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implantação por ser uma das mais eficientes práticas sementes e comprometendo a ocupação das células e
de controle de erosão, pela reduzida desestruturação dos dedos prensores.
do solo e pela proteção da palhada. Este sistema de A velocidade, segundo Delafosse (1986), é um
semeadura é importante para a conservação do solo e dos parâmetros que mais influencia no desempenho
da água, permite menor uso de potência e mão-de- de semeadoras, e este parâmetro afeta a distribuição
obra, reduz a temperatura do solo e o uso de longitudinal de sementes no sulco de semeadura. A
combustível por unidade de área, melhora as uniformidade de espaçamento entre as plantas
condições físicas do solo e permite maior número de
distribuídas na linha pode influenciar, por sua vez,
safras ao longo dos anos e o incremento do uso da
na produtividade dessa cultura. Plantas distribuídas
terra, incorporando-se áreas com mais declives ao
processo produtivo. de forma desuniforme implicam aproveitamento
O desempenho e a eficiência das máquinas ineficiente dos recursos disponíveis, como luz, água
e nutrientes (PINHEIRO NETO et al., 2008).
semeadoras e a qualidade da semeadura de uma cultura
Em avaliação de duas semeadoras-adubadoras,
é de fundamental importância para garantir um estande
Pinheiro Neto et al. (2008) observaram que com o
final de plantas adequado, e consequentemente, o aumento da velocidade de deslocamento, a
sucesso da implantação da cultura e uma boa população de plantas e a porcentagem de
produtividade (SCHMIDT et al., 1999). espaçamentos aceitáveis reduziram, e a população de
Durante a semeadura mecanizada, diversos plantas, agronomicamente recomendada, não foi
fatores interferem no estabelecimento do estande de alcançada por ambas as semeadoras.
plantas e na produtividade da cultura, sendo a SILVEIRA et al. (2005), avaliando o desempenho
velocidade de operação da máquina no campo, um de semeadoras em três velocidades, verificaram que
deles. Este parâmetro pode influenciar, segundo os estandes de plantas apresentaram grandes
diversos autores, na patinagem dos rodados; variações dos espaçamentos, observando cerca de
capacidade de campo; velocidade do mecanismo 27% da população abaixo do limite entre
dosador; distância, profundidade e exposição de espaçamentos normais e duplos, e que
sementes; ocorrência de duplos; e danos mecânicos. aproximadamente 33% da população está acima do
Furlani et al. (2005b), avaliando a capacidade limite entre espaçamentos normais e aqueles
operacional de uma semeadora-adubadora, considerados como falha.
utilizando duas marchas durante a operação de Silva et al. (2000) não observaram diferenças
significativas nos danos mecânicos sofridos pelas
plantio, observaram que quando se trabalhou na
sementes de milho (danos visuais, de plântulas
velocidade superior, de 7 km h-1, houve aumento na
normais e de anormais e de sementes mortas) que
patinagem dos rodados e nos consumos de
passaram pelo mecanismo dosador da semeadora nas
combustível por hora e por área. O maior valor de
diferentes velocidades de operação (3, 6, 9 e
capacidade operacional também foi observado na 11,2 km h-1). Entretanto, estas tiveram redução
maior velocidade de operação. média de 1,7 pontos no percentual de formação de
A patinagem dos rodados de semeadoras pode plântulas normais em relação às sementes que não
sofrer interferência por outros fatores, como as passaram pela semeadora. Na avaliação da densidade
condições do piso. Avaliando uma semeadora- de semeadura, foi observado que as duas velocidades
adubadora de precisão, Vale et al. (2008) observaram maiores proporcionaram menor distribuição de
os valores de 10,74 e 7,18% de patinagem para o sementes, evidenciando redução na eficiência do
plantio convencional e plantio direto, mecanismo dosador utilizado (disco horizontal
respectivamente. perfurado) nestas velocidades, pela diminuição do
A velocidade de operação do conjunto tempo para o preenchimento das células do disco
tratorizado irá influenciar na velocidade do disco com sementes, provocando falhas na distribuição.
dosador de sementes dentro do reservatório de O presente trabalho tem por objetivo a análise do
sementes e na patinagem da roda motriz da desempenho de uma semeadora-adubadora em duas
semeadora, ocasionando alterações na uniformidade velocidades de deslocamento. Especificamente,
de distribuição e na colocação adequada da semente buscou-se avaliar a patinagem dos rodados motrizes
no solo, interferindo na densidade ideal de plantio. da semeadora-adubadora e do trator, capacidade de
Para Mantovani et al. (1999), o aumento da campo efetiva do conjunto, velocidade periférica do
velocidade de deslocamento do conjunto trator- disco dosador de sementes, distribuição longitudinal
semeadora modifica a velocidade periférica do disco de sementes, profundidade de semeadura, sementes
perfurado, ocasionando danos mecânicos às expostas, ocorrência de duplos, e danos mecânicos.
