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Ronald Harry Coase

por Sergio Da Silva1

1.A Pessoa e o Produto Científico

Velho Estilo, Idéias Modernas

Ronald Harry Coase é professor emérito na Escola de Direito da Universidade de


Chicago e ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1991. É um inglês
radicado nos Estados Unidos que publicou pouco e esparsamente, mas que
marcou pontos em assuntos fundamentais em economia e foi fulminante ao
destruir velhas abordagens e redirecionar a maneira de tratar os problemas
estabelecidos. Se Coase fosse um jogador de futebol, certamente ele seria um
craque daqueles que aparecem pouco durante uma partida, mas que sempre que
recebem a bola marcam gols lendários em jogos decisivos para a sua equipe. Ele
escreveu os seus melhores artigos, de modo acessível mesmo para as pessoas de
fora do clube dos economistas, quando ainda se encontrava na Universidade da
Virgínia. Esses artigos vêm obtendo uma evidência que cresce, nos últimos dez
anos, mais do que logo depois de publicados. Sua produção científica pode ser
considerada moderna, embora Coase seja um economista do velho estilo, como,
aliás, a maioria dos laureados pelo prêmio Nobel: o seu melhor trabalho foi
publicado décadas atrás; ele não tem um PhD; e se sente à vontade com a
linguagem verbal, não matemática.

O prêmio de Economia foi instituído apenas em 1969 e ainda não foram


contemplados todos os que tiveram boas idéias nas décadas anteriores: há uma
longa fila de espera, que provoca sempre uma aprazível especulação de sala de
estar, entre os economistas entusiasmados com a sua ciência, a respeito da ordem
dessa fila, já que sobra pouca discussão em torno dos nomes que se encontram na
fila do prêmio. Este, aliás, tem sido em geral concedido pela Real Academia
Sueca aos economistas cujas melhores contribuições tenham sido a resolução de
problemas postos -- esse é o caso, por exemplo, de Paul Anthony Samuelson, o
prêmio Nobel de 1970 -- bem como para aqueles que tenham se empenhado em
formular os problemas, ou melhor, em propor novas abordagens para os
problemas preestabelecidos. Coase certamente se enquadra nesse último tipo de
premiação.

Os seus três principais artigos são: (i)"A Natureza da Firma" (The Nature of the
Firm), que data de 1937; (ii)"O Problema do Custo Social" (The Problem of
Social Cost), de 1960; e (iii)"O Farol na Economia" (The Lighthouse in
Economics), escrito em 1974.2

A Firma

Um estudante de microeconomia nos dias de hoje aprende que um indivíduo


escalona as suas preferências, dada a sua restrição orçamentária, visando atingir
uma situação de máxima satisfação; a partir daí, demanda quantidades de
determinada mercadoria (e, quem sabe, compra uma certa quantidade)
observando principalmente o preço, o preço das outras mercadorias, a sua renda e
o seu gosto. Após a teoria do comportamento do consumidor, passa a estudar o
comportamento do produtor (e possivelmente vendedor); aqui, porém, a análise
não mais focaliza o indivíduo, mas sim um conjunto de indivíduos que agem em
bloco: a firma.

O aluno perspicaz pode fazer a pergunta que Coase fez no seu artigo de 1937
(Coase [6]). Por que firmas? Por que empresários, gerentes e trabalhadores
escolhem se unir, em vez de comprar e vender os seus serviços como freelances,
individualmente e uns aos outros, em mercados à vista? A resposta -- que Coase
forneceu quando ainda era um estudante de graduação -- é que as transações
envolvem custos. As relações contratuais de longa duração entre empresários,
gerentes e trabalhadores se desenvolvem para reduzir esses custos e, portanto,
para aumentar o valor da produção, através da sua organização pela firma. Dentro
da firma, as barganhas individuais entre os vários fatores de produção em
cooperação são eliminadas (Coase[8] :16). Faz sentido, portanto, começar a
análise do comportamento dos produtores considerando a firma como a unidade
básica, entendida não como uma coleção de pessoas e máquinas, mas sim como
uma teia de contratos mutuamente vantajosos. Passados mais de cinquenta anos,
esse assunto volta à pesquisa recebendo um tratamento na direção sugerida por
Coase.3

Ações Prejudiciais a Terceiros

No seu artigo de 1960, Coase [8] considerou o problema já colocado


anteriormente por Pigou ([14] :183): quando o indivíduo A presta um serviço
(recebendo um pagamento por isso) ao indivíduo B, incidentalmente também
presta um serviço ou desserviço a outros indivíduos (não produtores desse
serviço), de modo que o pagamento pode não remunerar aqueles indivíduos
beneficiados ou prejudicados.4 As ações de uns indivíduos podem ter efeitos
danosos sobre outros, como, por exemplo, uma fábrica de biscoito que lança
fumaça e prejudica a plantação de tomate da fazenda vizinha.

Até o aparecimento do artigo de Coase de 1960, o ponto de vista dos


economistas, influenciados por Pigou, era que o dono da fábrica deveria ser
responsabilizado pelo prejuízo causado pela fumaça e, portanto, as pessoas
lesadas por ela deveriam ser indenizadas monetariamente. Alternativamente, o
governo poderia cobrar uma multa ao dono da fábrica, proporcional em termos
monetários à quantidade de fumaça produzida. Outra alternativa seria proibir a
fábrica de operar próxima às fazendas ou aos distritos residenciais. Para Coase,
essas saídas seriam inadequadas, uma vez que levariam a resultados não
necessariamente desejáveis (Coase[8] :2).

Nova Abordagem

Na abordagem tradicional, se A prejudica B, o que tem que ser decidido é: como


devemos reprimir A? Ou seja, para evitar o prejuízo sobre B devemos infligir um
prejuízo sobre A. Segundo Coase, isso está errado por não perceber a correta
natureza da escolha, isto é, por não entender que o problema é de natureza
recíproca. A questão correta é: devemos permitir que A prejudique B ou devemos
permitir que B prejudique A? A idéia é evitar o prejuízo mais sério.

Em termos do nosso exemplo, o assunto a ser decidido é: o valor dos tomates


destruídos é maior ou menor do que o valor dos biscoitos produzidos pela fábrica
com o lançamento de fumaça na plantação? A resposta a ser dada somente fica
clara quando conhecemos o valor do bem juntamente com o valor do outro bem
que é sacrificado para se obter o primeiro (Coase[8] :2). Coase compara a
abordagem tradicional com o seu enfoque da seguinte maneira: se o governo não
cobrar a multa pode haver mais fumaça e menos pessoas na vizinhança da
fábrica, além de menos tomates; com a multa pode haver menos fumaça, menos
biscoitos e mais pessoas na vizinhança. Coase argumenta que não há razão para
supor que um desses resultados seja necessariamente preferível, antes de
computarmos os ganhos e as perdas em cada caso. Se a multa contribui para
aumentar a produção global -- através de mais tomates -- ela também contribui
com a sua redução -- por reduzir os biscoitos. Portanto, ao invés da
regulamentação governamental procurar eliminar completamente a poluição de
fumaça, ela deveria aceitar uma quantidade ótima de poluição, correspondente ao
valor máximo da produção global (Coase[8] :42).

O que Coase está propondo é tratar esse problema a partir do mesmo esquema
conceitual empregado no estudo da firma: a abordagem do custo de
oportunidade5, comparando as receitas obtidas a partir de uma dada combinação
dos fatores de produção com os arranjos econômicos alternativos (Coase[8] :43).

