brasil. A participação do setor no total de acidentes fatais no país passou de 10%, em 2006,
para os atuais 16%, correspondendo a aproximadamente 450 mortes todos os anos.
Diante desse contexto, o Brasil e a União Europeia têm criado e/ou revisado legislações com
intuito de modificar essas estatísticas, e, principalmente, garantir segurança e a saúde aos
trabalhadores. No âmbito geral, a legislação brasileira pertinente à segurança e saúde do
trabalho é composta por um conjunto de Normas Regulamentadoras (NR), enquanto a
legislação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) é formada por um conjunto de
Diretivas. No campo da construção civil e canteiros de obra, a NR brasileira de maior destaque
é a NR 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, e a Diretiva
europeia de maior expressão é a Diretiva 92/57/CEE: Disposições mínimas de segurança e
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saúde que devem ser aplicadas em canteiros de obras temporários ou móveis (ARAÚJO;
MEIRA, 2002).
O tema da segurança e saúde na construção é relevante não só por se tratar de uma atividade
perigosa, mas também, e, sobretudo, porque a prevenção de acidentes de trabalho nas obras
exige enfoque específico, tanto pela natureza particular do trabalho de construção como pelo
caráter temporário dos canteiros de obras (OIT, 2005).
Desta maneira, o presente tema possui uma grande importância na atualidade, pois trata de um
dos setores que mais geram empregos, com considerável relevância do PIB aos seus países e,
que ainda, lamentavelmente, apresenta elevado número de acidentes de trabalho. Sendo assim,
essa revisão bibliográfica justifica-se por proporcionar uma análise comparativa entre as
legislações vigentes brasileiras e europeias, evidenciando as suas similaridades e disparidades,
e assim promover subsídios para o aperfeiçoamento contínuo das legislações e das medidas que
contribuem para a redução dos riscos de acidentes que os trabalhadores estão sujeitos nos
canteiros de obra e, consequentemente, a diminuição dos acidentes de trabalho na indústria da
construção.
1.2 OBJETIVOS
Tendo como base todos os fatores acima expostos, os objetivos deste estudo estão traçados em
linhas gerais e específicas, conforme se apresentam a seguir:
O objetivo geral deste trabalho consiste em elaborar uma revisão bibliográfica com a finalidade
de realizar uma análise comparativa entre determinados tópicos da NR 18: Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e da Diretiva 92/57/CEE: Disposições
mínimas de segurança e saúde que devem ser aplicadas em canteiros de obras temporários ou
móveis relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores da indústria da construção nos
canteiros de obra.
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1.3 APRESENTAÇÃO
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2. METODOLOGIA
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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
De acordo com Noronha (2009), a construção civil responde por 5 a 15% da economia da
maioria dos países do mundo. Como pode ser observado no Quadro 1, a indústria da
construção civil ocupa um papel importante nas economias brasileira e europeia. Segundo
Mello e de Amorim (2009), apesar da imensa diferença entre os tamanhos dos respectivos
PIBs, existem algumas similaridades entre as nacionalidades analisadas:
Por fim, também é notório, no Quadro 1, a baixa produtividade do setor da construção civil
brasileiro quando comparado com a União Europeia, a qual é causada, segundo Mello e de
Amorim (2009), por:
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Empresas
informais
6,1%
Construtoras
Empresas formais
formais 26,6%
21,0%
Comércio e
serviços
informais
0,8%
Comércio de
materiais de Construção
construção residencial
4,5% informal
13,7%
Serviços
auxiliares de Outras obras
construção informais
7,5% 19,8%
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Tabela 1 – Número de acidentes do trabalho na construção civil, comparando com o total de acidentes no
Brasil, de 2009 a 2013.
Acidentes na Total de Total de
Acidentes na Construção com CAT
Construção Acidentes Acidentes A/B
Ano Registradas
sem CAT na Construção no Brasil (%)
Típico Trajeto Doença Total Registradas (A) (B)
2009 35.265 5.042 1.111 41.418 14.252 55.670 733.365 7,59
2010 36.379 5.614 985 42.978 11.686 54.664 709.474 7,70
2011 39.282 6.335 931 46.548 13.867 60.415 720.529 8,38
2012 41.748 6.759 794 49.301 14.860 64.161 713.894 8,99
2013 40.465 7.282 762 48.509 13.380 61.889 717.911 8,62
Fonte: Nunes (2016).
