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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DO SUL DE MINAS GERAIS CAMPUS POUSO ALEGRE


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO
TRABALHO E HIGIENE DE SEGURANÇA DO TRABALHO

MARINA DE OLIVEIRA SILVA


YAN DE CARVALHO NOGUEIRA

SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO EM CANTEIROS DE OBRA: UM


COMPARATIVO ENTRE AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRA E EUROPEIA

POUSO ALEGRE
2018
MARINA DE OLIVEIRA SILVA
YAN DE CARVALHO NOGUEIRA

SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO EM CANTEIROS DE OBRA: UM


COMPARATIVO ENTRE AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRA E EUROPEIA

Trabalho apresentado à disciplina de


Introdução à Engenharia de Segurança do
Trabalho do Curso de Especialização em
Engenharia de Segurança do Trabalho e
Higiene de Segurança do Trabalho do
IFSULDEMINAS – Campus Pouso Alegre.

Prof. Juliano Romanzini Pedreira.

POUSO ALEGRE
2018
SILVA, M. O.; NOGUEIRA, Y. C. Segurança e saúde do trabalho em canteiros de obra:
Um comparativo entre as legislações brasileira e europeia. Pós-graduação em Engenharia
de Segurança do Trabalho – Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS).
Pouso Alegre, 2018.

RESUMO

Em todo o mundo, a segurança nos canteiros de obra constitui um problema sério, tanto no
que diz respeito a acidentes fatais, quanto a outros prejuízos ligados aos acidentes, como dias
parados, indenizações e outros. Para minimizar os danos causados pela ausência de segurança
e saúde no trabalho em canteiros de obras, diversos países contam com políticas e programas
especialmente voltados e concebidos para o setor da construção civil, como é o caso do Brasil
com a NR 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e da
União Europeia com a Diretiva 92/57/CEE: Disposições mínimas de segurança e saúde que
devem ser aplicadas em canteiros de obras temporários ou móveis. Neste contexto, o presente
trabalho tem por objetivo elaborar uma revisão bibliográfica comparativa entre a NR 18 e a
Diretiva 92/57/CEE no que tange os assuntos ligados à segurança e saúde do trabalho nos
canteiros de obras com o propósito de apresentar subsídios aos profissionais da área para o
aprimoramento das políticas e, consequentemente, o decréscimo dos altos índices de acidentes
do trabalho na indústria da construção civil. A metodologia escolhida para esse estudo baseou-
se em uma ampla revisão bibliográfica sobre os assuntos relacionados ao tema, o que
possibilitou a compreensão das correlações existentes entre as legislações analisadas, bem
como as suas disparidades. Constatou-se que ambas as legislações estudadas, NR 18 e a
Diretiva 92/57/CEE, são bastante abrangentes e ricas com relação à prevenção e combate aos
acidentes de trabalho em canteiros de obra, bem como são bastante parecidas em termos de
conteúdo. Do mesmo modo, tanto a legislação brasileira quanto a europeia propõem
programas de gestão de segurança e saúde do trabalho para os canteiros de obra, o Programa
de Condições e Meio Ambiente na Indústria da Construção (PCMAT) e Plano de Segurança e
Saúde (PSS) respectivamente.

Palavras-chave: Segurança e Saúde do Trabalho. Construção Civil. Canteiros de obra. NR


18. Diretiva 92/57/CEE.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – NR’s relacionadas com as atividades inerentes à construção. ............................ 28

Figura 2 – Ilustração das normas relacionadas com a construção civil. ............................... 29

Figura 3 – Legislação específica de alguns países da União Europeia. ................................ 32

Figura 4 – Os nove Princípios Gerais de Prevenção (PGP).................................................. 42

Figura 5 – Conteúdo mínimo da CP (de acordo com a DC). ................................................ 43

Figura 6 – Exemplo de estrutura e conteúdo de um PSS. ..................................................... 46

Figura 7 – Exemplo de estrutura e conteúdo de um PIP para um edifício. .......................... 47


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Estimativa Global de Acidentes de Trabalho Fatais. .......................................... 11

Gráfico 2 – Estimativa da distribuição dos acidentes fatais na construção civil por ano. ...... 12

Gráfico 3 – Contribuição em % de cada subsetor na cadeia da Construção Civil brasileira. 19

Gráfico 4 – Fatores que mais causam mortes nos canteiros de obra. ..................................... 35
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de acidentes do trabalho na construção civil, comparando com o total de


acidentes no Brasil, de 2009 a 2013. ................................................................... 20

Tabela 2 – Dados relacionados com acidentes de trabalho na construção civil em alguns


países da União Europeia em 2013. .................................................................... 21
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Comparativo de indicadores da Indústria da Construção Civil no Brasil e na


União Europeia. ................................................................................................... 18

Quadro 2 – Resumo dos principais pontos da pesquisa realizada pelo SESI. ........................ 24

Quadro 3 – Especificação de cada área abordada na NR 18. ................................................. 36


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAT Comunicação de Acidente de Trabalho


CBIC Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CEE Comunidade Econômica Europeia
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CP Comunicação Prévia
CPN e CPR Comitês Permanentes Nacional e Regionais
DC Diretiva de Canteiros
ELAGEC Encuentro Latino Americano de Gestion y Economia de La
Construccion
ENTAC Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído
EPI Equipamento de proteção individual
EUROFOUND European Foundation for the Improvement of Living and Working
Conditions
FGV Fundação Getúlio Vargas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFSULDEMINAS Instituto Federal do Sul de Minas Gerais
ILO International Labour Office
ILOSTAT The World’s Leading Source of Labour Statistcs
ISEP Instituto Superior de Engenharia do Porto
ISSA Information Systems Security Association
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NR Norma Regulamentadora
OIT Organização Internacional do Trabalho
PCMAT Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção
PGP Princípios Gerais de Prevenção
PIB Produto Interno Bruto
PIP Plano de Intervenções Posteriores
PSS Plano de Segurança e Saúde
SESI Serviço Social da Indústria
SHO International Symposium on Occupational Safety and Hygiene
SM Salário mínimo
SST Segurança e Saúde do Trabalho
UE União Europeia
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSCar Universidade Federal de São Carlos
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UFPA Universidade Federal do Pará
USP Universidade de São Paulo
LISTA DE SÍMBOLOS

$ Dólar
% Porcentagem
° Denotação de posição
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
1.1 Importância e Justificativa do Tema .................................................................... 11
1.2 Objetivos ................................................................................................................. 13
1.2.1 Objetivo geral............................................................................................... 13
1.2.2 Objetivo específico ....................................................................................... 14
1.3 Apresentação .......................................................................................................... 14

2. METODOLOGIA ............................................................................................................ 16

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 17


3.1 Panorama da Indústria da Construção Civil no Brasil e na União
Europeia .................................................................................................................. 17
3.1.1 Acidentes na Indústria de Construção Civil no Brasil e na
União Europeia ............................................................................................ 19
3.1.2 Condições de trabalho e Aspectos específicos da Indústria da
Construção Civil que contribuem pra os Acidentes ..................................... 21
3.2 Segurança e Saúde do Trabalho (SST) na Indústria da Construção
Civil ......................................................................................................................... 24
3.2.1 Breve Histórico ............................................................................................ 25
3.2.2 Normas Regulamentadoras Brasileiras ....................................................... 26
3.2.3 Diretivas da Comunidade Econômica Europeia (CEE) .............................. 29
3.3 Segurança e Saúde do Trabalho (SST) no Canteiro de Obra ............................ 33
3.3.1 Principais Ricos no Canteiro de Obra ......................................................... 33
3.3.2 Normatização Brasileira para a SST no Canteiro de Obra ......................... 35
3.3.3 Normatização Europeia para a SST no Canteiro de Obra .......................... 40

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 52


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Obra: Um Comparativo entre as Legislações
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1. INTRODUÇÃO

1.1 IMPORTÂNCIA E JUSTIFICATIVA DO TEMA

O setor da construção civil ocupa um papel de destaque na economia da maioria dos países do
globo, alavancando o desenvolvimento e avanço da sociedade, bem como elevando a taxa de
emprego e de renda da população.

No Brasil, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE


(CBIC, 2018) relativo ao ano de 2016, a indústria da construção responde, sozinha, por 5,1%
do Produto Interno Bruto (PIB) e por 8% das ocupações do mercado de trabalho, sem
contabilizar os outros setores correlacionados e os empregos gerados ao longo da toda a cadeia
produtiva. Na União Europeia, este é responsável por cerca de 4 a 9 % do PIB dos países
constituintes e emprega cerca de 4 a 10% da população ativa (EUROFOUND, 2005).

