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Júri
Presidente: Prof.ª Maria Eduarda de Sampaio Pinto de Almeida Pedro
Orientador: Prof. José Fernando Alves da Silva
Vogais: Prof. João José Esteves Santana
Abril 2014
Agradecimentos
A realização desta dissertação marca um momento importante no meu percurso académico e a sua
conclusão não teria sido possível sem a ajuda de algumas pessoas a quem eu gostaria de dar os
meus sinceros agradecimentos.
Primeiramente, agradeço ao professor José Fernando Alves da Silva como meu orientador pela
oportunidade que me concedeu de realizar este trabalho e por toda a paciência e disponibilidade que
teve ao longo de todo o processo. Em especial, quero salientar ainda o enorme e constante incentivo
que me transmitiu em momentos menos bons.
Agradeço também à professora Sónia Ferreira Pinto pelo auxílio e interesse prestados no decorrer
deste trabalho, bem como por todos os ensinamentos que me transmitiu.
Não me posso esquecer dos meus amigos mais próximos e de longa data que, por me conhecerem
tão bem, souberam proporcionar-me momentos de alegria que aliviaram o peso deste trabalho em
alguns momentos, sem nunca deixarem de confiar nas minhas capacidades para ser bem sucedida.
Por último, mas não menos importante, quero agradecer à minha família, especialmente aos meus
pais que fizeram questão de estar sempre presentes ao meu lado, cujo apoio incondicional tem sido
desde sempre imprescindível para atingir as minhas metas e deixá-los orgulhosos.
iii
Resumo
Palavras-Chave:
v
Abstract
The use of microgeneration as a way to meet the current challenges of environmental and energetic
sustainability can have consequences on the Power Quality. Therefore, this thesis deals with the
analysis of low-voltage grids in which photovoltaic microgenerators with switched converters have
been introduced, studying and mitigating the impact that these systems can cause on the quality of
the voltage waveform and, in particular, disturbing the line rms value.
In this context, the introduction of microgeneration systems in the low-voltage networks can cause an
increase of rms voltage values, which is more pronounced as the network load is smaller. Exceeding
the maximum voltage defined in the standard NP EN 50160, there are conditions for a permanent
overvoltage and microgenerators turn off automatically. This leads to an inefficient use of existing
microgeneration system.
In order to solve this problem, it is presented a possible solution that involves updating the already
existing control algorithm in the microgenerator, adding overvoltage control functionality by allowing it
to continue its normal function by injecting a slightly lower active power instead of shutting down.
For this it is also necessary to build a suitable model of real microgenerator, associated to the
photovoltaic panels, and update the existing current and voltage control algorithms.
Based on the detailed representation of the various circuit elements of a rural low-voltage network,
namely the models of Medium Voltage/Low Voltage transformer, electrical cables and loads, several
simulations are carried out, which cover different scenarios of power consumption and the presence
of microgeneration systems, allowing to evaluate the level of voltage in study. The proposed
microgenerator control system update was validated by simulations.
Keywords:
vii
Índice
Agradecimentos ......................................................................................................................................iii
Resumo ................................................................................................................................................... v
Abstract ..................................................................................................................................................vii
Índice ...................................................................................................................................................... ix
1. Introdução ....................................................................................................................................... 1
6. Conclusões.................................................................................................................................... 68
Referências Bibliográficas..................................................................................................................... 70
Anexo A ................................................................................................................................................. 72
ix
A.2 Ensaio em curto-circuito.............................................................................................................. 73
Anexo B ................................................................................................................................................. 74
Anexo C................................................................................................................................................. 76
Anexo D................................................................................................................................................. 78
Anexo E ................................................................................................................................................. 80
Anexo F ................................................................................................................................................. 82
x
Lista de Figuras
Figura 1.1 – Distribuição da irradiação solar média anual, num plano horizontal, em Portugal ............ 1
Figura 2.1 – Esquema equivalente em T do transformador ................................................................... 5
Figura 2.2 – Exemplo de um cabo torçada ............................................................................................. 7
Figura 3.1 – Circuito eléctrico equivalente do modelo de um díodo e cinco parâmetros ..................... 14
Figura 3.2 – Características I-V e P-V para as condições de referência .............................................. 18
Figura 3.3 – Características I-V e P-V para irradiância incidente constante e diferentes valores de
temperatura ........................................................................................................................................... 18
Figura 3.4 – Características I-V e P-V para temperatura constante e diferentes valores de irradiância
incidente ................................................................................................................................................ 19
Figura 3.5 – Esquema eléctrico do inversor monofásico ligado à rede ................................................ 20
Figura 3.6 – Esquema do controlo histerético a três níveis da corrente .......................................... 23
Figura 3.7 – Corrente de referência e corrente controlada à saída do inversor ................................... 24
Figura 3.8 – Esquema de ligação do inversor ...................................................................................... 24
Figura 3.9 – Diagrama de blocos do controlo de tensão no condensador de entrada do inversor ...... 25
Figura 3.10 – Tensão controlada no condensador do lado DC do inversor ......................................... 28
Figura 3.11 – Potência produzida pelo sistema fotovoltaico (valor médio) .......................................... 29
Figura 4.1 – Estrutura da rede rural BT simulada ................................................................................. 32
Figura 4.2 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1 .................................. 33
Figura 4.3 – Tensões e correntes nas três fases à saída do PT .......................................................... 34
Figura 4.4 – Tensões e correntes nas três fases no barramento 5 ...................................................... 34
Figura 4.5 – Tensão e corrente aos terminais do .......................................................................... 35
Figura 4.6 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1 .................................. 36
Figura 4.7 – Tensões e correntes nas três fases à saída do PT .......................................................... 37
Figura 4.8 – Tensões e correntes nas três fases no barramento 5 ...................................................... 37
Figura 4.9 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1 .................................. 39
Figura 4.10 – Tensões e correntes nas três fases à saída do PT ........................................................ 39
Figura 4.11 – Tensões e correntes nas três fases no barramento 5 .................................................... 40
Figura 4.12 – Tensão e corrente aos terminais da fase R dos grupos e ............................... 40
Figura 4.13 – Tensão e corrente aos terminais do ........................................................................ 41
Figura 4.14 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1 ................................ 42
Figura 4.15 – Tensões e correntes nas três fases à saída do PT ........................................................ 43
Figura 4.16 – Tensões e correntes nas três fases no barramento 5 .................................................... 43
Figura 4.17 – Tensão e corrente aos terminais da fase R do grupo ............................................. 44
Figura 4.18 – Tensão e corrente aos terminais da fase R do grupo ............................................. 44
Figura 4.19 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1 ................................ 46
Figura 4.20 – Tensões e correntes nas três fases à saída do PT ........................................................ 46
Figura 4.21 – Tensões e correntes nas três fases no barramento 5 .................................................... 47
Figura 5.1 – Modelo do Ramal 1 em regime permanente .................................................................... 50
xi
Figura 5.2 – Característica P-V típica do painel fotovoltaico ................................................................ 51
Figura 5.3 – Diagrama de blocos em cadeia fechada do controlador da tensão ............................ 52
Figura 5.4 – Tensão aos terminais do microgerador e respectivo tempo de atraso ........................ 53
Figura 5.5 – Diagrama de blocos do controlador actualizado .............................................................. 54
Figura 5.6 – Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal
positivo .................................................................................................................................................. 54
Figura 5.7 – Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo ... 54
Figura 5.8 – Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo55
Figura 5.9 – Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal
negativo ................................................................................................................................................. 56
Figura 5.10 – Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal negativo 56
Figura 5.11 – Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal negativo
.............................................................................................................................................................. 56
Figura 5.12 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1 ................................ 58
Figura 5.13 - Tensões e correntes nas três fases à saída do PT ......................................................... 58
Figura 5.14 - Tensões e correntes nas três fases no barramento 5 ..................................................... 59
Figura 5.15 - Tensão e corrente aos terminais da fase R do grupo .............................................. 59
Figura 5.16 – Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal
positivo .................................................................................................................................................. 61
Figura 5.17 - Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo .. 61
Figura 5.18 - Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
.............................................................................................................................................................. 61
Figura 5.19 - Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1 ................................. 63
Figura 5.20 - Tensões e correntes nas três fases à saída do PT ......................................................... 63
Figura 5.21 - Tensões e correntes nas três fases no barramento 5 ..................................................... 64
Figura 5.22 - Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal
positivo .................................................................................................................................................. 65
Figura 5.23 - Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo .. 65
Figura 5.24 - Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
.............................................................................................................................................................. 66
Figura A.1 – Esquema equivalente do transformador em vazio ........................................................... 72
Figura A.2 – Esquema equivalente do transformador em curto-circuito .............................................. 73
Figura B.1 – Esquema implementado no Matlab/Simulink do modelo simplificado do microgerador .. 74
Figura D.1 – Diagrama de blocos do controlador de tensão com limitador de anti-embalamento....... 78
xii
Lista de Tabelas
xiii
Tabela F.2 - Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para
o cenário 6............................................................................................................................................. 82
xiv
Lista de Abreviaturas
xv
MPPT - Seguidor de Máxima Potência (Maximum Power Point Tracker)
MT - Média Tensão
- Número de módulos em paralelo
- Número de módulos em série
NOCT - Temperatura normal de funcionamento da célula (Nominal Operating Cell Temperature)
- Potência activa
- Potência de perdas do transformador em curto-circuito
- Potência de entrada do inversor
- Potência activa injectada pelo microgerador
- Potência máxima produzida pela célula fotovoltaica nas condições de referência (STC)
- Potência de perdas do transformador em vazio
PI - Controlador Proporcional-Integral
PT - Posto de Transformação
PWM - Modulação de largura de impulso (Pulse Width Modulation)
- Potência reactiva
QEE - Qualidade de Energia Eléctrica
- Resistência de dispersão dos enrolamentos do primário do transformador
- Resistência de dispersão dos enrolamentos do secundário do transformador
- Resistência linear de um condutor em corrente contínua à temperatura de 20ºC
- Resistência dos condutores da linha eléctrica de distribuição
- Resistência de magnetização do transformador
- Resistência série do esquema equivalente da célula fotovoltaica
- Resistência paralelo do esquema equivalente da célula fotovoltaica
- Resistência total dos enrolamentos do primário e secundário do transformador
rms - Valor eficaz (Root Mean Square)
- Potência aparente
- Potência aparente nominal do transformador
STC - Condições de referência (Standard Test Conditions)
- Período da rede
- Temperatura da célula fotovoltaica em graus kelvin nas condições de referência (STC)
- Tempo de atraso
- Tempo de atraso da comutação do inversor
- Constante de tempo do controlador integral da tensão da rede
- Pólo do controlador PI
- Zero do controlador PI
THD - Taxa de Distorção Harmónica (Total Harmonic Distortion)
- Tensão no condensador do lado DC do inversor
- Tensão de circuito aberto da célula fotovoltaica nas condições de referência (STC)
- Tensão de referência do controlador de tensão
xvi
- Tensão de curto-circuito do transformador
- Valor eficaz da tensão
- Tensão do painel fotovoltaico no ponto de máxima potência nas condições de
referência (STC)
- Tensão à saída do PT
- Valor médio da tensão de saída aos terminais do inversor
- Tensão da rede
- Potencial térmico da célula fotovoltaica
- Frequência angular da rede
- Reactância de dispersão dos enrolamentos do primário do transformador
- Reactância de dispersão dos enrolamentos do secundário do transformador
- Reactância de magnetização do transformador
- Reactância total de dispersão dos enrolamentos do primário e secundário do
transformador
- Impedância de curto-circuito
- Impedância da linha
- Ganho de rectroacção do controlador de tensão
- Variável de comando do inversor
- Desfasagem entre tensões
- Varável de saída do comparador histerético estreito
- Varável de saída do comparador histerético largo
- Largura do comparador histerético estreito
- Largura do comparador histerético largo
- Rendimento do inversor
- Temperatura ambiente em graus celcius
- Temperatura da célula fotovoltaica
- Factor de amortecimento
- Variação máxima da corrente de saída do inversor
- Variação da tensão do lado DC do inversor
- Variação da tensão de referência do lado DC do inversor
- Microgerador
xvii
1. Introdução
Durante largas dezenas de anos, a produção de energia eléctrica em Portugal dependeu fortemente
da existência e utilização de combustíveis fósseis, os quais são os principais responsáveis pela
emissão de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera. O crescente consumo energético nesse
mesmo período conduziu necessariamente a crescentes valores de emissão do referido agente
poluente e a um aumento do desequilíbrio na balança dos pagamentos com o exterior, dado que
Portugal não é um país com acesso a esses recursos energéticos no seu próprio território. Este
panorama provocou preocupações do foro ambiental e económico nos órgãos governamentais, não
só em Portugal, mas também por toda a Europa. Como forma de reduzir a utilização dos
combustíveis fósseis, começou-se a explorar novas fontes de energia que não tivessem um impacto
negativo no ambiente e surgiu o aproveitamento de energias renováveis, cujo conceito assenta
sobretudo no acesso livre e ilimitado a essas fontes, gerando energia dita “limpa”.
