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A estética de Cister

A estética de Cister tentou desde as origens da ordem a busca de uma pobreza


absoluta, ou o que é o mesmo, que não existisse nenhuma forma de riqueza. Isto
supõe a antítese da ordem de Cluny, cujas construções eram grandiosas.

Em 1124, Bernardo escreveu Apología a Guillermo, uma forte crítica ao que ele
considerava os excessos da ordem de Cluny. Neste escrito, Bernardo reprendió
duramente a escultura, a pintura, os adornos e as dimensões excessivas das igrejas
dos cluniacenses. Partindo do espírito cisterciense de pobreza e ascetismo rigoroso,
chegou à conclusão de que os monges, que tinham renunciado às bondades do
mundo, não precisavam de nada disto para reflexionar na lei de Deus.

Os argumentos que empregou em seu Apología são os seguintes:

• Sobre as pinturas e os adornos, recusou-os nos


monasterios e justificou-os nas parroquias. Estas são as
razões que expôs: Mostre-lhes um quadro formoso de algum
santo. Quanto mais brilhantes são as cores, mas santificado
parecer-lhes-á a eles. Há mais admiração pela beleza que
veneração pela santidad. Assim as igrejas se enfeitam. Vemos os
candelabros de bronze grandes, maravilhosamente lavrados. Qual
é o propósito de tais coisas? Ganhar a contrición de penitentes ou
a admiração dos espectadores? Se as imagens sagradas não
significam nada a nós, por que não economizamos pelo menos na
pintura?. Convenho. Permitamos que isto se faça em igrejas
porque se é dañoso para o inútil e cobiçoso, não o é para o
simples e o devoto.

[[Arquivo:Fontenay23.jpg|thumb|right|160px|Capiteles de Abadia de Fontenay|


Fontenay[["

• Rejeição das esculturas nos monasterios. Argumentou:


Mas nos claustros, onde os irmãos estão a ler, que são essas
monstruosidades ridículas...metade-homens, tigres rayados,
soldados que lutam e caçadores soprando seus cornos....de modo
que... tão maravilhosas são as várias formas que nos rodeiam que
é mais agradável ler o mármol que os livros, e passar no dia
inteiro com estas maravilhas que meditando na lei do Bom
Senhor.
• Rejeição de igrejas suntuosas nos monasterios. Sobre as
igrejas da ordem de Cluny, lamentou sua altura excessiva, sua
longitude e sua largura desmesuradas.
• Rejeição das riquezas nos monasterios porque não são
necessárias e porque as precisam os pobres. Empregou esta
argumentación: Mas os monges que têm renunciado às coisas
preciosas e encantadoras deste mundo para se entregar a Cristo.
Estamos a procurar dinheiro ou mais bem benefício espiritual?
Todas estas vaidades costosas mas maravilhosas, inspiram à
gente a contribuir com dinheiro mais que a rogar e rezar. Vestem
à igreja com pedras de ouro e deixa a seus filhos ir nus. Os olhos
dos ricos alimentam-se a expensas do indigente. Finalmente, são
boas tais coisas para os homens pobres? E para os monges, os
homens espirituais?
A crítica feroz que realizou Bernardo, zombadora e apasionada, se
despregou sobre dois eixos. Em primeiro lugar, a pobreza voluntária:
estas esculturas e adornos eram uma despesa inútil; despilfarraban o
pão dos pobres. Em segundo lugar, um místico como ele que procurava
permanentemente o amor de Deus, recusava também as imagens em
nome de um método de conhecimento: as figuraciones do imaginario
dispersavam a atenção, apartavam-no de seu único fim legítimo,
encontrar a Deus através da Escritura.

Para Bernardo, a estética e a arquitectura deviam refletir o ascetismo e


a pobreza absoluta levada até um desposeimiento total que praticavam
a diário e que constituía o espírito do Císter. Assim terminou definindo
uma estética cisterciense cuja simplificação e desnudez pretendem
transmitir os ideais da ordem: silêncio, contemplación, ascetismo e
pobreza.

A estética se concretó na construção em pedra das duas primeiras


abadias, Claraval II e Fontenay com intervenção decisiva de Bernardo.
Ele foi o inspirador de ambas construções, de suas soluções formais e
de sua estética.