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em que: em que:
f1 = frequência da engrenagem motriz, Hz; G = germinação, %;
d1 = número de dentes da engrenagem motriz; ni = representa o número total de sementes
f2 = frequência da engrenagem motora, Hz; germinadas no período estabelecido;
d2 = número de dentes da engrenagem motora. N = número de sementes postas para germinar.
A capacidade de campo efetiva foi determinada
pela relação entre área trabalhada e tempo total de Resultados e discussão
campo, segundo a Equação 5.
Os valores de patinagem obtidos para a
semeadora-adubadora, para as duas velocidades,
área
Ce (5) foram em média de 12,55 e 13,58% para 2,5 e
tempo 4,4 km h-1, respectivamente, indicando aumento da
patinagem com o aumento da velocidade. Esta
em que: mesma observação também foi realizada por Furlani
Ce = capacidade de campo efetiva, ha h-1; et al. (2005b). O coeficiente de variação observado
área = área trabalhada, ha; para as velocidades foi de 15,53%.
tempo = tempo total de campo, h. Os valores de patinagem observados não estão de
Para a determinação da distribuição longitudinal acordo com o proposto por Balastreire (2005), que é
de sementes, profundidade de semeadura, número de 4% para borracha ranhurada, e também não com
de sementes expostas e ocorrência de duplos foram o valor observado por Vale et al. (2008), que é de
realizadas várias amostras ao acaso em diversos
10,74%, trabalhando com o mesmo modelo de
trechos de deslocamento da semeadora-adubadora.
Em 1 m de comprimento, dentro de cada repetição, máquina semeadora. Fatores que podem ter
foram contadas as sementes expostas, e, contribuído para esses altos índices de patinagem e
desenterrando-se as sementes, determinou-se a que, durante a semeadura, os depósitos de
distribuição longitudinal, profundidade de fertilizantes estavam vazios, faltando lastro para
semeadura e número de sementes duplas. melhorar o contato rodado e solo.
Seguindo os procedimentos especificados no teste Os valores de patinagem obtidos para os rodados
de germinação proposto pelas Regras para Análise de do trator, para as duas velocidades, foram em média
Sementes (BRASIL, 1992) para milho, foram de 3,80 e 3,57% para 2,5 e 4,4 km h-1,
realizados testes de germinação para avaliar os danos respectivamente, com coeficiente de variação de
mecânicos nas sementes causados pelo mecanismo 35,31%. Os valores observados estão bem abaixo dos
dosador. O teste de germinação foi realizado valores sugeridos pela ASAE (2003) que recomenda,
empregando-se quatro repetições de 50 sementes, em para obtenção de máxima eficiência de tração,
rolo de papel tipo Germitest com quantidade de água patinagem de 8 a 10% em solos não mobilizados, e
equivalente a 2,5 vezes a sua massa e colocadas em de 11 a 13% em solos mobilizados. Esses baixos
germinador regulado a 20ºC, para o período noturno, e valores mostram que o trator estava com lastro
excessivo para a operação.
30ºC, para o período diurno, com fornecimento de luz
Os valores da capacidade de campo efetiva
por 8h. As avaliações foram realizadas no 7º dia
(1ª contagem) e no 14º dia (contagem final). Os observados foram de 0,158 e 0,292 ha h-1 em média
para 2,5 e 4,4 km h-1, respectivamente, e foram
resultados foram expressos em porcentagem de
menores que os encontrados por Furlani et al. (2005a),
sementes germinadas. Foram consideradas germinadas
todas as sementes que se mostraram aptas a evoluir em Furlani et al. (2005b), Silveira et al. (2006) e Vale et al.
(2008), justificado, provavelmente, pela menor
uma planta normal.
Os resultados obtidos nos testes de avaliação da velocidade de trabalho adotada neste trabalho. O
qualidade fisiológica das sementes foram coeficiente de variação encontrado foi de 6,18%.
interpretados de acordo com a terminologia e as Na semeadura do milho, a velocidade periférica
fórmulas descritas em Borghetti e Ferreira (2004). do disco dosador da semeadora-adubadora calculada,
Sendo assim, para estimar a germinação, que segundo as condições de trabalho e regulagens da
representa a porcentagem de sementes germinadas máquina, foi em média de 0,07 e de 0,13 m s-1 para
em relação ao total de sementes postas para 2,5 e 4,4 km h-1, respectivamente, com coeficiente de
germinar, utilizou-se a Equação 6. variação de 6,18%. Nas duas velocidades de
deslocamento, a velocidade periférica do disco
G
ni
100 (6) dosador ficou abaixo da velocidade mínima
N determinada por Delafosse (1986).
