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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ESPECIALIZAÇÃO

EM ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

PEDRO MARQUES DE SOUZA JÚNIOR

O TEXTO LITERÁRIO NA SALA DE AULA DE FRANCÊS


LÍNGUA ESTRANGEIRA

LÍNGUA ESTRANGEIRA: FRANCÊS

ÁREA DE PESQUISA: O TEXTO LITERÁRIO NA SALA DE


AULA DE LÍNGUA.

MARÇO
2018
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RESUMO

Os textos literários (TL) ainda são pouco utilizados pelos professores em sala de aula de
francês como língua estrangeira (FLE). Há, também, a escassez desses textos nos livros
didáticos e em muitos materiais de apoio ao ensino de uma língua estrangeira (LE). Essa
constatação motivou o nosso interesse em pesquisar o uso didático da literatura no
contexto de sala de aula de LE. Assim, o objetivo deste trabalho é, primeiramente,
analisar estudos que defendem que o lugar da literatura é também na sala de aula de LE
e, posteriormente, apresentar a contribuição do texto literário para o ensino de uma língua,
com ênfase na língua francesa, onde o texto literário pode ser considerado suporte
pedagógico para desenvolver as competências linguísticas e interculturais dos aprendizes.
Nesse sentido, é pertinente ressaltar que o trabalho com o TL não deve se limitar apenas
ao estudo de questões estruturais, mas deve também levar em consideração a sua
dimensão emocional, estética e cultural. Também considera – se que o texto literário
advém também de uma língua que representa uma cultura, um país, uma história e um
contexto social, apresentando, enfim, uma multiplicidade interpretativa. Um dos
princípios, ao se aplicar o texto literário em sala de aula de FLE, é o de estimular o aluno
a se interessar pela literatura. É mostrar meios que aproximem o TL da realidade do aluno.
Por fim, ressalte-se que essa abordagem, para além de contribuir para melhorar o
desempenho do estudante em sua própria língua, o coloca em confronto consigo mesmo
e com o outro, contribuindo, por exemplo, para ampliar a sua consciência da construção
social dos significados.

Palavras chave: Texto literário, Sala de Aula, FLE.

1. INTRODUÇÃO

Pretendemos apresentar, neste projeto, uma análise sobre a importância da


contribuição do texto literário (TL) para a didática do ensino de língua, no nosso caso o
Francês Língua Estrangeira (FLE).
Após revisão teórica sobre o lugar que a literatura ocupa no ensino de língua
estrangeira (LE) observamos, nos últimos anos, que professores de LE passaram a se
interessar mais pela utilização do TL em sala de aula. Assim, muitas pesquisas que
propõem uma reflexão sobre a inter-relação entre Língua e Cultura e Língua e Literatura,
tornaram-se abundantes.
Mesmo com o advento dos estudos interculturais no campo da Linguística
Aplicada (LA) ao ensino de LE, que fundamentam a importância da inter-relação entre
culturas diferentes, ainda persiste uma falta de interesse por parte de alguns professores
em recorrer à literatura como recurso didático para ensinar uma língua (Mariz, 2007).
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Assim, neste trabalho, buscamos incentivar a utilização de textos literários em


sala de aula de FLE, e, para isso, pretendemos mostrar algumas possibilidades de se
trabalhar a literatura no ensino dessa língua, abordando temáticas variadas para explorar
outros universos culturais, sem reduzir esse ensino às manifestações gramaticais ou ao
acúmulo de vocabulário.

2. JUSTIFICATIVA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Foi durante o curso de Licenciatura em Letras-Francês, na Universidade Federal


de Goiás, que se desenvolveu a motivação para a realização deste trabalho.
Nos primeiros semestres tivemos as disciplinas introdutórias de literatura e
linguística, além da disciplina, no segundo semestre, de “Teoria e Crítica Literária”. Após
esse período voltamos às disciplinas relacionadas à literatura no terceiro ano da
licenciatura.
Pudemos observar, até esse momento, o pouco uso de textos literários para o
ensino de LE em sala de aula. Somente no início da disciplina Littératures de langue
française, no quinto semestre, foi que retornamos aos estudos literários.
Ao utilizar, em sala de aula, tanto textos literários como os textos teóricos e
críticos, e a partir de discussões sobre tais textos foi que percebemos o quanto eles foram
importantes para a evolução de nosso aprendizado em língua francesa.
O distanciamento dos textos literários do ensino de línguas seria de alguma forma
contraditória devido à associação que há entre língua e literatura (MARIZ, 2007). Coraca,
ao fazer uma referência a Mireille Naturel complementa que:

língua e literatura são estreitamente ligadas, porque o texto literário nasce de


palavras, do emprego que o autor faz do subjetivo, a poesia, por exemplo,
representando o ápice dessa metamorfose da língua (1995 citado por
CALLIABETSOU-CORACA, 2010, p. 16). 1