A radiação solar é uma das fontes renováveis que foi alvo de exploração e consequente
desenvolvimento de sistemas de aproveitamento e transformação dessa energia em energia eléctrica,
nos últimos anos. Apesar do benefício de ser um recurso inesgotável, pelo menos durante os
próximos milénios, tem a desvantagem de não existir de forma permanente, variando diariamente e
sazonalmente a intensidade da radiação. Contudo, e particularizando para o cenário português, pode-
se considerar que as condições climáticas são favoráveis a um investimento na produção de energia
através de sistemas fotovoltaicos (Figura 1.1).
Figura 1.1 – Distribuição da irradiação solar média anual, num plano horizontal, em Portugal
1
Até então, a produção de energia foi centralizada, ou seja, o trânsito de energia era feito
exclusivamente dos grandes pontos de geração, como as centrais termoeléctricas ou hidroeléctricas,
para os consumidores. Actualmente já não se verifica este tipo de geração bem definida pois
desenvolveu-se um novo conceito, designado de produção descentralizada, que consiste na
possibilidade dos consumidores se tornarem também produtores de energia eléctrica por meio da
instalação de sistemas de microgeração. Assim, o trânsito de energia sofre alterações passando a
efectuar-se também ao nível da rede de distribuição entre consumidores.
A Microgeração define-se como uma produção descentralizada de electricidade em baixa tensão por
particulares e empresas, podendo estes fornecer a totalidade da sua produção à rede pública em
condições economicamente vantajosas [2]. Nestes termos, e tendo em conta que os custos de fabrico
dos equipamentos fotovoltaicos têm vindo a diminuir, tem-se assistido a um crescente número de
sistemas de microgeração instalados por todo o país, quer nas zonas citadinas, quer nas zonas
rurais.
O regime jurídico aplicável à produção de electricidade por intermédio de unidades de microprodução
é estabelecido pelo Decreto-Lei nº118-A/2010, onde se procede à segunda alteração ao Decreto-Lei
nº363/2007. Segundo este documento, existe um limite de uma unidade de microprodução por cada
instalação eléctrica de consumo, com uma potência máxima instalada de 3,68kW, no caso do regime
bonificado, e 5,75kW no caso do regime geral [1]. No entanto, a potência injectada na rede não pode
ser superior a 50% do valor da potência contratada para a instalação eléctrica de utilização. Ainda, o
acesso a esta actividade pode ser restringida se o somatório da potência ligada a um posto de
transformação ultrapassar o limite de 25% da potência do respectivo posto de transformação [2].
1.1. Motivação
Os sistemas de microgeração são constituídos por conversores DC/AC e filtros responsáveis por
efectuar a ligação à rede eléctrica. Estes equipamentos contêm componentes electrónicos em
funcionamento não linear e, por esse motivo, podem contribuir para a degradação da Qualidade da
Energia Eléctrica (QEE), como por exemplo o aumento da Taxa de Distorção Harmónica (THD). Na
sequência de vários estudos ao nível da distorção harmónica [3] [4], os sistemas de microgeração
podem ser munidos de soluções que mitigam esse problema. Recentemente, surgiu um outro
problema relativo à QEE que está relacionado com o aumento do valor eficaz da tensão, o qual é um
dos parâmetros sujeito a avaliação pelas normas existentes. De acordo com a norma NP EN
50160:2001, a amplitude da tensão de alimentação numa rede de baixa tensão deve estar sempre
compreendida no intervalo entre 85% e 110% da tensão nominal [6]. Deste modo, uma sobretensão é
definida por uma amplitude do valor eficaz superior a 110% de 230V, ou seja, superior a 253V.
Numa rede do tipo rural, o posto de transformação pode estar consideravelmente afastado das
instalações de utilização dos consumidores, sendo que o comprimento das linhas de baixa tensão
nessas zonas pode exceder 600 metros. Deste modo, se os sistemas de microgeração se
encontrarem também bastante afastados do posto de transformação, o valor eficaz da tensão no
próprio local de instalação pode ser afectado de forma bastante significativa. Verifica-se que, em
períodos de vazio do consumo de energia eléctrica, que correspondem normalmente a períodos em
2
que os microgeradores estão na sua geração de máxima potência, estes sistemas impõem uma
sobretensão local, que excede o permitido na NP EN 50160:2001 e faz com que o microgerador se
desligue [5].
Passados cerca de 10 minutos, o microgerador já tem um registo de 10 minutos em que o valor eficaz
da tensão já se encontra num patamar admissível ao funcionamento normal do microgerador e este
religa-se. Como o seu ponto de operação é sensivelmente o mesmo, volta a existir uma sobretensão
aos seus terminais, repetindo o comportamento descrito. Esta situação conduz a um funcionamento
ineficiente por parte dos sistemas de microgeração pois a produção de energia fica comprometida e
aquém do que estava previsto aquando do projecto e investimento do consumidor.
Esta situação poderá ser resolvida mudando o microgerador para uma fase mais carregada, ou
descendo uma tomada no transformador do posto de transformação, ou remodelando a linha de baixa
tensão ou instalando um novo transformador [5]. Estas três últimas soluções podem ser
particularmente onerosas, razão porque neste trabalho se procura uma solução que seja exequível
mediante uma simples actualização do software de controlo do microgerador.
Este trabalho está estruturado em seis capítulos, subdividindo por estapas todos os
dimensionamentos e simulações realizados.
Inicialmente, no primeiro capítulo faz-se uma breve contextualização do tema abordado neste
trabalho e consequentes objectivos. De seguida, no capítulo dois procede-se à apresentação do
modelo da rede de baixa tensão construído, onde se explicitam todas as considerações subjacentes
ao dimensionamento da mesma.
3
No terceiro capítulo é feita a exposição detalhada dos sistemas de microgeração através do estudo
do seu funcionamento e respectivo dimensionamento dos equipamentos constituintes com base em
dados catalogados.
No quarto capítulo é feita a descrição geral da rede no seu todo, bem como dos cenários de carga e
de microgeração criados com vista à simulação da rede. Os diversos cenários são testados,
apresentando e discutindo os resultados, com vista à definição de um cenário típico de sobretensão
de longa duração.
O capítulo cinco incide no estudo da solução proposta para o problema descrito, apresentando
igualmente os resultados e respectivos comentários após a simulação da rede considerada com o
novo sistema de microgeração.
Por último, no capítulo seis procede-se à conclusão de todo o trabalho, evidenciando os resultados
mais importantes e sugerem-se possíveis trabalhos futuros.
4
2. Modelo da Rede de Baixa Tensão
No presente capítulo é apresentado um modelo da rede eléctrica de baixa tensão construído através
da plataforma Matlab/Simulink, o que inclui representar os modelos do transformador MT/BT, dos
cabos utilizados e das cargas eléctricas típicas representativas das várias residências de uma rede
rural.
5
Tabela 2.1 – Catálogo do Transformador 30kV/420V
O desenvolvimento da análise dos ensaios referidos está presente no Anexo A, bem como as
expressões que pertitem determinar os valores dos parâmetros do esquema equivalente do
transformador.