A abadia cisterciense
Lendas
Zona de monges Zona de conversos

1.-Igreja, 2.-Altar principal, 3.-Altares secundários,


4.-Sacristía, 5.- Lavatorio,6.-Escada de maitines,
7.-Clausura alta, 8.-Coro de monges, 9.-Banco de doentes,
10.-Entrada do claustro, 11.-Coro de conversos, 12.-Callejón de
conversos,
13.-Pátio, 14.-Armarium para os livros, 15.-Claustro,
16.-Sala capitular,17.-Escada dormitório, 18.-Dormitório
monges,
19.-Letrinas, 20.-Locutorio, 21.-Passo,
22.-Scriptorium, 23.-Sala de novicios, 24.-Calefactorio,
25.-Refectorio de monges, 26.-Púlpito de leitura, 27.-Cozinha,
28.-Despensa, 29.-Locutorio de conversos, 30.-Refectorio de
conversos,
31.-Passo, 32.-Almacén, 33.-Escada,
34.-Dormitório conversos, 35.-Letrinas

A vida monástica dos monges vivia-se dentro de clausura. Sua


espiritualidade ordenava-se pela regra: silêncio, disciplina, obediência
ao abade, horário rigoroso distribuído entre numerosos rezas em
comum, leituras religiosas e trabalho manual.

Ademais, na abadia vivia uma segunda comunidade, a dos conversos.


Viviam sua entrega espiritual no trabalho diário no campo, não sabiam
ler e não mantinham nenhum contacto com a comunidade de monges.
Isto último se conseguiu desenhando duas zonas no mosteiro estancas
e incomunicadas entre si. A zona dos conversos tinha a mesma
qualidade construtiva que a dos monges.

A uniformidade da ordem estabelece-se no Exordio de Císter e


Resumem da Carta de Caridade:

Para que entre as abadias se mantenha sempre uma unidade indissolúvel


estabelecemos, em primeiro lugar, que a regra de S. Bento seja
entendida por todos da mesma maneira, sem se desviar dela nem um
pouco. Em segundo lugar, que todos tenham os mesmos livros, ao
menos, no tocante ao Oficio divino, a mesma roupa, os mesmos
alimentos e por último os mesmos usos e os mesmos costumes.

Todas as abadias têm também uma arquitectura similar. Em primeiro


lugar, procuraram-se soluções construtivas para a cada dependência
que favorecessem o espírito da regra, o que se chama o
estabelecimento do programa tipo , ou resumidamente plano tipo,
onde Bernardo de Claraval teve uma influência decisiva. Em segundo
lugar, uma vez estabelecido o plano tipo, impôs-se nas novas
construções.

O plano tipo aplicou-se na construção de todos os novos mosteiros.


Assim, a igreja se orientava na direcção este-oeste com a cabeceira
ao este; o claustro adosavasse à igreja; a asa este do claustro
dedicava-se a dependências dos monges com a sala capitular no
térreo e o dormitório na planta primeira com duas escadas, uma que
baixa ao interior da igreja e a outra ao claustro; na asa do claustro
contrária à igreja dispunha-se o refeitório e a cozinha; na asa oeste
(normalmente, com acesso independente do claustro), um edifício de
duas plantas destinava-se aos conversos e armazenes com acesso
independente à parte traseira da igreja.

Cada abadia mãe transmitia a suas filhas o plano arquitectónico que


tinha aplicado anteriormente na construção de sua própria abadia e
toda sua experiência acumulada. Além do mais, todos os abades se
reuniam no Capítulo Geral, uma vez ao ano, e está comprovado que
se falava muito da construção das novas obras. Por último, na
construção propriamente dita do novo mosteiro, vivendo no dia a dia
da obra, o abade tinha a um monge encarregado, cuja
responsabilidade era o controle das obras e das finanças.

Em 1098 três monges, dirigidos por Roberto, abade de Molesmes, trocaram a pompa e circunstância
próprias de Cluny, as suas glórias, riquezas e poder terrenos por uma vida de recolhimento mais
condizente com o Evangelho, criando em Citêaux, na Borgonha, a 1ª abadia daquela que será a partir
desse momento conhecida como a Ordem de Cister, a qual chegará a possuir por toda a Europa
Ocidental cerca de 750 mosteiros.

Neste sentido, a Cluny, que adoptou uma espiritualidade em que o essencial é o serviço de Deus, o opus
dei, a que os monges podem dedicar-se graças ao rebanho de servos, opõem-se os adeptos (dentre os
quais Cister) de uma mística que una a oração e o trabalho manual praticado pelos monges juntamente
com os conversos ou irmãos leigos; aos religiosos cuja espiritualidade se alimenta do esplendor das
igrejas do brilhantismo da liturgia e da pompa dos ofícios religiosos opõem-se aqueles apaixonados pela
simplicidade da vida e pelas linhas puras e sem ornamentos contra o barroco românico que se compraz
nos sumptuosos revestimentos, nos caprichos de uma ornamentação atormentada e nas vestes de seda;
Cister acolhe um estilo novo, quer espiritual quer material, mais rigoroso e mais bem ordenado que
despreza o pormenor em favor do essencial.

