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A EMOÇÃO COMO RELATO SENTIMENTAL DO HOMEM

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Sergio Soares
University of Aveiro
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A EMOÇÃO COMO RELATO SENTIMENTAL DO HOMEM
Soares, C. (2008)

As emoções, como fenómeno complexo, não são só estudadas actualmente,


têm uma longa história, encontrando-se já referenciadas em PLATÃO,
posteriormente desenvolvidas por outros filósofos como DESCARTES, até às
hipóteses mais empíricas de DARWIN, WILIAM JAMES E FREUD.
Segundo MARTIN (2000:11) "em todas as épocas, a filosofia, a medicina e a
psicologia, não só procuraram explicações para a forma como funciona a razão,
como também para a origem e efeitos das emoções".
Na Grécia antiga, o cosmólogo Empédoles (450 a.C.) distinguia a teoria dos
quatro tipos de temperamentos: colérico, melancólico, sanguíneo e fleumático.
(Goleman, 1995)
Outro acontecimento importante, na psicologia das emoções, foi a publicação
de Charles Darwin,” A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”
(1872), em que tentou demonstrar que existem esquemas de comportamentos
congénitos para as emoções como a alegria, a tristeza, a indignação ou o
medo. Observou que certas emoções desencadeiam reacções mímicas,
anímicas e psicológicas idênticas em todas as pessoas. Por exemplo, na maioria
dos seres humanos a temperatura da pele diminui, quando estão deprimidos e
tristes, enquanto a ira ou a agressividade fazem-se acompanhadas de ondas de
calor. Estabeleceu assim uma relação entre experiências emocionais e
componentes biológicos. (Damásio, 1998)
Segundo MARTIN (2000), a psicologia deixou de se interessar, até há pouco
tempo, em que medida os processos anímicos são atribuíveis a processos físicos
e bioquímicos, interessando-se antes por estudar, o comportamento que pode
ser observado exteriormente.
Freud, dizia que factores como o ambiente e a educação, as experiências da 1ª
infância e a socialização cultural eram decisivos para a formação da
personalidade e do carácter. (Steiner, 2000)

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Verificou-se que em quase todas as teorias das emoções, a neurobiologia das
emoções foi relegada para um papel mais secundário, apesar de os fisiólogos e
os neurocientistas (casos de Damásio e Goleman), terem aumentado os seus
conhecimentos sobre as bases neuronais do comportamento emocional.
No entanto os resultados das investigações provocaram pouca receptividade
por parte dos psicólogos. Estes preocupavam-se com a observação, medição,
classificação e terapia do comportamento humano.
"Nos últimos anos, tem-se provado que o acto de sentir, pensar e decidir
pressupõe um trabalho conjunto do cérebro emocional e do racional" MARTIN
(2000:15). Os neurologistas acabaram com velhos dualismos seculares entre o
corpo e a alma e entre a razão e as emoções. Estes conhecimentos
revolucionarão a curto ou longo prazo tanto a psicologia como o tratamento de
doentes psíquicos.
As teorias sobre a emoção tiveram as suas origens em finais do século XIX
inícios do século XX. Inicialmente foram objecto de estudo da filosofia,
progressivamente os psicólogos e outros estudiosos começaram a interessar-se.
Os assuntos relacionados com este tema têm vindo a evoluir, a interacção da
emoção e da cognição tem ganho muita importância e, hoje em dia, os
psicólogos que se interessam pela emoção estão cada vez mais atentos ao
trabalho dos filósofos, sociólogos, antropólogos, linguistas e historiadores.
Da pesquisa bibliográfica pode-se verificar que existe um grande número de
teorias sobre a emoção que tratam o sujeito a partir de variadas perspectivas.
A tom de exemplo, e para que se possa verificar a diversidade de teorias
existentes sobre a emoção, recorre-se à obra “A Psicologia da Emoção - Uma
Perspectiva sobre as teorias da Emoção” de Kenneth T. Strongman (1996), que
no seu índice, se pode verificar claramente a diversidade de teorias actuais
sobre a emoção.
Nesta obra, o autor procura discutir várias teorias actuais sobre a emoção,
fazendo referência a algumas teorias do passado, tenta alargar essa discussão
para além da psicologia, a fim de retirar algumas conclusões fundamentadas
acerca dos méritos relativos destas teorias e determinar os temas comuns que
eventualmente possam existir. Citando o próprio autor: “A leitura de Uma

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Perspectiva sobre as Teorias da Emoção deve proporcionar ao leitor
consideráveis conhecimentos sobre a emoção, bons conhecimentos sobre a
forma como se constroem as teorias e alguma coisa sobre a interacção entre as
várias ciências sociais.” (1996: XIV)

A emoção

A palavra emoção provém do latim emovere (mover para fora), e com isso
indica movimento ou mudança. De uma maneira geral as emoções estão
ligadas a um impulso involuntário de fazer qualquer coisa. Assim emoção é uma
expressão artística, pela sua individualidade, única, de um sentir interior de
cada um dos homens. (Houshmand, 2001)
CUNHA (2000), citando GAUQUELIN et al (1984), afirma que a emoção é um
estado temporário marcado por modificações fisiológicas, agrupando todos os
estados de alma, todas as reacções cujas raízes mergulham no instinto, no
inconsciente.
Os autores citados são unânimes ao referir que a conceptualização da emoção
é considerada de per si como fenómeno pós-cognitivo, isto é que as reacções
das pessoas nomeadamente as emoções são determinadas pelo significado
atribuído às coisas, pelo conteúdo das avaliações e interpretações feitas pelo
seu “self”.
Já o sentimento é algo pessoal e afectivo, pré-cognitivo que pode ou não
exteriorizar-se numa emoção. (Goleman, 1995)
Pode-se concluir então que emoção é um estado psico-fisiológico tendente a
estabelecer um relacionamento entre os dois ou mais seres humanos.
A nível conceptual pode dizer-se que muitas emoções são constructos, ou seja
entidades organizadas, produzidas, construídas de acordo com as regras sócio-
culturais.
Existe ainda hoje alguma dificuldade em enunciar uma definição para
“EMOÇÃO”. Sendo a palavra “emoção”, como já se referiu, do latim emovere
(mover para fora), é uma resposta fisiológica a um estímulo. E - moção: E =
para o exterior, moção = movimento.