Conforme Luis Alves Dias (OIT, 2005), do número total de acidentes de trabalho em todas as
atividades econômicas na União Europeia, o setor da construção representa aproximadamente
18% (cerca de 850 mil acidentes de trabalho com mais de três dias de trabalho perdidos por
ano) e, no que respeita a acidentes de trabalho fatais, representa cerca de 24% (1,3 mil
acidentes de trabalho fatais por ano).
Contudo, segundo Alberto López-Valcárcel (OIT, 2005), é difícil quantificar a dimensão global
da sinistralidade no trabalho da construção, pois a maioria dos países não possui as informações
estatísticas necessárias sobre o assunto em questão. Em todo caso, a informação estatística
disponível mostra que, após décadas de queda contínua, a taxa de acidentes fatais na
construção, na maioria dos países desenvolvidos, estabilizou-se atualmente abaixo de 20
acidentes mortais para cada 100 mil trabalhadores. O caso dos países em desenvolvimento é
diferente, onde a situação está longe de ser uniforme. Alguns países em desenvolvimento
conseguiram diminuir suas taxas de acidentes fatais no setor para menos de 40 (por 100 mil),
embora se acredite que a maioria desses países continue tendo taxas acima desse nível.
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Tabela 2 – Dados relacionados com acidentes de trabalho na construção civil em alguns países da
União Europeia em 2013.
Acidente de trabalho
País da União Acidente de trabalho fatal Total de acidentes de trabalho
não fatal
Europeia
Construção Total Construção Total % Construção Total %
Alemanha 105.052 852.061 80 444 18,0 105.132 852.505 12,3
Áustria 11.965 64.646 24 143 16,8 11.989 64.789 18,5
Bélgica 9.165 56.405 20 66 30,3 9.185 56.471 16,3
Dinamarca 6.637 55.931 3 39 7,7 6.640 55.970 11,9
Espanha 37.565 37.0176 58 270 21,5 37.623 370.446 10,2
Finlândia 7.488 47.432 4 22 18,2 7.492 47.454 15,8
França 86.078 567.407 133 553 24,1 86.211 567.960 15,2
Grécia 1.344 9.676 8 22 36,4 1.352 9.698 13,9
Holanda 10.470 152.214 7 42 16,7 10.477 152.256 6,9
Irlanda 932 18.049 10 40 25,0 942 18.089 5,2
Itália 37.762 329.404 101 517 19,5 37.863 32.9921 11,5
Luxemburgo 2.237 7.055 1 6 16,7 2.238 7.061 31,7
Portugal 18.384 123.137 42 160 26,3 18.426 123.297 14,9
Reino Unido 2.4068 243.798 51 271 18,8 24.119 244.069 9,9
Suécia 3.469 36.188 5 35 14,3 3.474 36.223 9,6
Fonte: Adaptado ILOSTAT (2018).
De acordo com Malysz (2001 apud NUNES, 2016), há uma grande diversidade de risco na
indústria da construção civil, devido às condições de trabalho e a aspectos específicos do setor,
tais como:
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e) Técnicas utilizadas: a grande maioria das obras usa tecnologia tradicional, utilizando
predominantemente ferramentas rudimentares, o que pode expor o trabalhador a riscos
desnecessários. Quando são empregadas novas tecnologias, criando situações novas de
trabalho, não se tomam as medidas necessárias para o aprimoramento do operário, o que
também pode provocar acidentes;
h) Diversidade das etapas de produção: cada obra constitui-se de várias etapas distintas de
trabalho: terraplanagem, fundações, alvenaria, etc. Estas etapas possuem riscos de
acidentes inerentes a elas que exigem medidas de segurança adequadas e distintas.
Além disso, muitas dessas etapas são terceirizadas e as empresas que realizam a tarefa
atuam em um período relativamente curto no canteiro de obras, contribuindo para a
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Segundo Alberto López-Valcárcel (OIT, 2005), grande parte dos riscos que ocorrem nos
trabalhos de construção resulta de mau planejamento. Uma obra segura é uma obra bem-
organizada e gerida, sendo que a organização de uma obra requer sempre planejamento inicial.
Cada uma das unidades da obra (escavação, estrutura, acabamentos, etc.), cada uma das
operações dos trabalhos (armazenamento e suprimento de materiais, remoção de entulhos, etc.)
deveria ser previamente planejada. São muitos os fatores que dificultam o planejamento na
construção: diversidade de tarefas, pouca uniformidade das construções, pouco tempo entre a
licitação e o início da obra, falta de definição ou reformas no projeto, mudanças climatológicas
imprevistas, entre outros. Todavia sempre é possível planejar o mínimo do trabalho do ponto de
vista da segurança, de modo que se possa eliminar a causa de muitos acidentes, ou seja, é
sempre possível fazer a prevenção.