Portanto: maior exigência na vida monástica, humildade e austeridade; busca do lugar isolado e calmo;
empenhamento na oração pessoal e sobrevivência através do trabalho manual; flexibilidade na relação
hierárquica entre a abadia-mãe e as abadias-filhas no respeito pela autonomia, pela responsabilização
individual e autonomia económica. Uma única imposição: a “visitação” efectuada pelo Abade da casa-
mãe o qual regularmente verificava a fidelidade à regra de S. Bento e a manutenção dos bons usos e
costumes; mesmo Citeâux era visitada colegialmente pelos 4 abades dos mosteiros a que tinha dado
origem.

A fundação de um novo mosteiro era morosa e formal: assim que a casa-mãe tivesse e pudesse sustentar
60 monges deveria desmembrar-se e criar uma nova fundação (1 Abade e 12 monges). O local de
implantação da nova abadia devia ser relativamente isolado, possuir água e ser auto-suficiente; os
membros deviam declarar respeitar a regra e a Carta de Caridade, consagrar-se à protecção da Virgem
Maria, evitar a ingerência dos senhores laicos ou eclesiásticos, garantir, logo de início, a posse plena do
território em que se implantava e por fim submeter-se à aprovação do Capítulo Geral. No entanto, será
a filiação de comunidades beneditinas ou eremíticas pré-existentes e aderentes à observância de Cister
que darão origem à maior parte dos mosteiros da Ordem.

A união do trabalho no campo com o papel de usufrutuário irá conduzir à melhoria da produção e ao
surgimento de inovações nas suas propriedade devido sobretudo à conjugação do conhecimento prático,
capacidade económica e entreajuda entre os mosteiros.

Nem todos possuem granjas, as quais necessitam de uma série de requisitos para serem criadas. A maior
parte das propriedades será constituída por pequenas propriedades sujeitas à actividade agro-pecuária
com uma especialização produtiva da mesma. Outro factor importante de desenvolvimento era a posse
de unidades de transformação, nomeadamente moinhos, as quais se encontravam mais perto dos
mosteiros para melhor controle. Através desses meios era possível aceder ao numerário quer colocando
no mercado excedentes transformados quer cobrando pelo uso dos mesmos. Outra forma de aceder ao
dinheiro era através da posse de bens urbanos e da cobrança de rendas sobre os mesmos.

Esta situação não era imune às criticas; Walter Map, cortesão inglês lançou em 1180 um ataque
vitríoloco contra o que chamou a hipocrisia dos monges que, sendo estritamente vegetarianos criavam
alegremente milhares de galinhas e porcos, que talvez comessem em segredo, e contra os
arroteamentos extensivos que chegavam a destruir aldeias e igrejas para se poderem implantar num
“deserto” isolado como a sua regra impunha, mas nunca tão isolado que não acedessem às vias
principais de escoamento dos produtos e a sua colocação nos melhores mercados.

Em termos artísticos, Cister nega toda a ostentação, visa despojar-se do acessório e buscar a
essencialidade em oposição ao simbolismo cluniacense. Renúncia à escultura colocando-se dentro de
uma corrente essencialista presente no mundo cristão em movimentos iconoclastas quer na igreja do
oriente ou em determinada arquitectura moçárabe, quer no primeiro românico e também na reforma
carmelita; as ordens mendicantes postularam a simplicidade na arte e na mesma altura o movimento
almoáda apregoa para a arte islâmica a mesma sobriedade expressiva. Em oposição a uma outra frente
que defende os excessos arquitectónicos, artísticos, figurativos ou decorativos como manifestação na
terra de Deus no céu.

Às formas simbólicas de decoração preferem-se as de


cunho naturalista; também a imagem dum Cristo em
majestade, distante senhor do mundo e dos homens
dará a vez a uma figuração em que é acentuada a sua
figuração humana, desde o nascimento até ao
martírio.

Um novo sistema de valores simbólico que o gótico


apurará; em vez de ser apenas um simples símbolo da
realidade as coisas ganham valor em si: as flores são
flores reais, as feições humanas são feições
individuais, as proporções são das medidas materiais e
não significações. Um olhar menos sacralizado do
universo, mais empobrecedor mas mais libertador face
à asfixiante atmosfera mágica em que eram
envolvidos.