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Velocidades acima de 0,32 m s-1 podem distribuídas pela máquina não foi afetada pelos
prejudicar a uniformidade de distribuição, pois, mecanismos dosadores, comparando-se aos valores
com essas velocidades, as sementes não têm tempo obtidos pela testemunha (sementes que não
suficiente para preencher todos os furos do disco passaram na semeadora).
dosador, com isso haverá falhas na distribuição. Já No teste de germinação, observou-se redução
velocidades abaixo de 0,29 m s-1 favorecem o deste valor para as sementes que passarem pelo
preenchimento total dos furos do disco dosador, e mecanismo dosador de sementes, determinando-se
somente podem ser problemáticas quando as em média o valor de 98% para a testemunha, e
sementes tiverem tamanhos muito menores que os 95,3% para as velocidades de 2,5 e 4,4 km h-1, com
furos do disco, com isso, os furos do disco dosador coeficiente de variação de 1,5%.
De acordo com esses resultados, pode-se inferir
podem capturar duas ou mais sementes ocorrendo
que o mecanismo dosador da máquina, em ambas as
o surgimento de duplos no ato de semeadura –
velocidades de trabalho, diminuiu em igual
duas ou mais sementes depositadas com um espaço
proporção à germinação, uma redução de 2,7%,
menor entre elas do que o espaço normal – essas quando comparado com as sementes que não
plantas competirão entre si e o seu crescimento, passaram pelo mecanismo dosador.
desenvolvimento e produção serão afetados por
essa razão (MANTOVANI et al., 1999; VALE Conclusão
et al., 2008).
A profundidade de plantio nas duas velocidades Com o aumento da velocidade de deslocamento,
ficou menor da qual se desejava depositar a semente, houve aumento da patinagem dos rodados da
regulada para 5,0 cm, observando-se, para 2,5 e 4,4 semeadora, capacidade de campo efetiva,
km h-1, os valores médios de 2,88 e 3,75 cm, profundidade de plantio, velocidade periférica do
respectivamente. A maior velocidade ensaiada disco dosador de sementes e ocorrência de duplos, e
decréscimo de sementes distribuída por metro e
proporcionou uma profundidade de semeadura mais
sementes expostas.
próxima da desejada.
Já com o aumento da velocidade de
Pode-se observar que, na velocidade menor,
deslocamento do trator, observou-se decréscimo da
houve em média 2,13 sementes por metro expostas,
patinagem dos rodados do trator.
enquanto, na velocidade maior, essa média foi de 1,5
A passagem das sementes pelo mecanismo
sementes por metro.
dosador diminuiu a porcentagem de germinação das
Nas velocidades ensaiadas de 2,5 e 4,4 km h-1, sementes de milho.
observou-se 6,5 e 5,9 sementes por metro em média,
respectivamente, com coeficiente de variação de Referências
20,81%.
A ocorrência de duplos foi maior quando o ASAE-American Society of Agricultural Engineers.
General Terminology for Traction of Agricultural
conjunto se deslocou com maior velocidade, fato Tractors, Self-Propelled Implements and Traction and
constatado por Mantovani et al. (1999). Porém, para Transport Devices. In: ASAE Standard 1996: standards
Silveira et al. (2005), estatisticamente, não foram engineering practices data. St. Joseph: ASAE, 1996.
observadas diferenças significativas entre as médias p. 116-118.
dos tratamentos, ou seja, as populações iniciais e ASAE-American Society of Agricultural Engineers.
finais de plântulas de milho não foram afetadas pelas Terminology and definitions for agricultural tillage
três velocidades de deslocamentos, em duas implements. In: ASAE Standards 2003: standards
semeadoras-adubadoras estudadas. Esse resultado foi engineering practices data. St. Joseph: ASAE, 2003.
p. 373-380.
diferente daquele obtido por Mello et al. (2003), que
BALASTREIRE, L. A. Máquinas agrícolas. São Paulo:
ao avaliarem uma semeadora com dosador
Manole, 2005.
pneumático, trabalhando com quatro velocidades de
BORGHETTI, F.; FERREIRA, A. G. Interpretação de
deslocamentos, encontraram diferenças estatísticas resultados de germinação. In: FERREIRA, A. G.;
significativas para a população final de plantas. BORGHETTI, F. (Ed.). Germinação: do básico ao
Porém, Oliveira et al. (2000) observaram que o aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004.
número de sementes por hectare e o estande final BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária.
não foram influenciados pelas velocidades de Regras para Análise de Sementes. Brasília:
trabalho avaliadas (5,0 e 7,0 km h-1) e pelo tipo de DNDV/SNAD/CLAV, 1992.
cobertura (milho, labe-labe e vegetação espontânea). DELAFOSSE, R. M. Máquinas sembradoras de grano
Observaram também que a qualidade das sementes grueso, descripción y uso. Santiago: FAO,1986.
Acta Scientiarum. Agronomy Maringá, v. 33, n. 3, p. 417-422, 2011
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