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A Segurança e Saúde do Trabalho (SST) pode ser compreendida como o conjunto de medidas
preventivas adotadas com o intuito de redução dos acidentes do trabalho, doenças ocupacionais,
bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador (MARTINS, 2004).
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2) Em 1988, a OIT adotou a Convenção 167 sobre Segurança e Saúde na Construção, por
considerar que a antiga Convenção 62, de 1937, já não era apropriada para regulamentar
os riscos desse importante setor de atividade. A Convenção 167 incorpora o tema do
planejamento e da coordenação da SST nas obras, especificando que, no caso de dois ou
mais empregadores realizarem atividades simultâneas numa mesma obra: (a) a
coordenação das medidas prescritas em matéria de segurança e saúde no trabalho e a
responsabilidade de velar por seu cumprimento recairão sobre o principal empreiteiro
da obra e (b) cada empregador será responsável pelas medidas prescritas para os
trabalhadores sob sua responsabilidade. Além disso, estabelece que as pessoas
responsáveis pela concepção e planejamento de um projeto de construção deverão
tomar em consideração a segurança e saúde dos trabalhadores da obra.
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5) Em 1995, foi divulgado o Safety, health and welfare on construction sites: A training
manual, manual específico para Segurança, Saúde e Bem-estar em canteiros de obra
(ILO, 1995).
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança;
A evolução da normatização sobre SST brasileira nos dias atuais deu-se, principalmente, pelas
Normas Regulamentadoras de Segurança do Trabalho, enunciadas pelo Capítulo V do Título II
da CLT, com redação inicial dada pela Lei n° 6.514 de 1977 e instituídas pela Portaria n°
3.214, de 1978 (SALIBA, 2004).
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Em 1995, houve uma reformulação da NR 18, dando-lhe uma nova redação e um novo título,
que passou de Obras de construção, demolição e reparos para Condições e meio ambiente de
trabalho na indústria da construção, passando a vigorar através da Portaria nº 4 de 1995
(ARAÚJO; MEIRA, 2002). A NR 18 passou a contar com 38 disposições, dentre as quais vale
destacar novas exigências como a comunicação prévia, o Programa de Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT) e o treinamento admissional
(MUTTI et al., 2000).
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Em 1958, foi criada a Comunidade Económica Europeia (CEE), então constituída por seis
países: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. Desde então, mais 22
países europeus aderiram a esta grande organização, formando um bloco econômico e político
de características únicas abrangendo grande parte do continente europeu. Em 1993, a
Comunidade Económica Europeia (CEE) passou a chamar-se União Europeia (UE) (UE, 2018).
Conforme UE (2018), no âmbito legislativo, a UE dispõe de Diretivas que são ato legislativo
que fixa um objetivo geral que todos os países constituintes devem alcançar. Contudo, cabe a
cada país elaborar a sua própria legislação para dar cumprimento a esse objetivo. Segundo
Araújo e Meira (2002), as Diretivas europeias relacionadas com o setor da construção são as
seguintes:
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De acordo com Luis Alves Dias (OIT, 2005), tradicionalmente e antes da publicação da DC na
União Europeia, a responsabilidade pela implementação de todas as medidas de prevenção nos
canteiros estava a cargo principalmente (e em alguns países apenas) dos empreiteiros, com base
na legislação e/ou nos contratos firmados entre eles e os donos de obras. Depois da publicação
dessa Diretiva na UE, todos os intervenientes no processo de construção passaram a ter ou
continuam a ter responsabilidades e obrigações em matéria de segurança e saúde no trabalho
(donos de obras, projetistas, gestores e supervisores de obras, empreiteiros e subempreiteiros,
trabalhadores).
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adaptações à realidade, criando confusão, em alguns casos, para os responsáveis por sua
implementação ou pelo acompanhamento diário de sua aplicação (OIT, 2005).
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Segundo Katuki (2016), o canteiro de obras é a área designada à execução da obra e a área que
serve de apoio aos trabalhos da construção. Deve ser entendido como uma fábrica da
construção, desta forma projetado segundo as especificações das normas e os princípios de
organização para se tornarem uma área eficiente e, principalmente, segura para os
trabalhadores.