A arquitectura foi em grande medida condicionada


pela procura; era tal o poder de atracção que a nova
espiritualidade e a pregação de Bernardo exerciam na
juventude europeia que se impôs a funcionalidade a
simplicidade a racionalização do espaço e a eficácia.
Uma vez que os muros também eram levantados pelos
monges impôs-se a adopção de um plano homogéneo,
unitário o qual começava sempre pela construção de
um oratório destinado a ser posteriormente a igreja
monástica. Daqui resulta o adelgaçar das paredes e o
aparecimento de abóbodas mais leves que, com os
seus pilares colunas e arcos, criam uma estrutura mais leve e aberta mas, também o facto destas
soluções arquitectónicas condicionarem a monumentalidade dos edifícios.

Como novidades, a difusão do arco em ogiva que já tinha aparecido em algumas igrejas românicas,
nomeadamente em Inglaterra, e a abóboda sobre cruzamento de ogivas acabando com o arco de meio
ponto românico o que permite maior altura e mais luminosidade. A linha recta é desviada no alto pelos
arcos de ogiva, a ábside é recta ou poligonal acabando com a referência simbólica à rotundidade celeste
sugerida pelos arcos, abóbodas e ábsides românicas; muros limpos, arcos angulares com o seu ponto de
encontro perdido nas alturas, vãos perfurados sem aditamentos em grandes superfícies murais, perfeito
esquadriamento e pulidez. A pedra é pura, exibida com toda a sua força e nudez, a pedra imutável,
eterna, sobre a qual passam lentamente luzes e sombras ao longo do dia e nada mais; é a sobriedade
cisterciense da essencialidade do inacessível que dispõe o espírito em direcção a Deus.

A luz é essencial, é ela que vitaliza a imobilidade e a nudez da pedra e que lhe confere um movimento
sereno, tal como o criador dá a vida às suas criaturas, adquirindo por isso um simbolismo de primeira
grandeza na arquitectura cisterciense, mas os vitrais não são mais que simples vidraças rasgadas na
parede.

A sonoridade joga aqui o outro papel essencial: com um domínio da acústica sem precedentes os
construtores souberam dispor os seus limpos muros, colunas, arcos e abóbodas para que reflectissem
uma sonoridade única, como um primado da audição sobre a visão: “Só o ouvido entende a verdade pois
que percebe o Verbo” - S. Bernardo.

As igrejas cistercienses foram construídas para reverberar com o canto monódico envolvendo quem
escuta o canto sagrado, sendo necessário encontrar o intervalo da ressonância justa próprio de cada
igreja, cada nota puramente entoada cria o seu próprio universo sonoro e harmónico, a pedra vibra com
o coro e o templo é um imenso instrumento de música em que o canto é ritmado pelo alento do homem.

A arte cisterciense plasma um ideal luminoso em que Deus é o fim absoluto da vida do homem, num
mundo em evolução pelo progresso das cidades e de uma burguesia poderosa e extrovertida, um mundo
em transição, de regresso à Natureza.
*

Esta ruptura face à ostentação do românico cluniacense é uma resposta no âmbito monástico e visa
levar o rigor a todos os aspectos da vida do monge; corta, poda e purifica, renegando o que corrompeu o
monaquismo ocidental sem perder o respeito pelo passado e pelas fontes antigas, das novidades
aproveita só o que lhe poderá ser útil.

Não deixando de poder ser classificado como um românico despojado e sem poder deixar de estar
comprometido com o gótico, principalmente após a morte de Bernardo, seguirá de perto o seu
pensamento.

Como S. Bernardo aproveitará inovações, de que foi por vezes pioneira, como a arquitectura hidráulica
e novas formas de pensamento espiritual com especial relevo para a teoria da luz e modificações quer
litúrgicas quer simbólicas que terão consequências técnicas ao nível da divisão do espaço e da sua
elevação, e neste sentido Cister terá um papel importante na difusão do gótico.

Como ele, irá renegar a grandiosidade do gótico, a sua mundaneidade ligada às urbes e as construções
do pensamento escolástico que, nas nascentes universidades falavam já da razão e da lógica. O estilo
cisterciense é obra de e para espirituais e perfeitos, ou seja, para monges, é uma estética da
frugalidade que busca a beleza interior oposta à beleza da ostentação.

São Bento (c.480-547)

Nascido em Núrsia, no seio de uma família importante, abandona a escola romana e refugia-se como
eremita em Subiaco onde a fama de asceta lhe granjeia inúmeros discípulos; posteriormente instala-se,
segundo a tradição, em 529 no Monte Cassino. A sua vida só é conhecida de forma lendária e ainda hoje
se discute se será ele o autor da célebre regra monástica que tem o seu nome e se ela será anterior a
uma outra, próxima, mas mais formalista conhecida como a Regra do Mestre.