Contudo, o setor de construção civil também se destaca por apresentar elevados índices de
acidentes do trabalho. Segundo estimativas da Organização Internacional do Trabalho – OIT
(2005), dos aproximadamente 355 mil acidentes de trabalho fatais que acontecem anualmente
em todo o mundo, pelo menos 60 mil ocorrem em obras de construção. Sendo assim, cerca de
17% do total de acidentes mortais no trabalho (1 em cada 6) recaem sobre o setor da construção
(Gráfico1).
Gráfico 1 – Estimativa Global de Acidentes de Trabalho Fatais.

17%
Total - 355 mil
Construção Civil - 60 mil
Parcela da Construção Civil

Fonte: Adaptado OIT (2005).

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De acordo com Luiz Alves Dias (OIT, 2005), a distribuição desses acidentes de trabalho fatais
por ano em canteiros de obra ocorre da seguinte maneira: “64% para a Ásia e região do
Pacífico, 17% para as Américas, 10% para a África e 9% para a Europa, sendo que os países da
União Europeia são responsáveis por menos de 2% de todos os acidentes de trabalho fatais”.

Gráfico 2 – Estimativa da distribuição dos acidentes fatais na construção civil por ano.

Europa
9%
África
10%

Américas
Ásia e
17%
região do
Pacífico
64%

Fonte: Adaptado OIT (2005).

Segundo Konig (2015, apud KATUKI, 2016), a construção civil é o 5° setor econômico que
causa os maiores números de acidentes de trabalho e o 2° que mais mata trabalhadores no
Brasil. A participação do setor no total de acidentes fatais no país passou de 10%, em 2006,
para os atuais 16%, correspondendo a aproximadamente 450 mortes todos os anos.

Diante desse contexto, o Brasil e a União Europeia têm criado e/ou revisado legislações com
intuito de modificar essas estatísticas, e, principalmente, garantir segurança e a saúde aos
trabalhadores. No âmbito geral, a legislação brasileira pertinente à segurança e saúde do
trabalho é composta por um conjunto de Normas Regulamentadoras (NR), enquanto a
legislação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) é formada por um conjunto de
Diretivas. No campo da construção civil e canteiros de obra, a NR brasileira de maior destaque
é a NR 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, e a Diretiva
europeia de maior expressão é a Diretiva 92/57/CEE: Disposições mínimas de segurança e

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saúde que devem ser aplicadas em canteiros de obras temporários ou móveis (ARAÚJO;
MEIRA, 2002).

O tema da segurança e saúde na construção é relevante não só por se tratar de uma atividade
perigosa, mas também, e, sobretudo, porque a prevenção de acidentes de trabalho nas obras
exige enfoque específico, tanto pela natureza particular do trabalho de construção como pelo
caráter temporário dos canteiros de obras (OIT, 2005).

Desta maneira, o presente tema possui uma grande importância na atualidade, pois trata de um
dos setores que mais geram empregos, com considerável relevância do PIB aos seus países e,
que ainda, lamentavelmente, apresenta elevado número de acidentes de trabalho. Sendo assim,
essa revisão bibliográfica justifica-se por proporcionar uma análise comparativa entre as
legislações vigentes brasileiras e europeias, evidenciando as suas similaridades e disparidades,
e assim promover subsídios para o aperfeiçoamento contínuo das legislações e das medidas que
contribuem para a redução dos riscos de acidentes que os trabalhadores estão sujeitos nos
canteiros de obra e, consequentemente, a diminuição dos acidentes de trabalho na indústria da
construção.

1.2 OBJETIVOS

Tendo como base todos os fatores acima expostos, os objetivos deste estudo estão traçados em
linhas gerais e específicas, conforme se apresentam a seguir:

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho consiste em elaborar uma revisão bibliográfica com a finalidade
de realizar uma análise comparativa entre determinados tópicos da NR 18: Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e da Diretiva 92/57/CEE: Disposições
mínimas de segurança e saúde que devem ser aplicadas em canteiros de obras temporários ou
móveis relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores da indústria da construção nos
canteiros de obra.

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1.2.2 Objetivo específico

Esta pesquisa tem os seguintes itens como objetivos específicos:

1) Enfatizar a importância da segurança e saúde do trabalho na construção civil e nos


canteiros de obra;

2) Expor as principais contribuições da Organização Internacional do Trabalho (OIT)


sobre segurança e saúde do trabalho no setor da construção civil;

3) Apresentar as principais Normas Regulamentadoras Brasileiras, especialmente a NR 18,


referentes à indústria da construção e canteiros de obras, bem como o Programa de
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT);

4) Investigar a legislação da Comunidade Europeia relacionada à segurança e saúde do


trabalho no setor da construção, bem como nos canteiros de obra, especificada pela a
Diretiva 92/57/CEE.

5) Elaborar um comparativo entre as legislações vigentes brasileiras e europeias a fim de


salientar as semelhanças e diferenças entre elas e oferecer recursos aos profissionais da
área de segurança do trabalho para o aperfeiçoamento das normas e diretivas.

1.3 APRESENTAÇÃO

Este estudo é constituído por quatro capítulos, organizados da seguinte maneira:

 Capítulo 1: Faz uma breve introdução sobre a importância do tema, descreve a


justificativa que levou ao estudo, explica os objetivos gerais e específicos e apresenta os
capítulos.

 Capítulo 2: Expõe a metodologia adotada para esse estudo.

 Capítulo 3: Apresenta a revisão bibliográfica sobre os assuntos relacionados ao tema,


tais como: Convenções e Recomendações da Organização Internacional do Trabalho

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(OIT) relacionado com a indústria da construção civil, Normas Regulamentadoras (NR)


Brasileiras, NR 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção, Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção (PCMAT), Diretivas da Comunidade Econômica Europeia (CEE), Diretiva
92/57/CEE: Disposições mínimas de segurança e saúde que devem ser aplicadas em
canteiros de obras temporários ou móveis, entre outros.

 Capítulo 4: Relata as principais constatações relacionadas ao estudo, baseadas na


revisão bibliográfica.

Em seguida, têm-se a lista de referências bibliográficas.

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2. METODOLOGIA

A metodologia desse trabalho está basicamente ligada à revisão da bibliografia existente a


respeito do assunto em questão e de assuntos direta e/ou indiretamente correlatos. Foram
utilizados como referencial teórico os trabalhos de autores reconhecidos no meio acadêmico
por sua contribuição para os temas abordados, consultas as Normas Regulamentadoras
Brasileiras e Diretivas da Comunidade Econômica Europeia referentes ao tema, trabalhos de
conclusão de graduação, dissertações de mestrado e de pós-graduação, teses de doutorado e
artigos publicados em diferentes revistas.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo é feito a revisão bibliográfica e embasamento teórico sobre assuntos


relacionados ao tema do estudo.

3.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL E NA


UNIÃO EUROPEIA

De acordo com Noronha (2009), a construção civil responde por 5 a 15% da economia da
maioria dos países do mundo. Como pode ser observado no Quadro 1, a indústria da
construção civil ocupa um papel importante nas economias brasileira e europeia. Segundo
Mello e de Amorim (2009), apesar da imensa diferença entre os tamanhos dos respectivos
PIBs, existem algumas similaridades entre as nacionalidades analisadas:

a) O setor é constituído por pequenas e médias empresas;

b) Todas as empresas apresentam problemas em relação à qualificação da mão-de-obra;

c) Apresentam também problemas em relação à Segurança e Saúde do Trabalho (SST) e

d) São as maiores empregadoras em suas economias.

É possível constatar através dos dados de “Pessoal empregado” e “Pessoal ocupado” no


Quadro 1 que existe uma grande informalidade na cadeia produtiva da construção civil no
Brasil. Conforme o Gráfico 3, a informalidade corresponde a um pouco mais de 40% de toda a
cadeia produtiva da construção, fato o qual é estimulado pela falta de fiscalização no trabalho
pelos órgãos competentes pela saúde e segurança (FGV, 2004).

Por fim, também é notório, no Quadro 1, a baixa produtividade do setor da construção civil
brasileiro quando comparado com a União Europeia, a qual é causada, segundo Mello e de
Amorim (2009), por:

a) Baixa qualificação e desatualização da mão-de-obra;

b) Falta de padronização e não conformidade dos materiais;

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c) Quadro regulatório burocrático e deficiente;

d) Pouca utilização da Tecnologia da Informação;

e) Pouca utilização de equipamentos que permitam alta produtividade e

f) Alta incidência de tributos e encargos.