A Desconsideração de Prejuízos e Benefícios

Depois de Coase ter escrito o seu artigo de 1960, tornou-se usual dizer que existe
uma externalidade quando a ação do indivíduo A afeta os outros -- adversamente
ou positivamente -- e o indivíduo A não é forçado a pagar pelos efeitos adversos
de sua ação ou a ser reembolsado pelos seus efeitos positivos. Já que A não tem
que pagar a, nem ser pago por, aqueles que prejudica ou beneficia, o prejuízo ou
o benefício é "externo" a ele. Nesse caso, A não é forçado a levá-lo em
consideração quando toma as suas decisões: ele não "internaliza" o prejuízo ou o
benefício. Pelo fato de A não internalizar os efeitos prejudiciais de algumas de
suas ações, ele executa mais dessas ações do que o "socialmente ótimo". O
montante socialmente ótimo de qualquer ação a ser empreendida é aquela
quantidade que iguala o custo marginal da ação ao seu benefício marginal. 6 Como
o indivíduo A não considera todos os custos marginais -- para os outros e para si
mesmo -- ele executa muito daquela ação, escolhendo uma quantidade dela acima
da socialmente ótima.

Veja que, nesse caso, as transações voluntárias em que A participe podem não
resultar numa alocação ótima dos recursos. A economia de mercado não atinge,
na presença do fenômeno da externalidade, a situação que os economistas
batizaram de ótimo de Pareto, em que os recursos são utilizados de um modo que
é impossível que alguém melhore a sua situação sem que, com isso, outra pessoa
fique em situação pior. No ótimo de Pareto ocorre a eficiência econômica, em
que as transações voluntárias chegam a uma situação onde não há desperdício.
Diante das falhas do mercado, os economistas costumam sugerir a ação
governamental para consertar os defeitos provocados pelas externalidades.

Os Direitos de Propriedade

O argumento de Coase implica que as externalidades são um problema somente


quando existem altos custos para definir, fazer cumprir e transacionar os direitos
sobre a propriedade privada. A definição desses direitos funciona como uma
maneira de forçar os indivíduos a internalizar os seus efeitos sobre os outros que
não participam da troca. Uma vez estabelecidos esses direitos, as externalidades
somente podem provocar a falha do mercado no caso em que os custos de
transação desses direitos pelas partes envolvidas sejam altos. Ou seja, tão logo os
direitos sejam concedidos a uma das partes, eles podem ser transacionados: se os
custos envolvidos nessa transação não forem muito altos, os direitos ficarão, em
última instância, com o indivíduo que conferir maior valor a eles. Essa visão
destrói a premissa de que as externalidades pedem automaticamente a presença
do governo.

Em suma, esse argumento -- que ficou conhecido como o teorema de Coase --


estabelece o seguinte: se os direitos de propriedade sobre qualquer recurso forem
definidos, e se os custos de transacioná-los forem suficientemente baixos, a
utilização final do recurso independe da concessão inicial desses direitos a uma
das partes, embora a decisão dos juízes afete a distribuição da riqueza entre elas.
(De fato, alguém que se torna dono de um direito de propriedade fica em melhor
situação do que quem não obteve esse direito).

O Consumo Sem Exclusividade

O artigo de 1974 (Coase [9]) discute outra argumentação para a existência de


falhas no mercado: aquela relacionada aos bens públicos. Os bens públicos são
aqueles que podem ser consumidos sem exclusividade. Se tomo este comprimido
você não pode tomar o mesmo comprimido; mas se assisto a um programa de TV
não posso impedir que você também o assista. Este último é um exemplo de bem
público. O exemplo tradicional era o dos faróis. Os faróis iluminam uma faixa do
mar sem impedir que mais de um navio se beneficie da luz refletida no local. Um
navio de outra bandeira pode consumir a mesma luz que o meu navio: ele pega
uma "carona". Por causa disso, ele não é obrigado a pagar por esse serviço.
Existindo caronistas, há um desestímulo para o setor privado entrar num negócio
onde alguns podem consumir o produto sem que se possa fazê-los pagar. O ramo
de faróis reclamaria, assim, a entrada do governo, já que o mercado deveria
falhar.

No seu texto de 1974, Coase mostrou que os faróis podem ser (e tipicamente
foram) um negócio lucrativo para as empresas privadas, alertando para o fato de
que muitos bens que são considerados públicos podem perfeitamente ser
fornecidos pelo setor privado, sendo questionável a automática entrada do
governo.

Apresentamos, em seguida, os aspectos principais do produto intelectual de


Coase focalizando o seu artigo de 1960 (e, em especial, o teorema de Coase). A
sua visão de firma (o artigo de 1937) é utilizada apenas em conexão com a sua
discussão sobre o teorema de Coase. Por sua vez, do seu artigo de 1974
consideramos apenas a idéia de estender para os bens públicos os argumentos
utilizados no tratamento das outras externalidades. Em ambos os casos, o insight
básico de Coase é que o mercado de direitos de propriedade reduz o raio da ação
do governo que visa melhorar a alocação dos recursos.

Onde Está o Premiado?

Comentou a revista The Economist, de 19 de outubro de 1991, à página 34, que


Ronald Coase não estava propriamente esperando o prêmio de um milhão de
dólares (ou seja, as seis milhões de coroas suecas de então) pelo telefone. Nem o
comitê do Nobel nem a Universidade de Chicago sabia onde ele estava em 15 de
outubro, quando o prêmio foi anunciado. Ele somente foi encontrado no dia
seguinte, na Tunísia, por um correspondente da agência Reuters.

Coase não mais se encontra na ativa, mas o seu trabalho alimenta a recente
tendência antiintervencionista. Ele também deve ser considerado moderno se
contrastado com a crescente preocupação com o meio ambiente. Para esse
assunto, como veremos, a mensagem que se pode extrair do teorema de Coase é
que devemos ter cautela ao recorrer à intervenção governamental, uma vez que a
economia de mercado pode ser capaz de resolver, por si mesma, os problemas
ecológicos.

2.As Externalidades
Para entendermos mais acuradamente o fenômeno das externalidades, vamos
ilustrá-lo com alguns exemplos.

Pesca e os Direitos de Propriedade

Consideremos o caso em que pescadores resolvem pescar num determinado


trecho de um rio. Cada vez vez mais chegam pescadores, de modo que, a partir
de determinado número, entra em ação a lei dos rendimentos decrescentes. 7 Ou
seja, depois de um determinado número de pescadores já em atividade no trecho
do rio, um pescador adicional faz com que cada pescador pesque agora menos
peixes. O número total de peixes fisgados aumenta proporcionalmente menos do
que o número de peixes que o pescador que chegou por último pesca, já que cada
um dos outros pescadores pesca agora menos peixes do que antes da chegada do
colega indesejado.

Sem que os direitos de propriedade privada para o trecho do rio estejam


definidos, o pescador que chegou por último não é de nenhuma maneira obrigado
a levar em consideração o efeito prejudicial que ele causa aos pescadores antes
estabelecidos. Seu efeito é, portanto, um exemplo de externalidade negativa.