O essencial é que, num momento em que o monaquismo ocidental passava pela necessidade de se
organizar, a regra de S. Bento impôs-se rapidamente devido ao equilíbrio que criava entre a austeridade
e a moderação, à autoridade do abade e ao respeito pelos monges - bem como pelas práticas pias e pela
actividade económica (trabalho manual) e intelectual (cópia e leitura de manuscritos).

Afastada do extremismo ascético do monaquismo oriental ou irlandês, esta regra contribuiu para a
formação de uma certa tradição ocidental sob o lema Ora et Labora.

São Bernardo (c.1090-1153)


Nascido no castelo de Fontaine perto de Dijon, França, foi o
terceiro de seis irmãos e ainda muito jovem ingressou na
recém criada abadia de Citêaux sob uma observância rigorosa
da regra de São Bento. Possuí-a um tal poder de atracção que
4 dos seus irmãos, um tio e 25 amigos nobres se fizeram
monges para grande consternação de seu pai o qual
finalmente, também acabou por ingressar em Citêaux.

Com o sucesso da nova observância conhecida como de Cister


(do nome da primeira abadia) e dois anos depois de aí ter
ingressado, Bernardo é designado conjuntamente com outros
12 irmãos para fundar uma outra abadia que será Clairvaux
(1115) a leste de Paris, à qual estarão ligadas a maioria das
abadias portuguesas e espanholas. Nos 38 anos em que
dirigirá Clairvaux a sua acção irá marcar a vida religiosa e
política de França e do ocidente medieval. Cister crescerá
até atingir 165 mosteiros, tendo fundado pessoalmente 68.

De constituição frágil e de pouca saúde Bernardo é de uma


grande exigência quanto ao seu comportamento pessoal ao
nível da ascese - o seu noviçado será um ano de mortificação
total e absoluta, quase não dormia nem comia tão absorto
estava na sua lectio divina, passa as horas em oração e
trabalho, sem falar e rir ou viver mundanamente, abstraía-se
de tal forma que lhe acontecia não saber onde estava ou o
que fazia, estando várias vezes enfermo. Por fim começa a
sua verdadeira vocação a de iluminar os outros e com tal
sucesso na atracção de novos noviços que o Abade Estevão
teve que ordenar a construção de um novo mosteiro
(Clairvaux).

Foi um revolucionário no sentido de redentor e reformador;


um rebelde no sentido em que, tal como S. Francisco, se viu
na contingência de enfrentar o poder, dentro e fora da
igreja; foi um visionário já que se adiantou ao seu tempo escrevendo coisas que encontraremos mais
tarde nos místicos dos secs XVI-XVII; foi um exemplo, tendo feito da sua vida um monumento à fé cristã
e foi um grande Doutor da Igreja traçando planos e projectos, elaborando escritos e sermões,
desenhando e estruturando ideias dentro da sua própria ordem: percorrerá boa parte da Europa,
frequentando concílios e pregando, será a alma da 2ª cruzada à Terra Santa e dedicará boa parte do seu
tempo à escrita donde ressalta o optimismo a doçura, a dedicação a um Deus de amor e a caridade;
escreveu também a regra para a Ordem dos Cavaleiros Templários e, sobretudo, foi o grande
impulsionador e defensor do culto a Maria: diz a lenda que, tendo passado em frente a uma imagem de
Maria e tendo-a saudado com um “Ave Maria”, como fazia sempre, a imagem respondeu-lhe com um
“Ave Bernardo”.

Por outro lado, tinha um grande sentido militante e militarista da afirmação da religião e da ortodoxia
religiosa. Era um polémico mordaz e o monge mais poderoso do séc. XII, entendia o monaquismo como
uma vida de rigorosa obediência e de abnegação extrema. Espírito missionário, imiscuía-se em todo o
lado onde se fizesse sentir a severidade e concentração necessárias à vida religiosa e agiu firmemente
contra os dissidentes teológicos. As ligações políticas que estabelece, ao ponto de “fazer” o Papa
Inocêncio II, vão dar-lhe um poder decisivo na Europa de então dominada pela Igreja, foi conselheiro
espiritual de Papas, soberanos e prelados, tendo, inclusivamente, ajudado à fundação de Portugal. Uma
imensa obra intelectual que lhe valeu o título de Doutor de Igreja. O Papa Pio XII apelidou-o de “o
último dos Padres da Igreja, e não o menor”.

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