Portanto, a dissociação entre língua / literatura ou ensino de língua / texto literário


não seria possível devido à ligação que os une. A partir do texto literário podemos
compreender os múltiplos empregos nos quais a língua pode ser utilizada, desde a
subjetividade até a representação de uma cultura e sua história. Por isso, é importante que

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Tradução nossa. No original: […] langue et littérature sont étroitement liées, puisque le texte littéraire
naît des mots, de l’emploi du subjectif qu’en fait l’écrivain, la poésie par exemple représentant le point
ultime de cette métamorphose de la langue
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o professor em sala de aula de LE considere a contribuição e os benefícios que o uso do


texto literário pode promover.
Para isso, o professor ou o futuro professor, deve estar atento às possibilidades de
interpretação quando se lê um texto literário. É preciso notar que o aluno também possui
a sua comunicação com o texto. MARIZ (2007, p. 69) afirma que o professor “[...] precisa
estar familiarizado com tais noções, ao propor a literatura em aula de FLE” e considerar
que tanto o professor quanto o aluno poderão encontrar, no texto literário, interpretações
incomuns. Assim, podemos conceber a literatura como um texto polissêmico, ou seja,
com múltiplas interpretações. Mas é preciso ponderar tais interpretações a partir das
noções de leitura, e o professor deve ser o mediador desse processo.
Deve-se refletir sobre como abordar o texto literário em sala de aula de FLE. A
literatura, devido ao seu caráter polissêmico, poderá ocasionar desvios de interpretação,
tanto quanto na compreensão linguística do texto, como nas reflexões dos alunos. Por
isso, o professor deve estar atento à sua metodologia de ensino ao trabalhar com o TL.
De acordo com os problemas de compreensão que os alunos podem encontrar, ao
aprenderem uma língua estrangeira explorando o texto literário, Cuq e Gruca sugerem
que o professor deve:

preparar os aprendizes para saber lidar com diferentes tipos de texto, não
somente ajudá-los a compreender um texto, mas também provê-los de
instrumentos de análise que possam propiciar o desenvolvimento de sua
autonomia (2010 citado por CALLIABETSOU-CORACA, 2010, p. 17). 2

Para evitar tais desvios de interpretação devemos ponderar a aula com paratextos:
o prefácio de um livro, vídeos, ilustrações, canções, entre outras ferramentas que tenham
relação com o texto. Eles facilitam a compreensão do texto literário pelo aluno. É
essencial não nos prendermos apenas ao texto de partida, é preciso que contextualizemos
o texto fornecido em aula de LE. Tais ferramentas podem servir tanto para sustentar os
argumentos do professor quanto para apoiar as interpretações do aluno.
Aprender uma LE através do estudo do TL é considerar, no aprendiz, dois
processos simultâneos. Um deles é o conhecimento que ele tem de uma língua (LM) e o
conhecimento que ele poderá ter de outra (LE). O processo seguinte seria o outro mundo
que a literatura poderá implicar na sua realidade. Pois, mesmo o texto literário sendo

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Tradução nossa. No original: Préparer les apprenants à la maîtrise des divers types de texte, c’est non
seulement les aider à comprendre un texte, mais c’est aussi leur fournir des instruments d’analyse qu’ils
peuvent réinvestir par la suite et les rendre autonomes
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fictício, ele influenciará na vida social e no imaginário do aprendiz. Desse modo, Mariz
considera que:

quem aprende uma língua estrangeira, aprende a descobrir uma outra via,
outra forma de conhecer o mundo. Muitas questões envolvem este tipo de
aprendizado: a organização dos campos lexicais, os modos de estruturação
das categorias gramaticais, e as relações tempo e espaço podem mudar o olhar
sobre si mesmo e sobre a sua língua materna e, consequentemente, sobre a sua
própria história (2007, p. 75).

