Você está na página 1de 2

Psicose: Linguagem e signos

Manifestações são, literalmente, impulsos químicos cerebrais manifestados. Uma manifestação


seria, por exemplo, um pensamento, algo que se manifesta pela linguagem ou pela alienação do
mundo do paciente (mundo interior). Manifestações podem também formarem os signos. Signo
é um sentido, um significado, uma referência a algo mais complexo. O signo tem, obviamente,
um significado. Ao escutarmos uma palavra ou uma frase, sentimos algo no nosso corpo que nos
leva ao significado: este é o signo. O signo pode levar também a sensações físicas (por exemplo,
sentir palpitação após uma comunicação [comunicação, nesse caso, não seria apenas por
palavras]) e psíquicas.

A linguagem é a construção de todos os signos. O meio de comunicação supremo. Linguagem


não se restringe apenas às palavras, mas sim à signos, a sentidos, sentimentos. Os signos
formam “blocos” ou “pontes” que criam algo complexo (literalmente, um complexo). A
linguagem também é nata e primitiva. Ao nascermos, temos signos e linguagem. No entanto,
ela não está desenvolvida. Ao crescermos, nos vemos num impasse: relacionar razão e
linguagem. A linguagem precisa seguir uma regra, o que não é necessariamente uma razão, mas
poderia ser. No entanto, linguagem e razão ainda têm alguma relação. As regras da linguagem,
da comunicação dos signos, se dão pelas referências sociais (pai, mãe). Se há uma falha nessa
associação e as pontes são desconexas ou erroneamente conectadas, há o transtorno da
linguagem. (Não se deve considerar, no entanto, que é o transtorno da linguagem é totalmente
culpa dos pais. É aí que entra a natura. Signos da natureza da criança.)

Se há também uma predisposição biológica que apresente deficiências nas manifestações e no


modo como se conectam os signos, haverá conexões confusas de signos, uma linguagem difusa
e diferenciada dos ciclos sociais. A referência paterna é tomada, na psicanálise, como a definição
da lei. Neste caso, seria também, a lei de linguagem. A criança define três pontos: razão, lei e
linguagem. Na psicose, não há transtorno da razão, na verdade, a razão pode ser apenas
“sedada” ou tomar outra natureza (por exemplo, um psicótico e um neurótico podem chegar a
resultados diferentes ao se depararem com algo lógico. No caso, não são uma razão distorcida
e uma correta, são apenas razões diferentes). O psicótico mantém seu significado a velejar pelos
mares dos signos, sem freio. O sujeito pode ser abstraído: não há mais “meu”, mas sim “nosso”,
ou então, apenas o “seu”.

A distorção signal pode afetar as cognições e levar às alucinações, delírios, paranoia. Na


alucinação, não há erro somente na conexão dos signos, mas também na biologia, nos sentidos.
Há informação em sentidos que na verdade não existem: vozes, imagens e etc... No delírio e na
paranoia, há uma confusão dos signos que se projeta no outro, na linguagem. Afirmações podem
tomar significados muito diferentes do que os esperados por neuróticos.

Jonathan, 15 anos, psicótico. Há signos que pulam para o consciente rapidamente e se


manifestam em sua linguagem falada: mãe, pai, cpf, identidade, etc. No recebimento a fala do
outro, há uma tentativa de conserto da razão para a linguagem. Vemos seu esforço. No entanto,
o caminho dos signos o leva ao espaço cotidiano: mãe, pai, cpf... Jonathan desenha barcos a vela
com destreza. Razão ou signos? Ele pode receber signos (barco, água, ilha) como uma imagem
completa ou um de cada vez. No primeiro caso, apenas a linguagem montaria o espaço, no
segundo, a razão entraria.

A psicose é, em suma, a falha na linguagem e na biologia dos sentidos e dos signos, é uma
posição do sujeito fora do discurso correto: transtorno de linguagem. O trabalho do psicólogo
é, talvez, levar o psicótico à uma significação que tenha projeção sobre todas as outras: criar a
referência, que antes não havia. O psiquiatra cuidará da parte orgânica. Conheci o Jonathan no
hospital, onde também estive interno. A família o havia deixado no hospital e há muito não o
vieram buscar. Há, desde o início dos tempos, uma dificuldade em se relacionar com psicóticos.
O trabalho em conjunto deve se empenhar em consertar esse erro. O psicótico está excluído da
sociedade?

Você também pode gostar