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ilha do

ESSEGUEIRO
Porto Romano da Costa Alentejana
FICHA TÉCNICA

EDITO R:
INSTITUTO DE CONS ER VAÇÃO DA NATURE ZA
Ru a da Lapa, 73, 1200 Li sboa

© Auto res:
CARL OS TAVA RE S DA SIL VA e JOAQ UIN A SOA RES

Contribuições de:
J. GOMES PEDRO, J. C. COSTA, PEDRO RU I BEJA, JOÃO LUI S CA RDOSO,
M ' HELE NA CAN ILH O, C. SERR A, AMíLCA R GUERRA, Luís NOG UEIR A E SOU SA,
ISABEL ROSA DO, VA LEN TIN A SA UBERS SA NTOS

Coord enação Ed itori al:


CONCE iÇÃO MOREIR A

Foto ca pa :
J. FILIPE JO RG E

D ese nh os:
JO RGE COSTA e AN TÓ N IO JÚLIO COSTA

Oes ign G ráfi co:


J. FILIPE JO RG E

Fotoco mpos ição


NM, A RTE S G RÁ FICAS

Impressão e Acabamen to
GRAFI CA EUROPAM. LDA

ISBN:
972-4 034- 13-3

Depós ito Lega l N.º 68368/93

Ti ragem:
2000 exemplares

L1 SBOA, 1993

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ANEXO IV

NOTA SOBRE A CONSTITUiÇÃO DOS


MUROS DE UMA DAS
FÁBRICAS DE SALGA DA ILHA
DO PESSEGUEIRO
M. H. Canilho(*) & J. L. Cardoso(**)

1- Introdução

No decurso de visita qu e efectuámos (J. L. c.) em 1982 à ilh a do


Pessegueiro, encontrava -se em escavação uma fábrica de sa lga, a mai s
pequena de duas que, actua lm ente, se enco ntram reconh ec id as. Trata-se
da unidade arq uitectó ni ca 014, integráve l na 3. a fase de co nst ru ção, do
sécu lo III -IV d. C. (S IL VA & SOAR ES, 1991). Fo i, então, recon hec id o o inte-
resse que haveria em proceder a uma análi se petrográfica das d iversas
rochas que integravam os muretes interno s dos tanques daquela fábr ica de
sa lga. As co lheitas foram feitas por um de nós (J. L. C.), que também se ocu-
po u da classificação macroscóp ica " in situ "; o outro signatári o (M. H . C.)
responsabi li zo u- se pe la classificação, em lâmin a del gada, de se is amostras.
Por último, o capítu lo respe itante às co nclusões foi de co-autori a.

2- Observações macro e microscópicas

2. 1 - Observações macroscópicas

As observações resumiram-se ao topo das paredes, postas a descoberto


pe la escavação; fora m dificu ltadas , em muitos casos, pela existê nc ia de
arga massa (op us sig ninum) qu e se rv iu de li gante dos blocos .
Na descrição, dividiu-se a fáb ri ca de sa lga em qu atro sectores, nestes, os
tanques foram num erado s seg uin do as referênc i as adop tadas no reg isto
arqueológ ico. Foi apenas obse rvado o lado sul , co nstituído por quatro tanqu es:

• Investigadora da Faculdade de Ciências de Lisboa. Bloco C - 2 - 5Q piso. - Campo Grande.


1700 Lisboa, Portu ga l.
•• Facu ldade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Li sboa. Co laborador perm anen-
te do M useu de A rqu eo logia e Etnografi a de Setúba l.
Tanque 1

Lado norte (septo com tanqu e 8) - 1 b loco d e roc ha verde, x istosa;


se ixo d e grauvaque escuro; 1 b loco de grauvaq ue altera do;
Lado sul- vá rios blocos de roc has ígn eas (esse nc ialm ente de microssie-
nito), de grauvaque e um se ixo rol ado de quartzo branco, filoniano;
Lados oeste e este - não se enco ntram sufic ientemente visíve is.

Tanque 2

Lado norte - só visíveis 2 blocos de roc ha xistosa verde;


Lado sul- 1 bloc o de sienito, outro de rocha sili c iosa verde, com veios
de qu artz o, provave lmente um grauvaq ue alterado;
Lado oeste - ( = lado este do Tanque 1);
Lado este - 1 bloco de rocha verde, esb ranqui çada e com x istos idade,
por vezes muito sili c iosa (g rauvaq ue alterado?).

Tanque 3

Lado norte - diversos elementos de grauvaq ue, po r vezes seixos rola-


dos, de co loração esc ura, assoc iados a roc has x istosas esverdeadas (grauva-
ques alterados?) , quartzitos e quartzo fil o ni ano esbra nqui çado;
Lado sul - elementos de rochas sili c iosas verdes (grauvaques altera-
dos?) larga mente predominantes ;
Lado oeste - ( = lado este do Tanque 2);
Lado este - 1 bloco de xisto ama relo-esve rd eado, outro de grauvaque
co mpacto esbranqui çado, devido a alteração, e um último de rocha verde
co m x istos id ade, e co m ve ios q uartzosos (grauvaq ue alterado?).

Tanque 4

Lado norte - num erosos elementos de rocha x istosa, si li ciosa e esver-


deada, com filonetes de qua rtz o, por vezes sob a forma de seixos rola-
dos, podendo al gun s, mais co mp actos e esbranq ui çados, ser de rochas
ígnea s f ilonian as do tipo ri o líti co, aco mp anh ados por raros elementos de
x isto;
Lado sul - rochas sili c iosas mais o u menos co mpactas, verdes e esbran-
quiçadas (a lgum as poderão se r do tipo ri o lítico) ;
Lado oeste - ( = lado este do Tanque 3)
Lado este - elementos de rochas verdes mais ou menos xiste ntas, em
grande parte grauvaques alterados (?) .