Partindo dessa reflexão, podemos considerar que o aprendizado de uma LE pode


conduzir o aluno a um novo meio de conhecer o mundo, a reconhecer outras tradições e
culturas. O aluno poderá observar a relação que existe entre sua língua materna e a língua
do “outro”, nesse caso a LE. A literatura pode ser, assim, o meio que executará esse papel
de transportar o aprendiz a outro contexto.
Compreendemos, então, que existe uma ligação tênue entre Língua e Literatura,
pois o uso da linguagem também perpassa o texto literário, transformando-o em um porta-
voz de uma cultura, de uma sociedade, revelando, assim, temáticas que podemos trabalhar
em sala de aula de FLE.
Poderíamos apresentar, como proposta didática, o texto poético por exemplo.
Roger Chamberland (2009, p.1) ao comentar sobre o texto poético, afirma que “[...] a
poesia está no coração de toda uma cultura: ela leva os signos do território que ela designa,
ela testemunha a vitalidade de um povo e ela manifesta a essência deles e delas que
habitam um país”. Desse modo, podemos dizer que dentro de uma sala de LE o aprendiz
poderá refletir sobre uma cultura desconhecida e, assim, interagir com a sua própria
realidade. Ele reconhecerá um campo jamais vivenciado e ampliará o seu conhecimento
social e lingüístico. Segundo Mariz:

Estudar uma língua estrangeira é vivenciar uma outra cultura, não apenas no
campo lingüístico, mas também no social. É alargar as fronteiras lingüísticas,
e a sala de aula é, sem dúvida, o espaço privilegiado no estudo destes
fenômenos sobre ensino / aprendizagem de uma LE. (2007, p.76)

Corroborando essa argumentação de Mariz, reforçamo-la e incluímos, no ensino /


aprendizagem de uma LE, o texto literário por acreditarmos que o seu lugar também é na
sala de aula. Consideramos também que, pelo estudo de uma língua ou pelo texto literário,
o aluno poderá experimentar a realidade do “outro”, e, após essa compreensão, ele poderá
refletir sobre a sua própria conduta dentro de sua sociedade. Dedicar-se aos estudos de
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uma língua estrangeira possui esse caráter essencial, é alargar as fronteiras, não somente
lingüísticas, mas também pessoais.
O contato com o texto literário em língua estrangeira, na sala de aula, oferece ao
aluno um embate cultural. O texto em LE, ao aproximar-se da cultura do indivíduo (o
aluno), pode revelar uma confluência cultural. Portanto, não existe a possibilidade de
desvincular a cultura do aluno, ou a sua trajetória de vida, de sua interpretação de um
texto mesmo que em LE. Nessa aproximação de uma nova língua, via literatura, com sua
variedade interpretativa, Sperkova afiança que:

Com efeito, o estudo de textos literários possibilita uma pluralidade de


interpretações. A interpretação e a compreensão do sentido de um texto em
língua estrangeira se faz em função do universo de referências do leitor que
são fortemente influenciados pela cultura de origem. O texto literário veicula
imagens que remetem a mitos reconhecidos e aceitos pelo grupo, de pertença
do autor e onde sua obra já foi inicialmente recebida. A cultura do aluno vai
ser confrontada com o mundo do outro. Isso pode permitir, ao aluno,
relativizar o status de sua própria cultura de viver uma experiência
intercultural (2009, p.6)3.

Podemos concordar com Sperkova que, no momento em que o aluno interpreta e


compreende o texto literário em LE, existe um confronto entre a cultura do indivíduo, ou
seja, a cultura de origem, com aquela da língua estrangeira. Nota-se que esse fenômeno
permite que o aprendiz relativize sua própria cultura.

3. OBJETIVOS

O texto literário oferece diversas possibilidades de trabalho, devido a sua


polissemia, suas variedades temáticas e contextuais. Assim, na sala de aula pode - se
empregar metodologias específicas para discutir cada texto escolhido. Demonstrar a
importância do texto literário para o ensino de LE.

4. METODOLOGIA

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Tradução nossa. No original: En effet, l’étude des textes littéraires fait souvent place à plusieurs
interprétations. L’interprétation et la compréhension du sens d’un texte en langue étrangère se fait en
fonction de l’univers de références du lecteur qui sont fortement influencées par la culture d’origine. Le
texte littéraire véhicule des images qui renvoient à des mythes reconnus et acceptés par le groupe dont
l’auteur fait partie et où son œuvre est d’abord reçue. La culture de l’élève va être confrontée avec le
monde de l’Autre. Ce fait lui permettra de relativiser le statut de sa propre culture et de vivre une
expérience interculturelle.
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Para alcançar nossos objetivos, neste trabalho, partimos de pesquisas