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Numa perspectiva neurofisiológica, Damásio (1998) diz que a função biológica
da emoção é dupla:

Produzir uma reacção específica à situação determinante;


Regular o estado interno do organismo para manter a sua integridade.

Este descreve-a como uma emoção que dura apenas alguns minutos e
desenvolve-se em três tempos: carga, tensão, descarga. A percepção do
estímulo e a sua interpretação pela amígdala despoletam a carga da emoção.
São libertadas hormonas específicas. O corpo coloca-se em tensão, em
mobilização energética para agir ou fugir. Ordenando a expansão ou a
retracção, a atracção ou a rejeição, a emoção guia o organismo para uma
reacção adaptada ao meio ambiente. As nossas emoções cuidam da nossa
conservação e orientam o nosso crescimento. A descarga é a fase de expressão
que permite ao corpo voltar ao seu equilíbrio de base. (Ex-pressão = pôr a
pressão no exterior) Depois da descarga emocional sentimo-nos libertos e
novamente prontos para enfrentar novas emoções.
Muitas vezes, as emoções trazem sofrimento e assim sendo, acredita-se que as
as emoções são erros da natureza que se devem rectificar com um controlo
severo. Contudo, a natureza dotou o homem de um sistema emocional para
seu bem, as emoções podem estar ao seu serviço, tem é que saber
compreendê-las, geri-las e utilizá-las.
Seguindo esta linha de pensamento, verifica-se que a emoção não é apenas
uma reacção fisiológica, é uma reacção de todo o organismo, também tem
componentes cognitivas (o espírito) e comportamentais ( as acções). Eis o que
diz da emoção o Dictionnaire de Furetière (1690), um dos primeiros dicionários
de língua francesa:
“Emoção: movimento extraordinário que agita o corpo ou o espírito,
perturbando-lhe o temperamento ou a estabilidade. A febre começa e acaba
com uma pequena emoção do pulso. Quando se faz algum exercício violento,
sente-se emoção em todo o corpo. Um amante sente emoção ao ver a sua
amada, um cobarde ao ver o seu inimigo.”

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Ao reter esta definição tão antiga, é porque ela contém paradoxalmente as
características essenciais pelas quais a ciência moderna define hoje uma
emoção, características essas de que se tem vindo a falar.
Uma emoção é um movimento, isto é, uma mudança em relação a um estado
imóvel inicial. Não se estava emocionado e, de súbito, está-se.
Uma emoção compreende fenómenos físicos e também agita o espírito, faz
pensar diferentemente, é o que os investigadores chamam componente
cognitiva da emoção. Perturba a razão ou, pelo contrário, alimenta-a.
A emoção implica uma reacção a um acontecimento. Furetière dá como
exemplo a emoção que agita um homem quando se encontra com a mulher
amada ou com o inimigo, e ainda que a definição não o diga, pode-se alvitrar
que face a uma mulher amada, a emoção leve a aproximar dela e, face a um
inimigo, a combatê-lo ou a fugir dele. A emoção prepara e leva- muitas vezes à
acção: é a componente comportamental da emoção.
Há centenas de emoções, incluindo as respectivas combinações, variações,
mutações e tonalidades. Na realidade, os investigadores defendem que há
muito mais subtilezas de emoções do que se tem palavras para as descrever. E
continuam a debater, precisamente, que emoções se podem considerar
primárias - o azul, amarelo e vermelho do sentimento que estão na base de
todas as combinações. Alguns teóricos, de entre os quais Paul Ekman (1964),
propõem famílias básicas de emoções. Cada uma das famílias tem no seu
âmago um núcleo emocional básico, do qual emanam em ondas sucessivas
incontáveis mutações. Nas orlas exteriores encontram-se os estados de espírito,
que, tecnicamente falando, são mais atenuados e duram muito mais tempo do
que uma emoção (por exemplo, é relativamente raro uma pessoa ter um
“ataque” de ira que dure o dia inteiro, pode bem passar todo o dia num estado
de espírito conflituoso e irritadiço). Para além dos estados de espírito há os
temperamentos, a prontidão para evocar uma emoção ou um estado de espírito
que torna uma pessoa melancólica, tímida ou alegre. E, para além destas
disposições emocionais, há as doenças emocionais, como a depressão clínica e
a ansiedade constante, que fazem as pessoas sentirem-se encurraladas como
que num estado tóxico.

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As principais famílias das emoções apresentadas são:
Ira: fúria, ultraje, ressentimento, cólera, exasperação, indignação, vexação,
acrimónia, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, talvez no
extremo, ódio e violência patológicos.
Tristeza: dor, pena, desânimo, desalento, melancolia, autocomiseração,
solidão, abatimento, desespero e, quando patológica, depressão profunda.
Medo: ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, receio,
precaução, aflição, desconfiança, pavor, horror, terror; como psicopatologias,
fobia e pânico.
Prazer: felicidade, alegria, alívio, contentamento, satisfação, delícia,
divertimento, orgulho, prazer sensual, excitação, êxtase, agrado, euforia,
gratificação, bom-humor, arrebatamento, entusiasmo e, no extremo, mania.
Amor: aceitação, amizade, confiança, bondade, afinidade, devoção, adoração,
fascinação, ágape.
Surpresa: choque, espanto, assombro, admiração.
Aversão: desprezo, desdém, troça, repugnância, nojo, desagrado, repulsa.
Vergonha: culpa, embaraço, desgosto, remorso, humilhação, arrependimento,
mortificação e contrição.
Tal como os próprios autores dizem, esta lista não resolve todos os problemas
de como categorizar as emoções. Por exemplo, o que dizer de combinações
como o ciúme, uma variante da ira que também inclui tristeza e medo? E as
virtudes, como a esperança e a fé, a coragem e o perdão, a certeza e a
equanimidade? Não há respostas claras, o debate científico sobre como
classificar emoções continua.
É importante fazer a abordagem de quatro grandes teorias que tentam explicar
as emoções. Cada uma das teorias tem os seus percursores, os seus defensores
modernos, mas também as suas aplicações práticas para viver melhor com as
emoções.