2.2 - O bservações microscópicas

Com o ob ject ivo de ultrapassar algumas incertezas de c lassificação


macroscópica, nomeadamente a identificação petrográfica de algumas -
muito raras - rochas de característ icas ígneas de textura equ igranular e,
sobretudo, das rochas mais ou menos xistentas e sil iciosas, de co loração
esverdeada a esb ranquiçada , que predominavam na co nstitui ção das alve-
narias, efectuaram-se seis lâm inas de lgadas de roc has tendo em v ista a
obse rvação mi cro scóp ica . Em amostra de mão, era possíve l ind iv iduali zar 2
grupos:

Gru po 1 - Ro c has esbranquiçadas a esverdeadas , si l iciosas , mais ou


menos co mpacta s:

1 -amostra proveniente do Tanque 3, lado norte;


2 -amostra proveni ente do Tanqu e 3, lado norte;
3 -amostra proveniente do Tanque 2, lado sul;
4 -amostra proveniente do Tanque 2, lado este;
6 -amostra proveniente do Tanque 2, lado sul.

Grupo 2 - Rochas ígneas equigranulares:

5- amostra proveniente do Tanque 2, lado sul (se ixo ro lado).


Os resultados do exame microscópico co nfirmaram a ex istênc ia destes
dois grupos, indicados pe la aná li se macroscóp ica, pe rmi t in do co nfe rir
maior precisão à classificação.

LÂMINAS 1, 2, 4 e 6 - Roc has de grão mui to fin o, quase co mpactas, de


co r clara, algumas, mesmo, esbra nq uiçadas (2, 4 e 6) . A matri z é co nstituí-
da por quartzo m icrogranu lar e vestígios de m ine rais arg il osos.
O quartzo, q ue é o co nstituin te larga mente predo min ante, pode fo rm ar
massas ex tensas o u peq uenos ve ios de grãos su bar redo nd ados o u um
tanto angul os os de dimensões supe ri o res às da matr iz, q ue se d ispõe m de
forma levemente o ri entada, o u ni t id amente o ri entada co mo acontece na
amostra n.º 4 . Di spersos na matriz , enco ntram-se algun s grãos de óx id o
de ferro e na lâmina n.º 1 podem observar-se pequenos grânulos de anfí-
bo la verde.
São rochas de grão muito fino, quartzosas, com vestígios de minerais
filíticos, podendo ser originárias da área de Porto Covo, provavelmente
grauvaqu es quartzosos do Carbonífero marinho do Alentejo .

LÂMINA 3 - Rocha xistenta com estrutura nitidamente orientada.


Observa-se densa matriz rica de sericite em finíssimas escamas e feixes de
esca mas muito estiradas. A matriz, além dos minerais filíticos , contém
quartzo finamente granulado. Este mineral encontra-se, também , em grãos
de maiores dimensões formando agregados e veios que seguem a orienta-
ção geral da rocha.
Esta rocha é claramente um xisto, que, como acima se refere, é a rocha
predominante do Carbonífero marinho, que domina em toda a área na pro-
ximidade da ilha do Pessegueiro .

LÂMINA 5 - Rocha ígnea de grão médio a grosseiro, com grandes cristais


de feldspato (ortose e albite-o li goc lase) muito alterado - caulinizado e
pertitizado.
Como minerais acessórios podem distinguir-se biotite, quartzo, óxido de
fe rro, piroxena, anfíbo la verde, apatite e epídoto .
Trata-se de rocha sienítica, muito abundante na região do cabo de Sines,
onde co nst itui grande afloramento . Este tipo de rocha aparece, também , em
filões que cortam, em diversos locais, o maciço ígneo de Sines .

3- Discussão e conclusões

Dos resultados apresentados, verifica-se que a larga maioria das rochas


utilizadas na construção dos tanques da fábrica de salga são xistos e grau-
vaques, do Carbonífero marinho de fác ies " flysch ", mais ou menos altera-
dos, cuja proveniência poderia ser a própria área fronteira à ilha. Em alguns
casos, torna-se difícil a separação destas rochas de outras, igualmente sili-
ciosas e esverdeadas, que ocorrem na arriba litoral adjacente: trata-se de
tufos ácidos riolíticos e quartzo-queratofíricos , e felsitos (d. Carta
Geológica de Portugal na escala de 1/ 200 000, Folha 7) . Estará, assim ,
exp li cada , a ocorrência de algumas rochas que, em amostra de mão, hesitá-
mos em c lassificar como riolíticas , não identificadas em lâmina delgada.
Por último, ocorrem , secundariamente, rochas ígneas cuja análise micros-
coplca permitiu confirmar como sieníticas, que provêm, sem dúvida, do
maciço subvulcânico de Sines (CAN ILH O , 1972), afastado cerca de 14 km
para N . NW. O facto destes tipos petrográficos ocorrerem, sobretudo sob a
forma de seixos ro lados - ta l como alguns, de grauvaque - permite admi-
tir a sua chegada por ca usas naturais ao litora l de Porto Covo.

BIBLIOGRAFIA

CAN ILH O , M . H . (1972) - Estudo geo lóg ico-pet rográfico do mac iço erupti vo de Sines . Boi.
Mus . Lab. Min. GeaI. Fac. Ciências Lisboa, 12 (2): 79-16 1.
OLIVE IRA, J. T., Coordenador (198 1) - Carta Geológica de Portuga l na esca la de 1/2 00 000 .
Folha 7. Serviços Geológicos de Portugal.
SILVA, C. Tavares da & SOARES, J. (1991) - Ilha do Pessegueiro. Estabe lecimento romano da
Costa Sudoeste. Correio da Natureza, 11 : 10-16.

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