Na Tabela 2.2 apresentam-se, em p.u., as tensões impostas e as correntes e potências obtidas
através dos ensaios do transformador e, a partir destes dados, calculam-se os valores dos
parâmetros do modelo do transformador, tendo-se obtido os resultados da Tabela 2.3.
0,007
0,0214
320,513
42,023
6
Tabela 2.4 – Valores obtidos em simulação para os diferentes ensaios do transformador
7
Uma linha é tipicamente representada pelo esquema equivalente monofásico em , constituído por
uma impedância longitudinal e uma admitância transversal. No entanto, no caso duma linha aérea, a
admitância transversal é desprezada sobretudo porque, considerando condições normais de
operação, apresenta um reduzido valor, sendo então o esquema monofásico equivalente para
sistemas equilibrados apenas uma resistência e uma indutância em série.
A resistência da linha representa as perdas por efeito de Joule dos condutores que, por sua vez, é
influenciada pela temperatura. Em geral, a resistência é determinada em corrente contínua para a
temperatura de 20ºC, tida como temperatura de referência, através da expressão (2.2) em que éa
2
resistividade do material condutor a 20 , que para o alumínio vale 8, 64 Ωmm /km, é a secção do
2
condutor em mm e é uma constante multiplicativa que depende de factores como o efeito pelicular
e os condutores serem entrançados.
Posto isto, define-se a resistência aparente como uma variação linear com a temperatura segundo a
expressão (2.3) em que é o coeficiente de temperatura indexado ao tipo de material dos
condutores, que no caso do alumínio é 0,0039 ,e é a variável que representa a temperatura a
que se pretende calcular a resistência.
A resistência dos cabos de baixa tensão é calculada recorrendo a (2.4) onde representa o
comprimento do cabo que se pretende dimensionar.
.
.4
A indutância do cabo está relacionada com o fluxo magnético no interior e exterior dos condutores. A
indutância total por unidade de comprimento de um condutor é a soma das componentes interna e
externa, sendo dada por
.6
8
Uma vez que a reactância tem influência na capacidade de transporte e na queda de tensão,
encontra-se tabelada para os diferentes tipos de cabos, e exprime-se por (2.8) em que é a
frequência fundamental.
.8
Os valores dos parâmetros distribuídos que representam a linha aérea de baixa tensão usados neste
trabalho são apresentados na Tabela 2.5 [8].
9
Tabela 2.6 – Coeficientes de simultaneidade
N ≤4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 ≥ 50
C 1,00 0,75 0,56 0,48 0,43 0,40 0,38 0,37 0,36 0,34
As cargas lineares são usualmente de carácter resistivo e indutivo, pelo que no presente trabalho são
representadas por cargas trifásicas do tipo RL paralelo, no ambiente Matlab/Simulink. Desta forma, é
necessário definir as potências activa e reactiva consumidas por cada carga com base na potência
aparente estipulada. A relação entre a potência activa e a potência aparente é definida pelo factor de
potência, , o qual é característico de cada carga, apresentando tipicamente valores entre 0,7 e
0,8 para cargas lineares. Conhecendo as relações (2.9) e (2.10), e arbitrando o valor do factor de
potência dentro do intervalo referido, deteminam-se as potências activa e reactiva de cada carga
através das expressões (2.12) e (2.13).
.
.
.
.
.
Como já foi referido anteriormente, são consideradas 3 saídas por fase do lado da baixa tensão do
transformador, denominadas por ramais. Uma das saídas, designada por Ramal 1, é dimensionada
com 5 troços de linha elétrica aérea e, por sua vez, existem 5 pontos de cargas eléctricas
equivalentes. As restantes saídas são representadas por uma carga total equivalente, uma vez que o
caso em estudo se encontra evidenciado no Ramal 1, cuja potência aparente equivalente depende da
parcela de potência do transformador entregue aos dois ramais e de um coeficiente de
simultaneidade equivalente. A expressão (2.14) traduz esta relação, em que representa o número
de ramais considerados. De forma semelhante ao determinado para o Ramal 1, o cálculo das
potências activa e reactiva da carga equivalente efectua-se através das expressões gerais (2.12) e
(2.13).
. 4
Os valores dimensionados para o conjunto de cargas representadas no modelo da rede rural deste
trabalho apresentam-se na Tabela 2.7, subdivididos consoante pertençam ao ramal principal ou ao
equivalente dos dois restantes ramais.
10
Tabela 2.7 – Dimensionamento das cargas nos diferentes ramais da rede rural
A rede rural de baixa tensão é um sistema trifásico, pelo que as cargas ligadas ao longo da rede
estão distribuídas pelas diferentes fases. Se a distribuição de cada uma das cargas equivalentes
trifásicas fôr igual nas três fases, diz-se que o sistema se encontra equilibrado. Contudo, esta
situação não corresponde a um cenário fiel à realidade pois é possível verificar-se alguns
desequilíbrios nas redes existentes e, portanto, de forma a comtemplar este facto no modelo criado,
efectua-se uma repartição das potências activa e reactiva diferente para as três fases em cada uma
das cargas. Na Tabela 2.8 estão evidenciadas as percentagens atribuídas a cada uma das fases para
cada uma das cargas do Ramal 1 consideradas no modelo, perfazendo sempre um total de 100% da
potência estipulada para a respectiva carga.
Relativamente aos outros ramais, uma vez que são caracterizados por uma carga total equivalente,
assume-se que pode ser visto como um sub-sistema praticamente equilibrado e existe uma repartição
idêntica de potência pelas fases.
Carga
Fase 1 2 3 4 5
R 35% 30% 35% 30% 35%
S 30% 35% 35% 35% 35%
T 35% 35% 30% 35% 30%
11
12
3. Modelo do Sistema de Microgeração
3.1.2. Modelo
Os principais aspectos deste efeito são a radiação solar e a junção p-n, sendo representados no
esquema eléctrico equivalente por uma fonte de corrente e por um díodo, respectivamente. O circuito
eléctrico equivalente utilizado neste trabalho é o que se apresenta na Figura 3.1 e corresponde ao
modelo de um díodo e cinco parâmetros [10]. Este foi o modelo escolhido por ser mais rigoroso e
próximo do real, tendo em conta factores não-ideais.
13
I
ID RS
IS
D Rsh V
A fonte de corrente representa a corrente eléctrica devida à incidência dos fotões da radiação
luminosa na célula, admitindo-se contínua e constante para um dado valor de irradiância incidente. A
corrente que atravessa o díodo depende da tensão aos terminais da célula e é expressa por
(3.1), em que é a corrente inversa de saturação do díodo, é o potencial térmico e é o factor
de idealidade do díodo.
Estão também presentes no circuito equivalente duas resistências, uma em série que representa a
queda de tensão observada até aos contactores exteriores, e outra em paralelo que representa as
correntes de fuga.
Da análise do circuito pode-se escrever a equação (3.3) que relaciona a corrente com os
parâmetros do modelo, , , , e , nas condições de referência (STC), isto é, para uma
tempreratura e irradiância incidente . As condições de referência são
importantes uma vez que os valores de catálogo fonecidos pelo fabricante são obtidos através de
testes à temperatura e irradiância mencionadas.
A elaboração deste modelo tem em conta três pontos de operação relevantes da caracterísica I-V da
célula que correspondem às situações de curto-circuito, circuito aberto e máxima potência.
14
Na situação de curto-circuito, a tensão aos terminais da célula é nula, pelo que pode-se reescrever a
equação (3.3) na forma (3.4). Por sua vez, a situação de circuito aberto é caracterizada por uma
corrente de saída nula, pelo que, a equação (3.3) é reescrita na forma (3.5).
.4
.6
.8
No entanto, as condições de trabalho da célula não serão as condições de referência, o que torna
necessário relacionar os parâmetros característicos da célula com a variação das condições de
trabalho. Este modelo considera que os parâmetros , e não são influenciados pelas
variações da temperatura e da irradiância a que a célula fotovoltaica está sujeita, mantendo-se
constantes nos valores determinados para as condições de referência. Contudo, a corrente de curto-
circuito e a tensão de circuito aberto dependem da variação destas grandezas, que por sua vez
influenciam os outros parâmetros do modelo. Considera-se que a irradiância afecta fortemente e de
forma linear a corrente de curto-circuito e de forma logarítmica a tensão de circuito aberto.
Relativamente à influência da temperatura, são utilizados os coeficientes de temperatura fornecidos
no catálogo do fabricante. Estas relações estão descritas nas equações (3.9) e (3.10), em que
e são os coeficientes de temperatura da corrente de curto-circuito e da tensão
de circuito aberto, respectivamente.
15
.
Admitindo que todas as células são idênticas e que operam nas mesmas condições de
funcionamento, toda a abordagem do modelo feita para uma célula fotovoltaica pode ser aplicada a
um sistema expandido como o painel fotovoltaico. Sendo o número de células colocadas em série
e o número de células colocadas em paralelo, todas as tensões referentes a uma célula devem vir
multiplicadas por e todas as correntes devem ser multiplicadas por . Consequentemente, as
resistências em série e paralelo devem ser multiplicadas pelo quociente entre e [11]. Estas
relações explicitam-se de seguida.
.
.
. 4
.
. 6
. 8
O painel fotovoltaico modelado é o painel Shell Ultra 175, cujas características de catálogo nas
condições STC são apresentadas na Tabela 3.1 [12].
16
Recorrendo ao software Matlab, utiliza-se a função fsolve para resolver o sistema de equações (3.8),
com os dados catalogados do painel referido, de forma a determinar os parâmetros do modelo, e
obtém-se
Uma vez que cada módulo é composto por 72 células em série, o factor de idealidade do díodo
equivalente é de , o qual está dentro dos limites esperados.