Desde que seja estabelecido o direito de propriedade sobre o trecho do rio, o seu
dono vai cobrar uma taxa para quem quiser pescar nele. Os pescadores aceitarão
pagá-la até o ponto em que a pesca marginal se iguale ao custo de oportunidade
de pescar. A pesca marginal é o montante em que aumenta a quantidade de peixes
pescados quando um pescador a mais vem para o rio. Ela será igual à pesca do
pescador que chegou por último menos a quantidade reduzida de peixes de todos
os outros pescadores. O custo de oportunidade de pescar é o único custo que o
pescador que chegou por último considera na ausência de direitos de propriedade
definidos, porém, com esses direitos estabelecidos, ele é forçado a considerar
também o seu efeito negativo sobre a pesca dos outros. Isso porque esse efeito é
medido pela taxa cobrada pelo dono do trecho do rio, que procura maximizar o
seu lucro.

Veja, portanto, que estabelecer direitos de propriedade funciona como uma forma
de obrigar os indivíduos, cujas ações prejudicam os demais, a internalizar o seu
efeito sobre os outros. No caso, a taxa cobrada pelo dono do trecho do rio ao
pescador que chega por último -- que corresponde à quantidade de peixes
equivalente ao ponto em que a pesca marginal se iguala ao custo de oportunidade
de pescar para cada pescador -- obriga-o a considerar não apenas o seu custo de
oportunidade de pescar, mas também a pagar a taxa que mede o seu efeito
prejudicial sobre os outros.

Índios e a Criação dos Direitos de Propriedade

Um outro exemplo interessante fornecido por Densetz [11] 8 é o caso dos índios
norte-americanos, conhecidos como Montagnes, que habitavam as cercanias de
Quebec. Antes de trocarem peles com os brancos, os Montagnes caçavam para
obter carne e vestuário suficientes para a sua sobrevivência. Não havia direitos de
propriedade privada definidos para os territórios de caça. Qualquer indivíduo
poderia caçar, de modo intensivo, em qualquer área. Como no exemplo da pesca,
a lei dos rendimentos decrescentes deveria entrar em ação a partir de determinado
momento, já que a quantidade de terras disponíveis para a caça era fixa. Na
propriedade comunal, cada caçador individual não tinha qualquer motivo para
achar que a intensidade de sua caça afetava o sucesso da caça dos outros. O
fenômeno da externalidade se encontrava latente. 9

Com a lei dos rendimentos decrescentes e as externalidades -- que, cedo ou tarde,


viriam se manifestar -- aquele comunismo primitivo não poderia durar para
sempre. Contudo, o advento da troca de peles apressou o surgimento dos direitos
de propriedade privada. O valor das peles aumentou enormemente para os índios
porque agora eles poderiam trocá-las por bens que nunca tinham visto antes.
Como consequência, a caça se intensificou. Os rendimentos decrescentes
apareceram e o problema da externalidade veio à tona. Assim, passou a ser
importante preservar os animais para a caça não se exaurir.

Os Montagnes começaram a assinalar direitos de caça exclusivos para famílias


individuais em áreas definidas. Eles perceberam que, para que a caça fosse
mantida, seriam necessários cuidados para que uma apropriada combinação de
reprodução e caça fosse instituída. O modo mais simples de fazer isso foi
conceder direitos de posse individuais sobre as terras de caça. Desse modo, os
direitos de propriedade privada emergiram como a solução natural.

Os índios do noroeste dos Estados Unidos desenvolveram um sistema de direitos


de propriedade semelhante ao dos Montagnes, contudo, os índios das planícies do
sudoeste não o fizeram. A explicação para este último fato talvez esteja na
inexistência, nessa região, de animais de importância comercial comparável aos
animais das áreas florestais dos arredores de Quebec. Além disso, esses animais
eram encontrados esparsamente a grandes distâncias, o que tornava difícil
estabelecer fronteiras de áreas de caça privadas. O custo de internalização dos
efeitos de um indivíduo sobre os outros era muito alto e o valor comercial do
estabelecimento de direitos, muito baixo. Por causa disso, não surgiram os
direitos de propriedade nesse local, por essa época. Já no noroeste norte-
americano, havia animais de floresta semelhantes aos das redondezas de Quebec.
Como consequência, nessa região -- frequentemente visitada por navios que
procuravam por peles -- os direitos de propriedade privada surgiram mais
rapidamente.

Abelhas e Laranjas

O exemplo típico de externalidade positiva é o das abelhas e das laranjas. Os


apicultores fornecem serviços de polinização aos plantadores de laranja. Como os
apicultores não são pagos por esse serviço, há uma produção de mel abaixo da
que poderia ser possível, caso eles fossem pagos pelos serviços de polinização do
laranjal. Por outro lado, as laranjeiras fornecem o néctar de que as abelhas se
alimentam e transformam em mel. Nesse caso, os plantadores de laranja também
não estão sendo pagos pela alimentação fornecida às abelhas. Existem benefícios
externos tanto nas ações dos criadores de abelha quanto nas dos plantadores de
laranja. Como veremos, isso ilustra o que Coase chamou de "a natureza recíproca
da externalidade".

A visão tradicional anterior a Coase encontrou nesse exemplo um caso típico para
o governo intervir, corrigindo os preços relativos através de taxas e subsídios
apropriados, com o intuito de levar em conta os benefícios que tanto os criadores
de abelha quanto os plantadores de laranja não percebiam ou, pelo menos, não
podiam cobrar.

3.O Teorema de Coase

O teorema de Coase estabelece que, quando os custos de transação são nulos, a


distribuição dos direitos de propriedade não altera a alocação dos recursos. Os
custos de transação incluem todos os custos associados à troca (no caso, a
transação dos direitos de propriedade privada); eles incorporam custos de
contratação, de realização de contratos e de obtenção de informações. Os custos
de informação são aqueles custos de transação que dizem respeito à obtenção de
informações sobre os preços, quantidades, disponibilidade e durabilidade, no
caso dos bens duráveis.
Vejamos agora a riqueza de detalhes do argumento de Coase, bem como as suas
múltiplas implicações.

Doces e Consultas Médicas

No seu artigo de 1959, Coase [7] considerou a diferença entre a abordagem de


Pigou e a sua própria, através do exemplo de uma doceria em que as trepidações
da máquina de fazer doces atrapalhava o seu vizinho médico em suas consultas.
Pela visão tradicional, o prejuízo sobre o médico poderia ser evitado infligindo-se
um prejuízo ao doceiro. Para Coase, o problema aqui é se vale a pena, do ponto
de vista da produção global, restringir os métodos de produção do doceiro para se
obter mais consultas médicas, ao custo de uma oferta reduzida de doces (Coase
[8] :2).

Vacas e Plantação

Um rancho de gado é separado de uma fazenda por uma faixa de terra onde os
direitos de propriedade não são definidos. Nessa circunstância, o fazendeiro
decide plantar na faixa de terra; em seguida, o gado do rancheiro vai pastar na
plantação. Surgida a contenda, se o juiz decidir em favor do fazendeiro, ele
determina que os direitos de uso da terra pertencem a este; se decidir em favor do
rancheiro, ele concede os direitos de propriedade a este último. Poder-se-ia
pensar que, uma vez concedido o ganho de causa ao rancheiro, por exemplo, a
faixa de terra seria efetivamente utilizada pelo gado. Porém, Coase demonstrou
que isso não necessariamente ocorre.

