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Sinopse
Dois homens disputam espaço na vida de uma mulher, mas ela faz um jogo de
sedução para ganhar presentes e debochar da cara dos dois, daí nascem os
mais diversos trompassos da decepção amorosa. As cenas se desenvolvem de
forma pouco convencional, trazem doses elevadas de humor e sarcasmo,
sempre intercaladas por um programa de rádio AM gravado pelos próprios
atores, onde os comentários e as músicas são referentes às cenas que se
passam no palco.
Personagens:
Margherita Procópio – Senhora de 30 anos, usa roupas extravagantes.
Clodoaldo de Castro Alves – 40 anos.
Germano Fortunato – 40 anos, usa roupas coloridas, bem estilo brega.
(Gravação) Locutor – Boa noite ouvintes assíduos da sua Rádio Voz da Cidade!
Hoje, o nosso programa Trompassos da Vida Amorosa traz pra vocês... Cadê o
Táxi, essa é a história de uma mulher linda que conheceu a paixão em um ponto
de ônibus! No programa de hoje, teremos o quadro que é um grande sucesso: A
Música do Ouvinte! Quem pede a primeira música de hoje é dona Lúcia
Risadinha, ela quer ouvir... Gretchen! (música)
Germano – (Com um violão) Hoje eu vou atender o pedido daquela moça que
está com a flor vermelha no cabelo, ela pediu...
Margherita – (Toda dengosa) Obrigada por atender o meu pedido! A música é:
Não toque essa música que eu não posso ouvir, de Adelino Nascimento! É muito
linda!
Germano - (Cantando)
Ouvindo essa música eu conheci um alguém
Beijando seus lindos lábios me apaixonei
Anos felizes vivemos, mas tudo acabou
Partiu e ficou a saudade de um grande amor
Margherita – (Emocionada) Oh, toda vez que eu ouço essa música, sinto
vontade de chorar! Obrigada, o senhor canta muito bem!
Clodoaldo – (Aparece com um lenço enorme) Tome, enxugue as lágrimas,
uma mulher bonita não pode chorar assim, vai terminar borrando a maquiagem...
Margherita – (Faz uma festa de alegria, levanta-se e abraça Clodoaldo) Olha
quem está aqui, seu Clodoaldo! O senhor parece um anjo na minha vida! Sempre
aparece na hora certa... (Germano continua cantando em off, fica irritado)
Clodoaldo – Dessa vez passei aqui por acaso, mas tive muita sorte de encontrar
você, vai precisar de taxi?
Margherita – Vou sim, o senhor é muito gentil! O seu lenço é enorme!
Clodoaldo – Pois é, gosto dos exageros!
Margherita – (Sensualizando) É! Assim o senhor vai terminar me
convencendo... Recebi um par de ingressos para essa seresta e não tinha
ninguém para me acompanhar...
Clodoaldo – Na hora certa a senhora vai ver tudo! Eu sempre compareço...
Margherita – Tudo, tudo mesmo?
Clodoaldo – Não vai faltar oportunidade... (Trocam olhares)
Margherita - Ah, vou pedir pra tocar uma música pro o senhor... por favor,
seresteiro...
Germano – (Irritado) O que é? Já toquei a sua música, agora é a vez de atender
o pedido de outra pessoa...
Margherita – É para outra pessoa, mesmo! Por favor, seresteiro, toque uma
música para seu Clodoaldo, pode?
Germano – Vou tocar... ai vai Almir Rogério!
Me disseram que ela foi vista com outro
Num fuscão preto pela cidade a rodar
Bem vestida igual à dama da noite
Cheirando a álcool e fumando sem parar
Meu Deus do céu diga que isso é mentira
Se for verdade esclareça por favor
Daí a pouco eu mesmo vi o fuscão
E os dois juntos se desmanchando em amor
Fuscão preto
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Clodoaldo – Claro que não! Como vou me zangar com a pessoa que fez a
gente perceber o quanto somos parecidos nos gostos? (Se abraçam)
Margherita – Parabéns seu Germano! Eu não sabia que o senhor tocava tão
bem assim...
Germano – A senhora e seu Clodoaldo estão... quero dizer... vocês...
Margherita – Acho que sim, estamos descobrindo muitos gostos parecidos...
Clodoaldo – Se tudo der certo, logo, logo, o senhor poderá ser o nosso padrinho!
Germano – Eu? Padrinho? Vocês...
Margherita – Quem sabe, talvez em breve... nós queremos agradecer muito ao
senhor!
Germano – (Querendo chorar) Eu não mereço...
Clodoaldo – Merece, sim! O que é isso seu Germano, ficou emocionado?
Germano – É, acho que foi muita emoção pra uma noite só...
Margherita – Relaxe, nós sabemos o quão importante o senhor está sendo em
nossas vidas! Vai tocar mais alguma?
Germano – Não! Hoje eu não toco mais nada! Com licença, sejam felizes, vocês
se merecem! (Sai)
Clodoaldo – Oh Margherita, ele ficou tão emocionado...