Depois de determinados os parâmetros, simula-se o modelo proposto nas condições de referência e
para diferentes temperaturas e irradiâncias, obtendo-se as características apresentadas nas Figuras
3.2, 3.3 e 3.4. O ponto assinalado na Figura 3.2 corresponde ao ponto de máxima potência
, nas condições de referência, cujos valores de simulação das grandezas em estudo são
17
6
Corrente [A]
4
2
c=25ºC, G=1000W/m2
Ponto MPPT
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tensão [V]
200
Potência [W]
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tensão [V]
6
Corrente [A]
150
Potência [W]
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tensão [V]
Figura 3.3 – Características I-V e P-V para irradiância incidente constante e diferentes valores de temperatura
18
6
Corrente [A]
4
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tensão [V]
G=1000W/m2
150
Potência [W]
G=750W/m2
100 G=500W/m2
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tensão [V]
Figura 3.4 – Características I-V e P-V para temperatura constante e diferentes valores de irradiância incidente
Tal como já foi referido e descrito equacionalmente em (3.9) e (3.10), a característica corrente-tensão
(I-V) varia para diferentes condições de irradiância e temperatura. Estas variações estão ilustradas
nas Figuras 3.3 e 3.4, sendo possível também inferir que a irradiância afecta de forma mais
significativa a característica e, consequentemente, a potência máxima possível de ser gerada pelo
painel, do que a temperatura.
Na Tabela 3.2 apresentam-se as características catalogadas em condições NOCT, os valores das
mesmas grandezas obtidos por simulação do modelo e o respectivo erro relativo, o qual é
determinado através da expressão (3.20).
19
Analisando os resultados obtidos através das diferentes simulações, verifica-se que os erros são
pouco significativos e, portanto, considera-se que o modelo é uma boa aproximação do real sendo
viável a sua utilização neste trabalho.
Tendo em conta que a potência máxima injectada na rede por um sistema de microgeração permitida
por lei é de 3450W, constata-se que é necessário formar uma associação de painés de forma a
garantir que a potência de saída atinge o valor pretendido. O número de painéis a utilizar determina-
se através da relação entre a potência máxima que se pode fornecer e a potência produzida por cada
painel, resultando num valor aproximado de 20 painéis fotovoltaicos, o que perfaz um total de 3500W
de potência instalada. A configuração estipulada, por simplificação, para estes painéis é de 20x1, isto
é, os 20 painéis são colocados em série. Consequentemente, aplicando o modelo descrito ao sistema
de 20 painéis, as grandezas associadas são actualizadas utilizando as expressões (3.12) a (3.18).
IµG
S1 S3
i0 Lf
Rede
Sistema
VC CµG VPWM Cf VRede Equivalente
FV
S2 S4
20
Na ligação do sistema fotovoltaico ao inversor é dimensionado um condensador que suporta a tensão
contínua , com a função de mantê-la praticamente constante. O valor da capacidade depende
da tensão e da corrente de saída do sistema precedente e é determinado através de (3.22), em
que é a frequência angular da rede, tendo em conta o caso mais desfavorável, isto é, para a
situação em que se verificam os máximos das grandezas. Assume-se que o tremor máximo para a
tensão contínua, , é de 0,5%, uma vez que, por opção, o inversor vai manter a tensão aos
terminais dos painéis fotovoltaicos no ponto de potência máxima , cujo valor é dado pela
equação (3.19).
O comando dos semicondutores é feito por modulação de largura de impulso (PWM) de três níveis
caracterizada por (3.23), impondo uma frequência de comutação muito maior que a frequência
fundamental da rede, tipicamente . Uma das restrições importantes no funcionamento
dos semicondutores é a condução alternada dos dois semicondutores de cada braço do inversor,
permitindo a continuidade da corrente do lado da rede e evitando situações de curto-circuito do lado
da tensão contínua. A modulação de três níveis garante que esta condição é verificada.
Considerando este tipo de modulação, a tensão de saída é positiva quando o valor da modulante é
maior que o valor de duas ondas portadoras triangulares, nula se o valor da modulante estiver
compreendido entre as duas portadoras e negativa se o valor da modulante for menor que as
portadoras. A tensão de saída pode ser dada por (3.24), em que é uma variável ternária que
quantifica os três níveis de tensão.
. 4
Considerando (3.23) e (3.24), é possível deduzir (3.25), que relaciona a tensão de entrada com a
tensão de saída do andar inversor.
.
A ligação do inversor à rede eléctrica é efectuada através de um filtro constituído por uma bobina em
série e um condensador em paralelo. No dimensionamento dos componentes do filtro de saída, e
, são usadas as expressões (3.26) e (3.27) referentes ao conversor redutor [13]. A bobina
permite definir o tremor máximo da corrente injectada na rede, , considerando 10% do valor
eficaz da mesma. O condensador tem como função ajustar o factor de potência e,
consequentemente, permite uma redução da distorção harmónica da corrente.
21
. 6
Para que o filtro tenha o funcionamento pretendido, a frequência de corte do filtro deve estar
compreendida entre a frequência fundamental da rede e a frequência de comutação. Através de
(3.28) é possível verificar-se esta condição.
. 8
Alternativamente, este filtro poderia ser dimensionando segundo [14], que definiria a escolha da
frequência de corte em torno de 640Hz em função da atenuação pretendida para as harmónicas
ligadas à frequência de comutação.
Assim, de acordo com (3.29), (3.30) e (3.31), existem três situações possíveis:
Se
Se
Se
22
Sabendo que, no comando PWM utilizado, a tensão de saída do inversor pode tomar um de três
valores diferentes dependendo dos estados de condução dos semicondutores, como mostra (3.24),
quantifica-se o erro da variável a controlar igualmente em três níveis, de modo a permitir a selecção
de todas as combinações possíveis de ligação dos semicondutores. Assim, o comparador de três
níveis, representado esquematicamente na Figura 3.6, é construído recorrendo a dois comparadores
de dois níveis, com larguras de banda e respectivamente. As variáveis correspondentes a cada
um dos comparadores de histerese, e , podem tomar o valor 1 ou 0 e, analisando as
combinações possíveis (Tabela 3.3), conclui-se que a relação entre as variáveis de saída dos
comparadores e a variável é dada por (3.32).
Tabela 3.3 – Combinações possíveis dos comparadores e lógica de comando dos semicondutores
S1 S2 S3 S4
0 0 -1 0 1 1 0
1 0 0 0 1 0 1
1 1 1 1 0 0 1
0 1 0 1 0 1 0
Através da Tabela 3.3 é também possível definir os sinais de disparo dos semicondutores através de
lógica adicional. O sinal S1 é definido pela saída do segundo comparador, , e o sinal S4 é definido
pela saída do primeiro comparador, . Por sua vez, os sinais S2 e S3 são definidos pela negação
dos sinais S1 e S4, respectivamente.
δ1
2ε1
i0ref e + ɣ
+ 1 -
- +
i0 δ2
2ε2
23
definido aquando do dimensionamento da bobina do filtro de saída, e traduzido nos valores dos
parâmetros e .
25
I0 (t)
20
Iref (t)
15
10
[A]
ref
5
Correntes i e i
o
-5
-10
-15
-20
-25
1.96 1.965 1.97 1.975 1.98 1.985 1.99 1.995 2
tempo [s]
Figura 3.7 – Corrente de referência e corrente controlada à saída do inversor
iµG iinv i0
vC Inversor Rede
CµG
Sistema
FV
24
A relação entre as grandezas evidenciadas no circuito da Figura 3.8 é descrita pela expressão
Para se obter um controlador linear, pode linearizar-se a expressão anterior aplicada aos valores
médios das grandezas, obtendo-se (3.34) [13], onde o ganho relaciona o valor médio de com o
valor eficaz de .
. 4
Supondo um rendimento unitário, pode-se determinar o ganho , assumido constante, o que é válido
para pequenas perturbações em torno do ponto de funcionamento, através de (3.36), considerando
que o inversor deve apresentar um factor de potência quase unitário, com rendimento , e tendo
. 6
Considera-se ainda que existe um atraso relativo à dinâmica do valor eficaz da corrente sinusoidal
de saída do inversor, pelo que a função de transferência do inversor é dada por (3.37). Este atraso
tem em conta que, para reduzir a distorção harmónica, o valor eficaz da corrente de saída não pode
variar dentro de um período da rede, pelo que se assume . Aplicando a transformada de
Laplace à equação (3.34), e atendendo a (3.37), constrói-se o diagrama de blocos do sistema
linearizado de controlo de tensão, apresentado na Figura 3.9.
. 8
IµG
αv
Figura 3.9 – Diagrama de blocos do controlo de tensão no condensador de entrada do inversor
25
O bloco corresponde ao compensador a dimensionar, que será do tipo Proporcional-Integral (PI)
e cuja função de transferência é dada por (3.39). A acção integral do controlador conduz a um erro
estático nulo e, por sua vez, a acção proporcional possibilita uma maior rapidez na resposta do
sistema. Assim, o sistema de controlo proposto (Figura 3.9) tem quatro singularidades em cadeia
aberta, três pólos e um zero.
Neste sistema linearizado, a resposta da tensão à perturbação introduzida pela corrente é analisada
anulando a entrada da tensão de referência, sendo dada por
.4
Aplicando o teorema do valor final à expressão (3.40) e atendendo a uma perturbação do tipo escalão
unitário, obtém-se
.4
.4
De igual forma, aplicando o teorema do valor final à expressão (3.42) e atendendo a uma perturbação
do tipo escalão unitário, obtém-se
.4
o que significa que a tensão do condensador segue a referência à parte de uma constante
multiplicativa relacionada com o sensor de leitura, . Em particular, considerando , garante-se
que a tensão segue rigorosamente a referência.
A função de transferência global do sistema em cadeia fechada é obtida aplicando o princípio da
sobreposição linear, ou seja, é a soma das respostas parciais considerando apenas uma entrada
isoladamente, como se pode verificar no Anexo C. Assim, somando as expressões (3.40) e (3.42),
cada uma multiplicada pela respectiva entrada considerada, obtém-se
.44
26
Para se determinarem os parâmetros do compensador PI, aplica-se o critério ao
polinómio denominador da função de transferência (3.44) [13], critério este que tem de garantir
estabilidade no sentido de Routh-Hurwitz. O polinómio de 3º grau característico do critério utilizado é
e, procedendo à comparação deste com o polinómio denominador,
estabelecem-se as seguintes relações:
.4
Por manipulação de (3.45), conclui-se que os parâmetros do compensador são dados por
.46
.4
.48
.4
ou, expressando a função do compensador através dos ganhos proporcional e integral, tem-se
Os modelos e dimensionamentos apresentados para este tipo de controlo são válidos pressupondo
um regime de pequenas perturbações, como já foi referido. Contudo, em regime de grandes
perturbações, podem surgir grandes sobretensões ou sobrecorrentes no sistema, o que pode
danificar e comprometer o funcionamento do conversor comutado. De forma a evitar esta situação,
constrói-se um compensador PI com limitador de anti-embalamento [13] (Anexo D).