“ Ficamos emocionados porque está nos nossos genes.”


Este é o ponto de vista dos psicólogos evolucionistas, os discípulos modernos
de Darwin. Defendem que se sente cólera, alegria, tristeza, medo e outras

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emoções é porque essas emoções permitiram sobreviver melhor e reproduzir
melhor no meio natural, tal como se tem a capacidade para manter de pé ou
para agarrar objectos. Foram seleccionadas no decorrer da evolução da espécie
humana como verdadeiros “órgãos mentais”, e continuam a transmitir-se por
hereditariedade. Estes cientistas acreditam que as emoções fundamentais se
desencadeiam em situações que representam para o homem um desafio vital
em termos de sobrevivência ou de estatuto, por exemplo: o medo ajuda a fugir
do perigo, a cólera a triunfar dos rivais, o desejo leva a encontrar um parceiro
para a reprodução. Por conseguinte, as emoções favoreceram a sobrevivência e
a reprodução dos antepassados, o que pode explicar a transmissão até à
actualidade. Segundo este ponto de vista, o bebé experimenta emoções, tem
reacções emocionais como a cólera ou o medo, numa idade muito precoce (a
alegria aos três meses, a cólera entre os quatro e os seis meses), o que vai de
encontro a uma “programação” das suas emoções no seu capital genético.

“Estamos emocionados porque o nosso corpo se emociona.”


William James (1842-1910), psicólogo e filósofo americano, é o percursor de
uma teoria que muitos resumem numa frase: “A emoção é a sensação”. Tem-se
a tendência para acreditar que se treme porque se tem medo ou que se chora
porque se está triste. Para James, é o inverso que se produz: é o facto de
sentir tremores que leva a sentir medo ou o de chorar que torna tristes. À
primeira vista, esta hipótese choca com o senso comum mas a investigação tem
vindo a acumular numerosas observações a seu favor. Por exemplo, em
determinadas situações, a reacção física desencadeia-se antes de se ter uma
experiência emocional completa, assim, quando se evita com precisão uma
colisão do carro, sente-se muitas vezes medo depois do acontecimento,
enquanto o corpo reagiu desde a primeira fracção de segundo com um jacto de
adrenalina e a aceleração do coração. Por outro lado, as emoções seriam vazias
de conteúdo sem as sensações provenientes do corpo.
António Damásio (2001) fala de marcadores somáticos que informam o espírito
da presença de uma emoção e ajudam a decidir mais depressa, por exemplo,

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as sensações físicas desagradáveis associadas ao medo vão ajudar a evitar
rapidamente as situações de perigo.
Uma das ilustrações mais surpreendentes desta teoria é dada pelo feedback
facial. Imitar voluntariamente a expressão facial das diferentes emoções
provoca as reacções fisiológicas e o humor correspondente (Cornelius,
1996:100-107). Por isso, quando se recomenda conservar sempre um leve
sorriso, têm toda a razão: sorrir melhora o humor! Porém, é uma influência
transitória e modesta, não se pode pretender tratar uma tristeza intensa, ou
pior, uma depressão apenas com um sorriso.

“Estamos emocionados porque pensamos.”


Os defensores desta abordagem pensam que se continua a classificar
rapidamente os acontecimentos segundo um eixo de decisão:
agradável/desagradável, previsto/imprevisto, controlável/não controlável,
causado por um/causado por um outro. Segundo a combinação obtida surgiria
uma ou outra emoção, por exemplo: imprevisto-desagradável-controlável-
devido a um outro = cólera; previsto-desagradável-controlável = ansiedade.
A aplicação destas teorias apareceu sob diferentes formas de psicoterapias, que
ajudam o paciente a pensar diferentemente. Nomeadamente, um paciente
deprimido tem tendência para classificar os acontecimentos desfavoráveis como
“não controláveis” e “causados por ele”. Uma análise poderia ajudá-lo a pensar
de uma maneira menos estereotipada e a diminuir as suas emoções tristes.
Segundo os representantes desta abordagem: “Não são os acontecimentos que
afectam os homens, mas a ideia que deles se tem.”

“Estamos emocionados porque é cultural.”


Ao sentir-se tristeza quando o clube desportivo é derrotado, ou cólera quando
não se consegue o aumento de ordenado que se desejava, é porque
reconhecem estas duas fases emocionais adaptadas a situações próprias da
sociedade. Ninguém se surpreenderá por se sentir essa emoção, nem pela
forma como as exprimem porque os outros conhecem essas mesmas situações
e sabem reconhecê-las.