Para Zarpelon et al. (2008), a prevenção de acidentes do trabalho nas obras exige enfoque
específico devido à natureza particular do trabalho de construção e ao caráter temporário dos
centros de trabalho (obras) do setor, o que torna relevante o tema da segurança e saúde do
trabalho na construção, especialmente considerando o grau de risco das atividades executadas.
Como já citado anteriormente, a OIT publicou um manual específico sobre Segurança, Saúde e
Bem-estar em canteiros de obra. Tal manual aborda temas particulares dos canteiros de obra,
tais como: planejamento e layout do canteiro de obra, escavações, andaimes, escadas,
movimentação de cargas, demolições, trabalho em espaços confinados e em altura,
equipamentos de proteção: coletivos e individuais, entre outros. Bem como, visa esclarecer e
orientar sobre as principais temáticas e suas regulações relativas à segurança e saúde no
trabalho que devem ser observadas no dia a dia dos canteiros de obras, a fim de contribuir para
a melhoria do trabalho dos profissionais e colaboradores envolvidos, pois, independentemente
do porte da obra e do número de trabalhadores, é fundamental a organização e gestão no
canteiro, de modo a prevenir acidentes e doenças ocupacionais, além de manter de forma
adequada o meio ambiente de trabalho (ILO, 1995).
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De acordo com o Guia para gestão de segurança nos canteiros de obra da CBIC (2017), os
acidentes típicos mais frequentes nas atividades da indústria da construção em todo o mundo
são:
Quedas de diferença de nível;
Soterramentos, e
Contatos com eletricidade.
Os acidentes ocorridos nos canteiros de obras geralmente são graves, muitas vezes resultando
em óbito. Estudos feitos por Melo (2006) indicam os fatores que mais causam a morte de
trabalhadores nos canteiros de obras, conforme o Gráfico 4.
Observa-se que nos canteiros de obras há existência de riscos ocupacionais diversos, que
variam de acordo com as fases de produção da obra, diferente do que ocorre na indústria de
transformação onde os postos de trabalho são fixos, o que facilita a identificação e o controle
dos riscos. Desde as etapas de escavações, fundações e desmonte de rochas até as etapas de
pintura e limpeza, os trabalhadores encontram-se sujeitos aos riscos inerentes a sua produção
(NORONHA, 2009).
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Impacto
causado por
desabamento
17.65%
Exposição a
outras linhas
de
distribuição
47.06%
Fonte: Adaptado Melo (2006).
Segundo Noronha (2009), a NR 18, que especifica as Condições e Meio Ambiente de Trabalho
na Indústria da Construção Civil, define as condições mínimas para instalação das áreas de
vivência no canteiro de obras, as medidas de prevenção de acidentes e exige a implantação do
Programa de Condições e Meio Ambiente na Indústria da Construção (PCMAT) quando
requerido.
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Jófilo Moreira Lima Júnior (OIT, 2005) destaca como os principais avanços da NR 18 em
termos de melhoria das condições de segurança e saúde do trabalhador:
A introdução do PCMAT, visando formalizar as medidas de segurança que devem ser
implantadas no canteiro de obras;
A criação dos Comitês Permanentes Nacional e Regionais - CPN e dos CPR, com o
intuito de avaliar e alterar a norma. A composição destes comitês é feita através de
grupos tripartites e paritários;
Estabelecimento de parâmetros mínimos para as áreas de vivência (refeitórios,
vestiários, alojamentos, instalações sanitárias, cozinhas, lavanderias e áreas de lazer), a
fim de que sejam garantidas condições mínimas de higiene e segurança nesses locais;
Exigência de treinamento admissional e periódico, objetivando que as atividades sejam
executadas com segurança;
Obrigatória instalação de elevador de passageiros em obras com doze ou mais
pavimentos, ou obras com oito ou mais pavimentos cujo canteiro possua pelo menos
trinta trabalhadores.
Anteriormente ao início das atividades no canteiro de obra, de acordo com Katuki (2016), deve-
se realizar a Comunicação prévia à Delegacia Regional do Trabalho, que constará informações
como endereço da obra e do contratante, qualificação, tipo de obra, data do início e conclusão e
número máximo previsto de trabalhadores.
O PCMAT deve ser entendido como um projeto de SST específico para um determinado
canteiro de obras, devendo ser revisado e atualizado quantas vezes forem necessárias em
função da dinâmica da obra (CBIC, 2017).