27
720
710
700
[V]
G
690
Tensão em C
680
670
VC (t)
G
660
650
1.9 1.91 1.92 1.93 1.94 1.95 1.96 1.97 1.98 1.99 2
tempo [s]
Figura 3.10 – Tensão controlada no condensador do lado DC do inversor
28
3500
Potência MPPT do Painel FV [W]
3400
3300
PMPPT (t)
3200
3100
3000
1.9 1.91 1.92 1.93 1.94 1.95 1.96 1.97 1.98 1.99 2
tempo [s]
Figura 3.11 – Potência produzida pelo sistema fotovoltaico (valor médio)
O modelo do microgerador apresentado neste capítulo será usado no capítulo 4 aquando das
simulações da rede de teste e também no capítulo 5 para o estudo e desenvolvimento da solução
proposta neste trabalho.
Contudo, este modelo mais completo e detalhado é utilizado apenas no microgerador instalado no fim
da rede rural, uma vez que é esse o alvo de estudo e, portanto, todos os outros microgeradores
colocados em vários pontos da rede são representados por um modelo mais simplificado,
apresentado esquematicamente no Anexo B.
O modelo simplificado do microgerador é baseado numa fonte de corrente comandada, representada
pelo parâmetro , cujo valor é determinado com base na potência activa que se pretende injectar na
rede, e na leitura da tensão da rede aos terminais do microgerador. Esta fonte de corrente deve ainda
representar o comportamento dinâmico do inversor de tensão do microgerador. A construção do
modelo é fundamentada pelas relações (3.52) e (3.53), em que representa o valor da potência
activa injectada, é o sinal de tensão da rede lido aos terminais do microgerador e é o
respectivo valor eficaz.
.
.
Das expressões (3.52) e (3.53) pode-se escrever (3.54) e (3.55), admitindo que , as quais
representam a forma sinusoidal do sinal da rede (função seno) e o valor eficaz da corrente injectada
29
pelo microgerador, , respectivamente. Pretende-se que a corrente injectada seja um sinal com
forma sinusoidal e em fase com a tensão da rede, definida portanto pela expressão em (3.56).
. 4
. 6
Substituindo (3.54) e (3.55) em (3.56), obtém-se a expressão da corrente injectada apenas em função
da potência injectada e da tensão da rede, a qual permite implementar este modelo utilizando
ferramentas da plataforma Matlab/Simulink.
É de notar também a presença de dois blocos de funções de transferência. O bloco à saída do
voltímetro permite filtrar o sinal de tensão da rede e tem uma constante de tempo . O
bloco imediatamente antes da fonte de corrente comandada tem como função representar a dinâmica
do inversor de tensão do microgerador, neste caso de valor , que corresponde a um
período da rede a 50Hz, para minorar a distorção da corrente injectada na rede.
30
4. Simulação do Modelo da Rede
31
µG2 µG4 µG5
BT 1 2 3 4 5
MT
Ramal1
70m 90m 100m 110m 130m
T
250kVA
Sc1 Sc2 Sc3 Sc4 Sc5
Ramal2 µG1
Ramal3
µG3
Sceq
Figura 4.1 – Estrutura da rede rural BT simulada
32
de ponta, e portanto, a qualidade da onda de tensão e a continuidade do funcionamento do
microgerador estão garantidas.
Seguidamente, apresentam-se os gráficos obtidos nas simulações de cada um dos cinco cenários
considerados bem como a informação dos valores de potências activa e reactiva lidas em vários
pontos da rede em cada uma das fases. Ainda, está presente no Anexo E informação adicional sobre
os valores eficazes de tensão e de corrente respeitantes aos gráficos exibidos.
Neste cenário verifica-se que o perfil dos valores eficazes das tensões vai decrescendo ao longo da
linha, sendo que o valor eficaz no final da linha cumpre o estipulado na NP EN 50160 (Figura 4.2).
Este comportamento é expectável dado que não existe nenhum sistema de microgeração em
funcionamento, apenas as cargas eléctricas típicas ligadas à rede a consumir potência.
Nas Figuras 4.3 e 4.4 representam-se a tensão e a corrente nas três fases à saída do PT e no final da
linha BT do Ramal 1, respectivamente, e também o valor eficaz correspondente à fase R de cada
grandeza.
A Figura 4.5 ilustra as formas de onda da tensão e da corrente aos terminais do em que é
explícito que o microgerador se encontra desligado pois a corrente é nula.
Na Tabela 4.1 são apresentados os valores medidos das potências activa e reactiva à saída do PT, à
entrada do Ramal 1 e aos terminais dos grupos de microgeração, para cada uma das fases. De notar
que a fase S é a que apresenta valores de potência ligeiramente superiores, o que está de acordo
com a distribuição de cargas pelas fases.
240
VR(d)
VS(d)
238
VT(d)
236
V = f(d) [V]
234
ef
232
230
228
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
d [m]
Figura 4.2 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1
33
200
R
300 S
150
T
Vef /Ief
200
100
100 50
Corrente [A]
Tensão [V]
0 0
-50
-100
-100
-200
-150
-300
-200
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
20
R
300
S
15
T
200 Vef /Ief
10
100 5
Corrente [A]
Tensão [V]
0 0
-100 -5
-10
-200
-15
-300
-20
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
34
40
V/10 (t)
30 I (t)
Tensão [V] e Corrente [A]
20
10
-10
-20
-30
-40
2.94 2.95 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s]
Figura 4.5 – Tensão e corrente aos terminais do
Tabela 4.1 – Valores médios das potências activa e reactiva em diferentes pontos da rede nas fases R,S e T
para o cenário 1
35
Cenário 2: Sem , Vazio
Este cenário é semelhante ao anterior, apenas o valor eficaz das tensões nos vários pontos da linha é
superior, como se pode constatar pela Figura 4.6, o que é expectável uma vez que se está perante
uma situação de vazio. Nas Figuras 4.7 e 4.8 representam-se a tensão e a corrente nas três fases à
saída do PT e no final da linha, respectivamente, bem como o valor eficaz correspondente à fase R
de cada grandeza.
Na Tabela 4.2 são apresentados os valores medidos das potências activa e reactiva à saída do PT, à
entrada do Ramal 1 e aos terminais dos grupos de microgeração, para cada uma das fases. Neste
cenário verifica-se que os valores das potências e os valores eficazes das correntes são
consideravelmente inferiores aos do cenário anterior, o que está de acordo com a situação de vazio
presente.
242
VR(d)
VS(d)
241.5
VT(d)
241
Vef = f(d) [V]
240.5
240
239.5
239
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
d [m]
Figura 4.6 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1
36
100
R
300
80 S
T
200 60 Vef /Ief
40
100
Corrente [A]
20
Tensão [V]
0 0
-20
-100
-40
-200 -60
-80
-300
-100
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
5
R
300
4 S
T
200 3 Vef /Ief
2
100
Corrente [A]
1
Tensão [V]
0 0
-1
-100
-2
-200 -3
-4
-300
-5
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
37
Tabela 4.2 – Valores médios das potências activa e reactiva em diferentes pontos da rede nas fases R,S e T
para o cenário 2
Neste cenário, o perfil dos valores eficazes das tensões não tem um andamento decrescente ao
longo da linha como nos cenários anteriores. Pelo contrário, a Figura 4.9 mostra que o valor eficaz da
tensão da fase R aumenta continuamente ao longo da linha, e os valores eficazes das fases S e T
aumentam até ao barramento 3 (d=250m aproximadamente), passando a decrescer até ao fim da
linha. Este comportamento é justificado pela entrada em funcionamento dos grupos de microgeração
instalados no Ramal 1, existindo agora pontos de injecção de potência em contraste com um cenário
em que só existe consumo de potência. No entanto, o valor eficaz no final da linha cumpre de igual
forma o estipulado na NP EN 50160.
As Figuras 4.10 e 4.11 representam a tensão e a corrente à saída do PT e no final da linha,
respectivamente, bem como o valor eficaz correspondente à fase R de cada grandeza. A amplitude
da corrente correspondente à fase R é visivelmente superior à das restantes fases devido sobretudo
à presença do .
A Figura 4.12 tem como objectivo mostrar as formas de onda da tensão e corrente aos terminais de
um microgerador de 3450W de potência injectada na rede, representando assim todos os
microgeradores dos grupos e (fases S e T).
Na Tabela 4.3 são apresentados os valores medidos das potências activa e reactiva à saída do PT, à
entrada do Ramal 1 e aos terminais dos grupos de microgeração, para cada uma das fases. É
importante salientar que a potência activa à saída do PT, em todas as fases, tem sinal negativo, o
que significa que neste cenário é a rede que está a absorver ao invés de injectar potência.
38
254 X: 500
VR(d) Y: 252.7
252 VS(d)
VT(d)
250
V = f(d) [V]
248
246
ef
244
242
240
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
d [m]
Figura 4.9 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1
50
R
300
40 S
T
200 30 Vef /Ief
20
100
Corrente [A]
10
Tensão [V]
0 0
-10
-100
-20
-200 -30
-40
-300
-50
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
39
20
R
300 S
15
T
Vef /Ief
200 10
100 5
Corrente [A]
Tensão [V]
0 0
-100 -5
-200 -10
-15
-300
-20
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
40
V/10 (t)
30 I (t)
Tensão [V] e Corrente [A]
20
10
-10
-20
-30
-40
2.94 2.95 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s]
Figura 4.12 – Tensão e corrente aos terminais da fase R dos grupos e
40
40
V/10 (t)
30 I (t)
Tensão [V] e Corrente [A]
20
10
-10
-20
-30
-40
2.94 2.95 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s]
Figura 4.13 – Tensão e corrente aos terminais do
Tabela 4.3 – Valores médios das potências activa e reactiva em diferentes pontos da rede nas fases R,S e T
para o cenário 3
41
Cenário 4: Ramal 2&3, Vazio
Neste cenário, o valor eficaz das tensões nos vários pontos da linha nas fases S e T decresce ao
longo da linha, tal como se verificou nos cenários sem microgeração. Contudo, à semelhança do
cenário anterior, o valor eficaz da tensão na fase R aumenta ao longa da linha (Figura 4.14), mas
apresenta valores inferiores pois neste cenário apenas o está em funcionamento no Ramal 1.