bibliográficas, seleção de textos teóricos e críticos, leituras e fichamentos para compor a
redação do projeto. Por fim, finalizamos a redação do trabalho e fizemos a revisão textual.
Nesse contexto, partimos da seguinte questão: quais são os benefícios ou
contribuições do texto literário na sala de aula de FLE?
Incialmente, podemos Optar pela escolha do texto poético para realizar uma
proposta de atividade porque, para Érard (2004, p.113), « o ensino da poesia, através da
leitura e da escrita, pode levar à acepção da alteridade, isto é, da diversidade dos modos
de expressão, a transmissão de valores pessoais e universais, o acesso aos prazeres da
imaginação »4. É devido à diversidade interpretativa e às possibilidades múltiplas que
valorizamos o ensino de FLE através do TL.
Para trabalhar com o TL em sala de aula de FLE, acreditamos que a melhor
escolha, nesse momento, seria a realização de um trabalho lúdico para o nível
intermediário de estudantes de francês. O lúdico, devido a sua linguagem informal,
sensibiliza o aluno iniciante em FLE, facilitando o seu aprendizado.

5. REFERÊNCIAS

BIKOI, F.N. Comment introduire la poésie à l’école? Textes littéraires et enseignement


du français: le français face aux autres langues. Dialogues et Cultures. Bruxelles, p.
107-112.2004. Revue de la Fédération internationale des professeurs de français.

CALLIABETSOU-CORACA, P. Les fonctions du poème en classe de langue-culture


du secondaire. In : COLLOQUE INTERNATIONAL. 2009, Athènes. La place de la
littérature dans l’enseingment du FLE. Athènes: Université d’Athènes, 2010. p. 13-26.

CARBOZ, M. Frosil et pont Mercier. Disponível em :


<http://www.pbase.com/zobroc/images/14087864>. Acesso em: 24.09.2015.

CHAMBERLAND, R. Des pas sur la neige : Anthologie de poésie québécoise. 1ère éd.
Québec : Université Laval, 2009. p.148.

CHARTE DE LA LANGUE FRANÇAISE. Disponível em :


<http://www2.publicationsduquebec.gouv.qc.ca/dynamicSearch/telecharge.php?type=2
&file=/C_11/C11.html> Acesso: 24.09.2015.
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CUQ, J-P. Dictionnaire de didactique du français : langue étrangère et seconde. Paris :


CLE International, 2003. p.134-138.

ÉRARD, S. Pourquoi et comment introduire la poésie à l’école? Textes littéraires et


enseignement du français: le français face aux autres langues. Dialogues et Cultures.
Bruxelles, p. 113-120. 2004. Revue de la Fédération internationale des professeur de
français.

FALEIROS, A. Latitudes: 9 poètes du Québec-9 poetas do Quebec. Québec: Ed. Noroît.


São Paulo: Nankin Editorial. 2002. p.135.

GHIRARDI, R. A. L. Em busca do prazer do texto literário em aula de línguas. In


PINHEIRO-MARIZ, J.1.ed. Jundiaí: Paco Editorial, 2013. p. 5-6.

MARIZ, P. J. O texto literário em aula de Francês Língua Estrangeira. 2007. 284f.


Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Francesa) –
Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, 2007.

MARIZ, P. J.Introdução. In: ______. Em busca do prazer do texto literário em aula de


línguas. 1. Ed. Jundiaí, 2013. p. 7-9.

NETO, L. D. C. Cultura, interculturalidade e ensino de língua estrangeira: alguns


fundamentos teóricos e metodológicos. In: PINHEIRO-MARIZ, J. 1.ed. Jundiaí: Paco
Editorial, 2013. p.11-22.

SPERKOVA, P. La littérature et l’interculturalité en classe de langue. Enseigner


l’Europe. Montréal, p. 1-8. 2009/10. Revue Internationele.

6. CRONOGRAMA

-Elaboração do plano de pesquisa.


Primeiro Semestre -Estudos relativos ao método de pesquisa.
-Aprofundamento do referencial teórico e metodológico.
-Ensaios das abordagens didáticas.
Segundo Semestre -Preparação dos instrumentos da pesquisa de campo.
-Análise e interpretação das informações.
-Encontros para orientações e intervenções.
-Análise e avaliação da intervenção.
Terceiro Semestre -Revisão preliminar do trabalho sob orientação.
- Entrega do trabalho e apresentação oral.
Início: Abril/2018 Término: Outubro/ 2019

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