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De acordo com Gomes et al. (2016), o PCMAT pode ser entendido como um programa de
gestão de SST para o canteiro de obra, contendo projetos de segurança e saúde para prevenção
de acidentes e doenças dos seus trabalhadores. Sendo este o principal instrumento de gestão no
canteiro, deve ser elaborado pela empresa principal.
Segundo CBIC (2017), nas obras onde o pico de mão de obra previsto for inferior a 20
trabalhadores, a empresa principal está dispensada de elaborar o PCMAT, devendo, no entanto,
ter o seu PPRA elaborado de forma ampla, não se atendo apenas aos agentes de riscos físicos,
químicos e biológicos, pedidos na NR-9, mas devendo também analisar todos os outros
agentes: acidentes e ergonômico, assim como aqueles com potencial de danos ao meio
ambiente.
O PCMAT deve ser reavaliado, periodicamente, para observar seu desenvolvimento e se ele
está atendendo plenamente o objetivo para o qual foi elaborado. Se houver necessidade, devem
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O PCMAT deve ser elaborado por profissional legalmente habilitado em segurança do trabalho
com correspondente Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Esse profissional não
precisa necessariamente, porém, ser quem vai realizar as posteriores atualizações e,
principalmente, a sua implementação (CBIC, 2017).
De acordo com Noronha (2009), uma das mais importantes conquistas dos trabalhadores da
indústria da construção foi à obrigatoriedade, prevista na NR 18, de implantação de áreas de
vivência nos canteiros de obra. É nesses locais que o trabalhador faz suas refeições, toma
banho, passa suas horas de folga e, muitos deles, moram, durante a construção. As exigências
da Norma vão desde a implantação de áreas de lazer e refeitórios até a instalação de
ambulatório médico, banheiros, alojamentos, telefones comunitários e bebedouros com água
filtrada.
Ainda segundo o mesmo autor, para garantir qualidade de vida, condições de higiene e
integração do empregado na sociedade, com reflexos na produtividade da empresa, os canteiros
devem conter:
b) Vestiário e armário: Os trabalhadores que não moram no canteiro de obras têm direitos a
vestiário com chuveiro e armário individual;
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d) Refeitório: O local para as refeições deve possuir piso de material lavável e mesas com
tampos lisos e laváveis. O refeitório não pode estar localizado em subsolos ou porões das
edificações e não ter comunicação direta com as instalações sanitárias. Bem como, toda
obra deve ter bebedouros com água filtrada e potável na proporção de 1 bebedouro para
cada grupo de 25 trabalhadores;
e) Cozinha: Deve estar presente sempre que houver preparo de refeições. Além disso, deve
estar previsto pia para lavar os alimentos e utensílios, possuir instalações sanitárias, que
com ela não se comuniquem, de uso exclusivo dos encarregados de manipular gêneros
alimentícios, refeições e utensílios e possuir equipamentos de refrigeração, para
preservação dos alimentos;
f) Lavanderia: Deve haver um local próprio, coberto, ventilado e iluminado, para que o
trabalhador alojado possa lavar, secar e passar suas roupas de uso pessoal. Este local deve
ter tanques individuais ou coletivos em número adequado;
g) Área de lazer: Locais para recreação dos trabalhadores alojados, podendo ser utilizado o
local de refeições para este fim;
O cumprimento do disposto nas alíneas "c", "f" e "g" é obrigatório nos casos onde houver
trabalhadores alojados.
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sendo modificada quando necessário, para todas as fases do andamento da obra (MUTTI et al.,
2000).
De acordo com Mutti et al. (2000), a Diretiva de Canteiros (DC) considera as duas fases para a
coordenação de segurança e saúde durante o processo de construção, sendo que este tem
funções bem definidas para cada fase:
Projeto - quando deve interferir no planejamento das condições de segurança, inclusive
prever o período necessário de aplicação de cada medida de segurança.
Execução - quando deve atuar no sentido de implantar as condições, organizar a
interferência de atividades entre os diversos grupos de trabalho no canteiro, assegurar
que o empreiteiro possua o necessário em termos de equipamentos de proteção,
verificar se os procedimentos de segurança estão sendo implantados corretamente.
Conforme Luis Alves Dias (OIT, 2005), em ambos os casos, o cumprimento dos chamados
“Princípios Gerais de Prevenção” (PGP) é da maior importância para uma completa e eficiente
coordenação de segurança e saúde durante as fases de projeto e de construção. Esses PGP,
descritos na Figura 4, devem ser aplicados pelos autores dos projetos, durante o processo de
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elaboração dos projetos, e pelos empreiteiros, durante a execução física dos trabalhos, com o
acompanhamento, em ambos os casos, dos respectivos coordenadores de segurança e saúde.