Nas Figuras 4.15 e 4.16 representam-se a tensão e a corrente nas três fases à saída do PT e no final
da linha, respectivamente, bem como o valor eficaz correspondente à fase R de cada grandeza. Em
especial, é através do andamento da corrente à saída do PT (Figura 4.15) que se pode concluir sobre
o impacto dos sistemas de microgeração no Ramal 2&3, verificando-se um aumento da amplitude na
fase T, comparativamente ao cenário anterior, pois é a fase que tem mais potência instalada em
microgeração.
A Figura 4.17 visa ilustrar as formas de onda da tensão e da corrente aos terminais de um conjunto
de microgeração composto por 3450+1725 W de potência injectada, correspondentes à fase S do
e à fase R do . Complementarmente, a Figura 4.18 diz respeito às formas de onda da tensão
e corrente das restantes fases dos dois grupos de microgeração referenciados.
Na Tabela 4.4 são apresentados os valores medidos das potências activa e reactiva à saída do PT, à
entrada do Ramal 1 e aos terminais dos grupos de microgeração, para cada uma das fases. De forma
semelhante ao cenário anterior, os valores da potência activa à saída do PT são negativos, apenas o
seu valor é superior pois os grupos de microgeração no Ramal 2&3 são constituídos por mais do que
um microgerador, perfazendo uma potência injectada superior.
250
VR(d)
248 VS(d)
VT(d)
246
V = f(d) [V]
244
242
ef
240
238
236
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
d [m]
Figura 4.14 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1
42
100
R
300
80 S
T
200 60 Vef /Ief
40
100
Corrente [A]
20
Tensão [V]
0 0
-20
-100
-40
-200 -60
-80
-300
-100
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
20
R
300 S
15
T
Vef /Ief
200 10
100 5
Corrente [A]
Tensão [V]
0 0
-100 -5
-200 -10
-15
-300
-20
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
43
40
V/10 (t)
30 I (t)
Tensão [V] e Corrente [A]
20
10
-10
-20
-30
-40
2.94 2.95 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s]
Figura 4.17 – Tensão e corrente aos terminais da fase R do grupo
40 V/10 (t)
I (t)
30
Tensão [V] e Corrente [A]
20
10
-10
-20
-30
-40
44
Tabela 4.4 – Valores médios das potências activa e reactiva em diferentes pontos da rede nas fases R,S e T
para o cenário 4
Neste cenário, o perfil dos valores eficazes das tensões no Ramal 1 é semelhante ao do cenário 3,
com a diferença que o valor eficaz da tensão na fase R no fim da linha apresenta um valor superior
ao valor limite estipulado pela norma NP EN 50160, e que representa uma sobretensão, como mostra
a Figura 4.19.
As Figuras 4.20 e 4.21 representam a tensão e a corrente à saída do PT e no final da linha,
respectivamente, bem como o valor eficaz correspondente à fase R de cada grandeza. As formas de
onda da corrente à saída do PT são semelhantes às do cenário 4, apenas apresentando uma
amplitude superior em cada uma das fases devido à microgeração no Ramal 1.
Na Tabela 4.5 são apresentados os valores medidos das potências activa e reactiva à saída do PT, à
entrada do Ramal 1 e aos terminais dos grupos de microgeração, para cada uma das fases. Os
valores das potências são superiores aos dos cenários 3 e 4, o que é expectável dado que neste
cenário todos os grupos de microgeração estão em funcionamento.
45
X: 500
254 Y: 253.2
VR(d)
252 VS(d)
VT(d)
250
V = f(d) [V]
248
246
ef
244
242
240
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
d [m]
Figura 4.19 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1
100
R
300 S
80
T
200 60 Vef /Ief
40
100
Corrente [A]
20
Tensão [V]
0 0
-20
-100
-40
-200 -60
-80
-300
-100
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
46
20
R
300 S
15
T
Vef /Ief
200 10
100 5
Corrente [A]
Tensão [V]
0 0
-100 -5
-200 -10
-15
-300
-20
2.96 2.97 2.98 2.99 3 2.96 2.97 2.98 2.99 3
tempo [s] tempo [s]
Tabela 4.5 – Valores médios das potências activa e reactiva em diferentes pontos da rede nas fases R,S e T
para o cenário 5
Numa primeira análise, de entre todos os cenários simulados apenas as condições do cenário 5
conduzem a uma sobretensão permanente no fim do Ramal 1, como se pode verificar pela Figura
4.18, onde está instalado o microgerador em estudo. Tal como se previa, esta situação ocorre num
período de vazio do consumo de energia em simultâneo com a produção máxima dos sistemas de
microgeração.
Relativamente aos cenários 1 e 2, sem microgeração, conclui-se que as quedas de tensão máximas
ao longo do Ramal 1 são aproximadamente de 9V e 2V nas situações de ponta e vazio,
respectivamente, como se pode confirmar pelas Figuras 4.2 e 4.3. De acordo com a distribuição de
47
cargas pelas diferentes fases apresentada na secção 2.2, a fase S é a fase que está mais carregada
e este facto é sustentado pelos valores de potências consumidas expostos nas Tabelas 4.1 e 4.2,
juntamente com o valor eficaz da corrente à saída do PT (Anexo E). A Figura 4.4 é um exemplo mais
evidente da variação na corrente devido à distribuição de cargas, sendo que nesse caso em
particular, a fase T é a fase menos carregada no último barramento. Contudo, apesar dos pequenos
desequilíbrios de cargas por fase estipulados na concepção do modelo da rede, não existe uma
variação significativa dos valores eficazes de corrente e tensão entre as três fases.
No cenário 3, já com os sistemas de microgeração do Ramal 1 a funcionar, constata-se que existe
uma desfasagem na fase R da corrente (Figuras 4.10 e 4.11) e um aumento do valor eficaz, quer da
respectiva corrente, quer da tensão, comparativamente às outras fases. Em particular, o é o
responsável pelos desequilíbrios nas formas de onda da tensão e corrente que se ilustram nas
Figuras 4.11 e 4.13, uma vez que essas leituras são efectuadas no barramento onde se encontra
instalado.
De acordo com a informação relativa às potências no cenário 3 (Tabela 4.3), verifica-se que os
sistemas de microgeração absorvem potência reactiva cujo valor é desprezável face ao da potência
activa, existindo uma ligeira desfasagem entre a tensão e a corrente que, dado o valor ínfimo, é
dificilmente detectável nas figuras correspondentes.
No cenário 4, uma vez que no Ramal 1 apenas existe o a funcionar, o valor eficaz da tensão nas
fases S e T apresentam o mesmo perfil que no cenário 2. As leituras da corrente feitas à saída do PT
(Figura 4.15) indicam uma amplitude superior na fase T relativamente à fase S, desigual ao cenário 3,
porque esta é a fase com mais potência de microgeração instalada no Ramal 2&3. Ainda, a fase R é
a que tem o maior valor eficaz de corrente e tensão pois é a fase a que o está ligado.
Do ponto de vista das potências lidas à entrada do Ramal 1, o cenário 4 apresenta valores
semelhantes ao cenário 2 nas fases S e T, como seria de esperar uma vez que não existe nenhum
sistema a injectar potência nessas fases (Tabela 4.4).
Por último, no cenário 5, pode-se dizer que os resultados obtidos são a intersecção dos resultados
dos cenários 3 e 4, excepto no valor eficaz da tensão no último barramento do Ramal 1 que
apresenta um valor superior ao valor limite estipulado pela norma NP EN 50160, e que representa
uma sobretensão.
48
5. Sistema de Mitigação de Sobretensões
Após a demonstração experimental da existência de sobretensões no fim duma rede rural devido à
presença de sistemas de microgeração, o presente capítulo tem como objectivo apresentar a solução
estudada e implementada para mitigar o problema descrito. A solução escolhida é uma solução local,
isto é, é implementada no próprio sistema de microgeração, actualizando o algoritmo de controlo
existente. Desta forma, em vez de se modificar qualquer configuração da rede de baixa tensão ou
alguma característica do transformador MT/BT, que poderia originar outros problemas, propõe-se
uma actualização do software do microgerador, o que resolve o problema por si só onde quer que
seja instalado.
Tal como é apresentado no capítulo 3, o sistema de controlo existente tem como função controlar a
tensão contínua de saída do sistema fotovoltaico e a corrente alternada injectada na rede pelo
microgerador, através de um controlador linear de tensão com controlo interno de corrente. Sendo
assim, é necessário implementar uma malha de regulação adicional com base na tensão da rede, que
já é lida aos terminais do microgerador no filtro de ligação à rede.
49
uma resistência de linha , tendo em conta que se trata de uma linha de baixa tensão em que o
termo resistivo é preponderante face ao indutivo, como se ilustra na Figura 5.1 [9].
RLin iL
VPT Vr
Figura 5.1 – Modelo do Ramal 1 em regime permanente, considerando uma linha praticamente resistiva
A potência activa injectada na rede relaciona-se com a potência efectivamente produzida pelo
sistema de painéis fotovoltaicos através da relação em (5.1), onde se considera o
rendimento do conversor.
.
Atendendo ao modelo da Figura 5.1, escreve-se a expressão da potência activa transitada na linha ,
dada por (5.2), relacionando os valores eficazes das tensões nos barramentos opostos e a resistência
da linha.
.
A equação (5.2) pode ser transformada de forma a obter uma expressão da potência em função
da tensão , usando (5.1) em (5.2) e resolvendo em ordem a . Assim, obtém-se
.