Quadro 1 – Comparativo de indicadores da Indústria da Construção Civil no


Brasil e na União Europeia.
Indicadores Brasil União Europeia
% PIB 5,2% 10,2%
Faturamento US$ 40,98 bilhões US$ 710 bilhões
Número de empresas 105.459 807.100
Faturamento médio US$ 388.590 US$ 879.690
Pessoal empregado 1.550.000 4.519.000
Pessoal ocupado 5.170.000 4.519.000
Produtividade média US$ 6.177,76 / trabalhador US$ 31.247,44 / trabalhador
Rentabilidade 24,35% Não foram obtidos dados
Número de engenheiros e
125.42 550.53
gerentes
Engenheiros / MO total 2,4% 12,2%
Engenheiros / MO empregada 8% 12,2%
Tempo de formação de
pessoal 5 anos 5-7 anos
nível superior
Tempo de formação de
2 - 3 anos 2 - 3 anos
pessoal nível médio
Nº de normas técnicas para
938 1.733
Construção Civil
Prazo médio de obras de
30 meses 14,3 meses
edificação
Prazo médio de licenciamento 66 dias 44 dias
Fonte: Mello e de Amorim (2009).

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Gráfico 3 – Contribuição em % de cada subsetor na cadeia da Construção Civil brasileira.

Empresas
informais
6,1%
Construtoras
Empresas formais
formais 26,6%
21,0%

Comércio e
serviços
informais
0,8%

Comércio de
materiais de Construção
construção residencial
4,5% informal
13,7%
Serviços
auxiliares de Outras obras
construção informais
7,5% 19,8%

Fonte: FGV (2005).

3.1.1 Acidentes na Indústria de Construção Civil no Brasil e na União Europeia

A indústria da construção é considerada tradicionalmente uma atividade perigosa, tendo em


vista a elevada incidência de acidentes de trabalho e, especialmente, de acidentes de trabalho
fatais, conforme se constata nas Tabelas 1 e 2. Segundo Noronha (2009), a construção civil é
uns dos três setores econômicos com a maior taxa de acidentes.

De acordo com a Tabela 1, os acidentes de trabalho na construção correspondem na média de


8,25% do total de acidentes de trabalho no Brasil. Segundo os dados mais recentes da
ILOSTAT (2018), em 2011 ocorreram 2.938 acidentes de trabalho fatais no Brasil, onde 492
foram na indústria de construção civil, o que representa aproximadamente a 17% dos acidentes
fatais totais.

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Tabela 1 – Número de acidentes do trabalho na construção civil, comparando com o total de acidentes no
Brasil, de 2009 a 2013.
Acidentes na Total de Total de
Acidentes na Construção com CAT
Construção Acidentes Acidentes A/B
Ano Registradas
sem CAT na Construção no Brasil (%)
Típico Trajeto Doença Total Registradas (A) (B)
2009 35.265 5.042 1.111 41.418 14.252 55.670 733.365 7,59
2010 36.379 5.614 985 42.978 11.686 54.664 709.474 7,70
2011 39.282 6.335 931 46.548 13.867 60.415 720.529 8,38
2012 41.748 6.759 794 49.301 14.860 64.161 713.894 8,99
2013 40.465 7.282 762 48.509 13.380 61.889 717.911 8,62
Fonte: Nunes (2016).

Conforme Luis Alves Dias (OIT, 2005), do número total de acidentes de trabalho em todas as
atividades econômicas na União Europeia, o setor da construção representa aproximadamente
18% (cerca de 850 mil acidentes de trabalho com mais de três dias de trabalho perdidos por
ano) e, no que respeita a acidentes de trabalho fatais, representa cerca de 24% (1,3 mil
acidentes de trabalho fatais por ano).

Contudo, segundo Alberto López-Valcárcel (OIT, 2005), é difícil quantificar a dimensão global
da sinistralidade no trabalho da construção, pois a maioria dos países não possui as informações
estatísticas necessárias sobre o assunto em questão. Em todo caso, a informação estatística
disponível mostra que, após décadas de queda contínua, a taxa de acidentes fatais na
construção, na maioria dos países desenvolvidos, estabilizou-se atualmente abaixo de 20
acidentes mortais para cada 100 mil trabalhadores. O caso dos países em desenvolvimento é
diferente, onde a situação está longe de ser uniforme. Alguns países em desenvolvimento
conseguiram diminuir suas taxas de acidentes fatais no setor para menos de 40 (por 100 mil),
embora se acredite que a maioria desses países continue tendo taxas acima desse nível.

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Tabela 2 – Dados relacionados com acidentes de trabalho na construção civil em alguns países da
União Europeia em 2013.
Acidente de trabalho
País da União Acidente de trabalho fatal Total de acidentes de trabalho
não fatal
Europeia
Construção Total Construção Total % Construção Total %
Alemanha 105.052 852.061 80 444 18,0 105.132 852.505 12,3
Áustria 11.965 64.646 24 143 16,8 11.989 64.789 18,5
Bélgica 9.165 56.405 20 66 30,3 9.185 56.471 16,3
Dinamarca 6.637 55.931 3 39 7,7 6.640 55.970 11,9
Espanha 37.565 37.0176 58 270 21,5 37.623 370.446 10,2
Finlândia 7.488 47.432 4 22 18,2 7.492 47.454 15,8
França 86.078 567.407 133 553 24,1 86.211 567.960 15,2
Grécia 1.344 9.676 8 22 36,4 1.352 9.698 13,9
Holanda 10.470 152.214 7 42 16,7 10.477 152.256 6,9
Irlanda 932 18.049 10 40 25,0 942 18.089 5,2
Itália 37.762 329.404 101 517 19,5 37.863 32.9921 11,5
Luxemburgo 2.237 7.055 1 6 16,7 2.238 7.061 31,7
Portugal 18.384 123.137 42 160 26,3 18.426 123.297 14,9
Reino Unido 2.4068 243.798 51 271 18,8 24.119 244.069 9,9
Suécia 3.469 36.188 5 35 14,3 3.474 36.223 9,6
Fonte: Adaptado ILOSTAT (2018).

3.1.2 Condições de trabalho e Aspectos específicos da Indústria da Construção


Civil que contribuem pra os Acidentes

De acordo com Malysz (2001 apud NUNES, 2016), há uma grande diversidade de risco na
indústria da construção civil, devido às condições de trabalho e a aspectos específicos do setor,
tais como:

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a) Mão-de-obra desqualificada: pelo baixo custo da mão-de-obra utilizada na construção


civil, são contratados trabalhadores desqualificados, desconhecedores das atividades
que deverão realizar;

b) Alta rotatividade de mão-de-obra: dificulta o treinamento dos trabalhadores;

c) Tempo de duração da obra: geralmente as obras duram de 1 a 2 anos, com o término da


mesma, o trabalhador poderá ir a outra obra realizar uma atividade diferente;

d) Trabalho exposto ao tempo: grande parte das atividades realizadas expõe


o trabalhador às intempéries;

e) Técnicas utilizadas: a grande maioria das obras usa tecnologia tradicional, utilizando
predominantemente ferramentas rudimentares, o que pode expor o trabalhador a riscos
desnecessários. Quando são empregadas novas tecnologias, criando situações novas de
trabalho, não se tomam as medidas necessárias para o aprimoramento do operário, o que
também pode provocar acidentes;

f) Características dos materiais empregados: muitas vezes são manuseados materiais


perigosos, como a energia elétrica, e materiais insalubres como a cal, o cimento e
produtos químicos;

g) Heterogeneidade de bens produzidos: os bens produzidos pela indústria da construção


reúnem edificações de vários tipos diferentes, ligadas a diferentes processos produtivos
o que repercute na grande variabilidade de medidas de segurança exigidas pela
indústria;

h) Diversidade das etapas de produção: cada obra constitui-se de várias etapas distintas de
trabalho: terraplanagem, fundações, alvenaria, etc. Estas etapas possuem riscos de
acidentes inerentes a elas que exigem medidas de segurança adequadas e distintas.
Além disso, muitas dessas etapas são terceirizadas e as empresas que realizam a tarefa
atuam em um período relativamente curto no canteiro de obras, contribuindo para a

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rotatividade da mão-de-obra e aumentando a dificuldade de gerenciamento da segurança


no canteiro;

i) Situação do canteiro de obras: as instalações dos canteiros de obras, por serem


provisórias, dificultam a manutenção das condições higiênicas e da organização do
canteiro.