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Para os defensores desta teoria, uma emoção é, em primeiro lugar, um papel
social que se aprende ao crescer e desenvolver-se num certo tipo de sociedade,
o que supõe que outras pessoas criadas noutros sítios sentirão e exprimirão
emoções diferentes. As emoções humanas seriam tão variadas como as línguas
dos diferentes povos.
Um eminente psicólogo culturalista, James Averill (1983) observa também que
o papel social da emoção permite aceitar certos comportamentos que, de outro
modo seriam inaceitáveis, perdoam mais facilmente palavras desagradáveis se
pronunciadas “sob o efeito da cólera”; toleram-se alguns dos comportamentos
se declararem “apaixonados”. É claro que noutras sociedades esses
comportamentos seriam incompreensíveis.
Esta teoria recorda que se devem estar atentos ao meio em que se encontram
antes de exprimir uma emoção ou de interpretar a dos outros, por exemplo, em
certos grupos humanos, chorar em público provoca atenção e simpatia; noutros
é sinal de falta de virilidade ou de self-control (sociedade chinesa e nipónica)
Um exemplo notável da abordagem culturalista é o de Margaret Mead que, em
1928, descreveu num livro célebre a vida de várias tribos da Oceânia, de que
tirou conclusões sobre a influência da cultura nos mecanismos psicológicos, em
especial nos costumes sexuais e nas neuroses.
Poder-se-ia pensar que estas quatro teorias são contraditórias e que os seus
seguidores prosseguem os seus trabalhos cada um por seu lado, mas passa-se
precisamente o contrário, eles encontram-se regularmente em colóquios
consagrados às emoções e dividem entre si diferentes capítulos de obras
colectivas. Com efeito, hoje em dia, cada uma das teorias distingue-se das
outras pela importância que dá a um aspecto particular das emoções, mas não
nega o interesse das outras.
Como forma de concluir estas definições, propõe-se uma breve análise aos
escritos de GOLEMAN (1995:28): “Todas as emoções são impulsos para agir,
planos de instância para enfrentar a vida que a evolução instilou em nós.”
Na sua perspectiva, este autor desenvolve o conceito de “Emoção” numa
transversalidade às quatro teorias apresentadas.

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As tendências biológicas, como Goleman (1995) refere, são moldadas tanto
pela experiência do ser humano como pela sua própria cultura. Dá o exemplo
da perda de um ente querido que provoca sempre tristeza e desgosto, mas a
maneira como este é demonstrado é que é diferente de cultura para cultura, de
sociedade para sociedade. “Quanto a mim, interpreto emoção como referindo-
se a um sentimento e aos raciocínios daí derivados, estados psicológicos e
biológicos, e o leque de propensões para a acção” (GOLEMAN,1995:310)

A importância da inteligência nas emoções

“Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas


zangar-se com a pessoa certa, na justa medida, no
momento certo, pela razão certa e da maneira certa
- isso não é fácil!” Aristóteles (Ética e Nicómaco)
in Goleman (1995:17)

No principio dos anos 90, psicólogos como Peter Salovey e John Mayer
baptizaram a inteligência interpessoal e intrapessoal como " inteligência
emocional".
"A inteligência emocional abarca qualidades como a compreensão das próprias
emoções, a capacidade de nos colocarmos no lugar de outras pessoas e a
capacidade de controlarmos as emoções de forma a melhorar a qualidade de
vida". MARTIN (2000:17).
Segundo Martin (2000:36) “ as emoções são mecanismos de defesa que nos
ajudam a reagir com rapidez perante acontecimentos inesperados; a tomar
decisões com prontidão e segurança e a comunicar de forma verbal e não
verbal com outras pessoas”.
Embora não se fale das emoções a maioria das vezes as pessoas que são mais
próximas sabem exactamente como se sentem. Isso deve-se ao facto de as
emoções e os estados de espírito básicos se manifestarem na expressão do
rosto, na atitude corporal, no tom de voz e nos gestos.

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As emoções são realmente uma fonte valiosa de informação: ajudam a
comunicar uns com os outros. Por exemplo, as expressões faciais podem
demonstrar uma grande quantidade de emoções. Com o olhar pode-se sinalizar
que se precisa de ajuda e se for verbalmente hábeis, simultaneamente com as
expressões, tem-se uma maior capacidade de expressar melhor as emoções.
As emoções, também ajudam a tomar decisões, vários estudos mostraram que
quando as conexões emocionais de uma pessoa estão danificadas no cérebro,
ela não pode tomar simples decisões, porque não sentirá nada sobre as suas
escolhas, perante os factos ocorridos.
As reacções fisiológicas e o comportamento expressivo em caso de medo,
indignação, tristeza, alegria e repúdio são parecidas em todas as culturas.
Se há uma sincronização das emoções, tem-se a sensação de se estar no
mesmo cumprimento de onda de outras pessoas ou não. Quanto mais elevada
é a sintonia emocional, mais intensa é a harmonização das emoções.
O mérito dos psicólogos provém do facto de terem concretizado aquilo que de
facto integra a aptidão emocional. Identificaram cinco capacidades diferentes:

Reconhecer as próprias emoções;


Saber controlar as próprias emoções;
Utilizar o potencial existente;
Saber colocar-se no lugar dos outros;
Criar relações sociais.

As qualidades emocionais podem aprender-se e aperfeiçoar-se.


"Inteligência emocional, não significa dar livre curso aos sentimentos...significa
gerir os sentimentos, de tal modo que se exprimam apropriada e eficazmente,
permitindo que as pessoas trabalhem juntas sem problemas, em sintonia com
os seus objectivos comuns." GOLEMAN(1998:15)
Cada um possui um perfil de pontos fortes e pontos fracos, alguns podem
possuir uma elevada empatia mas carecer de algumas capacidades de para
dominar o stress; outros podem ter a percepção da mais leve alteração do
estado de espírito e serem socialmente menos aceites.