Derivando a expressão (5.3) em ordem a , e desprezando os termos e por serem
.4
50
A Figura 5.2 representa a característica P-V do painel fotovoltaico e, analisando a forma da curva,
verifica-se que a derivada é positiva para valores de tensão inferiores à tensão de máxima
potência, e negativa para valores superiores à tensão de máxima potência. Assim, o sinal da derivada
da potência injectada em ordem à tensão de máxima potência influencia directamente o sinal da
variação da tensão da rede.
.6
.
51
Vr ref + ki ∆Vc Vr ef
KVr
- s
.8
52
Figura 5.4 – Tensão aos terminais do microgerador e respectivo tempo de atraso
referência fôr negativo, como já foi explicado anteriormente. Deste modo, o limite superior do limitador
deve ser 0. Ainda, o sinal da ligação entre o sistema de detecção de sobretensões e a malha de
controlo existente pode ser positivo ou negativo, directamente influenciado pelo sinal da derivada da
potência gerada pelos painéis, como mostra (5.5). Caso o sinal seja positivo, o novo ponto de
funcionamento dos painéis fica à esquerda do ponto MPPT, o que implica uma diminuição da tensão
contínua. Caso o sinal seja negativo, o novo ponto de funcionamento fica à direita do ponto MPPT, e
consequentemente verifica-se um aumento da tensão contínua a suportar pelos semicondutores.
As Figuras 5.6, 5.7 e 5.8 representam o andamento das variáveis de saída do sistema fotovoltaico
montado numa rede de teste, com o sinal de ligação positivo, nas quais é visível que se alcança a
estabilidade de funcionamento (regime permanente) no período de . No instante ,o
valor eficaz da tensão aos terminais do microgerador aumenta, activando o controlador integral e,
consequentemente, a tensão e a potência produzida decrescem, como era expectável de acordo
com o fundamento teórico.
53
Vc ref
IµG
4000
Potência produzida por Painéis FV [W]
3500
3000
2500
2000
PPV (t)
1500
1000
1 2 3 4 5 6 7 8
tempo [s]
Figura 5.6 – Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
750
VC (t)
700
Tensão em CG [V]
650
600
550
1 2 3 4 5 6 7 8
tempo [s]
Figura 5.7 – Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
54
5.4
5.3
Corrente de saída do G [A]
5.2
5.1
I G (t)
4.9
4.8
1 2 3 4 5 6 7 8
tempo [s]
Figura 5.8 – Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
As Figuras 5.9, 5.10 e 5.11 representam o andamento das variáveis de saída do sistema fotovoltaico
nas mesmas condições de simulação do caso anterior mas agora com o sinal de ligação negativo.
Igualmente à situação anterior, o regime permanente é atingido para os mesmos valores das
variáveis em causa. Contudo, após o instante , a tensão aumenta, contrariamente ao caso
anterior, mas a potência fornecida é também reduzida no seu valor, pois a corrente de saída dos
painéis diminui consideravelmente. Assim, confirma-se a possibilidade de projectar um controlador
que permite actuar sobre o ponto de funcionamento dos painéis, quer movendo-o para a esquerda ou
para a direita do ponto MPPT (Figura 5.2), de forma a reduzir a potência injectada, tal como se previa
com base na abordagem teórica.
55
4000
Potência produzida por Painéis FV [W]
3500
3000
2500
2000
PPV (t)
1500
1000
1 2 3 4 5 6 7 8
tempo [s]
Figura 5.9 – Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal negativo
820
800
Tensão em CG [V]
780
760
740
VC (t)
720
700
1 2 3 4 5 6 7 8
tempo [s]
Figura 5.10 – Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal negativo
5.5
I G (t)
Corrente de saída do G [A]
4.5
3.5
3
1 2 3 4 5 6 7 8
tempo [s]
Figura 5.11 – Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal negativo
56
No entanto, não é viável que a tensão , que por sua vez é a tensão de alimentação do inversor
monofásico, aumente para valores da ordem de 800V, como se verifica pela simulação com sinal de
ligação negativo, pois esta ordem de valores aproxima-se do valor limite de tensão que os
semicondutores suportam, podendo conduzir a um mau funcionamento ou até destruição dos
mesmos. Posto isto, opta-se por fixar o sinal positivo na actualização do algoritmo de controlo.
Os resultados obtidos para este cenário são semelhantes aos do cenário 5 anteriormente
apresentados, à excepção do valor eficaz no fim da linha que se encontra abaixo do valor limite
estipulado pela norma NP EN 50160, como mostra a Figura 5.12, o qual corresponde ao valor de
referência da tensão considerado na nova malha de controlo do microgerador.
As Figuras 5.13 e 5.14 representam a tensão e a corrente à saída do PT e no final da linha,
respectivamente, bem como o valor eficaz correspondente à fase R de cada grandeza. Através do
gráfico relativo à corrente no fim da linha (Figura 5.14) é visível a redução do valor eficaz, e
consequentemente da amplitude, da corrente na fase R, apresentando um valor de 11,81A (Anexo F)
em comparação ao valor de 12,65A correspondente ao anterior cenário 5 (Figura 4.21).
Na Figura 5.15 ilustram-se as formas de onda da tensão e corrente aos terminais do microgerador
, em que se verifica um decréscimo na amplitude da corrente quando comparada com a Figura
4.13, o que é expectável dado que o microgerador já não se encontra a funcionar no ponto de
máxima potência.
Na Tabela 5.1 são apresentados os valores medidos das potências activa e reactiva à saída do PT, à
entrada do Ramal 1 e aos terminais dos grupos de microgeração, para cada uma das fases. De notar
que os valores das potências activas do e à entrada do Ramal 1 são ligeiramente inferiores aos
valores obtidos para o mesmo cenário mas sem o controlo actualizado.
57
X: 500
254
Y: 252.9
VR(d)
252 VS(d)
VT(d)
250
V = f(d) [V]
248
246
ef
244
242
240
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
d [m]
Figura 5.12 – Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1
100
R
300 80 S
T
60 Vef /Ief
200
40
100
Corrente [A]
20
Tensão [V]
0 0
-20
-100
-40
-200
-60
-300 -80
-100
14.96 14.97 14.98 14.99 15 14.96 14.97 14.98 14.99 15
tempo [s] tempo [s]
58
20
R
300 S
15
T
Vef /Ief
200
10
100 5
Corrente [A]
Tensão [V]
0 0
-100 -5
-10
-200
-15
-300
-20
14.96 14.97 14.98 14.99 15 14.96 14.97 14.98 14.99 15
tempo [s] tempo [s]
40
V/10 (t)
30 I (t)
Tensão [V] e Corrente [A]
20
10
-10
-20
-30
-40
14.94 14.95 14.96 14.97 14.98 14.99 15
tempo [s]
Figura 5.15 - Tensão e corrente aos terminais da fase R do grupo
59
Tabela 5.1 – Valores médios das potências activa e reactiva em diferentes pontos da rede nas fases R,S e T
para o cenário 5 com controlo actualizado
60
4000
3500
3000
PPV (t)
2500
2 4 6 8 10 12 14
tempo [s]
Figura 5.16 – Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
800
VC (t)
750
Tensão em CG [V]
700
650
600
550
500
2 4 6 8 10 12 14
tempo [s]
Figura 5.17 - Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
5.4
Corrente de saída do G [A]
5.2
4.8
IG (t)
4.6
4.4
2 4 6 8 10 12 14
tempo [s]
Figura 5.18 - Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
61
O objectivo fundamental do novo controlador é reduzir a tensão aos terminais do sistema de
microgeração sempre que se verifique uma situação de sobretensão, influenciada pelas condições de
funcionamento deste sistema e pela situação de carga da rede em que está inserido. Os resultados
anteriormente apresentados mostram que esse objectivo é cumprido.
No entanto, é igualmente importante testar se o novo controlo perturba o funcionamento do
microgerador quando não se está perante uma situação de sobretensão. Deste modo, elabora-se um
novo cenário, cenário 6, e simula-se novamente a rede de teste com o microgerador actualizado de
forma a verificar se o microgerador retoma ao funcionamento no seu ponto de potência máxima. O
cenário 6 corresponde à junção das condições do cenário 5 com um aumento de carga do
barramento precedente ao fim da linha. Este aumento é determinado com base na relação entre os
factores de carga de ponta e de vazio, resultando num valor de carga cerca de 4 vezes superior.
De seguida, apresentam-se os resultados obtidos para o cenário 6 e os respectivos comentários.
Neste cenário, o perfil dos valores eficazes das tensões ao longo da linha apresenta o mesmo
andamento que no cenário 5, à excepção do valor eficaz no fim da linha que se encontra dentro do
limite estipulado pela norma NP EN 50160, como mostra a Figura 5.19. Deste modo, é possível
concluir que o aumento de carga imposto é condição suficiente para mostrar que a tensão aos
terminais do microgerador reduz o seu valor, mesmo quando este volta ao funcionamento no ponto
de potência máxima. Esta situação tem como finalidade evidenciar a transição dum cenário de vazio
para um cenário próximo do de ponta, confirmando assim o correcto funcionamento do novo sistema
de controlo, de acordo com o dimensionamento teórico (secção 5.1).
As Figuras 5.20 e 5.21 representam a tensão e a corrente à saída do PT e no final da linha,
respectivamente, bem como o valor eficaz correspondente à fase R de cada grandeza. Os resultados
são idênticos aos obtidos para o cenário 5 no capítulo 4 (Figuras 4.20 e 4.21).
Na Tabela 5.2 são apresentados os valores medidos das potências activa e reactiva à saída do PT, à
entrada do Ramal 1 e aos terminais dos grupos de microgeração, para cada uma das fases. À saída
do PT, a potência activa em todas as fases tem um valor negativo, o que é expectável uma vez que
todos os sistemas de microgeração estão em funcionamento, tal como foi concluído para o cenário 5.