Segundo Alberto López-Valcárcel (OIT, 2005), grande parte dos riscos que ocorrem nos
trabalhos de construção resulta de mau planejamento. Uma obra segura é uma obra bem-
organizada e gerida, sendo que a organização de uma obra requer sempre planejamento inicial.
Cada uma das unidades da obra (escavação, estrutura, acabamentos, etc.), cada uma das
operações dos trabalhos (armazenamento e suprimento de materiais, remoção de entulhos, etc.)
deveria ser previamente planejada. São muitos os fatores que dificultam o planejamento na
construção: diversidade de tarefas, pouca uniformidade das construções, pouco tempo entre a
licitação e o início da obra, falta de definição ou reformas no projeto, mudanças climatológicas
imprevistas, entre outros. Todavia sempre é possível planejar o mínimo do trabalho do ponto de
vista da segurança, de modo que se possa eliminar a causa de muitos acidentes, ou seja, é
sempre possível fazer a prevenção.

O Quadro 2 resume os pontos principais de uma importante pesquisa realizada pelo


Departamento Nacional do Serviço Social da Indústria (SESI) que teve como objetivo principal
diagnosticar a mão-de-obra do Setor da Construção Civil brasileiro. Para a prevenção de
acidentes e doenças na indústria da construção, conforme Jófilo Moreira Lima Júnior (OIT,
2005), é necessário priorizar a formação profissional, motivação dos trabalhadores para melhor
percepção dos riscos, melhoria do sistema de informação voltado para a sua cultura regional e
combate ao analfabetismo. Todos os fatores apresentados contribuem, de forma significativa,
para a redução do índice de acidentes, principalmente os graves e fatais.

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Quadro 2 – Resumo dos principais pontos da pesquisa realizada pelo SESI.

72% dos trabalhadores pesquisados nunca


frequentaram cursos e treinamentos
Baixa qualificação
80% possuem apenas o 1º grau incompleto.

20% são completamente analfabetos.

Elevada rotatividade no 56,5% têm menos de um ano na empresa.


setor 47% estão no setor há menos de cinco anos.
50% dos trabalhadores ganham menos
de dois salários mínimos (SM).
Baixos salários Média salarial: 2,8 SM
É um dos setores industriais que paga os mais baixos
salários.
Alto índice de absenteísmo causado, sobretudo,
por problemas de saúde (52% faltaram ao trabalho
no mês anterior à pesquisa).

Altas carências sociais Absenteísmo: um entre cinco trabalhadores.


Ingerem bebida alcoólica: 54,3%
Alcoolismo Abusam: 15%
Dependente: 4,4%
Fonte: Adaptado OIT (2005).

3.2 SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO (SST) NA INDÚSTRIA DA


CONSTRUÇÃO CIVIL

A Segurança e Saúde do Trabalho (SST) pode ser compreendida como o conjunto de medidas
preventivas adotadas com o intuito de redução dos acidentes do trabalho, doenças ocupacionais,
bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador (MARTINS, 2004).

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Obra: Um Comparativo entre as Legislações
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Alguns países contam com políticas e programas de SST especialmente voltados


e concebidos para o setor da construção. Essa situação diferenciada em matéria de
SST no setor inclui, em geral, regulamentos, normas técnicas, serviços de
assessoria e inspeção, informações, estudos, publicações e oferta de formação
específica para o setor da construção. Mas esse não costuma ser o caso da maioria
dos países em desenvolvimento, onde a atuação em nível nacional, em matéria da
SST, geralmente é pouco diferenciada por setor e onde normalmente faltam
programas específicos de SST para o setor da construção (OIT, 2005, p. 41).

3.2.1 Breve Histórico

A OIT sempre reconheceu a necessidade de tratamento diferenciado do tema de segurança e


saúde na construção. Segundo OIT (2005), a cronologia das ações da OIT sobre SST
específicas para a indústria de construção civil se deu da seguinte forma:

1) Em 1937 foi adotada na segunda convenção de Segurança e Saúde do Trabalho a


Convenção 62 sobre Prescrições de Segurança na Indústria da Construção, dirigida
especificamente para este setor de atividade econômica.

2) Em 1988, a OIT adotou a Convenção 167 sobre Segurança e Saúde na Construção, por
considerar que a antiga Convenção 62, de 1937, já não era apropriada para regulamentar
os riscos desse importante setor de atividade. A Convenção 167 incorpora o tema do
planejamento e da coordenação da SST nas obras, especificando que, no caso de dois ou
mais empregadores realizarem atividades simultâneas numa mesma obra: (a) a
coordenação das medidas prescritas em matéria de segurança e saúde no trabalho e a
responsabilidade de velar por seu cumprimento recairão sobre o principal empreiteiro
da obra e (b) cada empregador será responsável pelas medidas prescritas para os
trabalhadores sob sua responsabilidade. Além disso, estabelece que as pessoas
responsáveis pela concepção e planejamento de um projeto de construção deverão
tomar em consideração a segurança e saúde dos trabalhadores da obra.

3) Também em 1988, foi adotada a Recomendação 175 sobre Segurança e Saúde na


Construção, a qual prescreve recomendações que complementam a Convenção 167.

4) Em 1992, foi publicado o Repertório de Recomendações Práticas da OIT sobre


Segurança e Saúde na Construção (Safety and health in construction). O Repertório

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volta a enfatizar a importância do tema do planejamento e da coordenação e assinala,


além disso, algumas responsabilidades adicionais de empresários, projetistas e donos de
obra.

5) Em 1995, foi divulgado o Safety, health and welfare on construction sites: A training
manual, manual específico para Segurança, Saúde e Bem-estar em canteiros de obra
(ILO, 1995).

3.2.2 Normas Regulamentadoras Brasileiras

A legislação básica sobre Segurança e Saúde do Trabalho no Brasil está regulamentada na


Constituição e na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A segurança do trabalho começou
a fazer parte dos preceitos constitucionais brasileiros em 1946, acompanhando a ratificação das
convenções da OIT (NUNES, 2016).

A Constituição da República Federativa do Brasil traz no seu artigo 7° os direitos dos


trabalhadores urbanos e rurais, que contém alguns incisos demonstrando a preocupação com a
saúde e segurança do trabalhador, como:

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança;

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou


perigosas, na forma da lei;

XXVIII – seguro contra acidente de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir


a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 e


de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a
partir de 14 anos. (FRANZ, 2006, p. 18)

A evolução da normatização sobre SST brasileira nos dias atuais deu-se, principalmente, pelas
Normas Regulamentadoras de Segurança do Trabalho, enunciadas pelo Capítulo V do Título II
da CLT, com redação inicial dada pela Lei n° 6.514 de 1977 e instituídas pela Portaria n°
3.214, de 1978 (SALIBA, 2004).

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As Normas Regulamentadoras (NR) são disposições expedidas pelo Ministério do Trabalho e


Emprego, que visam à regulamentação e a definição de parâmetros referentes aos dispositivos
de Segurança e Medicina do Trabalho e de observância obrigatória pelas empresas privadas e
públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos
poderes legislativo e judiciário, que possuam empregados regidos pela CLT (ARAÚJO;
MEIRA, 2002).

Atualmente existem 36 Normas Regulamentadoras, sendo que a NR 18: Condições e meio


ambiente de trabalho na indústria da construção contempla conteúdo específico para o setor da
construção civil. No entanto, existem outras Normas que têm interface com o setor e podem ser
exigidas frente às diversas atividades inerentes à construção, conforme a Figura 1 (CBIC,
2017).

A quantidade de NR relacionadas com o setor da construção atinge quase a totalidade das NR


existentes, estando essa quantidade vinculada ao tipo de obra (edificações, barragens, estradas,
dentre outras), ver Figura 2.

Em 1995, houve uma reformulação da NR 18, dando-lhe uma nova redação e um novo título,
que passou de Obras de construção, demolição e reparos para Condições e meio ambiente de
trabalho na indústria da construção, passando a vigorar através da Portaria nº 4 de 1995
(ARAÚJO; MEIRA, 2002). A NR 18 passou a contar com 38 disposições, dentre as quais vale
destacar novas exigências como a comunicação prévia, o Programa de Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT) e o treinamento admissional
(MUTTI et al., 2000).

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Figura 1 – NR’s relacionadas com as atividades inerentes à construção.