Considere o lucro anual adicional que o fazendeiro receberia se ele obtivesse o


direito de usar a faixa de terra, Lf, e o lucro anual adicional que o rancheiro
receberia se a ele fosse concedido o uso da faixa de terra, Lr. Coase argumenta
que, se Lf for maior do que Lr, a terra será usada efetivamente pelo fazendeiro,
mesmo que o juiz decida em favor do rancheiro; se Lf for menor do que Lr, a terra
será de fato utilizada pelo rancheiro, mesmo que o juiz decida conceder o direito
sobre a faixa de terra ao fazendeiro. Dessa forma, as prescrições legais não
podem suplantar as decisões maximizadoras de lucro das empresas, e, como
consequência, a alocação final dos recursos independe dos pareceres dos
tribunais. Coase assegura que isso sempre ocorrerá, enquanto os custos de
transação que tanto o fazendeiro como o rancheiro incorrem -- ao transacionar os
direitos de propriedade adquiridos -- não forem proibitivamente altos.
Mais especificamente, suponha que Lf=$1000, Lr=$600 e que o juiz decida em
favor do rancheiro. Este último vai permitir que o fazendeiro utilize a terra, caso
pague uma taxa de uso anual de qualquer valor acima de $600, que seria o seu
lucro se ele mesmo usasse a terra com o gado. De outra parte, se o fazendeiro não
utilizar a terra, deixa de ganhar $1000: esse é o seu custo de oportunidade.
Portanto, ele está disposto a pagar uma taxa ao rancheiro acima de $600 e abaixo
de $1000. Note que a diferença entre Lf e Lr é de $400. Sendo assim, se os custos
de transação de montar e executar um acordo mutuamente rentável não exceder a
$400, o fazendeiro não hesitará em comprar do rancheiro o direito de uso da
terra. No outro caso, se o juiz tivesse decidido em favor do fazendeiro, este
último somente venderia o direito de uso da terra ao rancheiro por um valor
acima de $1000. O rancheiro não compraria o direito, pois com o uso da terra ele
iria lucrar apenas $600. Em suma, se Lf exceder a Lr, o fazendeiro acabará
utilizando a terra, não importando o que o juiz decida.

Perceba que, uma vez concedidos os direitos a algum indivíduo, aqueles podem
ser transacionados no mercado; se os custos de transação não inviabilizarem a
troca desses direitos, estes ficarão, em última instância, com o indivíduo que lhes
atribui o maior valor. Sendo assim, o teorema de Coase sugere que a economia
funciona de determinada maneira, a despeito das leis jurídicas. Isso coloca um
limite à crença de que é possível, aprovando leis, alterar o comportamento
econômico baseado no auto-interesse.

Não obstante a utilização final da terra independer da concessão inicial do direito


de propriedade, a distribuição da riqueza entre o fazendeiro e o rancheiro é
afetada pela decisão do juiz. Se é o rancheiro quem obtém o direito, sendo Lf
maior do que Lr, o fazendeiro utilizará a terra, após a conveniente transação do
direito; contudo, o rancheiro receberá um pagamento pela venda desse direito de
uso. Se é o fazendeiro quem obtém o direito, ele usará a terra sem que tenha que
pagar nada ao rancheiro. Claramente, o indivíduo para quem o direito é
concedido fica mais rico do que estaria no caso do outro indivíduo receber o
direito.

Esse exemplo ilustra bem a situação em que o sistema de preços funciona sem
qualquer rigidez -- isto é, opera sem custos -- e existem responsabilidades legais
pelos prejuízos causados. Com concorrência perfeita, a responsabilização legal
do prejuízo não modifica a alocação dos recursos envolvidos porque os
indivíduos transacionam, em seguida, o direito adquirido de sua utilização (Coase
[8] :6). A posição de equilíbrio de longo prazo será a mesma, independentemente
do fato de o criador de gado ser responsabilizado pelo suposto prejuízo causado
na plantação. Entretanto, é fundamental a concessão do direito a qualquer uma
das partes, uma vez que sem o estabelecimento dessa delimitação inicial do
direito não podem ocorrer as transações de mercado para transferi-lo. Embora o
juiz possa se utilizar de critérios extra-econômicos em qualquer que seja o seu
julgamento, o resultado prevalecente -- que maximiza o valor da produção global
-- será independente da posição legal, desde que o sistema de preços funcione
sem custos (Coase [8] :8).

Coase assim enuncia o que passou a ser conhecido como o seu teorema: "em
presença de transações de mercado sem custos, a decisão dos tribunais com
relação à responsabilidade pelos danos não teria efeito sobre a alocação dos
recursos" (Coase [8] :10). A decisão do juiz de conceder os direitos de
propriedade a uma das partes apenas seria efetiva em um caso: quando "os custos
para executar as transações de mercado necessárias excedessem o ganho que
poderia ser obtido por qualquer rearranjo dos direitos" (Coase [8] :10).

O Planejamento Urbano

Em muitas situações onde o problema das externalidades -- decorrentes da não


delimitação dos direitos de propriedade -- aparece, aplica-se o mesmo argumento
utilizado no caso do gado que destrói a plantação (Coase [8] :8,11), qual seja, o
teorema de Coase.

A solução piguviana de preservar áreas exclusivamente para residências apenas


seria eficaz se o valor do conforto residencial adicional, obtido com a saída das
fábricas da vizinhança, fosse maior do que o valor perdido com os produtos das
fábricas (Coase [8] :10). Desde que o planejamento urbano não seja mantido com
o uso da polícia, os direitos de propriedade residencial podem ser transacionados.
Essa circunstância, desconsiderada pelos juízes e planejadores urbanos, lança
dúvidas sobre a compatibilidade de cidades planejadas com a economia de livre
mercado.

A Poluição

Consideremos o caso de uma padaria cuja fumaça lançada por sua chaminé suja
um grande muro branco vizinho. Decidindo sobre essa questão, um juiz
preferencialmente recorrerá a argumentos extra-econômicos (ele não considerará
apenas como maximizar o valor da produção global) para responsabilizar o
indivíduo que ele considere estar causando o prejuízo. Entretanto, do ponto de
vista econômico é preciso considerar o que Coase chamou de "natureza recíproca
de toda a externalidade". A situação de incômodo pela fumaça é construída por
ambos, o dono da padaria e a pessoa que construiu o muro. Não teria havido essa
situação se não existisse o muro; ela também não existiria se não houvesse a
padaria. Ambos constroem a situação e, por isso, ambos deveriam incluir o
prejuízo causado pela fumaça em seus custos, ao decidir manter as suas
atividades. Havendo a possibilidade de transações de mercado, isso, de fato, seria
feito (Coase[8] :13).

Nas palavras de Coase: "se estamos discutindo o problema em termos de


causação, ambas as partes causam o prejuízo. Se estamos obtendo uma alocação
ótima dos recursos é portanto desejável que ambas as partes levem em conta o
efeito prejudicial, ao decidir sobre o seu curso de ação. Uma das belezas do
sistema de preços operando sem qualquer rigidez é o fato de que(...)a queda no
valor da produção devida ao efeito prejudicial é considerada um custo por ambas
as partes" (Coase[8] :13).

Além da decisão do juiz ser inócua em relação à alocação dos recursos no


sistema de preços flexíveis, a não percepção de que as duas partes em contenda
são co-responsáveis sugere que ela modifica a distribuição da riqueza -- ao
favorecer a quem é concedido o direito -- de modo imperfeito. Embora seja muito
importante a delimitação inicial de direitos para que o mercado possa
transacioná-los, o governo também parece interferir injustamente na distribuição
da renda.10

Enfim, Coase enfatiza que todas as externalidades são recíprocas por natureza e,
portanto, podem ser internalizadas, desde que os custos de transacionar os
direitos de propriedade adquiridos sejam suficientemente baixos. Infelizmente,
muitos tipos de poluição são situações em que esses custos de transação são
desalentadoramente altos; contudo, o teorema de Coase ainda fornece a pista para
se tratar o problema de modo apropriado.