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"Burro velho não aprende línguas". Esta expressão não é válida, naquilo que se
refere às capacidades da inteligência emocional, porque é na idade adulta que
se pode aprender a controlar de forma mais inteligente as emoções. Contudo, é
nos primeiros anos de vida, que se forma decisivamente o mundo emocional, e
que são a base do seu posterior desenvolvimento emocional: a confiança em si
próprio, o autocontrolo, a atitude aberta perante a inovação, a capacidade de
empatia, o saber desfrutar do contacto com outras pessoas, são capacidades
que se vão construindo no seio familiar. O grau de estabilidade destas depende
da competência dos pais no controlo das suas próprias emoções: pais
inteligentes do ponto de vista emocional, são educadores emocionais eficazes.
“Para que a vida humana não fosse totalmente triste e enfadonha, Júpiter
concedeu-lhes muito mais paixões do que razão, na proporção de um asse*
para: meia onça. Além disso, relegou a razão para um canto estreito da cabeça,
deixando todo o resto do corpo entregue ao domínio das paixões. Por fim, opôs
à razão isolada a violência de dois tiranos: a Cólera, que domina a cidadela do
peito, com a fonte da vida, que é o coração, e Concupiscência, cujo império se
estende até ao baixo-ventre. Como conseguirá a razão defender-se destes dois
inimigos, para mais reunidos? A vida comum dos homens mostra-o com
bastante clareza. A razão apenas consegue gritar, até enrouquecer, as leis da
honestidade. É rainha de quem os homens troçam e injuriam até que, cansada,
se cala e se confessa vencida.” (GOLEMAN, citando Erasmo, 1995:31)
Ao contrário do QI (quociente de inteligência), que pouco muda após a
adolescência, o QE (quociente emocional) é em grande medida assimilada e
continua a desenvolver-se ao longo da vida, com as experiências. (Goleman,
1995)
Segundo GOLEMAN (1998:15) "Na verdade, alguns estudos que pesquisaram o
nível de inteligência emocional ao longo dos anos revelam que essas
capacidades melhoram à medida que as pessoas se tornam mais capazes no
domínio das suas emoções e dos seus impulsos, na motivação de si próprios,
no aperfeiçoamento da sua empatia e destreza social". Este crescimento da
inteligência emocional traduz-se por maturidade.

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A inteligência emocional determina o potencial para aprender as aptidões
práticas que se baseiam em cinco elementos:
Autoconsciência,
Motivação,
Autodomínio,
Empatia
Talento nas relações.

Para GOLEMAN(1995:63) " a autoconsciência - o reconhecer um sentimento


enquanto ele está a acontecer- é a pedra base da inteligência emocional. Ser
capaz de controlar momento a momento as sensações é crucial para a
introspecção psicológica e o autoconhecimento".
Lidar com as sensações de uma forma apropriada é uma capacidade que nasce
do autoconhecimento.
Não se pode escolher as emoções. Não se podem desligar ou evitar. Pode-se é
geri-las adoptando formas de comportamento entretanto aprendidas e
civilizadas. O poder ou não controlá-las de forma inteligente, depende da
inteligência emocional. No entanto, esta não consiste apenas em saber
controlar as mesmas. Tão importante quanto isso é a empatia, a percepção das
emoções das outras pessoas. Por exemplo quando se visita um amigo no
hospital, ou se discute a relação amorosa, ou se tranquiliza uma criança que
está enfurecida, está-se perante situações em que se está desafiado a tomar
em consideração as vivências, dificuldades, problemas de outras pessoas,
mesmo que se sinta e se pense de forma muito diferente. Isto pressupõe estar
em situação de poder interpretar correctamente a expressão do rosto e a
atitude corporal do outro, de ver as situações a partir das suas perspectivas e
de prever as suas emoções.
"Faz parte do nosso repertório emocional básico a capacidade de poder avaliar
os estados de espirito e as intenções das outras pessoas, estabelecer relações
estreitas com elas e avaliar as situações emocionais" MARTIN (2000:80).
A atenção é a base para uma melhor gestão das emoções e para um trato mais
consciente com as outras pessoas. Esta ajuda a tirar o maior partido possível

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das emoções e dos estados da alma. Se chegar a compreender bem os motivos
e a influência que exercem, fica-se numa situação mais favorável para proceder
de forma correcta.
Para MARTIN (2000) tanto os defensores como os críticos da inteligência
emocional duvidam que seja possível descrever e medir a mesma, da mesma
maneira que a cognitiva, por meio de um valor numérico. As qualidades
emocionais são demasiado diferentes e diversas para que possam ser medidas
todas da mesma maneira: algumas pessoas podem controlar bem as agressões,
mas ficam desamparadas frente aos seus medos.
Segundo GOLEMAN (1998) as capacidades da inteligência emocional estão em
sinergia com as cognitivas, os profissionais de excepção possuem ambas.
Quanto mais complexo for o trabalho, tanto mais a inteligência emocional
importa ser desenvolvida porque uma deficiência nessas capacidades pode
prejudicar a utilização de quaisquer perícias técnicas ou intelectuais que uma
pessoa possa possuir.
Após uma investigação de dois anos levada a cabo por este autor, ele concluiu
que era a inteligência emocional e não a aprendizagem técnica, a especialização
ou os conhecimentos teóricos o que contribuía mais para a excelência no
desempenho profissional. Ele colocou em evidência o lugar da inteligência
emocional, no elevado desempenho dos indivíduos, das equipas e das
organizações, daí que as suas conclusões apontam, todas elas para o lugar
fundamental que a inteligência emocional ocupa na excelência e o quanto ela é
importante para o êxito de qualquer trabalho.
"Um número cada vez maior de empresas percebe que estimular as
capacidades da inteligência emocional constitui uma componente vital de
qualquer filosofia de gestão de uma organização" GOLEMAN (1998:16). Um
estudo realizado em 1997, em grandes empresas nos E.U.A. revelou que quatro
em cada cinco empresas estão a promover a inteligência emocional nos seus
funcionários por meio de formação e desenvolvimento, na avaliação de
desempenho e na contratação de pessoal.
"Há numerosas provas anatómicas e psicológicas que demonstram que pensar
e sentir, isto é, o cérebro racional e emocional, formam um todo inseparável,