Fonte: CBIC (2017).

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Figura 2 – Ilustração das normas relacionadas com a construção civil.

Fonte: CBIC (2017).

3.2.3 Diretivas da Comunidade Econômica Europeia (CEE)

Em 1958, foi criada a Comunidade Económica Europeia (CEE), então constituída por seis
países: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. Desde então, mais 22
países europeus aderiram a esta grande organização, formando um bloco econômico e político
de características únicas abrangendo grande parte do continente europeu. Em 1993, a
Comunidade Económica Europeia (CEE) passou a chamar-se União Europeia (UE) (UE, 2018).

Conforme UE (2018), no âmbito legislativo, a UE dispõe de Diretivas que são ato legislativo
que fixa um objetivo geral que todos os países constituintes devem alcançar. Contudo, cabe a
cada país elaborar a sua própria legislação para dar cumprimento a esse objetivo. Segundo
Araújo e Meira (2002), as Diretivas europeias relacionadas com o setor da construção são as
seguintes:

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 Diretriz 83/477/CEE - sobre a proteção dos trabalhadores contra os riscos relacionados


com a exposição ao amianto durante o trabalho, de 19/09/83.
 Diretiva 86/188/CEE - relativa à proteção dos trabalhadores contra os riscos devidos à
exposição ao ruído durante o trabalho, de 12/05/86.
 Diretiva 89/106/CEE - relativa à aproximação das disposições legais, regulamentares e
administrativas dos países membros sobre os produtos de construção, de 21/12/89.
 Diretiva 89/391/CEE - que trata da aplicação de medidas para promover a melhora da
segurança e da saúde dos trabalhadores em seu ambiente de trabalho, de 12/06/89.
 Diretiva 89/654/CEE - pertinente às disposições mínimas de segurança e de saúde nos
locais de trabalho, de 30/11/89.
 Diretiva 89/655/CEE – que aborda as disposições mínimas de segurança e de saúde
para a utilização pelos trabalhadores dos equipamentos de trabalho, de 30/11/89.
 Diretiva 89/656/CEE - aborda as disposições mínimas de segurança e de saúde para a
utilização de equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores em suas tarefas,
de 30/11/89.
 Diretiva 90/269/CEE - sobre as disposições mínimas de segurança e de saúde relativas
à manipulação manual de cargas que provoquem riscos, particularmente dores
lombares, para os trabalhadores, de 29/05/90.
 Diretiva 90/270/CEE - referente às disposições mínimas de segurança e de saúde
relativas ao trabalho com equipamentos que incluam telas de visualização, de 29/05/90.
 Diretiva 90/394/CEE - relativa à prevenção dos trabalhadores contra os riscos
relacionados com a exposição a agentes cancerígenos durante o trabalho, de 28/06/90.
 Diretiva 90/679/CEE - sobre a proteção dos trabalhadores contra os riscos relacionados
com a exposição a agentes biológicos durante o trabalho, de 26/11/90.
 Diretiva 91/322/CEE - relativa ao estabelecimento de valores limites de caráter
indicativo, mediante a aplicação da Diretiva 80/1107/CEE do Conselho, sobre a
proteção dos trabalhadores contra os riscos relacionados com a exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos durante o trabalho, de 29/05/91.

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Obra: Um Comparativo entre as Legislações
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 Diretiva 91/382/CEE - que modifica a Diretiva 83/477/CEE. A modificação consiste


em baixar as quantidades estabelecidas para a avaliação das atividades e os valores
limites de exposição ao amianto, de 25/06/91.
 Diretiva 91/383/CEE – sobre medidas que visam a promover a melhoria da segurança
e da saúde nos locais de trabalho dos trabalhadores com uma relação trabalhista de
duração determinada ou de empresas de trabalho temporal, de 25/06/91.
 Diretiva 92/57/CEE - relativa às disposições mínimas de segurança e de saúde que
devem ser aplicadas em obras de construção temporárias ou móveis, de 24/06/92.
 Diretiva 92/58/CEE - sobre sinalização de segurança, de 24/06/92.

Como colocado anteriormente, a Diretiva 92/57/CEE, conhecida mundialmente como a


Diretiva de Canteiros (DC), é a diretiva de maior relevância no âmbito da construção civil,
estabelecendo as mínimas condições de segurança e saúde para os canteiros de obra. Nela, é
estabelecido que as medidas de segurança devem ser pensadas desde a fase de projeto, devendo
ser completadas quando necessário, em todas as fases do andamento da obra (MUTTI et al.,
2000).

De acordo com Luis Alves Dias (OIT, 2005), tradicionalmente e antes da publicação da DC na
União Europeia, a responsabilidade pela implementação de todas as medidas de prevenção nos
canteiros estava a cargo principalmente (e em alguns países apenas) dos empreiteiros, com base
na legislação e/ou nos contratos firmados entre eles e os donos de obras. Depois da publicação
dessa Diretiva na UE, todos os intervenientes no processo de construção passaram a ter ou
continuam a ter responsabilidades e obrigações em matéria de segurança e saúde no trabalho
(donos de obras, projetistas, gestores e supervisores de obras, empreiteiros e subempreiteiros,
trabalhadores).

Conforme já citado, os países constituintes da UE adotam legislações específicas para o


cumprimento das Diretivas. A Figura 3 apresenta algumas dessas legislações de alguns países.
Enquanto alguns países “trabalharam” essa Diretriz para criar mecanismos e meios para sua
efetiva implementação, outros se limitaram a fazer “simples” transposição, com poucas

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adaptações à realidade, criando confusão, em alguns casos, para os responsáveis por sua
implementação ou pelo acompanhamento diário de sua aplicação (OIT, 2005).

Figura 3 – Legislação específica de alguns países da União Europeia.

Fonte: OIT (2005).

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3.3 SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO NO CANTEIRO DE OBRA

Segundo Katuki (2016), o canteiro de obras é a área designada à execução da obra e a área que
serve de apoio aos trabalhos da construção. Deve ser entendido como uma fábrica da
construção, desta forma projetado segundo as especificações das normas e os princípios de
organização para se tornarem uma área eficiente e, principalmente, segura para os
trabalhadores.

Para Zarpelon et al. (2008), a prevenção de acidentes do trabalho nas obras exige enfoque
específico devido à natureza particular do trabalho de construção e ao caráter temporário dos
centros de trabalho (obras) do setor, o que torna relevante o tema da segurança e saúde do
trabalho na construção, especialmente considerando o grau de risco das atividades executadas.

Como já citado anteriormente, a OIT publicou um manual específico sobre Segurança, Saúde e
Bem-estar em canteiros de obra. Tal manual aborda temas particulares dos canteiros de obra,
tais como: planejamento e layout do canteiro de obra, escavações, andaimes, escadas,
movimentação de cargas, demolições, trabalho em espaços confinados e em altura,
equipamentos de proteção: coletivos e individuais, entre outros. Bem como, visa esclarecer e
orientar sobre as principais temáticas e suas regulações relativas à segurança e saúde no
trabalho que devem ser observadas no dia a dia dos canteiros de obras, a fim de contribuir para
a melhoria do trabalho dos profissionais e colaboradores envolvidos, pois, independentemente
do porte da obra e do número de trabalhadores, é fundamental a organização e gestão no
canteiro, de modo a prevenir acidentes e doenças ocupacionais, além de manter de forma
adequada o meio ambiente de trabalho (ILO, 1995).

3.3.1 Principais Ricos no Canteiro de Obra

A natureza particular do trabalho na construção e no canteiro de obra envolve uma série de


riscos específicos do setor, como: trabalho em altura (utilização de andaimes, passarelas e
escadas de obra; trabalho em coberturas feitas de materiais frágeis); trabalho de escavação
(utilização de explosivos, máquinas de movimentação de terra, desprendimento de materiais,
quedas na escavação) e levantamento de materiais (utilização de gruas e de elevadores de obra).

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Mas, o que determina verdadeiramente a especificidade da segurança e da saúde no trabalho de


construção é a natureza temporária dos canteiros de obra (OIT, 2005). Segundo Alberto López-
Valcárcel:
A temporariedade dos trabalhos de construção implica a ‘provisoriedade’ das
instalações sanitárias e de bem-estar (serviços de higiene e limpeza, refeitórios,
vestiários, água potável); das instalações e serviços de produção (iluminação,
eletricidade, elevadores de materiais); das proteções coletivas (guarda-corpos,
andaimes, plataformas e redes de proteção) e da sinalização de segurança na obra.
Essa contínua mudança de centro de trabalho exige que o sistema de gestão da
segurança e da saúde no trabalho de construção seja diferente do aplicado em
outros setores e no qual o planejamento, a coordenação e o orçamento da
prevenção das obras adquirem enorme significação (OIT, 2005, p. 41).