Vejamos o exemplo de uma fábrica que lança fumaça no ar. Aqui há duas
possíveis indicações do direito de uso do ar: ao dono da fábrica ou aos seus
vizinhos. Se o direito for concedido aos vizinhos da fábrica, o proprietário dela
pode medir o valor do ar poluído por meio de algum equipamento e se oferecer a
pagar esse valor aos seus vizinhos, comprando a permissão de poluir o ar. Se o
direito for concedido ao dono da fábrica, os seus vizinhos podem estimar o valor
que conferem ao ar puro e se oferecerem a pagar para que a fábrica não emita
fumaça, através da diminuição da sua produção ou da instalação de um
equipamento redutor de fumaça. Pelo teorema de Coase, se os custos de
transacionar o direito de ar puro não forem maiores do que a diferença entre o
valor da fumaça para o dono da fábrica e o valor que os vizinhos atribuem ao ar
puro, o resultado final -- isto é, a quantidade de fumaça -- será o mesmo, não
interessando a quem o direito de ar puro seja concedido.

Nesse exemplo, podemos pensar no dono da fábrica causando um dano ao emitir


fumaça, sem que os prejudicados sejam indenizados. Nesse caso, estamos
julgando que o direito de ar puro deva ser concedido aos vizinhos da fábrica. Por
outro lado, podemos pensar no dono da fábrica destituído da obrigação de
beneficiar os seus vizinhos instalando um equipamento de redução de fumaça.
Nesse caso, estamos julgando que o direito de ar puro deve ser concedido ao
dono da fábrica.

Ocorre que, nesse caso, os custos para transacionar o direito de ar puro podem ser
proibitivamente altos. A negociação teria que envolver o dono da fábrica e, por
exemplo, numerosos vizinhos. Embora os vizinhos pudessem escolher
representantes para a negociação, eles ainda precisariam negociar entre si qual
seria o valor a ser proposto para o ar puro, uma vez que cada um deles lhe
confere diferentes valores sujetivos; por exemplo, um doente do pulmão lhe
atribui um valor maior.

Todavia, o teorema de Coase continua sendo útil para analisar apropriadamente


esse problema. Na visão anterior a Coase, para evitar a poluição de fumaça se
deveria atribuir os direitos de propriedade do ar puro aos vizinhos da fábrica,
multando o seu dono ou mesmo fechando as suas portas. Esperava-se que essa
medida legal acabasse com a fumaça. O teorema de Coase assevera que isso não
necessariamente acontece: no caso do valor do produto da fábrica -- que gera a
poluição como subproduto -- superar a avaliação subjetiva dos seus vizinhos em
relação ao valor do ar puro, o dono da fábrica lhes pagaria para poluir o ar. Pelo
teorema de Coase, todo o problema recairia agora em reduzir os custos de
transação do direito de ar puro. Uma forma possível de se fazer isso seria
distribuir informação sobre as características do problema entre as partes, pois,
como dissemos, os custos de informação são um importante item dos custos de
transação.

De qualquer forma, graças à natureza recíproca das externalidades, o tratamento


adequado do problema da poluição deve levar em conta que, a fim de obter algo
que queremos, devemos tolerar algo que não queremos. A poluição é sempre o
subproduto da produção de algum bem. Fechando fábricas poluidoras estamos
escapando do que não queremos, renunciando ao que queremos. Com os custos
de transação nulos, a quantidade ótima de poluição não é zero, mas sim aquele
montante remanescente quando o benefício marginal da redução da poluição é
igual ao custo marginal da redução do produto da fábrica. 11

A partir dos anos oitenta, a opinião pública mundial vem dando muita
importância aos problemas ambientais. Em termos do teorema de Coase isso
significa que, até então, as pessoas estavam atribuindo um valor aos bens
produzidos, cujo subproduto era a poluição, maior do que o valor do equilíbrio
ambiental. Ou seja, elas estavam deixando o direito de propriedade do meio
ambiente para os produtores de bens. Era como se escolhessem um determinado
montante de poluição, ou melhor, determinadas quantidades de bens cuja
produção vinha acompanhada da poluição. Recentemente, o custo da poluição
ultrapassou o benefício que as pessoas subjetivamente abribuíam aos produtos
que a geravam. Com isso, a opinião pública resolveu transferir a
responsabilidade dessa externalidade para os produtores de bens com efeitos
colaterais poluidores. As denúncias sobre o desequilíbrio ambiental funcionaram
como uma atribuição do direito de propriedade do meio ambiente às outras
pessoas que não os produtores de bens com efeitos externos prejudiciais. O
próprio mercado se encarregou de realizar uma transferência desse direito de
propriedade.12 Como consequência, os produtores internalizaram cada vez mais
os efeitos poluidores externos das suas ações produtivas: surgiram escapamentos
nos automóveis, máquinas mais silenciosas, redutores de fumaça, e assim por
diante.

Em suma, houve alterações na produção que aumentaram os custos das empresas.


Se os produtores tiveram que incorrer nesses custos é porque o valor do
equilíbrio do meio ambiente, para as pessoas, superou o valor dos bens que
vinham acompanhados da poluição. Um exemplo que ilustra o fato do próprio
mercado definir o direito de propriedade do ar puro, em benefício dos indivíduos
não subprodutores de poluição, é dado pela cidade de Cubatão, onde a poluição
reduziu significativamente sem que para isso tenha sido preciso fechar as suas
fábricas.

Portanto, os custos de transacionar o direito de propriedade do ar puro podem ser


reduzidos pelo próprio mercado, através de instituições criadas por ele, que
delimitam esse direito e tornam possível a internalização das externalidades da
poluição, sem que seja inevitável a interferência governamental. O mercado
define e redefine esse direito, e a parte responsabilizada é obrigada a arcar com
os custos. Instituições como a opinião pública, por exemplo, difundem
informações sobre o problema da poluição, ajudando a reduzir significativamente
os custos de transacionar o direito de propriedade do equilíbrio ambiental. 13

4.Além do Teorema de Coase

As Proposições Básicas

Vimos que uma externalidade negativa faz com que o valor da produção global
fique abaixo do que ele seria sem essa externalidade. Vimos também que, uma
vez estabelecidos os direitos de propriedade privada pelo governo ou pelo
próprio mercado, o rearranjo dos direitos legais conduzido pelo mercado aumenta
o valor da produção global, desde que as transações desses direitos não
apresentem custos que as inviabilizem. Se esses custos não forem zero, ainda
pode ocorrer o rearranjo dos direitos, caso o aumento do valor da produção após
a transação dos direitos seja maior do que os custos envolvidos em realizar essa
transação (Coase[8] :15-16). Com isso, as externalidades seriam internalizadas e
as falhas do mercado, autocorrigíveis.

Nessas condições, a concessão inicial dos direitos de propriedade não afetaria a


alocação final dos recursos, embora a distribuição da riqueza fosse alterada,
porque o indivíduo a quem se concede o direito fica mais rico.

Observe com atenção que estamos implicitamente supondo que o indivíduo que
deixou de receber o direito não vai desistir da sua atividade produtiva pelo
simples fato de ter que arcar com os prejuízos do efeito danoso; em outras
palavras, estamos pressupondo que a decisão de alocação dos recursos dos
indivíduos não é influenciada pela distribuição da riqueza.