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Esse documento é obrigatório sempre que os trabalhos tenham duração superior a 30 dias e
neles estejam envolvidos simultaneamente mais de 20 trabalhadores (em qualquer momento),
ou um total de mais de 500 dias de trabalho, correspondente ao somatório dos dias de trabalho
prestado por cada um dos trabalhadores (SOUSA; TEIXEIRA, 2013).
Segundo Luis Alves Dias (OIT, 2005), o Plano de Segurança e Saúde (PSS) é o principal
documento de prevenção de riscos profissionais para a fase de execução, tendo por objetivo
identificar e avaliar os riscos de SST e respectivas medidas preventivas a serem tomadas
durante essa fase no canteiro em causa. Deve estar disponível antes de iniciado qualquer
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trabalho no canteiro (deve, aliás, ser incluído no processo de licitação, quando houver) e deve
incluir as regras a seguir por todos os intervenientes no processo de construção.
Compete ao coordenador de segurança e saúde na fase de projeto desenvolver o PSS, sendo que
o PSS é um documento dinâmico, cuja elaboração se inicia na fase de concepção, e se prolonga
durante a fase de construção (SOUSA; TEIXEIRA, 2013).
Conforme Mutti et al. (2000), a DC estabelece uma série de trabalhos e situações envolvendo
riscos à segurança e saúde dos trabalhadores e seus requisitos mínimos de segurança, os quais
abordam os mais variados tópicos e devem ser previstos no PSS (quando se enquadrarem no
tipo de construção), conforme o exposto a seguir:
Estabilidade e solidez;
Instalações de distribuição de energia;
Caminhos e saídas de emergência;
Detecção e combate a incêndio;
Ventilação;
Exposição a riscos particulares;
Temperatura;
Iluminação natural e artificial;
Locais e caminhos de movimentação no canteiro;
Portas e portões;
Áreas de perigo;
Rampas, escadas e andaimes;
Liberdade de movimento no posto de trabalho;
Primeiros socorros;
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Equipamentos sanitários;
Sinalização temporária
Salas de descanso e alojamentos.
Em alguns dos países da UE, o conteúdo mínimo do PSS é também considerado na legislação.
A Figura 6 apresenta um exemplo de conteúdo de um PSS, sendo que essa estrutura e conteúdo
devem ser adaptados (reduzidos ou ampliados) de acordo com as características de cada caso
(OIT, 2005).
V. Nota final
Vale ressaltar que a Diretiva de Canteiros, publicada em 1992, constituiu a principal linha de
força para a maioria dos países da União Europeia desenvolver sua própria legislação para a
melhoria das condições de trabalho nos canteiros de obra. Sendo assim, alguns países criaram
suas próprias legislações adaptando a DC tendo em vista sua própria realidade e/ou para efeitos
de esclarecimento, bem como outros introduziram alterações e/ou adendos ao longo do tempo,
com base na experiência adquirida com a implementação prática dessa Diretriz (OIT, 2005).
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme a exposição inicial deste trabalho, o objetivo desta pesquisa centrou-se em realizar
uma avaliação comparativa da NR 18 brasileira e da Diretiva 92/57/CEE europeia no que tange
a segurança e saúde do trabalho nos canteiros de obras com o propósito de apresentar subsídios
aos profissionais da área para o aprimoramento das legislações e, consequentemente, o
decréscimo dos altos índices de acidentes do trabalho na indústria da construção civil.
Fica evidenciado que nas grandes empresas a gestão de saúde, segurança e a prevenção
de acidentes são mais evidentes e manifestas, seja porque existe mais pessoal
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______. Guia para gestão de segurança nos canteiros de obra: orientação para
prevenção dos acidentes e para o cumprimento das normas de SST. Coordenação Roberto
Sérgio Oliveira Ferreira. Brasília, DF: CBIC, 2017.
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ILO - INTERNATIONAL LABOUR OFFICE. Safety, health and welfare on construction sites:
A training manual. Geneva, 1995.
MELO, A. S. Jr. Perfil dos acidentes de trabalho da construção civil na cidade de João
Pessoa – PB. Artigo apresentado à ISSA (Information Systems Security Association). João
Pessoa, 2006
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