De acordo com o Guia para gestão de segurança nos canteiros de obra da CBIC (2017), os
acidentes típicos mais frequentes nas atividades da indústria da construção em todo o mundo
são:
 Quedas de diferença de nível;
 Soterramentos, e
 Contatos com eletricidade.

Os acidentes ocorridos nos canteiros de obras geralmente são graves, muitas vezes resultando
em óbito. Estudos feitos por Melo (2006) indicam os fatores que mais causam a morte de
trabalhadores nos canteiros de obras, conforme o Gráfico 4.

Observa-se que nos canteiros de obras há existência de riscos ocupacionais diversos, que
variam de acordo com as fases de produção da obra, diferente do que ocorre na indústria de
transformação onde os postos de trabalho são fixos, o que facilita a identificação e o controle
dos riscos. Desde as etapas de escavações, fundações e desmonte de rochas até as etapas de
pintura e limpeza, os trabalhadores encontram-se sujeitos aos riscos inerentes a sua produção
(NORONHA, 2009).

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Gráfico 4 – Fatores que mais causam mortes nos canteiros de obra.

Queda no vão Abertura de


Queda de de acesso da queda de piso
periferia de caixa do 5.88%
edificação elevador
5.88% 5.88% Exposição à
linha de
transmissão
Impacto de corrente
causado por elétrica
objeto lançado 11.77%
5.88%

Impacto
causado por
desabamento
17.65%
Exposição a
outras linhas
de
distribuição
47.06%
Fonte: Adaptado Melo (2006).

3.3.2 Normatização brasileira para a SST no canteiro de obra

Conforme já exposto, o objetivo da NR 18, segundo a própria Norma, é estabelecer diretrizes


de ordem administrativa, de planejamento e de organização, que objetivam a implementação de
medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no
meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2015).

Segundo Noronha (2009), a NR 18, que especifica as Condições e Meio Ambiente de Trabalho
na Indústria da Construção Civil, define as condições mínimas para instalação das áreas de
vivência no canteiro de obras, as medidas de prevenção de acidentes e exige a implantação do
Programa de Condições e Meio Ambiente na Indústria da Construção (PCMAT) quando
requerido.

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O Quadro 3 apresenta os principais itens abordados na NR 18, os quais devem constar no


PCMAT.
Quadro 3 – Especificação de cada área abordada na NR 18.
ITEM DESCRIÇÃO
Que trata principalmente da qualificação de trabalhadores para as operações com
Carpintaria máquinas e equipamentos, bem como da obrigatoriedade de dispositivos de proteção
adequados para máquinas, equipamentos e operadores.
Escadas, Apresenta o dimensionamento, a construção, além de uma recomendação de
Rampas e orientação aos trabalhadores sobre regras de utilização segura, uma vez que são
Passarelas utilizados para acesso a diversos locais.
Apresenta requisitos mínimos para confecção e utilização de cada tipo além da
Andaimes
necessidade do uso de EPI’s.
Serviços em Devido aos vários acidentes graves e fatais registrados, prevê o uso de cinto de
Telhados segurança do tipo paraquedista ligado a cabo-guia.
É composto por cuidados essenciais com os circuitos e equipamentos, requisitos
Instalações mínimos para as instalações provisórias no canteiro, além da necessidade de
elétricas trabalhador qualificado com supervisão de profissional legalmente habilitado para a
execução e manutenção das instalações.
Traz exigências de operador qualificado e identificado por crachá, além da atenção
Máquinas e
especial dada ao dispositivo de acionamento e parada destas máquinas e da inspeção
Equipamentos e
e manutenção periódica, registrada em livro próprio. Quanto as ferramentas, além dos
Ferramentas
cuidados normais, o uso de ferramentas pneumáticas portáteis e de fixação à pólvora
Diversas
merecem recomendações especiais.
Neste item, salienta-se principalmente, a remoção de entulhos e lixo para locais
Ordem e
adequados de deposição, sem queimá-los, além da organização e limpeza do canteiro,
Limpeza
com vias de circulação e passagem desimpedidas.
São requeridas as seguintes instalações: instalações sanitárias, vestiários,
Áreas de alojamentos, local de refeições, cozinha, lavanderia, área de lazer e ambulatório.
Vivência Destaque especial para a conservação e o estado de higiene e limpeza em que devem
ser mantidas as instalações.
Armações de Traz medidas de segurança no transporte, armazenamento e principalmente manuseio
Aço de vergalhões.
Apresenta cuidados básicos para a execução, trazendo como principal enfoque, os
Estruturas de
cuidados com a estabilidade. Também a desforma é enfocada com maiores cuidados
Concreto
na sua execução
Apresenta poucos cuidados, porém em função do crescimento do número de obras e
Estruturas
da necessidade de um bom detalhamento, sua complementação se dará através de
Metálicas
regulamentos técnicos de procedimentos.
Operações de É um item de grande importância, traz cuidados e precauções com o material
Soldagem e inflamável, a ventilação e a necessidade de trabalhadores qualificados e utilizando
Corte a Quente Equipamentos de Proteção Individuais (EPI’s) devido a gravidade dos acidentes.
Fonte: Franz (2006).

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Jófilo Moreira Lima Júnior (OIT, 2005) destaca como os principais avanços da NR 18 em
termos de melhoria das condições de segurança e saúde do trabalhador:
 A introdução do PCMAT, visando formalizar as medidas de segurança que devem ser
implantadas no canteiro de obras;
 A criação dos Comitês Permanentes Nacional e Regionais - CPN e dos CPR, com o
intuito de avaliar e alterar a norma. A composição destes comitês é feita através de
grupos tripartites e paritários;
 Estabelecimento de parâmetros mínimos para as áreas de vivência (refeitórios,
vestiários, alojamentos, instalações sanitárias, cozinhas, lavanderias e áreas de lazer), a
fim de que sejam garantidas condições mínimas de higiene e segurança nesses locais;
 Exigência de treinamento admissional e periódico, objetivando que as atividades sejam
executadas com segurança;
 Obrigatória instalação de elevador de passageiros em obras com doze ou mais
pavimentos, ou obras com oito ou mais pavimentos cujo canteiro possua pelo menos
trinta trabalhadores.

Para Araújo (2005, apud NUNES, 20016), as áreas de vivência e a obrigatoriedade da


implantação PCMAT destacam-se como as mudanças positivas mais evidentes advindas da
implementação da NR 18.

Anteriormente ao início das atividades no canteiro de obra, de acordo com Katuki (2016), deve-
se realizar a Comunicação prévia à Delegacia Regional do Trabalho, que constará informações
como endereço da obra e do contratante, qualificação, tipo de obra, data do início e conclusão e
número máximo previsto de trabalhadores.

I. Programa de Condições de Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção


(PCMAT)

O PCMAT deve ser entendido como um projeto de SST específico para um determinado
canteiro de obras, devendo ser revisado e atualizado quantas vezes forem necessárias em
função da dinâmica da obra (CBIC, 2017).

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De acordo com Gomes et al. (2016), o PCMAT pode ser entendido como um programa de
gestão de SST para o canteiro de obra, contendo projetos de segurança e saúde para prevenção
de acidentes e doenças dos seus trabalhadores. Sendo este o principal instrumento de gestão no
canteiro, deve ser elaborado pela empresa principal.

Como previsto no item 18.3 da NR 18 (BRASIL, 2015), em todos os ambientes de trabalho da


construção, é obrigatório à elaboração do PCMAT em estabelecimentos com 20 trabalhadores
ou mais, e também deve ser mantida no estabelecimento a disposição do órgão regional do
Ministério Trabalho e Emprego – MTE. Trata-se de um conjunto de documentos composto por:

a) Memorial sobre condições e meio ambiente de trabalho nas atividades e operações,


levando-se em consideração riscos de acidentes e de doenças do trabalho e suas
respectivas medidas preventivas;
b) Projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com as etapas de
execução da obra;
c) Especificação técnica das proteções coletivas e individuais a serem utilizadas;
d) Cronograma de implantação das medidas preventivas definidas no PCMAT em
conformidade com as etapas de execução da obra;
e) Layout inicial e atualizado do canteiro de obras e/ou frente de trabalho, contemplando,
inclusive, previsão de dimensionamento das áreas de vivência;
f) Programa educativo contemplando a temática de prevenção de acidentes e doenças do
trabalho, com sua carga horária.