Podemos nos referir a esse conjunto de proposições como o teorema de Coase.


Diga-se, entretanto, que a maioria dos livros de texto de microeconomia
apresenta esse teorema, de modo mais simplificado, levando em conta
exclusivamente o caso em que os custos de transação são iguais a zero.

Os Custos de Transação Proibitivos

Coase, porém, no seu artigo de 1960, vai bem mais além do teorema de Coase,
concebido de modo estrito ou amplo. Ele reconhece que, para executar uma
transação de mercado, um indivíduo precisa descobrir quem deseja transacionar
com ele; informar à outra pessoa o seu desejo de transacionar e as suas
condições; conduzir as negociações; escrever o contrato; inspecionar o
cumprimento dos termos do contrato, e assim por diante. Isso tudo inclui
pagamentos de advogados e, talvez, entraves burocráticos e lentidão dos
tribunais. Por causa disso, Coase admite que algumas dessas operações possam
impedir as transações dos direitos de propriedade, ao contrário do que ocorreria
num sistema de preços sem rigidezes (Coase[8] :15). "Nessas condições, a
delimitação dos direitos legais afeta a eficiência em que o sistema econômico
opera" (Coase[8] :16). Portanto, se os custos de executar as transações dos
direitos forem maiores do que o aumento virtual no valor da produção global --
que seria possível se os direitos pudessem ser transacionados --, o valor máximo
da produção não seria atingido (Coase[8] :16).

A Firma Como Redutora dos Custos de Transação

As situações em que as externalidades não podem ser internalizadas não


implicam a presença automática do Leviatan, contudo. Coase argumenta que o
próprio mercado criou uma instituição, alternativa ao rearranjo dos direitos por
parte dos indivíduos, com a finalidade de diminuir os custos de transação e,
portanto, aumentar o valor da produção: essa instituição é a firma (Coase[8] :16).
Aqui Coase conectou os resultados do seu artigo de 1937. A firma é uma
instituição criada para organizar a produção. Dentro dela, as barganhas
individuais entre os fatores de produção em cooperação são eliminadas e as
transações à vista dos serviços desses fatores são substituídas por decisões
administrativas conjuntas de organização da produção. Em outras palavras, a
firma adquire os direitos legais de todas as partes e a atividade produtiva não
resulta de um rearranjo desses direitos por meio de contratos à vista, mas decorre
de uma decisão administrativa de como esses direitos devem ser usados
(Coase[8] :16). Dessa forma, a firma surge para reduzir os custos de transação e,
portanto, internalizar as externalidades.

Pode acontecer, todavia, que os custos administrativos de organizar as transações


através da firma sejam maiores do que os custos das transações individuais.
Nesse caso, um contrato de longo prazo -- que é a natureza da firma -- não
poderia internalizar as externalidades (Coase[8] :16-17).

Outras Instituições Internalizadoras

Coase cita a poluição como um exemplo de efeito colateral que a firma não é
capaz de internalizar (Coase[8] :17). Sendo assim, a internalização, nesse caso,
teria que ser feita pela "superfirma": o governo (Coase[8] :17). Ele não visualiza
outras instituições, além da firma e do goveno, capazes de reduzir os custos de
transação. Como discutimos anteriormente, a opinião pública é uma instituição
privada que funciona como um tribunal, contribuindo para reduzir o custo de
transacionar o direito de propriedade do equilíbrio ambiental.

Um Remédio Pior do Que a Doença

O governo é uma superfirma porque ele é capaz de influenciar o uso dos fatores
de produção por decisão administrativa. Mas ao contrário da firma comum, ele
não se expõe à concorrência das outras e também não permite, quando os custos
administrativos forem altos, a alternativa das transações dos direitos serem feitas
pelos próprios indivíduos. O governo é uma firma monopolista inexpugnável,
uma vez que, dispondo dos impostos e da polícia, pode fazer com que os
regulamentos sejam executados mesmo que os custos administrativos sejam
quase proibitivos.

Porém, a própria máquina administrativa é custosa, ou seja, o governo também


tem uma restrição orçamentária. Mesmo assim, a internalização das
externalidades por essa superfirma pode ser um remédio pior do que a doença, ou
seja, a regulamentação pode, no limite, destruir o próprio mercado. "Dessas
considerações segue que a regulamentação governamental direta não
necessariamente dará melhores resultados do que deixar o problema a ser
resolvido pelo mercado ou pela firma" (Coase[8] :18). Coase aconselha que, no
caso da poluição, é melhor manter o governo afastado 14 (Coase[8] :18).

Em suma, "se as transações não envolverem custos, importa apenas (questões de


equidade à parte) que os direitos das várias partes sejam bem definidos e os
resultados das ações legais, fáceis de prever" (Coase[8] :19). Mas a situação é
bastante diferente quando os custos de transacionar os direitos são altos. Nesses
casos, os tribunais influenciam diretamente a atividade econômica. Nessa
situação, seria desejável, diz Coase, que os tribunais procurassem entender as
consequências econômicas das suas decisões e que as tomassem causando o
mínimo de incerteza sobre a sua posição (Coase[8] :19). Coase usou aqui um
argumento bastante corriqueiro atualmente: as ações do governo precisam ter
credibilidade para que não atrapalhem, com incerteza, as decisões privadas, as
quais, no caso, se referem aos rearranjos dos direitos de propriedade.

A difusão da descoberta de Coase -- de que as externalidades são recíprocas por


natureza -- por si mesmo ajuda a reduzir os custos de transacionar os direitos.
Dispondo dessa informação capital, os juízes se aproximam da definição legal
mais apropriada dos direitos de propriedade, ao também considerarem a
maximização da produção global. Essa informação também pode ser utilizada
por instituições como a opinião pública, por exemplo, que se encarregam de
delimitar os direitos e, portanto, internalizar as externalidades, sem a necessidade
do governo. No problema da externalidade, Coase procurou instituições privadas
que fizessem o mesmo trabalho do governo, visando evitar este último. Ele
atacou o welfare state constatando que as responsabilidades pelos danos externos
estavam se tornando cada vez mais impunes, embora muitos economistas da sua
época estivessem pensando que essa impunidade se devesse à pouca intervenção
do governo (Coase[8] :27). Mas, ao contrário, "o tipo de situação que os
economistas estão propensos a achar que requer a ação governamental corretiva
é, na verdade, com frequência, o resultado da ação do governo" (Coase[8] :28).

5.Outras Visões da Externalidade

Antes do artigo de Coase de 1960, outro economista (Bator[2]) havia classificado


as externalidades em: (i)técnicas; (ii)de propriedade; e (iii)de bens públicos.