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nomeadamente os estudos de António Damásio. Para podermos compreender e
interpretar o que nos rodeia necessitamos de ambas as coisas: a inteligência
racional e planificadora e o mundo das emoções que costuma agir de uma
forma mais espontânea.” MARTIN (2000:31)
A coordenação da capacidade de sentir com a capacidade de pensar
proporciona ao ser humano o seu amplo leque de possibilidades de expressão
único na natureza.
Investigações levadas a cabo em doentes cujas zonas emocionais do cérebro
foram danificadas por acidentes ou doenças, demonstraram que a falta da
participação emocional no mecanismo de ajuizamento das situações conduz a
decisões incorrectas, e que a carência de emoções pode minar o senso comum
das pessoas. (Damásio, 1998)
Segundo MARTIN (2000) as emoções são mecanismos de defesa que ajudam a
reagir com rapidez perante acontecimentos inesperados; a tomar decisões com
prontidão e segurança e a comunicar de forma não verbal com outras pessoas.
Embora não se fale das emoções a maioria das vezes as pessoas que são mais
próximas sabem exactamente como se sentem. Isso deve-se ao facto de as
emoções e os estados de espírito básicos se manifestarem na expressão do
rosto, na atitude corporal, no tom de voz e nos gestos. As reacções fisiológicas
e o comportamento expressivo em caso de medo, indignação, tristeza, alegria e
repúdio são parecidos em todas as culturas, como o rubor da face, as lágrimas,
entre outros.
Ao validar as emoções como um desafio a cumprir no campo interpessoal,
segundo CUNHA (2000:14) "…emoção/afectividade é o fundamento da nossa
personalidade, o que temos de mais íntimo, o que dá aos nossos actos e
pensamentos o encanto, a razão de ser, o impulso vital, sendo graças a ela que
nos ligamos aos outros, ao mundo, a nós próprios. A emoção (...) é uma
entidade capaz de assegurar o estabelecimento de relações interpessoais,
sendo a principal modalidade para estabelecer uma comunicação, e mais do
que isso uma vinculação e uma validação.”
É uma necessidade para manter boas relações: no trabalho, na família, no casal
e no tratamento quotidiano com as outras pessoas. Um mundo sem

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sentimentos seria tão terrível como um mundo sem razão. No entanto, dão-se
constantemente situações em que se sente domínio pelos sentimentos, em que
a razão falha ou se tomam decisões erradas. O objectivo deveria consistir em
reconhecer os próprios sentimentos, controlá-los e aplicá-los de forma eficaz
em todos os domínios da vida. Os cérebros, emocional e racionais, funcionam
como a musculatura; tal como no desporto, poderá aumentar as suas
capacidades emocionais através da persistência, do treino e do exercício,
criando, assim, a melhor base possível para o seu êxito.

COMO LIDAR COM AS EMOÇÕES

A expressão “lidar” parece pobre no sentido de alguma cientificidade e será


decerto, do âmbito do senso comum. Mas mesmo no senso comum, esta
palavra traduz o que se deve fazer com… Lidar com as emoções não será mais
do que saber geri-las num momento certo e numa medida adequada. No
entanto, para tal é necessário que cada um possa de alguma forma desenvolver
competências específicas para saber exteriorizar determinados sentimentos
numa medida certa, num momento oportuno e para o grupo em causa.
Para além disso deve também saber colocar as emoções, as suas num contexto
em que a sua força anímica resulte em energia positiva para que, quer na
dimensão pessoal, quer na dimensão interpessoal, possa com elas colher os
frutos da sua força.
A este respeito, Goleman (1995), desenvolveu um quadro de competência
emocional que, apesar de não ser uma receita, torna-se interessante a sua
abordagem, numa perspectiva de reflexão sobre os aspectos que desenvolve,
nomeadamente na área da consciência, motivação e competência social, no que
respeita à dimensão interpessoal das emoções.
As emoções constituem uma parte essencial da natureza humana. Elas evoluem
e são moldadas pelas experiências que nos rodeiam ao longo de toda a nossa
vida. Para se ser pessoa emocionalmente educada, tem que saber lidar com as
emoções de tal forma que o poder pessoal se desenvolva, bem como a

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qualidade de vida à volta. E, ser-se educado emocionalmente significa saber
gerir as emoções porque as compreendem.
Ao reconhecer e gerir as emoções e ao escutar o outro de um modo produtivo,
em vez de diminuir está-se a aumentar o poder pessoal, daí que se em vez de
por as emoções a funcionar contra “nós”, as colocar a funcionar para “nós”,
então sai-se fortalecido (Steiner, 2000).
Segundo este autor é através da empatia, (capacidade de sentir o que os
outros estão a sentir) que se aprenderá a assumir a responsabilidade pelo
modo como as nossas emoções afectam os outros, e também aprender a
permitir que as capacidades racionais, trabalhem lado a lado com as
capacidades emocionais, fazendo crescer a habilidade de se relacionar com as
pessoas. Só aprendendo a desenvolver a capacidade de empatia e da
interactividade (saber como as pessoas irão reagir às emoções) é que se
aprende a lidar com as emoções. Esta capacidade que alguns autores chamam
de consciência emocional significa:
Saber aquilo que sentimos;
Saber aquilo que os outros sentem;
Descobrir a causa desses sentimentos;
Conhecer o efeito provável dos nossos sentimos nos outros. (Martin,
2000).