Margherita – Eu não imaginava que ele fosse torcer tanto por nós dois...
Clodoaldo – Viu a cara de felicidade dele quando soube que poderia ser o nosso
padrinho, se tudo der certo, né?
Margherita – Eu vou dar!
Clodoaldo – Apressadinha, né dona Margherita?
Margherita – Desculpe-me, eu quis dizer, vai dar... (Saem)
Margherita – Por isso que nenhum dos dois veio me ajudar, eu cheia de sacolas
e os dois trocando olhares bem pertinho! Imagino o que iria acontecer se eu não
tivesse chegado!
Germano e Clodoaldo – (Decisivos) Senta aí! (Margherita se assusta e
senta-se em dos banquinhos) (Jogo de cena, com Margherita de frente para
a plateia fazendo caras e bocas)
Margherita – (Sentada, mas escandalosa) Meu Deus, eles vão me bater, vão
acabar comigo, oh céus, eu tão indefesa, serei vítima de feminicídio? Oh senhor,
por que eu fui comprar chocolate pra ele? (Germano e Clodoaldo correm pras
sacolas, procuram o chocolate, abrem e começam a comer, enquanto
Margherita continua sentada tremendo, de costas pros dois)
Germano – (Segurando um tablete de chocolate) Hum gostoso!
Margherita – Ainda debocham de mim... oh meu Deus, chamou de gostoso!
Clodoaldo – (Pega um ovo de páscoa) Nossa, que ovo grande!
Margherita – Que indecência senhor, nunca pensei que isso fosse possível!
Germano – (Sensual) Ah eu quero mais um pouco, que maravilha!
Margherita – Depravados, libidinosos, como eu fui me enganar tanto, senhor?
Clodoaldo – (Histérico) Uiiiii, venha ver, não é uma delícia? Vou comer todo!
Margherita – Eu não quero ver, não vou olhar, não serei testemunha dessa
transgressão, eu sou uma mulher de Deus! Nunca ia imaginar... essa pouca
vergonha!
Germano – (Encontra um chocolate em forma de picolé) O quê? Não vou
resistir, não vou resistir, eu vou chupar (Coloca o chocolate na boca) ma-ra-vi-
lha!
Margherita – (Muito escandalosa) Vixe, a coisa tá piorando... na boca? Que
nojo! Não tem cabimento, meu Deus, onde vamos parar?
Clodoaldo – Ah Germano, eu estou satisfeito, você quer mais?
Germano – Não, eu também estou satisfeito, não aguento mais! Será que dona
Margherita, não vai querer?
Margherita – Não! Seus depravados! Tarados, ousados, oh céus, oh mar, oh
tempestades... (Sai correndo)
(Gravação) Locutor – Hei você que está apaixonado, você que está
apaixonada, você sabe amar, deixar o seu par romântico feliz? O seu Programa
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Trompassos da Vida Amorosa, manda para você a canção Aquele Beijo que te
Dei, Roberto Carlos, canta, meu rei! (Música)
Clodoaldo – Conheço essa música, é da blitz! Cadê esse panaca, que não
chega?
Germano – Olá, estavam me esperando?
Clodoaldo – Não!
Margherita – O que é isso, Clodoaldo? Que mau humor!
Germano – Deve ser TPMT!
Clodoaldo – Me respeite, seu donzelo!
Germano – Calma, Clodoaldo! TPMT significa Táxi Parado Muito Tempo! Sei
que esse serviço nem sempre dá um bom retorno...
Clodoaldo – Não é da sua conta! Não sei por que Margherita te convidou?
Germano – Como assim? Ele não sabe?
Margherita – Não! Eu queria fazer uma surpresa!
Clodoaldo – Que surpresa é essa que esse cara tem que ir com a gente?
Margherita – Hoje é o dia do nosso casamento e como nós havíamos
combinado, o nosso cupido será o padrinho!
Clodoaldo – Casamento? Hoje? Eu não sabia...
Germano – Mas eu sabia! Fui convidado por dona Margherita para ser o
padrinho desse casamento e do bebê...
Clodoaldo – Bebê? Como assim? Eu não sabia! Vou desmaiar...
Germano – Êpa, aqui ninguém desmaia na minha frente...
Clodoaldo – Então vire pro outro lado... eu preciso desmaiar com urgência!
Margherita – Nada disso! Se o senhor tiver que desmaiar, tem que ser na nossa
frente! Eu nunca vi um homem desmaiar...
Clodoaldo – E nem vai ver! Vou deixar pra desmaiar mais tarde, agora eu
preciso tomar uma...
Margherita – Você bebe cachaça, Clodoaldo?
Clodoaldo – Só quando vou desmaiar...
Germano – E quando perde no jogo de damas...
Margherita – Clodoaldo!
Germano – Clodoaldo!
Clodoaldo – (Atordoado, cheio de gestos expandidos) O que é? Vocês
querem o quê? Não tenho o direito de desmaiar, pelo menos uma vez na vida?
Margherita – Se acalme, meu bem! Hoje é o dia do seu casamento...
Germano – Se desistir de casar me avisa logo...
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