Uma Pá, Uma Pessoa

As externalidades técnicas seriam consequência de funções de produção que


apresentam indivisibilidades e rendimentos crescentes de escala. A função de
produção exprime a relação técnica entre o produto e os insumos; é a relação que
gera todas as combinações obteníveis e tecnicamente eficientes dos insumos. A
indivisibilidade se refere às situações em que o processo de produção é tal que
não é possível uma taxa relativamente pequena de produção com o equipamento
existente. Duas pessoas com duas pás podem fazer o dobro do serviço de uma
pessoa com uma pá; mas não podemos considerar meia pessoa com meia pá;
consequentemente, temos indivisibilidade do processo de produção. Os
rendimentos crescentes de escala ocorrem quando o produto cresce mais do que
proporcionalmente em relação à variação dos insumos, por causa de uma
mudança tecnológica no âmbito da firma. 15

Barras de Chocolate

Os bens públicos são aqueles para os quais o princípio da exclusividade no


consumo não se aplica. O princípio da exclusividade diz que o aproveitamento
por uma pessoa de uma mercadoria exclui o seu aproveitamento por outra. Se
como uma barra de chocolate, você não pode comer esta mesma barra. Meu
consumo exclui o seu. Se ao preço de $1 cada, demando e obtenho dez barras
nesta semana, isso significa que haverá dez barras a menos para todos os outros
consumidores nesta semana. Se você procura e compra vinte barras de chocolate
nesta semana àquele preço, consumiremos juntos trinta barras nesta semana, que
ninguém mais poderá consumir.

A cada preço específico, somamos as quantidades demandadas por cada


indivíduo para obter a demanda do mercado: isso se chama soma horizontal.
Nesse caso, cada preço indica a avaliação marginal por todo o mercado da
quantidade total de barras de chocolate demandadas. A avaliação marginal se
refere a quanto o consumidor estaria disposto a abrir mão de todos os outros bens
a fim de adquirir uma unidade adicional do bem em questão.

Programas de TV, Defesa Nacional e Polícia

Quando ligo o meu televisor, não subtraio a sua capacidade de assistir ao mesmo
programa, exatamente na mesma hora, em seu aparelho. Quando compro uma
assinatura de canal de TV a cabo e o consumo diariamente, não evito que você
compre e consuma precisamente a mesma programação diária. O mesmo ocorre
com a defesa nacional, que pode ser consumida por um indivíduo sem que isso
diminua o consumo de outro. Gostemos ou não, todos temos o mesmo nível de
proteção. Mas cada um de nós avalia diferentemente qualquer nível dado dessa
proteção. Na compra de uma unidade adicional de defesa nacional, um canhão
Urutu, por exemplo, a minha avaliação marginal dessa unidade pode ser um
preço menor do que o seu.

A fim de obtermos a demanda do mercado pelo bem público, a determinada


quantidade específica somamos cada preço (ou avaliação marginal individual
para a demanda dessa quantidade): isso se chama soma vertical.

Note que, depois que um bem público foi produzido, o custo adicional que um
consumidor adicional do bem impõe sobre os outros consumidores é
efetivamente zero. O consumidor adicional pega uma carona às custas dos outros
que pagaram pelo bem público. Mesmo que fosse possível obrigar os caronistas a
pagar pelo bem público, isso seria economicamente ineficiente. Marginalmente,
se um bem pode ser fornecido sem custos, a eficiência exige que ele seja
fornecido gratuitamente.
Muitas atividades que geralmente são atribuídas ao governo não necessariamente
são bens públicos. Mesmo as atividades mais tradicionais, como alguns casos de
defesa nacional e a polícia, não necessariamente são bens públicos. A defesa
nacional deixa de ser um bem público no caso do Havaí e do Alasca, por
exemplo. Como esses estados estão geograficamente separados do restante dos
Estados Unidos, a alocação dos recursos de defesa nacinal para a proteção do
Havaí e do Alasca reduz a quantidade dos recursos disponíveis para a defesa no
restante dos Estados Unidos. Um federalismo extremado também pode tornar a
defesa nacional um bem privado.

O policiamento também não é um bem público. Em dado momento, a quantidade


dos recursos destinada à manutenção da lei é fixa. Nas noites de sábado, por
exemplo, as delegacias devem deixar de organizar fichas de suspeitos e
criminosos para alocar mais pessoas nas ruas. Outro exemplo é o do policial
convencional colaborador da polícia de trânsito que se encontra aplicando uma
multa e que precisa deixar de lado essa tarefa quando é interrompido por um
chamado mais urgente de atentado à bomba.

Assim, os bens públicos são um exemplo de um tipo particular de externalidade


no consumo: todos devem consumir o mesmo montante do bem. Uma vez
produzido o bem público, alguns -- os caronistas -- não são obrigados a pagar
para usufruí-lo.

Futebol e Cinema

Coase tocou nesse assunto no seu artigo de 1974 (Coase[9]), onde ele ilustrou
que o mercado privado tem uma longa história de tentativas empresariais para
converter os bens públicos em privados. Isso ocorre sempre que são construídos
muros ao redor de campos de futebol de várzea ou salas ao redor de telas que
exibem filmes. Graças a isso, as firmas podem fornecer o que não seria
fornecido, se alguns indivíduos não tivessem que pagar para assistir a um jogo de
futebol ou a um filme.

Os bens públicos geram recursos externos positivos pelos quais os indivíduos não
são obrigados a pagar, pois o custo marginal do fornecimento dessas
externalidades -- depois que o bem público já foi produzido -- é zero. Sendo
assim, por que os empresários privados entrariam no ramo dos bens públicos?
Para responder a essa questão, Coase, de modo ousado, tomou o exemplo de bem
público predileto dos intervencionistas: o dos faróis, para mostrar que esse bem
poderia ser -- e, na verdade, foi -- oferecido por empresas privadas.
Os Faróis

Uma vez construído o farol, o custo marginal dos serviços de fornecimento de luz
para os navios fica muito próximo de zero, parecendo impossível fazer com que
esses navios paguem pela utilização do farol, por causa das dificuldades de
identificá-los na sua utilização e de forçar-lhes o pagamento.

Coase constatou, entretanto, que, antigamente, na Inglaterra, os proprietários dos


navios e os seus operadores faziam petições à Coroa, para que esta concedesse a
permissão para que alguma empresa construísse um farol e cobrasse uma taxa
específica dos navios que se beneficiassem dele. Essas taxas seriam -- e, de fato,
foram -- coletadas nos portos pelos agentes dos faróis. Aparentemente, os donos
dos faróis tiveram lucros, pois o número de faróis aumentou de 1700 a 1834. Ao
que parece, eles realmente eram pagos pelos proprietários dos navios, nas docas,
de acordo com a tonelagem da embarcação. Os altos custos parecem ter sido
menores do que as receitas, uma vez que os empresários privados construíram
mais faróis. Os caronistas parecem não ter sido importantes, talvez porque, em
determinado momento, apenas um navio aparecesse no raio de luz do farol. Se o
faroleiro, conferindo a bandeira, descobrisse que o navio não havia pago a luz
anteriormente, esta não seria acesa.

Portanto, Coase descobriu que os faróis pertenciam a firmas particulares que os


financiavam, construíam, operavam e, portanto, podiam vender os seus serviços.
O papel do governo limitava-se ao estabelecimento e à implantação dos direitos
de propriedade dos faróis. Uma vez estabelecidos esses direitos, os bens públicos
poderiam se tornar privados, como de fato ocorreu com os faróis. Quando a sua
responsabilidade foi transferida posteriormente para a Trinity House -- um órgão
semipúblico --, eles continuaram sendo financiados pelas "taxas de luz",
coletadas junto aos navios e não por impostos pagos por toda a população.

Mais Abelhas

No ano anterior à divulgação do seu trabalho sobre os faróis, Coase já havia tido
a boa notícia da publicação do artigo de Cheung [4], à época na Universidade de
Washington, intitulado "A Fábula das Abelhas".