62
252
VR(d)
VS(d)
250
VT(d)
248
V = f(d) [V]
246
ef
244
242
240
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
d [m]
Figura 5.19 - Valores eficazes das tensões nos cinco barramentos do Ramal 1
100
R
300 80 S
T
60 Vef /Ief
200
40
100
Corrente [A]
20
Tensão [V]
0 0
-20
-100
-40
-200
-60
-300 -80
-100
14.96 14.97 14.98 14.99 15 14.96 14.97 14.98 14.99 15
tempo [s] tempo [s]
63
20
R
300 S
15
T
Vef /Ief
200 10
100 5
Corrente [A]
Tensão [V]
0 0
-100 -5
-10
-200
-15
-300
-20
14.96 14.97 14.98 14.99 15 14.96 14.97 14.98 14.99 15
tempo [s] tempo [s]
Tabela 5.2 – Valores médios das potências activa e reactiva em diferentes pontos da rede nas fases R,S e T
para o cenário 6
64
Em seguida, as Figuras 5.22, 5.23 e 5.24 representam, respectivamente, a potência produzida pelos
painéis fotovoltaicos, a tensão contínua suportada pelo condensador à entrada do inversor e a
corrente de saída do sistema fotovoltaico.
O andamento das grandezas referidas confirma o funcionamento desejado do novo controlador, de
acordo com o dimensionamento teórico, pois evidencia a redução da potência produzida pelos
painéis fotovoltaicos em resposta à sobretensão permanente aos terminais do microgerador, e a
reposição das condições de funcionamento para o ponto de potência máxima quando existe uma
alteração nos parâmetros da rede, neste caso um aumento de carga no instante t=10s.
A tensão e a corrente de saída têm um comportamento igualmente expectável, pois retomam os
valores correspondentes ao ponto de potência máxima após o instante do aumento de carga na rede.
3700
Potência produzida por Painéis FV [W]
3600
3500
3400
3300
3200
PPV (t)
3100
3000
2 4 6 8 10 12 14
tempo [s]
Figura 5.22 - Potência produzida pelos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
780
760
VC (t)
740
Tensão em CG [V]
720
700
680
660
640
620
600
580
2 4 6 8 10 12 14
tempo [s]
Figura 5.23 - Tensão à saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
65
5.4
5.2
5.1
4.9
4.8
4.7
2 4 6 8 10 12 14
tempo [s]
Figura 5.24 - Corrente de saída dos painéis sob acção do controlador actualizado com sinal positivo
Através das simulações efectuadas, conclui-se que o novo sistema de controlo dimensiado cumpre
todos os requisitos para um correcto funcionamento, respondendo de acordo com o esperado em
todas as situações testadas. Além disso, as alterações projectadas são de fácil implementação,
sendo apenas necessário fazer uma actualização do sistema de controlo já existente, e são
transversais no que diz respeito ao modelo do microgerador e ao local onde será instalado.
66
67
6. Conclusões
O número de sistemas de microgeração ligados à rede eléctrica portuguesa tem vindo a crescer
significativamente, com o consequente potencial de agravamento de problemas na Qualidade de
Energia Eléctrica, nomeadamente no aumento do valor eficaz da tensão em situações pontuais de
vazio. Esta tese teve como objectivo analisar o perfil da variação do valor eficaz da tensão numa rede
rural típica em que se inserem vários sistemas de microgeração, dando especial atenção a um
potencial microgerador instalado no fim da linha de baixa tensão dessa mesma rede, uma vez que é
nesse ponto particular onde existe maior probabilidade de se verificar o problema em estudo.
A existência de uma sobretensão no final de uma rede rural devido à presença de um microgerador
foi mitigada por intermédio duma solução local, alterando o sistema de controlo do microgerador de
modo a reduzir ligeiramente a potência activa injectada, mas apenas o suficiente para evitar entrar na
zona de sobretensão permanente.
De forma a ser possível testar o funcionamento do microgerador, construiu-se um modelo deste
mesmo sistema baseado nos estudos teóricos sobre os painéis fotovoltaicos e sobre os controladores
aplicados a montagens electrónicas, bem como da rede de baixa tensão com características típicas
de um ambiente rural, apresentados nos capítulos 4 e 2, respectivamente.
A actualização desenvolvida para o microgerador consiste numa malha de regulação adicional da
tensão alternada à entrada do microgerador, baseada num controlador integral, que mantém o valor
da tensão da rede num valor de referência estipulado por redução da tensão contínua do barramento
do inversor do microgerador, retirando assim o painel fotovoltaico do ponto de potência máxima.
A rede de teste foi simulada para diferentes cenários, variando o consumo de potência das cargas e a
presença dos vários grupos de microgeração considerados. Os resultados dos ensaios mostraram
que efectivamente verifica-se um valor de tensão acima do nominal no fim da linha, aos terminais do
microgerador em estudo, num cenário de carga do tipo vazio e com vários sistemas de microgeração
a funcionar próximo do seu ponto de máxima potência.
Contudo, quando se incluiu o novo sistema de controlo na rede de teste, os resultados obtidos por
simulação do mesmo cenário mostraram que o valor eficaz da tensão decresce, ficando ligeiramente
abaixo do valor limite duma sobretensão, confirmando assim o correcto funcionamento do sistema
implementado de acordo com o projectado em função dos pressupostos teóricos.
Com esta solução, conclui-se que é possível manter o microgerador a funcionar em períodos de vazio
de carga, onde quer que esteja instalado, à custa de uma ligeira diminuição da produção de potência,
cerca de -6% relativamente à potência máxima instalada no microgerador, ao invés de se desligar e
não produzir nada.
Na prática, esta solução implica apenas modificar o software de controlo do microgerador, que reside
no sistema de controlo destes sistemas, alterando/acrescentando o código que traduz as
funcionalidades pretendidas e implementadas pela solução apresentada neste trabalho.
68
6.1. Sugestões de trabalho futuro
Para trabalho futuro, sugere-se o desenvolvimento de um protótipo de um microgerador actualizado
com a solução proposta neste trabalho, a fim de demonstrar os resultados com base em ensaios
laboratoriais.
Ainda, seria interessante optimizar a solução apresentada para a resolução do problema exposto,
combinando a solução encontrada com a possível desfasagem da corrente de saída do microgerador
em relação à tensão, absorvendo alguma potência reactiva da rede, de forma a reduzir o valor eficaz
da tensão de alimentação. Desta forma, a redução da potência activa injectada na rede pelo
microgerador poderia ser menos acentuada.
69
Referências Bibliográficas
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70
[13] Silva, José Fernando Alves, Electrónica Industrial: semicondutores e conversores de potência,
Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª edição, Lisboa 2013.
[14] Silva, José Fernando Alves, “Input filter design for power converters”, Texto Complementar da
disciplina Sistemas de Alimentação Autónomos, IST, 2012.
[15] Silva, J. F.; Pinto, S. F.; “Advanced Control of Switching Power Converters”, Cap. 6, pp -
1113, Power Electronics Handbook 3rd edition, Editor M. H. Rashid, Burlington: Butterworth-
Heinemann, ELSEVIER, ISBN: 978-0-12-382036-5, 2011.
71
Anexo A
A.
A.
O valor da susceptância de magnetização é determinada através da expressão (A.3) e, por sua vez, o
valor da reactância de magnetização é dado por (A.4).
A.
A.4
72
A.2 Ensaio em curto-circuito
No ensaio em curto-circuito, o esquema equivalente do transformador é o apresentado na Figura A.2.
Este ensaio é realizado com o secundário curto-circuitado e com uma tensão no primário, tensão de
curto-circuito, tal que circule no enrolamento do secundário a corrente nominal. Uma vez que a
impedância do ramo de magnetização é muito maior que as impedâncias dos enrolamentos em série,
esta pode ser desprezada pois encontra-se em paralelo, resultando uma impedância total de curto-
circuito que é a soma das impedâncias dos enrolamentos do primário e secundário. Esta análise
matemática do circuito equivalente é válida para valores pu das grandezas.
A partir dos valores da tensão de curto-circuito , da corrente nominal e das perdas de curto-
circuito , calculam-se os valores da resistência e da reactância de dispersão da impedância de
curto-circuito do transformador.
A equação (A.5) permite calcular a resistência total de dispersão e, por sua vez, a reactância total de
dispersão é dada por (A.6).
A.
A.6
Assumindo que os enrolamentos do primário e do secundário são caracterizados por valores iguais
de resistência e reactância, em p.u., tem-se
A.
A.8
73
Anexo B
74
75
Anexo C
C.
C.
C.
C.4
76
77
Anexo D
Cv(s)
Kp
Vc ref + + I0ef ref
- +
+ 1
αv kI s
-
+
Vc √(KpkI) -
78
79
Anexo E
Tabela E.1 – Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para o cenário 1
[V] [A]
Fase R S T R S T
Saída PT 239,15 239,08 239,11 121,84 124,60 123,40
Barr. 5 231,21 229,35 230,21 6,17 6,12 5,27
Tabela E.2 - Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para o cenário 2
[V] [A]
Fase R S T R S T
Saída PT 241,60 241,58 241,59 28,66 29,39 29,07
Barr. 5 239,73 239,25 239,46 1,48 1,47 1,26
Tabela E.3 - Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para o cenário 3
[V] [A]
Fase R S T R S T
Saída PT 242,06 241,9 241,9 24,24 17,09 16,78
Barr. 5 252,67 240,77 242,0 12,67 1,48 1,28
Tabela E.4 - Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para o cenário 4
[V] [A]
Fase R S T R S T
Saída PT 242,33 242,17 242,26 43,02 30,12 36,62
Barr. 5 249,34 237,16 238,47 12,87 1,46 1,26
Tabela E.5 - Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para o cenário 5
[V] [A]
Fase R S T R S T
Saída PT 242,64 242,49 242,58 69,1 55,98 62,94
Barr. 5 253,22 241,34 242,63 12,65 1,49 1,28
80
81
Anexo F
Tabela F.1 - Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para o cenário 5
com microgerador actualizado
[V] [A]
Fase R S T R S T
Saída PT 242,63 242,48 242,57 68,29 54,85 61,80
Barr. 5 252,94 241,04 242,36 11,81 1,49 1,28
Tabela F.2 - Valores eficazes de tensão e corrente nas 3 fases à saída do PT e no fim da linha, para o cenário 6
[V] [A]
Fase R S T R S T
Saída PT 242,58 242,48 242,57 65,9 55,94 62,91
Barr. 5 251,6 241,8 242,9 12,73 1,49 1,28
82