A APRENDIZAGEM DO CONTROLE DAS EMOÇÕES

Na luta constante para manter debaixo de controlo as emoções, regulá-las e


equilibrá-las, esquece-se facilmente que as emoções não representam apenas
uma fragilidade como também um potencial. A solidez emocional é o que
decide em que medida se consegue desenvolver as capacidades congénitas.
"De forma consciente ou inconsciente vamos dando conta daquilo com que o
nosso espírito se sente bem; enquanto que as pessoas que vivem de forma
intensa as suas emoções procuram a serenidade da natureza para se
relaxarem, os temperamentos mais frios, menos excitáveis, precisam de
estímulos mais fortes, como a descarga produzida pelo voo em asa delta ou o

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salto em pára quedas para que o seu deve e haver emocional fique equilibrado"
MARTIN (2000:67).
A auto-regulação emocional é um trabalho que ocupa todas as horas do dia:
reflecte-se na música que se ouve, nos livros que se lêem, na escolha dos
amigos, no consumo de álcool e medicamentos.
O reconhecimento das emoções é o alfa e ómega da capacidade emocional. Só
quem aprende a perceber os sinais emocionais, a classificá-los e a aceitá-los,
pode controlar e explorar melhor as suas emoções. A chave do acesso ao
mundo emocional é a atenção. Esta supõe ter a percepção e a consciência do
próprio mundo interior com o objectivo de não se deixar dominar por ele.
A maior parte das pessoas desenvolvem estratégias para disfarçar ou dar
sentido às emoções desagradáveis ou agradáveis. Por vezes de forma
automática e sem terem disso consciência, só permitem o acesso à consciência
a determinadas emoções enquanto anulam outras. Por exemplo privam-se de
registar a cólera quando um bebé não deixa de berrar. Ao fazê-lo, privam-se da
oportunidade de conhecer mais de si próprios com a ajuda das suas emoções,
para assim poder tomar as medidas correctivas correspondentes e as decisões
mais adequadas a cada situação.
"Para perceber as próprias emoções, controlá-las e desenvolvê-las, precisamos
de um distanciamento interior em relação a nós próprios, aquilo que os
psicólogos chamam por Meta-Mood: a sensibilidade perante as emoções."
MARTIN (2000:69). Trata-se de observar e relativizar as próprias turbulências
emocionais, vistas de fora, como um observador neutro e objectivo e que se
abstenha de emitir juízos de valor.
Existe uma diferença entre bater com a porta na cara de um familiar ou amigo
de forma irreflectida ou dizer-se a si próprio: “estou furioso porque o João
convidou o Fernando para almoçar e não me convidou primeiro”. É que a
observação desapaixonada das próprias emoções, faz com que se activem as
ligações neocorticais. O programa de instintos com que se está dotado de
nascença, e que é responsável pela reacção e indignação, fica debilitado:
ninguém pode registar com frieza a sua própria indignação e, ao mesmo tempo,
deixar-se dominar pela ira.

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As emoções básicas como a fome, a sede, o medo, a ira, a sexualidade e o
cuidado com as crianças fazem parte do equipamento básico emocional. Estão
enraizadas biológicamente na natureza e fazem parte, quer-se queira quer não.
(Goleman, 1995)
A forma como se controlam estes comportamentos inatos está na vontade do
ser humano. Uma prova da livre vontade é por exemplo, a possibilidade de se
fazer greve de fome. A liberdade de decisão do ser humano vai para além dos
instintos biológicos de importância vital.
As pessoas inteligentes do ponto de vista emocional não se deixam arrastar
pelas emoções, mas usam a energia desencadeada para desenvolver novas
capacidades, fortalecer a sua confiança em si próprias e assumir riscos. Por
exemplo uma pessoa que se candidata a um emprego e que não o consegue
obter e utiliza a indignação que sentiu para preparar-se melhor para a
entrevista seguinte (Goleman, 1998).
Mas, a inteligência emocional não consiste só em saber controlar as próprias
emoções.
Saber pôr-se no lugar dos outros pressupõe que se conhece bem as emoções,
que são aceites e que não se reprimem. Para MARTIN (2000:82) "a pessoa que
tem medo das suas próprias emoções ignorará também, enquanto puder, os
sinais emocionais emitidos por outras pessoas".
A empatia requer situações autênticas, livres de todas as aparências. É
considerada por vários autores a capacidade de entender o mundo interior
emocional e vivencial de outras pessoas, e é, por isso mesmo a base de
interacção com outras pessoas. Para poder perceber as razões do medo que
uma filha tem de ir à escola, tem que haver empatia entre pais e professor/a.
Para GOLEMAN (1995:64) " As pessoas empáticas são mais sensíveis aos subtis
sinais sociais que indicam aquilo que os outros necessitam ou desejam." .
Segundo MARTIN (2000) alcançar a forma de máximo rendimento requer uma
combinação de emoções que cada um tem que gerir de forma consciente
dentro de si próprio: força de vontade, capacidade de auto-motivação, uma
atitude optimista, um discurso positivo e a capacidade de alhear-se do espaço e
do tempo.

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Um mundo sem sentimentos seria tão terrível como um mundo sem razão. No
entanto, dão-se constantemente situações em que os sentimentos dominam,
em que a razão falha ou se tomam decisões erradas.

OS DEZ MANDAMENTOS DA EDUCAÇÃO EMOCIONAL

1. Não fará jogos de poder. Pede o que queres até o conseguir.


2. Não permitirás que os outros te manipulem. Não faças nada que não
queiras fazer de tua livre vontade.
3. Não mentirás nem por omissão, nem por delegação. Excepto quando a
tua segurança ou a segurança dos outros estiver em jogo, evita sempre
mentir.
4. Defenderás os teus sentimentos e as tuas vontades. Se o não fizeres,
ninguém o fará por ti.
5. Respeitarás os sentimentos e os desejos dos outros. Isso não significa
que tenhas de te submeter a eles.
6. Procurarás o valor nas ideias dos outros. Há mais do que uma maneira
de ver as coisas.
7. Pedirás desculpa e farás reparações pelos teus erros. Não há nada que
te faça crescer tão depressa.
8. Perdoarás os erros do teu próximo. Faz aos outros aquilo que gostavas
que fizessem a ti.
9. Não aceitarás falsas desculpas. Ainda valem menos do que não pedir
desculpa.
10. Cumprirás estes mandamentos de acordo com o teu melhor julgamento.
E que, apesar de tudo, eles não foram escritos na pedra.