Cheung examinou detalhadamente os apiários do estado de Washington, e


encontrou evidências conclusivas demonstrando que tanto o néctar quanto os
serviços de polinização eram objeto de transações no mercado, e, em alguns
casos, bastava-se examinar as páginas amarelas das listas telefônicas locais.
Cheung estudou detalhadamente a determinação dos preços e dos contratos e
constatou que os preços variavam de acordo com o tipo de plantação polinizada,
da densidade das colmeias, do risco dos pesticidas prejudicarem as abelhas, e
assim por diante. Cheung também mostrou que a determinação dos preços era, de
maneira geral, eficiente.

Enfim, a contribuição mais importante de Coase à teoria econômica foi a idéia de


que podemos lidar com as externalidades sem termos que necessariamente
recorrer à intervenção governamental. Sempre que, num sistema econômico,
forem esperados ganhos oriundos da contratação entre as partes, se os custos de
contratação forem menores do que os ganhos esperados, entrarão em cena
contratos verbais e escritos. Isso seria verdade mesmo quando estivessem
envolvidos os recursos naturais. Definidos os direitos de propriedade privada, o
mercado teria condições de internalizar as externalidades. Coase sugeriu a
resolução do problema da maioria das externalidades e, conquanto não tenha
esgotado a ciência, indicou o caminho a ser seguido para se lidar com os
problemas dos efeitos externos ainda não resolvidos.

Notas

1.Agradeço a Steve De Castro, UnB, pelas úteis discussões, e a Patricia Bonini, Unicamp, pelo suporte
logístico. Não os responsabilizo pelas minhas opiniões.

2.Para mais detalhes sobre a vida e o trabalho de Coase, consulte Cheung [5].

3.Para um contato com a literatura recente, veja Kreps ([12], Cap.19).

4.Anteriormente, Coase já havia considerado esse problema e exposto o seu ponto de vista num artigo de
1959 (Coase [7]) sobre a economia política da transmissão de rádio. Porém, apenas no seu artigo de 1960, ele
tratou a questão de modo mais geral (Coase [8] :1 n.1).

5.O custo de oportunidade é o valor que se perde com os recursos em seu melhor uso alternativo, isto é, uma
alternativa disponível que é sacrificada.

6."Marginal", ou seja, "na margem", refere-se à quantidade adicional obtida a partir do aumento de uma
unidade -- do insumo ou do bem -- ao total existente.

7.A lei dos rendimentos decrescentes assegura que, com uma tecnologia dada e todos os insumos com
exceção de um fixos, conforme são acrescentados incrementos daquele insumo (no caso, o aumento de
caçadores), a partir de um certo ponto a taxa de aumento do produto irá decrescer.
8.Veja Baird ([1] :219-20).

9.O fenômeno da externalidade, a lei dos rendimentos decrescentes, assim como muitos outros fenômenos
econômicos surgem independentemente do lugar ou do período histórico, isso porque o problema econômico
fundamental da escassez é universal e trans-histórico.

10.Observe que Coase dá conselhos, isto é, diz o que deve ser feito, contrariando a tendência dos anos
cinquenta e sessenta, quando os economistas separavam a economia positiva (o que é) da economia normativa
(o que deve ser). Recentemente, os economistas (mais especialmente, os macroeconomistas) rejeitaram essa
distinção, introduzindo os conselhos dos economistas como mais um fator de produção. O valor da produção
passa a ser influenciado por eles, embora o resultado não seja antecipadamente conhecido, isto é, o resultado
depende de um jogo entre o conselho e a reação dos indivíduos racionais a esse conselho.

11.Se cada pessoa pudesse ter um direito pré-estabelecido sobre o ar que a cerca, ela poderia excluir aquelas
outras pessoas que se beneficam dele sem ser obrigadas a pagar pelo seu uso: os caronistas. Sem custos de
transacionar o direito do ar, essa externalidade poderia ser internalizada. Outra abordagem prefere considerar
o ar puro como um bem público, já que é fisicamente impossível definir os direitos do ar para cada pessoa; e
esse bem público é que seria o fator causador da externalidade.

12.Em alguns casos, o próprio mercado pode estabelecer os direitos de propriedade privada sem os tribunais.
Lembre do exemplo dos índios Montagnes.

13.Para uma visão pessimista a respeito do teorema de Coase, veja Cooter [10].

14.Coase percebeu que os custos envolvidos na regulamentação governamental não compensariam os


benefícios de internalizar algumas externalidades. Nesse aspecto, ele se encontrava contra a tendência da sua
época, marcada pela crença nos poderes da política governamental, principalmente em questões
macroeconômicas. A partir de meados dos anos setenta, entretanto, surgiram cada vez mais argumentos
mostrando os limites da ação do governo no terreno da macroeconomia. Nesse sentido, o ponto de vista de
Coase está em consonância com a tendência recente. Falando sobre a sua época, Coase revela: "é minha
crença que os economistas, e os policymakers em geral, têm tendido a superestimar as vantagens que vêem na
regulamentação governamental" (Coase [8] :18). Quanto ao problema da poluição, Coase não percebeu o que
constatamos antes: que o mercado pode criar outras instituições -- além da firma e do governo -- para
delimitar os direitos sobre o ar puro e reduzir significativamente os custos de transacioná-los, a fim de
internalizar essa externalidade.

15.Para uma discussão completa (e ainda introdutória) das externalidades técnicas, veja Miller [13]. Para
uma visão mais acurada de todo o problema da externalidade, consulte Buchanan & Stubblebine [3].

Referências
[1] BAIRD, Charles W. (1975). Prices and Markets: Microeconomics. St.Paul: West Publishing Co.

[2] BATOR, Francis M. (1958). The Anatomy of Market Failure. Quarterly Journal of Economics 72, 351-79
[3] BUCHANAN, James M. & W.C.STUBBLEBINE. (1962). Externality. Economica 29, November, 371-84

[4] CHEUNG, Steven N.S. (1973). The Fable of the Bees: An Economic Investigation. The Journal of Law
and Economics, April

[5] CHEUNG, Steven N.S. (1987). Ronald Harry Coase. in J.Eatwell, M.Milgate & P.Newman (eds.). The
New Palgrave. A Dictionary of Economics 1, London: Macmillan Press, 456-57

[6] COASE, Ronald H. (1937). The Nature of the Firm. Economica 4, November, 386-405

[7] _______________. (1959). The Federal Communications Commission. The Journal of Law and
Economics 2, October, 1-40

[8] _______________. (1960). The Problem of Social Cost. The Journal of Law and Economics 3, October, 1-
44

[9] _______________. (1974). The Lighthouse in Economics. The Journal of Law and Economics, 7(2),
October, 357-76

[10] COOTER, Robert D. (1987). Coase Theorem. in J.Eatwell, M.Milgate & P.Newman (eds.). The New
Palgrave. A Dictionary of Economics 1, London: Macmillan Press, 457-60

[11] DENSETZ, Harold. (1967). Toward a Theory of Property Rights. The American Economic Review, May

[12] KREPS, David M. (1990). A Course in Microeconomic Theory. Princeton: Princeton University Press

[13] MILLER, Roger L. (1978). Microeconomia: Teoria, Questões e Aplicações. S.Paulo: McGraw-Hill do
Brasil, 1981.

[14] PIGOU, Arthur C. (1932). The Economics of Welfare. London: Macmillan, 4th ed.

© copyright 1991 Sergio Da Silva. All rights reserved.


Uma versão resumida deste texto apareceu em Universa 3(1), pp. 203-224, 1995.

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