Segundo CBIC (2017), nas obras onde o pico de mão de obra previsto for inferior a 20
trabalhadores, a empresa principal está dispensada de elaborar o PCMAT, devendo, no entanto,
ter o seu PPRA elaborado de forma ampla, não se atendo apenas aos agentes de riscos físicos,
químicos e biológicos, pedidos na NR-9, mas devendo também analisar todos os outros
agentes: acidentes e ergonômico, assim como aqueles com potencial de danos ao meio
ambiente.

O PCMAT deve ser reavaliado, periodicamente, para observar seu desenvolvimento e se ele
está atendendo plenamente o objetivo para o qual foi elaborado. Se houver necessidade, devem

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ser feitos os ajustes necessários, estabelecendo novas metas e prioridades de segurança. A


implementação do PCMAT nos estabelecimentos é de responsabilidade do empregador
(NUNES, 2016).

O PCMAT deve ser elaborado por profissional legalmente habilitado em segurança do trabalho
com correspondente Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Esse profissional não
precisa necessariamente, porém, ser quem vai realizar as posteriores atualizações e,
principalmente, a sua implementação (CBIC, 2017).

II. Áreas de Vivencia

De acordo com Noronha (2009), uma das mais importantes conquistas dos trabalhadores da
indústria da construção foi à obrigatoriedade, prevista na NR 18, de implantação de áreas de
vivência nos canteiros de obra. É nesses locais que o trabalhador faz suas refeições, toma
banho, passa suas horas de folga e, muitos deles, moram, durante a construção. As exigências
da Norma vão desde a implantação de áreas de lazer e refeitórios até a instalação de
ambulatório médico, banheiros, alojamentos, telefones comunitários e bebedouros com água
filtrada.

Ainda segundo o mesmo autor, para garantir qualidade de vida, condições de higiene e
integração do empregado na sociedade, com reflexos na produtividade da empresa, os canteiros
devem conter:

a) Instalações sanitárias: Devem ser adequadas e em perfeitas condições de higiene e limpeza,


com lavatório, vaso sanitário e mictório, na proporção de 1 conjunto para cada grupo de 20
trabalhadores ou fração, bem como de chuveiro, na proporção de 1 unidade para cada
grupo de 10 trabalhadores ou fração.

b) Vestiário e armário: Os trabalhadores que não moram no canteiro de obras têm direitos a
vestiário com chuveiro e armário individual;

c) Alojamentos: Se os empregados morarem no canteiro de obras, a empresa deve


proporcionar-lhes dormitórios confortáveis e arejados, lavanderia e área de lazer;

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d) Refeitório: O local para as refeições deve possuir piso de material lavável e mesas com
tampos lisos e laváveis. O refeitório não pode estar localizado em subsolos ou porões das
edificações e não ter comunicação direta com as instalações sanitárias. Bem como, toda
obra deve ter bebedouros com água filtrada e potável na proporção de 1 bebedouro para
cada grupo de 25 trabalhadores;

e) Cozinha: Deve estar presente sempre que houver preparo de refeições. Além disso, deve
estar previsto pia para lavar os alimentos e utensílios, possuir instalações sanitárias, que
com ela não se comuniquem, de uso exclusivo dos encarregados de manipular gêneros
alimentícios, refeições e utensílios e possuir equipamentos de refrigeração, para
preservação dos alimentos;

f) Lavanderia: Deve haver um local próprio, coberto, ventilado e iluminado, para que o
trabalhador alojado possa lavar, secar e passar suas roupas de uso pessoal. Este local deve
ter tanques individuais ou coletivos em número adequado;

g) Área de lazer: Locais para recreação dos trabalhadores alojados, podendo ser utilizado o
local de refeições para este fim;

h) Ambulatório: quando se tratar de frentes de trabalho com 50 ou mais trabalhadores. Neste


ambulatório, deve haver o material necessário à prestação de Primeiros Socorros, conforme
as características da atividade desenvolvida. Este material deve ser mantido guardado e aos
cuidados de pessoa treinada para esse fim.

O cumprimento do disposto nas alíneas "c", "f" e "g" é obrigatório nos casos onde houver
trabalhadores alojados.

3.3.3 Normatização europeia para a SST no canteiro de obra

Como já apresentado anteriormente, é a Diretiva 92/57/CEE, norma de segurança para a


Comunidade Europeia, que estabelece as mínimas condições de segurança e saúde para os
canteiros de obra. Tais medidas de segurança devem ser pensadas desde a fase de projeto,

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sendo modificada quando necessário, para todas as fases do andamento da obra (MUTTI et al.,
2000).

Sumariamente, segundo a OIT (2005), as principais modificações introduzidas pela Diretiva


são:
1) Todos os componentes envolvidos no processo de construção têm tarefas
(responsabilidades) específicas relativas à SST, sendo eles: dono da obra, autores dos
projetos, empreiteiros, trabalhadores, entre outros. Basicamente, cada pessoa é
responsável por sua própria segurança e pela segurança de outros que possam ser
afetados por suas ações.
2) Introdução de dois novos membros no processo de construção, os coordenadores de
segurança e saúde para a fase de projeto e para a fase de construção/execução.
3) Incorporação de três novos documentos de prevenção de riscos profissionais: a
Comunicação Prévia (CP), o Plano de Segurança e Saúde (PSS) e o Plano de
Intervenções Posteriores (PIP).

I. Coordenadores de Segurança e Saúde

De acordo com Mutti et al. (2000), a Diretiva de Canteiros (DC) considera as duas fases para a
coordenação de segurança e saúde durante o processo de construção, sendo que este tem
funções bem definidas para cada fase:
 Projeto - quando deve interferir no planejamento das condições de segurança, inclusive
prever o período necessário de aplicação de cada medida de segurança.
 Execução - quando deve atuar no sentido de implantar as condições, organizar a
interferência de atividades entre os diversos grupos de trabalho no canteiro, assegurar
que o empreiteiro possua o necessário em termos de equipamentos de proteção,
verificar se os procedimentos de segurança estão sendo implantados corretamente.

Conforme Luis Alves Dias (OIT, 2005), em ambos os casos, o cumprimento dos chamados
“Princípios Gerais de Prevenção” (PGP) é da maior importância para uma completa e eficiente
coordenação de segurança e saúde durante as fases de projeto e de construção. Esses PGP,
descritos na Figura 4, devem ser aplicados pelos autores dos projetos, durante o processo de

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elaboração dos projetos, e pelos empreiteiros, durante a execução física dos trabalhos, com o
acompanhamento, em ambos os casos, dos respectivos coordenadores de segurança e saúde.

Figura 4 – Os nove Princípios Gerais de Prevenção (PGP).

Fonte: OIT (2005).

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II. Comunicação Prévia (CP)

A função Comunicação Prévia (CP), segundo a OIT (2005), é informar as autoridades


competentes (inspeção do trabalho) o início de um canteiro de obra e, por isso, deve ser
preparado antes de começar qualquer trabalho. Deve ser afixada em local bem visível do
canteiro e periodicamente atualizada, se necessário. De acordo com a DC, o conteúdo mínimo
da CP é o indicado na Figura 5.

Esse documento é obrigatório sempre que os trabalhos tenham duração superior a 30 dias e
neles estejam envolvidos simultaneamente mais de 20 trabalhadores (em qualquer momento),
ou um total de mais de 500 dias de trabalho, correspondente ao somatório dos dias de trabalho
prestado por cada um dos trabalhadores (SOUSA; TEIXEIRA, 2013).

Figura 5 – Conteúdo mínimo da CP (de acordo com a DC).

Fonte: OIT (2005).

III. Plano de Segurança e Saúde (PSS)

Segundo Luis Alves Dias (OIT, 2005), o Plano de Segurança e Saúde (PSS) é o principal
documento de prevenção de riscos profissionais para a fase de execução, tendo por objetivo
identificar e avaliar os riscos de SST e respectivas medidas preventivas a serem tomadas
durante essa fase no canteiro em causa. Deve estar disponível antes de iniciado qualquer

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trabalho no canteiro (deve, aliás, ser incluído no processo de licitação, quando houver) e deve
incluir as regras a seguir por todos os intervenientes no processo de construção.