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Supervisão de emoções?

Reconhecer as próprias emoções;


Saber controlar as próprias emoções;
Utilizar o potencial existente;
Saber pôr-se no lugar dos outros;
Criar relações sociais.

Num reflexão desta índole, onde o domínio do jogo das emoções é


fundamental, sobretudo quando se trata de lidar com as emoções pessoais e
pensando nas emoções dos outros, não se pode deixar de reflectir acerca de
como supervisionar todo esse processo de domínio das emoções. A
interrogação colocada na definição é prova de que não se tem certezas mas dá-
se modestos contributos para essa mesma supervisão de emoções.
Tendo em conta que este trabalho tem como um dos principais referente os
contributos da gestão das emoções, considera-se que é fundamental reflectir
sobre a natureza, tipos e níveis de conhecimento e de competência de
profissionais, que, quando usados de forma estratégica, possam promover e
instaurar esse processo de sustentação. (SÁ-CHAVES, 2000).
Para se saber se gere bem ou não as emoções, para os profissionais de saúde é
necessário fazer, antes de mais, a distinção do sofrimento, como sendo ele um
problema ou um dilema. Por essa razão exige também modos distintos de
compreensão, e por conseguinte modos de gestão diferenciada. Segundo Sá-
Chaves (2000), o fenómeno sofrimento é sempre uma questão ontológica de
extrema complexidade com factores de determinação de natureza endógena e
outros de natureza exógena remetendo para isso para questões de natureza
pessoal, social e cultural. O fenómeno sofrimento coloca sempre questões mais
dilemáticas e é aí que é necessário uma cuidada atenção reflexiva e de
intervenção.
Gerir implica procurar compreender formas de intervenção para o minorar do
sofrimento e identificar quais as variáveis que o determinam, o configuram e o
condicionam para que a intervenção, com vista à sua eliminação e ou alívio,
possa ser ajustada, coerente, global e consequente.

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São as manifestações de emoções quando o sofrimento está presente e tem de
se saber lidar com ele. A dimensão pessoal do problema torna-se hermética,
incapaz de comportar outros referentes que a amenizem, a reconstruem e a
vitalizem. A este propósito Sá-Chaves (2000) explica as reacções provocadas
pelo sofrimento, como um desencadear de uma série de reacções na pessoa
que sofre, e que promove o isolamento, desactiva os rituais de socialização,
estimula a não convivialidade e acelera os processos indutores de mais
sofrimento, como por exemplo, o desinteresse pela alimentação, pela higiéne,
pela aparência pessoal, enquanto indicadores de baixos níveis de auto estima e
de processos de progressiva e derrapante desistência.
Esta autora é da opinião que um “…tipo de intervenção que procure menorizá-
lo precisará de elevados níveis de empenhamento, de competências
comunicacionais e relacionais de profundo impacto e alcance, de formação
desenvolvimento de matriz interpessoal, que garantam, ou pelo menos
favoreçam a possibilidade de encontro, de troca e de dádiva”. (SÁ-Chaves,
2000: p. 110)
O fenómeno do sofrimento humano define-se também como uma experiência
que ninguém pode viver na vez de ninguém. A resolução possível dos
problemas a todos os níveis de interacção e a gestão de afectos constituem
factores essenciais para o seu minorar e ou eliminação, isto é, para o suporte
de níveis aceitáveis de qualidade de vida e de dignidade humana.
Por isso, a supervisão das emoções exige “…saberes e competências de
intervenção, uma configuração multidiscursiva, ou melhor, interdiscursiva, que
possa ajudar a encontrar vias preferenciais no acesso às múltiplas formas de
sofrimento, abrindo brechas nas suas muralhas e derrubando as paredes de
silêncio, que possam permitir levar alguma luz lá, ao lugar recôndito onde cada
um de nós guarda os gritos que nos faltam gritar e aqueles que nos faltam
gritar, mas que guarda também a reserva de humanidade que, um dia, porque
nascemos, nos foi legada.” (SÁ-CHAVES,2000: p.115 )
Por outro lado, é necessário conhecimento em acção, em tempo útil para a
pessoa que sofre. Se analisarmos o fenómeno sofrimento como sendo um
processo evolutivo, para lidar com ele, também exige que o profissional de

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saúde tenha conhecimento em acção, numa visão schöniana, para que possa
evoluir e desenvolver-se, para que possa ampliar e renovar perspectivas de
análise e acção.
O profissional deve assim procurar aprofundar questões específicas de natureza
científica/técnica, um saber dinâmico que o ajude a procurar soluções para o
problema. Pensando no efeito multiplicador da diversidade suscitará ainda o
desenvolvimento profissional e pessoal das pessoas envolvidas, através da
reflexão que vai fazendo. Sá-Chaves (2000) designa esta atitude de
competência de intervenção no seu modelo conceptual e organizacional, como
o princípio da humanização (outros designam de HUMANITUDE).
A importância das emoções pode ser também através de mecanismos de defesa
que permite agir com rapidez, sobretudo em acontecimentos inesperados.
Outra faculdade será a prontidão e segurança com que é possível comunicar de
forma não verbal com outras pessoas.
Pode-se ainda concluir que é imprescindível ao ser humano, especialmente
àquele que lida particularmente com o sofrimento, seja ele a pessoa que sofre,
seja o seu familiar, mas sobretudo ao profissional de saúde, saber lidar com as
suas emoções. Devem pois supervisionar a capacidades emocionais através da
persistência, do treino e do exercício conducente a uma melhor inteligência
emocional. Supervisionar este processo significa ter consciência das qualidades
que subentendem a compreensão das próprias emoções e a capacidade de
controlar as emoções de forma a melhorar a qualidade de vida.

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