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O Úmbilico dos limbos – Antonin Artaud

Um grande fervor pensante e superpovoado comportava o meu eu como um repleto


abismo. Um vento carnal e ressonante soprava, e o próprio enxofre era denso. E umas raízes
ínfimas povoavam esse vento como uma rede de veias, e seu entrecruzar - se brilhava. O espaço
era mensurável e produzia ruído, mas sem forma penetrável. E o centro havia um mosaico de
estilhaços, uma espécie de um penoso martelo cósmico, de um peso desfigurado, e que rebatia
sem parar como uma cabeça no vácuo, junto a um barulho como sendo destilado. E o envoltório
esponjoso do barulho tinha a entidade obtusa e a penetração de um olhar de quem vive. Sim, o
espaço se tornava um denso algodão mental onde qualquer pensamento ainda era pouco nítido
e pouco se restituía sua descarga de objetos. Mas, pouco a pouco, a massa se tornou uma náusea
lodacenta e poderosa, uma espécie de imenso influxo de sangue vegetal e fulgente. E as raízes
que tremiam na periferia do meu olho mental, se descolavam em uma velocidade de uma massa
enrugada de vento. E todo o espaço tremia como um sexo, que o globo do céu incandescente
devastava. E alguma coisa como um bico de um pombo real esburacou a massa confusa de
mutações, todo o pensamento profundo nesse momento se estratificava, se resolvia, se tornava
transparente e reduzida.

E agora precisávamos de uma mão para agarrar se uma energia vital, o próprio orgônio.
E mais duas ou três vezes a massa vegetal inteira ainda se modificava, e a cada vez, meu olho
movia - se sobre uma posição mais precisa. A obscuridade, ela própria, transpirava-se e sem
objeção. A massa inteira ganhava - se uma transparência.

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