Compete ao coordenador de segurança e saúde na fase de projeto desenvolver o PSS, sendo que
o PSS é um documento dinâmico, cuja elaboração se inicia na fase de concepção, e se prolonga
durante a fase de construção (SOUSA; TEIXEIRA, 2013).

O PSS é exigido para todos os empreendimentos ou obras em alguns países da EU,


independentemente da sua dimensão e complexidade. Noutros países, o PSS é obrigatório
sempre que exigível a Comunicação Prévia ou que envolvam riscos especiais definidos pela
DC. Outros países excluíram a exigência do PSS (com ou sem simplificação) para pequenas
obras executadas no interior de uma habitação particular (OIT, 2005).

Conforme Mutti et al. (2000), a DC estabelece uma série de trabalhos e situações envolvendo
riscos à segurança e saúde dos trabalhadores e seus requisitos mínimos de segurança, os quais
abordam os mais variados tópicos e devem ser previstos no PSS (quando se enquadrarem no
tipo de construção), conforme o exposto a seguir:
 Estabilidade e solidez;
 Instalações de distribuição de energia;
 Caminhos e saídas de emergência;
 Detecção e combate a incêndio;
 Ventilação;
 Exposição a riscos particulares;
 Temperatura;
 Iluminação natural e artificial;
 Locais e caminhos de movimentação no canteiro;
 Portas e portões;
 Áreas de perigo;
 Rampas, escadas e andaimes;
 Liberdade de movimento no posto de trabalho;
 Primeiros socorros;

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 Equipamentos sanitários;
 Sinalização temporária
 Salas de descanso e alojamentos.

Em alguns dos países da UE, o conteúdo mínimo do PSS é também considerado na legislação.
A Figura 6 apresenta um exemplo de conteúdo de um PSS, sendo que essa estrutura e conteúdo
devem ser adaptados (reduzidos ou ampliados) de acordo com as características de cada caso
(OIT, 2005).

IV. Plano de Intervenções Posteriores (PIP)

O Plano de Intervenções Posteriores (PIP) é importante documento de prevenção de riscos


profissionais durante as intervenções após a conclusão dos trabalhos, isto é, durante a fase de
exploração/manutenção. Deverá conter toda informação relevante a ter em conta durante
qualquer trabalho subsequente. A Figura 7 dá um exemplo do conteúdo desse plano organizado
de forma estruturada para o caso de um edifício, com uma estrutura similar à do PSS, mas com
conteúdo diferente. Essa estrutura e conteúdo devem ser adaptados (reduzidos ou ampliados) de
acordo com as características de cada caso, sendo certo que haverá significativas diferenças
para diferentes tipos de empreendimentos ou obras (edifícios, estradas, pontes, etc.).

V. Nota final

Vale ressaltar que a Diretiva de Canteiros, publicada em 1992, constituiu a principal linha de
força para a maioria dos países da União Europeia desenvolver sua própria legislação para a
melhoria das condições de trabalho nos canteiros de obra. Sendo assim, alguns países criaram
suas próprias legislações adaptando a DC tendo em vista sua própria realidade e/ou para efeitos
de esclarecimento, bem como outros introduziram alterações e/ou adendos ao longo do tempo,
com base na experiência adquirida com a implementação prática dessa Diretriz (OIT, 2005).

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Figura 6 – Exemplo de estrutura e conteúdo de um PSS.

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Fonte: OIT (2005).


Figura 7 – Exemplo de estrutura e conteúdo de um PIP para um edifício.

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Fonte: OIT (2005).

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme a exposição inicial deste trabalho, o objetivo desta pesquisa centrou-se em realizar
uma avaliação comparativa da NR 18 brasileira e da Diretiva 92/57/CEE europeia no que tange
a segurança e saúde do trabalho nos canteiros de obras com o propósito de apresentar subsídios
aos profissionais da área para o aprimoramento das legislações e, consequentemente, o
decréscimo dos altos índices de acidentes do trabalho na indústria da construção civil.

Tendo em vista a profunda revisão bibliográfica desenvolvida, a qual permitiu o entendimento


das correlações existentes entre as legislações analisadas, bem como as suas disparidades,
pode-se ressaltar pontos importantes constatados:

 Primeiramente, é preciso levar em consideração de que as duas legislações são


aplicadas em países, sendo assim apresentam uma diversidade nos processos
construtivos, bem como diferenças culturais (MUTTI et al., 2000).

 Pelo anteriormente exposto, pode-se concluir que tanto a NR 18 brasileira quanto a


Diretiva 92/57/CEE europeia são bastante abrangentes e ricas no tocante à prevenção e
combate aos acidentes de trabalho, bem como são bastante parecidas em termos de
conteúdo. Porém, ainda existem dificuldades para implantação dessas legislações. Essas
dificuldades estão relacionadas com as ações preventivas realizadas ou não pelas
empresas (ARAÚJO; MEIRA, 2002).

 O Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção


(PCMAT) se assemelha ao Plano de Segurança e Saúde (PSS), a elaboração de ambos
se inicia na fase de projeto e deve contemplar um sistema de coordenação de segurança,
o objetivo é o mesmo minimizar os riscos de ocorrência de acidentes, contribuindo
assim para o aumento da segurança dos trabalhadores durante as várias fases da
execução da obra (KATUKI, 2016).

 Fica evidenciado que nas grandes empresas a gestão de saúde, segurança e a prevenção
de acidentes são mais evidentes e manifestas, seja porque existe mais pessoal

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especializado (técnicos, médicos e engenheiros), seja por causa da sua “visibilidade”


para a fiscalização, o que faz a empresa se sentir obrigada a seguir os padrões
normativos. No entanto, este quadro não se verifica nos pequenos canteiros. O que
ocorre nas pequenas obras é que PCMAT e PSS, como instrumentos de gestão, não
conseguem atender as prerrogativas que existiam no momento de sua concepção,
virando somente um documento para dar conta do cumprimento da legislação. Na
prática, o que se observa é uma falta de conhecimento e, portanto, uma falta de
comprometimento do pequeno empregador com a segurança e saúde de seus
trabalhadores (GOMES et al., 2016).

 A fiscalização é uma atividade de suma importância para que seja garantido o


cumprimento das exigências das normas, porém muitas das obras não realizam a
fiscalização interna e pelo grande desenvolvimento imobiliário e volume de obras, as
autoridades responsáveis não suprem a demanda de fiscalizações, com isso os
empregadores se aproveitam desta brecha fiscal para não cumprir com todos os
requisitos exigidos pelas leis vigentes. Cabe aos órgãos responsáveis realizarem
fiscalizações frequentes com o objetivo de verificar o cumprimento das normas e os
direitos dos trabalhadores para que estes não realizem seu serviço em um ambiente
desprovido de medidas de proteção visando à segurança e saúde dos mesmos. Além das
fiscalizações, os empregadores devem se conscientizar que a adoção de medidas de
proteção é um direto dos trabalhadores e não somente uma obrigatoriedade por lei
(KATUKI, 2016).

 Embora a segurança e saúde no trabalho devam ser, sobretudo, consideradas como um


direito dos trabalhadores, isso não deveria esconder o fato de que a prevenção dos
acidentes de trabalho é também um recurso a mais com que contam as empresas
construtoras para melhorar sua competitividade (OIT, 2005).

 Mesmo com a introdução de legislações de SST mais modernas e eficientes (Diretiva


dos Canteiros em 1992 e NR 18 em 1995), somente ver tais normas de segurança como
uma imposição legal acarreta em prejuízos à efetividade dos programas de melhoria

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(PSS e PCMAT), tanto da própria segurança como da qualidade e produtividade na


construção civil (CRUZ; OLIVEIRA, 1997).

 Existe uma maior conscientização do empresário europeu quanto à implantação da


legislação de segurança, sendo seus maiores problemas os custos e a forma de aplicação
de tal legislação. O empresário brasileiro ainda não tem esse nível de conscientização.
Ele inicia o processo de implantação da NR 18 porque é obrigado pela "lei" e não
porque acredita na prevenção. Suas ações são reativas e não proativas (ARAÚJO;
MEIRA, 2002).

 Finalmente, o passo definitivo para a integração da segurança e saúde do trabalho nas


obras de construção só será dado quando todas as partes envolvidas no processo
(trabalhadores, empresários, projetistas, donos de obra) se convencerem de que os
imperativos da segurança e saúde no trabalho, de um lado, e os imperativos da
competitividade, de outro, não só não se contradizem, mas, pelo contrário são
convergentes (OIT, 2005).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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